Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Carlos Pimenta Complexidade e Interdisciplinaridade n<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong> Versão 02<br />
33 Nesse mesmo ciclo de conferênci<strong>as</strong> Brock exprime a posição <strong>do</strong> Instituto de Santa Fé: "In this chapter I<br />
have avoided the job of defining `complex system'. The re<strong>as</strong>on is that it is hard to define. It is e<strong>as</strong>ier to<br />
illustrate by examples. If I were forced to give a definition the study of complexity might usefully be<br />
defined <strong>as</strong> the study of the generating functions underlying patterns like those discussed above. One nice<br />
thing about the study of patterns is that they give you a natural way to distinguish micro from macro. The<br />
macro category is separated from the micro category by the degree of survival of the phenomena to<br />
aggregation. To put it another way, the phenomenon is cl<strong>as</strong>sified <strong>as</strong> ,macro' if it survives a type of law of<br />
large numbers, that is, if there is a strong enough dependence across individual micro units in some kind<br />
of statistical sense so that the `averaging' effect of aggregation <strong>do</strong>es not `w<strong>as</strong>h out' the phenomenon of<br />
interest. Put another way, a pattern could be called a `macro' pattern if it still appears in data that is<br />
aggegated up from micro data. Because of `emergent' phenomena, new macro patterns can appear at<br />
different levels of aggregation that cannot happen in micro patterns. See Brown's book, Macroecology<br />
(1995), for examples in ecology." (in Colander & Outros, 2000, 34)<br />
34 Quan<strong>do</strong> estamos a considerar que a curva da procura de n consumi<strong>do</strong>res é a soma d<strong>as</strong> curv<strong>as</strong> de procura<br />
individuais desse n consumi<strong>do</strong>res estamos a admitir a independência d<strong>as</strong> decisões de cada um, uma<br />
linearidade. Se se considerar que <strong>as</strong> opções de um influenciam <strong>as</strong> decisões <strong>do</strong>s outros, ou de alguns <strong>do</strong>s<br />
outros, não poden<strong>do</strong> admitir essa autonomia de opções podemos já estar numa situação de nãolinearidade.<br />
Este pequeno exemplo, dem<strong>as</strong>ia<strong>do</strong> simplista, poderá alertar-nos para a possibilidade de<br />
grande parte <strong>do</strong>s comportamentos sociais serem de não-linearidade. Recorde-se que a Economia nada<br />
saberia fazer sem o ceteris paribus, isto é com a conjugação da análise de uma situação particular com a<br />
hipótese que tu<strong>do</strong> o resto se mantem constante. É a introdução da linearidade como hipótese de partida.<br />
35 Comece-se por recordar que o tempo tem um princípio. A eternidade é um conceito sem significa<strong>do</strong><br />
científico. O tempo, o nosso tempo, começa com o universo. É impreciso e incompleto falar de tempo<br />
como o é falar de espaço. O que existe é espaço-tempo. Segun<strong>do</strong> Hawking (1988)<br />
“há pelo menos três set<strong>as</strong> <strong>do</strong> tempo que distinguem realmente o p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> <strong>do</strong> futuro: a seta<br />
termodinâmica, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> tempo em que a desordem aumenta; a seta psicológica, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
tempo em que nos lembramos <strong>do</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> e não <strong>do</strong> futuro; e a seta cosmológica, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
tempo em que o Universo se expande, em vez de se contrair” (200)<br />
É <strong>do</strong> conhecimento corrente uma certa ideia de irreversibilidade. B<strong>as</strong>ta abrir qualquer dicionário de<br />
citações ou de provérbios populares para encontrarmos divers<strong>as</strong> constatações desse facto: “O tempo<br />
p<strong>as</strong>sa, o tempo p<strong>as</strong>sa, senhora, Ai! Não só o tempo, nós também” disse Pierre de Ronsard. Contu<strong>do</strong> em<br />
Economia o tempo (e não o tempo-espaço) é frequentemente uma “variável” reversível. É certo que em<br />
muitos modelos dinâmicos tal não acontece, m<strong>as</strong> o corpo essencial da Economia, aquilo que continua a<br />
constituir o corpo central de conhecimentos a transmitir aos futuros economist<strong>as</strong>, continua a considerar o<br />
tempo reversível: a partir <strong>do</strong> equilíbrio gera-se um desequilíbrio que conduz a novo equilíbrio; y i = f(x i )<br />
com i=1, 2, ..., n representan<strong>do</strong> momentos no tempo. Ceteris paribus, se x j =x i então y j =y i .<br />
36 Haven<strong>do</strong>, provavelmente alguma influencia <strong>do</strong> facto de ser um geógrafo.<br />
37 Qualquer pessoa preocupada com o rigor d<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> facilmente verificará que existem dezen<strong>as</strong> de<br />
definições diferentes de Ciência e que entre muit<strong>as</strong> há diferenç<strong>as</strong> acentuad<strong>as</strong>. Por exemplo<br />
− Conjunto de conhecimentos e de pesquis<strong>as</strong> que têm um grau suficiente de unidade, de<br />
generalidade, e susceptíveis de levar os homens que a el<strong>as</strong> se entregam a conclusões<br />
concordantes, que não resultam nem de conven ções arbitrári<strong>as</strong>, nem <strong>do</strong>s gostos ou <strong>do</strong>s<br />
interesses individuais que lhes são comuns, m<strong>as</strong> de relações objectiv<strong>as</strong> que se vão descobrin<strong>do</strong><br />
gradualmente e que se confirmam por méto<strong>do</strong>s de verificação defini<strong>do</strong>s. (A. Lalande, in Serrão<br />
& Grácio, 64)<br />
− «conjunto de conhecimentos (experiênci<strong>as</strong>) estrutura<strong>do</strong>s e organiza<strong>do</strong>s de alguma maneira,<br />
referentes tanto à acção <strong>do</strong> homem sobre a natureza como à interacção <strong>do</strong>s homens entre si, quer<br />
dizer, à sua integração em grupos ou sociedades; o seu objectivo consiste em obter leis<br />
objectiv<strong>as</strong>, independentes da vontade humana, e que sejam um reflexo real <strong>do</strong>s processos que se<br />
verificam entre os objectos em dada esfera»<br />
Pág. 32