Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Carlos Pimenta Complexidade e Interdisciplinaridade n<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong> Versão 02<br />
informação. Sem dúvida, m<strong>as</strong> a esse facto se juntam du<strong>as</strong> dificuldades: (a) no início da<br />
investigação essa capacidade de selecção apresenta-se muito dificultada; (b) na medida em que<br />
preten<strong>do</strong> fazer a intercepção entre complexidade e interdisciplinaridade interessa-me uma<br />
diversidade de pontos de vista, a posição de especialist<strong>as</strong> de divers<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> científic<strong>as</strong>.<br />
− A investigação dest<strong>as</strong> problemátic<strong>as</strong> faz-se “à margem” <strong>do</strong> trabalho universitário, porque no<br />
programa curricular da licenciatura est<strong>as</strong> questões estão totalmente ausentes, porque em pósgraduações<br />
considerar-se-ia que “não há merca<strong>do</strong>” – e provavelmente têm razão, até porque o<br />
imobilismo o reforça – porque tentar montar um centro de investigação com capacidades<br />
human<strong>as</strong> e materiais para um tratamento sistemático desses <strong>as</strong>suntos exigir-nos-ia tais esforços<br />
que deixaríamos de ter tempo para investigar.<br />
− A complexidade está presente na realidade que estudamos e no processo de estu<strong>do</strong> dessa<br />
realidade embora sejam diferentes. Acabo por apen<strong>as</strong> tratar da primeira e deixar a segunda.<br />
Por isso foi com muit<strong>as</strong> dúvid<strong>as</strong> que começámos e acabamos a escrita deste <strong>do</strong>cumento. Por isso é com<br />
alegria que aceito estes desafios porque me permite contactar com coleg<strong>as</strong> de outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> e contextos e<br />
porque é uma forma de dar um p<strong>as</strong>so em frente, por pequeno que seja.<br />
Prolegómenos<br />
O cerne <strong>do</strong> trabalho é a intercepção “complexidade-interdisciplinaridade” e a aplicação da complexidade<br />
às ciênci<strong>as</strong> sociais. No entanto de forma introdutória parece útil precisar algum<strong>as</strong> simplificações,<br />
explicitar algum<strong>as</strong> hipóteses de partida, manifestar algum<strong>as</strong> preocupações.<br />
Concentrarei sobretu<strong>do</strong> a atenção na caracterização da complexidade, pois considero que a banalização <strong>do</strong><br />
termo e a multiplicidade de senti<strong>do</strong>s em que é utiliza<strong>do</strong> exige um prévio esforço de delimitação de<br />
contornos, de precisão de alguns <strong>as</strong>pectos<br />
<strong>Sobre</strong> Interdisciplinaridade<br />
Vamos falar de interdisciplinaridade, de complexidade e interdisciplinaridade e por isso nunca é de mais<br />
precisar um pouco a terminologia a<strong>do</strong>ptada, os pressupostos de partida, algum<strong>as</strong> opções a<strong>do</strong>ptad<strong>as</strong> no<br />
tratamento dest<strong>as</strong> questões.<br />
1) São típic<strong>as</strong> <strong>as</strong> discussões sobre a diversidade terminológica e significante para designar situações de<br />
interdiciplinaridade, entendida, de forma abrangente, como a multiplicidade de processos de<br />
aproximação, da convivência à fusão, de saberes, científicos ou outros, que num da<strong>do</strong> momento se<br />
encontram separa<strong>do</strong>s. Poderíamos mesmo dizer que a própria interdisciplinaridade tem, como ela própria<br />
chama a atenção, um significa<strong>do</strong> disciplinar – epistemológico, antropológico, semiótico, psicológico,<br />
político, etc. – e interdisciplinar.<br />
Em trabalhos anteriores a “cl<strong>as</strong>sificação” da interdisciplinaridade foi uma d<strong>as</strong> preocupações maiores,<br />
ten<strong>do</strong> consideran<strong>do</strong> três tipos, de acor<strong>do</strong> com os intervenientes no processo, quatro possibilidades de<br />
entrelaçamento e ainda três form<strong>as</strong> deste se processar, permitin<strong>do</strong>, pois, considerar trinta seis<br />
manifestações de interdisciplinaridade 4 . Porque esse trabalho está feito e disponível (Pimenta, 2004b &<br />
2003c) e porque existem sempre razões para acrescentar outros tipos de cl<strong>as</strong>sificação, tal é a diversidade<br />
de situações concret<strong>as</strong> e <strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong> de teorização, e ainda porque esse <strong>as</strong>sunto estará presente em<br />
algum<strong>as</strong> comunicações ou nos debates, dispenso-me de proceder aqui à abordagem deste tema. Utilizarei<br />
sempre, ou qu<strong>as</strong>e sempre, uma terminologia abrangente.<br />
Contu<strong>do</strong> impõe-se aqui fazer três reparos:<br />
a) São situações diferentes a interdisciplinaridade entre subdisciplin<strong>as</strong> da mesma disciplina 5 ou<br />
entre disciplin<strong>as</strong> diferentes ou, por outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, talvez mais precis<strong>as</strong>, entre disciplin<strong>as</strong> que<br />
estão em processo de autonomização, de separação, e entre disciplin<strong>as</strong> que já são completamente<br />
autónom<strong>as</strong>.<br />
Pág. 4