Ciranda de Livros - FNLIJ

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24.10.2013 Views

Entrevista com Laura Sandroni e Elizabeth Serra (realizada por Cecília Costa Junqueira) A longa caminhada pela paz nas páginas encantadas dos livros infantis Criada em 1968, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) este ano está festejando os seus quarenta anos. Hora de maturidade e de caminho aberto para o futuro, já com muitos feitos e realizações no passado. Foram inúmeros os marcos, como o Congresso do IBBY no Brasil, em 1974; a vinda do professor alemão Klaus Doderer, em 1976; a da escritora e bibliotecária francesa Geneviève Patte, em 1977; os seminários realizados na Bienal de São Paulo e a mágica Ciranda dos Livros. Sempre procurando alimentar o imaginário da criança brasileira e faz-la amar a arte das palavras, a Fundação também foi pioneira em feiras de livros nas escolas. E teve um outro grande momento ao criar, em maio de 1998, o Salão do Livro Infantil e Juvenil, que este ano, ao completar dez anos, contou com a participação de cem editoras e com a presença de 51 mil visitantes. Recordando esta bela história, fantástica como qualquer fábula infantil, mas também bem pragmática e trabalhosa, Laura Sandroni e Elizabeth D’Ângelo Serra, em entrevista concedida à jornalista Ceclia Costa Junqueira, falam do longo tempo em que se dedicaram e ainda se dedicam à instituição, com muita paixão e a mente repleta de boas lembranças. Tempo em que ajudaram a desenvolver a literatura infantil e juvenil no Brasil, transformando-a numa das mais ricas do mundo. Os primeiros dezesseis anos ficaram a cargo de Laura. Após um breve interregno, sob o comando de Glória Pondé e de Eliana Yunes, Elizabeth assumiu a secretaria-geral, função que exerce nos últimos vinte anos. Mas deixemos que elas mesmas, grandes tecedoras de sonhos, nos narrem este trabalho tão bonito, cuja origem está no desejo de Jella Lepman de criar um mundo mais harmonioso através dos livros para as crianças e jovens. Como surgiu a idéia de se criar, no Brasil, uma instituição voltada para o desenvolvimento da literatura infantil e juvenil? LAURA SANDRONI – O doutor Péricles Madureira do Pinho era o diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), um pedaço do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, órgão do Ministério da Educação). Em 1964, ele recebeu um convite de Carmen Bravo-Villasante, presidente da

VIII um ImagInárIo de lIVros e leIturas seção do IBBY na Espanha. Na correspondncia, ela dizia que, naquele ano, o congresso do IBBY seria realizado em Madri. Convidara todos os pases latino-americanos e não queria abrir mão da presença do Brasil. Como o doutor Péricles sabia que Maria Luiza Barbosa de Oliveira, técnica em assuntos educacionais do INEP, estava em Paris cursando uma bolsa, ele escreveu para ela pedindo que fosse ao Congresso. Viajasse a Madri para verificar se seria interessante trazer o International Board on Books for Young People para o Brasil. Maria Luiza foi e amou. Quando voltou ao Brasil, em 1967, conversou com o doutor Péricles e disse que o IBBY era interessantssimo. Se criássemos uma entidade brasileira, sem dúvida daramos um empurrão em nossa literatura para crianças. O doutor Péricles disse, então, que ela deveria reunir todas as pessoas que considerasse imprescindveis ao projeto. Não haveria dinheiro, mas ele cederia o auditório do CBPE para as reuniões e poria o advogado dele às ordens, para criar um órgão ou uma fundação voltada para o livro infantil. E o que fez Maria Luiza, depois? LS – Ela me ligou. Eu, que me formara em administração pouco antes de casar, estava em casa a cuidar de filhos. Ligou-me e disse: “Tem uma coisa aqui não remunerada, mas voc poderia me ajudar?” Respondi que adoraria, pois só conhecia literatura infantil de leitura e queria conhecer mais. Além disso, estava mais do que disposta a fazer algum trabalho. Passamos a nos reunir uma vez por semana, Maria Luiza e eu, na sede do CPBE. Tnhamos uma sala e o doutor Péricles nos deu também uma datilógrafa em meio expediente, a Edith Fernandes. Começamos a listar os escritores, ilustradores, editores, educadores. E fizemos uma primeira reunião. Havia poucas editoras, entre elas a Melhoramentos e a Ebal. No auditório, foi uma conversa sem fim. No final, decidimos fazer uma comissão. Eu, Maria Luiza e dona Ruth, a única que era bibliotecária especializada em literatura infantil. Fora indicada por uma amiga: “Tenho uma tia que se aposentou e que acaba de perder o marido. Está louca para fazer alguma coisa.” Assim ganhamos dona Ruth, que foi fantástica. Dona Ruth...qual era o sobrenome? LS – Ruth Villela Alves de Souza. Nós nos reunamos em minha própria casa. Também fazia parte da comissão o diretor da Ebal, Paulo Adolfo Aizen. E estava presente ainda o advogado. Decidimos que era melhor ser pobre e orgulhoso. Não ser membro do governo, porque o Instituto Nacional do Livro co-editava livros. Futuramente, poderamos vir a achar ruim um livro co-editado pelo governo, o que iria criar uma situation, como dizem os americanos. Optamos por criar uma fundação de direito privado. Convocamos todas as pessoas

Entrevista com Laura Sandroni e Elizabeth Serra<br />

(realizada por Cecília Costa Junqueira)<br />

A longa caminhada pela paz nas páginas encantadas<br />

dos livros infantis<br />

Criada em 1968, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (<strong>FNLIJ</strong>)<br />

este ano está festejando os seus quarenta anos. Hora <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> caminho<br />

aberto para o futuro, já com muitos feitos e realizações no passado. Foram inúmeros<br />

os marcos, como o Congresso do IBBY no Brasil, em 1974; a vinda do professor<br />

alemão Klaus Do<strong>de</strong>rer, em 1976; a da escritora e bibliotecária francesa Geneviève<br />

Patte, em 1977; os seminários realizados na Bienal <strong>de</strong> São Paulo e a mágica <strong>Ciranda</strong><br />

dos <strong>Livros</strong>. Sempre procurando alimentar o imaginário da criança brasileira e faz-la<br />

amar a arte das palavras, a Fundação também foi pioneira em feiras <strong>de</strong> livros nas escolas.<br />

E teve um outro gran<strong>de</strong> momento ao criar, em maio <strong>de</strong> 1998, o Salão do Livro<br />

Infantil e Juvenil, que este ano, ao completar <strong>de</strong>z anos, contou com a participação<br />

<strong>de</strong> cem editoras e com a presença <strong>de</strong> 51 mil visitantes. Recordando esta bela história,<br />

fantástica como qualquer fábula infantil, mas também bem pragmática e trabalhosa,<br />

Laura Sandroni e Elizabeth D’Ângelo Serra, em entrevista concedida à jornalista Ceclia<br />

Costa Junqueira, falam do longo tempo em que se <strong>de</strong>dicaram e ainda se <strong>de</strong>dicam<br />

à instituição, com muita paixão e a mente repleta <strong>de</strong> boas lembranças. Tempo em<br />

que ajudaram a <strong>de</strong>senvolver a literatura infantil e juvenil no Brasil, transformando-a<br />

numa das mais ricas do mundo. Os primeiros <strong>de</strong>zesseis anos ficaram a cargo <strong>de</strong><br />

Laura. Após um breve interregno, sob o comando <strong>de</strong> Glória Pondé e <strong>de</strong> Eliana Yunes,<br />

Elizabeth assumiu a secretaria-geral, função que exerce nos últimos vinte anos. Mas<br />

<strong>de</strong>ixemos que elas mesmas, gran<strong>de</strong>s tecedoras <strong>de</strong> sonhos, nos narrem este trabalho<br />

tão bonito, cuja origem está no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Jella Lepman <strong>de</strong> criar um mundo mais<br />

harmonioso através dos livros para as crianças e jovens.<br />

Como surgiu a idéia <strong>de</strong> se criar, no Brasil, uma instituição<br />

voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento da literatura infantil e juvenil?<br />

LAURA SANDRONI – O doutor Péricles Madureira do Pinho era o diretor<br />

do Centro Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisas Educacionais (CBPE), um pedaço do INEP<br />

(Instituto Nacional <strong>de</strong> Estudos Pedagógicos, órgão do Ministério da Educação).<br />

Em 1964, ele recebeu um convite <strong>de</strong> Carmen Bravo-Villasante, presi<strong>de</strong>nte da

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