Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
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Carlos Pimenta Complexidade e Interdisciplinaridade n<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong> Versão 02<br />
Introdução<br />
Esta comunicação faz lembrar afirmações populares que frequentemente servem como exemplo para se<br />
mostrar que o apresenta<strong>do</strong> pela teoria <strong>do</strong> caos já era há muito conheci<strong>do</strong>:<br />
“Por um prego, perdeu-se a ferradura;<br />
Por uma ferradura, perdeu-se o cavalo;<br />
Por um cavalo, perdeu-se o cavaleiro;<br />
Por um cavaleiro, perdeu-se a batalha;<br />
Por uma batalha, perdeu-se o reino!” 2<br />
Embora há anos estudan<strong>do</strong> <strong>as</strong> problemátic<strong>as</strong> da complexidade e <strong>as</strong> temátic<strong>as</strong> da interdisciplinaridade,<br />
toman<strong>do</strong> sempre como referência a Ciência Económica 3 nunca me tinha preocupa<strong>do</strong> com cruzar esses<br />
<strong>do</strong>is caminhos, nem tão pouco procurar generalizações, ou a possibilidade de generalizações, <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s, de forma a abranger outr<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong>.<br />
Quan<strong>do</strong> organizei, no âmbito da linha de investigação sobre Interdisciplinaridade da Cátedra Humanismo<br />
Latino a conferência internacional Interdisciplinaridade, Humanismo e <strong>Universidade</strong>, convidei um<br />
professor mexicano para apresentar uma comunicação sobre a temática “Complexidade –<br />
Interdisciplinaridade”. Motivos de última hora imponderáveis inviabilizaram a sua presença. Como<br />
organiza<strong>do</strong>r da conferência sentia que era uma falta grave não se tratar da complexidade. Como ora<strong>do</strong>r da<br />
conferência <strong>as</strong> minh<strong>as</strong> preocupações iam noutro senti<strong>do</strong>. Depois de muit<strong>as</strong> hesitações resolvi aban<strong>do</strong>nar a<br />
minha comunicação original, que trataria <strong>as</strong>suntos mais próximos <strong>do</strong>s outros conferencist<strong>as</strong>, e meter mãos<br />
à obra. Assim n<strong>as</strong>ceu uma comunicação, manifestamente insuficiente, com o título Complexidade e<br />
Interdisciplinaridade.<br />
O professor Jayme Paviani teve a amabilidade de julgar favoravelmente o seu conteú<strong>do</strong> e solicitou-me<br />
que aqui apresent<strong>as</strong>se essa mesma temática. E o que foi um acidente de percurso transformou-se num<br />
desafio que hoje parece ser mais estruturante da minha actividade no campo da Epistemologia da<br />
Economia.<br />
No entanto tenho que confessar que é uma temática que me coloca séri<strong>as</strong> dificuldades. Não se trata<br />
apen<strong>as</strong> da consciência <strong>do</strong> que não sabemos e que ao procedermos a uma investigação alargamos<br />
simultaneamente o terreno conheci<strong>do</strong> e o terreno desconheci<strong>do</strong> com consciência da sua existência. São<br />
dificuldades bem concret<strong>as</strong>:<br />
− Seria possível falar <strong>do</strong> complexo como fuga ao relativismo em tempo de crise d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong>, seria<br />
possível centrar-nos no simbólico dessa temática que emerge de múltipl<strong>as</strong> forma, poderíamos<br />
talvez fazer a história <strong>do</strong> conceito, enfim fazer múltipl<strong>as</strong> abordagens, m<strong>as</strong> a nossa preocupação é<br />
só uma: abordar a complexidade com o instrumental <strong>do</strong> conhecimento científico embora este<br />
tenha de, em momentos críticos, transbordar <strong>as</strong> su<strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> e lançar-se na Filosofia. Ora um<br />
tal tratamento da complexidade exige um instrumental matemático altamente sofistica<strong>do</strong>.<br />
Embora não devamos estar sistematicamente agarra<strong>do</strong>s à utilização d<strong>as</strong> Matemátic<strong>as</strong> – até<br />
porque el<strong>as</strong> não têm ainda resposta para alguns problem<strong>as</strong> coloca<strong>do</strong>s pela consideração da<br />
complexidade n<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais – el<strong>as</strong> são muito importantes. Não b<strong>as</strong>ta dizer que há situações<br />
caótic<strong>as</strong>, é necessário identificá-l<strong>as</strong> e utilizá-l<strong>as</strong> para “experimentação”. Não b<strong>as</strong>ta criticar a<br />
noção de “equilíbrio” e referir que em muit<strong>as</strong> situações teremos um atractor estranho, é<br />
necessário saber encontrá-lo. E poderíamos fazer muit<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> sobre a importância<br />
da Matemática. Ora acontece que os meus conhecimentos matemáticos revelam-se<br />
frequentemente muito insuficientes para esses aprofundamentos.<br />
− E não é apen<strong>as</strong> de bons conhecimentos de Matemática que sinto falta. Frequentemente<br />
reconheço a necessidade de pensar na Lógica – sobretu<strong>do</strong> na utilização de lógic<strong>as</strong> que<br />
comportem a ambiguidade e a contradição, multivalentes – de conhecer um pouco mais de<br />
Inteligência Artificial – até porque na complexidade o percurso, o processo, <strong>as</strong>sume<br />
frequentemente uma importância muito maior que o resulta<strong>do</strong> – de ser capaz de conhecer<br />
suficientemente Filosofia para tratar de <strong>as</strong>suntos – pois o concreto é uma categoria que desponta<br />
sistematicamente. E em mais, em muito mais.<br />
− A quantidade de literatura que tem si<strong>do</strong> produzida em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> sobre a complexidade é<br />
enorme. Dir-me-ão que aí estará a arte <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r, nos tempos actuais: saber seleccionar a<br />
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