“Desafios do Executivo: como lidar com Trabalho, Família, Amor e ...
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<strong>“Desafios</strong> <strong>do</strong> <strong>Executivo</strong>: <strong><strong>com</strong>o</strong> <strong>lidar</strong> <strong>com</strong> <strong>Trabalho</strong>, <strong>Família</strong>, <strong>Amor</strong> e<br />
Espiritualidade” – uma releitura.<br />
“O diálogo é o mote essencial<br />
no processo de construção das Relações Humanas.”<br />
Antonieta Bianchi Mazon<br />
Notadamente oportuna a contribuição <strong>do</strong> filósofo e grande pensa<strong>do</strong>r<br />
brasileiro da contemporaneidade, Prof. Rubem Alves, para o mun<strong>do</strong><br />
corporativo, quan<strong>do</strong> provoca uma reflexão sobre a contraposição das<br />
ferramentas necessárias e fundamentais para o processo de gestão das<br />
organizações e os “brinque<strong>do</strong>s”, <strong><strong>com</strong>o</strong> assim chama as considerações que faz<br />
sobre as dimensões da sensibilidade, <strong>do</strong>s sentimentos e das emoções, as quais<br />
povoam somente a natureza humana, privilegiada, neste senti<strong>do</strong>.<br />
Em suas reflexões, Rubem Alves resgata palavras de um universo muito<br />
mais poético <strong>do</strong> que organizacional, <strong><strong>com</strong>o</strong> desejo, prazer e alegria. Muito<br />
além de concepções, estas palavras representam características e valores<br />
que, raramente, integram os paradigmas vigentes nas corporações. Fazem<br />
parte de experiências emocionais de transcendência e são vivenciadas na<br />
medida em que se desenvolvem capacidades <strong><strong>com</strong>o</strong> sensibilidade e<br />
serenidade, características intrinsecamente humanas.<br />
Mais que desafios, o executivo precisa saber <strong>lidar</strong> <strong>com</strong> os diversos<br />
olhares que constituem nosso mun<strong>do</strong>, os quais permitem suscitar reflexões<br />
<strong><strong>com</strong>o</strong> esta: é preciso enxergar entre, através e além das várias dimensões que<br />
integram sua vida, dentre elas, a pessoal e a profissional.<br />
Por sua vez, ressalto a lucidez <strong>do</strong> Prof. Anderson Santanna, em sua<br />
percepção de que os critérios atualmente utiliza<strong>do</strong>s para a análise das<br />
<strong>com</strong>petências necessárias ao executivo, já não podem ser considera<strong>do</strong>s<br />
fatores de diferenciação <strong>com</strong>petitiva, pois os muitos “<strong>do</strong>mínios exigi<strong>do</strong>s” em<br />
termos de capacidade técnica, inteligências etc., nem sempre são<br />
adequadamente aproveita<strong>do</strong>s nas corporações. Isto nos faz refletir sobre o<br />
norteamento <strong>do</strong>s desafios <strong>do</strong> executivo na contemporaneidade. Um <strong>do</strong>s<br />
possíveis caminhos pode ser mesmo uma mudança de foco, das ferramentas<br />
para os valores essencialmente humanos, ou ainda, para a relação entre<br />
ambos.<br />
Segun<strong>do</strong> Santanna, tímidas iniciativas já alertam para a valorização, no<br />
ambiente organizacional, de traços eminentemente humanos, <strong><strong>com</strong>o</strong><br />
flexibilidade, criatividade, inovação, entre outros.<br />
Porém, há que ir além. Há que se permitir vivenciar e desenvolver a<br />
sensibilidade, as emoções e os sentimentos, pois são características de<br />
extrema abrangência e que abarcam a totalidade <strong>do</strong>s conhecimentos<br />
direciona<strong>do</strong>s para a essência da Vida. E o que é a essência da vida, senão<br />
trabalho, família, amor e, por que não, espiritualidade?<br />
Interessante que esta reflexão nos leva a percepção de que isto requer<br />
transformação, sem a qual não é possível vencer desafios... Arrisco preconizar
alguns princípios necessários para a transformação, para a mudança:<br />
austeridade, abertura e paciência nas ações e atitudes.<br />
Austeridade pode parecer um conceito forte demais, quan<strong>do</strong> se pensa<br />
em transformação. No entanto, apesar de parecer restritivo, é uma<br />
característica fundamental, quan<strong>do</strong> se pretende basear a argumentação de<br />
que a transformação em questão, deve ocorrer tanto no mun<strong>do</strong> exterior<br />
quanto – e principalmente – no mun<strong>do</strong> interior <strong>do</strong> executivo.<br />
Para isso, é preciso rigor de linguagem e de ações. Pode-se dizer que a<br />
transformação constitui-se, simultaneamente, de um corpus de pensamento,<br />
conhecimento e experiência vivida. A linguagem, em to<strong>do</strong>s os seus âmbitos:<br />
visual, oral, corporal, escrita etc, deve traduzir em palavras e ações a<br />
simultaneidade desses aspectos.<br />
Em outras palavras, levar em consideração não somente um enfoque –<br />
as ferramentas, nem somente o outro – os “brinque<strong>do</strong>s”, mas sim, o objeto e o<br />
humano, os processos de gestão e os valores perenes, a produtividade e a<br />
qualidade de vida e, o mais importante, a relação que se estabelece entre<br />
cada aspecto desse dipolo. Contemplar todas as dimensões presentes no<br />
ambiente organizacional, as reformulações de valores e as relações entre<br />
ambos, caracterizam a austeridade necessária ao processo de transformação.<br />
A abertura abrange, entre as várias esferas, a aceitação <strong>do</strong> outro, <strong>do</strong><br />
inespera<strong>do</strong> e acidental, <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> e <strong>do</strong> imprevisível e aleatório. Estar<br />
verdadeiramente aberto ao novo e desconheci<strong>do</strong> não é uma habilidade tão<br />
próxima e fácil de ser desenvolvida quanto parece. Hoje, mais <strong>do</strong> que nunca<br />
sabemos que nada, ou pouco, sabemos... O volume de informações é<br />
gigantesco; a construção <strong>do</strong> conhecimento cada vez maior só nos leva à<br />
consciência de que muito ainda ignoramos. A tentação de permanecer na<br />
“zona-de-conforto” pode parecer-nos mais atraente...<br />
Mais uma vez, é preciso superar, <strong>com</strong> rigor, o pensar cartesiano, a<br />
dualidade, aban<strong>do</strong>nar a polaridade caracterizada pela produtividade versus<br />
valores, para assim, alcançar a abertura, para alcançar a práxis que integra<br />
harmoniosamente as várias construções <strong>do</strong> universo humano.<br />
Por sua vez, o reconhecimento da diversidade, isto é, <strong>do</strong> direito às idéias<br />
e verdades contrárias às nossas exige paciência e tolerância. A história da<br />
humanidade remete-nos às situações de não aceitação de verdades<br />
diferentes e de quanto o mun<strong>do</strong> foi – e vem sen<strong>do</strong> – assola<strong>do</strong> <strong>com</strong> guerras,<br />
preconceitos, intolerâncias e falta de paciência. Arrisco a afirmar que cada<br />
um de nós busca a sua verdade e que é mais fácil entender que não a<br />
encontramos, <strong>do</strong> que aceitarmos, de fato, a existência de várias verdades...<br />
Talvez, mais <strong>do</strong> que princípios a serem considera<strong>do</strong>s, esses sejam os<br />
verdadeiros desafios <strong>do</strong> executivo rumo à visão e à práxis transforma<strong>do</strong>ra,<br />
rumo aos novos paradigmas das organizações: austeridade nos caminhos<br />
escolhi<strong>do</strong>s, abertura à diversidade e paciência – ou ciência da paz – <strong>com</strong> as<br />
muitas verdades existentes, <strong>com</strong> a diversidade e adversidades...
Na verdade, essas reflexões evidenciam algumas das premissas que<br />
fundamentam a tendência contemporânea de valorização da ética <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong>, em que tanto as ferramentas <strong><strong>com</strong>o</strong> as sensibilidades humanas<br />
devem ser tratadas harmoniosa e equilibradamente, para que os desejos,<br />
prazeres e processos organizacionais de curto prazo não esmaguem as<br />
atitudes, ações e valores que devemos alimentar cotidianamente para que<br />
tenhamos sustentabilidade pessoal, profissional e organizacional de longo<br />
prazo.