Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
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Carlos Pimenta Complexidade e Interdisciplinaridade n<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong> Versão 02<br />
Sensibilidade às condições iniciais<br />
Recentemente uma revista portuguesa inquiriu um leque de economist<strong>as</strong> sobre se a economia portuguesa<br />
superaria brevemente a situação de crise em que se vive há <strong>do</strong>is anos. As respost<strong>as</strong> foram <strong>as</strong> mais<br />
desencontrad<strong>as</strong>.<br />
Certamente isso aconteceu porque poucos se comportaram como cientist<strong>as</strong> e muitos se comportaram<br />
como paladinos de posições polític<strong>as</strong> ou com especialist<strong>as</strong> em alguns <strong>as</strong>pectos. Também porque uns<br />
consideraram ou deram mais importância a algum<strong>as</strong> variáveis e outros a outr<strong>as</strong> variáveis e relações. M<strong>as</strong><br />
também porque muitos têm consciência que na situação de instabilidade que actualmente se vive, na<br />
interacção de tant<strong>as</strong> variáveis, pequen<strong>as</strong> variações em algum<strong>as</strong> del<strong>as</strong> podem desencadear efeitos<br />
inespera<strong>do</strong>s.<br />
Tu<strong>do</strong> isto para se fazer uma previsão no máximo a seis meses. Se se pretendesse saber qual a situação de<br />
conjuntura que se prevê existir daqui a cinco anos, exactamente naquele mês de Junho, provavelmente<br />
nenhum economista se atreveria sequer a responder.<br />
Se deixarmos de falar de variáveis macro e “estáveis” como são os grandes agrega<strong>do</strong>s da contabilidade<br />
nacional considera<strong>do</strong>s nest<strong>as</strong> análises e p<strong>as</strong>sarmos a falar d<strong>as</strong> alterações de cotação da bolsa então a<br />
incerteza mesmo a curto cresce exponencialmente. Nada mais ridículo que ouvir um comenta<strong>do</strong>r a<br />
justificar <strong>as</strong> alterações de cotação verificad<strong>as</strong> durante uma sessão na bolsa: o aleatório não existe, <strong>as</strong><br />
dinâmic<strong>as</strong> caótic<strong>as</strong> não fazem parte da sua panóplia de explicações e tu<strong>do</strong> tem que ser “racionalmente”<br />
explica<strong>do</strong> nem que essa racionalidade esteja na indisposição intestinal <strong>do</strong> Presidente da República <strong>do</strong>s<br />
EUA.<br />
Reconheceu-se, pelo menos para diversos sectores e merca<strong>do</strong>s a sensibilidade às condições iniciais<br />
quan<strong>do</strong> se promoveram projectos de investigação de aplicabilidade da teoria <strong>do</strong> caos aos merca<strong>do</strong>s<br />
financeiros, quan<strong>do</strong> se pretende aplicar <strong>as</strong> redes neuronais 51 para a elaboração de previsões.<br />
A indisposição intestinal <strong>do</strong> presidente poderá explicar pouco, m<strong>as</strong> a mudança de humor de um barão <strong>do</strong>s<br />
carteis da droga com liquidez nos paraísos fiscais superior à de muitos Esta<strong>do</strong>s ou a diferença de um voto<br />
que dá a maioria a um parti<strong>do</strong> que defenda o não pagamento da dívida externa ao FMI pode modificar<br />
muito significativamente o rumo <strong>do</strong>s acontecimentos mundiais.<br />
A conclusão que podemos e devemos retirar é que na Economia Política, muito provavelmente n<strong>as</strong><br />
ciênci<strong>as</strong> sociais, há manifestações convincentes de complexidade no seu objecto de estu<strong>do</strong>. A<br />
consideração d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> entre os homem, a consideração d<strong>as</strong> relações entre eles, tornam mais<br />
evidentes a presença da complexidade.<br />
Complexidade e Interdisciplinaridade<br />
Vejamos agora em que medida é que a complexidade aconselha ou facilita a interdisciplinaridade.<br />
Antes, contu<strong>do</strong>, de apresentar <strong>as</strong> relações positiv<strong>as</strong> entre complexidade e interdisciplinaridade convirá<br />
deixar uma ressalva: nada permite afirmar que a interdisciplinaridade é o único caminho para a<br />
construção de um conhecimento global.<br />
A leitura em primeiro lugar da totalidade, a recentragem <strong>do</strong> conhecimento científico mais no concreto, a<br />
preocupação pela construção de um conhecimento global pode partir, admitimos nós no esta<strong>do</strong> de<br />
ignorância em que estamos ainda sobre est<strong>as</strong> matéri<strong>as</strong>, da filosofia ou da ciência, pode p<strong>as</strong>sar a ser<br />
preocupação de cada disciplina científica, pode <strong>as</strong>sumir form<strong>as</strong> inusitad<strong>as</strong> no momento presente.<br />
A interdisciplinaridade é um <strong>do</strong>s caminhos, provavelmente um <strong>do</strong>s mais poderosos que temos ao nosso<br />
dispor actualmente, m<strong>as</strong> não é o único.<br />
Apresentemos resumidamente <strong>as</strong> referid<strong>as</strong> relações, começan<strong>do</strong> pelo enuncia<strong>do</strong> de uma componente de<br />
obstaculização:<br />
a) A complexidade, o estu<strong>do</strong> da complexidade, a consciência da complexidade pode dificultar a<br />
interdisciplinaridade seja porque reforça a disciplinaridade seja porque exige conceitos e linguagens<br />
altamente sofisticad<strong>as</strong> e de difícil divulgação.<br />
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