Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Carlos Pimenta Complexidade e Interdisciplinaridade n<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong> Versão 02<br />
Toda a actividade económica se realiza em contextos culturais. Numa época histórica em que <strong>as</strong><br />
distânci<strong>as</strong> físic<strong>as</strong> parecem tornar-se cada vez mais irrelevantes, <strong>as</strong> distânci<strong>as</strong> sociais (tais como <strong>as</strong> de<br />
desigualdade no acesso aos bens) e culturais apresentam movimentos contraditórios que conduzem a<br />
algum aumento em certos momentos e espaços. As referênci<strong>as</strong> de “agentes económicos” mergulha<strong>do</strong>s em<br />
cultur<strong>as</strong> diferentes (ex. greco-latina, banto, mulçumana, chinesa) são diferentes. As manifestações da<br />
mundialização são multireferenciais.<br />
Informação difícil de obter<br />
A este propósito parece-nos particularmente interessante o texto que referimos de seguida, estreitamente<br />
<strong>as</strong>socia<strong>do</strong> ao problema da racionalidade económica, a que fizemos alusão anteriormente:<br />
"In his autobiography Bertrand Russell tells us he dropped his interest in economics after half a<br />
year's study because he thought it w<strong>as</strong> too simple. Max Planck dropped his involvement with<br />
economics because he thought it w<strong>as</strong> too difficult. I went into economics because I had been<br />
trained in mathematics and I thought, <strong>as</strong> Russell did, that economics looked e<strong>as</strong>y. It took me<br />
several years to get from Russell's position to Planck's. Economics is inherently difficult. In this<br />
chapter I will explain one path by which I came to that view.<br />
Whether one sees economics <strong>as</strong> inherently difficult or <strong>as</strong> simple depends on how one formulates<br />
economic problems. If one sets up a problem and <strong>as</strong>sumes rationality of decision making, a welldefined<br />
solution normally follows. Economics here is simple: from the problem follows the<br />
solution. But how agents get from problem to solution is a black box; and whether indeed agents<br />
can arrive at the solution cannot be guaranteed unless we look into this box. If we open this box<br />
economics suddenly becomes difficult." (Arthur in Colander, 2000, 51)<br />
M<strong>as</strong> em muit<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> encontramos situações cuja informação é difícil de obter. Em que<br />
provavelmente a Economia lucraria com a construção de um algoritmo que sinteticamente resolvesse e<br />
simulação computacional, e a Matemática ainda não o encontrou.<br />
Como dizia recentemente um matemático <strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais têm grandes desafios a fazer à Matemática,<br />
tantos ou maiores que <strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> da natureza.<br />
Múltiplos elementos adaptan<strong>do</strong>-se ou reagin<strong>do</strong>. Interacção e retroacção.<br />
São centen<strong>as</strong> de milhões os indivíduos que em cada momento participam na actividade económica.<br />
Mesmo que os consideremos de forma agregada, utilizem-se os critérios de cl<strong>as</strong>sificação que se utilizarem<br />
há centen<strong>as</strong> ou milhares de regiões com característic<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> que podem ser considerad<strong>as</strong> com alguma<br />
autonomia, há diversos tipos de “agentes económicos”, aliás consagra<strong>do</strong>s nos sistem<strong>as</strong> de contabilidade<br />
nacional, existem diversos tipos de merca<strong>do</strong>s (de bens materiais, de serviços, monetários, cambiais, de<br />
crédito; de força de trabalho, de máquin<strong>as</strong> e equipamentos, de matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong>, de energia, de produtos<br />
finais; por grosso e a retalho, etc.), até diversos tipos de economia (observada, não observada e dentro de<br />
uma outra podem existir divers<strong>as</strong> subdivisões).<br />
Recorde-se para melhor percebermos esta interacção que <strong>as</strong> categori<strong>as</strong> económic<strong>as</strong>, os conceitos<br />
utiliza<strong>do</strong>s pela Economia não exprimem cois<strong>as</strong>, não exprimem relações entre homens e cois<strong>as</strong> – como<br />
pretendem divers<strong>as</strong> correntes <strong>do</strong> pensamento económico, m<strong>as</strong> relações entre homens, quiçá através de<br />
cois<strong>as</strong>.<br />
Claro que podemos aumentar o grau de abstracção e considerar apen<strong>as</strong> <strong>do</strong>is sectores (I, produtor de meios<br />
de produção, II, produtor de bens de consumo), o que para a explicitação de alguns problem<strong>as</strong> e<br />
formulação de alguns modelos pode ser útil, m<strong>as</strong> eles não deixam de ser o resulta<strong>do</strong> de múltiplos<br />
elementos adaptan<strong>do</strong>-se ou reagin<strong>do</strong>. E quer ess<strong>as</strong> dinâmic<strong>as</strong> sejam de cooperação ou de concorrência são<br />
susceptíveis de gerar interacções e retroacções.<br />
Os estu<strong>do</strong>s de Economia estão rechea<strong>do</strong>s de efeitos de retroacção, muitos deles perfeitamente conheci<strong>do</strong>s<br />
e estuda<strong>do</strong>s: o aumento <strong>do</strong> investimento gera aumento <strong>do</strong> rendimento que, por sua vez provoca um<br />
aumento <strong>do</strong> consumo que vai novamente provocar um aumento de rendimento; numa situação de<br />
manifestação <strong>do</strong>s primeiros sintom<strong>as</strong> de crise algum<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> promovem aumentos de produtividade<br />
de forma vencerem a concorrência e serem capazes ora de atenuar os impactos da crise ora de<br />
Pág. 17