POLIARQUIAS E A (IN)EFETIVIDADE DA LEI NA AMÉRICA LATINA1 ...
POLIARQUIAS E A (IN)EFETIVIDADE DA LEI NA AMÉRICA LATINA1 ... POLIARQUIAS E A (IN)EFETIVIDADE DA LEI NA AMÉRICA LATINA1 ...
POLIARQUIAS E A (IN)EFETIVIDADE DA LEI NA AMÉRICA LATINA ticas, ou o são de modo muito incompleto, se vistas do ângulo do princípio da lei e do Estado legal; de casos que são normalmente chamados "democracias liberais" mas são escassamente liberais; de regimes que são poliárquicos no nível nacional mas às vezes não o são no nível subnacional; e de uma democracia que faz parte tanto da face legal do Estado como do regime. Além de meus parcos talentos literários, a razão para esse estranhamento é que nosso vocabulário foi moldado por um escopo teórico restrito resultante dos pressupostos implícitos mencionados no início do texto e discutidos ao longo dele. Apesar dessas deficiências, espero ter mostrado que os temas do Estado, especialmente o Estado legal, e da efetiva ampliação da cidadania civil e da accountability sob o princípio da lei devem ser vistos tanto como uma parte central da problématique da democracia quanto como o estudo de seu regime (poliárquico). Creio que é nesse contexto que alguns aspectos políticos dos ricos, fascinantes e com freqüência justificadamente melancólicos capítulos deste volume 76 devem ser interpretados. A maioria dos países latino-americanos aos quais esses capítulos se referem são poliarquias. Ter alcançado essa condição é, na verdade, um progresso extremamente importante em relação à extrema arbitrariedade e violência dos sistemas autoritários que, na maioria dos casos, precedeu essas poliarquias. Nesse sentido específico, centrado no regime, não partilho a relutância de alguns de nossos autores em chamar esses casos de "democracias", embora eu prefira nomeá-los poliarquias, ou democracias políticas. Por outro lado, como esses mesmos autores deixam muito claro, a obtenção de uma democracia mais plena que inclua o governo democrático da lei é uma realização urgente e, nas circunstâncias detalhadas neste volume, distante. O fato de que as lutas visando essa meta podem se basear, como devem, nas liberdades políticas da poliarquia assinala o potencial desse tipo de regime, ainda que prejudicado por uma cidadania truncada e uma accountability fraca. REFERÊNCIAS Altimir, Oscar. "Inequality, poverty, and employment in Latin America". In: Tokman, Víctor e O'Donnell, Guillermo (orgs.). Poverty and inequality in Latin America. Issues and new challenges. Notre Dame: The University of Notre Dame Press, 1998 (no prelo). Bobbio, Norberto. Democracy and dictatorship. The nature and limits of State power. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1989. Caldeira, Teresa P. R. City of walls: Crime, segregation, and citizenship in São Paulo. Berkeley: University of California Press, 1998. Cels — Centro de Estudios Legales y Sociales. Informe sobre la situación de los derechos humanos en la Argentina. Ano 1994. Buenos Aires: Universidad Nacional de Buenos Aires, 1995. Chevalier, Jacques. L'Etat de droit. 2 a ed. Paris: Montchrestien, 1994. Clarín. "Brasil: Los narcos amenazan la soberania", 28/01/98. 56 NOVOS ESTUDOS N.° 51 (76) O autor se refere aos textos do volume (citado na nota 1) em que será publicado este ensaio (N. E.). Recebido para publicação em 29 de maio de 1998. Guillermo O'Donnell é professor do Instituto Kellogg, Universidade de Notre Dame (Estados Unidos). Publicou nesta revista "Sobre o Estado, a democratização e alguns problemas conceituais" (nº 36).
GUILLERMO O'DONNELL Cohen, Jean e Arato, Andrew. Civil society and political theory. Londres: The MIT Press, 1992. Collier, David e Levitsky, Steven. "Democracy with adjectives: Conceptual innovation in comparative research". World Politics, 49(3), 1997: 430-451. Comisión Colombiana de Juristas. Colombia, derechos humanos y derecho humanitario: 1996. Bogotá: Comisión Colombiana de Juristas, 1997. Cotterrell, Roger. The politics of jurisprudence: A critical introduction to legal philosophy. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1989. Crittenden, Jack. "The social nature of autonomy". The Review of Politics, nº 54, 1992: 35-65. Czarnota, D. e Krygier, M. (orgs.) The rule of law after communism. Aldershot: Dartmouth Publishing, 1997. Dahl, Robert. Democracy and its critics. New Haven: Yale University Press, 1989. DaMatta, Roberto. "The quest for citizenship in a relational universe". In: Wirth, John e outros. State and society in Brazil. Continuity and change. Boulder: Westview Press, 1987: 307-335. . Carnivals, rogues, and heroes. An interpretation of the Brazilian dilemma. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1991. Dasgupta, Partha. An inquiry into well-being and destitution. Oxford: Clarendon Press, 1993. Diamond, Larry. "Democracy in Latin America: Degrees, illusions, and directions for consolidation". In: Farer, Tom (org.). Beyond sovereignty. Collectively defending democracy in the Americas. Baltimore: The John Hopkins University Press, 1996a: 52-106. . "Is the Third Wave over?". Journal of Democracy, 7(3), 1996b: 19-37. Dworkin, Ronald. Taking rights seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1978. . Law's empire. Cambridge USA, 1986. Finnis, John. Natural law and natural rights. Oxford: Clarendon Press, 1980. Fox, Jonathan. "The difficult transition from clientelism to citizenship". World Politics, 46(2), 1994a: 151-184. . "Latin America's emerging local politics". Journal of Democracy, 5(2), 1994b: 105-116. Fuller, Lon. The morality of law. New Haven: Yale University Press, 1969 (ed. rev.). Gallego, Carlos M. Autodefensas, paramilitares y narcotráfico en Colombia. Bogotá: Editorial Difusora Periodística, 1990. Gibson, Edward. "The populist road to market reform: Policy and electoral coalitions in México and Argentina". World Politics, 49(3), 1997: 339-370. e Calvo, Ernesto. Electoral coalitions and market reforms: Evidence from Argentina. Northwestern University, 1996 (mimeo) Habermas, Jürgen. "Law as a medium and as an intitution". In: Teubner, Gunther (org.). Dilemmas of laws in the Welfare State. Nova York/Berlim: De Gruyter, 1988: 203-220. JULHO DE 1998 57
- Page 1 and 2: POLIARQUIAS E A (IN)EFETIVIDADE DA
- Page 3 and 4: GUILLERMO O'DONNELL e, portanto, fa
- Page 5 and 6: Direitos formais GUILLERMO O'DONNEL
- Page 7 and 8: GUILLERMO O'DONNELL risco pessoal s
- Page 9 and 10: GUILLERMO O ' DONNELL particularmen
- Page 11 and 12: GUILLERMO O ' DONNELL conclusão é
- Page 13 and 14: GUILLERMO O ' DONNELL listagens des
- Page 15 and 16: GUILLERMO O ' DONNELL aspirações
- Page 17 and 18: GUILLERMO O'DONNELL certa. Vista de
- Page 19: GUILLERMO O ' DONNELL democráticos
- Page 23 and 24: GUILLERMO O'DONNELL Margalit, Avish
- Page 25 and 26: GUILLERMO O'DONNELL Sousa Santos, B
<strong>POLIARQUIAS</strong> E A (<strong>IN</strong>)<strong>EFETIVI<strong>DA</strong>DE</strong> <strong>DA</strong> <strong>LEI</strong> <strong>NA</strong> <strong>AMÉRICA</strong> LAT<strong>IN</strong>A<br />
ticas, ou o são de modo muito incompleto, se vistas do ângulo do princípio<br />
da lei e do Estado legal; de casos que são normalmente chamados<br />
"democracias liberais" mas são escassamente liberais; de regimes que são<br />
poliárquicos no nível nacional mas às vezes não o são no nível subnacional;<br />
e de uma democracia que faz parte tanto da face legal do Estado como do<br />
regime. Além de meus parcos talentos literários, a razão para esse estranhamento<br />
é que nosso vocabulário foi moldado por um escopo teórico restrito<br />
resultante dos pressupostos implícitos mencionados no início do texto e<br />
discutidos ao longo dele. Apesar dessas deficiências, espero ter mostrado<br />
que os temas do Estado, especialmente o Estado legal, e da efetiva<br />
ampliação da cidadania civil e da accountability sob o princípio da lei<br />
devem ser vistos tanto como uma parte central da problématique da<br />
democracia quanto como o estudo de seu regime (poliárquico).<br />
Creio que é nesse contexto que alguns aspectos políticos dos ricos,<br />
fascinantes e com freqüência justificadamente melancólicos capítulos deste<br />
volume 76 devem ser interpretados. A maioria dos países latino-americanos<br />
aos quais esses capítulos se referem são poliarquias. Ter alcançado essa<br />
condição é, na verdade, um progresso extremamente importante em relação<br />
à extrema arbitrariedade e violência dos sistemas autoritários que, na<br />
maioria dos casos, precedeu essas poliarquias. Nesse sentido específico,<br />
centrado no regime, não partilho a relutância de alguns de nossos autores<br />
em chamar esses casos de "democracias", embora eu prefira nomeá-los<br />
poliarquias, ou democracias políticas. Por outro lado, como esses mesmos<br />
autores deixam muito claro, a obtenção de uma democracia mais plena que<br />
inclua o governo democrático da lei é uma realização urgente e, nas<br />
circunstâncias detalhadas neste volume, distante. O fato de que as lutas<br />
visando essa meta podem se basear, como devem, nas liberdades políticas<br />
da poliarquia assinala o potencial desse tipo de regime, ainda que<br />
prejudicado por uma cidadania truncada e uma accountability fraca.<br />
REFERÊNCIAS<br />
Altimir, Oscar. "Inequality, poverty, and employment in Latin America". In:<br />
Tokman, Víctor e O'Donnell, Guillermo (orgs.). Poverty and inequality in Latin<br />
America. Issues and new challenges. Notre Dame: The University of Notre Dame<br />
Press, 1998 (no prelo).<br />
Bobbio, Norberto. Democracy and dictatorship. The nature and limits of State<br />
power. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1989.<br />
Caldeira, Teresa P. R. City of walls: Crime, segregation, and citizenship in São Paulo.<br />
Berkeley: University of California Press, 1998.<br />
Cels — Centro de Estudios Legales y Sociales. Informe sobre la situación de los<br />
derechos humanos en la Argentina. Ano 1994. Buenos Aires: Universidad Nacional<br />
de Buenos Aires, 1995.<br />
Chevalier, Jacques. L'Etat de droit. 2 a ed. Paris: Montchrestien, 1994.<br />
Clarín. "Brasil: Los narcos amenazan la soberania", 28/01/98.<br />
56 NOVOS ESTUDOS N.° 51<br />
(76) O autor se refere aos textos<br />
do volume (citado na nota<br />
1) em que será publicado este<br />
ensaio (N. E.).<br />
Recebido para publicação em<br />
29 de maio de 1998.<br />
Guillermo O'Donnell é professor<br />
do Instituto Kellogg, Universidade<br />
de Notre Dame (Estados<br />
Unidos). Publicou nesta<br />
revista "Sobre o Estado, a democratização<br />
e alguns problemas<br />
conceituais" (nº 36).