Sobre as Ciências Sociais - FEP - Universidade do Porto
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Carlos Pimenta Complexidade e Interdisciplinaridade n<strong>as</strong> Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong> Versão 02<br />
sobejamente conheci<strong>do</strong>: há uma infinidade de concretos e cada um e to<strong>do</strong>s estão em permanente<br />
mudança.<br />
A complexidade tem muit<strong>as</strong> vertentes e será extremamente perigoso e prejudicial ficarmos por esta<br />
dimensão, m<strong>as</strong> também não a podemos menosprezar. As problemátic<strong>as</strong> da complexidade entroncam-se<br />
também com <strong>as</strong> da interdisciplinaridade e com a possibilidade de gerar du<strong>as</strong> ruptur<strong>as</strong> epistemológic<strong>as</strong>: 1)<br />
partir <strong>do</strong> to<strong>do</strong> para a compreensão d<strong>as</strong> partes; 2) formular modelos simples e gerais a níveis de maior<br />
concretização e menor abstracção 41 .<br />
O facto dest<strong>as</strong> problemátic<strong>as</strong> tanto reflectirem a realidade como o nosso desconhecimento sobre ela,<br />
<strong>as</strong>sim como <strong>as</strong> frequentes contaminações <strong>do</strong> tratamento científico da complexidade pelo conhecimento<br />
corrente faz com por vezes se caia em algum<strong>as</strong> incongruênci<strong>as</strong>.<br />
Du<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong>.<br />
a) Quan<strong>do</strong> afirmamos que “hoje a realidade é complexa” estamos provavelmente a dizer que admitimos<br />
que o universo de hoje é mais complexo que os universos <strong>do</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong>, m<strong>as</strong> esta formulação poderá não ter<br />
uma fundamentação científica.<br />
É a realidade que é mais complexa, ou a informação que temos dessa realidade, ou realidade e informação<br />
da realidade é uma e a mesma coisa? Numa resposta muito imprecisa diria que é a informação que temos<br />
dessa realidade e a sensibilidade às transformações dessa realidade, nomeadamente no que se refere à<br />
sociedade, mundializada, articulada com tecnologi<strong>as</strong> em rápida transformação e que transformam <strong>as</strong><br />
mudanç<strong>as</strong> em informação transmitida universalmente, que é mais complexa. M<strong>as</strong> será que podemos medir<br />
níveis de complexidade? Muitos <strong>do</strong>s nossos conceitos qualitativos de complexidade são incapazes de<br />
fazer essa medição. A Matemática tem construí<strong>do</strong> form<strong>as</strong> de quantificação da complexidade de uma<br />
situação ou sistema (construção de algoritmos explicativos ou descritivos, medição da complexidade <strong>do</strong><br />
explica<strong>do</strong> pela complexidade da explicação, medição da aleatoridade) m<strong>as</strong> estamos ainda muito longe de<br />
conseguir transpor para a linguagem matemática os factos estuda<strong>do</strong>s pel<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais, poden<strong>do</strong><br />
mesmo questionarmo-nos sobre <strong>as</strong> su<strong>as</strong> vantagens, e ainda há manifest<strong>as</strong> dificuldades de algoritmização<br />
de problem<strong>as</strong>. Poderemos mesmo admitir que encontran<strong>do</strong>-se a complexidade em grande parte para além<br />
<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong>, deixe de poder ser cl<strong>as</strong>sifica<strong>do</strong> dessa forma quan<strong>do</strong> o for.<br />
Precise-se o que pretendemos dizer para que haja o menor número possível de equívocos. A realidade está<br />
em permanente mudança, há constantemente alterações da sua “escala de ordem e desordem”, surge em<br />
cada momento, por mais infinitesimal que seja essa escala temporal, realidades nov<strong>as</strong> que alteram essa<br />
“complexidade”. Tod<strong>as</strong> est<strong>as</strong> constatações parecem suficientemente constatad<strong>as</strong> cientificamente. A<br />
questão que nós colocamos é o da medição da complexidade. Parece-nos que neste momento a única<br />
possibilidade de medir a complexidade é através de procedimentos matemáticos, como é pela<br />
complexidade algorítmica ou pela medição da aleatoridade. M<strong>as</strong> isso não significa que eu possa medir o<br />
grau de complexidade d<strong>as</strong> situações sociais porque os méto<strong>do</strong>s matemáticos de medição ainda estão a dar<br />
os primeiros p<strong>as</strong>sos e porque muitos factos sociais não são expressáveis matematicamente, seja porque<br />
não sabemos fazer, seja porque essa transposição de linguagem comporta perda de informação.<br />
b) O que marca a diferença no estu<strong>do</strong> actual da complexidade é a nossa maior consciência da<br />
complexidade, situação “normal”, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong>-se a marginalidade a que estava votada.<br />
Por outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, não estamos em condições de dizer que a realidade de ontem é menos complexa que<br />
a de hoje m<strong>as</strong> conhecemos muito mais sobre <strong>as</strong> limitações d<strong>as</strong> construções científic<strong>as</strong> actuais, chocámos<br />
com algum<strong>as</strong> realidades que nos obrigam a questionar sobre o que tínhamos por adquiri<strong>do</strong>, temos hoje<br />
mais consciência da complexidade <strong>do</strong> que tínhamos alguns anos atrás.<br />
Complexidade e Ciênci<strong>as</strong> <strong>Sociais</strong><br />
Como se manifesta a complexidade n<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais? Eis a segunda pergunta que anteriormente foi<br />
deixada em aberto e para a qual tentaremos aqui esboçar uma breve resposta.<br />
Pergunta que pressupõe que a complexidade também se manifesta n<strong>as</strong> “ciênci<strong>as</strong> sociais” como ressalta de<br />
muit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> considerações anteriores. Qu<strong>as</strong>e poderíamos dizer que qu<strong>as</strong>e tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> sociais têm si<strong>do</strong><br />
atravessad<strong>as</strong> pela problemática da complexidade. E porque muito <strong>do</strong> que diremos resulta da observação<br />
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