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odisseia da cura3.pdf

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Prólogo<br />

“Álefe deixou Valentim deitado no chão e se aproximou<br />

<strong>da</strong> Palma. Ele a observou bem, mas não sabia como pegá-<br />

-la, uma vez que estava presa em uma mão totalmente<br />

de pedras preciosas que a mantinha firmemente segura.<br />

Valentim, curado, conseguiu se levantar e caminhou na<br />

direção do amigo que permanecia extasiado em ver a Palma<br />

Sagra<strong>da</strong>, que exibia o resplendor diante de seus olhos<br />

humanos. O sentimento de alegria e satisfação por tê-la<br />

alcançado, misturava-se ao medo e insegurança por haverem<br />

tantos opositores que o aguar<strong>da</strong>vam, a fim de lhe<br />

roubar o Elemento.<br />

Ele sabia que deveria levá-la consigo, no entanto, sentia-<br />

-se desconfortável em tocá-la por ser tão divina. Aquele<br />

instante era único para Álefe, estar diante do Elemento<br />

que positivamente liberaria a cura para Lysa, era simplesmente<br />

mágico. Todo esforço e dedicação nos treinos<br />

e batalhas que havia travado em Alioth estavam sendo<br />

recompensados naquele momento. A coragem e bravura<br />

em abandonar seu planeta e seguir rumo ao desconhecido<br />

por amor, finalmente alcançara seu propósito.”


Capítulo 01 _ O despertar<br />

O universo é o lar de todos nós, tudo está interligado e<br />

em constante transformação. Em ca<strong>da</strong> lugar existem seres<br />

que almejam despertar do sono <strong>da</strong> ignorância de uma vi<strong>da</strong><br />

restrita e transitar para uma nova experiência onde o impossível<br />

se torne possível, guiando-se por algo maior, que<br />

lhes convoque força, coragem, amor, além <strong>da</strong>s limitações,<br />

algo divino.<br />

As plêiades formam o berço <strong>da</strong> ascensão cósmica, escolhi<strong>da</strong>s<br />

por seres superiores e poderosos para abrigar tesouros<br />

do despertar <strong>da</strong> consciência eleva<strong>da</strong> de qualquer civilização<br />

regi<strong>da</strong> por seu grande sol central “Alcione”, com a influência<br />

de to<strong>da</strong>s as suas majestosas estrelas, que formam um<br />

portal <strong>da</strong> transição planetária, onde se escondem mistérios<br />

inimagináveis.<br />

E para qualquer planeta nesta fase de transição será eleito<br />

um ser, que traga ao seu povo uma nova perspectiva de<br />

vi<strong>da</strong>.<br />

Em determina<strong>da</strong> ocasião, Alcione, a rainha <strong>da</strong> constelação<br />

de Plêiades, se reuniu no palácio Real juntamente com os<br />

Arcanjos, que enviariam o espírito sagrado a terra!<br />

Este espírito desceu velozmente sobre o globo como um<br />

cometa e penetrou em sua atmosfera levando consigo esperança<br />

e uma grande missão a cumprir.<br />

O espírito encarnou em uma criança por nome Álefe. Ele<br />

possuía lindos olhos amendoados e cabelos castanhos. Sua<br />

feição era doce e gentil, her<strong>da</strong>ndo os delicados traços físicos<br />

de sua mãe, Lysa, uma jovem mulher que engravidou<br />

aos vinte anos. O menino foi fruto de um casamento fe-


liz, porém curto. O pai morreu pouco antes de a criança<br />

nascer, num acidente de carro, e este fora criado somente<br />

pela mãe, que se empenhava muito para <strong>da</strong>r-lhe a melhor<br />

educação e bons exemplos de conduta.<br />

Lysa evitava comentar detalhes do acidente responsável<br />

pela morte do pai, uma vez que o carro foi vítima de uma<br />

explosão que não deixou sequer vestígios do corpo.<br />

Álefe sempre foi uma criança muito gentil e agradável,<br />

cresceu apoiando a mãe em tudo, mas tinha poucos<br />

amigos, pois quase não saía de casa. A falta do pai fez com<br />

que se apegasse muito à mãe que quase sempre estava<br />

por perto, exceto quando trabalhava. Desde pequeno, ele<br />

demonstrava atitudes e certas habili<strong>da</strong>des denomina<strong>da</strong>s<br />

paranormais, que Lysa tentava esconder de todos. Algumas<br />

vezes curava pássaros feridos que encontrava, tinha sonhos<br />

estranhos e até via objetos luminosos que an<strong>da</strong>vam no céu.<br />

Os dois possuíam uma relação muito próxima.<br />

Certo dia, ao ser chamado para jantar, Álefe, com apenas<br />

sete anos, relatou algo perturbador:<br />

_ Mãe, na noite passa<strong>da</strong>, eu tive um sonho tão estranho! _<br />

disse Álefe fitando o infinito com o olhar distante e preocupado.<br />

_ É mesmo filho! Então, conte-me! _ Lysa percebendo o<br />

pensamento distante do menino, que parecia buscar em algum<br />

lugar longínquo as imagens e mensagens do que havia<br />

sonhado, demonstrou interesse <strong>da</strong>ndo-lhe a oportuni<strong>da</strong>de<br />

de relatar sua experiência. Embora ela mantivesse a atenção<br />

no cozimento do jantar, voltou o olhar amendoado e<br />

sereno para o rosto do filho, ajeitando os cabelos acobrea-


dos e amarrando-os para trás, uma mania que sempre manifestava<br />

quando se mostrava em certa tensão.<br />

_ Sonhei que uma luz estranha descia o céu e me dizia:<br />

“Você carrega em si um grande espírito e na medi<strong>da</strong> em que sete<br />

segredos se revelem, uma nova porta se abrirá para a esfera azul<br />

dos homens”. _ contou Álefe inocentemente sentado à mesa,<br />

enquanto brincava com os talheres.<br />

Lysa se angustiou profun<strong>da</strong>mente em sua alma ao ouvir<br />

o que o filho descrevera e com a voz trêmula, procurou<br />

desviar o assunto enquanto terminava de preparar o prato<br />

junto ao fogão:<br />

_ Você está assistindo muita televisão! É melhor esquecer<br />

isso e jantar, fiz sua receita predileta!<br />

Despistando, Lysa retirou a atenção do menino de seu sonho.<br />

Os dois jantaram e conversaram sobre a escola. Ele<br />

ain<strong>da</strong> era uma criança de sete anos, mas claramente demonstrava<br />

tratar-se de uma pessoa diferente.<br />

Naquela mesma noite, perplexa pelo sonho do filho, Lysa<br />

não conseguia dormir. Ela se levantava o tempo todo para<br />

observar o garoto, caminhando pelo corredor <strong>da</strong> casa de<br />

um lado para o outro, demonstrando certa preocupação e<br />

aflição. Quando finalmente pegou no sono foi sua vez de<br />

mergulhar no mundo dos sonhos. Ela se viu diante de um<br />

grande rio cujas águas eram cristalinas e esverdea<strong>da</strong>s, várias<br />

luzes de cor verde emergiam em direção ao céu e retornavam<br />

à água formando um círculo luminoso. De repente,<br />

uma doce voz saiu do meio <strong>da</strong>s águas dizendo: “Uma chama precisa ser<br />

sopra<strong>da</strong> para se tornar fogueira, uma planta necessita ser rega<strong>da</strong> para que se transforme<br />

em árvore e Álefe deve ser esculpido para se tornar um grande guerreiro”.


Atônita, Lysa se levantou e a única coisa que disse a si<br />

mesma foi:<br />

_ É chega<strong>da</strong> a hora!<br />

Tempos depois, Álefe completou dezesseis anos. Lysa organizou<br />

uma lin<strong>da</strong> festa para ele e convidou todos os seus<br />

amigos, que compareceram sem exceção, pois por ser um<br />

rapaz agradável, era difícil alguém não gostar dele. Todos<br />

diziam a Lysa que o educara muito bem e que era o filho<br />

que to<strong>da</strong> mãe desejava.<br />

A festa estava alegre, todos se distraíam muito e brincavam<br />

ao redor <strong>da</strong> piscina. Lysa, que já era uma mulher de trinta<br />

e seis anos, trajava um lindo vestido rosa rubi e usava seus<br />

cabelos num penteado de coque. Na mão direita, estava<br />

um lindo anel de rubis, sua pedra favorita, que ganhou<br />

de Álefe em seu último aniversário. Apesar de feliz com o<br />

clima descontraído e com a alegria estampa<strong>da</strong> no rosto do<br />

filho e de seus amigos, não se sentia muito bem, desde que<br />

contraiu uma doença respiratória que os médicos diagnosticaram<br />

ser causa<strong>da</strong> devido à poluição na atmosfera <strong>da</strong> terra.<br />

Além dela, muitas pessoas ao redor do mundo sofriam<br />

dessa patologia, que requeria tratamento árduo.<br />

Na hora de cantar os “parabéns”, os amigos de Álefe reuniram-se<br />

com ele à mesa, onde estava posto um bolo decorado<br />

na cor azul, combinando com sua camisa, já que<br />

essa cor era a preferi<strong>da</strong> do rapaz. Naquele momento, seus<br />

companheiros lhe incitaram a fazer um pedido especial e<br />

ele exclamou:<br />

_ Desejo que minha mãe se cure e volte a ter a mesma saúde<br />

que tinha quando eu era pequeno!


Álefe, com seus olhos levemente marejados, encheu os<br />

pulmões de ar e assoprou sobre as dezesseis velinhas<br />

com to<strong>da</strong> fé e esperança que possuía. Seu desejo de<br />

curar a mãe era intenso e se tratava de seu maior sonho.<br />

Constantemente dizia que na<strong>da</strong> era mais importante do<br />

que vê-la feliz.<br />

Passaram-se três semanas após o aniversário e tudo corria<br />

calmamente, como de costume. Lysa trabalhava enquanto<br />

Álefe se preocupava com os estudos. Ele permanecia a<br />

maior parte do tempo na biblioteca <strong>da</strong> Escola, era seu lugar<br />

preferido, já que adorava estu<strong>da</strong>r sobre os fenômenos que<br />

lhe ocorriam e sobre o universo. Ali, acompanhado por<br />

centenas de livros, mergulhava nas palavras buscando desven<strong>da</strong>r<br />

mistérios e aprimorar seus conhecimentos, mas acima<br />

de tudo, viajava em imagens e sons que a partir de ca<strong>da</strong><br />

página invadiam sua mente transportando-o para cenários<br />

jamais por ele imaginados.<br />

O rapaz muitas vezes dispensava os convites de seus amigos<br />

que incessantemente o chamavam para ir ao cinema ou ao<br />

shopping. Apesar de carismático, quase não se enturmava,<br />

preferindo a companhia dos livros.<br />

Certa noite, Álefe estava deitado pronto para dormir,<br />

quando escutou Lysa lhe chamar aflitamente:<br />

_ Álefe, Álefe, ajude-me!<br />

Imediatamente ele saltou <strong>da</strong> cama em direção ao quarto <strong>da</strong><br />

mãe que parecia estar sufoca<strong>da</strong>:<br />

_ Mãe! Diga-me o que sente? _ perguntou assustado, tentando<br />

ajudá-la a erguer o corpo.


Lysa mal tinha forças para falar e com a voz fraca e os olhos<br />

pesando e brigando entre o fechar e manterem-se alertas<br />

e vivos, pediu-lhe que chamasse uma ambulância imediatamente.<br />

Álefe sabia que seu estado anormal era devido<br />

à doença respiratória, e esta não era a primeira vez que<br />

acontecia isso.<br />

Chegando a ambulância, a equipe médica levou-a imediatamente<br />

ao hospital e Álefe foi junto. Depois de ser examina<strong>da</strong>,<br />

Lysa ficou sob observação e o médico, também<br />

amigo <strong>da</strong> família, explicou a situação ao rapaz:<br />

_ Meu filho, sua mãe sofreu um princípio de insuficiência<br />

respiratória, mas agora está sob controle. No entanto, por<br />

precaução, é necessário que ela durma aqui até amanhã,<br />

caso venha a passar mal outra vez. Pode ir para casa descansar,<br />

pois ela estará em boas mãos. E amanhã cedo, já<br />

poderá vê-la, pois certamente estará bem melhor! _ disse o<br />

médico com leve sorriso, acalmando e convencendo Álefe.<br />

O jovem concordou e ao retornar ao lar, já em seu quarto,<br />

debruçou sobre a cama em prantos e começou a lamentar<br />

desespera<strong>da</strong>mente a si mesmo:<br />

_ Por quê? Por que não consigo curar minha mãe? Por que<br />

recebi esses dons se nessa hora não me valem para na<strong>da</strong>!?<br />

Exclamava aflito, expressando em tom de revolta todo seu<br />

amor pela mãe, que antes de tudo, era uma grande amiga<br />

e companheira nas horas alegres e nos momentos difíceis.<br />

Lysa e o filho tinham uma relação sem cobranças, à base<br />

eram o respeito mútuo e a leveza. Ela o educava sem opressão.<br />

Mesmo nas difíceis fases de crescimento e <strong>da</strong> adolescência,<br />

em que tudo parecia mais difícil, Álefe tinha na mãe uma grande alia<strong>da</strong>.


O desgosto do rapaz de não poder ajudá-la corroia sua<br />

alma. No momento em que ele chorava, uma doce e serena<br />

voz lhe disse:<br />

_ Acalme-se querido Álefe! Ain<strong>da</strong> existe uma chance de<br />

salvar sua mãe!<br />

Álefe levantou a cabeça assustado e bem devagar, moveu<br />

o rosto buscando com os olhos que percorriam o quarto,<br />

quem falava com ele. Então, avistou logo a frente um ser<br />

vestido de linho fino e branco até os pés. Seu corpo era<br />

revestido por uma energia incandescente de cor verde,<br />

semelhante à que via em seus sonhos, e segurava uma<br />

palma nas mãos:<br />

_ Quem é você?_ perguntou Álefe perplexo e temeroso<br />

com aquela visão.<br />

_ Sou um anjo <strong>da</strong> corte do Arcanjo Rafael. _ respondeu,<br />

simpaticamente.<br />

_ Quem é Rafael? E o que você quer aqui? _ questionou o<br />

rapaz, que embora assombrado, não conteve a curiosi<strong>da</strong>de.<br />

_ O Senhor Rafael é o Arcanjo que tem o poder de curar<br />

to<strong>da</strong>s as doenças do corpo e <strong>da</strong> alma. Não tenha medo e<br />

nem se assuste, sou seu amigo e irei ajudá-lo.<br />

_ Você ou esse Arcanjo, podem sarar minha mãe? _ perguntou<br />

Álefe desesperado sem deixar de admirar-se pelo<br />

brilho e esplendor emitidos pelo visitante angélico que iluminava<br />

todo quarto.<br />

_ Sim, mas apenas com a sua cooperação! Gostaríamos que<br />

nos aju<strong>da</strong>sse, <strong>da</strong> mesma forma que precisa de nós, também


precisamos de você! _ elucidou-o o anjo que parecia ter um<br />

acordo a fazer.<br />

_ O que tenho que fazer para que minha mãe seja cura<strong>da</strong>?<br />

_ prosseguiu o jovem, que embora assustado, se interessou<br />

bastante pelo assunto.<br />

_ Deixe-me explicar: O mundo em que você vive é ameaçado<br />

por forças malignas externas que desejam sua destruição<br />

e também pela própria ação do homem, que o corrompe<br />

dia após dia! A terra vem sendo bombardea<strong>da</strong> por inúmeras<br />

doenças que se manifestam por consequência destes<br />

maus atos. Não pense que sua mãe é a única que sofre! Ao<br />

redor do globo, incontáveis pessoas passam por sofrimento<br />

igual ou maior que o dela. _ explicou o divino visitante<br />

sobre a situação do planeta.<br />

_ Mas o que isso tem a ver comigo? _ Álefe, desentendido,<br />

questionou novamente, já mu<strong>da</strong>ndo o tom de voz.<br />

_ Somente você pode auxiliar sua mãe e o mundo por ser<br />

um espírito muito valioso, capaz de aju<strong>da</strong>r a todos. Mas<br />

quero que saiba que a única maneira de obter a cura para<br />

seu planeta e para Lysa é através do poder <strong>da</strong> Palma Sagra<strong>da</strong>.<br />

Você deve pegá-la para conseguir a cura. _ prosseguiu<br />

o anjo em sua eluci<strong>da</strong>ção e a ca<strong>da</strong> palavra, o rapaz resplandecia<br />

seus olhos num ar sereno de muita curiosi<strong>da</strong>de e encanto.<br />

_ E onde está essa Palma?<br />

_ Está no planeta Alioth <strong>da</strong> constelação de Plêiades, onde<br />

sirvo às legiões do Arcanjo Rafael.<br />

_ Mas se está lá, por que você não pode trazê-la para mim? _


insistiu Álefe, debruçado sobre sua cama, observando atentamente<br />

o estranho, mas luminoso visitante.<br />

_ Meu querido Álefe, não nos é permitido tocar na Palma,<br />

somente o Espírito Sagrado é quem o pode e você abriga<br />

esse Espírito. Mas não se sinta obrigado, irá comigo até lá<br />

se quiser. Darei até o pôr do sol de amanhã, quando retornarei<br />

para ter sua resposta!<br />

Ao dizer tais palavras, o anjo desapareceu <strong>da</strong> presença de<br />

Álefe que ficou sem reação diante <strong>da</strong> visão e logo adormeceu<br />

ali mesmo, sob poder do anjo, para que descansasse!<br />

De manhã, levantou-se bem cedo e se sentiu revigorado,<br />

mal tomou café e saiu ansioso para ver a mãe. No caminho,<br />

comprou bombons para ela.<br />

Já no hospital, foi rapi<strong>da</strong>mente atendido pelo médico que<br />

o conduziu sem demora ao quarto. Lysa se sentia melhor e<br />

abraçou Álefe num gesto pleno e demorado de amor!<br />

_Como está mamãe? _ perguntou mais tranquilo ao vê-la<br />

em aparente bom estado.<br />

_ Bem melhor! Nossa! Que delícia esses bombons logo<br />

cedo! _ respondeu Lysa sorrindo e aliviando a preocupação<br />

do filho. Em segui<strong>da</strong>, acomodou-se na cama para conversar<br />

melhor.<br />

_ Quando poderá voltar para casa?<br />

_ Acredito que em breve, mas convém que eu fique aqui<br />

por alguns dias meu filho. O médico disse que é possível<br />

eu sofrer outra crise respiratória e pode ser perigoso. Por<br />

isso, ele resolveu manter-me no hospital sob seus cui<strong>da</strong>dos


até que esteja fora de perigo. _ explicou Lysa, segurando<br />

carinhosamente a caixa de bombons.<br />

_ Tudo bem, faça o que for melhor para sua saúde. Eu não<br />

me importo de ficar sozinho, por alguns dias!<br />

_ É impressão minha, ou tem algo que te incomo<strong>da</strong>? _ perguntou<br />

Lysa, notando o nervosismo do filho.<br />

_ Na ver<strong>da</strong>de sim! _ respondeu suspirando com o olhar<br />

desconcertado em direção ao chão. _ Mas não sei se devo<br />

te contar, não quero preocupá-la!<br />

_ Ficarei preocupa<strong>da</strong> se não me disser! Confie em mim<br />

meu filho! _ insistiu Lysa, oferecendo-lhe uma expressão<br />

facial e um olhar confiante e seguro para incentivá-lo.<br />

_ Tudo bem! _ exclamou Álefe se calando por alguns segundos,<br />

sentando-se numa cadeira e prosseguindo a conversa:<br />

_ Vai parecer estranho e absurdo, mas ontem à noite,<br />

fui visitado por um anjo!<br />

O jovem se espantou com a tranquili<strong>da</strong>de e naturali<strong>da</strong>de<br />

com que a mãe recebera a notícia e isso o incentivou a contar<br />

tudo o que o anjo lhe disse. Após relatar o ocorrido e<br />

ain<strong>da</strong> um pouco nervoso, pediu opinião a ela:<br />

_ Mãe, diga-me o que eu faço?<br />

_ Acho de todo o meu coração... Que você deve aceitar! _<br />

respondeu surpreendendo-o com a resposta. _ Filho, eu<br />

quero que compreen<strong>da</strong> uma coisa: Se eles te escolheram,<br />

significa que essa missão pertence a você! O mundo precisa<br />

de alguém corajoso para lutar por ele!<br />

_ Mas mãe, os próprios seres humanos é que destroem seu


lar! _ questionou Álefe inconformado com a resposta de<br />

Lysa e com as atitudes dos humanos em relação ao planeta.<br />

_ Não se esqueça de que no mundo não existem somente<br />

pessoas más, também vivem aqui gente de bom coração. E<br />

as que hoje são más, poderão se regenerar se alguém lhes<br />

der uma chance. Abrace esta missão, ela é sua, ninguém<br />

pode cumprir aquilo que é destinado a ca<strong>da</strong> um de nós! _<br />

disse Lysa ao filho que chorou em seus braços. Em segui<strong>da</strong><br />

ela o consolou, dizendo-lhe palavras de ânimo:<br />

_ Tenha coragem! Esses amigos que te convocaram irão<br />

guiá-lo para onde você deve ir, vão te proteger e te orientar<br />

sempre! No fim, você compreenderá to<strong>da</strong>s as coisas! _ falou<br />

a mãe, recostando o filho ao peito e acariciando seus cabelos<br />

para tranquilizá-lo.<br />

Lysa encorajava o rapaz com uma postura convicta sobre<br />

o assunto. Como sempre fora muito apegado a ela, Álefe<br />

necessitava agora de um impulso de quem mais admirou a<br />

vi<strong>da</strong> inteira.<br />

_ Se for pela sua cura, eu estou disposto a ir! _ disse o rapaz<br />

em meio às lágrimas.<br />

Álefe abraçou a mãe comovi<strong>da</strong>mente e permaneceu em<br />

silêncio, quebrado apenas pelos soluços de um choro que<br />

misturava medo e sau<strong>da</strong>de. Lysa o beijou, abençoou-o e<br />

despediu-se dele.<br />

Ao deixar o hospital, Álefe visitou com os amigos mais<br />

íntimos dizendo-lhes que faria uma viagem e que em breve<br />

estaria de volta. Chegando em casa, foi ao seu quarto, arrumou<br />

suas coisas mais importantes em uma bolsa e aguardou<br />

o retorno do anjo que conforme combinado, logo es-


taria lá. Seus pensamentos não abandonavam a mãe em<br />

momento algum e se sentia encorajado pela cura que desejava<br />

conquistar para ela. Seu coração pulsava fortemente e<br />

a angústia fazia parte de ca<strong>da</strong> segundo de espera que pareciam<br />

durar séculos.


Capítulo 02 _ A viagem<br />

Exatamente às seis <strong>da</strong> tarde o anjo reapareceu para Álefe,<br />

que não mais se assustou ao vê-lo. Ele estava acompanhado<br />

<strong>da</strong> intensa energia verde que o cercava antes. Ele trazia<br />

consigo uma palma na mão direita e uma estrela brilhante<br />

na esquer<strong>da</strong>:<br />

_Sau<strong>da</strong>ções! Como prometi, retornei a fim de saber sua<br />

resposta! _ disse o anjo com uma expressão de quem já<br />

sabia a resposta.<br />

_Estou pronto! Podemos ir quando quiser! _ encorajado,<br />

Álefe se prontificou com uma voz triste e um pouco<br />

preocupa<strong>da</strong>. Seus olhos claramente expressavam medo e<br />

insegurança, no entanto, algo o motivava interiormente, o<br />

amor por sua mãe.<br />

_ Não fique aborrecido querido Espírito Sagrado! Anime-<br />

-se! Você foi escolhido para uma missão divina, muitos são<br />

os que invejam sua posição! Sua mãe ficará segura, velaremos<br />

e a protegeremos para que você fique tranquilo. _<br />

confortou o anjo a Álefe que respirava fundo diante de sua<br />

presença.<br />

_ Obrigado por suas palavras, elas me confortam o coração!<br />

Não sei o que me aguar<strong>da</strong>, mas sinto que devo ir. _<br />

disse o rapaz, levantando-se diante do anjo.<br />

_Sim! Está pronto? _ atentamente, o anjo lhe observava à<br />

espera de uma resposta, com palavras trêmulas pelo nervosismo<br />

do momento, o jovem com firmeza e bravura, exclamou:<br />

_ Estou! Farei o que for necessário por minha ama<strong>da</strong> mãe!


Imediatamente, a estrela luminosa que estava na mão do<br />

anjo se ascendeu formando uma espécie de portal, semelhante<br />

a um túnel. Álefe se espantou com aquela visão, seu<br />

coração bombeava suas emoções numa melodia singular.<br />

Sem mencionar uma palavra, imediatamente foi puxado<br />

para a passagem dimensional. Ele sentia que percorria grandes<br />

distâncias a uma veloci<strong>da</strong>de incalculável, o caminho<br />

<strong>da</strong>va voltas e fazia curvas bruscas. A aceleração <strong>da</strong> viagem<br />

dimensional se intensificava ca<strong>da</strong> vez mais, ele sentia seu<br />

corpo integrado ao universo, como se fossem um. Apenas<br />

se entregava a leveza <strong>da</strong>quela lin<strong>da</strong> experiência, como um<br />

pássaro plaina nas asas dos ventos.<br />

Quando cessou a viagem, Álefe foi lançado no espaço sideral<br />

girando várias vezes no ar que não possuía gravi<strong>da</strong>de,<br />

seu corpo bailava em círculos numa silenciosa canção.<br />

Ao término dos giros, olhou à sua frente e deslumbrou-<br />

-se numa visão que jamais tivera o prazer de contemplar!<br />

Nem mesmo em seus estudos e pesquisas viu algo que se<br />

comparasse àquilo. Eram muitas estrelas agrupa<strong>da</strong>s, to<strong>da</strong>s<br />

brilhantes em tons azuis, uns claros e outros intensos. Era<br />

um aglomerado de estrelas que ele logo deduziu tratar-se<br />

de Plêiades.<br />

Álefe sentiu seu corpo ser sugado delica<strong>da</strong>mente pela<br />

energia <strong>da</strong>s estrelas e voava entre elas notando que umas<br />

eram consideravelmente maiores que as outras. A beleza<br />

incomparável do aglomerado no qual estava imerso, lhe<br />

arrancavam sensações de êxtase e satisfação. Enquanto<br />

flutuava pelo espaço inebriado com tamanha exuberância<br />

<strong>da</strong> constelação tão estu<strong>da</strong><strong>da</strong> e pesquisa<strong>da</strong> por ele, o rapaz<br />

aos poucos perdeu os sentidos e adormeceu em meio à<br />

imensidão do universo.


Quando acordou, Álefe viu-se deitado na areia de um local<br />

que se assemelhava a uma praia, localiza<strong>da</strong> num estranho e<br />

belo lugar. Ele levantou-se, olhou à sua volta e viu que uma<br />

floresta cercava todo o ambiente. A sua frente estava um<br />

lago semelhante ao mar. Havia formações rochosas muito<br />

altas que se estendiam de dentro <strong>da</strong> água, como torres de<br />

pedra. Ao apreciar o céu, avistou muitas estrelas bem luminosas<br />

e próximas, sendo que uma em especial era maior e<br />

seu brilho mais intenso.<br />

O que mais chamou a atenção do jovem foi não discernir<br />

se era noite ou dia, o céu era repleto de estrelas como numa<br />

noite, mas o ambiente era mais claro do que a noite de lua<br />

cheia na terra. Ele observava perfeitamente tudo a sua volta<br />

devido à clari<strong>da</strong>de.<br />

O rapaz, emaranhado a tanta novi<strong>da</strong>de naquele cenário extraterreno,<br />

sentia-se como num sonho. Ao mesmo tempo,<br />

comparava-se a uma criança descobrindo a beleza do mundo<br />

sob o olhar curioso e admirado. A boca entreaberta fazia<br />

companhia para os olhos arregalados, que não piscavam<br />

um só instante. Profun<strong>da</strong>mente impressionado, o jovem<br />

parecia desconsiderar totalmente fatos como o de estar à<br />

incontável distância do seu planeta natal.<br />

O vento <strong>da</strong> noite plêiadiana que balançava as árvores tocava<br />

sutilmente o rosto de Álefe, que aos poucos, processava<br />

as informações e impressões visuais que o magnífico cenário<br />

lhe oferecia.<br />

_ Espantado com o que vê? _ perguntou uma voz que estava próxima dele.<br />

Álefe olhou pra trás e notou que o anjo que o conduzira, o observava<br />

atentamente.


_ É muito lindo aqui! _ exclamou encantado. _ O céu é<br />

tão diferente! A natureza repousa no silêncio deste lugar<br />

incrível!<br />

_ À noite plêiadiana é sempre tranquila, a natureza descansa,<br />

enquanto a grande estrela Alcione a energiza. _ explicou<br />

o anjo que velava pelo jovem.<br />

_ Qual delas é Alcione? _ perguntou Álefe ao olhar para o<br />

céu extremamente estrelado.<br />

_ Aquela que se encontra no meio de to<strong>da</strong>s! A maior! Ela é<br />

nosso Sol central, rege to<strong>da</strong>s as estrelas <strong>da</strong> constelação, mas<br />

a que nos ilumina durante o dia se chama Merope, que<br />

também é o nome do príncipe que governa Alioth, este<br />

planeta em que estamos.<br />

_ Onde vive esse príncipe? _ questionou o rapaz, curioso e<br />

admirado, sua mochila estava joga<strong>da</strong> ao chão e ele parecia<br />

não se importar com isso.<br />

_ No palácio principal do planeta você o conhecerá, ele já<br />

sabe que está aqui! _ Ao dizer essas palavras o ser angélico<br />

foi em direção à floresta. O jovem abaixou-se para apanhar<br />

a mochila e acompanhou o anjo rumo às árvores do denso<br />

e magnífico bosque. Até o toque suave do vento era diferente,<br />

o ar, os cheiros, as cores e as formas. Tudo era encantador,<br />

ao mesmo tempo, um pouco tenebroso, pois se<br />

tratava de um ambiente inexplorado pelo rapaz.<br />

Ao se aproximarem <strong>da</strong> floresta, esta, descortinou-se apresentando<br />

uma singela estra<strong>da</strong> de pedras.<br />

_ Não se assuste! A natureza <strong>da</strong>qui possui vi<strong>da</strong> mais acentua<strong>da</strong> que<br />

a <strong>da</strong> terra. _ disse o anjo. _ Caminhemos até o palácio.


Continuaram o percurso durante dez minutos até uma<br />

colina. Álefe admirava tudo o que via, desde as flores até<br />

estranhas e brilhantes criaturas que voavam no céu. O anjo<br />

percebendo a curiosi<strong>da</strong>de dele, explicou:<br />

_ Aqueles que você avista não são pássaros, mas anjos que<br />

guar<strong>da</strong>m os jardins e bosques do descanso, onde muitos<br />

habitam. Alguns deles são <strong>da</strong>s legiões de Rafael, outros são<br />

anjos <strong>da</strong> corte de Miguel.<br />

_ Quem é Miguel? _ curiosamente, perguntou Álefe sem<br />

retirar os olhos dos horizontes de Alioth.<br />

_ É nomeado de Grande Príncipe. É o Arcanjo que protege<br />

to<strong>da</strong> a constelação! _ respondeu o anjo caminhando calmamente<br />

com o jovem, permitindo-lhe apreciar ca<strong>da</strong> coisa<br />

que seu olhar tocava.<br />

Chegando ao alto <strong>da</strong> colina, aproximaram-se de uma esca<strong>da</strong><br />

compri<strong>da</strong>, cerca<strong>da</strong> de flores que culminava em um templo<br />

belo, não muito grande, arquitetado no estilo semelhante<br />

ao Oriental <strong>da</strong> terra. Os dois subiram e chegaram a uma<br />

porta grande adorna<strong>da</strong> em esmeral<strong>da</strong>s. O anjo a tocou e<br />

ela se abriu imediatamente. Dois outros seres angélicos que<br />

estavam no interior do palácio, sau<strong>da</strong>ram Álefe recebendo-<br />

-o com amor, oferecendo-lhe uma palma. O jovem recebeu<br />

o presente sem dizer na<strong>da</strong>, apenas sorriu discretamente<br />

para ambos.<br />

Eles an<strong>da</strong>ram pelo vasto salão principal e entraram por outra<br />

porta que <strong>da</strong>va acesso à sala do Príncipe. Curioso, Álefe<br />

observava atentamente ca<strong>da</strong> detalhe do palácio notando<br />

sua incrível semelhança com as construções <strong>da</strong> Terra. Observou<br />

à bela e simples decoração, poucos móveis e muitos


adornos em formatos de Palma, sendo a maioria deles confeccionados<br />

em ouro e esmeral<strong>da</strong>. Enquanto isso, ele ouviu<br />

sons de passos vindos em sua direção.<br />

Aproximou-se de Álefe um homem de cabelos ruivos e<br />

olhos verdes numa vestimenta real, mas simplória em tons<br />

verdes e marrons. O simpático “homem”, que aparentava<br />

uns quarenta anos, usava um anel de esmeral<strong>da</strong> que tinha<br />

o formato de palma. Ele sorriu de forma receptiva e simpática<br />

para o rapaz:<br />

_ Olá! Seja bem vindo, Álefe! Sou o príncipe Merope, governante<br />

do planeta Alioth, filho de Alcione, a rainha <strong>da</strong><br />

constelação!<br />

Álefe sorriu desconserta<strong>da</strong>mente para Merope, algo típico<br />

dele em momentos de nervosismo. O garoto, naturalmente,<br />

sentia-se deslocado e apreensivo diante do governante<br />

de Alioth. O anjo de Rafael, então, decidiu deixá-lo aos<br />

cui<strong>da</strong>dos do príncipe:<br />

_ Merope creio que minha missão esteja cumpri<strong>da</strong>! Deixo<br />

Álefe a seus cui<strong>da</strong>dos, tenho outras tarefas a zelar junto à<br />

Legião.<br />

O anjo se ausentou <strong>da</strong> presença deles num piscar de olhos.<br />

O príncipe, entendendo a apreensão de Álefe, tentou deixá-lo<br />

à vontade:<br />

_ Bem, o que você achou do reino de Alioth?<br />

_ É muito bonito. Tudo aquilo que observei é bastante<br />

curioso. A arquitetura de seu palácio é muito semelhante<br />

à <strong>da</strong> Terra, por quê? _ questionou Álefe na tentativa de<br />

se interagir com Merope, enquanto conversavam num dos


corredores que <strong>da</strong>vam acesso à sala principal do príncipe.<br />

_ Meu amigo, Plêiades existe a muito tempo, antes mesmo<br />

<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> terra. A arquitetura lá utiliza<strong>da</strong> foi inspira<strong>da</strong><br />

por seres <strong>da</strong>qui e de outros mundos vizinhos. Por isso<br />

a semelhança... Mas, quero que uma coisa fique clara para<br />

você: Compreendemos o estado de sua mãe e do seu planeta<br />

e por isso trouxemos você aqui, somos seus amigos e<br />

desejamos tanto quanto você, que todos lá sejam curados!<br />

_ disse Merope, demonstrando seu interesse e preocupação<br />

para com Álefe, que abaixou a cabeça e se entristeceu um<br />

pouco ao lembrar-se de Lysa: _ Tranquilize seu coração!<br />

Use o amor que tem por sua mãe para servir de impulso ao<br />

sucesso de sua missão. _ disse o príncipe com orientações<br />

amigáveis para reanimar o jovem.<br />

Merope mostrou todo o palácio e seus jardins a Álefe, conversaram<br />

bastante e logo se interagiram. O que mais chamava<br />

a atenção do jovem era o brilho que as estrelas refletiam<br />

sobre o planeta:<br />

_ Não se preocupe Álefe, terá tempo para conhecer tudo<br />

por aqui! _ disse Merope, enquanto lhe mostrava o jardim<br />

externo do palácio. Este era incrivelmente lindo e exibia<br />

flores de todos os tamanhos, cores e formatos numa combinação<br />

perfeita, embora bastante mista. _ Daqui a pouco<br />

teremos um jantar especial com a rainha Alcione, minha<br />

mãe! Ela já sabe que você está aqui e deseja conhecê-lo, se<br />

não se importar!<br />

_ A rainha Alcione! _ exclamou assustado o jovem!<br />

_ Sim, ela anseia por sua presença e irá instruí-lo sobre<br />

muitas coisas, principalmente a respeito de sua missão.


_ Mas que mistério há nisso? Não convém somente que<br />

eu pegue a Palma Sagra<strong>da</strong> e a leve a Terra? _ questionou<br />

o rapaz, novamente perdido nas palavras do príncipe, que<br />

parecia saber algo mais sobre a missão.<br />

_ A princípio sim! Mas do mesmo jeito que uns desejam<br />

o sucesso <strong>da</strong> missão, outros lutarão por seu fracasso! Este<br />

mundo não é perfeito! Temos amigos e inimigos, na Terra<br />

também não é assim? Não sabemos ain<strong>da</strong> ao certo que<br />

tipos de perigos ameaçam você, por isso, devemos ir com<br />

cautela. _ explicou Merope conduzindo Álefe até o quarto<br />

de hóspedes onde descansaria até a hora do jantar. O quarto<br />

era espaçoso e tinha uma saca<strong>da</strong> que <strong>da</strong>va para um dos<br />

jardins. Havia duas camas espaçosas e todo o ambiente era<br />

decorado com objetos de estranhas formas, as cortinas do<br />

quarto e de todo o palácio possuíam tons verdes e marrons.<br />

Muitas coisas passavam pela cabeça de Álefe. Ele temia,<br />

mas sentia-se apoiado por sua mãe que estava longe e por<br />

seus novos amigos que o cercavam de cui<strong>da</strong>do. Assim que<br />

o príncipe o deixou no quarto, o garoto se deitou na cama<br />

confortável, pondo a cabeça em uma <strong>da</strong>s almofa<strong>da</strong>s postas<br />

sobre a mesma, algumas eram verdes e outras marrons.<br />

Como numa imensa tela de cinema, as imagens de tudo o<br />

que vira até então e pensamentos diversos bailavam em sua<br />

mente ao fitar o teto do cômodo, que o acolhia após tantas<br />

emoções. Embora estivesse ansioso, o cansaço do corpo falou<br />

mais alto e logo adormeceu.<br />

Duas horas mais tarde, sentindo-se revigorado, Álefe se<br />

levantou para observar a vista pela saca<strong>da</strong> do quarto. Ele<br />

viu boa parte do reino através do horizonte e os anjos que<br />

voavam como pássaros brilhantes sobre as aldeias. Olhava<br />

fixamente para o céu e ouvia risa<strong>da</strong>s de crianças ao longe,


como se brincassem alegremente.<br />

Por tratar-se de uma experiência tão diferente e pelo modo<br />

rápido como aconteceu, ele pensou várias vezes que aquilo<br />

era um sonho e que logo acor<strong>da</strong>ria. Mas, sentia-se literalmente<br />

imergido naquela reali<strong>da</strong>de, que procurava aceitar a<br />

experiência como natural. O silêncio do reino era acolhedor,<br />

tudo repousava em paz. De repente, ele avistou algo<br />

no céu que chamou muito sua atenção. Uma espécie de<br />

objeto luminoso desceu rapi<strong>da</strong>mente até pousar em um<br />

bosque próximo.<br />

O estranho objeto era semelhante àqueles já avistados no<br />

céu <strong>da</strong> Terra pelos homens, que o próprio Álefe já tinha<br />

visto várias vezes. Três pessoas desceram do objeto, porém,<br />

estavam longe demais para que ele pudesse identificá-las.<br />

Em meio às observações de Álefe, alguém bateu na porta.


Capítulo 03 _ Jantar real<br />

Álefe abriu a porta do quarto e percebeu que se tratava<br />

de um servo, por nome Baltazar, o serviçal mais fiel e<br />

próximo de Merope. Baltazar aparentava por volta<br />

de cinquenta e cinco anos, estatura mediana e cabelos<br />

levemente grisalhos. Suas vestes eram distintas dos<br />

demais servos do palácio, uma vez que servia diretamente<br />

ao príncipe durante anos.<br />

_ O príncipe Merope pediu para que se apronte para o<br />

jantar! A rainha acaba de chegar! _ disse o servo com leve<br />

sorriso.<br />

_ Mas não tenho roupas de festa! _ exclamou Álefe sem<br />

saber o que fazer.<br />

_ Não há problema! Foi por isso que fui enviado! _ O servo<br />

anfitrião, adentrando no ambiente, mostrou a Álefe um<br />

grande armário com várias roupas reais e pacientemente, o<br />

ajudou a escolher o que vestir.<br />

_ Não posso usar estas roupas, são vestes de um príncipe!<br />

_ recusou-se a usar as vestimentas, pois não se sentia digno<br />

delas.<br />

_ Caso não saiba, você aqui é tido por muitos como tal!<br />

Especialmente pela rainha! _ respondeu o servo, sem <strong>da</strong>r<br />

mais detalhes, apenas o auxiliava com calma e simpatia,<br />

pegando peça por peça e colocando sobre a cama para que<br />

Álefe escolhesse uma roupa ao seu gosto.<br />

_ Mas, por quê? Sou apenas um forasteiro em busca de<br />

uma cura! Não entendo o motivo para me tratarem dessa<br />

forma, como se eu fosse um príncipe! Apenas desejo buscar


essa tal de Palma Sagra<strong>da</strong> e voltar para meu mundo. _ Álefe<br />

não compreendia o porquê de tanta estima para com ele, já<br />

que na sua mente, estava ali apenas em busca <strong>da</strong> cura para<br />

sua mãe.<br />

_ Ah, estimável rapaz! Há muitas coisas que você ain<strong>da</strong> desconhece<br />

a respeito de si mesmo! Mas não me convém falar<br />

a respeito. _ disse o servo de forma recata<strong>da</strong>, enquanto pegava<br />

alguns sapatos para combinar com as roupas.<br />

Álefe aproveitou a gentil companhia do servo para<br />

perguntá-lo:<br />

_ Pode me dizer o que é aquela coisa que acabou de pousar<br />

no bosque?<br />

_ São os ventlahs, pelo menos são conhecidos por nós<br />

assim. São nossos meios de transporte planetário. Ca<strong>da</strong><br />

mundo tem os seus próprios ventlahs. _ explicou o servo.<br />

A ca<strong>da</strong> resposta recebi<strong>da</strong>, Álefe alimentava mais dúvi<strong>da</strong>s e<br />

questionamentos. Aquela nova situação soava muito confusa<br />

para ele, no entanto, começava a gostar do lugar e de<br />

suas intrigantes surpresas.<br />

Tendo escolhido a roupa sob orientação do servo, após<br />

ter provado muitas, ele terminou de se arrumar e seguiu<br />

na companhia de Baltazar. O servo, tendo um excelente<br />

bom gosto, o vestiu com um traje de fino tecido vermelho<br />

escarlate, semelhante ao <strong>da</strong> veste de Merope. Logo após,<br />

conduziu-o ao salão principal onde o príncipe o aguar<strong>da</strong>va.<br />

A ca<strong>da</strong> passo, sentia a ansie<strong>da</strong>de e insegurança o consumir<br />

por inteiro. Quem seriam aquelas pessoas? O que queriam<br />

com ele? Apesar de que, até o presente momento fora recebido<br />

com amor e respeito, o fato de se encontrar em outro


planeta lhe causava certa tensão, pois não sabia como reagir<br />

diante <strong>da</strong>quelas circunstâncias. Ele estava longe de casa, <strong>da</strong><br />

mãe, dos amigos e de tudo o que compunha seu ambiente<br />

natural. Isso, de alguma maneira, revirava suas emoções.<br />

Enquanto seguia com o servo, o jovem esfregava uma mão<br />

na outra, sentindo o medo humano <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de e do desconhecido,<br />

entretanto, mantinha o foco na necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

cura não só de Lysa, como de to<strong>da</strong> Terra. Seu atento olhar<br />

à decoração do palácio e movimento dos outros servos que<br />

transitavam por todos os cantos, não deixava escapar um<br />

só detalhe. Curioso e inteligente fazia uma leitura de tudo<br />

e todos.<br />

Ao descer as esca<strong>da</strong>s principais do palácio, ele observou no<br />

teto, que era bem alto, anjos reluzentes que voavam como<br />

pássaros em círculos. Havia outros no salão principal, segurando<br />

palmas, estes chamaram a atenção do rapaz, que os<br />

olhou com familiari<strong>da</strong>de. Porém, apresentavam-se complexos<br />

e diferentes demais para serem compreendidos por sua<br />

mente humana. Além <strong>da</strong>s roupas majestosas e intensa energia<br />

dos seres angélicos, havia algo que admirava o forasteiro<br />

terráqueo mais do que qualquer outro detalhe, o olhar frio<br />

e, ao mesmo tempo, amoroso que tinham. Eram estáveis e<br />

estáticos como bonecos, porém providos de uma expressão<br />

divina e vibração superior às emiti<strong>da</strong>s pelos homens, repleta<br />

de pureza, sinceri<strong>da</strong>de, nobreza e claro, mistério.<br />

Em segui<strong>da</strong>, encontrou-se com Merope, que estava entre o<br />

salão principal e o salão de visitas:<br />

_ Como se sente Álefe? Vejo que meu servo te vestiu em<br />

extremo bom gosto! Mamãe irá gostar de vê-lo! _<br />

comentou o príncipe, porém Álefe na<strong>da</strong> respon-


deu, apenas sorriu de uma maneira discreta a envergonha<strong>da</strong>.<br />

Merope o conduziu perante os convi<strong>da</strong>dos e apresentou-<br />

-lhe aos principais do reino e aos oficiais <strong>da</strong> corte de vários<br />

mundos que estavam presentes. Ao se aproximar de um<br />

dos governadores de Alioth, Bilsã, um estranho homem<br />

de aparência rude e olhar frio, Álefe sentiu um extremo<br />

desconforto <strong>da</strong> parte do governador. Bilsã tinha quarenta<br />

e cinco anos aproxima<strong>da</strong>mente, usava vestes reais na cor<br />

preta e um estranho anel de ônix que carregava o símbolo<br />

de um animal semelhante a um dragão. Ele tinha uma<br />

pequena cicatriz na face. Seus cabelos eram escuros e reluziam<br />

alguns fios brancos combinando com a barba curta e<br />

bem trata<strong>da</strong>, que não escondiam a expressão dura refleti<strong>da</strong><br />

em seus olhos negros e sombrios revelando uma revolta<br />

reprimi<strong>da</strong> durante anos:<br />

_ Tudo bem Álefe?_ perguntou Merope notando-o tenso.<br />

_ Sim, claro, acho que estou um pouco ansioso! _ Álefe<br />

desconversou sem na<strong>da</strong> comentar com Merope, afinal, não<br />

sabia de nenhuma questão em particular <strong>da</strong>quele planeta.<br />

O jovem sentia o desconforto <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação a ca<strong>da</strong> vez<br />

que cumprimentava os convi<strong>da</strong>dos, que o recebiam com<br />

decoro e gentileza. Ao se aproximarem do tapete real <strong>da</strong><br />

sala, Álefe se deparou com uma simpática senhora de cabelos<br />

claros, roupas doura<strong>da</strong>s que iam até seus pés, em sua<br />

cabeça ostentava uma lin<strong>da</strong> coroa crava<strong>da</strong> em sete pedras<br />

preciosas, esta lhe dirigiu um sorriso acolhedor:<br />

_ Então você é nosso querido Álefe! _ perguntou a rainha<br />

quando o rapaz se aproximou.


_ Sim, e a senhora é Alcione, a rainha? _ admirado em vê-<br />

-la, respondeu com outra pergunta.<br />

_ Sim querido, sou eu!<br />

No mesmo instante, Álefe se ajoelhou em um gesto de reverência,<br />

prontamente interrompido por Alcione:<br />

_ Meu filho! Não há necessi<strong>da</strong>de desse gesto! Guarde esta<br />

reverência em especial para os Arcanjos, eles sim merecem<br />

nossa devoção!<br />

_ Desculpe-me nobre rainha. _ levantou-se desconsertado<br />

de diante de Alcione e de todos os presentes, o que não<br />

passou despercebido por Bilsã, que riu disfarça<strong>da</strong>mente<br />

com olhar bastante debochado.<br />

_ Ah querido! Não há o que se desculpar! Você não sabe<br />

o quanto foi esperado por todos nós, especialmente por<br />

mim! Sua presença me conforta extremamente o coração!<br />

_ a rainha esbanjava graciosi<strong>da</strong>de nas palavras e uma doçura<br />

muito particular.<br />

A esta altura, Álefe não compreendia mais na<strong>da</strong>. Em segui<strong>da</strong><br />

às apresentações, todos se dirigiram à mesa e quando<br />

lá chegaram, Merope os convidou para tomarem assento,<br />

contudo, exigiu que Álefe se acomo<strong>da</strong>sse ao seu lado direito,<br />

como se fosse seu filho e Alcione sentou-se à esquer<strong>da</strong><br />

do príncipe.<br />

_ Já que meu filho Valentim não está presente, pois se encontra<br />

em treinamento, faço questão que Álefe o represente esta noite. _<br />

argumentou Merope diante dos convi<strong>da</strong>dos que não demonstraram<br />

nenhuma objeção, exceto, Bilsã, que abaixou a cabeça esboçando<br />

de forma disfarça<strong>da</strong> seu descontentamento.


O rapaz não entendia o porquê de todos o olharem de forma<br />

tão estranha. O banquete foi servido. A comi<strong>da</strong> parecia<br />

deliciosa, o aspecto era muito semelhante à comi<strong>da</strong> <strong>da</strong> terra<br />

e ao provar, Álefe percebeu que além de bem apresentável,<br />

também era saborosa. Todos conversavam descontrai<strong>da</strong>mente,<br />

mas um dos governantes observava Álefe com<br />

um olhar frio e calculista, então, ele questionou Merope a<br />

respeito do estranho homem:<br />

_ Príncipe Merope quem é aquele que está sentado no<br />

final <strong>da</strong> mesa?<br />

_ É Bilsã, um dos governantes <strong>da</strong>s terras de Alioth, trabalha<br />

na parte <strong>da</strong> defesa, é chefe <strong>da</strong> milícia e tem dois filhos que<br />

são excelentes guerreiros, Kedáre e Guímel. Valentim, meu<br />

filho, trabalha com eles, mas não se dão muito bem, já que<br />

ele os venceu na disputa pelo cargo de líder dos guerreiros.<br />

_ Quando conhecerei seu filho? _ perguntou Álefe curioso<br />

pelo encontro.<br />

_ Amanhã ele estará aqui e também está ansioso em conhecê-lo!<br />

Alcione, que prestava atenção na conversa, interrompeu o<br />

jantar:<br />

_ Desejo propor um brinde especial esta noite! _ disse a<br />

rainha, pondo-se de pé.<br />

_ E a quem ou a quê vamos brin<strong>da</strong>r nobre rainha? _ perguntou<br />

um dos oficiais à mesa.<br />

_ À chega<strong>da</strong> de nosso querido Álefe, este jovem escolhido para<br />

uma missão tão especial e digna de um ver<strong>da</strong>deiro guerreiro!


_ Mas não sou guerreiro, rainha! _ retrucou o rapaz confuso, interrompendo<br />

Alcione.<br />

_ Uma borboleta não nasce borboleta, antes ela sofre a metamorfose<br />

aos poucos. De igual modo, você se preparará para ser um grande<br />

guerreiro! Este mundo precisa de sua aju<strong>da</strong>! Todos nós<br />

precisamos de você! É natural que esteja confuso, mas aos<br />

poucos lhe garanto que tudo ficará mais compreensível!<br />

Um brinde a Álefe!<br />

Todos em gesto nobre levantaram as taças para o alto em<br />

homenagem ao jovem, que a ca<strong>da</strong> instante, inquietava-se<br />

com mais sensações perturbadoras.<br />

Depois do jantar, os convi<strong>da</strong>dos se reuniram no salão do<br />

palácio e Bilsã, o estranho governador, se aproximou de<br />

Álefe, sau<strong>da</strong>ndo-o em tom cínico:<br />

_ Seja bem vindo jovem Álefe! Qual impressão teve deste<br />

palácio e <strong>da</strong> recepção digna de um príncipe que te deram?<br />

_ Não me acho digno de tal, aliás, nem sei por que me tratam<br />

assim! _ respondeu o rapaz inseguro com a presença<br />

do governador.<br />

_ Algum motivo muito importante e secreto há! A rainha<br />

não participa de um evento plêiadiano se este não for de<br />

extrema importância! Você deve ser muito querido dela<br />

para tanta reverência! _ seguiu Bilsã que notoriamente não<br />

se agra<strong>da</strong>va <strong>da</strong> presença do rapaz.<br />

Álefe aproveitou a situação para questioná-lo:<br />

_Você sabe de alguma coisa?<br />

_ Ah sim! Mas o que posso te dizer por agora é que nem


todos estão felizes com sua presença! _ respondeu em tom<br />

rude, em segui<strong>da</strong>, afastou-se de Álefe com semblante descontente,<br />

sua insatisfação foi logo percebi<strong>da</strong> pelo rapaz,<br />

que não entendeu a reação do governador.<br />

Depois de uma hora de conversa com os convi<strong>da</strong>dos, a rainha<br />

se aproximou de Álefe para despedir-se:<br />

_ Bem, meu filho, eu sei que as coisas soam de maneira<br />

estranha para você, no entanto, entenderá que tudo, inclusive,<br />

sua presença aqui é de muita importância!<br />

_ Nobre rainha, diga-me por que fui tão reverenciado por<br />

todos? Já que estou aqui apenas para buscar uma cura para<br />

minha mãe. _ perguntou Álefe, com intuito de arrancar<br />

alguma informação de Alcione.<br />

_ Não somente para sua mãe, mas para to<strong>da</strong> Terra! Todos<br />

aqui de bom coração admiram sua coragem! Você possui<br />

um espírito forte e tão precioso que desperta ciúmes em<br />

muitos! Terá tempo para aprender tudo isso e suas dúvi<strong>da</strong>s<br />

serão aos poucos esclareci<strong>da</strong>s! É bom saber que está entre<br />

nós agora! Sua missão começará logo! Até breve! _ explicou<br />

a Rainha, <strong>da</strong>ndo-lhe um beijo na testa e apartando-se<br />

depois.<br />

A rainha se despediu dos presentes e embarcou em segui<strong>da</strong>:<br />

_ Onde ela mora príncipe? _ perguntou Álefe, enquanto<br />

observava a parti<strong>da</strong> de Alcione.<br />

_ No mundo mais evoluído de Plêiades! Ele é iluminado<br />

pela grande estrela Alcione, por qual minha mãe recebeu o<br />

nome. _ respondeu Merope sem <strong>da</strong>r mais detalhes.


Álefe manifestou o desejo de relatar ao príncipe sua breve<br />

conversa com Bilsã, mas desistiu. Pouco tempo depois <strong>da</strong><br />

parti<strong>da</strong> de Alcione, todos os convi<strong>da</strong>dos foram embora.<br />

Merope conduziu Álefe ao seu quarto:<br />

_ Deve descansar agora, pois manhã será um dia muito<br />

importante! _ disse o príncipe, deixando-o na porta do<br />

aposento.<br />

_ Quero te agradecer príncipe, por to<strong>da</strong> receptivi<strong>da</strong>de para<br />

que eu me sinta bem aqui! _ Álefe, embora confuso e um<br />

pouco atordoado, era grato por todo o respeito com que<br />

era tratado.<br />

_ Não se preocupe Álefe! Sua mãe permanecerá protegi<strong>da</strong><br />

enquanto você estiver aqui! Boa noite!<br />

_ Boa noite!<br />

Álefe ficou sozinho no quarto e se aproximou<br />

novamente à saca<strong>da</strong> para olhar a noite. Nesse instante,<br />

observa atentamente o céu e as colinas ilumina<strong>da</strong>s de<br />

Alioth sendo protegi<strong>da</strong>s pelos anjos que voavam sobre<br />

elas. Naturalmente, lembra-se <strong>da</strong> mãe e sem perceber,<br />

lágrimas escorrem de seus olhos e seu coração bate<br />

forte. Enxugando o rosto, ele olha para o céu e jura que<br />

conseguirá a Palma Sagra<strong>da</strong> e que só voltará para a Terra<br />

com a <strong>odisseia</strong> <strong>da</strong> cura cumpri<strong>da</strong>.


Capítulo 04 _ Guerreiro amigo<br />

Na manhã seguinte, Álefe acordou bem cedo e foi surpreendido<br />

por uma luz intensa invadindo o quarto pela saca<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> deitado, encantou-se com o exuberante brilho dos<br />

raios solares que penetravam o ambiente do aposento, belamente<br />

decorado. Ele se levantou e caminhou rumo à varan<strong>da</strong><br />

para observar a vista. O brilho <strong>da</strong> estrela Merope era<br />

fascinante, seus raios eram fortes, porém suaves ao tocar o<br />

corpo. O céu flutuava num azul que Álefe desconhecia, a<br />

vegetação apresentava-se em árvores e plantas peculiares,<br />

além de flores estranhamente lin<strong>da</strong>s e colori<strong>da</strong>s, devido à<br />

luz <strong>da</strong> manhã tudo era mais nítido. Três luas eram grandemente<br />

avista<strong>da</strong>s durante o dia. Neste mesmo instante,<br />

enquanto o jovem permanecia estarrecido com a bela vista,<br />

Merope bateu à porta:<br />

_ Encantado com o que vê? _ perguntou o príncipe, percebendo<br />

o olhar fascinado do rapaz em direção ao horizonte.<br />

_ Nunca tinha visto na<strong>da</strong> igual! Tudo é tão belo!<br />

_ Que bom que gostou! Preciso que você desça ao pátio,<br />

meu filho Valentim te aguar<strong>da</strong>.<br />

Com a aju<strong>da</strong> do servo Baltazar, Álefe se aprontou e foi em<br />

segui<strong>da</strong> com Merope ao encontro de Valentim, que treinava<br />

no pátio. Eles o observaram um pouco, antes de se aproximarem.<br />

Álefe ficou espantado com sua habili<strong>da</strong>de com<br />

o bastão e a espa<strong>da</strong>. Valentim vestia uma roupa de couro e<br />

ferro, também usava uma pequena coroa como símbolo de<br />

sua liderança. Tratava-se de um belo rapaz, alto, forte e seus<br />

cabelos quase pretos. Ele possuía um olhar determinado<br />

de guerreiro, adornado no tom verde esmeral<strong>da</strong> de suas


etinas que contrastavam com as sobrancelhas marcantes.<br />

Ao mesmo tempo, seu semblante também expressava muita<br />

paz e doçura. Finalmente os dois se aproximaram de Valentim.<br />

Álefe se achegou bem constrangido diante dele, pois ao<br />

ver as habili<strong>da</strong>des do rapaz como guerreiro, sentiu-se<br />

um pouco deslocado, já que não sabia lutar.<br />

Valentim iniciou a conversa ao perceber a timidez do rapaz:<br />

_ Como vai Álefe? Esperei por você ansiosamente! _ saudou<br />

Valentim sorrindo.<br />

_ Eu estou bem! Mas porque você me esperava?_ questionou<br />

o jovem.<br />

_ Pai, você não disse na<strong>da</strong> a ele? _ perguntou Valentim ao<br />

pai.<br />

_ Disse o quê, príncipe? _ Álefe também in<strong>da</strong>gou ao príncipe<br />

que se desconcertou.<br />

_ É... Desculpe-me Álefe, eu me esqueci de te dizer, Valentim<br />

irá treiná-lo para ser guerreiro!<br />

_ O quê? Para que devo aprender a lutar? _ perguntou Álefe<br />

assustado, pois nunca havia segurado uma espa<strong>da</strong>.<br />

_ Álefe, não pense que pegar a Palma Sagra<strong>da</strong> será uma<br />

tarefa fácil! Não temos só amigos por aqui, existem muitos<br />

que desejam o insucesso de sua missão! _ respondeu o<br />

príncipe, eluci<strong>da</strong>ndo-o.<br />

_ É isso mesmo Álefe! A sua missão é muito importante!<br />

Devemos nos fortalecer para enfrentar os obstáculos que


nos sobrevirão! _ acrescentou Valentim, erguendo a sobrancelha<br />

direita, algo que fazia sempre que o assunto se<br />

tornava sério.<br />

Álefe temeu ao ouvir as palavras de Merope e de<br />

Valentim, pois não esperava que sua missão tivesse<br />

opositores que ameaçariam até sua integri<strong>da</strong>de física.<br />

Contudo, não podia mais desistir, uma vez que já estava<br />

consideravelmente longe de casa.<br />

_ Bem, vou deixá-lo aqui com Valentim, ele irá esclarecer<br />

melhor a respeito de tudo. Cuide bem de Álefe, Valentim!<br />

_ exortou Merope ao filho, retornando ao palácio em segui<strong>da</strong>.<br />

_ Não se preocupe pai, ele estará seguro comigo!<br />

Valentim conduziu Álefe ao pátio de treinamento para iniciantes<br />

e lhe advertiu a respeito <strong>da</strong> existência de inimigos.<br />

Sentaram numa arquibanca<strong>da</strong> e conversaram:<br />

_ Álefe, eu sei que a primeira impressão que este mundo<br />

lhe causou é a de que tudo aqui é perfeito, mas não é assim.<br />

A transição planetária é um evento significativo para<br />

a Terra e só ocorrerá uma vez, portanto, há muitos seres,<br />

até mesmo deste mundo, com interesse no fracasso desta<br />

missão.<br />

_ Mas o que está dizendo? _ perturbado com as palavras<br />

de guerreiro, Álefe o questionou, demonstrando mais uma<br />

vez, o olhar inocente e amedrontado que contrastava com<br />

sua curiosi<strong>da</strong>de.<br />

_ Pense bem: Você não está aqui apenas para o que pensa,<br />

há muito mais que precisa realizar por sua mãe e pelo seu


mundo. Temos inimigos poderosos que ameaçam a Terra,<br />

se não nos levantarmos para lutar pela ascensão de seu<br />

planeta, a vi<strong>da</strong> existente nele será destruí<strong>da</strong>, inclusive as<br />

pessoas que você ama. Por isso, não questione os desígnios<br />

desta missão tão especial. Aceite essa fase como um presente<br />

para amadurecer, pois verá com o tempo que fez a<br />

melhor escolha! _ confortou-o Valentim, demonstrando<br />

sabedoria, uma característica que certamente não deveria<br />

faltar em um líder.<br />

_ Eu sei e aceito minha missão seja ela qual for. Quando<br />

estava na Terra sentia medo do que não conhecia, mas hoje<br />

estando deste lado, começo a perceber a importância disso<br />

tudo! _ disse Álefe mais conformado.<br />

_ É ver<strong>da</strong>de! Vamos deixar que o tempo respon<strong>da</strong> suas dúvi<strong>da</strong>s<br />

e as minhas também, ain<strong>da</strong> não entendo o que tenho<br />

a ver com tudo isso, mas desde que recebi meu chamado,<br />

decidi aceitá-lo!<br />

_ Valentim, como você se tornou guerreiro? _ Álefe aproveitou<br />

o momento para conhecer um pouco melhor seu<br />

novo treinador.<br />

_ Comecei cedo. _ respondeu o guerreiro com um leve sorriso.<br />

_ Sempre gostei de espa<strong>da</strong> e bastão, lutava quando<br />

pequeno com meus amigos e sempre ganhava as inocentes<br />

batalhas de infância, então, meu pai me colocou na escola<br />

de treinamento a meu pedido. Eu obtive um ótimo desempenho.<br />

Então, preparei-me durante seis anos. Quando<br />

formado, aceitei o desafio lançado pela rainha para eleger<br />

o chefe <strong>da</strong> guar<strong>da</strong> de Alioth. O que eu não sabia, era que<br />

Kedáre e Guímel, os filhos de Bilsã, o governador <strong>da</strong> milícia, participariam<br />

do desafio. Eles eram os mais fortes <strong>da</strong> província.


_ E o que você fez? Como se saiu? _ prosseguiu Álefe curioso e<br />

bastante interessado.<br />

_ Eu treinei durante o dobro de tempo todos os dias para<br />

derrotá-los e consegui. Tornei-me o líder, mas desde então<br />

Guímel e Kedáre se afastaram do exército e seu pai não<br />

se entendeu mais com o meu. Alguns disseram que tudo<br />

estava combinado com Alcione para eu vencer a luta, mas<br />

foi uma batalha justa. Eles não aceitaram a derrota por eu<br />

ser filho de Merope.<br />

_ Nossa! Que interessante sua história! _ exclamou Álefe<br />

admirado, já que nunca havia ouvido algo parecido, exceto<br />

em livros ou filmes de ficção.<br />

_ Mas, vamos treinar? Vou te ensinar a lutar. _ incentivou<br />

Valentim.<br />

_ Tudo bem!<br />

O treinamento teve início. Álefe mal sabia segurar a espa<strong>da</strong>,<br />

mas Valentim o aju<strong>da</strong>va com paciência. Os treinamentos<br />

ocorriam em secreto, quando Valentim terminava seus<br />

afazeres de líder, posto que ocupava com maestria. Todos<br />

os dias eles treinavam no pátio interior do palácio para não<br />

serem vistos pelo povo.<br />

A afini<strong>da</strong>de entre os dois se intensificava ca<strong>da</strong> vez mais,<br />

tornaram-se amigos. Os treinamentos ficavam ca<strong>da</strong> vez melhores.<br />

Após três semanas, Álefe já mostrava alguma habili<strong>da</strong>de<br />

com as armas, um grande progresso.<br />

Num determinado dia, Valentim decidiu levá-lo para conhecer<br />

Havén, o mestre que lhe ensinou a lutar. Ele pediu<br />

consentimento de seu pai que aprovou, advertindo-o ape-


nas quanto a evitar a exposição de Álefe para os curiosos.<br />

O filho de Merope acreditava ser necessário este encontro<br />

para o desenvolvimento do pupilo, uma vez que Havén era<br />

muito sábio e poderia lhe instruir a respeito dos perigos<br />

iminentes.<br />

No caminho para o bosque onde se encontrava o templo<br />

de Havén, Álefe não se cansava de admirar as paisagens<br />

do lugar. As árvores eram frondosas, os pássaros e animais<br />

descreviam a beleza peculiar do planeta. Ca<strong>da</strong> flor, planta<br />

e ambiente lhe revelavam mais <strong>da</strong> espetacular encanto <strong>da</strong><br />

natureza plêiadiana. Tudo a seus olhos parecia perfeito e<br />

livre de perturbações. Com tanta formosura a vista, não<br />

acreditava na mal<strong>da</strong>de ali existente, porém Valentim o interrompeu:<br />

_ Ain<strong>da</strong> não se cansou de admirar Alioth?<br />

_ Definitivamente não! Não parece haver hostili<strong>da</strong>de neste<br />

mundo, os pássaros, o brilho desta estrela, as árvores e a<br />

natureza vivem em completa harmonia como se na<strong>da</strong> as<br />

ameaçasse. _ respondeu extasiado.<br />

_ A natureza sempre é perfeita, mas quem vive entre ela<br />

não é! _ esclareceu o líder <strong>da</strong> guar<strong>da</strong>.<br />

_ Mas Valentim, para aonde vamos afinal? Nunca saímos<br />

do palácio! _ Álefe estranhou o fato de estarem pela primeira<br />

vez, fora do reino.<br />

_ Vou te levar para conhecer meu mestre Havén, o guerreiro<br />

que me ensinou tudo o que sei, ele tem muito a nos esclarecer.<br />

_ respondeu Valentim, deixando o amigo curioso.<br />

Caminharam pelo bosque tranquilamente. A amizade dos


dois já parecia existir a milhares de anos. Álefe não esperava<br />

encontrar um amigo como Valentim, eles sempre conversavam<br />

após o treino, o jovem aprendiz desabafava com<br />

o instrutor quando a sau<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe batia no coração, e<br />

ele, sempre estava lá, confortando-o como um ver<strong>da</strong>deiro<br />

companheiro. Alguns minutos depois, os jovens se aproximaram<br />

de um lugar muito belo.<br />

Havia árvores enormes, semelhantes às palmeiras <strong>da</strong> Terra,<br />

dezenas delas, adornando um campo repleto de flores<br />

azuis. Havia também uma fonte de águas cristalinas onde<br />

os pássaros bebiam água tranquilamente, como se na<strong>da</strong> os<br />

ameaçasse. As “palmeiras” faziam duas fileiras, sendo que<br />

entre elas, um caminho de pedras em linha reta conduzia<br />

os olhares de Álefe até a entra<strong>da</strong> do Templo do Mestre.<br />

Enquanto caminhavam, os raios solares de Merope, em<br />

contraste com o verde <strong>da</strong> grama, proporcionavam incrível<br />

brilho ao cenário. O som <strong>da</strong>s águas em harmonia com o<br />

canto dos pássaros enchia de paz o coração do jovem forasteiro,<br />

que a ca<strong>da</strong> segundo em contato com a natureza<br />

plêiadiana, se encantava mais.<br />

O ar era puro e o silêncio, constantemente interrompido<br />

pelo som dos animais, tranquilizava a qualquer um que por<br />

ali passasse. O vento tocava os galhos <strong>da</strong>s árvores e plantas,<br />

num bailar perfeito diante dos olhares extasiados de Álefe.<br />

Som, cores e formas distintas compunham o ambiente<br />

natural de Alioth, que sem dúvi<strong>da</strong>, era o lugar mais maravilhoso<br />

que o terráqueo já havia visto.<br />

Na entra<strong>da</strong> do templo de Havén, Álefe observou que a arquitetura<br />

possuía o mesmo estilo do palácio de Merope, só<br />

mu<strong>da</strong>va a cor, sendo totalmente azul. Valentim dissera a


Álefe que a tonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> construção fora em homenagem<br />

a Miguel, o supremo guardião e guerreiro, o Arcanjo que<br />

protegia to<strong>da</strong> a constelação. Os jardins exibiam lin<strong>da</strong>s flores<br />

azula<strong>da</strong>s, em tons claros e escuros. Ao se aproximarem<br />

mais do santuário, Álefe sentiu uma poderosa força que o<br />

envolvia, um pouco suave, mas com uma presença poderosa:<br />

_ O que é esta energia que acabo de sentir?_ perguntou<br />

Álefe.<br />

_ Você sentiu? _ Valentim considerava estranho o fato de<br />

Álefe captar aquela divina vibração.<br />

_ Sim e muito forte!<br />

_ Incrível! _ exclamou admirado o filho de Merope. _ Somente<br />

guerreiros de grandes habili<strong>da</strong>des sentem essa vibração!<br />

Trata-se <strong>da</strong> energia dos Arcanjos Miguel e Rafael, eles<br />

mantêm este templo totalmente protegido para melhor<br />

aprendizado e concentração de novatos que aqui chegam!<br />

Valentim ficou desconfiado por presenciar a sensibili<strong>da</strong>de<br />

do amigo, mas não deu muita importância aos fatos, pois<br />

seu foco era outro. Aos poucos Valentim compreendia o<br />

motivo de Álefe ser o Espírito Sagrado.<br />

Ambos caminharam até uma grande porta, que permanecia<br />

totalmente fecha<strong>da</strong>. Logo, Álefe in<strong>da</strong>gou:<br />

_ Valentim como a abriremos?<br />

_ Não se preocupe, assim que a energia <strong>da</strong> porta reconhecer<br />

nossa vibração, ela se abrirá!<br />

Antes que o líder <strong>da</strong> guar<strong>da</strong> terminasse de falar, a porta se


abriu, mostrando para Álefe a enigmática sala de Havén.<br />

Havia um corredor com vários candelabros e nestes, várias<br />

velas que brilhavam em chamas azuis e verdes. A energia<br />

dos Arcanjos vibrava mais fortemente <strong>da</strong>quele ponto do<br />

palácio. Os dois garotos sentiam com intensi<strong>da</strong>de, as poderosas<br />

on<strong>da</strong>s divinas tocar-lhes com sutileza. Ao final do<br />

corredor, o mestre os esperava:<br />

_ Sejam bem vindos, Álefe e Valentim! _ saudou Havén,<br />

vestido com uma túnica azul royal muito bonita. O mestre<br />

aparentava quarenta anos de i<strong>da</strong>de e seus cabelos eram<br />

compridos e brancos, amarrados para trás. Com sorriso<br />

simpático, mas misterioso, ele recebeu os jovens.<br />

_ Obrigado Mestre Havén! _ saudou-o Valentim com reverência.<br />

_ Esperei por você Álefe! _ disse Havén feliz em conhecê-lo.<br />

_ Pois aqui estou grande mestre! Valentim me falou muito<br />

a seu respeito, pelas habili<strong>da</strong>des dele, notei que o ensinou<br />

com maestria!<br />

_ Vejo que é bastante observador! Isso é uma quali<strong>da</strong>de<br />

essencial num guerreiro. _ acrescentou Havén.<br />

Os três se acomo<strong>da</strong>ram em meio aos candelabros. Então,<br />

o filho de Merope explicou ao mestre a respeito de Álefe,<br />

contudo, foi interrompido:<br />

_ Não se preocupe Valentim, tudo será esclarecido. A melhor<br />

atitude que você tomou foi trazê-lo aqui.<br />

_ Mestre Havén, eu tenho tantas dúvi<strong>da</strong>s a respeito de mim<br />

mesmo e <strong>da</strong> missão que todos dizem que tenho. Não sei


na<strong>da</strong> a respeito dela, nem mesmo a rainha Alcione pôde<br />

me dizer algo, o senhor pode? _ perguntou Álefe em busca<br />

de orientação.<br />

_ Jovem Álefe, não se preocupe com isso! Quando nascemos,<br />

seja aqui ou em qualquer mundo, não temos conhecimento<br />

absoluto de na<strong>da</strong>, nem sabemos quem somos, no<br />

entanto, a vi<strong>da</strong> nos revela tudo na medi<strong>da</strong> em que crescemos<br />

e aprendemos com ela. Sua missão será esclareci<strong>da</strong> mediante<br />

ao seu empenho e amadurecimento. A princípio lhe<br />

será dito aquilo que te for suportável. Esta foi à recomen<strong>da</strong>ção<br />

dos Arcanjos quando nos orientaram. _ explicou o<br />

mestre que demonstrava grande sabedoria e equilíbrio.<br />

Álefe compreendeu as palavras de Havén ao balançar<br />

a cabeça em sinal de afirmação. Vendo que o amigo se<br />

acalmara, Valentim pediu esclarecimento a respeito <strong>da</strong>s<br />

ameaças contra eles:<br />

_ Mestre, que tipo de perigo nos aguar<strong>da</strong>?<br />

_ Todos! _ respondeu o mestre sinceramente. _ Guímel e<br />

Kedáre se uniram a Juliano para lutarem contra você. Bilsã<br />

parece ter se unido aos exércitos dele, seu pai sabe disto,<br />

mas não cabe a ele tomar alguma atitude.<br />

_ Não permitirei que se aproximem de Álefe ou até mesmo<br />

de meu pai! _ retrucou Valentim, levantando-se com o nervosismo<br />

a flor <strong>da</strong> pele.<br />

_ Acalme-se meu discípulo! Protegeremos Alioth <strong>da</strong>s garras<br />

de Juliano e não permitiremos que na<strong>da</strong> aconteça a ninguém<br />

inocente. Estive com o Arcanjo Miguel há dois dias<br />

e fui alertado dos perigos, que também envolve os seres <strong>da</strong><br />

Grande Montanha...


_ Esperem um pouco! _ interrompeu Álefe. _ Quem é este<br />

Juliano? O que ele pode fazer contra nós?<br />

_ Deixe-me explicar Álefe: Juliano é o irmão mais novo de<br />

Alcione que perdeu a eleição pelo trono de Plêiades há dez<br />

anos, ele possui habili<strong>da</strong>des incríveis como guerreiro, habili<strong>da</strong>des<br />

que eu jamais pensei em adquirir...<br />

_ O que disse mestre Havén? _ Valentim perguntou assustado.<br />

_ Nunca o senhor me falou sobre isso!<br />

_ Não é tempo de mentiras! Nunca falei a respeito, porque<br />

não convinha ao seu crescimento. Mas permita que eu<br />

prossiga com minhas eluci<strong>da</strong>ções a Álefe... Quando houve<br />

esta eleição, Juliano pensou que venceria por possuir tais<br />

habili<strong>da</strong>des. Mas o coração nobre e puro de Alcione falou<br />

mais alto para os Arcanjos, que a elegeram como rainha.<br />

Juliano não se contentou com a decisão deles, revoltado jurou<br />

vingança, até mesmo aos anjos que protegem Plêiades.<br />

Se sua retaliação for concretiza<strong>da</strong> sem nossa intervenção,<br />

se <strong>da</strong>rá na escravidão de “sua” Terra. O mundo onde vive<br />

será impedi<strong>da</strong> de atravessar o cinturão de fótons <strong>da</strong> grande<br />

estrela Alcione.<br />

_ Nossa! Então essa missão de conquistar a Palma envolve<br />

muito mais do que a vi<strong>da</strong> de minha mãe? _ in<strong>da</strong>gou Álefe,<br />

surpreso por tantas ver<strong>da</strong>des que ouvia de Havén.<br />

_ Sim! A Terra necessita desse elemento para se proteger<br />

<strong>da</strong>s forças do mal. Mas não se preocupe! Valentim continuará<br />

te treinando para que se fortaleça e se torne um guerreiro.<br />

_ concluiu o mestre.<br />

Depois <strong>da</strong> longa conversa os dois deixaram Havén e retornaram<br />

ao palácio. No caminho, cruzaram com Guímel e


Kedáre, que os observavam o tempo todo em secreto. Kedáre<br />

era um jovem de dezoito anos, cabelos curtos num tom<br />

de castanho escuro, olhos quase negros que lembravam<br />

muito os de seu pai, de boa aparência e corpo definido<br />

pelos treinos constantes. Guímel era um rapaz de dezessete<br />

anos, cabelos loiros e lisos, que lhe caíam na testa. De<br />

feição gentil e aparentemente serena, porém, a revolta não<br />

passava despercebi<strong>da</strong> em seus olhos amendoados. Possuía<br />

estatura inferior a de seu irmão, com o corpo modelado<br />

pelas batalhas. Vestia roupas e armadura tradicionais de<br />

um típico guerreiro de Alioth:<br />

_ O que fazem aqui? _ perguntou Valentim apreensivo.<br />

_ Por acaso você comprou Alioth? _ retrucou Kedáre com<br />

seu jeito sínico e sarcástico. _ Este mundo pertence a todos<br />

e an<strong>da</strong>mos onde quisermos!<br />

_ E quem é este, Valentim? _ questionou Guímel aproximando-se,<br />

curiosa e ardilosamente.<br />

_ Isso não é <strong>da</strong> conta de vocês! Da mesma forma que fazem<br />

o que querem, ando com quem me convêm. _ respondeu<br />

Valentim com aspereza.<br />

A essa altura, o filho de Merope já segurava disfarça<strong>da</strong>mente<br />

sua espa<strong>da</strong>, no caso de um ataque surpresa, pondo-se<br />

na frente de seu aluno e protegido. Guímel, com sua nata<br />

habili<strong>da</strong>de de observador e calculista, iniciou um combate<br />

verbal:<br />

_ Este não é o prometido de Alcione?<br />

Valentim e Álefe se assustaram com a pergunta, não sabiam<br />

como obtiveram tal informação.


_ Quem lhe disse isso Guímel? _ perguntou-lhe Valentim.<br />

Álefe se manteve calado ao notar que estavam em<br />

posição de batalha perante Valentim, sentindo-se fraco<br />

e totalmente despreparado para aju<strong>da</strong>r seu instrutor,<br />

o jovem terráqueo temeu em seu coração pela vi<strong>da</strong> do<br />

companheiro:<br />

_ Meu caro Valentim, nós também temos informantes. Não<br />

sei se sabe, mas Juliano é muito mais competente do que<br />

sua rainha farsante. Ela usou de falsos atributos para iludir<br />

os Arcanjos, que caíram em sua armadilha como ingênuos<br />

que são. Eles não fazem na<strong>da</strong> por este mundo, apenas perdem<br />

seu tempo delegando legiões para que protejam a todos<br />

os inocentes. Deve ser pelo temor do poder que possui<br />

Juliano. _ respondeu Guímel, insultando os Arcanjos e a<br />

rainha.<br />

_ Porque você não se cala? _ exaltou-se Valentim bastante<br />

nervoso. _ Vocês não sabem de na<strong>da</strong> e se continuarem a<br />

proferir estas besteiras, serei obrigado a fazê-los engolir estas<br />

palavras sujas!<br />

_ Não temos o menor interesse em combatê-lo agora, temos<br />

ordens claras para não tocarmos em você até o momento<br />

certo. Mas tenha muito cui<strong>da</strong>do, não andem sozinhos por<br />

aí, se não quiserem morrer antes <strong>da</strong> hora. _ afrontou-os<br />

Kedáre em grande petulância.<br />

Os filhos de Bilsã caíram em risa<strong>da</strong>s maldosas contra os<br />

dois. Valentim focou a atenção no olhar frio de Guímel,<br />

que ao tirar a espa<strong>da</strong> <strong>da</strong> bainha a apontou em sua direção.<br />

O filho de Merope se concentrou num possível ataque.<br />

Logo, notou que Kedáre desaparecera num piscar de olhos.


Ao observar sua retaguar<strong>da</strong>, Álefe já era refém do opositor,<br />

que lhe ameaçava com a espa<strong>da</strong> no pescoço:<br />

_ Veja Valentim? A vi<strong>da</strong> deste prometido está em minhas<br />

mãos! Essa missão pode acabar aqui mesmo! _ disse petulantemente.<br />

_ Kedáre, porque não corta a cabeça dele de uma vez, assim,<br />

terminamos com isso logo. _ incentivou Guímel com<br />

provocações contra Valentim, este decidiu fazer algo e,<br />

como num piscar de olhos, golpeou com um chute o braço<br />

de Kedáre, que soltou a espa<strong>da</strong> e se afastou para trás. Guímel<br />

também avançou contra o rapaz, mas foi detido pela<br />

espa<strong>da</strong> do mesmo, que lhe tocou o peito.<br />

_ Se der mais um passo, você morre aqui. _ afirmou Valentim<br />

com olhar firme para Guímel.<br />

_ Já disse que não faremos na<strong>da</strong> Valentim! _ retrucou Guímel<br />

irritado.<br />

_ Deixarei que peguem suas espa<strong>da</strong>s e desapareçam <strong>da</strong>qui.<br />

Como vocês mesmos disseram, no momento certo lutaremos.<br />

_ disse Valentim, protegendo Álefe novamente.<br />

Os dois recuaram e Valentim auxiliou o amigo:<br />

_ Está tudo bem?<br />

_ Sim, mas como você se livrou dos dois tão facilmente?<br />

_ Não se esqueça de que venci o torneio para líder<br />

do exército. _ respondeu o guerreiro com largo sorriso,<br />

procurando distrair e acalmar o discípulo.


Os dois voltaram para o Palácio, descansaram e contaram<br />

tudo a Merope, que ao ouvir ficou atônito.<br />

Os rapazes prosseguiram com os treinos arduamente<br />

durante dois meses. Valentim intensificava as técnicas<br />

para que Álefe se fortalecesse o mais rápido possível.


Capitulo 05 _ Decisão<br />

Na fase preparatória de Álefe em Alioth, seus compromissos<br />

se resumiam em treinos constantes. Valentim o presenteou<br />

com uma roupa própria para a luta, uma armadura e<br />

um bastão. Ambos treinavam juntos durante quatro horas<br />

todos os dias no pátio interior do palácio. Às vezes, Merope<br />

assistia às aulas, para conferir os resultados, e notava o<br />

empenho do filho em transformar Álefe num ver<strong>da</strong>deiro<br />

guerreiro.<br />

Sempre que Valentim se lembrava dos filhos de Bilsã, intensificava<br />

ain<strong>da</strong> mais o treinamento, temendo que algo<br />

acontecesse ao novo amigo.<br />

Progressivamente, Álefe adquiria agili<strong>da</strong>de, força e reflexo,<br />

características essenciais para a batalha. Durante as horas<br />

de folga, os dois passeavam pelo bosque do palácio para<br />

descansarem a mente e o corpo <strong>da</strong> pressão dos treinos.<br />

Mesmo exausto, o filho de Lysa solicitava a Valentim um<br />

treino extra, este, ao ver a boa vontade e o ânimo do aluno,<br />

sempre o atendia com prazer.<br />

Na segun<strong>da</strong> semana de treinamento, enquanto praticavam<br />

técnicas manuais de combate, foram interrompidos por<br />

Merope, que os avisou a respeito de um evento:<br />

_ Desculpe-me pela intromissão, mas venho anunciar algo<br />

importante. Daqui a um mês e meio teremos um teste para<br />

definir se Álefe será ou não um guerreiro de nossa milícia.<br />

_ Como assim? _ questionou Álefe confuso, enquanto deixava<br />

a espa<strong>da</strong> no chão.<br />

_ Todos aqueles que treinam aqui em Alioth e até em ou-


tros mundos <strong>da</strong> constelação, realizam esse teste. _ explicou<br />

Valentim.<br />

_ Você acha que estarei pronto para isso? _ Álefe se mostrou<br />

inseguro com a notícia inespera<strong>da</strong>.<br />

_ Estou te preparando para isso! Não deixarei que lute sem<br />

estar pronto!_ ponderou Valentim na tentativa de confortá-lo.<br />

_ Este evento reunirá os governadores de Alioth, a rainha e<br />

alguns representantes <strong>da</strong> milícia. _ acrescentou o príncipe.<br />

_ Bilsã estará entre os governadores <strong>da</strong> Província de Alioth?<br />

_ questionou Valentim ao erguer a sobrancelha direita.<br />

_ Creio que sim, pois, além de ser governador, é um explícito<br />

representante de Juliano. Não perderá a oportuni<strong>da</strong>de<br />

de avaliar Álefe.<br />

_ Então, treinaremos bastante Valentim. Não quero decepcionar<br />

o reino de Alcione. _ disse o terráqueo, com uma<br />

nova postura diante dos desafios.<br />

_ Belas palavras Álefe! Um bom guerreiro honra seu reino.<br />

_ elogiou-o Merope.<br />

_ Mas quem será meu adversário?<br />

_ Está bem na sua frente. _ respondeu o príncipe, apontando<br />

para seu filho.<br />

_ Lutarei contra Valentim? _ Álefe se assustou ao saber que<br />

seu adversário seria não somente quem o ensinava a arte<br />

de guerrear, mas, acima de tudo um grande amigo, quase<br />

irmão.


_ Sim, só ele poderá te avaliar, já que foi quem o preparou.<br />

Se derrotá-lo ou ficar em empate, se tornará guerreiro, contudo,<br />

se perder voltará a treinar até que vença. Só depende<br />

de você!<br />

Depois <strong>da</strong> conversa com o príncipe, os dois retomaram<br />

as aulas com mais determinação. A ânsia de Álefe na busca<br />

pelo aperfeiçoamento tinha um motivo bem claro, sua<br />

mãe. Todos os dias antes de se deitar, ele orava por ela, que<br />

naquele momento era seu único e maior incentivo. Sua<br />

imaturi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> não o permitia avaliar a missão com a<br />

amplitude de seu alcance.<br />

Passado um mês e meio, durante as práticas dos treinos<br />

junto a Valentim, Álefe sentiu uma estranha presença entre<br />

eles. Era como se uma pessoa ou alguma força muito<br />

poderosa invadisse o local, trazendo certo desconforto e<br />

acalanto simultaneamente. As sensações eram mistas e um<br />

pouco familiares. Assustado, o garoto interrompeu a aula:<br />

_ Sente isso Valentim?<br />

_ Isso o quê? Sinceramente não sinto na<strong>da</strong> estranho! _ respondeu,<br />

sem perceber do que falava o amigo.<br />

_ É uma presença similar aquela que senti no templo do<br />

mestre Havén. É tão divina e ao mesmo tempo tão forte!<br />

_ Realmente não capto na<strong>da</strong>, mas quem quer que seja, parece<br />

estar aqui por você.<br />

_ Talvez, mas o que soa estranho, é que já senti essa energia<br />

antes! _ exclamou Álefe ao perceber familiari<strong>da</strong>de naquelas<br />

vibrações. Em busca de compreensão, olhava para baixo<br />

como sempre fazia, quando desejava respostas.


_ Meu caro amigo, há muitas coisas que ain<strong>da</strong> não sabemos.<br />

Continuemos o “nosso combate”, vamos meu caro,<br />

reaja! _ dizendo tais palavras, Valentim avançou contra ele,<br />

prosseguindo o treino.<br />

Aquela presença permaneceu ali durante todo o dia. Depois<br />

se esvaio tão naturalmente quanto surgiu. Ao ir para seu<br />

quarto já de noite, após o término <strong>da</strong> aula, Álefe caminhou<br />

pelo jardim do palácio que culminava em seu aposento.<br />

Quando avistou uma lin<strong>da</strong> estrela cadente que atravessou<br />

lentamente o céu estrelado de Alioth, ela possuía sete cores<br />

e brilhava intensamente. Ao observá-la, uma lágrima caiu<br />

de seus olhos, emocionado agradeceu por tudo dizendo:<br />

_ Mãe, eu te amo!<br />

Antes de entrar no quarto, o rapaz escutou sons vindos <strong>da</strong>s<br />

aldeias próximas, vozes de crianças que pareciam brincar<br />

em algum lugar. Junto com as musicais risa<strong>da</strong>s e sonori<strong>da</strong>des<br />

inocentes, podia-se ouvir a agradável melodia de canções<br />

festivas. Ele notou o brilho de uma grande fogueira<br />

ao longe. Interessado em desven<strong>da</strong>r de onde vinha tanta<br />

alegria, Álefe pediu a Valentim para que o levasse àquele<br />

lugar:<br />

_ Para que você deseja ir até as aldeias? _ in<strong>da</strong>gou Valentim.<br />

_ Não sei! Desde que cheguei aqui em Alioth ouço estes<br />

sons vindos de lá. Algo dentro de mim pede para que eu<br />

veja tudo isso de perto. Parecem festejar a vi<strong>da</strong>, pelo menos<br />

é o que sinto! Todos os dias eu escuto esses barulhos do<br />

meu quarto. Gostaria muito de conhecer estas pessoas ou<br />

pelo menos me aproximar um pouco.<br />

_ Tudo bem! Pedirei ao meu pai e se ele permitir, iremos!


_ disse sorrindo, enquanto polia as espa<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> no pátio<br />

de treino.<br />

Ao entrar no palácio, Valentim subiu até os aposentos de<br />

Merope para lhe pedir autorização:<br />

_ Preciso de sua permissão para ir com Álefe até a aldeia vizinha,<br />

ele quer muito conhecer aquele lugar. Eu acho uma<br />

boa ideia ele se distrair um pouco! O que você acha?<br />

_ Talvez seja! Porém, temo que corram perigo ou coloquem<br />

a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>quelas pessoas em risco! _ respondeu Merope, sentado<br />

em sua poltrona, enquanto lia um livro. _ No entanto,<br />

se te confiei à missão de protegê-lo, creio que saiba o<br />

que me pede! Deseja que eu envie sol<strong>da</strong>dos com vocês?<br />

_ De maneira nenhuma! Aí sim, levantariam suspeitas! _<br />

sensato, Valentim seria discreto, indo na companhia apenas<br />

do amigo.<br />

_ Tudo bem! Vá, mas não demore muito, pode realmente<br />

ser perigoso!<br />

Valentim se arrumou e Álefe também. Ambos se vestiram<br />

como camponeses. O líder do exército, por precaução, levou<br />

sua espa<strong>da</strong> escondi<strong>da</strong> debaixo de um casaco cumprido.<br />

Os dois seguiram a cavalo até a aldeia, guiados pela música<br />

logo chegaram ao local.<br />

Álefe, primeira vez saiu do palácio para se divertir.<br />

Quando viu aquelas pessoas cantando músicas alegres<br />

em volta <strong>da</strong> fogueira, juntamente com as crianças que<br />

brincavam ao redor, ficou maravilhado:<br />

_ To<strong>da</strong> essa pureza e humil<strong>da</strong>de, há muito tempo não se


vê na Terra! _ exclamou admirado. _ Por que estas pessoas<br />

cantam tão felizes? Quem são elas?<br />

_ São camponeses e se reúnem quase todos os dias aqui!<br />

Comemoram a vi<strong>da</strong> e agradecem pelo privilégio de viver,<br />

simplesmente por isso. Elas escolhem agradecer assim, não<br />

há melhor forma! _ comentou Valentim. _ E como vocês<br />

se divertem na Terra?<br />

_ Geralmente vamos a restaurantes ou cinemas e frequentamos<br />

Shopping Centers! Ah, também gostamos de comer<br />

pizza! _ empolgado, Álefe contou sobre alguns hábitos dos<br />

humanos, o que surpreendeu muito a Valentim, que literalmente,<br />

ouvia coisas de outro mundo.<br />

_ Pizza? Shopping? O que são essas coisas? Por acaso são<br />

objetos postas em volta de alguma fogueira?<br />

_ Em volta de uma fogueira!? _ Álefe ria <strong>da</strong> maneira como<br />

Valentim compreendia as coisas de seu mundo. _ Não,<br />

meu amigo! Geralmente, não temos fogueiras em shoppings,<br />

temos lojas, praças de alimentação, entre outras coisas.<br />

Espero um dia te mostrar tudo isso, creio que gostaria!<br />

_ É melhor esperar esse momento chegar! Até lá, terá que<br />

se divertir em volta de fogueiras e camponeses. _ acrescentou<br />

Valentim, sorrindo. _ Preste atenção, não diga na<strong>da</strong><br />

sobre você aqui, não podem saber que é <strong>da</strong> Terra. Trate-me<br />

como seu parente distante.<br />

Os jovens se aproximaram dos camponeses que rapi<strong>da</strong>mente<br />

os notaram:<br />

_ Você não é o filho do príncipe? _ perguntou um dos<br />

camponeses.


_ Sim, sou eu mesmo, Valentim! _ respondeu simpaticamente.<br />

_ Por favor, Valentim, junte-se a nós, será uma honra! E<br />

este quem é? Nunca o vimos antes! _ o camponês questionou<br />

a respeito de Álefe.<br />

_ Ele se chama Álefe. É meu parente! _ despistou o guerreiro<br />

para que não desconfiassem de na<strong>da</strong>, pois os boatos<br />

acerca do eleito dos Arcanjos corriam soltos pelas aldeias.<br />

_ Pois então, se é de sua nobre família é muito bem vindo<br />

aqui! Sentem-se, por favor!<br />

Os dois se acomo<strong>da</strong>ram junto aos camponeses e uma <strong>da</strong>s<br />

mulheres que lá estavam lhes serviu bebi<strong>da</strong>s e aperitivos.<br />

Quando Álefe experimentou as iguarias, ficou encantado<br />

com o sabor <strong>da</strong> comi<strong>da</strong>:<br />

_ Do que é feito isso Valentim?<br />

_ Não vai querer saber, é melhor apenas apreciar! _ respondeu<br />

com risa<strong>da</strong>s.<br />

A cantoria prosseguia alegre e outro camponês se sentou ao<br />

lado de Álefe para conversar:<br />

_ Então você é parente de Valentim? _ perguntou o camponês,<br />

bastante curioso.<br />

_ É! Na ver<strong>da</strong>de um parente bem distante! _ Álefe tentava<br />

se interagir sem levantar suspeitas.<br />

_ Deve ser muito bom ter um amigo e parente como ele!<br />

Valentim é muito respeitado por sua força e coragem, nunca<br />

alguém protegeu nossas aldeias como ele o faz!


_ Eu tenho certeza de que é ver<strong>da</strong>de! Ele é uma ótima pessoa<br />

e um guerreiro incrível!<br />

Valentim não deixou de ouvir o que falavam a respeito dele<br />

e se intrometeu no assunto:<br />

_ Não sou tudo isso que ele diz Álefe, não acredite em tudo<br />

que dizem!<br />

_ Pare com essa modéstia, eu te conheço! Pouco, mas o<br />

suficiente!<br />

_ Valentim nos protege de Juliano, que há alguns dias enviou<br />

sol<strong>da</strong>dos aqui para nos ameaçar dizendo que devíamos<br />

matar o forasteiro <strong>da</strong> Terra. Certo planeta iluminado<br />

por uma estrela que irá agregar-se ao cinturão de fótons em<br />

breve. _ prosseguiu o camponês com uma estranha conversa.<br />

_ Não entendo muito sobre esse assunto, mas tem<br />

gente aqui que está por dentro. Eu jamais mataria alguém,<br />

porém, muitos aqui, por medo <strong>da</strong>s ameaças de Juliano disseram<br />

que executariam este invasor. Você sabe quem ele é?<br />

Ele já chegou?<br />

_ Não... Eu não sei na<strong>da</strong> sobre isso. _ respondeu Álefe assustado<br />

com o assunto. Valentim percebendo que a conversa<br />

tornara-se perigosa demais, resolveu ir embora:<br />

_ Acho que está na hora de irmos! _ disse Valentim a Álefe.<br />

_ Acabamos de chegar e já quer ir?_ Álefe embora temeroso,<br />

gostou do contato mais próximo com as pessoas plêiadianas.<br />

_ Se você permanecer aqui acabará descoberto! Vamos! _<br />

Valentim se levantou e se despediu dos camponeses agra-


decendo-lhes pela hospitali<strong>da</strong>de. Em segui<strong>da</strong>, subiram nos<br />

cavalos e foram embora.<br />

No dia seguinte, bem cedo, Merope foi até o pátio antes<br />

que se iniciasse o treinamento e se dirigiu a Álefe:<br />

_ Antes que comecem, preciso entregar algo para você, Álefe.<br />

Um anjo de Rafael me pediu para que te desse isto. _<br />

disse, entregando um envelope ao rapaz:<br />

_ O que é isso? _ perguntou curioso e desconfiado.<br />

_ Uma carta endereça<strong>da</strong> a você. _ explicou o príncipe, em<br />

segui<strong>da</strong>, retirou-se sem <strong>da</strong>r detalhes, deixando-os a sós novamente.<br />

Álefe abriu rapi<strong>da</strong>mente o envelope com os olhos já<br />

marejados.<br />

Então, ele leu a mensagem:<br />

“Para meu querido guerreiro <strong>da</strong>s estrelas”,<br />

Sei que a distância às vezes machuca, mas é com alegria que te<br />

escrevo meu querido filho, me orgulho de você e quero que nunca<br />

se esqueça disso.<br />

Acredito em seu potencial e em sua coragem. Estou bem, muito<br />

bem e que isso sirva de impulso para que permaneça aí, lutando<br />

por todos nós.<br />

Eu te amo muito, mais do que você possa imaginar! Todos os dias,<br />

peço aos Arcanjos que a estrela do amor de todos nós esteja sobre<br />

você. Não olhe nunca para trás, não tema jamais, levante sempre<br />

a cabeça e siga em frente, pois nunca estará sozinho.<br />

Que eles te iluminem sempre!


Com amor, Mamãe.<br />

Naquele momento, Álefe se agachou de joelhos, a emoção<br />

<strong>da</strong> incentivadora carta de Lysa quebrou o gelo do novo<br />

guerreiro, seus olhos não continham o rio de lágrimas que<br />

desciam sobre seu belo rosto. Valentim o abraçou e o consolou<br />

como um ver<strong>da</strong>deiro amigo, dizendo:<br />

_ O grande amor que tem por sua mãe é notório Álefe.<br />

Admiro isso em você!<br />

_ A amo porque a admiro, meu amigo. _ respondeu Álefe,<br />

apaziguando o choro. _ O fato de ela ser minha mãe, por<br />

si só, já me provoca um nobre sentimento. No entanto, a<br />

admiração é o que faz o amor ir além.<br />

_ Eu acredito nisso! Pena que não tive a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

conviver com minha mãe. Ela deixou a vi<strong>da</strong> física antes<br />

mesmo que eu aprendesse a an<strong>da</strong>r. Mas, sei que era uma<br />

boa mulher, pelo que meu pai sempre disse a respeito de<br />

sua pessoa. E tanto é ver<strong>da</strong>de, que ele não se casou novamente<br />

até hoje. Segundo ele, será difícil alguém substituí-<br />

-la, já que era tão especial. _ comentou Valentim, revelando<br />

ser órfão de mãe. Os dois sentaram-se numa <strong>da</strong>s arquibanca<strong>da</strong>s<br />

do salão de treinamentos, onde conversaram até que<br />

Álefe se acalmasse totalmente. _ Mas, diga-me, meu amigo,<br />

como é a sua relação com Lysa?<br />

_ Sempre foi muito boa! _ respondeu o garoto, sorrindo.<br />

_ Desde pequeno temos uma ligação diferente. Como não<br />

tive a presença do meu pai, assim como você nunca teve a<br />

de sua mãe, construí uma relação sóli<strong>da</strong> com ela. Mais do<br />

que mãe e filho, sempre fomos amigos. Sabe, meu amigo e<br />

mestre, acredito que qualquer relação humana deve se ba-


sear em amizade, pois todos os outros sentimentos, dentro<br />

dos relacionamentos, parecem ter seu prazo de vali<strong>da</strong>de, o<br />

que é natural. Entretanto, a amizade, a troca sincera e respeitosa<br />

entre duas pessoas é o que prevalece sobre o tempo<br />

ou circunstâncias.<br />

_ Palavras sábias Álefe! _ elogiou-o Valentim. _ Você é um<br />

rapaz especial e desde a primeira vez que te vi, percebi isso.<br />

É como se você fosse preparado para esta missão de alguma<br />

maneira.<br />

_ Disso eu não sei, mas, o que posso afirmar é que a educação<br />

que recebi de minha mãe, desde pequeno, é de liber<strong>da</strong>de<br />

e amor. Ela nunca quis que eu fosse alguma coisa<br />

que eu também não quisesse. Jamais me forçou a escolher<br />

um caminho que meu coração não desejasse. Sempre me<br />

respeitou em meu comportamento introspectivo. Ela compreende<br />

que na maioria <strong>da</strong>s vezes, escolhi os livros às pessoas,<br />

pois sempre busquei algo que me acrescentasse. A<br />

maioria dos meus amigos sempre estavam envolvidos em<br />

futili<strong>da</strong>des, que não se ligavam nas mesmas coisas que eu.<br />

Apenas um amigo, por nome Kévin, é mais próximo. Um<br />

cara legal, estudioso e dedicado. Sendo assim, nossa amizade<br />

sempre foi mais rica. _ disse Álefe, contando um pouco<br />

de sua vi<strong>da</strong>, relações e acima de tudo, sobre os laços maduros<br />

e puros que tinha com Lysa.<br />

_ Esse seu amigo deve sentir muito sua falta. To<strong>da</strong>via, sua<br />

mãe é a pessoa que tem maior estima por você. Como ela<br />

reagiu ao saber que viria para cá? _ perguntou o guerreiro.<br />

_ De uma forma como eu nunca esperei que reagisse! _<br />

respondeu Álefe, rindo <strong>da</strong> situação, sem conseguir “engolir”<br />

até o presente momento, a reação estranha e madura


<strong>da</strong> mãe. _ Deu-me apoio. Disse-me para aceitar essa missão<br />

e abraçá-la com todo meu ser. Sabe Valentim, minha<br />

mãe sempre me ensinou a ter coragem, a acreditar em mim<br />

mesmo. A seguir no rumo dos meus objetivos, fossem eles<br />

pequenos ou grandes, fáceis ou difíceis. Sempre me encorajou<br />

com palavras positivas. Lembro-me de uma frase<br />

magnífica que sempre me falava: “Filho, não há na<strong>da</strong> grande<br />

demais que não possa alcançar e nem distante demais que não<br />

consiga chegar”.<br />

_ Ela sem dúvi<strong>da</strong> é uma mulher sábia! _ observou Valentim,<br />

erguendo as sobrancelhas, admirando-se <strong>da</strong> postura<br />

de Lysa. _ Eu sempre aprendi isso de meu pai. Acredito<br />

que todos os pais devam oferecer esse tipo de educação aos<br />

filhos, ninguém melhor do que eles para incentivá-los ao<br />

progresso e à felici<strong>da</strong>de pessoal.<br />

_ E <strong>da</strong> mesma forma, fazer o oposto, caro amigo. _ acrescentou<br />

Álefe, exibindo um sorriso discreto, que erguia somente<br />

um dos lábios, enquanto observava o exterior do salão<br />

de treinos, cuja vista <strong>da</strong>va para um dos grandes jardins<br />

do palácio. _ Os pais podem tanto aju<strong>da</strong>r como atrapalhar<br />

o desempenho dos filhos na vi<strong>da</strong>. Depende muito <strong>da</strong>quilo<br />

que ensinam e principalmente, do exemplo que oferecem.<br />

Pois, mais do que na educação teórica, os filhos se basearão<br />

na prática do dia a dia, nas atitudes que os pais transparecem<br />

a eles. Não que minha mãe sempre agisse de forma forte,<br />

segura e confiante. Pois como qualquer pessoa normal,<br />

tinha seus deslizes, seus momentos de tristeza e fragili<strong>da</strong>de.<br />

Porém, o que me fazia admirá-la era justamente a capaci<strong>da</strong>de<br />

de enfrentar ca<strong>da</strong> um desses momentos. De erguer<br />

a cabeça, <strong>da</strong>ndo-me um exemplo limpo e digno. Sempre<br />

me repreendeu quando eu estava errado e não passava a


mão em minha cabeça. Eu tive regras, limites e recompensas<br />

também. Não é porque tenho dezesseis anos que faço<br />

o que bem quero. Mesmo com seu apoio e amor, algumas<br />

vezes, discor<strong>da</strong>va de certas atitudes minhas. Amar é saber<br />

dizer “sim” e “não”, quando for o momento oportuno. Os<br />

conflitos entre pais e filhos começam na per<strong>da</strong> desse respeito<br />

que pra mim é básico, caro amigo.<br />

_ Os Arcanjos fizeram uma ótima escolha, jovem terráqueo.<br />

_ comentou Valentim. _ Você é muito maduro para a i<strong>da</strong>de<br />

que tem. Posso ser mais forte como guerreiro, mas como<br />

pessoa, como ser humano, tenho que aprender contigo.<br />

_ Como é modesto! _ observou Álefe. _ Você é um exemplo<br />

pra mim em todos os sentidos. Vejo a confiança expressa<br />

no rosto de Merope sempre que se refere a você. Com<br />

apenas dezoito anos já lidera to<strong>da</strong> a milícia do palácio, algo<br />

que não deve ser fácil. Do mesmo modo, administrar uma<br />

casa, uma profissão e a criação de um filho não foi tarefa<br />

simples para minha mãe. Acho que foram justamente essas<br />

coisas que a amadureceram muito. Ela escolheu levar a sério<br />

a própria vi<strong>da</strong>, sempre me dizia: “Álefe, o que faz um<br />

homem não é o que acontece em sua vi<strong>da</strong>, mas a forma<br />

como ele escolhe reagir perante aquilo que lhe acontece”.<br />

Eu guardo essas palavras e é justamente por tudo o que ela<br />

me ensinou, pelo melhor que sempre me ofereceu, que desejo<br />

cumprir essa missão e salvá-la dessa maldita doença.<br />

E como consequência desse êxito, salvar outros em meu<br />

planeta que precisam de aju<strong>da</strong>.<br />

_ E nós conseguiremos meu amigo! Eu tenho certeza. _ afirmou<br />

Valentim convicto, pois tal convicção e força interior<br />

eram os ingredientes que o tornavam um grande guerreiro.


Álefe passou a mão no rosto, recompondo-se<br />

completamente e se pôs em pé com a espa<strong>da</strong> na mão,<br />

dizendo:<br />

_ Vamos lutar Valentim, agora mais do que nunca, desejo<br />

ser forte, por mim e por minha mãe!<br />

_ É assim que quero te ver _ mencionou Valentim orgulhoso,<br />

desembainhando a espa<strong>da</strong>.<br />

O treino teve início. E Álefe nunca havia se empenhado e<br />

se saído tão bem como neste dia.<br />

Longe <strong>da</strong>li, numa província, Bilsã, o governador <strong>da</strong> milícia<br />

dos guerreiros de Alioth se reuniu com seus filhos também<br />

em treinamento, a fim de fortalecê-los para derrotar Valentim.<br />

Ele os observava <strong>da</strong> saca<strong>da</strong> de sua casa que era grande,<br />

semelhante a um pequeno palácio, onde costumeiramente<br />

se reunia com seu exército e uma belíssima jovem de olhos<br />

claros, cabelos escuros e lisos, ela trajava uma armadura de<br />

amazona. Juntos apreciavam o treinamento dos filhos do<br />

governador:<br />

_ O que acha do desempenho de meus filhos, Ágata? _<br />

perguntou Bilsã à bela jovem.<br />

_ Eles se fortaleceram muito no último mês e todos os outros<br />

guerreiros também. _ respondeu a lin<strong>da</strong> guerreira sem<br />

retirar os belos olhos azuis, que pareciam topázios, do treino<br />

que ocorria no pátio <strong>da</strong>quele modesto palácio.<br />

_ Você acha que estão mais preparados que os guerreiros<br />

de Merope?<br />

_ Não sei, não conheço o tal de Valentim! Ouvi falar que


é bem forte, mas <strong>da</strong>rei tudo de mim para derrotá-lo. Não<br />

permitirei que Alcione continue a enganar Plêiades com<br />

esse prometido que não quer outra coisa, senão, recolher a<br />

Palma para torná-la rainha <strong>da</strong> Terra. Ela já enganou os Arcanjos<br />

tomando o trono do meu pai, que sempre mereceu<br />

reinar! Mas desta vez ela não vencerá! _ disse Ágata com<br />

ódio nas palavras.<br />

_ Você lembra seu pai! A força e a firmeza nas palavras são<br />

características fortes nele e em você. Empenharemo-nos<br />

para que Juliano tenha o trono que merece. _ concluiu<br />

Bilsã, prosseguindo junto com Ágata à observação dos treinos.<br />

Era chegado o dia do teste de Álefe. Todos do governo se<br />

reuniram no pátio principal de treinamentos do palácio de<br />

Merope. Logo, anunciaram a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> rainha, que adentrou<br />

no recinto de forma majestosa, acompanha<strong>da</strong> de dois<br />

anjos cingidos pelo peito com um cinto de ouro branco<br />

e um manto azul celeste. Estes se locomoviam ao lado de<br />

Alcione sem tocar o chão e eram representantes <strong>da</strong> corte<br />

de Miguel. Ela sentou em lugar de destaque para assistir a<br />

luta, Merope colocou-se ao seu lado e junto com ele, Havén<br />

e os governadores de Alioth, incluindo Bilsã.<br />

Valentim entrou no pátio juntamente com Álefe, trajados<br />

de armaduras convencionais, as mesmas que os demais sol<strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> milícia usavam, feitas de ferro e couro, cobrindo<br />

o tórax, abdômen, pernas, braços e ombros. Ambos se dirigiram<br />

ao centro onde o juiz, que usava uma túnica verde<br />

esmeral<strong>da</strong>, declarou as regras a todos:<br />

_ Atenção! Aquele que derrubar o adversário, desarmá-lo<br />

ou feri-lo gravemente será o vencedor. É valido o uso de


qualquer recurso de luta e não deve haver consideração<br />

alguma por parte do instrutor durante o combate, pois são<br />

agora adversários!<br />

Ambos se olharam fixamente e Valentim disse ao companheiro:<br />

_ Sei que não posso maneirar, mas te desejo boa sorte! E se<br />

conseguir me atacar, não hesite.<br />

_ Certo! _ respondeu Álefe, balançando a cabeça.<br />

O juiz declarou o início <strong>da</strong> luta e os dois travaram um<br />

combate de espa<strong>da</strong>s equilibrado. Álefe desarmou Valentim<br />

num rápido movimento com a perna, porém, este saltou<br />

e apanhou a espa<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> no ar, conseguindo chutar seu<br />

adversário nas costas e derrubá-lo. Álefe se levantou e lutou<br />

arduamente de novo, mas ficava notória a diferença de<br />

habili<strong>da</strong>des entre os dois. A maioria dos espectadores deu<br />

a luta por venci<strong>da</strong>, porém, a coragem do discípulo o fazia<br />

prosseguir. De repente, Valentim estendeu a mão direita<br />

apoia<strong>da</strong> pela esquer<strong>da</strong>, então, emitiu uma luz violeta que<br />

lançou o inexperiente terráqueo contra a parede. Álefe no<br />

chão sem forças.<br />

Todos ficaram espantados com a agili<strong>da</strong>de de Valentim,<br />

inclusive Bilsã, que não escondia seu espanto, pois nunca<br />

algum guerreiro manifestara a magia, exceto Havén. Houve<br />

um silêncio em conjunto, todos permaneceram pasmos<br />

diante do poder do filho de Merope.<br />

O juiz caminhou até Álefe para lhe declarar derrotado. Antes<br />

que proferisse o término do combate, o rapaz se pôs de<br />

pé inespera<strong>da</strong>mente com a espa<strong>da</strong> nas mãos. Valentim o<br />

observava com um olhar de amigo, mas se via obrigado a


ignorar naquele momento seus nobres sentimentos. Álefe<br />

mal ficava de pé, devido ao golpe do oponente. Mas, o que<br />

todos não sabiam era que ele ensinara a defesa deste ataque<br />

a Álefe, caso contrário teria morrido. Graças à intensi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> luz do golpe de magia, os espectadores não observaram<br />

a defesa do rapaz.<br />

Já em posição de luta, Álefe o convocou ao combate:<br />

_ Você não virá Valentim? Será que tomarei a iniciativa?<br />

_ Não será preciso, vou te <strong>da</strong>r o último golpe e a luta terminará.<br />

_ respondeu o guerreiro com a convicção de sua<br />

vitória.<br />

Com um extenso salto, Valentim avançou contra Álefe,<br />

este, desviou-se do ataque, revi<strong>da</strong>ndo rapi<strong>da</strong>mente com a<br />

espa<strong>da</strong>. A ca<strong>da</strong> bater <strong>da</strong>s lâminas, as faíscas se tornavam<br />

ca<strong>da</strong> vez maiores. O som agudo do choque dos metais penetrava<br />

na alma de ca<strong>da</strong> espectador. De repente, a espa<strong>da</strong><br />

de Álefe se tornou azula<strong>da</strong> e a força dele aumentou de<br />

maneira exagera<strong>da</strong>. Valentim desconhecia aquela técnica<br />

e mal segurava os golpes do adversário. Isto não passou<br />

despercebido aos olhos de Alcione, que observava o brilho<br />

<strong>da</strong> arma do jovem com um olhar perplexo, comentando<br />

consigo em voz baixa:<br />

_ Isso não é possível, como ele...<br />

Ao notar sua desvantagem naquele instante, Valentim se<br />

viu obrigado a terminar a luta, antes que machucasse o<br />

amigo. Ele bateu sua espa<strong>da</strong> no chão para produzir uma<br />

raja<strong>da</strong> de faíscas, que distraiu Álefe. Em segui<strong>da</strong>, deu um<br />

salto por detrás do discípulo, posicionando a espa<strong>da</strong> contra<br />

seu pescoço:


_ Acabou Álefe! Vamos terminar aqui esta luta, não quero<br />

te ferir! _ disse o líder <strong>da</strong> milícia, preocupado para não<br />

machucar o pupilo.<br />

_ Eu sei querido amigo, mas por acaso observou sua barriga?<br />

_ alertou-o Álefe num tom somente ouvido pelo “adversário”.<br />

O filho de Merope olhou espantado para baixo e percebeu<br />

que a espa<strong>da</strong> de Álefe estava em seu abdômen:<br />

_ Como fez isso? _ questionou Valentim impressionado<br />

com a agili<strong>da</strong>de de Álefe.<br />

_ Tive um professor excelente!<br />

Não satisfeito, Valentim se defendeu <strong>da</strong> espa<strong>da</strong> de Álefe e<br />

girou para contra atacá-lo. Os dois ficaram frente a frente,<br />

com ambas as espa<strong>da</strong>s aponta<strong>da</strong>s um para o outro, quase<br />

tocando seus rostos. A plateia assistia ao espetáculo cala<strong>da</strong>,<br />

sem retirar um só segundo os olhares admirados do combate.<br />

Logo o juiz declarou em alto e bom som que a luta<br />

havia empatado.<br />

Álefe sorriu alegremente e Valentim ficou orgulhoso do<br />

seu desempenho:<br />

_ Parabéns Álefe! Jamais pensei que se sairia tão bem! _<br />

congratulou-o Valentim.<br />

_ Graças a sua dedicação e seu empenho em me aju<strong>da</strong>r! _<br />

disse Álefe satisfeito, sorrindo aliviado e feliz por ter conseguido.<br />

Os dois se abraçaram quando Alcione se levantou para entregar<br />

o certificado de guerreiro para o jovem:


_ Todos que aqui estão, testemunharam o empenho de<br />

Álefe que se mostrou um guerreiro competente, empatando<br />

a luta com seu próprio instrutor. Meus parabéns a Álefe<br />

pela coragem e bravura e a Valentim pelo ótimo trabalho<br />

ao treiná-lo em tão pouco tempo.<br />

Todos aplaudiram os dois em reconhecimento pela magnífica<br />

luta. A rainha entregou a Álefe um presente juntamente<br />

com o certificado de guerreiro oficial <strong>da</strong> constelação de<br />

Plêiades:<br />

_ Aqui está seu certificado e também um presente do príncipe<br />

de todos os guerreiros, Miguel. _ disse a Alcione, chamando<br />

a atenção de Álefe ao citar o nome do Arcanjo.<br />

Quando o rapaz abriu a caixa, deparou-se com uma lin<strong>da</strong><br />

espa<strong>da</strong> pratea<strong>da</strong>, craveja<strong>da</strong> na base com uma safira azul e a<br />

letra inicial de seu nome assina<strong>da</strong>:<br />

_ Rainha, quem teve o trabalho de fazer essa bela espa<strong>da</strong><br />

e ain<strong>da</strong> cravar a letra do meu nome nela? _ perguntou o<br />

jovem emocionado com a beleza <strong>da</strong> arma.<br />

_ Meu querido, foi o próprio Miguel quem fez. Ele me<br />

disse que cravaria seu nome na arma, porque confiava em<br />

você e em sua coragem!<br />

Finalmente, Álefe foi coroado guerreiro para a felici<strong>da</strong>de<br />

do governo. Exceto para Bilsã, que se incomodou muito<br />

com o presente do Arcanjo, indo embora antes do término<br />

<strong>da</strong> cerimônia.<br />

Dois dias depois, estavam os dois rapazes no jardim central<br />

do palácio, comentando anima<strong>da</strong>mente sobre a luta, quando<br />

se aproximou um oficial de Merope:


_Valentim e Álefe, o príncipe deseja lhes falar em sua sala<br />

agora. Por favor, acompanhem-me.<br />

Os dois obedeceram às ordens do príncipe. Logo estavam<br />

a sós com ele.<br />

_ Pai, porque nos chamou?<br />

_ Tenho algo a dizer-lhes: Amanhã levaremos Álefe ao Templo<br />

de Rafael e Havén irá conosco.<br />

_ Mas, se me permite perguntar Merope, o que exatamente<br />

farei lá? _ questionou Álefe.<br />

_ Você será apresentado ao Arcanjo Rafael, ele te abençoará<br />

e te orientará em sua missão! _ respondeu o príncipe,<br />

arrancando um olhar surpreso do rapaz.<br />

_ É ver<strong>da</strong>de, somente o Arcanjo sabe como e onde conseguir<br />

a Palma Sagra<strong>da</strong>! _ acrescentou Valentim.<br />

_ Valentim está certo. Iremos bem cedo, pois o tempo é<br />

curto e as forças de Juliano se levantam contra nós! _ concluiu<br />

Merope sem <strong>da</strong>r maiores detalhes.


Capítulo 06 _ O Arcanjo <strong>da</strong> cura<br />

No dia seguinte, Valentim, Álefe, Merope e Havén foram<br />

até o templo de Rafael bem cedo. O templo não ficava muito<br />

longe do palácio, mas não era qualquer pessoa que podia<br />

se aproximar dele, sendo protegido pelo próprio Arcanjo,<br />

que já esperava por eles.<br />

No caminho, Álefe contemplava a paisagem. A beleza indescritível<br />

do céu durante o dia arrancava olhares extasiados<br />

do rapaz. As três luas eram adornos no fundo incrivelmente<br />

azul do firmamento de Alioth. Aves enormes de penas e<br />

cores exuberantes pareciam <strong>da</strong>nçar em bandos, enquanto<br />

emitiam seu peculiar canto, ecoando pelo ar puro.<br />

O horizonte, em relevos e montanhas pintava o fundo do<br />

cenário perfeito, contemplado com olhares sedentos pela<br />

novi<strong>da</strong>de e beleza do jovem, que vivenciava momentos<br />

como num filme de fantasia.<br />

Ele observava um lindo bosque, onde servos do templo<br />

de Rafael descansavam e entoavam juntos harmônicas canções.<br />

A melodia era suave e as vozes se encaixavam num<br />

coral perfeito. Os servos usavam túnicas verde-esmeral<strong>da</strong><br />

que ornavam com o branco de suas vestes interiores.<br />

_ Quem são? Nunca ouvi canções tão belas... _ perguntou<br />

Álefe admirado.<br />

_ São servos do templo do Arcanjo Rafael que dedicam<br />

suas vi<strong>da</strong>s a cui<strong>da</strong>r dele! _ respondeu Merope.<br />

_ Porém, não é qualquer pessoa que pode servir neste templo!<br />

Os servos de Rafael são escolhidos a dedo. _ explicou<br />

Havén, <strong>da</strong>ndo alguns detalhes.


_ E como são selecionados? _ prosseguiu Álefe extremamente<br />

interessado no assunto.<br />

_ Desde criança, estas pessoas que aqui servem tem um<br />

chamado especial. A maioria já nasce com um desejo sincero<br />

de servir. É necessário ter um coração puro, longe <strong>da</strong><br />

ambição e <strong>da</strong> corrupção! Somente as pessoas com esse perfil<br />

estão aptas a dedicar-se ao templo de Rafael. _ disse Merope<br />

eluci<strong>da</strong>ndo-o. _ Vamos ate lá conhecê-los.<br />

Todos se aproximaram dos servos que estavam sentados<br />

no jardim de frente ao templo. Logo foram amorosamente<br />

recebidos por eles:<br />

_ Sejam bem vindos! _ saudou uma <strong>da</strong>s servas, que estava<br />

vesti<strong>da</strong> com uma lin<strong>da</strong> túnica verde claro e com coroas de<br />

flores nos cabelos.<br />

_ Príncipe Merope! O senhor e seus amigos são aguar<strong>da</strong>dos<br />

pelo Senhor Rafael, fomos avisados que viriam! _ disse<br />

outro servo aproximando-se, que também usava túnicas<br />

compri<strong>da</strong>s na cor verde, porém, os homens usavam o tom<br />

de verde escuro e as mulheres, o claro. Algo que chamou<br />

a atenção de Álefe foram os belos colares de peridôtos e<br />

esmeral<strong>da</strong>s que se destacavam no colo de ca<strong>da</strong> servo.<br />

_ Sentimo-nos muito felizes! É um privilégio estarmos<br />

diante do templo de nosso amado Arcanjo. Trouxemos um<br />

convi<strong>da</strong>do especial e desejo que vocês, como servos sinceros<br />

de Rafael, o conheçam!<br />

O príncipe pediu para que Valentim se aproximasse com<br />

Álefe, a fim de ser apresentado aos presentes:<br />

_ Este é Álefe, o eleito de Alcione! O espírito que alinhará


a Terra através dos Elementos! _ apresentou-o Merope.<br />

_ Seja bem vindo Álefe! _ sau<strong>da</strong>ram os servos com sinceros<br />

sorrisos. _ É uma honra para nós, servos de nosso amado<br />

Rafael, conhecermos o escolhido dos Arcanjos.<br />

_ O prazer é meu por estar diante de pessoas tão comprometi<strong>da</strong>s<br />

com o amor ao próximo. _ respondeu Álefe feliz<br />

em conhecer aquelas pessoas que lhe passavam uma imagem<br />

muito positiva.<br />

Um dos servos que estava sentado, levantou-se e saudou a<br />

Valentim com a mesma honra:<br />

_ Seja bem vindo nobre guerreiro! Vejo que tem um grande<br />

poder e missão ao lado de Álefe! Se os Arcanjos te escolheram<br />

para guiá-lo, é porque possui um espírito singular e<br />

de extrema importância nesta <strong>odisseia</strong>.<br />

_ Obrigado! _ agradeceu feliz, porém, sem entender direito<br />

as palavras do servo. Havén sorriu discretamente ao olhar<br />

para Valentim, como se soubesse de algo que eles ain<strong>da</strong><br />

não conheciam.<br />

_ Por favor, príncipe e mestre Havén, permita-nos entoar<br />

uma de nossas canções aos guerreiros que lutarão em nome<br />

de Rafael neste mundo! _ pediu uma <strong>da</strong>s servas.<br />

_ Pois não!<br />

Um dos servos preparou sua harpa, que era feita de cristal<br />

com detalhes verdes. Enquanto outro segurava um instrumento<br />

semelhante a um violão, porém possuía várias<br />

cores e cor<strong>da</strong>s invisíveis, que apareciam ao toque do instrumentista.<br />

Um lindo cântico de boas vin<strong>da</strong>s foi entoado


por uma mulher, sua voz transparecia sereni<strong>da</strong>de e harmonia.<br />

Todos se encantaram com a recepção calorosa. A bela<br />

canção falava do Arcanjo Rafael e de seu amor por Alioth,<br />

também enaltecia a coragem e a bravura dos guerreiros do<br />

planeta . A lin<strong>da</strong> voz <strong>da</strong> serva agrega<strong>da</strong> ao som mágico dos<br />

instrumentos formava uma melodia divina e emocionante.<br />

Em meio à canção, Valentim colocou a mão direita sobre o<br />

ombro de Álefe sorrindo para ele, que retribui a gentileza.<br />

A música era realmente digna de um templo tão divino e<br />

inspirador como o de Rafael, o Arcanjo <strong>da</strong> cura. Após o<br />

término <strong>da</strong> apresentação, eles agradeceram aos servos pelas<br />

boas vin<strong>da</strong>s e seguiram rumo ao templo.<br />

Ao chegarem à entra<strong>da</strong> do templo, Álefe apreciou a beleza<br />

e divin<strong>da</strong>de do mesmo. O local era de mármore claro, alto,<br />

com uma esca<strong>da</strong> grande e larga. Havia arranjos de flores<br />

em jarros de esmeral<strong>da</strong>. O ar em volta do lugar era diferente,<br />

mais puro e perfumado do que qualquer atmosfera.<br />

Ao subirem as esca<strong>da</strong>s, Álefe ficou surpreso ao notar que<br />

se avistava grande parte de Alioth <strong>da</strong>li. O rapaz não percebeu<br />

que an<strong>da</strong>ram em subi<strong>da</strong> durante todo o tempo <strong>da</strong><br />

caminha<strong>da</strong>. Já que seus pés não demonstravam qualquer<br />

sinal de cansaço. Quando Merope o percebeu pensativo,<br />

explicou-lhe:<br />

_ Você deve ter estranhado o fato de não nos cansarmos<br />

enquanto subíamos! An<strong>da</strong>mos o tempo todo em aclive e<br />

nossos pés não sentiram, porque fomos atraídos pelo magnetismo<br />

do templo e por isso, a sensação era de caminhar<br />

em terreno plano.<br />

_ É impressionante, ain<strong>da</strong> não me acostumei com este


mundo! _ exclamou Álefe em meio a tantas coisas lin<strong>da</strong>s<br />

que presenciava.<br />

Dentro do templo, caminharam em um largo corredor repleto<br />

de tochas com chamas brilhantes e verdes. Ao se aproximarem<br />

do altar, foram surpreendidos por dois serafins<br />

que lá estavam. E no meio destes um belo trono era visualizado.<br />

Álefe se assustou ao vê-los, eram altos, tinham seis<br />

asas ca<strong>da</strong> um e emanavam um brilho espetacular. Quando<br />

suas asas batiam, um poderoso vento tocava sutilmente os<br />

visitantes:<br />

_ Vocês são convi<strong>da</strong>dos de honra de nosso príncipe, ele já<br />

esta a caminho! _ disse um dos serafins enquanto batia as<br />

seis asas.<br />

O outro serafim, notando o temor de Álefe, lhe disse:<br />

_ Não temas, jovem! És muito querido por todos nós, estamos<br />

aqui para ajudá-lo e não para ameaçá-lo.<br />

Álefe não respondeu na<strong>da</strong>, somente os observava com<br />

os olhos arregalados. De repente as asas dos serafins se<br />

fecharam e junto com elas cessou-se o brilho intenso<br />

que irradiavam. A sala se aquietou por um minuto e<br />

uma intensa luz se acendeu no meio dos dois serafins.<br />

O brilho era como de uma estrela e possuía um tom de<br />

verde inigualável.<br />

Aos poucos, uma figura começou a materializar-se no trono. Álefe<br />

observava espantado a cena. Seus olhos ardiam muito por causa do<br />

forte brilho. Ao pedido de Valentim, ele abaixou o rosto e todos se<br />

curvaram diante do ser, que disse calmamente a todos:<br />

_ Sejam bem vindos, meus amigos!


Ao levantar a face, deparou-se com o Arcanjo que usava<br />

vestes claríssimas, um cinturão de ouro brilhante pelo<br />

peito, uma coroa de ouro craveja<strong>da</strong> em esmeral<strong>da</strong>s e um<br />

manto verde que ia até seus pés. Rafael possuía olhos tão<br />

brilhantes e verdes como a mais lin<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pedras preciosas,<br />

seus cabelos eram amendoados e lisos até a altura do queixo.<br />

Ele possuía um olhar doce e firme ao mesmo tempo.<br />

Quando Álefe viu Rafael, ficou emudecido e admirado, e<br />

o mesmo lhe disse:<br />

_ Querido Álefe, estou feliz em vê-lo! Todos aguardávamos<br />

por este encontro!<br />

_ Senhor, estou assustado, nunca contemplei algo tão divino<br />

em minha vi<strong>da</strong>! _ exclamou o rapaz surpreso e admirado<br />

em posição de reverência.<br />

_ Não há por que assustar-se! Aqui somos todos amigos. _<br />

disse Rafael tranquilizando-o.<br />

_ Desculpe-me pelo medo. _ abaixou a cabeça novamente.<br />

_ Não se desculpe, é natural e compreendemos isso! Quero<br />

agradecer a todos em nome dos sete Arcanjos por terem<br />

acolhido Álefe e lhe ensinado coisas necessárias para a missão.<br />

Observamos ca<strong>da</strong> momento atentamente, desde sua<br />

chega<strong>da</strong>. _ disse Rafael aos presentes.<br />

_ Senhor Rafael, fizemos tudo pela terra e por Plêiades.<br />

Álefe é nosso irmão. _ respondeu Merope.<br />

_ Valentim, fez muito bem em protegê-lo naquele dia contra<br />

os filhos de Bilsã, sua bravura e dedicação nos anima<br />

muito. Havén, você elucidou de forma sábia ao nosso irmão<br />

Álefe, que agora se mostra pronto para a jorna<strong>da</strong>. _


agradeceu Rafael reconhecendo humildemente o valor e<br />

a dedicação de todos. _ É de sua vontade Álefe, caminhar<br />

conosco rumo à ascensão <strong>da</strong> terra?<br />

_ Sim, é meu desejo! _ respondeu sinceramente, embora<br />

estivesse ain<strong>da</strong> um pouco impressionado.<br />

_ Pois saiba que você é o único que pode pegar a Palma<br />

para salvar a terra. Nem mesmo eu, ain<strong>da</strong> que pegasse o<br />

elemento, não poderia fazer na<strong>da</strong>. Só você possui a conexão<br />

exata com o planeta em termos espirituais, por isso,<br />

cabe a você pegá-la, com a aju<strong>da</strong> de seus amigos. _ explicou<br />

o Arcanjo.<br />

_ Nós caminharemos com ele até a grande Montanha. Vamos<br />

protegê-lo de Juliano, que com certeza tentará nos impedir.<br />

_ acrescentou Havén.<br />

_ Estamos cientes! _ disse Rafael. _ Por isso entregarei algo<br />

para Álefe. Por favor, aproxime-se querido jovem.<br />

Ao se aproximar, Rafael ascendeu uma luz na mão direita<br />

e a lançou na direção de Álefe. O ponto luminoso voou<br />

rumo ao coração do jovem, penetrando em seu peito.<br />

_ O que acabo de fazer é te conceder o dom <strong>da</strong> cura! Todo<br />

e qualquer ferimento poderá curar com essa virtude, que<br />

somente funcionará quando suas emoções se alinharem<br />

a ela. Poderá usá-la sempre que precisar. Ela é abasteci<strong>da</strong><br />

pelo seu amor, enquanto ele durar, também seu poder permanecerá.<br />

Também te entrego o mapa <strong>da</strong> grande montanha<br />

onde se localiza a Palma. Devem se apressar, pois os<br />

guerreiros de Juliano já caminham rumo ao elemento. _<br />

orientou o Arcanjo, entregando-lhes o mapa, este, moveu-<br />

-se sozinho, flutuando até pousar nas mãos de Valentim.


_ Faremos como nos ordenou Senhor! _ disse Merope.<br />

_ Eu acredito em vocês! E sei que farão o melhor! _ prosseguiu<br />

o Arcanjo. _ Agora, assuma sua missão Álefe e siga<br />

seu caminho, que embora escuro e confuso a princípio,<br />

culminará em algo tão glorioso quanto às estrelas de Plêiades!<br />

Álefe reverenciou o Arcanjo juntamente com todos e em<br />

segui<strong>da</strong>, Rafael desapareceu diante deles, <strong>da</strong> mesma forma<br />

que havia surgido, e os serafins igualmente partiram com<br />

ele. Depois disso, os quatro saíram do templo.<br />

Eles retornaram ao palácio para se prepararem para a jorna<strong>da</strong>.<br />

Recolheram-se cedo, porém Álefe não pegava no<br />

sono. Ele caminhou em direção à saca<strong>da</strong> de seu quarto,<br />

olhou atentamente as estrelas e pediu forças e coragem aos<br />

Arcanjos, que responderam suas orações com a estrela cadente<br />

que sempre via atravessando o céu. Tudo o que contemplara<br />

naquele dia, ficaria em sua memória para sempre.<br />

Apesar de temeroso, estava agradecido em seu coração pelo<br />

privilégio de conversar pessoalmente com o Arcanjo e de<br />

fazer parte de uma <strong>odisseia</strong> que traria a cura para a Terra.<br />

Enquanto o rapaz observava o céu e as brilhantes estrelas,<br />

pensava em sua vi<strong>da</strong> e em como ela havia mu<strong>da</strong>do radicalmente<br />

em tão pouco tempo. Apesar de sempre ter se considerado<br />

diferente dos demais, jamais passou pela cabeça<br />

de Álefe que faria parte de uma missão extraterrena que<br />

envolvia o resgate de seu próprio planeta.<br />

Há alguns meses, ele era somente um jovem obstinado em<br />

seus estudos, filho de uma mulher simples. Seu maior sonho<br />

era se tornar um cientista astrônomo e dedicar sua


vi<strong>da</strong> à descoberta dos enigmas do Universo. Era com se<br />

as estrelas, planetas e demais astros chamassem por ele de<br />

alguma forma, como um ímã atrai o ferro. Sua curiosi<strong>da</strong>de<br />

e anseio pelo aprendizado o faziam gastar horas em leituras<br />

e pesquisas.<br />

Mantendo uma boa relação com a mãe, Álefe, sem muitas<br />

ambições humanas, desfrutava de uma vi<strong>da</strong> normal como<br />

a maioria dos garotos de sua i<strong>da</strong>de. Era engraçado para ele<br />

o fato de estar em solo alienígena. No começo era perturbador<br />

e desafiador demais, mas, aos poucos se acostumou,<br />

a<strong>da</strong>ptando-se ao ambiente e às pessoas que pareciam ser<br />

seus amigos há anos.<br />

Além disso, ele pensava sobre a visão humana acerca <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> fora <strong>da</strong> Terra e em como as pessoas de seu planeta<br />

natal mistificavam-na exagera<strong>da</strong>mente. E agora, sobre os<br />

olhares a partir <strong>da</strong> experiência e vivência, o rapaz percebia<br />

que embora estivesse em outro mundo, com ambientes distintos,<br />

cultura e crenças, aquela civilização era composta<br />

de pessoas que não se distinguiam muito dos terráqueos,<br />

quanto a seus anseios pela vi<strong>da</strong>, conflitos e sonhos. Assim<br />

como em seu mundo, todos ali lutavam pelos seus objetivos,<br />

defendiam suas teorias e viviam <strong>da</strong> maneira que lhes<br />

agra<strong>da</strong>va.<br />

A noite logo passou e bem cedo estavam postos na entra<strong>da</strong><br />

do palácio, vestidos com suas armaduras e carregando suas<br />

espa<strong>da</strong>s. Merope passava a eles as últimas instruções:<br />

_ Havén irá acompanhá-los em segui<strong>da</strong>. Tenham cui<strong>da</strong>do e<br />

sejam cautelosos ao seguir o mapa que o Arcanjo lhes deu.<br />

Caso haja necessi<strong>da</strong>de, enviarei as tropas do palácio, mas,<br />

no momento, é necessário que tenhamos discrição. Nosso


exército foi posicionado em vários lugares <strong>da</strong> província de<br />

Alioth até a montanha. Vão agora mesmo!<br />

Os dois partiram juntos a cavalo, Valentim estava decidido<br />

a <strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong> pela Palma se preciso fosse. Álefe mantinha a<br />

certeza em seu coração de que os Arcanjos o apoiariam na<br />

missão.<br />

Ao se aproximarem do templo de Havén, notaram que ele<br />

não estava lá, pois o templo se encontrava fechado e uma<br />

energia estranha lacrava a porta.<br />

_ Onde será que Havén está? _ perguntou Álefe receoso.<br />

_ Não sei, mas acredito que ele aparecerá na hora certa! _<br />

respondeu Valentim com um olhar desconfiado.<br />

_ Não podemos perder nem um segundo, é melhor irmos!<br />

_ sugeriu Álefe.<br />

Confiantes de que o mestre logo apareceria, os dois cavalgaram<br />

até uma pequena vila, onde pararam para descansar.<br />

A montanha já era mais visível <strong>da</strong>li e no horizonte mais<br />

distante, uma tempestade se formava. Os dois desceram<br />

dos cavalos e se aproximaram de uma taverna.<br />

A vila em que estavam se chamava Vila do Sol, pois seu<br />

posicionamento em Alioth lhe permitia uma visão plena<br />

do nascer e do pôr <strong>da</strong> estrela Merope, o Sol de Alioth. O<br />

vilarejo era pequeno e de pouca movimentação e viviam ali<br />

camponeses e agricultores responsáveis pela maior parte do<br />

cultivo de alimentos para a província do reino de Merope,<br />

por isso já conheciam Valentim. Ao entrarem na taverna,<br />

num ambiente rústico e singelo, o balconista logo reconheceu<br />

o filho do príncipe e foi servi-los. O estabelecimento es-


tava quase vazio, havendo apenas alguns poucos moradores<br />

e também alguns dos sol<strong>da</strong>dos do palácio de Alioth, que<br />

eram responsáveis pela guar<strong>da</strong> e proteção <strong>da</strong>quele pequeno<br />

povoado.<br />

O local era familiar, todos estavam acostumados com as visitas<br />

constantes de Valentim, por isso, ninguém estranhou<br />

sua presença. O ambiente era calmo, havia dois atendentes,<br />

sendo um deles uma moça que servia às mesas com muita<br />

gentileza e educação. Eles procuraram uma mesa próxima<br />

ao balcão e Álefe, aproveitando a ocasião, questionou o<br />

fato de Havén ter desaparecido:<br />

_ Valentim, você não acha estranho Havén ter sumido, sendo<br />

que ele disse que viria conosco?<br />

_ Sinceramente, não muito! Havén sempre foi cheio de<br />

enigmas, mas, nisso tudo tem algo que me preocupa! _ respondeu<br />

Valentim, olhando pela janela <strong>da</strong> taverna, como se<br />

buscasse por respostas.<br />

_ O quê? _ in<strong>da</strong>gou Álefe.<br />

_ Há alguns dias atrás, quando treinava você, Havén e eu<br />

tivemos uma conversa séria a respeito de Juliano. Ele mandou<br />

chamar-me em seu templo e me disse: _ Valentim, existe<br />

algo que me preocupa e quero compartilhar com você, para que<br />

fique de sobreaviso. A filha de Juliano, Ágata, esteve aqui, a mando<br />

de seu pai...<br />

_ Ágata? Aquela guerreira amazona que lidera as tropas<br />

de Juliano? _ questionei interrompendo Havén, já com o<br />

olhar surpreso e tom de voz alterado.<br />

_ Sim, ela mesma! Esteve aqui para tentar me convencer de que


Merope estava por trás de um plano juntamente com Alcione, com<br />

fins de capturar a Palma Sagra<strong>da</strong> para governar a terra usando<br />

um terráqueo. _ respondeu o mestre, rindo disfarça<strong>da</strong>mente<br />

<strong>da</strong> ingenui<strong>da</strong>de de Ágata em pensar que ele acreditaria na<br />

história.<br />

_ Mas Ágata não sabia dos nossos planos para poupar a Terra?<br />

_ perguntei.<br />

_ Sim, mas parece que seu pai a corrompeu! Então, quando percebeu<br />

que não me convencia com suas eluci<strong>da</strong>ções, lançou ameaças<br />

contra nós, ao dizer que se não estamos com ela, estamos contra<br />

ela.<br />

_ É algo que devemos nos preocupar, uma vez que ela<br />

sempre foi muito forte. _ afirmei. _ Mas tendo você por perto,<br />

podemos ficar mais tranquilos!<br />

_ Não quero que pense assim! Ágata é uma <strong>da</strong>quelas alunas que<br />

tem potencial para superar seus mestres! _ acrescentou Havén,<br />

deixando-me surpreso.<br />

Álefe se assustou muito com o que Valentim acabara de<br />

contar, não imaginava que seus inimigos pudessem ser<br />

tão imponentes:<br />

_ Será possível que sejam mais fortes que Havén? _ perguntou<br />

Álefe preocupado.<br />

_ Não sei, mas se forem, temo o que possa ter acontecido<br />

com meu mestre. _ respondeu Valentim, enquanto olhava<br />

pela janela.<br />

_ E quanto à Ágata, é estranho nunca terem se encontrado, sendo que residem<br />

em Alioth e treinaram com o mesmo mestre! _ prosseguiu Álefe.


_ Isso aconteceu uma vez. _ disse Valentim, surpreendendo o amigo _ Há<br />

alguns anos, ela foi até o palácio de meu pai para falar-lhe. E como o príncipe<br />

não estava, fui recebê-la em seu lugar. Ao ver-me, disse-me friamente:<br />

_ Não é com você que vim falar.<br />

_ Eu bem sei disso. Mas Merope está ausente no momento, portanto, como<br />

seu filho, eu assumo o comando no palácio. _ respondi com<br />

a mesma frieza dela, que me observou de forma calculista.<br />

Naquele instante, senti sua energia, forte e desafiadora.<br />

Confesso que não tive medo, pois nunca temi nenhum inimigo.<br />

No entanto, percebi que ela é uma adversária perigosa,<br />

possivelmente tão forte e prepara<strong>da</strong> quanto eu e que<br />

enfrentá-la não será tarefa fácil. Em segui<strong>da</strong>, novamente<br />

me disse:<br />

_ Como não tenho alternativa, filho de Merope, deixarei o recado<br />

do futuro rei de Plêiades, Juliano, que me enviou no intuito de oferecer<br />

a última oportuni<strong>da</strong>de para Alcione renunciar seu reinado e<br />

entregar-lhe a coroa, caso contrário...<br />

_ Caso contrário? _ perguntei interrompendo-a.<br />

_ ...Vocês serão aniquilados. Saiba que meu pai e eu não deixaremos<br />

que façam o que bem queiram em Alioth. O governo<br />

<strong>da</strong> hipocrisia de Alcione logo terá fim, <strong>da</strong>ndo início ao soberano<br />

reinado de Juliano. _ respondeu com ar de superiori<strong>da</strong>de,<br />

notoriamente desafiando-me. Naquele instante, senti meu<br />

sangue ferver nas veias e meu corpo ser invadido pela raiva.<br />

Confesso que meu desejo era expulsá-la à força. Mas, meu<br />

bom senso falou mais alto e preferi relevar, porém, tratei de<br />

provocá-la verbalmente:<br />

_ Pode deixar, nobre “futura princesa”, que eu irei pessoalmente<br />

<strong>da</strong>r o recado ao meu pai. Tem mais alguma mensagem de Ju-


liano, o rei <strong>da</strong> fantasia e <strong>da</strong> ilusão? _ ao dizer tais palavras,<br />

os sol<strong>da</strong>dos que comigo estavam riram debocha<strong>da</strong>mente e<br />

Ágata se irritou. Pensei que iria nos atacar, mas se conteve,<br />

retrucando-me:<br />

_ Eu mesma o farei engolir estas palavras Valentim, em breve.<br />

Derrotou os filhos de Bilsã em combate, no entanto, será destituído<br />

do posto de líder dos guerreiros <strong>da</strong> milícia por uma mulher. O<br />

que dirão do bravo e invencível filho de Merope? Até lá, desfrute<br />

de sua liber<strong>da</strong>de e poder que logo se esvairão.<br />

_Tive vontade de pegá-la pelo pescoço, mas a deixei partir,<br />

ansioso pelo dia de nosso combate. Ágata, a amazona filha<br />

do maior inimigo de Plêiades, uma bela moça, que apesar<br />

de não se encaixar na personagem de uma guerreira, representava<br />

muito bem o papel. Obviamente, os treinos com<br />

Havén e Juliano a tornaram realmente digna de respeito.<br />

Certamente, seria uma adversária formidável.<br />

_ Não sei por que, mas sinto uma vontade enorme de conhecê-la.<br />

_ comentou Álefe. _ A historia dela me fascina.<br />

Estranho tudo isso!<br />

_ Bastante. _ disse Valentim com a cabeça abaixa<strong>da</strong> por um<br />

minuto, quando a simpática camponesa que trabalhava ali<br />

veio de encontro a eles para oferecer pouso:<br />

_ Não querem descansar um pouco? Devem estar exaustos<br />

<strong>da</strong> viagem?<br />

_ Acho que precisamos! Os cavalos an<strong>da</strong>ram por duas horas,<br />

estão com fome e cansados, será bom ficarmos um<br />

pouco por aqui. _ respondeu Valentim à camponesa.<br />

_ Podem pernoitar no estábulo, garanto que nin-


guém irá incomodá-los! _ sugeriu a moça.<br />

Valentim aceita a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> camponesa e ambos<br />

adormecem no estábulo. Por ser conhecido no local,<br />

sabia que podia confiar naquelas pessoas. Os<br />

cavalos permaneceram amarrados próximos a eles,<br />

enquanto repousavam tranquilos.


Capítulo 07 _ O encontro<br />

Em outra região de Alioth, num grande palácio escuro e<br />

sombrio, rodeado por animais ferozes e um vento tempestuoso,<br />

parecendo tratar-se de uma prisão, vozes gritavam e<br />

choravam às alturas, confundindo-se com os sons dos seres<br />

<strong>da</strong> floresta.<br />

Numa sala à parte do palácio, duas pessoas conversavam<br />

misteriosamente. Uma tinha cabelos avermelhados e olhos<br />

escuros. Sua aparência era a de uma mulher amargura<strong>da</strong>,<br />

trajava vestes negras com leves detalhes em ren<strong>da</strong>. Seu rosto<br />

era sinistro como as águas de um pântano.<br />

A outra figura que com ela estava, aparentava ser um homem<br />

alto e usava vestes reais. Sua face se escondia entre as<br />

sombras <strong>da</strong> sala. Os dois dialogavam em voz baixa sobre<br />

o reino de Alioth, como se compartilhassem um segredo<br />

íntimo:<br />

_ Kalanta, você trouxe o que eu te pedi? _ perguntou o<br />

estranho homem.<br />

_ Sim Senhor! Está aqui! _ respondeu a mulher, apresentando-lhe<br />

uma pequena caixa.<br />

Kalanta entregou algo para o homem, a quem parecia prestar<br />

serviços:<br />

_ Tem certeza de que não te viram? Merope desconfiou de<br />

alguma coisa? _ in<strong>da</strong>gou o indivíduo, que falava lentamente<br />

com uma voz rouca em meio às sombras.<br />

_ Creio que não! Sabe que possuo meus meios de entrar no palácio<br />

sem ser percebi<strong>da</strong>. _ disse Kalanta, exibindo um sínico sorriso.


_ E nosso novo prisioneiro está bem trancado? Não quero<br />

que ele saia antes de terminar o que pretendo fazer. Até lá,<br />

não ponha as mãos nele.<br />

_ Farei como me ordena! Mas o jovem terráqueo não está<br />

sozinho! _ advertiu Kalanta preocupa<strong>da</strong>.<br />

_ Ele não parece um problema. Ágata e minhas tropas já<br />

estão a caminho. Assim que ela os encurralar tudo será<br />

resolvido.<br />

_ Mas não falo disso! Tem algo naquele garoto que me incomo<strong>da</strong><br />

além de sua determinação em pegar a Palma, algo<br />

que nos desafia. Percebi em sua luta com Valentim, o filho<br />

de Merope. E sei que Alcione também já desconfia do mesmo<br />

que eu.<br />

_ Exatamente por isso quero que ele seja executado logo,<br />

antes que nos traga problemas e dor de cabeça! _ acrescentou<br />

o sombrio homem, em tom de ódio e vingança.<br />

Ao dormir no estábulo <strong>da</strong> vila, Álefe teve um sonho: Viu<br />

sua mãe em meio às flores de um lindo jardim, os pássaros<br />

cantavam à sua volta. Os raios de sol iluminavam seus<br />

cabelos tocados pelo vento, que soprava suavemente. Aos<br />

poucos o rapaz se aproximava, mas estranhamente ela se<br />

afastava de sua presença sem mexer-se fisicamente. Parecia<br />

que a ca<strong>da</strong> passo dele em sua direção, fazia com que ela se<br />

apartasse ain<strong>da</strong> mais. Em meio ao desespero, correu para<br />

alcançá-la. Porém, Lysa desapareceu. Em segui<strong>da</strong>, reapareceu<br />

ao seu lado, dizendo-lhe:<br />

_ Precisa tomar cui<strong>da</strong>do!<br />

_ Por que me diz isso mãe? _ perguntou Álefe, confuso.


_ Precisa tomar cui<strong>da</strong>do! _ repetiu temerosa.<br />

_ Mas com o quê? _ novamente perguntou o rapaz, ain<strong>da</strong><br />

mais confuso.<br />

_ Com a sombra! Com a quietude, com o silêncio! A morte te rodeia<br />

e o sopro <strong>da</strong> mal<strong>da</strong>de se acampa ao seu redor. Precisa acor<strong>da</strong>r<br />

agora! Acorde!<br />

Imediatamente Álefe acordou assustado. Quando olhou<br />

ao redor, notou que Valentim não estava e saiu para procurá-lo.<br />

Andou em meio aos moradores que lá trabalhavam, mas<br />

não o viu em lugar algum. Então, decidiu ir pelo caminho<br />

<strong>da</strong> taverna, que era cercado de árvores e belos jardins.<br />

Enquanto an<strong>da</strong>va atento, trombou sem querer com uma<br />

senhora de cabelos grisalhos e pele enruga<strong>da</strong>. Tinha um<br />

olhar penetrante por trás <strong>da</strong>s retinas castanhas e vestia-se<br />

tradicionalmente como uma camponesa. O rapaz, prontamente<br />

desculpou-se:<br />

_ Por favor, perdoe-me pela distração! Procuro meu amigo,<br />

Valentim, o filho de Merope. Por acaso o viu?<br />

_ Não o vi jovem terráqueo. _ respondeu a senhora, que<br />

segurava uma espécie de amuleto nas mãos com o símbolo<br />

de uma estrela feito de esmeral<strong>da</strong>s. Álefe se assustou ao<br />

perceber que conhecia sua origem e in<strong>da</strong>gou:<br />

_ Como à senhora sabe que sou <strong>da</strong> Terra?<br />

_ Está escritos em seus olhos. _ respondeu, fitando-se no<br />

rosto do rapaz que ficou emudecido. _ Seu olhar é alvo e<br />

revela uma origem que todos ain<strong>da</strong> desconhecem. Embora


sejam amendoados e reflitam doçura e sinceri<strong>da</strong>de, sinto<br />

um intenso azul a colori-los e preenchê-los. Rapaz, você<br />

tem alma de príncipe. E seu destino se ampliará a ca<strong>da</strong><br />

nova descoberta. Há muito mais aqui pra você do que a<br />

cura para ela.<br />

_ Ela? _ questionou perplexo. _ Como sabe disso? Essas<br />

informações são profun<strong>da</strong>mente sigilosas, quem as contou<br />

para a senhora?<br />

_ O Universo! _ disse a camponesa, que mais parecia uma<br />

vidente. _ Filho, tenho experiência o suficiente para enxergar<br />

muito além do que os olhos veem. E te digo que seu<br />

caminho é marcado pela beleza e encanto <strong>da</strong>s flores. Não<br />

vi Valentim, mas ele logo te encontrará. Siga em frente por<br />

esta trilha, no entanto, antes que contemple novamente o<br />

rosto do filho de Merope, se deparará com um dos maiores<br />

motivos pelo qual você voltou.<br />

_ Voltei? _ perguntou Álefe extremamente confuso. _ Eu<br />

nunca estive aqui senhora, então como posso ter voltado?<br />

A velha camponesa riu e novamente disse:<br />

_ Veja este céu, nobre rapaz. Contemple o seu azul a servir<br />

de fundo para o destaque <strong>da</strong>s três luas de Alioth, que sempre<br />

preenchem o firmamento do dia.<br />

Álefe fitou-se no céu, como a senhora pedira e por alguns<br />

segundos viajou no indescritível azul que ele exibia. Em<br />

segui<strong>da</strong>, ela prosseguiu:<br />

_ Seu caminho é azul como este céu, mas tão desafiador<br />

quanto caminhar pela noite sem o brilho <strong>da</strong>s estrelas.


_ Como faz para enxergar tudo isso senhora? _ perguntou<br />

Álefe, voltando-se para a camponesa, que misteriosamente,<br />

havia desaparecido.<br />

Perturbado, o rapaz prosseguiu no caminho indicado, a<br />

fim de encontrar Valentim. Alguns metros à frente, em<br />

meio às árvores de um bosque, deparou-se com uma jovem<br />

vesti<strong>da</strong> de amazona. Sua armadura era de ferro escuro, cobrindo<br />

seus ombros, canelas, braços e ombros, deixando<br />

seu abdômen à mostra, como tradicionalmente eram os<br />

trajes de luta <strong>da</strong>s amazonas em Plêiades. Ela colhia flores<br />

violetas num jardim na beira do caminho, e Álefe a pediu<br />

informação:<br />

_ Com licença, por acaso não avistou um rapaz passar por<br />

aqui?<br />

Quando a moça que estava de contas, virou-se para respondê-lo,<br />

Álefe ficou extasiado com sua beleza. Ela possuía o<br />

rosto mais lindo que ele conheceu em Alioth. Seus olhos<br />

eram <strong>da</strong> cor do céu, seus cabelos escuros e suas feições tão<br />

delica<strong>da</strong>s que não pareciam de uma guerreira:<br />

_ Desculpe-me, mas não vi ninguém. _ respondeu a bela<br />

jovem, segurando as flores nas mãos.<br />

_ Por acaso você é guerreira? _ perguntou, notando que ela<br />

usava roupas características e uma espa<strong>da</strong> presa na cintura.<br />

Havia também em suas costas um bastão, que Álefe claramente<br />

identificou como arma de luta.<br />

_ Sim! _ respondeu com um sorriso meigo. _ Por quê? Não pareço?<br />

_ Na ver<strong>da</strong>de não! Seu rosto tem um ar tão puro! _ elogiou o rapaz.


_ Obriga<strong>da</strong>, o seu também! No entanto, está vestido como<br />

um sol<strong>da</strong>do <strong>da</strong> milícia. _ a moça também percebeu que<br />

Álefe era guerreiro, pelas roupas e espa<strong>da</strong>. Ela tivera a mesma<br />

impressão a seu respeito.<br />

_ Ah é ver<strong>da</strong>de! Mas sou há pouco tempo. Ain<strong>da</strong> estou em<br />

treinamento. Luto porque preciso, não porque quero! _<br />

disse, sorrindo e abaixando a cabeça em segui<strong>da</strong>.<br />

_ Então estamos quites! Não gosto <strong>da</strong> guerra, mas, às vezes,<br />

é a única maneira de trazer a paz! Estou em missão, porém,<br />

resolvi parar aqui e colher flores violetas, eu as flores! _ a<br />

bela jovem ao dizer tais palavras se calou, observando o rosto<br />

de Álefe que também fazia o mesmo. Por um momento,<br />

uma estranha sensação os invadiu, como se de alguma forma,<br />

já se conhecessem. A face doce e gentil de Álefe que à<br />

primeira vista inspirava grande pureza e sinceri<strong>da</strong>de tocou<br />

profun<strong>da</strong>mente a amazona. Da mesma maneira, os olhos<br />

<strong>da</strong> cor do céu e o rosto <strong>da</strong> guerreira que parecia esculpido<br />

por anjos faziam com que algo na alma do rapaz estremecesse,<br />

trazendo-lhe uma emoção nunca antes senti<strong>da</strong>.<br />

Os dois trocaram olhares admirados por alguns instantes,<br />

quando o sino <strong>da</strong> vila tocou bem alto e os distraiu:<br />

_ Perdão, mas tenho que ir! Preciso encontrar meu amigo e<br />

seguir viagem, também estou em missão! _ despediu-se Álefe,<br />

embora quisesse ficar ali na doce companhia de Ágata.<br />

_ Não tem problema, também tenho que partir! _ acrescentou<br />

a guerreira, ao se conduzir até seu cavalo.<br />

_ Gostaria de vê-la novamente! Quem sabe nos encontramos<br />

por aí!


_ Eu adoraria! Até logo! _ disse a jovem ao sorrir como<br />

sinal de adeus. Em segui<strong>da</strong>, apartou-se com as flores amarra<strong>da</strong>s<br />

na cintura.<br />

A guerreira seguiu apressa<strong>da</strong>mente. Alguns minutos depois,<br />

Valentim veio cavalgando na direção de Álefe, justificando-se<br />

pelo sumiço:<br />

_ Desculpe por sair sem avisá-lo. Precisei vasculhar o território<br />

em busca de pistas de Havén. Até agora não compreendi<br />

como ele desapareceu!<br />

_ Achou alguma coisa? _ perguntou Álefe, meio distraído.<br />

_ Na<strong>da</strong>! Bem, temos que ir, busque seu cavalo. Com sorte,<br />

chegaremos ao pé <strong>da</strong> montanha antes do anoitecer.<br />

_ Sabe, acabei de conhecer uma jovem, muito bonita e<br />

guerreira! _ comentou Álefe, esboçando na face o encanto<br />

pelo encontro casual com a bela amazona.<br />

_ Está brincando? Mal chegou a Alioth e já foi fisgado por<br />

alguém? _ Valentim ficou surpreso com o que seu amigo<br />

lhe contara.<br />

_ Claro que não! Só falei por falar! Vou buscar o cavalo. _<br />

retrucou, sem mostrar ver<strong>da</strong>deiramente seus sentimentos.<br />

Valentim percebeu que a tal jovem sacudiu seu amigo de<br />

forma diferente.<br />

Álefe tentou disfarçar, mas, desde o instante em que<br />

encontrou a jovem guerreira, não tirava o pensamento<br />

dela. Ele não assimilava em sua mente que a bela era<br />

uma amazona, embora tão meiga na aparência.<br />

Saindo <strong>da</strong> Vila do Sol, cavalgaram rumo à Grande Mon-


tanha, pois era o caminho que o mapa <strong>da</strong>do pelo Arcanjo<br />

Rafael indicava.<br />

Numa planície perto <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> do local, Bilsã se reuniu<br />

com Kedáre e Guímel, aguar<strong>da</strong>ndo Ágata para subirem.<br />

Seus cavalos estavam a postos e com eles um grupo de quinze<br />

sol<strong>da</strong>dos, todos far<strong>da</strong>dos com armaduras, ca<strong>da</strong> um em<br />

montaria. Bilsã estava disfarçado com um capacete que lhe<br />

cobria o rosto, porque sabia que se fosse descoberto pela<br />

Corte de Plêiades, seria expulso do Reino de Alioth, o que<br />

não era seu desejo, uma vez que precisava de seu cargo para<br />

executar os planos de Juliano. Kedáre estava notoriamente<br />

impaciente com a demora <strong>da</strong> amazona, sua raiva e desejo<br />

por vingança contra Valentim eram grandes e aguar<strong>da</strong>va<br />

ansioso o reencontro.<br />

Finalmente, Ágata aparece imponente diante deles, monta<strong>da</strong><br />

em seu cavalo.<br />

_ Desculpem-me pela demora! Mas fiz uma pausa no caminho<br />

para colher estas flores, são tão lin<strong>da</strong>s! _ disse a moça<br />

com o pequeno ramo nas mãos ao descer do cavalo.<br />

_ O quê? Estamos numa missão importante que envolve<br />

nossas vi<strong>da</strong>s e você para na estra<strong>da</strong> para colher flores? _<br />

in<strong>da</strong>gou Kedáre em tom arrogante contra Ágata, que o<br />

apanhou pelo pescoço e o levantou do chão sem o menor<br />

esforço, ameaçando-o:<br />

_ Escute aqui seu moleque, quero que fique bem claro, que<br />

não faço parte <strong>da</strong> missão por você e nem pelo seu exército.<br />

Não tenho o menor desejo de me vingar de Valentim, só<br />

estou aqui pelo meu pai. _ disse nervosa, pois detestava<br />

cobranças. Em segui<strong>da</strong>, soltou-o no chão, dizendo apenas


com o olhar que não a importunasse mais. O rapaz se calou<br />

para não afrontar a moça e causar maiores transtornos. _<br />

Por onde começaremos Bilsã?<br />

_ Iremos com calma a partir de agora. Esta floresta é território<br />

de fa<strong>da</strong>s muito poderosas.<br />

_ E como faremos para atravessá-la? _ questionou Guímel.<br />

_ São poderosas, mas ingênuas! Esperam pelo eleito de Alcione<br />

e só permitirão que ele e Valentim atravessem. Como<br />

estamos na frente, faremos com que acreditem que somos<br />

o exército de Alioth abrindo caminho para eles. Sendo<br />

que, ao passarem os dois, as fa<strong>da</strong>s pensarão que são aliados<br />

de Juliano e os atacarão. _ explicou Bilsã sua embosca<strong>da</strong><br />

astuciosa.<br />

_ Seu plano é muito bom! _ comentou Ágata. _ Mas como<br />

sabe que estamos na frente deles?<br />

_ Um espião me disse que os viu a pouco na Vila do Sol,<br />

na taverna.<br />

Neste momento, Ágata abaixou a cabeça ao recor<strong>da</strong>r-se do<br />

jovem guerreiro, que alegou estar em uma missão importante.<br />

E exclamou consigo:<br />

_ Não pode ser!<br />

_ Disse algo? _ perguntou Bilsã, notando que ela falara<br />

algo em voz baixa.<br />

_ Na<strong>da</strong>, somente pensei alto! _ despistou, olhando para o<br />

lado. _ Vamos nos apressar, não temos muito tempo até<br />

que cheguem aqui, a Vila do Sol não está longe.


Partiram <strong>da</strong>li apressados para ganharem vantagem. Enquanto<br />

isso, no palácio de Alioth, Merope pediu para que<br />

chamassem Alcione, que rapi<strong>da</strong>mente, veio a seu encontro.<br />

Os dois se reuniram em secreto na sala do príncipe,<br />

que se mostrou aflito com a situação de Álefe e Valentim,<br />

uma vez que estavam sós contra Juliano:<br />

_ Mãe, eu estou preocupado! _ disse Merope numa expressão<br />

facial de aflição. _ Não sabemos até onde Juliano levará<br />

sua vingança. Não acha que por estarem sós, os rapazes<br />

correm perigo extremo?<br />

_ Acalme-se meu filho! _ respondeu Alcione em serena voz<br />

com as duas mãos juntas sobre o peito. _ Você realmente<br />

acha que eu e os Arcanjos enviaríamos os dois em missão<br />

totalmente sós e desprotegidos? Conheço bem meu irmão,<br />

sei do que é capaz. Também presumo o que pretende, mas<br />

confio no poder que está do nosso lado.<br />

_ As tropas de Alioth estão posiciona<strong>da</strong>s para entrar em<br />

ação a qualquer momento, caso seja necessário! _ comentou<br />

o príncipe ao aproximar-se <strong>da</strong> saca<strong>da</strong> <strong>da</strong> sala, para observar<br />

o lindo horizonte.<br />

_ Sim! Mas, enten<strong>da</strong> que isso é uma questão que vai além<br />

de nossos esforços. Os Arcanjos pediram que eu os enviasse<br />

sozinhos, com certeza existe um forte motivo para isso,<br />

que desconhecemos.<br />

_ Realmente, gostaria de sentir-me tranquilo como você.<br />

Mas minha preocupação aniquila minhas forças! _ exclamou<br />

Merope, que não demonstrava positivi<strong>da</strong>de.<br />

_ Então opte pela fé! _ sugeriu a rainha, aproximando-se<br />

do filho, colocando as mãos leves e acalentadoras em suas


costas, a fim de tranquilizá-lo. _ Escolha sentir-se esperançoso<br />

e creia que nossos irmãos Arcanjos estão com eles e<br />

que há muitos amigos conosco!<br />

Merope se sentiu um pouco melhor depois <strong>da</strong> conversa<br />

com a mãe. Ele a pediu que se possível fosse, permanecesse<br />

ali um pouco mais, para mantê-lo mais calmo.<br />

_ Já que está inseguro, posso animá-lo para que se fortaleça!<br />

_ A rainha levou o príncipe até o pátio exterior do palácio,<br />

onde havia uma fonte em meio a um pequeno jardim,<br />

próximo do portão principal, então lhe disse:<br />

_ O Arcanjo Miguel me ensinou uma coisa, que não devo<br />

mostrar a ninguém. Mas, esta situação me pede que assim<br />

o faça. Olhe fixamente para a fonte e pense nos rapazes,<br />

sinta a presença deles e então observe a água. Lembre-se<br />

de que, o sentimento que ativará a manifestação deve ser<br />

positivo, senão o resultado não aparece.<br />

Imediatamente, Merope olhou fixamente para água e manteve<br />

os pensamentos mais puros e nobres. Enquanto isso,<br />

Alcione passava levemente a mão sobre a fonte, até que<br />

surgiu em seu reflexo a imagem de Valentim e Álefe ao pé<br />

<strong>da</strong> montanha, próximos à floresta <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s. Então, o príncipe<br />

constatou que estavam a salvo:<br />

_ Fico muito aliviado agora que sei que estão bem! _ disse<br />

mais tranquilo. _ Mas, quando tornarei a vê-los?<br />

_ Sempre que desejar, uma vez que já sabe como fazer. Recor<strong>da</strong>ndo<br />

que, se suas emoções não forem positivas, nunca<br />

conseguirá! _ advertiu a rainha. Os dois permaneceram<br />

sentados perto <strong>da</strong> fonte por alguns instantes, para que o<br />

príncipe voltasse à sereni<strong>da</strong>de notória que possuía.


Capítulo 08 _ As fa<strong>da</strong>s<br />

Valentim e Álefe, como viu Merope através <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong><br />

fonte, estavam em frente à floresta <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s. Segundo o<br />

mapa, era por ali o caminho correto. Ao entrarem no local,<br />

não lhes sobreveio temor algum. Valentim sabia que as<br />

fa<strong>da</strong>s eram criaturas <strong>da</strong> paz e que ao saberem <strong>da</strong> presença<br />

deles, nunca apoiariam Juliano e seus planos contra o Reino<br />

de Alcione.<br />

A floresta era acolhedora, suas árvores altas e frondosas<br />

proporcionavam um ar mais puro. Borboletas e pássaros<br />

voavam de um lado para o outro e um agradável perfume<br />

de rosas exalava naquele lugar. Simplesmente a paz reinava<br />

ali.<br />

_ Como é tranquila esta floresta! _ exclamou Álefe admirado,<br />

enquanto caminhava entre a frondosa mata. _ Não se<br />

ouve nenhum ruído ou som que não seja amigável.<br />

_ É por causa <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s! Elas purificam a floresta com a<br />

energia bondosa que possuem. Proíbem todos os seres que<br />

não amam a paz de atravessarem-na. _ explicou Valentim.<br />

_ E elas são muito poderosas?<br />

_ Sim, elas são escolhi<strong>da</strong>s pelo Arcanjo Rafael para protegerem<br />

este lugar. Ele as deu autori<strong>da</strong>de para isso. Pelo<br />

que sei, ninguém que se atreveu a enfrentá-las sobreviveu. _<br />

disse Valentim ao mostrar que as guardiãs <strong>da</strong> floresta eram<br />

realmente muito poderosas.<br />

_ Tomara que nos reconheçam! Quem sabe até nos ajudem<br />

de alguma forma!


_ Álefe, ain<strong>da</strong> pensa naquela jovem que encontrou na Vila<br />

do Sol? _ in<strong>da</strong>gou Valentim.<br />

_ Por que pergunta isso? _ questionou Álefe, estranhando<br />

a curiosi<strong>da</strong>de do amigo.<br />

_ Por que desde a vila você está distraído. _ respondeu Valentim,<br />

ao revelar que percebera o ar distante do amigo e<br />

que o motivo, certamente seria a bela amazona.<br />

_ Sim eu penso, mas não entendo por que me chamou<br />

tanta atenção!<br />

_ Engraçado, a descrição que você me relatou, não me é<br />

estranha!<br />

_ Ela disse que estava em missão, como eu. Há mais alguém<br />

em Alioth envolvido na busca <strong>da</strong> Palma?<br />

_ Do reino do meu pai, não! _ afirmou Valentim. _ Somente<br />

o exército de Juliano, que eu saiba.<br />

_ Será que essa jovem está do lado dele? _ Álefe desconfiava<br />

e temia que aquela jovem fizesse parte do exército inimigo.<br />

_ É possível. _ após a resposta de Valentim. Álefe temeu<br />

ain<strong>da</strong> mais.<br />

Depois que an<strong>da</strong>ram por alguns minutos, aproximaram-<br />

-se de uma pequena cachoeira no meio <strong>da</strong> floresta, onde<br />

muitos animais bebiam de suas águas. Inúmeras borboletas<br />

preenchiam o ar numa expressão rica em cores e formas. A<br />

sensação de quietude e paz que o local transmitia era indescritível.<br />

Magia e perfeição eram as palavras que percorriam<br />

a mente de Álefe ao observar maravilhado o ambiente. A<br />

cascata fechava o caminho à frente deles, de modo que não


havia saí<strong>da</strong> a não ser voltar.<br />

_ Onde está a saí<strong>da</strong>? _ perguntou Álefe que não via caminho<br />

algum por nenhum dos lados.<br />

_ Não sei! Esta deveria ser a saí<strong>da</strong>, não havia outra trilha<br />

pela floresta! _ respondeu Valentim confuso com o que<br />

via.<br />

De repente, um doce canto percorreu o ar naquele momento<br />

e várias vozes se uniram num coro afinado. A água<br />

<strong>da</strong> cascata começou a brilhar como um cristal. As flores em<br />

volta soltavam no ar um pó iluminado. A cena era realmente<br />

bela de se presenciar e digna de fa<strong>da</strong>s do bem.<br />

Ao cessar <strong>da</strong> música, uma luz se materializou diante deles,<br />

na forma de três fa<strong>da</strong>s. To<strong>da</strong>s usavam coroas de flores nas<br />

cabeças. Suas vestes iam até os pés em tons claros de verde<br />

e branco. Possuíam longos e belos cabelos, sendo em tons<br />

diversos entre o dourado, amendoado e preto.<br />

A fa<strong>da</strong> que estava no meio, de cabelos amendoados, levantou<br />

a mão e nela apareceu uma palma doura<strong>da</strong>. Em segui<strong>da</strong>,<br />

apontou-a para eles:<br />

_ Por que tentam invadir nossa paz, oh servos <strong>da</strong>s trevas?<br />

_ perguntou, atirando uma energia luminosa de cor verde.<br />

Os rapazes se desviaram ao pular para o lado.<br />

_ Não somos servos do mal, por que nos atacou? _ questionou<br />

Valentim sem entender os motivos de tanta hostili<strong>da</strong>de.<br />

_ Por acaso não são enviados de Juliano? Não são os que<br />

tentam destruir os planos de nossos nobres Arcanjos? _


perguntou, já prepara<strong>da</strong> para atirar novamente contra eles.<br />

Sem hesitar, a fa<strong>da</strong> disparou a energia na direção de Álefe,<br />

que tentou se esquivar, no entanto, foi acertado de raspão,<br />

caindo ferido.<br />

_ Temos ordem para eliminar todos os invasores que intentam<br />

contra o prometido de Alcione. Disseram-nos a pouco<br />

que enviados do mal estavam a caminho. _ alertou a fa<strong>da</strong>.<br />

_ Quem lhes disse isso?_ questionou Valentim indignado,<br />

enquanto socorria Álefe que permanecia agachado.<br />

_ Enviados <strong>da</strong> milícia de Alioth, que escoltavam o prometido,<br />

disseram que estavam em missão de paz para proteger<br />

a palma. Alertaram-nos de dois intrusos, que chegariam<br />

logo. _ explicou.<br />

_ Isso é mentira! _ exclamou o guerreiro. _ Eu sou Valentim,<br />

o filho do príncipe Merope e este é Álefe, o prometido<br />

a quem se referem!<br />

_ Maldito! _ exclamou a fa<strong>da</strong> indigna<strong>da</strong> contra ele, pois<br />

acreditava que eram os ver<strong>da</strong>deiros inimigos. _ Eu, Esmeral<strong>da</strong>,<br />

líder <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> floresta, não te perdoarei pelas<br />

palavras infames.<br />

Ao lançar outra vez sua magia contra eles, percebendo que<br />

Álefe se via impossibilitado de reagir, Valentim se lançou<br />

na frente do amigo. O rapaz recebeu a carga energética e<br />

caiu ferido no chão. Tal atitude impressionou Esmeral<strong>da</strong>,<br />

que cessou o ataque.<br />

_ Valentim, você está bem? _ perguntou Álefe aflito em vê-<br />

-lo machucado.


_ Sim, mas acho que minha perna quebrou. _ respondeu,<br />

demonstrando muita dor.<br />

Esmeral<strong>da</strong> os observava atentamente, pois considerou estranha<br />

a atitude de Valentim, que recebera a investi<strong>da</strong> para<br />

proteger o companheiro.<br />

_ Esmeral<strong>da</strong>, por que interrompeu o ataque? Atire agora<br />

e acabe com isso! _ disse à fa<strong>da</strong> Minerva que estava a sua<br />

direita, e tinha os cabelos dourados.<br />

_ A ação dele me chamou a atenção, Minerva. Como podem<br />

seres corrompidos, que ameaçam o nosso Reino em<br />

Plêiades, terem atitudes nobres como esta, digna de um<br />

guerreiro <strong>da</strong> luz? _ questionou Esmeral<strong>da</strong> confusa.<br />

_ Porque não somos quem vocês pensam! _ disse o terráqueo<br />

em tom de indignação. _ Somos enviados de Alcione.<br />

Meu nome é Álefe e venho <strong>da</strong> Terra para encontrar a Palma<br />

Sagra<strong>da</strong>. Preciso salvar meu planeta e minha mãe, que<br />

necessita de cura. Aqueles que passaram antes de nós, eles<br />

sim, são seus ver<strong>da</strong>deiros inimigos.<br />

_ Insolente! _ exclamou a fa<strong>da</strong> Brisa, cujos cabelos escuros<br />

esvoaçavam-se ao vento. _ Como ousa proferir tal blasfêmia.<br />

Alega ser o enviado de nossa rainha, que trabalha em<br />

união com os sete Arcanjos protetores <strong>da</strong> constelação?<br />

_ Você tem como provar o que diz? _ perguntou Esmeral<strong>da</strong><br />

em busca de comprovação.<br />

_ Sim! _ respondeu o rapaz. _ Não foi o Arcanjo Rafael<br />

quem lhes conferiu poderes para protegerem a Montanha<br />

Sagra<strong>da</strong>?


_ Exatamente! Ele nos escolheu como parte dos guardiões<br />

deste local, onde está a Palma. _ explicou Esmeral<strong>da</strong>.<br />

_ Pois então, estive com Rafael e ele me abençoou com o<br />

dom <strong>da</strong> cura. Peço permissão para aplicar os fluidos desta<br />

dádiva em meu amigo e verão que a virtude é a mesma de<br />

vocês. Se não for, nos entregaremos para que nos matem<br />

aqui mesmo! _ sugeriu Álefe na tentativa de salvá-los.<br />

_ Tudo bem! _ concordou Esmeral<strong>da</strong>. _ Mas se sua virtude<br />

não for do Arcanjo, aqui mesmo será o seu fim. Brisa<br />

esten<strong>da</strong> sua palma contra eles. Assim que eu der a ordem,<br />

execute-os. Estamos esperando, pode começar!<br />

Álefe se agachou perto de Valentim, estava tenso, pois<br />

nunca havia usado o poder que o Arcanjo lhe conferira.<br />

Era sua única chance, não podia falhar, pois do contrário,<br />

morreria ali mesmo.<br />

_ Concentre-se Álefe, nutra bons sentimentos em seu coração<br />

e permita que a virtude flua. _ encorajou-o Valentim.<br />

Álefe com olhos fechados para concentrar-se, estendeu<br />

a mão no ferimento <strong>da</strong> perna de Valentim. Porém sem<br />

êxito, não manifestou a energia. O medo e a preocupação<br />

o impediam. Logo, a fa<strong>da</strong> Brisa, reunia sua magia na<br />

palma, pronta para atirar.<br />

_ Valentim eu não consigo! O que vou fazer? A virtude não<br />

se manifesta! _ exclamou aflito.<br />

_ Feche os olhos, com calma, pense em sua vi<strong>da</strong>, em sua<br />

jorna<strong>da</strong>... _ Valentim, começou a dizer-lhe coisas para que<br />

conseguisse se concentrar.


Uma luz intensa, semelhante a do Arcanjo, começou a brotar<br />

na mão de Álefe. Na medi<strong>da</strong> em que Valentim lhe recor<strong>da</strong>va<br />

<strong>da</strong>s coisas positivas, a energia se intensificava.<br />

As fa<strong>da</strong>s olharam espanta<strong>da</strong>s para o brilho <strong>da</strong> luz. Brisa<br />

não conseguia mais reunir seu poder na palma.<br />

_ Vamos Álefe! _ incentivou Valentim. _ Pense em seus<br />

amigos, em sua conquista como guerreiro, em sua mãe que<br />

te espera...<br />

Quando Valentim mencionou Lysa, que era o grande motivo<br />

do rapaz arriscar sua vi<strong>da</strong> em Alioth, a luz se tornou extremamente<br />

poderosa. Como um raio luminoso, penetrou<br />

na perna quebra<strong>da</strong> do filho de Merope, que se restituiu<br />

completamente. Impressionado, Álefe ficou boquiaberto.<br />

As fa<strong>da</strong>s, ao presenciarem este feito, ajoelharam-se diante<br />

deles, lançando suas palmas ao chão.<br />

_ Esta... É sem dúvi<strong>da</strong> a virtude de nosso amado Arcanjo<br />

Rafael! Perdoe-nos enviado de Alcione! _ suplicou Esmeral<strong>da</strong>.<br />

Valentim se apresentou totalmente sarado, sem nenhuma<br />

dor em seu corpo. Já de pé, olhou fixamente para elas e<br />

disse:<br />

_ Vocês atacaram dois aliados dos Arcanjos! Quase machucaram<br />

quem o seu Senhor abençoou. Feriram o filho do<br />

príncipe e neto <strong>da</strong> rainha. Têm consciência disso?<br />

_ Temos sim Valentim. É por isso que ofereço minha vi<strong>da</strong><br />

para que a tire sem pie<strong>da</strong>de. Fomos ingênuas e permitimos<br />

que os inimigos triunfassem. Ao atravessarem a floresta,<br />

ilesos. _ disse Esmeral<strong>da</strong> envergonha<strong>da</strong>.


_ Não queremos a vi<strong>da</strong> de vocês! _ disse Álefe, aproximando-se.<br />

_ Quem protegerá a floresta se morrerem?<br />

_ De alguma forma, recompensaremos vocês por terem nos<br />

perdoado. _ acrescentou Minerva.<br />

Valentim caminhou em direção às palmas estendi<strong>da</strong>s no<br />

chão. Apanhou-as com sutileza e imediatamente as entregou<br />

à Esmeral<strong>da</strong>:<br />

_ O importante é que defenderam com suas vi<strong>da</strong>s esta floresta.<br />

Isso é louvável! _ disse Valentim amigavelmente.<br />

As fa<strong>da</strong>s se levantaram felizes pelo perdão dos rapazes. Esmeral<strong>da</strong><br />

retirou uma pedra que estava presa em seus cabelos<br />

e a entregou a Álefe.<br />

_ Isto deve ficar com você que é o Prometido de Alcione. _<br />

disse ao depositar a pedra nas mãos do Eleito dos Arcanjos.<br />

_ Para que serve esta esmeral<strong>da</strong>? _ questionou.<br />

_ Ela é a chave para o que procuram! Leve e cuide muito<br />

bem dela. Na hora certa saberá usá-la. É um presente nosso<br />

como desculpas por termos lhes atacado. _ disse Esmeral<strong>da</strong>.<br />

_ Não se preocupem! Seus inimigos não estão em vantagem.<br />

Depois desta floresta começa o território dos duendes.<br />

Estes são muito inteligentes e não permitirão que eles<br />

atravessem facilmente. _ comentou Brisa.<br />

_ Continuaremos a velar pela floresta, mas lhes apoiaremos<br />

até a montanha. Aju<strong>da</strong>remos no que for possível e permitido<br />

a nós! Contudo, se foi Rafael quem vos escolheu, ele<br />

com certeza também os protegerá! _ acrescentou Minerva.


_ Somente, não temam <strong>da</strong>qui para frente, pois o medo se<br />

torna seu pior inimigo. _ aconselhou Esmeral<strong>da</strong>. _ Por favor,<br />

permita-nos contar-lhes nossa breve história. Sabemos<br />

que o tempo é curto, mas gostaríamos muito que soubessem<br />

quem somos e como chegamos até aqui.<br />

Naquele momento, Valentim não respondeu uma só palavra.<br />

Seu silêncio foi o consentimento à fa<strong>da</strong> que começou<br />

e falar:<br />

_ Desde pequenas, éramos distintas <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s pessoas.<br />

Sentíamos um desejo muito forte de servir no templo<br />

de nosso Amado Rafael e nossos pais, percebendo isso,<br />

nos apoiaram em nossa vocação. Passados alguns anos de<br />

estudos e dedicação, fomos recompensa<strong>da</strong>s com o privilégio<br />

de servir integralmente junto aos outros servos. Passamos<br />

a viver e dedicar nossos dias em trabalhos incessantes<br />

no templo e, quanto mais servíamos, mais sentíamos que<br />

era de fato, o nosso destino. Em pouco tempo, nosso empenho<br />

foi reconhecido por Rafael, que pessoalmente nos<br />

parabenizou e isso, foi um grande incentivo. Após alguns<br />

anos e prosseguindo em fideli<strong>da</strong>de à nossa escolha, soubemos<br />

<strong>da</strong>s ameaças de Juliano contra o Reino de Alcione.<br />

Foi quando o Arcanjo nos contou sobre a Palma, sobre<br />

o Espírito Sagrado e sobre a Montanha, onde estaria escondido<br />

o Elemento, que deveria ser encontrado apenas<br />

por este espírito. No entanto, os perigos e ameaças de Juliano<br />

tornavam-se ca<strong>da</strong> vez maiores e a Montanha Sagra<strong>da</strong><br />

necessitaria de maior proteção. Rafael solicitou nosso<br />

apoio, dizendo que aqueles que desejassem se dedicar ao<br />

trabalho de proteção deste lugar, se apresentassem a ele,<br />

tendo consciência de que, a partir do momento em que tal<br />

missão fosse assumi<strong>da</strong>, deveríamos abrir mão de qualquer


outro sonho ou propósito pessoal. Pois o trabalho exigiria<br />

completa entrega. Nesse instante, nenhum dos servos do<br />

templo, por mais fiel e dedicado que fosse se ofereceu. Mas<br />

eu, Esmeral<strong>da</strong>, aproximei-me do Senhor Rafael e disse: _<br />

Eu me ofereço de bom coração! _ Em segui<strong>da</strong> à minha atitude,<br />

Brisa e Minerva fizeram o mesmo. Rafael sorriu orgulhoso<br />

e nos abençoou, dizendo: _ Felizes são por terem escolhido<br />

humilde e amavelmente tal tarefa digna de apreciação <strong>da</strong> parte<br />

de todos os Arcanjos. A partir de hoje, vocês não serão mais reconheci<strong>da</strong>s<br />

como simples servas e sim, como minhas fa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> luz,<br />

responsáveis pela proteção <strong>da</strong> base <strong>da</strong> Montanha Sagra<strong>da</strong>.<br />

_ Que lin<strong>da</strong> história! _ exclamou Álefe profun<strong>da</strong>mente admirado.<br />

_ Depois disso, vocês vieram para cá?<br />

_ Sim. _ prosseguiu Esmeral<strong>da</strong>. _ Retornamos às nossas<br />

famílias, contamos-lhes tudo. Por incrível que pareça, orgulharam-se<br />

de nós. Recebemos seu amor e apoio e partimos<br />

rumo à Grande Montanha. Aqui, em sua base, recebemos<br />

<strong>da</strong>s mãos do próprio Rafael, essas palmas que nos conferiram<br />

o poder para guar<strong>da</strong>r a floresta de qualquer invasor.<br />

Neste dia, ele nos orientou dizendo: _ A vocês, concedo o poder<br />

de proteger esta floresta e torná-la vosso reino encantado! Tudo<br />

que for vivo neste lugar vos serão como servos. Os animais que<br />

aqui entrarem, sentirão paz e serão protegidos. Nenhuma chaga<br />

ou doença permanecerá em algum deles após cruzarem a fronteira<br />

deste local. Peço-lhes que permitam apenas que o espírito sagrado,<br />

enviado pelos Arcanjos e seu fiel protetor, atravesse vosso reino em<br />

segurança, quando for o momento. Ele precisará de vosso apoio<br />

para cumprir o que lhe é destinado. _ Após concluir a eluci<strong>da</strong>ção,<br />

Rafael se ausentou e desde então, estamos aqui ao seu<br />

serviço!


_ Agradecemos pelas instruções e por ter nos contado essa<br />

lin<strong>da</strong> história! Agora, compreendo visceralmente o porquê<br />

de tamanha determinação em defender este lugar, quando<br />

aqui chegamos. Bem, é hora de partirmos! _ disse Valentim.<br />

_ Vão! E não se esqueça, Álefe, as coisas podem não ser o<br />

que parecem! _ orientou novamente Esmeral<strong>da</strong> de forma<br />

enigmática.<br />

_ O que quis dizer com isso? _ sem entender o que a fa<strong>da</strong><br />

disse, questionou.<br />

_ Você saberá no momento certo! _ respondeu sem entrar<br />

em detalhes.<br />

Esmeral<strong>da</strong> estendeu sua palma em direção à cascata, que<br />

desapareceu num piscar de olhos, tornando visível o caminho<br />

<strong>da</strong> saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> Floresta.<br />

_ Sigam em paz e que Rafael os acompanhe! _ disse a líder<br />

<strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s. Em segui<strong>da</strong>, desapareceu com suas companheiras.<br />

Os jovens guerreiros partiram com seus cavalos em direção<br />

ao bosque dos duendes, que já se mostrava visível <strong>da</strong>li. A<br />

estrela Merope, o Sol do planeta estava para se por. Que<br />

surpresas ou perigos os aguar<strong>da</strong>vam ain<strong>da</strong>?


Capitulo 09 _ A história de Merope<br />

A caminho do bosque dos duendes, Álefe estava pensativo<br />

a respeito <strong>da</strong> pedra esmeral<strong>da</strong> que ganhara <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s.<br />

Questionava-se sobre seu papel na busca pelo Elemento.<br />

Ao mesmo tempo, lembrava-se <strong>da</strong> jovem guerreira com<br />

quem se encontrou na Vila do Sol. Não conseguia tirá-la<br />

<strong>da</strong> cabeça. De igual modo, a guerreira Ágata, também mantinha<br />

seus pensamentos no rapaz.<br />

No palácio de Alioth, Merope e a Rainha Alcione conversavam<br />

no jardim interior. O príncipe estava com a intenção<br />

de ir atrás de Valentim a todo o custo. A milícia de Alioth<br />

o acompanharia caso houvesse algum contratempo. No entanto,<br />

sua mãe o deteve:<br />

_ Merope, já conversamos a respeito disso. Deve confiar<br />

em seu filho! Como vimos, a passagem deles pela floresta<br />

<strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s terminou bem. Estão seguros e Esmeral<strong>da</strong> os<br />

advertiu a respeito dos perigos que os aguar<strong>da</strong>m. As fa<strong>da</strong>s<br />

também prometeram que apoiarão os dois em sua jorna<strong>da</strong><br />

rumo ao pico <strong>da</strong> montanha. _ orientava Alcione ao filho,<br />

enquanto observavam as águas movimenta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> bela fonte<br />

do jardim, de onde avistaram os jovens guerreiros sob a<br />

magia ensina<strong>da</strong> por Miguel.<br />

_ Eu sei mãe! _ exclamou Merope um tanto quanto angustiado,<br />

esfregando levemente o rosto com as duas mãos<br />

em notória ansie<strong>da</strong>de _ Mas, desejo fazer algo, não apenas<br />

aguar<strong>da</strong>r notícias. O que os Arcanjos pensarão? Não sou eu<br />

o príncipe de Alioth?<br />

_ Sim, você é. E sempre será, enquanto quiser! Acontece<br />

que são ordens de nossos superiores que fiquemos quietos.


Se desejam assim, certamente sabem que só atrapalharemos...<br />

_ Alcione calou-se por um instante, ao lembrar-se<br />

<strong>da</strong> história de Merope, juntos recor<strong>da</strong>ram. _ Isso tudo me<br />

remete a sua infância! Era tão valente quanto seu filho! Colocamos<br />

o nome dele de Valentim em homenagem a você.<br />

E sabe bem o motivo! Quando era pequeno, você dizia que<br />

seu sonho era guerrear a favor de Alioth. Cobiçava tornar-<br />

-se o guerreiro de quem o Arcanjo Miguel se orgulharia<br />

muito. Treinou vários anos como Valentim, transformando-se<br />

num exímio sol<strong>da</strong>do. Porém, quando a ameaça de<br />

Juliano se manifestou e Rafael te nomeou príncipe para<br />

maior segurança de Alioth, já que entre todos, você era o<br />

mais capacitado. Sabe bem o que aconteceu...<br />

_ Daí nasceu à ira de Bilsã, que desejava tanto quanto eu<br />

ser o melhor! Contudo, eu conquistei o posto de príncipe,<br />

deixando-o furioso. _ comentou Merope com amargas lembranças<br />

<strong>da</strong> rixa com o rival.<br />

_ Sabe o que ele nunca aceitou? A repetição <strong>da</strong> história,<br />

onde Valentim seguiu de perto seus passos. Derrotou os<br />

filhos dele, tornando-se o chefe <strong>da</strong> milícia do palácio. _<br />

prosseguiu Alcione ao recor<strong>da</strong>r os acontecimentos do passado,<br />

enquanto observava o pouso dos pássaros nas flores<br />

do jardim.<br />

_ É ver<strong>da</strong>de! _ exclamou Merope surpreso, pois nunca havia<br />

se <strong>da</strong>do conta de que a rixa do filho com Kedáre e Guímel<br />

ocorrera <strong>da</strong> mesma forma que a sua com Bilsã. _ Sabe<br />

que nunca vi por esse ângulo?<br />

_ Seu sonho era tornar-se o chefe <strong>da</strong> guar<strong>da</strong>. Desejo esse<br />

que não foi possível realizar-se, devido a sua escolha em<br />

assumir o posto de príncipe. Mas, seu filho herdou seu san-


gue de guerreiro e supera-se como líder <strong>da</strong> milícia a ca<strong>da</strong><br />

dia. _ acrescentou a rainha com um sorriso de satisfação<br />

pelo talentoso neto.<br />

_ Sim, Valentim é um excelente guerreiro. _ afirmou o<br />

príncipe, que sempre se orgulhou muito do filho em todos<br />

os aspectos. _ Mas, porque Bilsã ficou irado conosco?<br />

_ Não se lembra? Houve também uma batalha para escolher<br />

o chefe <strong>da</strong> milícia de Alioth, <strong>da</strong> qual você participou<br />

e o derrotou! No momento de receber o cinturão de chefe,<br />

os Arcanjos lhe ofereceram o cargo de príncipe.<br />

_ É mesmo! Que ironia do destino, Valentim concluiu<br />

meu legado!<br />

_ Está na alma Merope! _ exclamou Alcione. _ Ele tem o<br />

mesmo senso de justiça e determinação que corre em suas<br />

veias. Tornou-se um guerreiro tão fantástico quanto você<br />

se tornaria, se desse prosseguimento a sua carreira. Desde<br />

então, Bilsã sentiu-se injustiçado pelo governo, por você e<br />

Valentim serem <strong>da</strong> realeza. Então decidiu apoiar Juliano,<br />

que naquela época já armava planos contra nós.<br />

_ Lembro-me bem disso mãe! Logo depois <strong>da</strong> sua eleição<br />

como rainha, ele se revoltou, sempre demonstrava sua indignação<br />

contra nós. Dois anos mais tarde, tornei-me príncipe,<br />

então a fúria de Bilsã tomou proporções gigantescas.<br />

_ mencionou o príncipe.<br />

_ Tivemos então que correr contra o tempo! Miguel se reuniu<br />

com os outros Arcanjos para enviar o Espírito Sagrado<br />

a Terra. Este nasceu no corpo de Álefe e graças a eles, está<br />

aqui agora e cumpri sua missão! Com certeza, sabiam que<br />

tais mu<strong>da</strong>nças ocorreriam nesta época, por isso, planeja-


am os acontecimentos de forma tão perfeita!<br />

_ Por que, desde então, Juliano se recolheu? _ questionou<br />

Merope. _ Parece que está ausente e não tem mais o mesmo<br />

ódio!<br />

_ Pura impressão! _ garantiu a rainha, olhando profun<strong>da</strong>mente<br />

para as águas <strong>da</strong> fonte. _ Ele está mais irado do que<br />

nunca, uma vez que sabe que Álefe está aqui. Juliano é<br />

covarde, usa a filha para que execute sua vingança. Com<br />

ilusões maquiavélicas a coloca contra nós, para que pense<br />

que somos opositores <strong>da</strong> ascensão. Que desejamos os Elementos<br />

apenas para que eu tome posse <strong>da</strong> Terra e a governe<br />

a meu bel prazer. Quando na ver<strong>da</strong>de, este desejo é único e<br />

exclusivo de Juliano. Os Arcanjos o castigaram com a sentença<br />

de não circular por aí, livre e desimpedido. E por<br />

isso, agora age às escuras.<br />

_ Quais serão seus planos contra nós? _ perguntou Merope<br />

preocupado com as intenções de Juliano.<br />

_ Não sei bem! Mas, com certeza, ostenta intenções assombrosas!<br />

_ exclamou a rainha, balançando a cabeça.<br />

Novamente, no estranho e escuro palácio em forma de prisão,<br />

estava Kalanta, a estranha mulher que falava com a<br />

sombra maligna de Juliano. Os dois caminhavam juntos<br />

até um calabouço cheio de corredores, ali havia gritos de<br />

dor e desespero.<br />

Enquanto an<strong>da</strong>vam pela galeria de celas, insultos eram proferidos<br />

a eles pelos prisioneiros, imediatamente açoitados<br />

por sol<strong>da</strong>dos que lá trabalhavam.<br />

Os dois pararam diante de uma prisão especial, feita de um material mais re-


sistente, contendo uma energia em volta dos ferros, como se quisessem conter<br />

alguém de grande poder.<br />

_ Ele está seguro aqui senhor Juliano? _ perguntou Kalanta,<br />

enquanto observava a resistência <strong>da</strong>s grades.<br />

_ Sim, está além <strong>da</strong>s forças dele sair desta cela! Deixarei<br />

que fique aqui para que não me atrapalhe, depois vejo o<br />

que faço com esse indivíduo.<br />

_ O que pretende fazer se já o mantém em seu poder? Ambiciona<br />

matá-lo? _ novamente, Kalanta questionou sobre o<br />

destino do tal prisioneiro um pouco apreensiva.<br />

_ Por que me diz isso assusta<strong>da</strong>, Kalanta? Até parece que<br />

nunca matou alguém! _ exclamou Juliano revelando o real<br />

caráter <strong>da</strong> mulher. _ É conheci<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> a constelação<br />

como a Rainha do Mal e foi expulsa de todos os governos<br />

por ser perversa! Traiu todos os líderes, rebelou-se contra<br />

os Arcanjos, sequestrou muitos e os mantém presos aqui,<br />

apenas por mal<strong>da</strong>de e ain<strong>da</strong> me apoia na vingança contra<br />

Alcione. Não entendo seu espanto!<br />

_ Não me espanto! Porém, executá-lo será difícil! É muito<br />

amado por todos e pelos Arcanjos, principalmente por Miguel<br />

o príncipe deles, que certamente já sabe o paradeiro<br />

de seu súdito. Você não o teme? _ seguiu Kalanta com suas<br />

perguntas, pois embora sendo má, não compreendia como<br />

Juliano afrontava os Arcanjos sem demonstrar nenhum<br />

medo.<br />

_ Não! Nunca temi. _ respondeu em tom firme. _ É exatamente<br />

por isso que mantenho seu servo aqui. Para afrontar<br />

este que chamam de Príncipe dos Arcanjos, pelo injusto<br />

modo como sempre me tratou! Nunca reconheceu minhas


habili<strong>da</strong>des! Eu era seu guerreiro fiel e não fui aprovado<br />

como tal, como Alcione e seus filhos foram.<br />

_ Entendo sua ira. Mas, com todo o poder que possuo,<br />

jamais ousaria desafiá-lo! Estive diante dele uma vez e temi<br />

somente ao olhar em seus olhos. Foi à única vez em que<br />

me encontrei com ele, depois, nunca mais voltei ao Palácio<br />

Real de Alcione. _ comentou Kalanta.<br />

_ E como foi seu encontro com o Príncipe dos Arcanjos? _<br />

perguntou Juliano, interessado na história.<br />

_ Eu me lembro como se fosse hoje: Foi justamente na<br />

reunião que elegeria o novo governante de Plêiades. Estavam<br />

todos <strong>da</strong> Corte de to<strong>da</strong>s as estrelas principais. Eu<br />

apareci disfarça<strong>da</strong>, de modo que ninguém me reconheceu.<br />

Nessa época eu já era exila<strong>da</strong> <strong>da</strong> Corte. A ansie<strong>da</strong>de tomava<br />

conta dos presentes, sendo notório na face de ca<strong>da</strong><br />

um. Caminhei pelos corredores do palácio na forma física<br />

de um dos convi<strong>da</strong>dos que tinha capturado. Calmamente,<br />

me dirigi ao grande salão central onde aconteciam to<strong>da</strong>s as<br />

principais cerimônias e reuniões. Acomodei-me e observei<br />

tudo atentamente, você estava lá com sua roupa de luta,<br />

crente que seria eleito. Alcione permanecia ao seu lado,<br />

vesti<strong>da</strong> como sempre, de maneira nobre e arrogante, como<br />

se nos convencesse com aquele seu ar de bondosa! Todos<br />

se puseram em seus devidos lugares. Os anjos tocaram as<br />

trombetas e os Arcanjos chegaram. Materializaram-se ca<strong>da</strong><br />

um no seu trono acima de todos, Miguel apareceu no meio<br />

deles, sendo o diligente <strong>da</strong>quele ridículo espetáculo. Logo,<br />

elegeram Alcione como rainha. Observei estampado em<br />

seu rosto, nobre senhor, a ira e a indignação. Então, saiu<br />

imediatamente do local frustrado com a notícia de sua


derrota. Quando o encontrei nos corredores, jurei fideli<strong>da</strong>de<br />

à sua vingança, por discor<strong>da</strong>r <strong>da</strong>quela decisão infame.<br />

Depois você partiu. Eu permaneci ali, mesmo disfarça<strong>da</strong>,<br />

quando finalmente, Miguel desceu pelas esca<strong>da</strong>s. Eu estava<br />

só e ele acompanhado de dois de seus anjos, seu ar era de<br />

imponência e majestade. Não tive para onde me esquivar<br />

de sua presença, nem podia desconcertar-me para não ser<br />

reconheci<strong>da</strong>. Logo que passou próximo a mim, olhou-me,<br />

e numa fração de segundos notei seu poder. Senti-me fraca<br />

diante de sua força, parecia saber quem eu era. O Arcanjo<br />

me olhou profun<strong>da</strong>mente por poucos segundos. Antes que<br />

eu me movesse, ele desapareceu num ligeiro raio azul, que<br />

iluminou todo o corredor. _ relatou Kalanta.<br />

_ Então você temeu? _ questionou Juliano surpreso ao saber<br />

que Kalanta receou alguém.<br />

_ Sim! _ respondeu convicta. _ Ele sabia minha identi<strong>da</strong>de<br />

e minhas pretensões. Não entendo por que não me prendeu!<br />

_ Porque ele é um covarde! _ exclamou Juliano com a voz<br />

altera<strong>da</strong>. _ Como todos os que reinam com ele, são uns<br />

inúteis. Por isso estamos aqui e provaremos a incompetência<br />

desses seres angélicos. Tirarei ca<strong>da</strong> um do trono. Vencerei<br />

o poder <strong>da</strong> divin<strong>da</strong>de e reinarei em Plêiades e na Terra!<br />

_ Vá com calma! Não será tão fácil! Faremos as coisas aos<br />

poucos. Seremos sorrateiros e tranquilos. Agiremos como<br />

sempre, às escuras. E antes que imaginem, conseguiremos<br />

tudo. Não cometeremos o disparate de enfrentar os Arcanjos<br />

de frente!<br />

_ Mas antes, Ágata precisa impedir que peguem a Palma Sa-


gra<strong>da</strong>. Ela deve trazê-la para mim. Então, tudo ficará mais<br />

fácil! _ disse Juliano, erguendo o punho direito e fechando<br />

a mão em sinal de ódio.<br />

_ Reconheço que sua filha é muito forte e prepara<strong>da</strong>. Porém,<br />

algo naquele jovem rapaz escolhido de Alcione me<br />

intriga. Ele mexe comigo. Reportar-me a um sentimento<br />

parecido com o que vivenciei ao deparar-me com Miguel.<br />

Ain<strong>da</strong> descobrirei o que é. _ acrescentou Kalanta que chamou<br />

a atenção de Juliano pelo comentário.<br />

_ Antes que você descubra do que se trata, pretendo destruí-lo<br />

junto com seu amigo!<br />

_ Acaso sabe de algo que ain<strong>da</strong> não sei?<br />

_ Sei mais do que você imagina! _ exclamou Juliano. _ Tenho<br />

razões muito convincentes para aniquilar o reino de<br />

Alcione o mais depressa possível.


Capítulo 10 _ O Jardim <strong>da</strong>s Ilusões<br />

Seguindo caminho, Ágata e seus companheiros entraram<br />

num lindo jardim, onde havia uma pequena estra<strong>da</strong> cerca<strong>da</strong><br />

com flores de to<strong>da</strong>s as cores formando um belo trajeto<br />

para a subi<strong>da</strong> <strong>da</strong> montanha, onde muitos pássaros de cores<br />

e formatos bastante distintos dos <strong>da</strong> Terra, sobrevoavam.<br />

Seguiram em fila, subindo com seus cavalos e caminharam<br />

até um portãozinho de madeira que fechava a estra<strong>da</strong>. Havia<br />

uma plaquinha no pequeno portão que dizia: “Bem vindo<br />

ao jardim dos duendes, onde a ilusão se materializa”:<br />

_ O quê significa isso?_ questionou Kedáre.<br />

_ Pelos conhecimentos que tenho, este jardim manifesta<br />

todos os nossos medos, tornando-os reais. Trata-se de uma<br />

história, que não sei se é verídica, pois, jamais vim até aqui.<br />

_ respondeu Bilsã.<br />

_ Eu também conheço bem pouco a respeito deste lugar,<br />

mas se é este o caminho, então devemos atravessar. Somente<br />

se esforcem para não sentir ou pensar naquilo que lhes<br />

provoca medo, uma vez que não se sabe se essa história é<br />

real ou não. _ acrescentou Ágata a fim de orientar o grupo.<br />

Abriram o portãozinho e todos entraram devagar pelo jardim<br />

tão harmonioso que fazia com que se sentissem ca<strong>da</strong><br />

vez mais à vontade. Os cavalos pastavam as lin<strong>da</strong>s rosas<br />

enquanto an<strong>da</strong>vam e o brilho <strong>da</strong> estrela Merope refletia<br />

seus raios de forma bran<strong>da</strong> sobre eles. Bem próximo ao<br />

grupo estava uma nascente de água cristalina. Os sol<strong>da</strong>dos,<br />

acompanhados de Guímel, beberam e encheram seus recipientes<br />

para levar ao resto, que permanecia atento a ca<strong>da</strong><br />

movimento ou barulho no belo e suspeito jardim.


Dois sol<strong>da</strong>dos mataram a sede primeiro, sendo que um deles<br />

até jogou a água em seu corpo, dizendo ao companheiro:<br />

_ Este jardim é muito calmo! Deve ter algum animal feroz<br />

por aqui, é melhor ficarmos perceptivos!<br />

E nesse exato momento, uma fera saiu dentre os arbustos.<br />

Tinha a aparência de um leão, porém, bem maior. Possuía<br />

dentes enormes, cau<strong>da</strong> de dragão e também dois chifres<br />

ameaçadores. Eles temeram muito a criatura que ferozmente<br />

matou-os sem que houvesse tempo para reagirem.<br />

Guímel ficou espantado e sem reação diante <strong>da</strong> fera que<br />

matara os dois sol<strong>da</strong>dos à sua frente. Bilsã e os outros ouviram<br />

os gritos e correram para ajudá-los. Ao se aproximarem,<br />

viram a besta diante de Guímel que desembainhou<br />

a espa<strong>da</strong> na tentativa de golpeá-la, no entanto, a criatura,<br />

num ataque rápido o acertou com a pata, lançando-o para<br />

longe. Kedáre saltou sobre ela, golpeando-a nas costas com<br />

a espa<strong>da</strong>. Ferido, o monstro com aparência de leão deu um<br />

rugido tão forte, que o arremessou para o alto, porém, o<br />

rapaz conseguiu se segurar numa árvore. Bilsã, vendo que<br />

seus filhos lutavam arduamente, pediu a Ágata que interferisse:<br />

_ Desculpe-me, mas não matarei este animal, seus filhos<br />

precisam enfrentá-lo! Valentim é mais forte do que esta<br />

fera! _ respondeu a amazona, que apenas observava a luta<br />

tranquilamente.<br />

Bilsã se indignou com a resposta de Ágata ordenando aos<br />

sol<strong>da</strong>dos que atacassem a fera, que ficava mais brava a ca<strong>da</strong><br />

vez que era ataca<strong>da</strong>. Guímel aproveitou a distração <strong>da</strong> cria-


tura com os sol<strong>da</strong>dos e lhe golpeou a cal<strong>da</strong>. A besta virou-se<br />

rugindo novamente em sua direção, num urro ain<strong>da</strong> mais<br />

intenso que o lançou contra a uma rocha e por sorte, ele<br />

cravou a espa<strong>da</strong> no chão, o que fez com que não se chocasse<br />

contra a mesma.<br />

Kedáre desceu <strong>da</strong> árvore e girou pelo ar, lançando uma<br />

a<strong>da</strong>ga que acertou a fera na fronte, que ficou tonta. Guímel<br />

aproveitou a deixa, cravando a espa<strong>da</strong> no coração <strong>da</strong> criatura,<br />

que finalmente, tombou sem vi<strong>da</strong>.<br />

_ Este monstro matou dois de nossos sol<strong>da</strong>dos e quase que<br />

nos matou também! Sigamos logo o caminho! E procurem<br />

não pensar em na<strong>da</strong> que lhes provoque medo. _ alertou<br />

Bilsã tenso com o estranho poder <strong>da</strong>quele jardim.<br />

_ Então era ver<strong>da</strong>de a len<strong>da</strong> sobre este jardim! _ exclamou<br />

Kedáre embainhando sua espa<strong>da</strong> na cintura após matar a<br />

fera junto com Guímel.<br />

_ Realmente! _ concordou Ágata convenci<strong>da</strong>. _ Ninguém<br />

nunca avistou um dos duendes deste lugar, por isso a história<br />

do “jardim <strong>da</strong>s ilusões” sempre foi questiona<strong>da</strong> por<br />

todos. Contudo, vimos de perto que não se tratava apenas<br />

de len<strong>da</strong>s.<br />

De na<strong>da</strong> adiantou o advertência de Bilsã, os sol<strong>da</strong>dos que<br />

com eles estavam ficaram ain<strong>da</strong> mais temerosos, imaginando<br />

as piores coisas. Estavam todos atônitos e atentos ao<br />

mesmo tempo, pois não faziam ideia do que poderia se manifestar<br />

diante deles e para piorar, a estrela Merope estava<br />

para se pôr.<br />

Bilsã ficou preocupado com o estado psicológico de seu<br />

exército, uma vez que estavam apavorados e deste sentimen-


to, poderiam brotar feras ain<strong>da</strong> piores do que a primeira.<br />

De repente, os cavalos pararam subitamente e começaram<br />

a recuar e empinar, relinchando em grande desespero, lançando<br />

ao chão os que estavam montados sobre eles.<br />

_ O que está acontecendo com os cavalos? _ perguntou<br />

Kedáre após ter caído.<br />

_ Não sei! Parece que entraram em desespero! _ respondeu<br />

Ágata que também havia caído sem compreender na<strong>da</strong>.<br />

_ Eles estavam pastando as rosas do jardim, será que tem<br />

algo a ver com isso? _ questionou Guímel.<br />

_ É possível! Tudo aqui parece estar enfeitiçado! _ exclamou<br />

a amazona, tensa com o ocorrido.<br />

Ain<strong>da</strong> falavam quando os cavalos dispararam em corri<strong>da</strong><br />

embrenhando-se numa floresta que ficava próxima ao jardim.<br />

Todos ficaram assustados e se levantaram imediatamente<br />

desembainhando as espa<strong>da</strong>s em posição de combate,<br />

pois não faziam ideia do que poderia lhes sobrevir. Bem<br />

próximos <strong>da</strong>li, estavam Álefe e Valentim, que ao ouvirem<br />

os relinchos ficaram espantados.<br />

_ O que foi isso? _ perguntou Álefe.<br />

_ Parece som de cavalos quando estão com medo, mas o<br />

que será que aconteceu? _ questionou Valentim a respeito<br />

<strong>da</strong>quele suspeito e forte barulho.<br />

_ Veja nesta placa Valentim, está escrito: “Jardim dos duendes”,<br />

deve ter algo a ver com isso! _ observou Álefe.<br />

_ Sim, meu pai havia me advertido a respeito do jardim dos


duendes. Disse-me que todos os nossos medos se tornam<br />

reais aqui. Os sol<strong>da</strong>dos de Juliano devem estar passando<br />

por muitas provações neste lugar.<br />

_ Neste caso, devemos tomar muito cui<strong>da</strong>do com aquilo<br />

que pensamos! Se nossos pensamentos gerarem uma emoção<br />

de medo ou até mesmo insegurança, se manifestarão!<br />

_ É ver<strong>da</strong>de! E se eles não sabem dessa possibili<strong>da</strong>de, dificilmente<br />

sairão vivos! _ exclamou Valentim conhecendo a<br />

história real <strong>da</strong>quele local.<br />

_ O que você sabe, além disso? _ perguntou Álefe a fim de<br />

tomar mais conhecimento a respeito do perigoso jardim.<br />

_ Sei que este local é protegido por duendes! Não só meu<br />

pai havia me dito, como também me relatou Havén, há<br />

muito tempo. Conta-se em todo o planeta Alioth que o poder<br />

que os duendes possuem é tremendo! Podem trabalhar<br />

com as emoções emiti<strong>da</strong>s por aqueles que an<strong>da</strong>m em seu<br />

território. Havén me explicou que o Arcanjo Rafael concedeu<br />

o direito aos duendes de proteger a Palma usando seus<br />

grandes poderes. Ninguém jamais os viu, nem mesmo meu<br />

pai. Havén foi o único que esteve com um deles, contudo,<br />

sempre se negou a falar sobre o assunto.<br />

Após conversarem sobre o temido jardim, entraram pelo<br />

pequeno portão do mesmo.<br />

Enquanto isso, os guerreiros de Bilsã viram-se cercados de<br />

perigos por todos os lados, mesmo assim, decidiram continuar<br />

por aquele árduo caminho.<br />

_ De na<strong>da</strong> vai adiantar ficarmos aqui, temos que seguir<br />

em frente e atravessar o jardim antes que seja tarde para


todos nós. _ disse Bilsã que embora estivesse no comando<br />

de todo o grupo, não conseguia ficar calmo diante de infindáveis<br />

perigos que poderiam se manifestar ali.<br />

_ O que faremos para sair <strong>da</strong>qui, se, somos atacados por<br />

coisas que desconhecemos? _ perguntou Kedáre, enquanto<br />

mantinha os olhos atentos a qualquer movimento estranho.<br />

_ São frutos de seus próprios medos, a única maneira é<br />

enfrentá-los. _ aconselhou Ágata que an<strong>da</strong>va com cautela.<br />

Caminhavam lentamente quando um forte vento soprou<br />

sobre eles. E rapi<strong>da</strong>mente, a ventania ganhou força, tornando-se<br />

um furacão. O forte ven<strong>da</strong>val lançou alguns sol<strong>da</strong>dos<br />

para o alto, porém, conseguiram se segurar nas árvores. Em<br />

segui<strong>da</strong>, estranha e repentinamente, o vento cessou.<br />

Um grande silêncio rompeu a floresta e um som sinistro,<br />

porém familiar, vinha dos arbustos em direção a eles. Ágata<br />

virou-se em direção à densa vegetação e exclamou temerosa:<br />

_ Não pode ser! São cobras!<br />

De repente, serpentes venenosas começaram a surgir do<br />

meio <strong>da</strong>s plantas atacando-os. Três dos sol<strong>da</strong>dos foram picados<br />

e imediatamente seus corpos se secaram até virar pó<br />

diante de todos, deixando o grupo ain<strong>da</strong> mais nervoso.<br />

Sem saí<strong>da</strong>, começaram a combater as víboras que se multiplicavam<br />

a ca<strong>da</strong> vez que eram golpea<strong>da</strong>s. Bilsã usou suas<br />

poderosas grana<strong>da</strong>s na tentativa de eliminá-las e Kedáre,<br />

as atacava com as velozes estrelas de ferro. No entanto, as<br />

cobras que não paravam de sair dos arbustos, vinham ca<strong>da</strong>


vez maiores, na medi<strong>da</strong> em que o pânico de todos crescia.<br />

_ Se ficarmos aqui morreremos! De na<strong>da</strong> adianta lutar contra<br />

elas! Irão nos vencer pelo cansaço! Vamos tentar sair<br />

<strong>da</strong>qui! _ exclamou Ágata aflita em meio àquelas terríveis<br />

víboras.<br />

Ágata decidiu avançar e atacar as serpentes, numa última<br />

tentativa de fugir com vi<strong>da</strong>. Pois havia um som muito<br />

forte de água corrente logo à frente, o que indicava uma<br />

possível ponte bem próxima. Bilsã abriu um caminho<br />

entre as cobras com suas grana<strong>da</strong>s e todos aproveitaram<br />

a deixa, correndo em direção à ponte.<br />

Bilsã e seus sol<strong>da</strong>dos pararam diante <strong>da</strong> ponte e estavam<br />

em número bem menor. Grande parte dos sol<strong>da</strong>dos havia<br />

morrido pelo ataque <strong>da</strong>s serpentes, restando somente sete.<br />

Quando visualizaram a ponte, perceberam que estava entre<br />

duas que<strong>da</strong>s d’água semelhantes a cataratas. O barulho<br />

era ensurdecedor e a força <strong>da</strong>s águas também, sendo que<br />

a ponte claramente frágil balançava com os ventos que as<br />

que<strong>da</strong>s provocavam.<br />

_ Esta ponte parece bem frágil. As cataratas são muito fortes<br />

e próximas demais dela. _ disse Bilsã observando o local.<br />

_ Vamos atravessar bem devagar, um atrás do outro.<br />

Embora seja mais perigoso, é a única maneira de não ficarmos<br />

desprotegidos.<br />

_ Então vamos! Kedáre vá à frente! Eu vou logo atrás. Bilsã<br />

e Guímel ficam com os sol<strong>da</strong>dos e atravessam com eles. _<br />

orientou Ágata organizando o grupo para a travessia.<br />

E assim foi, iniciaram a travessia <strong>da</strong> ponte cautelosamente.<br />

A força <strong>da</strong>s cataratas era tão grande que parecia chover so-


e todos. A água que os ventos provocados pelas que<strong>da</strong>s<br />

lançavam sobre eles era como de uma tempestade. Quando<br />

olharam para trás, perceberam que as serpentes os seguiam<br />

e ficaram desesperados:<br />

_ Andem rápido! As cobras estão logo atrás de nós! _ exclamou<br />

Guímel apavorado com a aproximação <strong>da</strong>s víboras.<br />

_ Estamos tentando! Mas a ponte é muito trêmula. _ disse<br />

Kedáre em resposta, caminhando lentamente sobre a ponte.<br />

Não bastando às serpentes, bem próximo deles havia um<br />

ninho acima <strong>da</strong>s cataratas num grande galho de árvore<br />

que saía do meio <strong>da</strong>s que<strong>da</strong>s. Aves gigantescas, que lá habitavam,<br />

ouvindo o barulho dos gritos voaram de dentro<br />

do ninho em direção ao grupo. Eram animais diferentes,<br />

tinham dentes e bicos enormes, além de garras afia<strong>da</strong>s e<br />

asas descomunais. Rapi<strong>da</strong>mente, iniciaram um ataque em<br />

bando, sem qualquer pie<strong>da</strong>de com os invasores. Ágata e<br />

Kedáre tentavam lutar contra elas, porém, não podiam<br />

se descui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> ponte, para não caírem no abismo que se<br />

culminava na morte. Bilsã lançou uma grana<strong>da</strong> contra as<br />

aves ferindo uma delas na asa esquer<strong>da</strong>, o que deixou suas<br />

companheiras furiosas! Em segui<strong>da</strong>, voaram ferozmente<br />

em direção a Bilsã, mas, erroneamente, acabaram acertando<br />

Guímel, que caiu <strong>da</strong> ponte e com apenas uma mão se<br />

segurou numa cor<strong>da</strong> solta.<br />

_ Guímel, segure-se em minha mão! _ pedia seu pai lhe<br />

oferecendo uma <strong>da</strong>s mãos, enquanto usava a outra para se<br />

equilibrar na ponte que não parava de se sacudir.<br />

_ Não consigo! As aves estão nos atacando e a ponte treme


muito! Não posso suportar! _ respondeu Guímel, que embora<br />

tentasse, não conseguia agarrar a mão de Bilsã, devido<br />

à instabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ponte.<br />

Ágata, Kedáre e nenhum dos sol<strong>da</strong>dos podia fazer alguma<br />

coisa, pois não havia como voltar para aju<strong>da</strong>r Guímel.<br />

As estranhas aves não cessavam o ataque e para piorar,<br />

a ponte era estreita, permitindo somente a passagem de<br />

um por vez. Já cansado de se segurar, Guímel tomou uma<br />

decisão:<br />

_ Pai não pode continuar aqui! Se me salvar, as serpentes<br />

te matarão e se eu continuar pendurado, as aves me levarão<br />

com elas! Vou me soltar <strong>da</strong> ponte! _ exclamou o rapaz a<br />

Bilsã, que não concordou com sua decisão.<br />

_ Você não pode fazer isso! Não o deixarei aqui!<br />

_ Não tem outra escolha! Não deve colocar em risco a vi<strong>da</strong><br />

de todos pela minha! Vão em frente e alcancem a Palma. _<br />

insistia Guímel, pois não suportava mais se segurar na mão<br />

do pai. Ele finalmente soltou-se e caiu na correnteza do rio,<br />

desaparecendo no meio <strong>da</strong>s fortes águas correntes:<br />

_ Guímel! _ exclamou Bilsã em desespero.<br />

As serpentes invadiram a ponte, arrastando mais um sol<strong>da</strong>do<br />

pelas pernas. Os outros conseguiram chegar ao outro<br />

lado <strong>da</strong> travessia, mas as serpentes continuaram a perseguição<br />

juntamente com as aves. Bilsã, como último recurso,<br />

pegou to<strong>da</strong>s as grana<strong>da</strong>s e as lançou sobre a ponte com<br />

lágrimas nos olhos:<br />

_ Isso é por você meu filho! _ disse em voz baixa e entristeci<strong>da</strong>.


As grana<strong>da</strong>s de Bilsã esmiuçaram a ponte com uma forte<br />

explosão, destruindo as serpentes, as aves e também o grande<br />

ninho que caiu aos pe<strong>da</strong>ços nas fortes correntezas juntamente<br />

com o frondoso galho que o sustentava. Bem perto<br />

<strong>da</strong>li, Álefe e Valentim ouviram o forte som <strong>da</strong> detonação<br />

que chegou a tremer o solo:<br />

_ Álefe, parece que está acontecendo uma grande batalha<br />

neste jardim dos duendes! Esta explosão assemelha-se a<br />

provoca<strong>da</strong> por grana<strong>da</strong>s e pelo que sei Bilsã sempre as usa<br />

em combates! Algo muito estranho ocorre aqui! _ comentou<br />

Valentim impressionado.<br />

_ Realmente! _ concordou Álefe. _ Desde o dia em que<br />

cheguei neste planeta, não ouvi um barulho tão intenso<br />

como esse! O que deve estar perseguindo-os?<br />

_ A história sobre o jardim <strong>da</strong>s ilusões não é mera fantasia<br />

dos antigos! Realmente, este lugar possui o poder de materializar<br />

nossos medos! _ afirmou Valentim. _ Continuemos<br />

em frente! Não parece que eles estão longe <strong>da</strong>qui.<br />

Minutos depois <strong>da</strong> explosão, o grupo de Bilsã se entristeceu<br />

pelo desaparecimento de Guímel. Kedáre se abaixou e<br />

chorou pelo irmão, enquanto Bilsã permanecia inconformado:<br />

_ Por quê? _ questionou. _ Ele era tão jovem! Estava apenas<br />

começando sua carreira de guerreiro! Isso não pode ter<br />

acontecido! Não antes de ter derrotado Valentim! Não viemos<br />

aqui para morrer, mas para aniquilar esses invasores<br />

que intentam em roubar nossa Palma Sagra<strong>da</strong>!<br />

_ Tente manter a sereni<strong>da</strong>de Bilsã! _ disse Ágata para acalmá-lo.<br />

_ Se você o treinou para ser um grande guerreiro,


deve confiar que ele sairá dessa situação com vi<strong>da</strong>.<br />

_ Você acredita realmente nisso? _ perguntou Bilsã sem<br />

esperanças.<br />

_ Sim acredito! Conheço pouco seus filhos, mas o que sempre<br />

enxerguei neles foram sua persistência e coragem. Pude<br />

ver em Guímel uma quali<strong>da</strong>de que percebi em poucos, ele<br />

é muito forte e esperto. Não acredito que será vencido por<br />

este obstáculo. Creio que a esta altura já alcançou a margem<br />

do rio e que está a caminho <strong>da</strong> palma. Talvez esteja<br />

mais perto dela agora do que nós. _ aconselhou Ágata a<br />

Bilsã, que se sentiu mais encorajado pela atitude <strong>da</strong> moça<br />

em confiar na força de Guímel.<br />

_ Obrigado Ágata! Suas palavras realmente me confortam<br />

o coração, não poderia ser diferente, vindo <strong>da</strong> filha de Juliano.<br />

_ agradeceu, levantando-se e enxugando as lágrimas.<br />

_ Sei que se meu pai confiou esta missão a você e a seus<br />

filhos é porque ele acredita que são capazes. Vamos subir a<br />

montanha! Não devemos ficar aqui lamentando por algo<br />

que não aconteceu. _ disse Ágata seguindo em frente.<br />

Todos se levantaram. Kedáre também enxugou as lágrimas<br />

e se pôs a postos. Ain<strong>da</strong> havia um pe<strong>da</strong>ço do jardim que<br />

precisavam atravessar e já era quase noite. Atrás <strong>da</strong>li, quando<br />

Álefe an<strong>da</strong>va pelo jardim, observou que o Sol de Alioth<br />

havia se posto e que o céu já estava quase escuro.<br />

_ Valentim será que nos convém continuar mesmo escurecendo?<br />

_ questionou.<br />

_ Não, mas estamos correndo perigo aqui! Precisamos sair<br />

deste jardim, ou, ao menos atravessar grande parte dele


para ganharmos tempo. _ respondeu Valentim que caminhava<br />

olhando por todos os lados.<br />

Ain<strong>da</strong> conversavam, quando Álefe bateu seu pé em algo<br />

grande. Sua primeira reação foi olhar para baixo, a fim de<br />

ver o que era:<br />

_ O que é isso? _ perguntou assustado com aquilo que via.<br />

_ Parece a cabeça de uma grande fera. Olha só esses dentes!<br />

_ exclamou Valentim impressionado. _ Esta coisa deve ter<br />

atacado Bilsã.<br />

_ Não sabia que havia monstros assim por aqui! _ disse<br />

Álefe assustado.<br />

_ E não há! Provavelmente foi resultado do medo de algum<br />

deles... Veja, tem sol<strong>da</strong>dos mortos aqui!<br />

_ Deve ter sido difícil lutar contra este animal! _ comentou<br />

Álefe temeroso com o tamanho <strong>da</strong> fera morta no chão.<br />

Enquanto ain<strong>da</strong> falavam, os corpos dos sol<strong>da</strong>dos mortos<br />

arderam repentinamente em chamas. Era um fogo belo, de<br />

cor verde que rapi<strong>da</strong>mente consumiu os corpos.<br />

_ Como estes corpos pegaram fogo? _ in<strong>da</strong>gou Álefe surpreso.<br />

_ Em Alioth, todos os guerreiros que são mortos têm seus<br />

corpos queimados pela Chama de Rafael. Como não tiveram<br />

um funeral digno, o Arcanjo tratou de incinerá-los por<br />

sua conta! É lindo ver como Rafael se importa com eles,<br />

mesmo sabendo que agiram a favor do mal!<br />

Caminhando além <strong>da</strong>li, passaram pelo caminho <strong>da</strong>s ser-


pentes, porém nenhuma apareceu para atacá-los. Ambos<br />

se mantinham calmos todo o tempo, apenas se depararam<br />

com vestígios de um combate árduo naquele lugar. Finalmente,<br />

avistaram a travessia de um rio calmo e sobre ele,<br />

uma singela ponte.<br />

_ Aquela explosão que ouvimos não deve ter ocorrido<br />

aqui, não há sinais de fogos ou pólvora. _ disse Valentim<br />

ao observar em volta e perceber que tudo estava calmo. As<br />

borboletas que possuíam tons de verde lindíssimos faziam<br />

seu balé tranquilamente, os pássaros cantavam como de<br />

costume e os lindos e peculiares animais que ali viviam,<br />

atravessavam de um lado para o outro, o que não passava<br />

despercebido ao jovem Álefe que acrescentou:<br />

_ Estranho! Tive a impressão de ouvir um forte som de<br />

que<strong>da</strong>s d’água, contudo só há este rio pacato.<br />

_ Vamos atravessar a ponte com cautela! _ ordenou Valentim,<br />

que foi a frente, para garantir a segurança do discípulo.<br />

Os dois concluíram a travessia sem nenhuma dificul<strong>da</strong>de.<br />

Estranhamente, aquelas frondosas que<strong>da</strong>s d’água haviam<br />

desaparecido. Valentim observou a passagem de Álefe. Assim<br />

que ele a concluiu, comentou:<br />

_ Assim como você, estou perplexo com este lugar! De uma<br />

forma muita esquisita, o forte barulho de água cessou! Não<br />

perderemos tempo aqui. Já está quase de noite e devemos<br />

seguir em frente!<br />

Continuaram a caminhar entre a vegetação rumo à saí<strong>da</strong><br />

do Jardim <strong>da</strong>s Ilusões, até chegarem num campo aberto. E<br />

o silêncio profundo do local os incomodou. Até mesmo os<br />

pássaros pararam de cantar e os grilos também, que naquela


hora já se manifestavam, sendo quase noite. Naquele exato<br />

momento, os dois temeram. Ain<strong>da</strong> estavam no Jardim dos<br />

Duendes e seu medo sempre e imediatamente se tornaria<br />

reali<strong>da</strong>de. De repente, em meio ao silêncio perturbador,<br />

ouviram passos bem fortes no chão, desembainharam as<br />

espa<strong>da</strong>s e ficaram a postos.<br />

Apareceram diante deles dois grandes ciclopes vestidos de<br />

roupas de guerra, seus únicos olhos eram vermelhos e neles<br />

estampavam muito ódio. Um tinha um machado e o outro<br />

uma foice enorme nas mãos.<br />

_ O que vamos fazer Valentim? Estes ciclopes são enormes,<br />

devem ter uns cinco metros de altura...<br />

E antes que Álefe terminasse de falar, o ciclope <strong>da</strong> foice o<br />

atacou, cravando-a no chão. Se o rapaz não tivesse pulado,<br />

seria nele que a foice se cravaria.<br />

Felizmente, conseguiu se desviar do golpe <strong>da</strong> criatura, cuja<br />

arma permaneceu crava<strong>da</strong> na grama. Valentim tentava ajudá-lo,<br />

mas o outro ciclope o atacava insistentemente. O titã<br />

que enfrentava Álefe, aproximou-se, pegou a foice no chão<br />

e se voltou na direção do guerreiro, desferindo um novo<br />

ataque. Novamente, o rapaz pulou para não ser atingido. À<br />

medi<strong>da</strong> que se desviava dos golpes do gigante, observava-o<br />

com o objetivo de contra atacar:<br />

_ Valentim, estes seres foram criados por nossos medos. O<br />

oposto do medo é a coragem e se conseguirmos acioná-la<br />

em nós, derrotaremos esses gigantes facilmente! _ disse Álefe,<br />

na tentativa de aju<strong>da</strong>r o amigo, ao lembrar que, aqueles<br />

ciclopes ganharam vi<strong>da</strong> com a projeção de seus próprios<br />

medos.


_ Sem dúvi<strong>da</strong> não podemos recuar! Se fugirmos, eles se<br />

tornarão mais fortes ain<strong>da</strong>. _ respondeu Valentim, permanecendo<br />

alerta ao ciclope que o atacava. O líder <strong>da</strong> milícia<br />

enfrentava uma dura batalha contra o outro gigante, seu<br />

machado uma vez lançado, girava no ar em direção ao adversário<br />

e depois retornava em suas mãos, como um bumerangue.<br />

Mas graças à sua grande força, Valentim conseguia<br />

rebatê-lo com a espa<strong>da</strong>.<br />

Já o outro titã com a foice atacava incessantemente a Álefe,<br />

na tentativa de vencê-lo pelo cansaço. Fadigado em se defender<br />

do adversário, ele arriscou atacar o gigante, cravando-lhe<br />

a espa<strong>da</strong> em uma <strong>da</strong>s pernas. No entanto, o ciclope<br />

conseguiu atingi-lo com seu forte braço e o lançou longe,<br />

fazendo com que a esmeral<strong>da</strong>, que ganhara <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s, caísse<br />

de seu bolso. Preocupado com a pedra e ferido, Álefe se<br />

arrastou no chão no esforço de alcançá-la, pois a esmeral<strong>da</strong><br />

caíra bem próximo a um desfiladeiro que <strong>da</strong>va para uma<br />

densa floresta.<br />

Enquanto isso, o terrível machado do outro ciclope preenchia<br />

a atenção de Valentim, que percebia a situação do<br />

companheiro. Ele desejava ardentemente ajudá-lo, mas<br />

precisava destruir aquele poderoso inimigo primeiro.<br />

_ Se eu não destruí-lo agora, não poderei salvar Álefe! E<br />

se eu continuar aqui ele irá morrer! _ exclamou Valentim<br />

consigo, buscando uma solução. _ Jurei protegê-lo com minha<br />

vi<strong>da</strong>. Somente ele pode salvar a Terra! Sei que existe<br />

uma maneira de fazer isso, usando um golpe que meu mestre<br />

me ensinou, mas...<br />

Em meio a seus pensamentos, Valentim se recordou de<br />

uma advertência do Mestre Havén a respeito do suposto


golpe que queria utilizar:<br />

“_ Este golpe é muito poderoso Valentim! Poderá derrotar facilmente<br />

seu inimigo, mas tem um “porém”! _ disse Havén a Valentim<br />

em suas lembranças.<br />

_ E qual é este “porém” mestre? _ perguntou o rapaz, preocupado<br />

com o que dizia seu mestre.<br />

_ É um golpe que requer muita energia quando utilizado,<br />

fique certo de que durante algum tempo ficará sem forças,<br />

podendo se tornar um alvo fácil para seus inimigos.<br />

Jamais o use desnecessariamente, caso contrário poderá<br />

morrer!”<br />

Valentim meditou rapi<strong>da</strong>mente no que Havén havia dito.<br />

No entanto, não encontrava outra saí<strong>da</strong> mais rápi<strong>da</strong> e eficaz.<br />

Quando realizou esta técnica de luta no combate com<br />

Álefe, havia manifestado um terço de seu real poder para<br />

não feri-lo. Pois se usasse a energia total, perderia to<strong>da</strong> sua<br />

força, mas, certamente, mataria seu amigo.<br />

Álefe enfrentava grandes dificul<strong>da</strong>des, embora tivesse<br />

alcançado a pedra arrastando-se, o gigante que não<br />

lhe <strong>da</strong>va trégua, pisou em seu braço paralisando seus<br />

movimentos. O ciclope segurou firme sua foice e a<br />

ergueu com as duas mãos disposto a cortar a cabeça do<br />

guerreiro, que permanecia inerte ao chão.<br />

Valentim já posicionado, apoiou seu braço direito com a<br />

mão esquer<strong>da</strong> em direção ao gigante, que avançava contra<br />

ele violentamente. O filho de Merope fechou os olhos,<br />

reuniu to<strong>da</strong> sua força em seu punho sem se importar com<br />

seu estado após o golpe. Em poucos segundos, sua mão<br />

brilhava com uma energia incandescente violeta. O ciclope


que avançava contra ele, lançou outra vez o machado e finalmente,<br />

Valentim invocou o seu poder:<br />

_ “Thunder light” (Trovão de luz)! _ exclamou, emitindo<br />

uma incrível e extremamente brilhante energia, arremessando<br />

para longe o ciclope que se desintegrou no ar juntamente<br />

com seu machado, além de destruir várias árvores<br />

próximas. Álefe se assustou com o clarão <strong>da</strong> energia de Valentim<br />

e aproveitou para recuperar sua espa<strong>da</strong>, crava<strong>da</strong> na<br />

perna do gigante, que também se distraiu com a luz. Assim<br />

que conseguiu arrancá-la, lançou-a em segui<strong>da</strong> no olho do<br />

titã, atingindo-o fatalmente. Então, o inimigo ferido pelo<br />

ataque de Álefe, deixou cair sua foice no chão.<br />

Não muito longe <strong>da</strong>li, Bilsã e os outros foram surpreendidos<br />

por um clarão acompanhado de um forte estrondo. Assustados,<br />

se viraram para trás e enxergaram a intensa luz de<br />

forma tão níti<strong>da</strong>, que os olhos azuis de Ágata se tornaram<br />

violetas por um instante:<br />

_ O que será isso? Que energia enorme provocou esse estrondo<br />

e clarão? _ perguntou a amazona, assusta<strong>da</strong>.<br />

_ Parece a energia de Valentim! É muito semelhante ao golpe<br />

que o vi aplicar na luta contra Álefe, só que este é bem<br />

mais forte! Algo de muito estranho deve estar acontecendo<br />

com eles lá atrás. Tomara que morram logo! _ respondeu<br />

Bilsã também impressionado com a energia emiti<strong>da</strong> pelo<br />

filho de Merope.<br />

_ Tenho que reconhecer que se fosse atingido por essa<br />

energia, não sairia vivo! _ exclamou Kedáre que também<br />

se impressionou.<br />

No mesmo instante, no palácio de Merope, o príncipe e


sua mãe sentiram a mesma coisa:<br />

_ É o thunder light (trovão de luz)! Valentim usou este golpe!<br />

_ exclamou Merope preocupado com o que ocorria com os<br />

dois na Montanha.<br />

_ Sim! _ concordou Alcione impressiona<strong>da</strong>. _ Também<br />

senti a energia, mesmo de longe!<br />

_ O que será que ocorre com eles? Devo <strong>da</strong>r ordem às tropas?<br />

_ pediu o príncipe orientação a sua mãe.<br />

_ Não! Ain<strong>da</strong> não! Espere que os Arcanjos deci<strong>da</strong>m! Se ele<br />

usou este poder, deve estar fraco, mas seu oponente com<br />

certeza foi destruído. Somente Havén possui esse golpe, ele<br />

é poderosíssimo. _ respondeu ela mantendo firme sua fé<br />

nos jovens guerreiros.<br />

_ Tomara que na<strong>da</strong> de mal lhes tenha ocorrido! _ disse o<br />

príncipe ain<strong>da</strong> mais aflito.<br />

De volta à luta, Valentim sentia os efeitos do golpe em seu<br />

corpo. Após aplicá-lo no adversário, mal conseguia permanecer<br />

em pé, mesmo assim tentava aju<strong>da</strong>r Álefe. Suas vistas<br />

estavam embaraça<strong>da</strong>s e não conseguia ver com clareza o<br />

gigante que se debatia ferido com a lâmina crava<strong>da</strong> em seu<br />

olho. Quando o ciclope conseguiu arrancar a espa<strong>da</strong>, Álefe<br />

se levantou para pegá-la, porém, quando o fez, foi chutado<br />

pelo titã e lançado para o desfiladeiro. Após <strong>da</strong>r seu último<br />

golpe, o opositor caiu morto no chão.<br />

Valentim tentou alcançá-lo, mas não reteve forças em si.<br />

Álefe rolou pelo desfiladeiro e desapareceu de sua vista.<br />

Seu amigo, em desespero, tentou descer para procurá-lo,<br />

no entanto, a voz do Arcanjo Rafael o deteve dizendo:


_ Não desça até lá! Não se arrisque!<br />

_ Rafael! _ exclamou Valentim surpreso ao ouvi a voz do<br />

Arcanjo. _ Tenho que salvá-lo!<br />

_ Não é necessário! _ disse Rafael em resposta. _ Somente<br />

siga em frente! Recupere-se! Guarde suas forças e vá em<br />

direção a Palma, pois seu amigo está bem! Porém, na condição<br />

em que você está na<strong>da</strong> poderá fazer por ele!<br />

Valentim, embora entristecido, obedeceu a Rafael e continuou<br />

seu caminho pelo jardim. Estava com dificul<strong>da</strong>des<br />

para an<strong>da</strong>r, pois thunder light, embora muito poderoso, era<br />

desgastante.


Capítulo 11 _ A tempestade<br />

Logo após Valentim partir, a tempestade que se aproximava<br />

caiu sobre eles. Uma chuva forte acompanha<strong>da</strong> de<br />

ventos tempestuosos surpreendeu-os no jardim. Já estava<br />

totalmente escuro e o brilho <strong>da</strong>s estrelas não se apresentava<br />

devido à chuva.<br />

Por causa <strong>da</strong> tempestade, Álefe que estava desmaiado, acordou<br />

em meio às folhagens <strong>da</strong> densa floresta próxima ao<br />

rio, que cercava o Jardim <strong>da</strong>s ilusões. Ele percebeu que só<br />

não caiu no desfiladeiro graças a um arbusto que o segurou,<br />

caso contrário, teria rolado até o rio e morrido nas<br />

pedras do penhasco.<br />

Levantou-se com dificul<strong>da</strong>de e caminhou um pouco, mas<br />

mal conseguia se locomover, devido à escuridão. O rapaz<br />

mentalizou por alguns minutos a energia de cura em sua<br />

mão direita, fazendo- a brilhar num clarão que iluminou<br />

todo caminho pela floresta.<br />

Álefe havia rolado bastante pelo desfiladeiro e não estava<br />

mais no jardim dos duendes. Verificou se a esmeral<strong>da</strong><br />

permanecia em seu bolso e tentou chegar até a margem<br />

do rio. A ca<strong>da</strong> passo que <strong>da</strong>va, pensava em sua mãe e em<br />

Valentim que certamente estava preocupado com o seu<br />

desaparecimento:<br />

_ Mãe! O que vou fazer? Não sei onde estou e nem para<br />

onde ir! Não posso morrer sem antes levar a cura que lhe<br />

prometi! _ disse em pensamento à mãe.<br />

Após chegar à margem, notou que o rio estava muito violento<br />

por causa <strong>da</strong> chuva e que seria impossível atravessá-lo.<br />

Ele estava totalmente perdido sem saber o que fazer. Então


se escondeu debaixo de uma rocha para se proteger <strong>da</strong> chuva<br />

até que ela acalmasse.<br />

Enquanto isso, Ágata e os outros continuavam seu caminho<br />

pelo jardim. Faltavam apenas alguns metros para que<br />

ele terminasse, porém, também encontravam dificul<strong>da</strong>des<br />

para prosseguir devido à forte chuva. O vento uivava e jogava<br />

os galhos <strong>da</strong>s árvores no caminho, dificultando a passagem.<br />

_ Vamos parar por aqui um pouco! É arriscado prosseguir!<br />

_ ordenou Bilsã a todos do grupo.<br />

_ Mas, se ficarmos aqui, também correremos perigo! Estamos<br />

no território do Jardim <strong>da</strong>s Ilusões. A qualquer momento,<br />

algo pode acontecer! _ retrucou Kedáre preocupado<br />

com o que possivelmente lhes sobreviria.<br />

_ Se não temermos, na<strong>da</strong> acontecerá! _ alertou Bilsã em<br />

resposta a Kedáre.<br />

Não sentir medo naquele lugar era quase impossível, pois<br />

além de to<strong>da</strong>s as sensações de temor se tornarem reais instantaneamente,<br />

eles já haviam vivido momentos difíceis<br />

ali. E debaixo <strong>da</strong> terrível tempestade, sem os cavalos e com<br />

metade do exército morto, tudo se tornava ain<strong>da</strong> mais penoso.<br />

Ágata, desencoraja<strong>da</strong>, sentou-se numa pedra para<br />

descansar junto com o grupo. Logo, a bela começou a meditar<br />

em tudo o que seu pai lhe havia dito antes <strong>da</strong> missão:<br />

“_ Filha, a única pessoa com quem realmente posso contar, é<br />

você! Já que sua mãe faleceu após seu nascimento, nunca tive a<br />

companhia de outra pessoa. Então, confio-lhe esta missão. Ajude-<br />

-me a fazer com que Alcione não prevaleça usando este jovem<br />

terráqueo para roubar a Palma. Traga-a antes para mim. Você


sabe que se eu for, serei morto, pois os Arcanjos me exilaram e<br />

não me permitiriam ir.” _ Não se preocupe meu pai! _ exclamou<br />

Ágata encorajando-o. _ Serei sua fiel representante em Alioth!<br />

Conseguirei a Palma e a trarei para você, nem que para isso tenha<br />

que matar to<strong>da</strong> a corte de Alioth. Defenderei sua honra que foi<br />

mancha<strong>da</strong> por Alcione. Fique tranquilo! Estou com você!”<br />

Ágata pensou intensamente naquela conversa, olhou<br />

para cima observando a força <strong>da</strong> chuva e lamentou a si<br />

mesma:<br />

_ Pai, será que conseguirei atravessar esta tempestade? Tantos<br />

desafios e perigos nos cercam! Temo morrer sem te entregar<br />

aquilo que me confiou conquistar!<br />

Ágata demonstrou medo em seu íntimo e isso foi o<br />

bastante para que a magia do jardim a alcançasse. De<br />

repente, uma cor<strong>da</strong> brilhante, semelhante a um cipó<br />

apareceu em meio à vegetação do local amarrando sua<br />

perna e arrastando-a para longe do restante do grupo em<br />

segundos. Bilsã e Kedáre se assustaram com o barulho e<br />

se voltaram em sua direção para tentar ajudá-la, porém<br />

era tarde demais, não conseguiram conter a forte cor<strong>da</strong><br />

que a apanhou. Kedáre lançou estrelas de ferro para cortá-<br />

-la, mas de na<strong>da</strong> adiantou.<br />

Assim que foi arrasta<strong>da</strong> do local em que estava, Ágata, inconsciente,<br />

foi lança<strong>da</strong> num calabouço escuro onde permanecia<br />

isola<strong>da</strong>. Bilsã e os outros ficaram espantados com o<br />

que acontecera com a amazona. Todos correram assustados<br />

para alcançar o portão onde terminava o jardim, já visível<br />

<strong>da</strong> posição de onde estavam. Mas no caminho, devido ao<br />

estado de medo e desespero do grupo, lanças afia<strong>da</strong>s eram<br />

arremessa<strong>da</strong>s do meio <strong>da</strong> floresta em direção a eles, que


tentavam se desviar, mas sem sucesso, pois eram muitas.<br />

Elas viajavam em grande veloci<strong>da</strong>de e acertaram todos os<br />

sol<strong>da</strong>dos, matando-os ali mesmo. Somente Kedáre e seu<br />

pai ain<strong>da</strong> estavam vivos. Ambos correram desesperados<br />

e se protegiam como lhes era possível. Porém, Kedáre foi<br />

acertado na perna por uma lança e caiu no chão ferido.<br />

_ Kedáre! Você está bem? Consegue an<strong>da</strong>r? _ socorreu-o<br />

Bilsã aflito.<br />

_ Não! A lança atravessou minha perna! _ respondeu, sem<br />

conseguir se levantar.<br />

_ Vou tentar te carregar até a cerca! Está tão perto! _ disse<br />

Bilsã se esforçando ao máximo, colocando Kedáre nos braços<br />

e caminhando em direção à divisa do jardim.<br />

Estavam a apenas três metros dela e finalmente atravessaram.<br />

Assim que o fizeram, as lanças cessaram os ataques.<br />

Ambos ficaram aliviados por terem saído do jardim dos<br />

duendes, no entanto, Kedáre estava gravemente ferido. Bilsã,<br />

desesperado em o filho machucado, não conseguia pensar<br />

numa solução, pois se simplesmente arrancasse a lança<br />

<strong>da</strong> perna do rapaz, o mesmo poderia sofrer uma hemorragia<br />

e morrer rapi<strong>da</strong>mente. A única maneira era tentar curá-<br />

-lo de alguma forma.<br />

_ Pai, não se preocupe comigo, siga em frente e vá até a<br />

Palma Sagra<strong>da</strong>, você precisa pegá-la o mais rápido possível<br />

antes que Valentim a alcance. Eu não morrerei! _ sugeriu<br />

Kedáre ao pai que se negava totalmente a abandoná-lo.<br />

_ Você acha que vou deixá-lo aqui neste estado? Não pude<br />

salvar Guímel, mas tentarei até minhas últimas forças salvar<br />

você!


Para a sorte deles, havia algumas plantas naquela área que<br />

serviam de remédio e Bilsã as conhecia bem. Como todo<br />

guerreiro <strong>da</strong> milícia, participou de treinamentos onde estudou<br />

as ervas e suas funções na cura de doenças e ferimentos.<br />

Ele conduziu Kedáre até um lugar seguro embaixo<br />

de arbustos e árvores e o deitou ali. Em segui<strong>da</strong>, pegou<br />

algumas folhas e as amassou com um pouco de água até<br />

que formassem um suco e deu de beber ao filho. Depois,<br />

apanhou as flores <strong>da</strong>s plantas, esfregou-as nas mãos até que<br />

se esmiuçassem e as colocou sobre a feri<strong>da</strong>:<br />

_ Kedáre, <strong>da</strong>qui a duas horas este remédio fará efeito, então<br />

terei que arrancar esta lança de sua perna para que possa<br />

an<strong>da</strong>r novamente. Estas flores farão com que seu sangue<br />

não jorre e o ferimento cicatrize em pouco tempo. E o suco<br />

de folhas que te dei, serve para que a dor passe. Você não<br />

sentirá quase na<strong>da</strong>. _ explicou Bilsã.<br />

_ Mesmo que não estejamos do lado dos Arcanjos, é necessário<br />

que reconheça que se não fosse pelo poder e bon<strong>da</strong>de<br />

de Rafael em espalhar essas plantas por Alioth servindo<br />

de cura para todos, jamais eu sobreviveria! _ disse Kedáre<br />

deitado numa cama improvisa<strong>da</strong> de folhas sob os arbustos,<br />

onde a água <strong>da</strong> chuva não os alcançava.<br />

_ Sim, eu sei! _ concordou Bilsã. _ Mas quero que saiba que<br />

não lutamos contra os Arcanjos, apenas tentamos impedir<br />

que Alcione ilu<strong>da</strong>-os ain<strong>da</strong> mais. Por que Juliano será rei,<br />

como ela nunca será e nossos príncipes angélicos precisam<br />

entender isso. Se Juliano já reinasse, não lutaríamos agora.<br />

_ Sei que não sou forte como Valentim, mas <strong>da</strong>rei o meu<br />

melhor até conseguir derrotá-lo. Eu juro, nem que seja a<br />

última coisa que eu faça em minha vi<strong>da</strong>! _ prometeu


Kedáre olhando firmemente para o pai.<br />

_ Acredito em você! É meu filho mais forte e sei que<br />

conseguirá! Guímel sempre foi muito desinteressado<br />

em lutar. Acredito que ele treinou com você apenas<br />

por obrigação! Você é diferente! Vejo a batalha em<br />

seus olhos e em suas veias corre o meu sangue de<br />

guerreiro. Você escolheu seguir meus passos e orgulho-me<br />

disso.<br />

_ Meu objetivo é destruir Valentim! _ exclamou Kedáre revoltado.<br />

_ Ele me roubou o direito de liderar a milícia dos<br />

sol<strong>da</strong>dos de Alioth! Não acredito que a luta que travei com<br />

ele foi limpa e justa. Da mesma forma que Alcione conseguiu<br />

se tornar rainha, fez com que seu filho e neto tivessem<br />

acesso ao poder facilmente.<br />

_ Isso tudo, com certeza, mu<strong>da</strong>rá! _ afirmou Bilsã ao observar<br />

a chuva que ain<strong>da</strong> caía. _ Quando conseguirmos<br />

alcançar a Palma e levá-la para Juliano, ficará mais fácil impedir<br />

Alcione, pois sem a Palma, ela não poderá governar<br />

a Terra! Então, Juliano finalmente triunfará e <strong>da</strong>rá a mim<br />

e a você, o poder que Alcione e sua família nos roubaram.<br />

_ Eu acredito pai! E é por isso que resistirei a esse ferimento!<br />

_ disse Kedáre procurando permanecer quieto para se<br />

curar logo. O efeito <strong>da</strong>s plantas que o Arcanjo Rafael criara<br />

era rápido e sem demora estaria melhor.<br />

Um pouco distante <strong>da</strong>li, no calabouço, Ágata despertou<br />

do desmaio e reconheceu que estava presa. Ela se levantou<br />

com muita dificul<strong>da</strong>de devido à que<strong>da</strong> que sofreu, mas<br />

assim que se pôs em pé tentou sair <strong>da</strong>li de alguma prontamente.


Como foi muito bem treina<strong>da</strong> por Juliano, usou vários artifícios<br />

para escapar. Tentou pular e também usar cor<strong>da</strong>s de<br />

cipó que havia dentro do calabouço. Embora possuísse incrível<br />

habili<strong>da</strong>de, nenhuma tentativa prosperava e sempre<br />

caía de volta no fundo. O lugar era bem profundo e estreito<br />

como um poço. Dificilmente ela conseguiria sair <strong>da</strong>li.<br />

Além de to<strong>da</strong>s as complexi<strong>da</strong>des, o ambiente possuía pouca<br />

iluminação e as paredes estavam escorregadias devido à<br />

chuva. Depois de muitos fracassos, Ágata se desesperou:<br />

_ Não acredito que estou aqui! _ exclamou, agachando-se<br />

no chão sem saber o que fazer. _ Este jardim realmente<br />

possui um poder incrível! Sempre tive medo de ficar presa<br />

e acabei aqui, sem poder fazer na<strong>da</strong>. E pior, os inimigos de<br />

meu pai estão lá fora, indo em direção à Palma para pegá-la.<br />

As lágrimas foram inevitáveis. Havia muito desespero e<br />

medo em seu coração. O desejo de alcançar a Palma e agra<strong>da</strong>r<br />

seu pai confrontava agora com a sensação de impotência<br />

dentro <strong>da</strong>quele calabouço:<br />

_ Papai, como eu honrarei seus propósitos estando aqui?<br />

Acho que não vou conseguir! Não dá para sair <strong>da</strong>qui! Envie-me<br />

a sua força para que eu vença em seu nome! _ orava<br />

em meio a um choro doído e sincero. Ágata sempre confiou<br />

no poder de Juliano e acreditava que mesmo de longe,<br />

ele poderia de alguma forma ajudá-la. Foi à promessa que<br />

ele fez antes <strong>da</strong> missão.<br />

Aos poucos, Ágata se acalmou e cessou o choro. Então,<br />

notou que havia ali algumas flores num canto, que conseguiram<br />

nascer e crescer, mesmo com a ausência <strong>da</strong> luz do<br />

sol. Ela as observou atentamente. E como adorava flores, apreciou-as e<br />

foi logo invadi<strong>da</strong> por suas memórias de quando era criança.


Em meio às lembranças, viu-se no jardim <strong>da</strong> casa em que<br />

vivia quando menina, e lá estava sozinha com seus animaizinhos<br />

de estimação. Todos os dias ela colhia flores e as levava<br />

para seu pai, como não tinha mãe, era extremamente<br />

apega<strong>da</strong> a ele. Segundo Juliano, seu nome era Ágata porque<br />

sua mãe usava um lindo colar de ágatas azuis semelhante à<br />

cor de seus olhos.<br />

A menina cresceu ouvindo <strong>da</strong> parte dele, histórias como<br />

essa <strong>da</strong> mãe faleci<strong>da</strong>. Quando perguntava por ela, dizia<br />

Juliano que a mesma havia morrido logo após seu nascimento<br />

e a pequena, conformava-se com a ideia. Sua paixão<br />

eram seus bichinhos de estimação e seu jardim.<br />

Juliano muitas vezes sentava-se com ela para lhe contar<br />

seus propósitos, já que sonhava em ser rei de Plêiades. A<br />

garotinha ouvia tudo atentamente e sempre lhe respondia:<br />

_ Papai, você será o melhor rei que Plêiades terá! Quando conquistar<br />

a coroa, permitirá que eu seja a Princesa de Alioth?<br />

_ Claro! _ respondia Juliano. _ Quem mais seria além de você?<br />

Você é a menina mais lin<strong>da</strong> de to<strong>da</strong> a constelação e será adora<strong>da</strong><br />

por todos. Quando eu possuir o reino, <strong>da</strong>rei um castelo só para<br />

você.<br />

Ágata se empolgava com os sonhos do pai, que<br />

incessantemente a iludia com promessas de um reino<br />

perfeito. Como era uma menina muito doce e meiga,<br />

nunca brigava com ninguém. Era sempre gentil, amigável<br />

e companheira de todos. Porém, sempre foi inveja<strong>da</strong> por<br />

muitas meninas, devido à sua beleza incomparável e na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, desprezavam-na.<br />

O sonho de Juliano era que ela se tornasse numa grande


guerreira para reinar com ele, uma vez que ele possuía habili<strong>da</strong>des<br />

incríveis para lutar, sendo o melhor guerreiro <strong>da</strong><br />

época. No entanto, Ágata nunca demonstrou aptidão para<br />

tal, odiava a espa<strong>da</strong> e sempre faltava aos treinos, organizados<br />

pelo pai, para ficar com seus bichinhos e flores, que ela<br />

mesma cui<strong>da</strong>va com muito carinho.<br />

Passado algum tempo, logo após Alcione ter sido coroa<strong>da</strong><br />

rainha, Juliano frustrou-se grandemente e mais uma vez,<br />

insistiu para que a filha lutasse ao seu lado. A menina, porém,<br />

recusava-se ao alegar que seu desejo era viver junto à<br />

natureza e em companhia dos amigos animais e flores.<br />

Certo dia, Ágata acordou bem cedo para brincar em seu<br />

jardim. De repente, encontrou seus animais mortos em<br />

meio às flores totalmente destruí<strong>da</strong>s e sem vi<strong>da</strong>. Choca<strong>da</strong><br />

com o triste cenário à sua frente, chorou desespera<strong>da</strong>mente<br />

e Juliano, ouvindo, aproximou-se para consolá-la:<br />

_ Meus bichinhos... Tudo está destruído papai! _ exclamou a<br />

pequena Ágata mergulha<strong>da</strong> em sua dor e agonia.<br />

_ Filha, eu não queria te contar para que não ficasse magoa<strong>da</strong>,<br />

mas vi oficiais e sol<strong>da</strong>dos de Alcione aqui. Eles atacaram<br />

seus bichinhos e eu tentei impedir, mas cheguei tarde demais e já<br />

estavam mortos! Perguntei a eles porque tinham destruído tudo,<br />

sendo que este jardim era o que você mais prezava na vi<strong>da</strong>! E me<br />

disseram que era um presente de Alcione, por eu ter tentado ser<br />

rei em seu lugar. Eu sinto muito filha! Minha irmã sabotou tudo<br />

para vencer a eleição! _ disse Juliano a doce menina que estava<br />

inconsola<strong>da</strong>.<br />

_ Ela matou meus bichinhos só para se vingar de você? _ perguntou<br />

indigna<strong>da</strong> com a suposta atitude <strong>da</strong> rainha.


_ Sim! _ respondeu Juliano friamente. _ Ela sabe que você é tudo<br />

pra mim e que te ver sofrer é a pior coisa que pode me acontecer!<br />

_ Por quê? _ questionou a menina em prantos. _ Como vou viver<br />

sem eles?<br />

_ Eu sei que dói! Porém, há uma maneira de se vingar dela e<br />

fazendo assim, sua dor diminuirá! _ disse Juliano sugerindo vingança<br />

à filha.<br />

_ E qual é? _ perguntou triste, porém interessa<strong>da</strong>.<br />

_ Torne-se uma guerreira! _ exclamou o pai em tom empolgado<br />

como se na<strong>da</strong> tivesse ocorrido à filha. _ A mais forte que já houve<br />

em to<strong>da</strong> Plêiades e vingue-se dela! Se tivesse treinado comigo, já seria<br />

forte e teria impedido que eles morressem! Mas ain<strong>da</strong> é tempo,<br />

lute comigo e será invencível!<br />

_ Papai, eu quero que me treine e me torne a guerreira mais poderosa<br />

que já houve! E juro que matarei Alcione e você se tornará rei<br />

como sempre mereceu! _ respondeu Ágata, que movi<strong>da</strong> pela dor<br />

<strong>da</strong> per<strong>da</strong> e profun<strong>da</strong> mágoa, aceitou finalmente o convite do pai<br />

para tornar-se guerreira.<br />

Em poucos anos, para orgulho de Juliano, ela havia se tornado<br />

invencível e ninguém na região conseguia derrotá-la.<br />

Ela cresceu forte e cheia de amargura e rancor por Alcione,<br />

disposta a vingar-se <strong>da</strong> morte de seus animais.<br />

Essa lembrança soava forte na mente de Ágata dentro do<br />

calabouço e seu ódio por Alcione crescia ca<strong>da</strong> vez mais:<br />

_ Maldita Alcione e seu Reino! _ exclamou a amazona. _<br />

Vai pagar caro por meu sofrimento e por roubar o trono<br />

de meu pai!


Ágata se pôs de pé, seus olhos mu<strong>da</strong>ram e sua feição<br />

doce se transformou numa face de ódio e vingança. A<br />

bela olhou firmemente para cima, pegou sua espa<strong>da</strong> e a<br />

apontou em direção à saí<strong>da</strong>:<br />

_ Pai, eu vou sair <strong>da</strong>qui e irei derrotá-los, por você! _ disse<br />

convicta.<br />

Em segui<strong>da</strong>, pegou impulso numa pedra e deu um salto<br />

tão alto que conseguiu sair do calabouço. Ain<strong>da</strong> no ar, segurou<br />

nas mãos uma flor que arrancara do cativeiro, concentrou<br />

sua energia nela e a lançou para baixo, até o fundo<br />

do poço. E surpreendentemente, quando a flor tocou o<br />

chão, explodiu todo o local. Quando pisou em terra, Ágata<br />

olhou para trás e disse:<br />

_ Todos que se opuserem a meu pai, terão o mesmo destino<br />

deste lugar!<br />

Depois, prosseguiu novamente rumo à Palma. Estava um<br />

pouco perdi<strong>da</strong>, mas sabia que logo encontraria o caminho<br />

certo. Enquanto an<strong>da</strong>va, pensou consigo:<br />

_ “Na ver<strong>da</strong>de, nunca quis ser uma guerreira, mas esta é a<br />

forma mais eficiente de honrar o nome do meu pai e de<br />

vingar-me do que Alcione me fez um dia”.


Capítulo 12 _ O Duende<br />

O jovem Álefe, protegido por uma rocha, esperava ansiosamente<br />

que a tempestade passasse logo. Ele pensava incessantemente<br />

em Valentim e em onde ele poderia estar<br />

depois <strong>da</strong> batalha no Jardim <strong>da</strong>s Ilusões. Ao mesmo tempo,<br />

buscava compreensão acerca <strong>da</strong> esmeral<strong>da</strong> que recebera <strong>da</strong>s<br />

fa<strong>da</strong>s, e o que faria com ela. Tentava desven<strong>da</strong>r que tipo de<br />

chave esta pedra seria com relação à conquista <strong>da</strong> Palma.<br />

Em meio a tantos pensamentos e perdido diante dos perigos<br />

<strong>da</strong>quele planeta belo, mas que oferecia desafios extremos,<br />

o rapaz olhou para o céu que jorrava a abun<strong>da</strong>nte<br />

chuva e se lembrou de um momento em sua vi<strong>da</strong> que<br />

considerava muito marcante, vivenciado quando ele tinha<br />

apenas dez anos. Na época, sua mãe queria lhe comprar um<br />

vídeo game, desses modernos e caros, porém o dinheiro<br />

não era suficiente, devido às despesas que tinham.<br />

E naquele dia, ele entrou no quarto de Lysa e a surpreendeu<br />

chorando, sozinha, quieta e senta<strong>da</strong> em sua cama.<br />

Embora fosse apenas uma criança, Álefe se aproximou e<br />

tentou ajudá-la:<br />

_ Por que está assim mãe? _ perguntou o menino, preocupado.<br />

_ Na<strong>da</strong> meu filho que mereça sua preocupação. Por favor,<br />

volte a brincar. _ respondeu Lysa, que imediatamente, enxugou<br />

as lágrimas, recompondo-se para que o garoto não a<br />

visse entristeci<strong>da</strong>.<br />

_ Não posso brincar e nem me divertir enquanto você sofre.<br />

_ disse Álefe, arrancando um sorriso sincero <strong>da</strong> mãe. _<br />

Sempre quando adoeço ou por algum motivo estou triste,


ouço de você a mesma coisa. Então, essa é a minha atitude<br />

também.<br />

_ Meu filho! Você é tão especial! _ exclamou Lysa, acariciando<br />

o rosto do menino. _ Já que quer saber, vou te contar:<br />

Eu prometi a mim mesma que neste ano compraria<br />

um vídeo game pra você, porque um dia o ouvi dizer a seu<br />

amigo Kévin que desejava ter um como o que ele ganhou.<br />

E diante de seu desejo, dediquei-me a guar<strong>da</strong>r o dinheiro<br />

que pude, para que no próximo aniversário eu conseguisse<br />

dá-lo a você. Entretanto, nossas despesas têm aumentado<br />

e meu salário não é lá essas coisas. E pelo que vejo no orçamento,<br />

provavelmente não conseguirei cumprir minha<br />

meta.<br />

_ Mãe, embora eu tenha apenas dez anos, sei bem que você<br />

se esforça por mim e pela minha educação. E todos os dias<br />

quando a vejo chegar do trabalho cansa<strong>da</strong> ou quando dorme<br />

assistindo TV na sala, devido à fadiga do dia, peço a<br />

Deus que me ajude a lhe devolver tudo isso quando crescer.<br />

Suplico que ele me mostre a melhor maneira de recompensá-la<br />

pelo esforço desmedido e constante que faz por<br />

mim. _ disse o menino, fazendo com que os olhos de Lysa<br />

se enchessem de lágrimas. _ O que é o vídeo game, embora<br />

desejado, diante do café <strong>da</strong> manhã de todos os dias, que ao<br />

acor<strong>da</strong>r, está me esperando na cozinha? O que é esse presente<br />

diante <strong>da</strong>s roupas bonitas que tenho, <strong>da</strong> casa confortável<br />

em que moro e <strong>da</strong> boa escola em que estudo? O que é<br />

esse aparelho que nos diverte em hologramas, embora eu o<br />

queira muito, diante dos beijos de boa noite, dos abraços e<br />

do “Eu te amo” que ouço de você diariamente?<br />

Lysa emocionou-se grandemente e não conteve as lágrimas


que, involuntariamente, escorreram-lhe pelo rosto, enquanto<br />

ouvia com atenção às palavras do filho:<br />

_ Mãe, eu vou crescer, ser um homem forte, honrado e independente.<br />

E quando este dia chegar, repetirei todo gesto,<br />

to<strong>da</strong> atitude e todo amor que me oferece incansavelmente.<br />

Eu prometo! E caso precisar de mim, seja para o que precisar,<br />

eu estarei lá por você. _ disse Álefe, abraçando a mãe<br />

em segui<strong>da</strong> e emocionando-se com ela.<br />

E agora em Alioth, ele estava tendo a oportuni<strong>da</strong>de de retribuir<br />

e de fazer algo significativo por Lysa. Ao visualizar<br />

a escuridão <strong>da</strong> noite, brevemente clarea<strong>da</strong> pelos intensos<br />

raios que cortavam os céus plêiadianos, o rapaz prometeu<br />

a si mesmo que venceria aquele grande desafio, afirmando<br />

com o coração cheio de fé:<br />

_ Eu juro, que haja o que houver, conquistarei a Palma. É<br />

uma questão de honra!<br />

No palácio, Merope e Alcione, outra vez se dirigiram à fonte<br />

no pátio para observar Valentim e Álefe. Eles estavam<br />

preocupados com aquela tempestade que decidiu castigar<br />

Alioth. Ao iniciarem a observação na água, notaram que<br />

Valentim estava só e o príncipe se assustou:<br />

_ Pelos Arcanjos! Mãe, onde está Álefe?<br />

_ É estranho filho! O que poderia afastar os dois? Será que<br />

tem a ver com aquele trovão que Valentim causou há pouco?<br />

_ questionou a rainha, também surpresa.<br />

_ Não é possível! _ exclamou Merope. _ Meu filho jamais permitiria<br />

que Álefe se afastasse dele ou se perdesse. Mãe, acha que devo acionar as<br />

tropas de Alioth? Não podemos esperar mais!


_ O que nosso exército poderia fazer agora? Essa tempestade<br />

não permitirá que eles se aproximem <strong>da</strong> montanha. Os<br />

cavalos jamais conseguiriam atravessar a floresta. Confesso<br />

que nem eu sabia que o Jardim <strong>da</strong>s Ilusões era tão perigoso!<br />

Sinceramente, não sei se nossos sol<strong>da</strong>dos conseguiriam<br />

passar por lá.<br />

_ É ver<strong>da</strong>de! Se Valentim, que é o líder do exército teve<br />

dificul<strong>da</strong>des, imagine o restante? Mas não há na<strong>da</strong> que os<br />

anjos de Rafael possam fazer?<br />

_ Eu sei que eles já fazem algo! Posso sentir! _ disse Alcione<br />

ao colocar a mão direita sobre o peito e fechar os olhos em<br />

sinal de fé.<br />

_ Amanhã cedo, irei até o templo de Rafael, preciso pedir<br />

aju<strong>da</strong> e permissão para uma coisa! _ comentou o príncipe,<br />

pensativo.<br />

_ O que é filho? O que pretende fazer? _ questionou a Rainha<br />

preocupa<strong>da</strong>.<br />

_ Verá na hora certa! _ Dizendo essas palavras, Merope se<br />

afastou.<br />

Valentim caminhava sozinho e mesmo sob a forte tempestade<br />

não parou de an<strong>da</strong>r. Seu desejo de encontrar a Palma<br />

e de salvar Álefe era muito grande. Ain<strong>da</strong> estava em território<br />

dos duendes, mas a força e a coragem que nutria em<br />

si eram tão intensas, que perigo algum ousava ameaçá-lo.<br />

An<strong>da</strong>va lentamente na escuridão e a única luz que tinha a<br />

seu dispor era a de sua espa<strong>da</strong>, que produzia com o pouco<br />

<strong>da</strong> energia que ain<strong>da</strong> lhe restava. Pensava bastante em seu<br />

amigo perdido, mas acreditava que ele estava aos cui<strong>da</strong>dos<br />

de Rafael, o poderoso Arcanjo <strong>da</strong> cura.


Aos poucos, a chuva diminuía e Álefe, decidiu sair de debaixo<br />

<strong>da</strong> pedra, onde se escondera. O rapaz não conseguia<br />

enxergar na<strong>da</strong> direito, por isso, tinha que an<strong>da</strong>r lentamente.<br />

De repente, algo em seu bolso começou a pulsar. Era<br />

a esmeral<strong>da</strong> que ganhara <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s. Ele a segurou, percebendo<br />

que brilhava muito e vibrava em sua mão. Era um<br />

brilho especial, uma energia pura e forte que servia de lanterna<br />

para guiá-lo pelo caminho.<br />

Então, notou que quando caminhava em direção oposta<br />

à Palma, a esmeral<strong>da</strong> imediatamente parava de brilhar.<br />

Quando virava em outra direção, novamente ela reluzia,<br />

deduzindo com isso, que a pedra seria uma espécie de bússola<br />

que o levaria até seu destino.<br />

A chuva ain<strong>da</strong> persistia, porém mais fraca. Álefe se aproximou<br />

de um pequeno penhasco que <strong>da</strong>va para a margem do<br />

rio e com a luz <strong>da</strong> pedra, pôde observar um pouco do local,<br />

notando que as águas estavam bem agita<strong>da</strong>s e barulhentas.<br />

Repentinamente, começou a trovejar e raios caíram próximos<br />

a ele, que se assustou com o barulho e com a luz dos<br />

relâmpagos. O rapaz tentou rapi<strong>da</strong>mente sair <strong>da</strong>li, porém,<br />

ao se mover <strong>da</strong>ndo um passo para trás, a pedra se apagou,<br />

indicando que ele não ia pelo caminho certo. De repente,<br />

outro raio caiu bem perto dele, que pisou em falso por<br />

causa do susto e acabou caindo do penhasco, desmaiando<br />

próximo à margem.<br />

Ain<strong>da</strong> no jardim dos duendes, Valentim entrou por uma<br />

estra<strong>da</strong> na Montanha, que o levou até uma pequena casa<br />

cerca<strong>da</strong> por flores verdes. Aproximou-se <strong>da</strong> residência devagar,<br />

desconfiado de uma suposta armadilha. Ele ouviu um barulho<br />

perto e se posicionou com a espa<strong>da</strong> desembainha<strong>da</strong>:


_ Quem está aí? _ perguntou, alerta.<br />

Ao dizer isto, agachou-se no chão. Não tinha forças para<br />

defender-se. Logo, uma serena voz lhe foi dirigi<strong>da</strong>, porém<br />

como estava escuro não conseguia ver quem falava:<br />

_ Vejo que está muito fraco jovem! Não deve continuar sua<br />

jorna<strong>da</strong> por enquanto!<br />

_ Quem é você? Chegue mais perto para que eu te veja! _<br />

ordenou o guerreiro.<br />

Aproximou-se dele um simpático e baixinho senhor carregando<br />

lenhas, que lhe disse:<br />

_ Não seria melhor se nos apresentássemos lá dentro? Está<br />

chovendo um pouco aqui, não acha?<br />

Valentim entrou na pequena casa com o senhor. Ele estava<br />

um pouco desconfiado, mas reconhecia que estava fraco<br />

para lutar. O anfitrião lhe deu uma toalha para que se enxugasse,<br />

enquanto se apresentava:<br />

_ Bem, meu jovem, sou Galasto e vivo aqui há muito tempo!<br />

_ apresentou-se o pequenino senhor que possuía uma<br />

expressão acolhedora. Vestia roupas estranhas como de um<br />

mago nas cores verde e violeta, e usava um lindo colar de<br />

esmeral<strong>da</strong>s intensamente brilhantes, que se destacava em<br />

seu pescoço. Seus olhos, apesar de possuírem um intenso<br />

brilho, eram emoldurados por uma pele marca<strong>da</strong> pelas linhas<br />

<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong>.<br />

_ Eu sou...<br />

Antes que Valentim respondesse, o próprio Galasto respondeu:


_ Sim, você é Valentim, o filho do príncipe Merope e está<br />

numa missão ao lado de Rafael, o Arcanjo. Sei quem é<br />

você!<br />

_ Como sabe quem sou se nunca o encontrei em lugar<br />

algum?<br />

_ Mas eu te conheço e te vi há pouco! _ respondeu Galasto.<br />

_ Sou um dos duendes que protegem esta parte <strong>da</strong><br />

Montanha. Observei-te muitas vezes caro rapaz, e o golpe<br />

que usou é digno de um líder de exército, mas lhe trouxe<br />

consequências graves.<br />

_ O senhor é um duende? _ perguntou Valentim surpreso.<br />

_ Nenhum deles jamais foi visto. Pelo menos, ninguém que<br />

conheço, com exceção de Havén, teve essa oportuni<strong>da</strong>de!<br />

_ Nunca aparecemos às pessoas a pedido de Rafael e vivemos<br />

isolados aqui. Teve sorte de me encontrar lá fora, pois<br />

se tivesse entrado em minha casa, teria que destruí-lo. São<br />

ordens, mas não o fiz. Tive que pegar um pouco de lenha.<br />

Elas estão muito molha<strong>da</strong>s, mas não importa. _ Galasto<br />

colocou as lenhas ain<strong>da</strong> molha<strong>da</strong>s na lareira e disse:<br />

_ Acen<strong>da</strong>!<br />

As lenhas se acenderam mesmo molha<strong>da</strong>s e Valentim observou<br />

aquilo assustado. Rapi<strong>da</strong>mente, a casa se aqueceu.<br />

Era um lugar bem simples, mas aconchegante, havia poucos<br />

móveis feitos de madeira, assim como to<strong>da</strong> a casa. O<br />

guerreiro se sentia bem ali:<br />

_ Galasto, eu estou preocupado com meu amigo Álefe, que estava<br />

comigo na luta contra os ciclopes. Eu o perdi e não sei onde está! _<br />

disse Valentim, buscando do duende orientação.


_ Primeiro: Você não tem forças nem mesmo para se sustentar<br />

em pé, como quer aju<strong>da</strong>r seu amigo? Também creio<br />

que Rafael já lhe disse o que deve fazer! Então não há mais<br />

nenhuma atitude que deva tomar por enquanto! Na<strong>da</strong> e<br />

nem ninguém deve ser mais importante que sua própria<br />

vi<strong>da</strong>. Sem ela, to<strong>da</strong>s as outras coisas não têm sentido. Se<br />

você morrer, como vai realizar tudo o que deseja? Portanto,<br />

pense em si e depois nos outros.<br />

_ Sim Galasto, eu concordo, mas a urgência em conquistar<br />

a Palma é grande! Somente Álefe pode pegá-la, se outros o<br />

fizerem estamos perdidos! _ prosseguiu o guerreiro.<br />

_ Eu bem sei de tudo isso! A Terra realmente precisa muito<br />

desse jovem que mal compreende sua própria missão. Ele<br />

nem mesmo se conhece ain<strong>da</strong>. É cedo demais para isso!<br />

Creio que, com esta experiência que está passando, amadurecerá<br />

bastante. _ explicou Galasto, enquanto mexia as<br />

lenhas na fogueira.<br />

_ Eu também acredito nisso. Sua mãe o espera na Terra, ele<br />

a ama demais! _ comentou Valentim.<br />

_ Lysa é uma mulher forte! _ exclamou o duende, deixando<br />

o rapaz perplexo com suas respostas.<br />

_ Como a conhece? _ questionou ao senhor, que parecia<br />

saber de tudo.<br />

_ Meu jovem, eu estou muito mais envolvido com isso tudo<br />

do que você possa imaginar! Pode acreditar no que falo. A<br />

revolta de Juliano nunca foi nenhuma surpresa para nós<br />

duendes. Conhecíamos bem o caráter duvidoso dele. Já<br />

sua irmã, Alcione, sempre foi uma pessoa honesta e digna<br />

do trono.


_ O que sabe que eu não sei? Acaso pode me dizer onde<br />

está meu mestre Havén?<br />

_ Sei onde ele está e também sei que virá na hora certa<br />

para ajudá-lo! _ respondeu Galasto convicto do que dizia.<br />

_ Confesso que não sei tudo, mas sempre procurei estu<strong>da</strong>r<br />

muito os outros, pois desta forma encontro às respostas<br />

que busco.<br />

_ Onde estão os demais duendes que protegem este lugar<br />

com você?<br />

_ Espalhados por aí! Mas, somente eu me apresentei a<br />

você. Ordens de cima! _ mencionou Galasto, que ao sorrir,<br />

intensificou as dobras <strong>da</strong> pele de seu rosto.<br />

_ Bem, o que vou fazer aqui e quando poderei ir? _ perguntou<br />

o guerreiro sem saber o que faria ali sentado numa<br />

cadeira de madeira.<br />

_ Descansará esta noite e somente deixarei que parta ao<br />

amanhecer. Não se desespere! Tudo está sob controle. Apenas<br />

repouse! _ respondeu o duende, enquanto mexia novamente<br />

as lenhas na lareira.<br />

Galasto preparava uma sopa para o jantar, o cheiro era<br />

muito agradável e despertou a fome de Valentim que estava<br />

sem comer a horas. A comi<strong>da</strong> era especial e continha<br />

ervas do jardim, que fortaleciam o corpo. Após terminar<br />

de cozinhar, o duende levou uma tigela cheia para o rapaz:<br />

_ Precisa comer! Vai se sentir mais forte! _ disse o duende<br />

com a sopa nas mãos.<br />

Valentim olhava a fumaça bailar à sua frente, desenhando


formas diversas na meia luz do ambiente e perfumando<br />

ca<strong>da</strong> canto <strong>da</strong> casa. Tomou to<strong>da</strong> a sopa como ordenara Galasto.<br />

Logo depois, sentiu-se um pouco melhor. A chuva<br />

prosseguia mais fraca. No entanto, os ventos ain<strong>da</strong> sopravam<br />

fortes levantando as folhas do chão do lado de fora<br />

e fazendo com que os galhos <strong>da</strong>s árvores se balançassem<br />

intensamente. Galasto preparou um banho para Valentim<br />

com flores do Jardim <strong>da</strong>s Ilusões imersas na água, pois tinham<br />

um grande poder de cura. O rapaz entrou na banheira<br />

e tentou descansar, porém pensava muito em todo<br />

o ocorrido:<br />

_ É estranho! _ exclamou sozinho, enquanto relaxava na<br />

banheira feita com madeiras. _ Galasto é tão calmo! Tantas<br />

coisas acontecem lá fora e ele pede para que me tranquilize!<br />

O que estará ocorrendo com Álefe? Será que está muito<br />

longe <strong>da</strong>qui?<br />

Valentim se sentia deslocado, mas no fundo sabia que tudo<br />

o que Galasto fazia era para que ele se sentisse melhor e<br />

recuperasse suas forças. Afinal Álefe precisava muito de sua<br />

aju<strong>da</strong>. Após o banho, ele se deitou numa cama confortável<br />

e logo sentiu um sono pesado:<br />

_ Agora é necessário que durma. Amanhã cedo, seguirá sua<br />

jorna<strong>da</strong>, para encontrar seu amigo, que também já descansa<br />

agora! Durma e cesse seus pensamentos ansiosos, pois<br />

eles só trazem desconforto à alma. _disse o duende, saindo<br />

do quarto em segui<strong>da</strong>, deixando o guerreiro dormir.<br />

Próximo à margem do rio, Álefe estava desmaiado e sua<br />

espa<strong>da</strong> estava distante junto com a esmeral<strong>da</strong>. E um anjo<br />

de Rafael apareceu:


_ Jovem Álefe, necessita descansar! Terá muito trabalho<br />

pela manhã! _ disse o anjo.<br />

Sem que ele percebesse, o ser angélico o carregou para um<br />

canto, recostou sua cabeça sobre uma pedra num local protegido<br />

<strong>da</strong> chuva, pegou sua espa<strong>da</strong> junto com a esmeral<strong>da</strong><br />

e as colocou ao seu lado, retirando-se em segui<strong>da</strong>. Seu<br />

desmaio mais parecia com um sono involuntário para que<br />

descansasse.<br />

Após duas horas, Bilsã resolveu tirar a lança <strong>da</strong> perna de<br />

Kedáre, para enfim, a feri<strong>da</strong> cicatrizar:<br />

_ Kedáre, está na hora! Sei que vai doer um pouco, mas é<br />

preciso! _ alertou.<br />

_ Não importa, tire a lança logo! _ respondeu Kedáre que<br />

já não sentia tantas dores. As plantas que seu pai usou para<br />

curá-lo, finalmente fizeram efeito.<br />

Bilsã quebrou a ponta <strong>da</strong> lança. De uma só vez a puxou<br />

para que a dor fosse rápi<strong>da</strong>. Ao tirá-la, colocou novamente<br />

as flores amassa<strong>da</strong>s sobre a feri<strong>da</strong>, que logo começou a cicatrizar:<br />

_ Teremos que dormir aqui, neste abrigo no meio <strong>da</strong> floresta.<br />

Não podemos continuar na chuva, é perigoso. Ao<br />

mesmo tempo, poderá recuperar-se totalmente. E amanhã,<br />

procuraremos seu irmão, que deve estar ferido também.<br />

Se é que ain<strong>da</strong> está vivo! _ disse Bilsã preocupado com<br />

Guímel.<br />

_ Eu acredito que ele está bem! Guímel não vai se entregar<br />

fácil. _ disse Kedáre em resposta às dúvi<strong>da</strong>s do pai.


Os dois permaneceram ali e descansaram a noite to<strong>da</strong>.<br />

Como estavam debaixo de arbustos e árvores, não chovia<br />

neles e nem os ventos conseguiam alcançá-los. O ferimento<br />

de Kedáre já estava quase completamente sarado e suas<br />

dores haviam diminuído bastante. Já Ágata, após sair do<br />

território do jardim, subiu numa árvore frondosa embaixo<br />

de um grande galho para que a chuva não a molhasse,<br />

adormecendo ali sozinha.


Capítulo 13 _ Confronto<br />

Na margem do rio, uma intensa luz incomodou os olhos<br />

de Álefe, que logo despertou espantado. Ele percebeu que<br />

a estrela Merope brilhava no céu num forte e espetacular<br />

azul. Era possível ouvir a sinfonia de pássaros cantando alegremente<br />

e o rio estava mais calmo. Ao levantar metade<br />

do corpo, sentando-se, ele notou seus pertences ao lado e<br />

comentou consigo:<br />

_ Estranho! Quem os colocou junto a mim? _ questionou,<br />

ao ver que a espa<strong>da</strong> e a esmeral<strong>da</strong> estavam juntas. _ Não<br />

me lembro de tê-las carregado até aqui!<br />

O jovem ergueu-se do chão aos poucos, espreguiçando os<br />

braços e pernas. Lavou o rosto nas margens do rio de águas<br />

límpi<strong>da</strong>s e calmas que desciam <strong>da</strong> Grande Montanha. Ao<br />

olhar para a esquer<strong>da</strong>, notou uma árvore com muitos frutos<br />

maduros, não hesitando em alimentar-se deles. As frutas<br />

tinham um sabor diferente <strong>da</strong>s existentes na Terra, mas<br />

eram extremamente deliciosas. Álefe caminhou lentamente<br />

na beira do rio subindo a Montanha. Logo, avistou ao<br />

longe, próximo à margem, algo que despertou sua atenção.<br />

Curioso, correu para ver o que era. Ao aproximar-se, reconheceu<br />

o jovem rapaz cujas feições lhe eram familiares:<br />

_ Este é o filho mais novo de Bilsã, Guímel! _ exclamou<br />

surpreso. _ É aquele que atacou a mim e a Valentim no caminho<br />

para o templo de Havén. Por que será que está aqui?<br />

Álefe arrastou Guímel para fora <strong>da</strong> margem do rio e<br />

notou que o rapaz estava muito ferido pelo impacto <strong>da</strong><br />

que<strong>da</strong>. Em segui<strong>da</strong> tentou acordá-lo:<br />

_ Acorde, Guímel, você está bem? Acorde! _ exclamava


Álefe, sacudindo-o.<br />

Guímel logo despertou e não assimilou no começo quem<br />

estava diante dele. Reclinou-se e como estava meio zonzo,<br />

demorou um tempo para focar a visão à sua frente. Quando<br />

olhou para o lado, finalmente reconheceu Álefe e imediatamente<br />

desembainhou a espa<strong>da</strong>. No entanto, não tinha<br />

forças para atacar:<br />

_ Calma Guímel! Não creio que seja prudente fazer isso!<br />

Mal consegue ficar em pé! Se lutar contra mim, morrerá e<br />

não quero te ferir! _ alertou-o Álefe, que embora fosse seu<br />

“inimigo”, inexplicavelmente sentia compaixão por aquele<br />

guerreiro, agora, indefeso e vulnerável.<br />

_ Como não quer? Por acaso não defende Alcione? Não<br />

está do lado dela, contra nós? _ exclamou Guímel revoltado.<br />

_ Não estamos contra vocês, estamos a favor <strong>da</strong> Terra! _ respondeu<br />

Álefe que não possuía nenhuma arma nas mãos.<br />

_ Da Terra? Sei muito bem o que pretendem. Querem os<br />

Elementos para dominar tudo por lá!<br />

_ Não! Desejo a Palma para salvar a minha mãe, que sofre<br />

com uma doença incurável e é por isso que vim até aqui.<br />

Este é o único motivo. Não sei quem enganou vocês a respeito<br />

disso, mas este nunca foi o objetivo de Alcione, nem<br />

o meu.<br />

_ Quem te escuta falar assim, até acredita, mas eu não caio<br />

nessa conversa fia<strong>da</strong>! _ retrucou Guímel, que ain<strong>da</strong> insistia<br />

em querer atacá-lo e o fez mesmo sem forças para tal. Porém, Álefe desembainhou<br />

rapi<strong>da</strong>mente a espa<strong>da</strong> e se defendeu, segurando o ataque do oponente:


_ Pare com isso! Você não está em condições de lutar! _<br />

ordenou Álefe, que reteve o golpe de Guímel, mas sem violência.<br />

_ Isso não interessa! Preciso acabar com vocês logo, antes<br />

que roubem a Palma Sagra<strong>da</strong> para concluir o plano diabólico<br />

de Alcione.<br />

_ Já disse que isso é mentira! _ exaltou-se Álefe indignado<br />

com a teimosia de Guímel, lançando-o ao chão. _ Já te falei,<br />

se quiser lutar, morrerá! Se eu quisesse te ferir, já o teria<br />

feito! Se eu fosse seu inimigo e estivesse tramando contra<br />

Alioth e a Terra, não teria poupado sua vi<strong>da</strong> quando estava<br />

inconsciente.<br />

De repente, Guímel fitou os olhos em Álefe admirando<br />

sua bravura e notando que falara a ver<strong>da</strong>de, mas como foi<br />

terrivelmente envenenado pelo pai, não confiava no jovem:<br />

_ Isso não é possível! Você não diz a ver<strong>da</strong>de!<br />

_ Ouça Guímel, você realmente acredita que Alcione, sendo<br />

má, conseguiria iludir e enganar os Arcanjos, que são<br />

seres que protegem e cui<strong>da</strong>m de to<strong>da</strong> a constelação? Acha<br />

mesmo que eles elegeriam alguém que trairia o próprio irmão<br />

com fins de roubar a Palma para benefício particular?<br />

Se isso fosse ver<strong>da</strong>de, os Arcanjos já teriam tomado providências,<br />

não acha? Se Juliano fosse inocente, os Arcanjos<br />

estariam do lado dele e não do nosso!<br />

Por um instante, Guímel se calou diante <strong>da</strong>s palavras de<br />

Álefe que lhe tocaram o coração, mesmo contra sua vontade.<br />

Seu breve silêncio revelou dúvi<strong>da</strong>, já não conseguia<br />

retrucar os lúcidos argumentos do iminente inimigo:


_ Você pode me provar o que fala? Se conseguir, talvez eu<br />

ouça tudo que tem a dizer. Fui ensinado durante minha<br />

vi<strong>da</strong> inteira que o reino de Alcione estava corrompendo<br />

Plêiades e que o plano dela era tornar a Terra parte do seu<br />

domínio. Não vou acreditar em meras palavras vin<strong>da</strong>s de<br />

você, a menos que me comprove.<br />

Álefe fitou os olhos de Guímel profun<strong>da</strong>mente e disse:<br />

_ Sim, eu posso provar que Rafael, o Arcanjo que protege<br />

este mundo, está comigo, mas ain<strong>da</strong> assim não está contra<br />

vocês.<br />

Então, Álefe pediu para que Guímel se deitasse no chão e<br />

relaxasse o corpo:<br />

_ Vou te mostrar uma coisa que o próprio Rafael me concedeu,<br />

uma dádiva divina. Observe, jamais faria isso por<br />

você se eu fosse seu inimigo. _ disse Álefe calmamente a<br />

Guímel, que resistiu um pouco, deitando desconfiado, no<br />

entanto, curioso com o desafio que ele próprio havia lançado.<br />

Álefe estendeu a mão direita em direção ao corpo<br />

do rapaz e novamente nutriu bons pensamentos, que lhe<br />

levariam a experimentar emoções positivas capazes de manifestar<br />

a cura. Ele pensou firmemente na mãe, que era sua<br />

maior motivação para essa batalha, lembrou os momentos<br />

em que viveram juntos desde sua infância, todos os dias de<br />

alegria que atravessaram lado a lado e acima de tudo, no<br />

desejo de reencontrá-la em breve.<br />

Suas emoções lhe fizeram sorrir e sua mão começou a<br />

emitir uma luz divina e esplendorosa. Guímel surpreso<br />

arregalou os olhos com certo temor pelo que poderia lhe<br />

acontecer. Ao chegar ao ápice de uma poderosa emoção


de amor e alegria, Álefe lançou raios verdes de luz, que se<br />

espalharam por todo o corpo de Guímel, restabelecendo-o<br />

imediatamente. Quando se concluiu a cura, a luz se desfez<br />

sutilmente.<br />

Assustado, Guímel observou seu corpo, notando que nenhum<br />

ferimento estava presente e ficou encantado. Por<br />

outro lado, Álefe, cansado por causa do gasto de energia<br />

e pela que<strong>da</strong> no penhasco, agachou-se quase sem forças,<br />

dizendo:<br />

_ Tudo o que podia fazer, já fiz, você está bem agora! Já<br />

tem vitali<strong>da</strong>de para concluir o ataque, mas saiba que não<br />

lutarei contra você, não depois de ter lhe <strong>da</strong>do esta virtude.<br />

Não enfrentarei um ser que foi curado pelas vibrações de<br />

Rafael, isso seria desrespeitar o poder incumbido a mim.<br />

Guímel levantou-se, desembainhou a espa<strong>da</strong> e a apontou<br />

na direção de Álefe, que abaixou a cabeça em sinal de rendição,<br />

aguar<strong>da</strong>ndo o ataque do opositor, permanecendo<br />

assim por alguns segundos. Até ouvir em segui<strong>da</strong>:<br />

_ A você, abençoado ser, ofereço minha espa<strong>da</strong>! Não atacarei<br />

e tampouco matarei aquele que salvou minha vi<strong>da</strong>.<br />

_ O que disse? _ perguntou Álefe espantado.<br />

_ Agora sei que diz a ver<strong>da</strong>de! Se quisesse teria me assassinado,<br />

mas ao invés disso, curou-me, devolveu-me to<strong>da</strong> a<br />

força, mesmo sabendo que poderia morrer pelas minhas<br />

mãos! Este ato é digno de alguém de quem realmente Rafael<br />

se orgulharia muito.<br />

Álefe se levantou e fixou o olhar em Guímel, que sorria<br />

ao mesmo tempo em que lhe desciam lágrimas pela


face marca<strong>da</strong> por um ódio inútil, que carregou por<br />

anos. Agora alvejava um semblante leve, revelando sua<br />

ver<strong>da</strong>deira essência:<br />

_ Eu sei que é difícil reconhecer que foi enganado Guímel,<br />

mas é a ver<strong>da</strong>de. Não só você, mas todos que estão do<br />

lado em que lutou até agora. Juliano os iludiu com falsas<br />

promessas, fantasiou tudo de modo que se aliassem a ele.<br />

Porém, você hoje tem a chance de se redimir e caminhar<br />

conosco. Nosso único desejo é salvar a Terra através do<br />

poder <strong>da</strong> Palma Sagra<strong>da</strong>. Foi para isso que Valentim me<br />

treinou, foi para isso que ele os venceu no torneio, para<br />

proteger a Terra e Alioth <strong>da</strong>s mãos de Juliano. _ explicou<br />

Álefe ao guerreiro que ouvia tudo em silêncio de cabeça<br />

baixa, em gesto de humil<strong>da</strong>de.<br />

_ Mas se isso for ver<strong>da</strong>de, Ágata é traí<strong>da</strong> pelo próprio pai!<br />

_ comentou Guímel ao se <strong>da</strong>r conta do que Juliano fazia a<br />

filha.<br />

_ Você disse Ágata? _ perguntou Álefe, que se familiarizou<br />

com o nome dela.<br />

_ Sim, uma corajosa amazona, filha de Juliano. Nunca vi<br />

alguém lutar como ela, talvez, nem Valentim seja tão forte.<br />

Ela acredita piamente que Juliano está certo e que Alcione<br />

deseja governar a Terra! Ágata é uma jovem lindíssima que<br />

aprendeu a arte <strong>da</strong> batalha por amor à causa do pai.<br />

Imediatamente Álefe se lembrou <strong>da</strong> jovem amazona que<br />

vira e que correspondia claramente à descrição de Guímel:<br />

_ Será que... Ela é aquela garota que conheci? _ questionou<br />

ele, em voz baixa consigo.


_ O que disse? _ perguntou o filho de Bilsã ao notar que<br />

Álefe sabia de algo sobre Ágata.<br />

_ Não foi na<strong>da</strong>, apenas pensei alto. Guímel, aos poucos eu<br />

acredito que você terá to<strong>da</strong>s as respostas que, infelizmente,<br />

eu não tenho para esclarecer-lhe de imediato! O que farei<br />

agora é ir em frente até o cume <strong>da</strong> Montanha onde está a<br />

Palma.<br />

_ Escute Álefe, é perigosa para nós essa aproximação. Farei<br />

com que não percebam que estamos do mesmo lado agora,<br />

senão será o meu fim. Fingirei que ain<strong>da</strong> somos inimigos.<br />

Farei de tudo para colher informações dos planos deles e<br />

levarei para você quando possível. Eles são perigosos e não<br />

desejo que cruze o caminho de Ágata, pois ela não hesitaria<br />

em matá-lo.<br />

_ Mas, porque se revoltou tão rapi<strong>da</strong>mente contra eles?<br />

Guímel se posicionou sentando-se numa pedra e respondeu:<br />

_ Porque durante to<strong>da</strong> a minha vi<strong>da</strong>, tive que presenciar a<br />

preferência de meu pai por Kedáre. Por ser o filho mais velho,<br />

ele o treinou para que vencesse Valentim. Sempre disse<br />

que Kedáre era seu maior orgulho, seu trunfo. Por muitas<br />

vezes me humilhava quando eu tinha dificul<strong>da</strong>de em<br />

manejar a espa<strong>da</strong>, dizendo que eu jamais seria como meu<br />

irmão. Por isso, não é difícil me revoltar. Nunca demonstrei,<br />

mas possuo habili<strong>da</strong>des que Kedáre nunca aprendeu,<br />

guardei em secreto para derrotá-lo e provar para meu pai<br />

que sou melhor do que ele.<br />

_ Não imaginava isso! _ exclamou Álefe atônito. _ Quando o encontrei pela<br />

primeira vez, achei que se <strong>da</strong>vam tão bem! Pareciam realmente parceiros!


_ Aparências! _ afirmou Guímel, prosseguindo: _ Ele também<br />

me humilhava! Obrigado Álefe, acaba de me libertar<br />

disso tudo, agora sei que tenho motivos de sobra para me<br />

vingar e farei isso aju<strong>da</strong>ndo vocês.<br />

_ Fico feliz que tenha feito à escolha certa, com certeza sua<br />

vi<strong>da</strong> valerá mais a pena <strong>da</strong>qui para frente. Você nunca teve<br />

culpa por tudo o que fez, apenas cumpria cegamente o que<br />

foi erroneamente ensinado por seu pai que também está<br />

cego. _ disse Álefe, oferecendo sua mão a Guímel que a<br />

segurou firmemente.<br />

Após conversarem, juntos subiram aquela parte <strong>da</strong> Grande<br />

Montanha e foram pela floresta, para não serem percebidos.<br />

Em meio à vegetação, após an<strong>da</strong>rem por aproxima<strong>da</strong>mente<br />

cem metros, ambos avistaram um objeto luminoso<br />

em meio aos arbustos. Ao aproximarem-se, perceberam<br />

que se tratava de um pequeno baú de madeira cravejado<br />

com pedras verdes brilhantes.<br />

Preocupados com possíveis armadilhas do Jardim <strong>da</strong>s Ilusões<br />

que estava bem próximo, não ousaram tocar no objeto<br />

e apenas o observaram de perto, bastante curiosos:<br />

_ O que será isso? _ questionou Guímel admirado com o<br />

brilho que a misteriosa peça emitia. _ Nunca havia visto<br />

um baú tão belo como esse!<br />

_ Nem eu! _ disse Álefe, bastante encantado também. _<br />

Mas como estamos na Montanha Sagra<strong>da</strong>, na<strong>da</strong> me surpreende!<br />

Este lugar possui segredos tão estranhos! Infelizmente<br />

sem a presença de Valentim, não sei o que fazer<br />

diante disso!<br />

_ Sinceramente, eu também não! _ acrescentou Guímel.


_ Vi os terríveis poderes que este lugar possui e não me<br />

atreverei a tocar em algo que desconheço, embora esteja<br />

bastante curioso para saber o que há dentro dele! De repente,<br />

se o abrirmos, poderemos libertar um monstro ou<br />

uma fera como a que nos atacou no jardim!<br />

_ Ou talvez seja algo bom! Talvez este baú esteja aqui para<br />

nos oferecer aju<strong>da</strong> e não nos destruir! Será mesmo que não<br />

devíamos abri-lo? _ sugeriu Álefe com dúvi<strong>da</strong> sobre o que<br />

fazer.<br />

_ Corremos o risco de morrer! _ disse Guímel apreensivo.<br />

_ Se você quer abrir, deve ter a certeza de que aí dentro não<br />

há algo ruim que possa nos prejudicar.<br />

_ Mas, como teremos a certeza disso? _ questionou Álefe,<br />

disposto a abrir o baú. _ O que Valentim faria em meu<br />

lugar?<br />

_ Essa não é a ver<strong>da</strong>deira pergunta que deveria ser feita! _ disse<br />

uma voz familiar por detrás deles. Ao se virarem, perceberam<br />

que as três fa<strong>da</strong>s estavam em pé a sua frente e era<br />

Esmeral<strong>da</strong> quem lhes falava: _ A pergunta certa jovem, é:<br />

“O que meu coração diz que devo fazer”? As respostas para<br />

to<strong>da</strong>s as dúvi<strong>da</strong>s estão sempre no coração!<br />

_ Mas... Fa<strong>da</strong> Esmeral<strong>da</strong>, e se dentro desse baú houver alguma<br />

armadilha? Não posso fracassar nessa missão! Minha<br />

mãe precisa de...<br />

_ Cesse os argumentos que lhe trazem mais questionamentos.<br />

_ disse Brisa, interrompendo-o: _ Justificar os medos e<br />

as dúvi<strong>da</strong>s é <strong>da</strong>r força a eles. Não teve dúvi<strong>da</strong> de que salvaria<br />

Guímel! Pois veja, aí está ele ao seu lado e aliado a você.


_ O que querem dizer com isso? _ in<strong>da</strong>gou Álefe.<br />

_ Desejamos dizer que a fé é à única certeza que você possui,<br />

jovem! _ completou Minerva os dizeres de Brisa.<br />

_ Ela está certa, Álefe. _ acrescentou Guímel. _ Eu aprendi<br />

uma coisa que me fez amadurecer muito: “Se não confiarmos<br />

naquilo que sentimos, nunca venceremos e seremos<br />

sempre afrontados pelo medo!” Se não arriscar, nunca saberá<br />

se o que há dentro desse baú é bom ou não!<br />

_ Você tem razão Guímel! _ concordou. _ Se dentro desse<br />

baú existir o mal, bancarei minha escolha e a enfrentarei<br />

com minha força e fé. No entanto, meu coração não diz<br />

isso e como bem ponderou Esmeral<strong>da</strong>, devo confiar em<br />

sua voz.<br />

Os dois se abaixaram e juntos abriram o baú. Uma voz foi<br />

emiti<strong>da</strong> de dentro dele, junto com um brilho magnífico na<br />

cor verde:<br />

_ “Felizes aqueles que seguem o que diz seu coração! Eles sempre<br />

encontrarão o que procuram!”.<br />

Em segui<strong>da</strong>, o baú se transmutou numa intensa energia,<br />

que se dividiu em duas, penetrando assim no peito de Guímel<br />

e de Álefe. Esmeral<strong>da</strong>, que observava a tudo, falou:<br />

_ Aquele que tem fé pode colher frutos! Aquele que não a<br />

possui, nunca os apanhará! Esse baú carrega um poder que<br />

ain<strong>da</strong> não conhecem e que se manifestará no momento<br />

certo. Ele vive agora em vocês e agirá quando menos esperarem!<br />

O que havia nele e agora está dentro de seus corações,<br />

chama-se “tesouro <strong>da</strong> confiança”, alcançado somente<br />

por quem acredita em seus sentimentos.


_ Mas o que ele pode fazer? _ perguntou Álefe.<br />

_ O mesmo que a plena confiança! _ respondeu Esmeral<strong>da</strong>,<br />

sorrindo. _ Sigam e permitam que o tesouro que vive<br />

dentro de vocês, mostre sua riqueza! Por hora na<strong>da</strong> compreenderão,<br />

mas chegará o dia em que esse tesouro será<br />

vosso maior livramento! Guímel e você realizarão isso, juntos!<br />

Dizendo essas palavras, Esmeral<strong>da</strong> desapareceu com as outras<br />

duas fa<strong>da</strong>s, deixando os jovens perplexos. Contudo,<br />

como o tempo lhes era curto, não mais se questionaram a<br />

respeito. Apenas seguiram em frente na busca pela Palma.<br />

Capítulo 14 _ O pedido<br />

O príncipe Merope, como havia dito, levantou-se bem cedo<br />

antes mesmo que o Sol nascesse para ir até o Templo do<br />

Arcanjo Rafael com sua mãe. Segundo ele, tinha que fazer<br />

um pedido ao mesmo:<br />

_ Tudo bem se formos agora? Quero ir logo e resolver isso.<br />

Também não desejo ser notado por ninguém. _ explicou-<br />

-se Merope enquanto tomava o café <strong>da</strong> manhã ao lado <strong>da</strong><br />

rainha.<br />

_ Não sei ain<strong>da</strong> do que se trata, mas se é o que deseja,<br />

acompanharei você até lá! _ disse Alcione.<br />

_ Claro que sim, faço questão que vá comigo! Mas, tenho<br />

que buscar uma coisa em minha sala antes.<br />

_ É algo importante? _ questionou Alcione.<br />

_ Sim, é meu colar <strong>da</strong> cura! _ respondeu o príncipe <strong>da</strong>ndo<br />

pistas sobre o assunto que trataria com Rafael. _ O amu-


leto que o Arcanjo me deu há algum tempo quando me<br />

tornei príncipe, não se lembra?<br />

_ Claro! Segundo Rafael, a Palma Sagra<strong>da</strong> permanece adormeci<strong>da</strong><br />

e seu poder também. Somente esse colar manifesta<br />

a energia que ela possui, caso contrário, Álefe jamais ativará<br />

a força do elemento para salvar a Terra. Nossa! Havia<br />

me esquecido deste detalhe tão importante! _ exclamou a<br />

Alcione, lembrando-se <strong>da</strong> importância do objeto.<br />

_ Eu preciso levá-lo até Rafael e também lhe farei um pedido.<br />

_ disse Merope indo em direção ao seu aposento.<br />

O príncipe foi até a sala que conjugava com o quarto, onde<br />

guar<strong>da</strong>va seus pertences mais preciosos. Atrás <strong>da</strong> cortina<br />

havia um cofre totalmente lacrado e somente Merope e o<br />

fiel servo Baltazar, sabiam como abri-lo. Ao destrancá-lo,<br />

teve uma grande surpresa. O colar não estava lá! Aflito,<br />

procurou em todos os lugares do cofre e na<strong>da</strong> encontrou.<br />

Desesperado, chamou a mãe e lhe mostrou o cofre vazio. A<br />

caixa que armazenava o colar não estava lá dentro:<br />

_ Como pôde desaparecer <strong>da</strong>qui? _ questionou o príncipe,<br />

aflito. _ Somente um servo meu sabe que tenho este cofre<br />

e não creio que ele me trairia!<br />

_ Mande chamá-lo e o interrogaremos. _ aconselhou a rainha.<br />

Merope convocou a presença de Baltazar, que sempre teve<br />

acesso à sala íntima do aposento. Quando ele chegou, o<br />

príncipe logo o questionou:<br />

_ Baltazar, você por acaso sabe como meu colar de esmeral<strong>da</strong>,<br />

<strong>da</strong>do pelo Arcanjo Rafael desapareceu?


_ Não senhor! _ respondeu Baltazar tenso com a pergunta<br />

do príncipe. _ Sabe que não permito que ninguém, além<br />

de mim, entre nessa sala!<br />

_ Então como será que esse colar evaporou? _ perguntou<br />

Merope em busca de respostas.<br />

_ Sinceramente senhor, eu não sei! _ respondeu o servo,<br />

temeroso. _ Se quiser, pode vasculhar meus pertences e<br />

procurá-lo!<br />

_ Não é necessário! _ interveio Alcione. _ Você é uma pessoa<br />

de extrema confiança de todos nós e se quisesse roubar<br />

o colar, já o teria feito há muito tempo!<br />

_ Sim é ver<strong>da</strong>de! _ concordou Merope. _ Estou apenas em<br />

busca de uma resposta Baltazar! Não duvido de sua leal<strong>da</strong>de.<br />

Merope dispensou o servo e logo começou a cogitar outras<br />

possibili<strong>da</strong>des. De repente, Alcione, também pensativa,<br />

desconfiou de alguém:<br />

_ Pelos Arcanjos, é isso! _ exclamou, lembrando-se de uma<br />

pessoa que se encaixaria perfeitamente nas suspeitas.<br />

_ O que está pensando mãe? _ perguntou Merope quase<br />

em desespero.<br />

_ Não pode ser outra pessoa Merope! Baltazar é o único<br />

que tem acesso ao quarto. Ninguém além dele pode entrar<br />

aqui sem ser barrado pelos sol<strong>da</strong>dos e até mesmo pelos anjos<br />

que aqui permanecem! Mas, conheço uma pessoa que<br />

seria capaz de se passar facilmente por ele, alguém que está<br />

tão interessado na Palma quanto nós.


_ Kalanta! _ afirmou o príncipe, convencido.<br />

_ Sim! Somente ela teria tal habili<strong>da</strong>de! _ mencionou a<br />

rainha convicta. _ Kalanta já se passou por muitas pessoas,<br />

diversas vezes!<br />

_ É isso! Agora eu compreendo! _ disse o príncipe, lembrando-se<br />

de algo importante. _ Há alguns dias atrás, antes<br />

que Valentim e Álefe partissem em busca <strong>da</strong> Palma, Baltazar<br />

se ausentou para visitar seus familiares e estranhamente,<br />

encontrei-o aqui no palácio momentos depois. Questionei-<br />

-lhe o porquê de ter voltado e ele me disse que terminaria<br />

alguns afazeres antes de partir. Porém, já haviam se passado<br />

cinco horas desde que o vira pela última vez.<br />

_ Era ela Merope! _ concluiu Alcione. _ Kalanta esteve<br />

aqui e debaixo do nosso nariz roubou o colar! Ela e Juliano<br />

sabem que a única maneira de ativar a Palma é através<br />

dessa joia, caso contrário, eles nunca conseguirão utilizá-la.<br />

_ Mais um motivo para ir até Rafael! Só ele pode nos orientar<br />

luci<strong>da</strong>mente! _ acrescentou o príncipe que agora tinha<br />

motivos de sobra para ir até o Arcanjo.<br />

Os dois saíram às pressas do palácio e foram ao Templo do<br />

Arcanjo em busca de apoio e de uma suposta permissão<br />

que Merope tanto desejava. No caminho, estavam pensativos<br />

e atordoados quanto ao furto que ocorrera. Foram de<br />

carruagem, ela era de madeira branca com adornos verdes<br />

e dois belos cavalos negros guiavam a mesma. Ambos partiram<br />

de forma disfarça<strong>da</strong> para não levantarem suspeitas<br />

nas pessoas <strong>da</strong>s aldeias vizinhas, que na<strong>da</strong> sabiam sobre o<br />

ocorrido e nem sobre a missão que envolvia a Palma.<br />

Ao chegarem ao templo, perceberam que os serafins já esta-


vam postos com as asas abertas exibindo um divino brilho,<br />

como se os esperassem. E bem no meio deles, o Arcanjo<br />

apareceu sentado em seu majestoso trono, aguar<strong>da</strong>ndo-os<br />

para recebê-los amorosamente:<br />

_ Bem vindos amigos! _ saudou-os Rafael. _ Esperava por<br />

vocês!<br />

_ Oh Arcanjo! Precisamos de aju<strong>da</strong>! _ exclamou Alcione,<br />

reverenciando-o agacha<strong>da</strong>.<br />

_ Tenha calma, queri<strong>da</strong> rainha de Plêiades! Estou aqui para<br />

ouvi-los! _ disse em serena voz.<br />

_ Senhor Rafael, há duas coisas que precisamos lhe dizer! _<br />

aproximou-se Merope.<br />

_ Sim, eu bem sei quais são! _ respondeu o Arcanjo mostrando-lhes<br />

que já sabia do que se tratava. _ Kalanta realmente<br />

furtou o colar. Eu a vi adentrar seu palácio e a esta<br />

altura, já o entregou nas mãos de Juliano!<br />

_ E o que faremos Senhor? _ perguntou Alcione preocupa<strong>da</strong>.<br />

_ Precisamos do colar para ativar o poder <strong>da</strong> Palma e<br />

somente Merope pode fazer isso!<br />

_ Sim, eu bem sei! Mas, as forças hostis não querem a joia<br />

para pegar a Palma. Eles desejam impedi-los de utilizar o<br />

poder contido nela! Juliano nunca teve interesse no Elemento<br />

Sagrado, apenas quer destruí-lo para que a Terra<br />

não se salve. Assim será mais fácil para governá-la, sem nossa<br />

proteção. _ explicou Rafael.<br />

_ Arcanjo, oriente-nos quanto ao que fazer a respeito! _<br />

suplicou o príncipe aflito.


_ Bem, meus amados! Primeiro quero que vejam uma coisa.<br />

_ disse o Arcanjo ao levantar a mão direita e mostrar<br />

uma imagem no ar, <strong>da</strong> mesma forma como Alcione fez na<br />

fonte do palácio, quando viram o que acontecia na Montanha<br />

Sagra<strong>da</strong>:<br />

_ Sei que já sabem o que ocorre lá, mas não é isso que quero<br />

que observem. _ explicou o Arcanjo revelando-lhes algo.<br />

Eles olharam através <strong>da</strong> abertura dimensional que Rafael<br />

criara no ar e notaram alguém a mais com Kedáre e sabiam<br />

que não era Guímel. Merope olhou atentamente e descobriu<br />

que se tratava de Bilsã:<br />

_ Mas o que ele faz junto do filho? _ questionou o príncipe<br />

indignado. _ Ele sabe que é proibido para os governantes<br />

de Alioth se intrometerem na missão sem a autorização dos<br />

Arcanjos!<br />

_Como Bilsã teve tamanha pretensão? Com essa atitude<br />

ele trai a coroa que possui! _ exclamou Alcione revolta<strong>da</strong>.<br />

_ Ele fez isso a pedido de Juliano, que ordenou que se disfarçasse<br />

para não ser reconhecido. Porém, inocentemente,<br />

achou que não saberíamos. A tempestade e as batalhas fizeram<br />

com que ele perdesse o capacete, sendo assim, foi<br />

desmascarado. _ disse Rafael.<br />

_ Arcanjo! Quero que autorize a ir até ele. Se Bilsã está na<br />

Montanha, eu também irei para confrontá-lo! Valentim<br />

está lá em nome de Alioth e de todos os Arcanjos. _ pediu<br />

Merope com intensa preocupação pela vi<strong>da</strong> do filho.<br />

_ Sim! Eu permito que vá. Você é o único que pode ativar<br />

o poder <strong>da</strong> Palma através do colar. Mas aviso de antemão,


autorizo somente sua presença! Não tente levar outros! _<br />

exclamou o Arcanjo, <strong>da</strong>ndo ordens ao príncipe.<br />

_ Sim, como preferir senhor! _ aceitou Merope com a cabeça<br />

baixa em sinal de reverência. _ Mas antes, regressarei ao<br />

palácio para buscar minha armadura, sinto que enfrentarei<br />

muitos desafios e uma possível luta!<br />

_ Mas você não batalha há muitos anos Merope! Aquela<br />

armadura não te serve mais! _ comentou Alcione.<br />

_ Eu sei, mas não há mais tempo até que preparem outra<br />

para mim! _ respondeu Merope, angustiado.<br />

_ Merope, não será preciso! Já providenciei uma solução! _<br />

disse Rafael <strong>da</strong>ndo-lhe uma solução imediata.<br />

Um dos Serafins transmutou algo na mão e entregou a Merope.<br />

Era uma armadura muito especial e bem resistente,<br />

parecia ser feita de esmeral<strong>da</strong>s e estava acompanha<strong>da</strong> com<br />

uma espa<strong>da</strong> crava<strong>da</strong> de peridôtos, ungi<strong>da</strong> pelo óleo do templo<br />

de Rafael:<br />

_ Merope, eu bem sei que desistiu de ser guerreiro para salvar<br />

Alioth do perigo, há oito anos. Mas agora, é Alioth que<br />

precisa de suas habili<strong>da</strong>des como tal. Ofereço-lhe a chance<br />

de realizar o que tanto desejou um dia, lutar por seu planeta.<br />

_ disse o Arcanjo.<br />

Merope e Alcione não contiveram as lágrimas de emoção.<br />

Era o grande sonho do príncipe, tornar-se um guerreiro em<br />

nome de Plêiades e, finalmente, após oito anos, o Arcanjo<br />

lhe dera esta oportuni<strong>da</strong>de.<br />

_ Merope, seu filho é muito especial! Um líder digno de


nossa honra! Sabemos que você, como pai, não é diferente.<br />

Valentim herdou to<strong>da</strong> aquela bravura de você. _ elogiou–<br />

lhe Rafael.<br />

_ Senhor, como Merope chegará até lá? _ perguntou a rainha.<br />

_ O Jardim <strong>da</strong>s Ilusões é um lugar muito perigoso, ele<br />

terá dificul<strong>da</strong>des em atravessá-lo sozinho. Ain<strong>da</strong> mais que<br />

não luta há bastante tempo!<br />

_ Eu entendo nobre rainha, por isso o colocarei na entra<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> floresta que antecede a Palma, a Floresta Viva. Bilsã<br />

e Kedáre estão quase no local e os outros também. Mas,<br />

tome cui<strong>da</strong>do Merope, é um lugar traiçoeiro. A armadura<br />

te protegerá dos ataques, e sua valentia como guerreiro te<br />

<strong>da</strong>rá o êxito na missão. Confio em você! _ respondeu Rafael<br />

convicto <strong>da</strong> bravura do príncipe de Alioth.<br />

_ E quando o Senhor pretende transportá-lo? _ perguntou<br />

novamente Alcione, ansiosa.<br />

_ Agora mesmo se ele estiver preparado! _ olhou seriamente<br />

Rafael no aguarde do aval de Merope.<br />

_ Estou pronto há oito anos! Quando quiser Arcanjo! _<br />

exclamou o príncipe, animado.<br />

Merope abraçou a mãe que lhe desejou boa sorte. Ela lhe<br />

pediu que trouxesse os garotos sãos e salvos. Rafael olhou<br />

em direção à parede do lado esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> sala onde estavam,<br />

e um portal se abriu, sendo possível ver o outro lado<br />

claramente:<br />

_ Agora vá príncipe e faça tudo o que estiver ao seu alcance!<br />

_ ordenou Rafael.


_ Farei Senhor! _ respondeu Merope ao atravessar o portal<br />

em segui<strong>da</strong>, este se fechou imediatamente após sua passagem.<br />

_ E agora, o que faço Senhor? _ perguntou Alcione a respeito<br />

de si.<br />

_ Permaneça aqui! _ respondeu o Arcanjo. _ Se retornar<br />

ao palácio só, levantará questionamentos. Assistiremos a<br />

missão juntos na torci<strong>da</strong> para que tenham sucesso!<br />

Quando atravessou o portal, Merope se viu em frente à<br />

Floresta Viva. Estava num lugar bem alto <strong>da</strong> Montanha,<br />

sendo o último obstáculo para chegar onde se encontrava a<br />

Palma. Do local, enxergava facilmente grande parte <strong>da</strong> província<br />

do reino de Alioth e lembrou-se de que havia <strong>da</strong>do<br />

ordens aos sol<strong>da</strong>dos para segui-lo:<br />

_ Já devem estar próximos <strong>da</strong> Montanha! _ disse o príncipe.<br />

_ Rafael me disse para não convocar ninguém, mas já<br />

havia os convocado.<br />

Dizendo estas palavras a si mesmo, seguiu em frente entrando<br />

pela Floresta Viva.<br />

Havia três pequenos exércitos a cavalo nas proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

Grande Montanha. Os sol<strong>da</strong>dos notaram que o rio estava<br />

bem violento, devido à tempestade. Ao se aproximarem um<br />

pouco mais, já diante <strong>da</strong> floresta <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s, espantaram-se<br />

quando viram a chuva que caía ao redor de todo local, impedindo<br />

o acesso por qualquer um dos lados. Merope, lá<br />

de cima, observava o ven<strong>da</strong>val que se intensificava, à medi<strong>da</strong><br />

que o grupo se aproximava.<br />

O mais intrigante para o príncipe, era o fato de o céu estar


claro e a manhã ensolara<strong>da</strong>, não havendo possibili<strong>da</strong>des de<br />

chuva naquele momento. No entanto, uma nuvem negra e<br />

baixa circulava a Montanha, formando a tempestuosa barreira<br />

de água.<br />

Os sol<strong>da</strong>dos não conseguiam de maneira nenhuma atravessar<br />

a chuva. Quando o faziam, raios violentos caíam à<br />

frente deles, provocando-lhes muito temor. Até que, finalmente,<br />

desistiram, permanecendo no local com a esperança<br />

do termino <strong>da</strong> mesma.<br />

O príncipe observava aquilo e lembrou-se <strong>da</strong>s palavras do<br />

Arcanjo Rafael. Logo deduziu que a tempestade era obra<br />

de seu poder para que ninguém se aproximasse <strong>da</strong> Montanha.<br />

Então, exclamou arrependido:<br />

_ Ah! Perdoe-me Rafael! Convoquei os sol<strong>da</strong>dos na ignorância<br />

de meus pensamentos! Não quis desobedecer às ordens<br />

do conselho angélico!


Capítulo 15 _ A Floresta Viva<br />

Finalmente, Valentim desperta e se levanta. Ele encontra<br />

sua armadura coloca<strong>da</strong> na mesa, juntamente com a espa<strong>da</strong><br />

e o bastão. Uma bela mesa de café <strong>da</strong> manhã estava posta<br />

e Galasto se encontrava no jardim. Quando o rapaz saiu<br />

à procura do ancião, viu seu cavalo pastar junto com o de<br />

Álefe no jardim <strong>da</strong> casa e o duende colhia legumes, próximo<br />

a eles:<br />

_ Bom dia Valentim! Descansou bem? _ saudou Galasto.<br />

_ Sim! Sinto-me bem melhor! _ respondeu Valentim, curioso<br />

observava os animais pastarem.<br />

_ Trouxe os cavalos para descansarem, pois estavam perdidos<br />

pelo jardim! Devem permanecer aqui! Não seguirão<br />

com você, pois estão muito assustados. _ disse o duende.<br />

_ Como os trouxe até aqui? Preferimos deixá-los no pé <strong>da</strong><br />

montanha para não se assustarem ou se machucarem. _<br />

questionou Valentim.<br />

_ Não os conduzi! Vieram sozinhos! Apenas os chamei! _<br />

respondeu o enigmático e baixinho homem com um sorriso<br />

simpático.<br />

Valentim mais uma vez ficou impressionado com os poderes<br />

que Galasto possuía, certificando-se ain<strong>da</strong> mais de que<br />

ele realmente era um dos poderosos duendes que protegiam<br />

a montanha.<br />

_ Já tomou seu café <strong>da</strong> manhã? _ perguntou, enquanto<br />

terminava de colher os legumes. _ Não deve partir sem<br />

alimentar-se!


_ Claro! Quis saudá-lo com um bom dia primeiro. _ respondeu<br />

Valentim que entrou novamente na casa.<br />

Valentim se alimentou com o delicioso e revigorante café<br />

<strong>da</strong> manhã preparado por Galasto. Em segui<strong>da</strong>, vestiu–se e<br />

colocou a armadura, notando que esta parecia mais resistente<br />

e a espa<strong>da</strong>, visivelmente estava mais afia<strong>da</strong> e brilhante.<br />

_ Espero que não se importe, mas restaurei seus equipamentos<br />

para que lute melhor. _ disse Galasto ao entrar na<br />

residência com um cesto cheio dos legumes que colhera na<br />

horta.<br />

Em segui<strong>da</strong>, Valentim despediu-se do duende, agradecendo-lhe<br />

por tudo e pedindo que protegesse sempre o jardim<br />

com a mesma dedicação que o acolheu naqueles momentos.<br />

Sua força havia voltado por completo e estava pronto<br />

para seguir na missão.<br />

_ Tome muito cui<strong>da</strong>do com o “thunder light”. Pode perder a<br />

força novamente! Controle melhor o fluxo de energia que<br />

libera! Aquele ciclope poderia ter sido derrubado com muito<br />

menos esforço. Logo terá uma surpresa, alguém muito<br />

especial veio ajudá-los. Vá! _ despediu-se Galasto, <strong>da</strong>ndo-<br />

-lhe as últimas orientações.<br />

Sem demora, Valentim seguiu rumo à Floresta Viva. A<br />

casa de Galasto ficava bem próxima, fazendo divisa com o<br />

Jardim <strong>da</strong>s Ilusões. No entanto, embora estivesse ali, ninguém<br />

a avistava. Somente pela vontade do duende a casa<br />

poderia ser encontra<strong>da</strong>. Valentim estava mais animado e<br />

convicto <strong>da</strong> vitória, aguar<strong>da</strong>va ansiosamente o encontro<br />

com a tal pessoa <strong>da</strong> qual Galasto comentara.


Na entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Floresta Viva estavam agora, Kedáre e Bilsã.<br />

Era um local com aparência de um parque, possuía muitas<br />

árvores frondosas e uma atmosfera encantadora. Como em<br />

to<strong>da</strong>s as etapas que atravessaram, o ambiente parecia calmo<br />

e acolhedor e por isso mesmo, despertou certa desconfiança<br />

entre eles.<br />

_ É como no Jardim <strong>da</strong>s Ilusões, tudo parece tranquilo! No<br />

entanto, quando entramos, travamos aquela luta infernal.<br />

_ comentou Kedáre, que já an<strong>da</strong>va perfeitamente bem, graças<br />

às plantas que usou como remédio.<br />

_ Mas não se preocupe! Este lugar pelo que conheço não<br />

é tão ameaçador quanto o Jardim dos Duendes. Tudo o<br />

que existe aqui tem vi<strong>da</strong> própria e ataca o que vê pela frente.<br />

Aquilo que não considera como parte de seu território.<br />

Qualquer pessoa comum, se entrar aqui, será imediatamente<br />

extermina<strong>da</strong>. _ explicou Bilsã.<br />

_ Creio que não será o nosso caso! _ subestimou Kedáre os<br />

misteriosos poderes <strong>da</strong> Floresta. _ Já que somos guerreiros,<br />

possuímos habili<strong>da</strong>des para nos defender. Se é que existe aí<br />

somente aquilo que você mencionou.<br />

_ Como está sua perna?<br />

_ Está bem melhor, já posso lutar! _ respondeu Kedáre ao<br />

movimentar o membro para conferir. Álefe e Guímel também<br />

chegaram a uma <strong>da</strong>s entra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> floresta. Logo caminharam<br />

dentro dela. A esmeral<strong>da</strong> brilhava ali de forma<br />

mais intensa e parecia que lhes mostrava que estavam bem<br />

próximos <strong>da</strong> Palma.<br />

_ Por que a sua pedra brilha tanto? _ questionou Guímel<br />

notando a forte luz emiti<strong>da</strong> pela joia, enquanto caminha-


vam e admiravam a beleza do local.<br />

_ É um presente <strong>da</strong> fa<strong>da</strong> Esmeral<strong>da</strong>! _ respondeu Álefe. _<br />

Ela disse que esta é a chave para aquilo que eu procuro!<br />

_ E já compreendeu o significado do que ela disse?<br />

_ Ain<strong>da</strong> não, mas parece que aos poucos tudo é revelado<br />

para mim!<br />

_ Você falou <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s e acabo de recor<strong>da</strong>r o que meu pai<br />

fez! Ele as enganou, alegando ser <strong>da</strong> Corte de Alioth para<br />

que vocês as enfrentassem. Como pude não perceber a malícia<br />

dele? _ comentou Guímel ao balançar a cabeça em<br />

sinal negativo.<br />

_ É uma pena que, além do seu pai, seu irmão e Ágata<br />

também estejam enganados. Mas acredito que um dia descobrirão<br />

a ver<strong>da</strong>de, assim como você. _ disse Álefe cheio de<br />

esperanças. _ Ain<strong>da</strong> bem que conseguimos convencê-las e<br />

atravessamos com vi<strong>da</strong>.<br />

_ Esta floresta está muito calma! Será que também manifesta<br />

nossos medos, como no jardim? _ perguntou Guímel.<br />

_ Não sei. Acho que não! _ desviou Álefe o assunto. _ Estou<br />

mesmo é preocupado com Valentim, pois nos perdemos<br />

e não sei se ele está bem.<br />

_ Valentim? Se ele não sobreviver, esteja certo de que nós<br />

também não sobreviveremos! _ afirmou Guímel com um<br />

sorriso nervoso e entre os dentes.<br />

Enquanto ain<strong>da</strong> conversavam, os galhos <strong>da</strong>s árvores começaram<br />

a balançar intensamente, como se tivessem vontade<br />

própria. As plantas também se movimentaram com rapi-


dez em direção a eles. Ao perceberem que seriam atacados,<br />

posicionaram-se imediatamente em atitude de defesa. Foi<br />

quando a fa<strong>da</strong> Brisa lhes apareceu:<br />

_ Não façam isso! _ exclamou para que não erguessem as<br />

espa<strong>da</strong>s. _ Se atacarem a floresta, ela ficará furiosa! Apenas<br />

mostre a pedra e ela recuará!<br />

Álefe fez como a fa<strong>da</strong> lhe disse e antes que posicionasse<br />

a pedra nas mãos, Brisa desapareceu. Os galhos ao<br />

sentirem a energia <strong>da</strong> esmeral<strong>da</strong>, retrocederam e não se<br />

aproximaram mais deles. Enquanto Álefe mantivesse a<br />

pedra na mão, na<strong>da</strong> os atacaria.<br />

_ Sua pedra é mágica! Poderemos passar por aqui sãos e<br />

salvos! _ comentou Guímel.<br />

_ Este presente <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s é realmente incrível! _ respondeu<br />

Álefe admirado.<br />

Assim, caminharam livremente sem serem atacados. A floresta<br />

era muito grande e poderiam se perder facilmente se<br />

não ficassem atentos. Mas, algo preocupava Álefe, seu amigo<br />

Valentim! Contudo, quando pensava nele, lembrava-se<br />

de sua responsabili<strong>da</strong>de na missão, o que fazia com que seguisse<br />

em frente, confiante. Convicto, ele cria que o amigo,<br />

logo apareceria para ajudá-lo.<br />

Ao entrar na Floresta, Valentim percebeu que tudo ali tinha<br />

vi<strong>da</strong> própria e atacava qualquer coisa que se movesse<br />

não pertencente ao seu território. Estava muito cauteloso,<br />

posicionado para defender-se caso fosse necessário.<br />

Não demorou muito para que os galhos <strong>da</strong>s árvores começassem<br />

a atacar o filho de Merope sem trégua. Com a força


de chicotes, elas investiam contra o rapaz e este revi<strong>da</strong>va<br />

com a espa<strong>da</strong>, cortando-os. No entanto, seu esforço era<br />

inútil, pois a ca<strong>da</strong> contra ataque dele, a Floresta se tornava<br />

mais agressiva. A única saí<strong>da</strong> para o guerreiro era fugir<br />

correndo por entre elas, como recurso de defesa. Em meio<br />

à luta, ele ouviu o som de pequenas explosões nas proximi<strong>da</strong>des,<br />

recor<strong>da</strong>ndo-se de Bilsã:<br />

_ Será que Bilsã está aqui? _ perguntou a si mesmo. _ Será<br />

que utiliza as grana<strong>da</strong>s para atravessar a Floresta? Pensei<br />

que tivesse usado to<strong>da</strong>s na batalha no Jardim <strong>da</strong>s Ilusões!<br />

Mas não se tratava de Bilsã e sim de Ágata, que usava as<br />

flores como poderosas dinamites que destruíam to<strong>da</strong> a floresta<br />

diante dela:<br />

_ A única maneira de atravessar esse lugar, ilesa, é eliminando<br />

estas malditas árvores! Se eu as destruir, não terão<br />

galhos para me atacar. _ disse a amazona, com uma expressão<br />

de raiva no olhar e lábios cerrados.<br />

Porém, a Floresta Viva não se defendia apenas com as árvores,<br />

mas com tudo o que havia nela. Pedras e plantas<br />

também pelejavam contra Ágata, que detinha os ataques<br />

<strong>da</strong> forma que lhe era possível.<br />

Não muito longe <strong>da</strong>li, Bilsã e Kedáre enfrentavam os mesmos<br />

problemas. Ambos lutavam incansavelmente para<br />

destruir a vegetação que os encurralava. Plantas mortíferas<br />

espirravam gases venenosos e algumas até possuíam dentes.<br />

Ferozmente, investiam sobre eles com o objetivo de aniquilá-los:<br />

_ Não tinha ideia de que esta Floresta era tão poderosa!<br />

Como faremos para atravessar? _ questionou Kedáre, tra-


vando uma luta difícil contra “a inimiga”. _ Por mais que<br />

lutemos, não venceremos uma grande floresta como esta,<br />

que possui tantas armadilhas e perigos!<br />

_ A única maneira é enfrentar sua fúria desmedi<strong>da</strong>, não há<br />

outra saí<strong>da</strong>! _ exclamou Bilsã. _ Se ficarmos parados, suas<br />

árvores e plantas nos matarão rapi<strong>da</strong>mente!<br />

Um estranho olhar se escondia por entre a vegetação, como<br />

se quisesse avaliá-los. Tal figura os observou por uns minutos,<br />

em segui<strong>da</strong> desapareceu como um raio, sem que fosse<br />

percebi<strong>da</strong>.<br />

Merope também avançava pela floresta, mas sem maiores<br />

dificul<strong>da</strong>des. Como trajava a armadura feita com o mesmo<br />

tipo de esmeral<strong>da</strong> que Álefe possuía, era ignorado por to<strong>da</strong><br />

a natureza que ali residia. No entanto, pensava no filho:<br />

_ Estou protegido pela armadura feita com a esmeral<strong>da</strong>,<br />

que afasta o ataque <strong>da</strong> floresta, mas Valentim não! Preciso<br />

encontrá-lo e protegê-lo, antes que seja morto. _ preocupou-se<br />

o príncipe com os desafios que o filho possivelmente<br />

enfrentaria.<br />

Enquanto isso, os sol<strong>da</strong>dos de Alioth pelejavam para atravessar<br />

a chuva. Mas, com vãos esforços! A força <strong>da</strong> tempestade<br />

era muito superior à deles, tornando impossível<br />

a travessia. No templo de Rafael, a rainha que observava<br />

atentamente a tudo, juntamente com o Arcanjo, inquietou-se:<br />

_ Senhor Rafael, por que não permite que os sol<strong>da</strong>dos de<br />

nosso exército cruzem a chuva? Eles podem prestar auxílio!<br />

_ Acaso não percebeu que os sol<strong>da</strong>dos de Bilsã não sobre-


viveram! _ respondeu Rafael amorosamente. _ Se atravessarem,<br />

terão o mesmo fim! Somente aqueles que possuem<br />

o espírito forte sobrevivem às provações <strong>da</strong> Montanha. Eles<br />

não estão preparados para isso. Com essa forte chuva eu<br />

apenas guardo a vi<strong>da</strong> deles, pois não desejo que morram!<br />

Alcione fechou os olhos após a resposta do Arcanjo. Ela<br />

reconheceu a limitação a qual estava condiciona<strong>da</strong>. Limitação<br />

esta que Rafael certamente não possuía.<br />

_ Queri<strong>da</strong> rainha não se aflija. Para que o exército não<br />

insista, eu os aju<strong>da</strong>rei a desistirem desse equívoco. _ disse<br />

o Arcanjo, que fechou os olhos e concentrou sua energia.<br />

Os sol<strong>da</strong>dos, ain<strong>da</strong> determinados a cumprir as ordens de<br />

Merope, permaneciam no local para adentrarem a Montanha.<br />

Mais uma vez, ousaram se aproximar <strong>da</strong> floresta <strong>da</strong>s<br />

fa<strong>da</strong>s, onde chovia fortemente. De repente, um Serafim<br />

apareceu diante deles com um brilho intenso. Ao bater de<br />

suas seis asas, fortes ventos eram provocados, o que atordoou<br />

um pouco os cavalos:<br />

_ Não ousem avançar em direção à floresta! _ disse o Serafim<br />

com autori<strong>da</strong>de, deixando os sol<strong>da</strong>dos perplexos. _<br />

Vosso Arcanjo ordenou que voltem ao palácio. Pois os perigos<br />

desta Montanha são um desafio que não superarão.<br />

Diante do alerta divino, o grupo retornou ao palácio de<br />

Merope.<br />

Não muito longe <strong>da</strong>li, Álefe e Guímel avistaram um lago<br />

entre as árvores. Ao se aproximarem, Álefe se espantou<br />

com o que avistou. O lago era exatamente igual ao que via<br />

em sonhos quando criança. A água era florescente esverdea<strong>da</strong><br />

e luzes brilhantes subiam e desciam dela, formando


um movimento circular:<br />

_ Por que está tão assustado? Este lago lhe parece familiar?<br />

_ perguntou Guímel ao notar o espanto do companheiro.<br />

_ Sim! _ respondeu com um olhar surpreso. _ Eu e minha<br />

mãe sonhávamos com este lago. Uma voz sempre falava<br />

coisas estranhas comigo e na época, não entendia absolutamente<br />

na<strong>da</strong>. Mas agora, a compreensão me é revela<strong>da</strong><br />

pouco a pouco.<br />

_ Não posso te esclarecer a respeito, porque também não<br />

conhecia este lugar! _ acrescentou Guímel ao fitar os olhos<br />

nas luzes no lago com curiosi<strong>da</strong>de e admiração.<br />

Quando fizeram silêncio, as luzes que desciam e subiam do<br />

lago voaram em direção à margem, transformando-se. Ao<br />

se materializarem, tomaram a forma de guerreiros, vestidos<br />

com armaduras belíssimas <strong>da</strong> cor <strong>da</strong> pedra de Álefe. Eram<br />

doze no total e ca<strong>da</strong> um possuía uma longa capa branca<br />

cobrindo as costas. De repente, o líder do grupo dos guerreiros,<br />

deu um passo à frente e lhes dirigiu a palavra:<br />

_ Somos os Ninjas Verdes! Protegemos esta floresta de invasores<br />

como vocês! E eu sou Strong, o capitão do grupo!<br />

O Guerreiro líder dos Ninjas tinha uma particulari<strong>da</strong>de<br />

em sua armadura, na altura do peito havia uma pedra preciosa<br />

crava<strong>da</strong>, que indicava sua posição. Strong era um homem<br />

de boa aparência e transparecia muita sereni<strong>da</strong>de e<br />

firmeza no olhar.<br />

_ Strong, não somos invasores! Fomos enviados de Alioth!<br />

Eu sou o Espírito Sagrado, vim <strong>da</strong> Terra para buscar<br />

a Palma, a fim de salvar meu mundo! _ disse Álefe com a


voz trêmula e com impulsos fortes no coração, devido ao<br />

nervosismo ao qual era submetido.<br />

_ Não acreditaríamos se não tivesse esta esmeral<strong>da</strong> nas<br />

mãos! _ respondeu o líder.<br />

_ Recebi <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s. Disseram-me que se tratava de um presente,<br />

cujo significado eu descobriria na hora certa! _ explicou<br />

Álefe.<br />

_ Pelo visto, elas não te informaram sobre o poder que possui<br />

esta pedra, não é? _ questionou o ninja com as mãos na<br />

altura <strong>da</strong> cintura.<br />

_ Não! E você sabe?<br />

_ Sim, mas não revelarei! _ respondeu Strong em tom desafiador.<br />

_ Direi apenas com uma condição: Terá que enfrentar<br />

um dos meus sol<strong>da</strong>dos! Você e seu amigo. Se vencerem,<br />

direi e permitirei que avancem em direção a Palma, que se<br />

encontra bem a frente desta floresta. E se perderem, serão<br />

executados aqui mesmo! Se forem enviados de Alcione,<br />

certamente treinaram bastante. E demonstrarão isso no<br />

desafio que propus.<br />

_ Como assim? Quer dizer que não confia nos enviados de<br />

Alcione? Duvi<strong>da</strong> <strong>da</strong> rainha? _ questionou Álefe revoltado.<br />

_ Duvido de vocês! _ respondeu Strong, que parecia não<br />

se importar com o fato de Álefe ser o Espírito Sagrado. _<br />

Deci<strong>da</strong>m! Não temos muito tempo!<br />

Os dois pensaram muito e, como não tinham outra saí<strong>da</strong>,<br />

aceitaram o desafio:<br />

_ Vamos lutar! Não fugiremos de vocês! Mesmo que tenha-


mos que enfrentar todos, faremos em nome <strong>da</strong> Terra! _<br />

decidiu Álefe, corajosamente.<br />

_ Olha só! Parece ser valente! _ comentou o líder a respeito<br />

<strong>da</strong> bravura que Álefe denotara. _ Quero que mostre isso na<br />

luta. Não pegarei leve com vocês, enfrentarão Dáios, que<br />

abaixo de mim, é o mais poderoso de nós.<br />

_ A luta será individual? _ perguntou Guímel.<br />

_ Não! Os dois lutarão contra ele. Juntos, ain<strong>da</strong> serão vencidos!<br />

Dáios é muito habilidoso e em breve se tornará líder<br />

em meu lugar! _ respondeu Strong, que parecia provocá-los<br />

com as palavras.<br />

O forte Dáios aproximou-se deles e se posicionou. Ele era o<br />

mais alto dos guerreiros, medindo aproxima<strong>da</strong>mente dois<br />

metros, de aparência rude e corpo musculoso. O guerreiro<br />

demonstrava uma postura altiva diante dos rapazes. Na<br />

mão direita, carregava uma lança compri<strong>da</strong> e a apontou em<br />

direção aos dois num gesto que significava combate:<br />

_ Dáios é um guerreiro excepcional! _ mencionou Strong.<br />

_ Ele possui uma lança considera<strong>da</strong> lendária em Alioth.<br />

Nenhum guerreiro jamais deteve seu poder. Essa lança foi<br />

confecciona<strong>da</strong> com pedras do templo de Rafael e banha<strong>da</strong><br />

pelas águas deste lago. Não há entre os guerreiros deste<br />

mundo, alguém que seja capaz de destruí-la. Acreditamos<br />

que somente os Arcanjos possuem o poder de quebrá-la.<br />

_ Então, este é o guerreiro que usa a lendária lança? _ admirou-se<br />

Guímel.<br />

_ Já o conhecia? _ perguntou Álefe.


_Pessoalmente não, mas já ouvi muito a seu respeito. Meu<br />

pai, certa vez, contou para mim e meu irmão sobre esta<br />

lança lendária. No entanto, ninguém tinha a prova real de<br />

que ela existia. Pelo que ouvi, a arma foi produzi<strong>da</strong> com<br />

pedras sagra<strong>da</strong>s do templo de Rafael. Se isso for ver<strong>da</strong>de,<br />

certamente é invencível! _ explicou Guímel, que deixou<br />

Álefe impressionado.<br />

_ Quando quiserem! Prometo que os matarei logo! _ exclamou<br />

Dáios num convite para lutarem sem per<strong>da</strong> de tempo.<br />

_ Comecem a luta! _ ordenou o líder, <strong>da</strong>ndo início ao combate.<br />

Guímel andou calmamente para a esquer<strong>da</strong> de Dáios, enquanto<br />

Álefe permanecia à sua frente. Ao aproximar-se<br />

mais do oponente, Guímel com um salto preciso lançou estrelas<br />

de ferro contra ele, que sem esforço algum, desviou-<br />

-se de algumas e golpeou outras com a lança.<br />

_ Puxa! Realmente ele é ágil! _ comentou o filho de Bilsã,<br />

que testara as habili<strong>da</strong>des do adversário.<br />

Álefe o atacou com a espa<strong>da</strong>, porém, Dáios se defendeu<br />

facilmente com a lança. Guímel aproveitou a distração do<br />

guerreiro e também o golpeou com sua lâmina, to<strong>da</strong>via,<br />

o oponente voltou-se em sua direção, atingindo-lhe<br />

com um chute. Em segui<strong>da</strong>, lançou Álefe a uma grande<br />

distância com a força de um pontapé.<br />

_ É só isso? É tudo o que podem fazer? _ perguntou o ninja,<br />

cinicamente aos dois.<br />

Nervosos com as provocações, os rapazes se puseram de pé.<br />

Como num piscar de olhos, Guímel desapareceu, reapare-


cendo logo atrás do adversário, atacando-o de surpresa. E<br />

mais uma vez, o guerreiro se defendeu. Dáios lançou uma<br />

estranha energia através <strong>da</strong> lança e arremessou para longe<br />

o guerreiro.<br />

Ferido, Guímel não conseguia levantar-se e seu amigo, correu<br />

para socorrê-lo:<br />

_ Você consegue levantar? _ perguntou Álefe atônito pelo<br />

poder que possuía a arma letal de Dáios.<br />

_ Sim, fui atingido, mas ain<strong>da</strong> posso lutar! Não será este<br />

ataque que me derrubará! _ respondeu com dificul<strong>da</strong>des,<br />

na tentativa de reunir forças para se colocar em pé.<br />

_ Vão ficar aí conversando ao invés de me enfrentar? Ou<br />

será que já se deram por vencidos? _ perguntou o grande<br />

guerreiro, que insistentemente os provocava com insultos<br />

e desafios.<br />

Ao ouvir a afronta, Álefe indignado se levantou enfurecido<br />

e determinado a derrotar o oponente. Segurou firme a espa<strong>da</strong><br />

e caminhou cautelosa, porém firmemente em direção<br />

ao guerreiro:<br />

_ Esse olhar de ódio não me assusta! Vou golpeá-lo com minha<br />

lança e desta vez, esteja certo de que não se levantará!<br />

_ zombou o ninja do rapaz.<br />

Sem hesitar, Álefe correu até Dáios num novo ataque com<br />

a espa<strong>da</strong>. Porém, a habili<strong>da</strong>de de defesa do oponente era<br />

superior, e nenhum dos golpes do rapaz atingia o ninja.<br />

Embora treinado por Valentim, a veloci<strong>da</strong>de de ataque de<br />

Álefe era inferior a de Dáios, que levava vantagem com a<br />

poderosa lança.


Mas determinado a vencer, o Espírito Sagrado fez com que<br />

sua força se elevasse e combateu com mais afinco ao incrível<br />

guerreiro. Para surpresa do adversário, os olhos do<br />

rapaz começaram a brilhar num azul tão luminoso, que lhe<br />

causou espanto:<br />

_ O que é isso? _ questionou Dáios surpreso, enquanto se<br />

defendia <strong>da</strong>s investi<strong>da</strong>s.<br />

Strong, que observava a luta atentamente na companhia<br />

dos demais ninjas, ficou admirado ao ver o brilho dos<br />

olhos de Álefe. Logo, exclamou consigo:<br />

_ Este poder que ele manifesta é grande demais para um<br />

jovem guerreiro! Esta força só pode ser de...<br />

_ Então este é o eleito de Alcione e dos Arcanjos! _ afirmou<br />

Guímel ao notar a estranha e poderosa energia que<br />

Álefe manifestara. _ Finalmente vejo com meus próprios<br />

olhos que ele é o escolhido!<br />

Dáios, agora inseguro, já não revi<strong>da</strong>va com tanta destreza<br />

os ataques do adversário, que se tornavam ca<strong>da</strong> vez mais<br />

fortes. Não somente os olhos do rapaz brilharam como<br />

também a espa<strong>da</strong> que ganhara do Arcanjo Miguel. A habili<strong>da</strong>de<br />

de Dáios não era mais suficiente para deter Álefe,<br />

que ao golpear novamente a lança, com uma força descomunal,<br />

incrivelmente, partiu-a ao meio.<br />

Um grande silêncio rompeu a Floresta. O grande Dáios estava<br />

parado com os dois pe<strong>da</strong>ços <strong>da</strong> lança nas mãos. Após<br />

desferir o golpe, a espa<strong>da</strong> de Álefe voltou ao estado normal.<br />

Todos olhavam espantados àquela cena. Jamais a lendária<br />

arma do guerreiro havia se partido. Em to<strong>da</strong>s as batalhas<br />

que travou, sempre venceu.


_ A lança de Dáios se partiu! Então eu não estava errado! _<br />

exclamou Strong impressionado com o que vira.<br />

Até mesmo Dáios estava chocado ao perceber que a poderosa<br />

lança estava quebra<strong>da</strong> em suas mãos. Porém, isso não<br />

o fez desistir do combate:<br />

_ Preciso reconhecer que você foi o único que conseguiu<br />

essa proeza! Ninguém sequer arranhou minha arma. Mas,<br />

não pense que fui derrotado junto com ela. Ain<strong>da</strong> estou<br />

inteiro, e vencerei este combate!<br />

Num ato de fúria, Dáios reuniu sua energia na lança quebra<strong>da</strong><br />

e a atirou contra Álefe, que cruzou os braços numa<br />

posição de defesa. Contudo, não conteve o poder do ataque<br />

que o lançou para longe.<br />

_ Mesmo com a incrível manifestação de força por parte de<br />

Álefe, não derrotaram Dáios, um dos maiores guerreiros de<br />

Alioth! _ comentou Strong, que embora se impressionasse<br />

com a estranha energia de Álefe, não acreditava que venceriam<br />

o desafio.<br />

A luta prosseguia árdua e a derrota, infelizmente parecia<br />

óbvia.


Capitulo 16 _ Grande força<br />

A batalha prosseguia e de qualquer maneira haveria uma<br />

decisão. Os rapazes não passariam <strong>da</strong>li, se não vencessem<br />

Dáios, que se mostrava muito mais forte. Embora ocorresse<br />

uma incrível manifestação de poder por parte de Álefe,<br />

não foi o suficiente. Agora, ambos estavam feridos no chão<br />

pelo poder <strong>da</strong> lança que, mesmo parti<strong>da</strong>, fazia estragos.<br />

Longe <strong>da</strong>li e em combate, Valentim sentiu que seu amigo<br />

corria perigo:<br />

_ Álefe! _ exclamou. _ O que será que ocorre com ele?<br />

Tenho que alcançá-lo de algum jeito! Mas esta floresta não<br />

para de investir contra mim!<br />

Sem previsão de quando venceria a floresta, Valentim se<br />

defendia dos ataques incessantes. Isso era tudo que estava<br />

ao seu alcance.<br />

Sem a aju<strong>da</strong> do seu mestre, Álefe precisava encontrar um<br />

meio de derrotar Dáios, pois a vi<strong>da</strong> de todos na montanha<br />

agora dependia do resultado desta luta. No templo de Rafael,<br />

Alcione assistia a tudo e percebendo que Guímel, até<br />

então inimigo, lutava ao lado de Álefe, questionou:<br />

_ Senhor Rafael, por que Guímel está com Álefe?<br />

_ Parece que ele acreditou em tudo o que Álefe lhe mostrou!<br />

Foi muito positiva essa união, do contrário, Álefe já<br />

estaria morto! _ explicou o Arcanjo.<br />

_ Mas ambos estão feridos! _ exclamou a rainha aflita. _<br />

Como triunfarão sobre Dáios? Senhor, eu conheço bem<br />

este guerreiro, ele é muito forte! Até Valentim teria dificul<strong>da</strong>des<br />

para derrotá-lo! Acha mesmo, que estão preparados


para isso?<br />

_ Você conhece bem Dáios, mas acho que não conhece<br />

Guímel! _ comentou Rafael.<br />

_ Guímel? _ questionou Alcione, curiosa.<br />

_ Sim! Ele treinou durante muito tempo sozinho e adquiriu<br />

habili<strong>da</strong>des que seu pai e o próprio Juliano desconhecem.<br />

Você observou Álefe atentamente! Logo compreenderá os<br />

mistérios que o cercam!<br />

A luta no lago dos ninjas continuava. Guímel se pôs de pé,<br />

ajudou o amigo a levantar-se e o encostou-se a uma árvore,<br />

para que descansasse:<br />

_ Fique aqui! _ disse a Álefe. _ Já fez o suficiente. Você<br />

me devolveu a lucidez e me tirou <strong>da</strong> ilusão em que estava!<br />

O resto eu farei. Derrotarei Dáios e buscaremos a Palma,<br />

certo?<br />

_ Tome cui<strong>da</strong>do! _ alertou-o Álefe, recostado na árvore,<br />

um pouco ferido.<br />

Guímel se posicionou diante de Dáios, lançando sua espa<strong>da</strong><br />

ao chão. Tal ato chamou a atenção do ninja e de todos<br />

que ali estavam:<br />

_ Pensa que me derrotará sem a espa<strong>da</strong>? Se com ela não<br />

conseguiu na<strong>da</strong>, o que te faz pensar que sem ela conseguirá?<br />

_ questionou Dáios, que jogou a lança parti<strong>da</strong> ao chão,<br />

sem compreender a ação do oponente.<br />

Guímel não respondeu uma única palavra. Reuniu sua força<br />

nas mãos e fechou os olhos, concentrando-se:


_ Álefe, esta era a técnica que eu guar<strong>da</strong>va para destruir<br />

você e Valentim! _ Guímel revelou finalmente a habili<strong>da</strong>de<br />

que escondera por tanto tempo de todos.<br />

Ele permaneceu com os olhos fechados por dois minutos<br />

e logo depois, fitou sua atenção no adversário, que o<br />

observava atentamente. Guímel, novamente desapareceu<br />

de diante dele como num piscar de olhos sem que nem<br />

mesmo Strong notasse. Reapareceu atrás de Dáios e lhe<br />

golpeou com incrível agili<strong>da</strong>de, mesmo assim, o ninja se<br />

defendeu com o braço direito:<br />

_ Quer dizer que você depositou a energia <strong>da</strong> lança no braço<br />

direito? Acho que não poderá usá-lo por enquanto! _<br />

comentou Guímel, após atingir-lhe o braço.<br />

Quando Dáios tentou mover o membro, notou a total paralisia<br />

do mesmo:<br />

_ O que você fez? _ perguntou o guerreiro aos berros, pois<br />

seu braço parecia adormecido.<br />

_ Apenas o acertei com meu punho energizado. Minha<br />

habili<strong>da</strong>de faz com que to<strong>da</strong>s as partes que eu atinjo no<br />

opositor fiquem paralisa<strong>da</strong>s. _ explicou Guímel a técnica<br />

de luta que utilizara.<br />

Aquilo assombrou a todos os presentes. O grande Dáios<br />

agora estava em desvantagem. A situação <strong>da</strong> batalha mudou<br />

de figura e o guerreiro <strong>da</strong> floresta começou a temer o<br />

adversário, que sem hesitar, prosseguiu em suas investi<strong>da</strong>s.<br />

Seus golpes eram ca<strong>da</strong> vez mais ágeis e difíceis de defender.<br />

Realmente, Guímel adquiriu um potencial admirável de<br />

luta. A ca<strong>da</strong> toque energético do filho de Bilsã, uma parte<br />

do corpo de Dáios era imobiliza<strong>da</strong>. Sem mais possibili<strong>da</strong>de


de se proteger, o ninja foi totalmente paralisado.<br />

Em poucos minutos, Dáios ficou como estátua, movia somente<br />

os olhos e a boca. Então, Guímel empregou o último<br />

golpe, um forte chute que o derrubou no chão. Dáios<br />

fora vencido pelos rapazes:<br />

_ É incrível! _ exclamou Strong boquiaberto. _ Você derrotou<br />

o mais poderoso dos Ninjas Verdes!<br />

Após vencer o combate, Guímel aproximou-se de Álefe<br />

para ajudá-lo:<br />

_ Não fazia ideia de sua real força! _ exclamou Álefe admirado<br />

e feliz. _ Ain<strong>da</strong> bem que venceu!<br />

_ Não poderia fazer menos que isso! _ respondeu Guímel<br />

com largo sorriso no rosto. _ Você me fez enxergar o que<br />

jamais conseguiria ver sozinho. Vamos até Strong! Consegue<br />

an<strong>da</strong>r?<br />

_ Sim, estou bem! Posso an<strong>da</strong>r perfeitamente. _ caminhou<br />

Álefe com o novo amigo até a presença do líder e dos demais.<br />

_ É louvável Álefe! _ elogiou Strong. _ Jamais alguém fez o<br />

que vocês fizeram! Você partiu no meio a lendária lança de<br />

Dáios e Guímel o derrubou! Estão prontos para atravessar<br />

a Floresta, não preciso mais testá-los.<br />

_ Testar? Quer dizer que tudo isso foi um teste? _ perguntou<br />

Álefe inconformado.<br />

_ Sim! _ respondeu o líder dos guerreiros. _ Enten<strong>da</strong> eleito<br />

dos Arcanjos, eu não permitiria que qualquer um passasse<br />

por aqui. A Palma Sagra<strong>da</strong> é digna de um grande guerreiro.


Contudo, sabia que Alcione te prepararia à altura. Apenas<br />

precisava me certificar de sua bravura e coragem. Como<br />

capitão desta Floresta, preciso defendê-la, pois jamais um<br />

covarde conseguiria atravessá-la.<br />

_ Não se preocupe capitão! Dáios está bem! Apenas desmaiou.<br />

Quando acor<strong>da</strong>r, poderá mover-se normalmente. _<br />

disse Guímel.<br />

_ Que bom! Sua atuação foi brilhante! Ain<strong>da</strong> bem que<br />

abriu os olhos a tempo! _ acrescentou Strong a Guímel.<br />

_ Bem, não quero que percam mais tempo! Podem atravessar<br />

a floresta, mas antes, preciso oferecer-lhes algo! Esta<br />

pedra que carrega, Álefe, possui um grande poder. E como<br />

prometi, direi para que ela é designa<strong>da</strong>. Creio que existem<br />

pessoas na Floresta, neste momento, que vocês estimam. E<br />

preciso ser honesto em revelar-lhes que: nem mesmo o melhor<br />

dos guerreiros poderia atravessá-la. Este lugar possui<br />

um grande poder e por mais habilidoso e forte que seja o<br />

intruso, será vencido pelo cansaço.<br />

_ Mas o pai de Guímel e Valentim estão aqui também, eu<br />

creio! _ comentou Álefe.<br />

_ Sei disso! Por esta razão, peço que me permita colocar esta<br />

esmeral<strong>da</strong> dentro do lago que é o centro <strong>da</strong> força <strong>da</strong> Floresta,<br />

o coração deste local está dentro destas águas. Com a<br />

pedra imersa no lago, imediatamente os ataques <strong>da</strong>s forças<br />

naturais de defesa <strong>da</strong> mata se aquietarão. No entanto, devo<br />

advertir que seus inimigos também serão poupados, tendo<br />

livre acesso à saí<strong>da</strong>. Cabe a você decidir, sabendo que não<br />

aju<strong>da</strong>rá seus amigos sem livrar também seus opositores. _<br />

explicou Strong.


_ É uma decisão difícil e muito importante! _ avaliava Álefe<br />

a questão. _ Mas desejo que coloque a pedra na água. Se<br />

meus inimigos morrerem, meu amigo também morrerá. E<br />

independente disso, não tenho interesse na morte de ninguém,<br />

mesmo quem esteja contra mim.<br />

_ Agora compreendo por que você foi escolhido! _ disse o<br />

líder, admirado com a atitude do rapaz.<br />

Álefe entregou a pedra ao capitão que a colocou dentro<br />

<strong>da</strong> água, fazendo com que to<strong>da</strong> a floresta se aquietasse.<br />

O barulho que havia ao redor, logo acabou e tudo ficou<br />

calmo, repentinamente. Em segui<strong>da</strong>, Strong retirou a<br />

pedra <strong>da</strong> água:<br />

_ Se eu a imergir novamente, a Floresta voltará à vi<strong>da</strong>! Mas<br />

só farei isso, depois que voltarem com a Palma. Por enquanto,<br />

todos dentro <strong>da</strong> floresta estarão seguros. Sigam agora!<br />

O tempo é curto, seus inimigos podem estar próximos do<br />

Elemento. _ alertou Strong. _ Nós, os ninjas protetores <strong>da</strong><br />

Floresta, velaremos pela segurança deste local. Desde que<br />

Merope se tornou príncipe, fomos escolhidos por Rafael<br />

para proteger Alioth! Lutamos em nome do bem e <strong>da</strong> cura,<br />

que reinam neste belo planeta! Sigam amigos, e levem com<br />

vocês a bravura e leal<strong>da</strong>de dos Ninjas Verdes.<br />

Finalmente, após receberem as orientações de Strong, os<br />

rapazes seguiram juntos em direção à Palma Sagra<strong>da</strong>, que<br />

estava mais perto de ser alcança<strong>da</strong>.<br />

Quando a Floresta cessou os ataques, Valentim pôde descansar e ao sentar<br />

numa pedra, ouviu um barulho por detrás dele, entre as árvores. Ele<br />

se virou imediatamente apontando a espa<strong>da</strong>, quando uma voz bastante<br />

conheci<strong>da</strong> lhe foi dirigi<strong>da</strong>:


_ Acaso pensa em atacar seu pai?<br />

_ Pai! É você!? _ exclamou Valentim espantado ao avistar<br />

Merope.<br />

_ Sou eu filho! _ respondeu o príncipe, apresentando-se<br />

com um sorriso aliviado ao encontrá-lo ileso. _ Vim a pedido<br />

de Rafael para ajudá-los. Ele me vestiu com esta armadura<br />

de esmeral<strong>da</strong>s para que a Floresta não me atacasse.<br />

Descobri que Bilsã participa <strong>da</strong> missão, por isso estou aqui,<br />

para detê-lo!<br />

_ É bom ter você por perto! _ alegrou-se Valentim. _ Agora<br />

que está vestido como o guerreiro que sempre foi, precisamos<br />

encontrar Álefe que se perdeu!<br />

_ Vamos agora mesmo procurá-lo! Creio eu, que ele não<br />

esteja longe, pois, a calmaria repentina <strong>da</strong> Floresta foi causa<strong>da</strong><br />

pela esmeral<strong>da</strong> que está em seu poder. Vamos sem<br />

demora! Talvez o apanhemos na saí<strong>da</strong> <strong>da</strong>...<br />

Merope ain<strong>da</strong> falava quando alguém lhe interrompeu:<br />

_ Será que atrapalhamos alguma coisa? Acho que não sairão<br />

<strong>da</strong>qui!<br />

Merope e Valentim viraram-se para trás e se depararam<br />

com Kedáre e Bilsã com suas espa<strong>da</strong>s em punho:<br />

_ Que surpresa! O grande Príncipe de Alioth e o bajulado<br />

filho juntos! _ comentou Bilsã cinicamente.<br />

_ Não é hora para ironias Bilsã! _ respondeu o príncipe.<br />

_ Que bela armadura você usa! Ganhou de presente <strong>da</strong> mamãe? _ prosseguia<br />

Bilsã com o sarcasmo típico de seu temperamento.


_ Não! _ respondeu Merope irritado. _ É um presente de<br />

Rafael. Estou aqui sob suas ordens. Diferente de você, que<br />

será expulso do governo quando retornarmos!<br />

_ Mas, infelizmente, lamento dizer que vocês não voltarão!<br />

_ exclamou Bilsã. _ Kedáre, eis aí sua chance, acabe com<br />

Valentim de uma vez. Enquanto eu e Merope decidimos<br />

este combate que já se perdura por oito anos!<br />

_ Por mim não é necessário que meu pai lute! Posso derrotá-los<br />

sozinho! _ disse Valentim <strong>da</strong>ndo um passo à frente.<br />

_ Não Valentim! _ contrapôs o príncipe. _ Bilsã, eu sei que<br />

esperou por este dia durante muito tempo! Sempre quis se<br />

vingar de mim. Pois bem, esta é a chance! Valentim cuide<br />

rápido de Kedáre e vá atrás de Álefe!<br />

_ O quê? Cui<strong>da</strong>r rápido de mim? O que quer dizer com<br />

isso Merope? _ perguntou Kedáre, indignado.<br />

_ É isso mesmo que acabou de ouvir! Não demorarei muito<br />

tempo para vencê-lo! _ retrucou Valentim em resposta.<br />

_ Maldito! _ exclamou Kedáre, que logo atacou o rapaz<br />

com a espa<strong>da</strong>, <strong>da</strong>ndo inicio à batalha.<br />

_ Quando quiser Bilsã! _ prontificou-se Merope.<br />

Bilsã e Merope começaram a luta de suas vi<strong>da</strong>s. Uma vingança<br />

de oito anos, finalmente chegaria a um desfecho.<br />

Kedáre e Valentim batalhavam arduamente. O filho de Merope,<br />

com sua incrível força, desviava-se com agili<strong>da</strong>de dos<br />

ataques ligeiros do inimigo. O filho de Bilsã lançou as estrelas<br />

de ferro, mas, o líder <strong>da</strong> milícia de Alioth as apanhou<br />

com as mãos:


_ Eu me fortaleci muito desde a luta que tivemos há dois<br />

anos! É per<strong>da</strong> de tempo continuar com isso! _ comentou<br />

Valentim, enquanto se defendia.<br />

_ Acha que sou tão fraco assim? Eu vou vencê-lo! _ exclamava<br />

Kedáre, com ódio nas palavras e muita persistência.<br />

Kedáre investia com a espa<strong>da</strong>. No entanto, Valentim, desviou-se<br />

e saltou sobre ele. Golpeando-o nas costas com um<br />

chute que o derrubou.<br />

Já a luta de Merope parecia estar iguala<strong>da</strong>, o combate dos<br />

dois envolvia muitas coisas, além de ódio. Valentim, observando-os,<br />

decidiu deixá-los a sós:<br />

_ Kedáre, não perderei mais tempo com você! Meu amigo<br />

precisa de aju<strong>da</strong>! _ disse, enquanto o adversário se levantava.<br />

_ Antes de me vencer, não sairá <strong>da</strong>qui! _ respondeu Kedáre,<br />

contra atacando com to<strong>da</strong> a força que possuía. Valentim<br />

novamente se defendeu, mas como os golpes eram<br />

constantes, ficou momentaneamente impedido de revidá-<br />

-los. O mestre de Álefe sabia que precisava vencer o filho<br />

de Bilsã o mais rápido possível, pois seu amigo estava em<br />

algum lugar sozinho e provavelmente desprotegido. De repente,<br />

ele deu um leve salto para trás, guar<strong>da</strong>ndo a espa<strong>da</strong>:<br />

_ O que houve? _ perguntou Kedáre. _ Vai desistir e fugir?<br />

_ Não! Vou por um fim a esse combate sem propósito!<br />

Guardei minha espa<strong>da</strong> porque não quero matá-lo! _ respondeu<br />

Valentim, irritando ain<strong>da</strong> mais o rapaz, que avançou<br />

com a lâmina, a fim de feri-lo fatalmente. Valentim<br />

segurou com as mãos o ataque. Em segui<strong>da</strong>, saltou por


cima do adversário com agili<strong>da</strong>de, desferindo com técnica<br />

apura<strong>da</strong>, um golpe na nuca para desmaiá-lo.<br />

_ Desculpe Kedáre, mas nem eu e nem você podemos impedir<br />

a luta de nossos pais! Quando você acor<strong>da</strong>r, creio que<br />

eles já terão um fim para esse combate que é necessária há<br />

anos! _ disse Valentim ao arrastá-lo desmaiado para perto<br />

de uma enorme árvore, onde o acomodou. Em segui<strong>da</strong>,<br />

o jovem deixou seu pai decidir a luta a sós e correu para<br />

encontrar Álefe.


Capítulo 17 _ Acerto de contas<br />

Após a saí<strong>da</strong> de Valentim, Merope prosseguiu o combate<br />

com o opositor. Era uma luta que envolvia muitas questões,<br />

ódio, vingança, inveja e ambição que Bilsã carregou<br />

durante oito anos. O príncipe estava há muito tempo sem<br />

lutar, mas a armadura, juntamente com a espa<strong>da</strong>, feita de<br />

peridôtos e ungi<strong>da</strong> pelo Arcanjo, o <strong>da</strong>va vantagem sobre o<br />

oponente. Enquanto lutavam, discutiam sobre o passado.<br />

Kedáre estava desmaiado pelo golpe de Valentim, cujo desejo<br />

era que o pai resolvesse de uma vez por to<strong>da</strong>s a questão<br />

com Bilsã, que agora, incessantemente, o atacava na tentativa<br />

de liquidá-lo:<br />

_ Você lembra-se <strong>da</strong> vez em que me roubou a liderança <strong>da</strong><br />

guar<strong>da</strong>? _ perguntou Bilsã, enquanto inferia golpes violentos<br />

contra Merope.<br />

_ Jamais roubei algo de alguém! Aquela foi uma luta justa,<br />

eu venci porque era mais preparado. _ respondeu o príncipe<br />

ao parar momentaneamente o combate.<br />

_ Você não somente tomou meu cargo, como também destruiu<br />

meu sonho. _ retrucou Bilsã em profun<strong>da</strong> revolta.<br />

_ Do que fala? _ perguntou o príncipe confuso.<br />

_ Dediquei minha vi<strong>da</strong> inteira ao desejo de tornar-me líder<br />

<strong>da</strong> guar<strong>da</strong> de Alioth. Desde pequeno, este era o meu objetivo.<br />

Quando cresci, treinei bastante para me fortalecer,<br />

pois sabia que o torneio estava se aproximando e a possibili<strong>da</strong>de<br />

de vitória também, já que <strong>da</strong> minha família eu era o<br />

melhor. Nenhum dos meus irmãos me superava em força.<br />

Aí conheci você, um jovem que possuía os mesmos sonhos


que eu, mas com uma coisa que eu não possuía, uma mãe<br />

influente no governo! Alcione ain<strong>da</strong> não era rainha, mas<br />

faltava pouco, era notória a preferência dos Arcanjos por<br />

ela. Descobri então, que vencer você não seria tarefa fácil.<br />

Algum tempo depois, sua mãe finalmente conquistou a coroa<br />

e para completar, você me venceu no torneio. Revoltei-<br />

-me muito. Se você não fosse filho dela, jamais ganharia de<br />

mim. E o pior, foi o fato de os Arcanjos ain<strong>da</strong> lhe nomearem<br />

príncipe de Alioth. Todo o planeta finalmente estava<br />

sob o comando do homem que eu mais odiei na minha<br />

vi<strong>da</strong>! _ exclamou Bilsã em grande ódio. Nervoso an<strong>da</strong>va de<br />

um lado para o outro com os olhos tomados por vingança.<br />

_ Mas o que você não sabia era que minha outra ambição,<br />

era ser príncipe! Você era simplesmente tudo o que eu nunca<br />

pude ser. Você conquistou tudo que eu mais desejei em<br />

to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>!<br />

_ Por que me diz isso? O que essa história tem a ver com o<br />

hoje? _ perguntou Merope, percebendo a revolta e frustração<br />

de Bilsã. _ A situação agora é outra. A Terra corre perigo<br />

e ao invés de apoiar o planeta que você jura ter desejado<br />

governar, uniu-se a Juliano para destruí-la!<br />

_ Que se <strong>da</strong>ne Alioth ou a Terra, não preciso mais de nenhum<br />

dos dois mundos! _ exclamou Bilsã amargurado. _<br />

Tudo o que eu desejava você já tomou! Porém, o pior ain<strong>da</strong><br />

estava por vir. Meus filhos eram pequenos quando tudo<br />

isso ocorreu. Infelizmente, tinham o mesmo sonho que eu<br />

e por ironia do destino, seu filho os derrotou! Valentim<br />

fez com meus filhos o que um dia você fez comigo! Jamais<br />

te perdoarei! Foi então que conheci Juliano, que também<br />

sofria muito com a traição de Alcione, que por sua vez, era<br />

mãe do meu maior inimigo. Um dia ele me disse:


_ Não quer se juntar a mim e destruir Alcione? Garanto que<br />

aniquilarei a todos, inclusive o filho dela, Merope, que sei que<br />

roubou o seu trono!<br />

_ Era meu sonho, eu nasci para governar Alioth! Ele me tomou<br />

isso! E ain<strong>da</strong> por cima, humilhou meus filhos! _ respondi.<br />

_ Eu te compreendo perfeitamente. Porém, se aliar-se a mim, prometo<br />

que terá o trono que merece e que seus filhos serão tratados<br />

como heróis por todo o planeta. Tenho meios para conseguir isso.<br />

Estou formando um grande exército e em breve recuperarei meu<br />

direito de reinar sobre a constelação. O que me diz? _ sugeriu-me<br />

Juliano.<br />

_ Estou com você, desde que me prometa que Merope será aniquilado!<br />

_ concordei, oferecendo-lhe uma condição e este, me<br />

fez uma promessa:<br />

_ Una-se a mim e terá a cabeça dele!<br />

_ Desde então, vendi-me por inteiro a Juliano, e quer saber?<br />

Não me interessa se ele está certo ou não. Na<strong>da</strong> importa<br />

desde que eu tenha o que desejo! _ prosseguiu Bilsã, despejando<br />

to<strong>da</strong> sua amargura em Merope, que apenas ouvia<br />

sem dizer na<strong>da</strong>. Com os olhos cheios de ódio, Bilsã avançou<br />

contra o príncipe na intenção de feri-lo no coração.<br />

No entanto, quando sua espa<strong>da</strong> tocou o peito de Merope,<br />

partiu-se por causa <strong>da</strong> poderosa armadura que o envolvia.<br />

_ O Arcanjo Rafael me abençoou com esta armadura. Sua<br />

espa<strong>da</strong> não significa na<strong>da</strong> diante do poder do bem! _ disse<br />

o príncipe ileso do ataque.<br />

Irado, Bilsã atacou-lhe com os punhos, mas o príncipe se<br />

defendeu, lhe <strong>da</strong>ndo um soco no rosto.


_ Sabe qual é o grande defeito de Juliano e o seu também?<br />

_ Não sabem perder! São orgulhosos demais para aceitar a<br />

derrota! E continuam o combate mesmo sabendo que serão<br />

derrotados! Tolos! _ exclamou Merope, indignado com<br />

a corrupção na qual Bilsã se afogou.<br />

_ O que você disse? Vocês não sabem de na<strong>da</strong>! Juliano os<br />

matará um por um e eu estarei lá para assisti-lo morrer e<br />

sua mãe também! _ respondeu Bilsã, zombando do inimigo.<br />

_ Você é um inútil! Não sei como conseguiu o cargo de<br />

governador <strong>da</strong> milícia. Só pode ter sido de maneira ilícita,<br />

já que mostrou não possuir competência para isso!<br />

Novamente, indignado com as duras palavras de Merope,<br />

Bilsã avançou contra ele acertando-o com um chute fortíssimo,<br />

sem defesa o príncipe caiu no chão.<br />

Bilsã não tendo escrúpulos aproveitou a ocasião para enforcar<br />

Merope, que estava sem armas e um pouco tonto pela<br />

que<strong>da</strong> brusca:<br />

_ Garanto que não sairá vivo <strong>da</strong>qui. Depois será a vez de<br />

seu precioso filho! _ bradou Bilsã, sufocando Merope pelo<br />

pescoço.<br />

_ Eu, príncipe do governo de Alioth, filho <strong>da</strong> rainha Alcione,<br />

pai do líder dos guerreiros <strong>da</strong> milícia. Sendo tudo aquilo<br />

que você nunca conseguiu ser, estando onde você nunca<br />

estará te expulso do governo, seu traidor! _ exclamou bravamente<br />

o príncipe ao lançar Bilsã para trás, este se encostou<br />

a uma árvore. _ Poderá ser o que quiser! Acreditar no<br />

que quiser! Mas não fará mais parte do nosso governo, não<br />

há lugar para enganadores em nosso reino!


_ Se não posso apoiar Juliano nesta missão, se não tenho<br />

mais o direito de permanecer no governo, você irá junto<br />

comigo! _ disse Bilsã em profundo ódio. Ele pegou uma<br />

a<strong>da</strong>ga no cinto <strong>da</strong> calça e a apontou contra Merope, Em<br />

segui<strong>da</strong>, disse:<br />

_ Morra!<br />

Bilsã correu em direção ao príncipe que se posicionou em<br />

defesa, quando...<br />

_ Bilsã! Porque você fez... _ exclamou o príncipe ao notar<br />

o ocorrido.<br />

Bilsã, num ato de loucura e desespero, segurou a espa<strong>da</strong><br />

de Merope e a cravou no próprio peito. Ao mesmo tempo<br />

em que tentou cravar a a<strong>da</strong>ga no pescoço do príncipe. Entretanto,<br />

Merope se esquivou por poucos centímetros. O<br />

governador <strong>da</strong> milícia de Alioth estava agora fatalmente<br />

ferido nos braços do pior inimigo:<br />

_ Por que todo esse ódio Bilsã? Se tivesse se guiado pela luz,<br />

governaria comigo! Juntar-se a Juliano te trouxe a morte! _<br />

desabafou o príncipe ao segurá-lo, enquanto agonizava em<br />

seus braços.<br />

_ Prometa-me uma coisa Merope? Não mate meus filhos!<br />

Permita que eles vivam e sejam o que eu não fui! _ exclamou<br />

Bilsã ao respirar pela última vez, esvaziando-se na<br />

morte, em to<strong>da</strong> sua ira e revolta.<br />

Após dizer estas palavras, Bilsã fechou os olhos e faleceu. O<br />

príncipe se levantou, colocou sua espa<strong>da</strong> sobre o peito de<br />

Bilsã e cruzou seus braços sobre ela e lhe disse:


_ Farei o que me pediu! Agora descanse como um ver<strong>da</strong>deiro<br />

guerreiro, que você sempre foi!<br />

O príncipe olhou para Kedáre que estava deitado no chão<br />

desmaiado e sentiu pena, por ser tão jovem e já entregue ao<br />

ódio e à vingança. Será muito ruim para o rapaz caminhar<br />

agora sem o pai. Merope, então, levantou-se e quando se<br />

virou para trás, percebeu que havia um homem vestido de<br />

linho usando um anel e um colar de esmeral<strong>da</strong> que reluziam<br />

muito. O príncipe logo percebeu que se tratava de um<br />

anjo e lhe dirigiu a palavra:<br />

_ Não tive culpa! Ele se matou! Tentei por diversas vezes<br />

durante muitos anos, orientá-lo, mas ele nunca me ouviu.<br />

_ Não estou aqui para condená-lo. _ disse o anjo. _ Bem<br />

vi tudo o que ocorreu. Existem coisas com as quais não<br />

podemos li<strong>da</strong>r e uma delas é o coração alheio. Ninguém<br />

consegue mostrar alguma coisa para alguém sem que este<br />

queira ver primeiro. A modéstia nos faz reconhecer que<br />

não podemos passar por cima <strong>da</strong>s escolhas dos outros, ain<strong>da</strong><br />

que não optem pelo melhor. Tudo o que podemos fazer<br />

é assistir a decadência dos outros, sem interferências.<br />

_ Acredito nisso! _ concordou o príncipe com lágrimas nos<br />

olhos. _ Nunca quis que Bilsã acabasse com a própria vi<strong>da</strong><br />

desta forma. Apesar de se opor a mim, sempre desejei que<br />

um dia ele pudesse arrepender-se, no entanto, o orgulho<br />

não o deixou.<br />

_Orgulho, inveja, ódio, amargura e mágoa são claros inimigos<br />

<strong>da</strong> alma de qualquer um! Mais do que lutar contra<br />

Juliano e impedir seus planos, devemos nos precaver desses<br />

inimigos. Bilsã não morreu por servir a Juliano, mas por


servir aos inimigos que citei. Ninguém escapa <strong>da</strong> destruição<br />

quando opta por nutrir tais sentimentos. São os piores<br />

adversários, porque além de agirem em silêncio, atuam<br />

dentro de nós, destruindo-nos completamente. _ explicou<br />

o Anjo.<br />

_ Mesmo assim, me sinto um pouco culpado! Gostaria de<br />

reparar isso! _ prosseguia Merope, que desta vez não conteve<br />

o pranto.<br />

_ Humil<strong>da</strong>de príncipe! _ advertiu o anjo em bran<strong>da</strong> voz. _<br />

Humil<strong>da</strong>de! Não poderá mu<strong>da</strong>r o mundo. Apenas faça a<br />

parte que lhe cabe e já reparará muita coisa. Jamais se culpe<br />

pelas fraquezas dos outros. Diferente dele, você escolheu<br />

o caminho <strong>da</strong> luz. Esta opção é ofereci<strong>da</strong> de igual modo a<br />

todos.<br />

Dizendo essas coisas, o anjo desapareceu. Em segui<strong>da</strong>, Merope<br />

saiu de perto do corpo de Bilsã e seguiu rumo ao local<br />

indicado pelo mapa, onde a Palma estava.<br />

Finalmente, Álefe e Guímel saíram <strong>da</strong> Floresta e chegaram<br />

ao topo <strong>da</strong> Montanha. Havia diante deles um campo gramado<br />

cheio de flores. O ar em volta era calmo e o vento,<br />

suave e tranquilo. De lá, viam to<strong>da</strong> a província de Alioth,<br />

até as nuvens estavam abaixo deles. Era realmente uma<br />

montanha muito alta:<br />

_ Enfim conseguimos! _ exclamou Guímel aliviado. _ Eu<br />

que comecei essa jorna<strong>da</strong> a fim de impedi-lo, agora estou<br />

ao seu lado no cume <strong>da</strong> Montanha. Mas não sei por que,<br />

uma tristeza invade minha alma e sinto uma forte vontade<br />

de chorar. De repente, uma sensação de per<strong>da</strong> tomou conta<br />

de meu íntimo.


_ Estranho! _ observou Álefe. _ Não sinto na<strong>da</strong> disso! Será<br />

que estamos sozinhos aqui? Tomara que ninguém tenha<br />

chegado antes de nós. Mas onde estará a Palma?<br />

_ Deveria estar aqui em cima, mas não há na<strong>da</strong>, apenas<br />

este campo florido. Não podemos nos esquecer de que os<br />

outros não sabem que te apoio agora. Devemos nos afastar!<br />

_ alertou Guímel, precavendo-se.<br />

_ É ver<strong>da</strong>de! _ concordou Álefe. _ Assim aproveitamos<br />

para procurar a Palma! Você vai pela esquer<strong>da</strong> e eu pela<br />

direita, o primeiro que a encontrar envia um sinal, certo?<br />

_ Certo, mas sua pedra não deveria indicar-lhe o caminho?<br />

_ Sim, mas desde que chegamos aqui ela não brilha mais.<br />

Talvez seja por causa <strong>da</strong> altura e proximi<strong>da</strong>de do que buscamos!<br />

_ disse Álefe com a pedra nas mãos ao verificar que<br />

não reluzia. _Vamos então!<br />

Os dois imediatamente se separaram. Álefe seguiu sozinho<br />

pela direita e não encontrava nem se quer vestígios do elemento.<br />

Repentinamente, ouviu passos vindos <strong>da</strong> Floresta<br />

e permaneceu atento. Logo viu a lin<strong>da</strong> amazona que conhecera<br />

na Vila do Sol. A bela caminhava lentamente com<br />

algumas flores nas mãos de várias cores. Quando ela o notou,<br />

surpreendeu-se e ambos se olharam espantados:<br />

_ Você? _ perguntou a jovem ao reencontrá-lo.<br />

_ Não imaginei que te encontraria aqui! A menos que faça<br />

parte desta missão! _ sugeriu Álefe curioso e, ao mesmo<br />

tempo tenso com a possível resposta.<br />

_ Nem eu podia prever que você estaria aqui! O que tem a


ver com tudo isso? _ perguntou Ágata, com receio, pois já<br />

suspeitava <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de.<br />

_ Tenho medo de dizer, porque acho que não gostará de<br />

ouvir meu nome, filha de Juliano! _ disse Álefe ao reconhecê-la,<br />

pelo que descrevera Guímel a respeito <strong>da</strong> bela.<br />

_ Você... Sabe quem eu sou? Se me conhece e sabe meu<br />

nome é por que... Você é o eleito de Alcione, Álefe? _ questionou<br />

Ágata com um olhar fixo e assustado.<br />

_ Sou eu mesmo! _ afirmou Álefe com voz trêmula. _ Jamais<br />

pensei que aquele doce olhar que me chamou atenção,<br />

pertencesse à filha do meu maior opositor!<br />

_ O mesmo te digo! _ disse ela, já transformando a doce e<br />

espanta<strong>da</strong> feição em expressão de ódio e desprezo, ignorando<br />

os próprios sentimentos e tudo de bom que sentira, em<br />

apenas alguns instantes na companhia do rapaz. _ É uma<br />

pena ter que eliminar este seu rosto inocente, porém cruel!<br />

_ Por que uma jovem tão bela como você luta contra nós?<br />

Por que apoia seu pai, sabendo que ele quer destruir a Terra?<br />

_ perguntou Álefe sem entender a revolta <strong>da</strong> moça contra<br />

ele.<br />

_ Meu pai? Na ver<strong>da</strong>de é sua rainha quem corrompe vocês!<br />

_ retrucou Ágata convicta de suas ideias. _ Já vi que não<br />

falamos a mesma língua! Seu fim é aqui!<br />

Ágata desembainhou a espa<strong>da</strong> e avançou contra Álefe,<br />

que se desviou do golpe <strong>da</strong> amazona que atingiu uma<br />

rocha. Estranhamente, ela cessou o ataque guar<strong>da</strong>ndo a<br />

arma. Logo, a bela retirou o bastão <strong>da</strong>s costas:


_ Não sujarei a espa<strong>da</strong> que ganhei de meu pai com o sangue<br />

imundo de um terráqueo! Você é a causa de to<strong>da</strong> esta<br />

guerra! _ disse revolta<strong>da</strong>.<br />

A ira de Ágata foi arremessa<strong>da</strong> contra Álefe, este fez o possível<br />

para conter a violenta afronta <strong>da</strong> jovem, no entanto,<br />

a força dela era incomparável com a pouca experiência do<br />

rapaz. Ele conseguia deter poucos golpes com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> espa<strong>da</strong><br />

que ganhara do Arcanjo Miguel, mas recebeu diretamente<br />

a maioria deles. Numa tentativa desespera<strong>da</strong>, Álefe<br />

tentou saltar para trás, a fim de fugir dos ataques, porém<br />

foi atingido em cheio pelo bastão e caiu ferido na bela grama<br />

verde <strong>da</strong> Montanha:<br />

_ É uma pena! _ exclamou Ágata, sarcasticamente. _ Uma<br />

grama tão lin<strong>da</strong> ter que presenciar este fato. Não quero<br />

perder tempo aqui com você, tenho que pegar a Palma e<br />

levá-la para meu pai!<br />

_ Mesmo que seja muito forte Ágata e acredite cegamente<br />

em Juliano, não permitirei que roube a Palma! Eu a defenderei<br />

com minha vi<strong>da</strong>! _ disse Álefe em voz firme, embora<br />

estivesse ferido e sem condições de enfrentá-la.<br />

_ Roubar? O único ladrão aqui é você, que veio de outro<br />

planeta para destruir nossa paz. Eu te exterminarei agora e<br />

meu pai ficará imensamente feliz por isso!<br />

Ágata ergueu o bastão com to<strong>da</strong> a força e desferiu um<br />

golpe contra o rapaz, porém, antes que o acertasse, o<br />

bastão foi impedido pela espa<strong>da</strong> de Valentim:<br />

_ Desculpe a demora, caro amigo, mas estou aqui! _ disse Valentim<br />

a Álefe enquanto segurava com a espa<strong>da</strong> o bastão <strong>da</strong> amazona, que<br />

por pouco não feriu gravemente o Espírito Sagrado.


_ Valentim! _ exclamou Álefe feliz em vê-lo.<br />

_ Maldito filho de Merope! Como ousa deter-me? _ perguntou<br />

Ágata, afastando-se para trás.<br />

_ Como ousa atacar o eleito dos Arcanjos? _ advertiu-a Valentim.<br />

_ Ele não é adversário para você, mas eu sou! Por<br />

que não me enfrenta, filha de Juliano!<br />

Ágata desembainhou a espa<strong>da</strong> e posicionou-se para o<br />

combate. Valentim olhou para o amado amigo no chão<br />

e disse:<br />

_ Senti sua falta!<br />

_ É bom ver você! Alegro-me que esteja bem! _ respondeu<br />

Álefe com um sorriso sincero.<br />

Valentim o ajudou a levantar-se, pedindo-lhe que fosse<br />

atrás do Elemento:<br />

_ Sabe o que tem que fazer! Procure a Palma Sagra<strong>da</strong> rápido!<br />

_ Sim, mas o problema é que ela não está aqui!<br />

_ Como assim? _ perguntou Valentim surpreso. _ Ela tem<br />

que estar aqui!<br />

_ Vão ficar de conversa? Será que acabarei com os dois de<br />

uma vez? Não tenho muito tempo Valentim, se quer me enfrentar,<br />

faça-o rápido. Não permanecerei aqui o dia todo.<br />

Devo entregar a Palma a meu pai! _ interrompeu Ágata<br />

posiciona<strong>da</strong> para o combate.<br />

_ Você conversa demais garota! _ comentou o filho de Merope ao<br />

levantar a sobrancelha, com os nervos a flor <strong>da</strong> pele.


_ Valentim, eu quero que me prometa uma coisa: Aconteça<br />

o que acontecer, não a mate! Ela não merece a dor de partir<br />

engana<strong>da</strong>!<br />

Ágata estranhou a posição de Álefe, como sendo seu<br />

inimigo, desejava poupar-lhe a vi<strong>da</strong>? O confronto entre<br />

os dois grandes guerreiros finalmente se concretizaria.<br />

Onde estará a Palma Sagra<strong>da</strong>?


Capítulo 18 _ A Palma Sagra<strong>da</strong><br />

Ain<strong>da</strong> no meio <strong>da</strong> floresta, Kedáre despertou do desmaio.<br />

Ele se levantou meio zonzo, mas conseguiu ficar em pé,<br />

considerando estranha a atitude de Valentim em não matá-<br />

-lo. Tal ação do inimigo o irritou ain<strong>da</strong> mais, pois imaginava<br />

que o filho de Merope desejava humilhá-lo ao poupar-<br />

-lhe a vi<strong>da</strong>.<br />

Ao olhar um pouco adiante, viu algo que jamais desejou<br />

presenciar na vi<strong>da</strong>. Uma cena realmente chocante! Seu pai<br />

estava morto bem diante de seus olhos. Ele correu desesperado,<br />

agachou-se no chão abraçando o corpo de Bilsã, e<br />

lamentou:<br />

_ Pai! Não! Não pode ser! _ exclamou desesperado. _ Você<br />

está morto! Como, pai? Como isso foi acontecer? Tínhamos<br />

um sonho juntos! Por favor, não me deixe agora! Como seguirei<br />

sem você? Pai...<br />

Kedáre chorou profun<strong>da</strong>mente ao ver o corpo do pai, mas<br />

logo notou a espa<strong>da</strong> de Merope, junto ao peito de Bilsã. Ao<br />

vê-la, pensou que o príncipe havia deixado-a com ele para<br />

servir de sinal, a respeito de quem o havia matado. Ain<strong>da</strong><br />

pensou que Valentim o desmaiara para aju<strong>da</strong>r Merope a<br />

executá-lo, indignando-se:<br />

_ Malditos Valentim e Merope! Assassinaram meu pai!<br />

Mas, prometo que vingarei sua morte! _ jurou Kedáre diante<br />

do corpo de Bilsã. Após chorar suas últimas lágrimas<br />

banha<strong>da</strong>s em ódio e vingança, levantou o rosto em direção<br />

ao céu e clamou pelo Arcanjo:<br />

_ Rafael! Sei que apoia Alcione e que está contra nós. Mas, por favor, dê<br />

um funeral digno para meu pai! Será a única coisa que pedirei a você!


Ele se afastou um pouco do falecido pai e a resposta do<br />

Arcanjo foi imediata. Sendo bondoso com todos, atendeu<br />

ao pedido de Kedáre e uma chama esverdea<strong>da</strong> vin<strong>da</strong> do céu<br />

imediatamente consumiu o corpo de Bilsã. Esta era a tradição<br />

em Plêiades, quando um guerreiro morria, seu corpo<br />

era cremado pela chama de um Arcanjo. Com os olhos<br />

marejados, o rapaz assistia às chamas de Rafael <strong>da</strong>ndo fim<br />

ao corpo do pai. Em segui<strong>da</strong>, abaixou a cabeça, proferindo<br />

seu último adeus, virando as costas com a espa<strong>da</strong> de Merope<br />

nas mãos e indo ao encontro <strong>da</strong> Palma, consumido pelo<br />

sentimento de vingança.<br />

No cume <strong>da</strong> montanha, Ágata e Valentim se olhavam de<br />

maneira fria. Um observando o comportamento do outro.<br />

Ela, então, iniciou a luta ao atacar o rapaz velozmente com<br />

a espa<strong>da</strong> flameja<strong>da</strong> em ódio. Porém ele, também com a<br />

espa<strong>da</strong> nas mãos, defendeu-se <strong>da</strong>s investi<strong>da</strong>s.<br />

A ca<strong>da</strong> bater <strong>da</strong>s ferozes armas de combate, faíscas espalhavam-se<br />

no ar em consonância com o som quase musical<br />

que os metais emitiam. Ambos esbanjavam a arte <strong>da</strong> luta<br />

com golpes que aprenderam do mestre Havén, agora desaparecido<br />

completamente.<br />

Em meio ao combate, Ágata arrancou a espa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mãos<br />

de Valentim, que imediatamente saltou para trás pegando<br />

seu bastão ain<strong>da</strong> no ar, <strong>da</strong>ndo prosseguimento à luta.<br />

Com uma incrível rapidez e agili<strong>da</strong>de, o guerreiro, com um<br />

chute, acertou o punho <strong>da</strong> amazona, tirando-lhe a espa<strong>da</strong>,<br />

que voou longe, caindo finca<strong>da</strong> no chão. Sem ela, não lhe<br />

restava outra opção a não ser, usar eu bastão, assim como<br />

o oponente. Ambos dominavam as armas como exímios<br />

guerreiros.


Álefe simplesmente observava a habili<strong>da</strong>de dos dois e<br />

não conseguia mover-se à procura <strong>da</strong> Palma. Guímel<br />

que não podia aproximar-se, apenas assistia a luta<br />

sem intrometer-se. Porém, outra pessoa permanecia de<br />

longe, como se esperasse o momento certo para agir. Na<br />

espreita, acompanhava atentamente o combate.<br />

Ágata era muito ágil e num descuido, Valentim foi<br />

atingido na barriga com o bastão. Em segui<strong>da</strong>, com um<br />

chute a bela o derrubou:<br />

_ Não acredito! Ela o acertou! _ exclamou Álefe impressionado,<br />

ao ver pela primeira vez alguém ferir seu instrutor<br />

em combate.<br />

Valentim se levantou rapi<strong>da</strong>mente, não deixando de elogiá-la<br />

pelo excelente desempenho. No entanto, acabou sem<br />

o bastão ao ser golpeado:<br />

_ Muito bom! _ disse. _ Você é uma guerreira muito competente,<br />

desarmou-me com maestria!<br />

_ Não se faça de idiota! Sei que jamais ficaria indefeso! _<br />

comentou Ágata ao conhecer bem o potencial do adversário.<br />

A amazona prosseguiu o combate com golpes violentos<br />

contra o rapaz ferido, este se defendia com os punhos, tão<br />

rápido quanto ela. Em meio aos ataques, Valentim num<br />

ágil movimento, conseguiu segurar o bastão. Em segui<strong>da</strong>,<br />

tentou golpeá-la com a perna esquer<strong>da</strong>, porém, numa incrível<br />

defesa, a amazona saltou sobre ele, desviando-se do<br />

chute. Logo, revidou com outro. O guerreiro, também se<br />

esquivou com perfeição do ataque, afastando-se:


_ Este bastão já me incomodou demais! _ pensou Valentim,<br />

que ergueu o braço direito e reuniu uma incrível força<br />

na mão, firmemente sustenta<strong>da</strong> pela esquer<strong>da</strong>, atacando-a<br />

de volta:<br />

_ Storm light (Tempestade de luz)! _ lançou o guerreiro vários<br />

tiros de luz violeta contra Ágata, que se defendeu ao<br />

girar o bastão velozmente. No entanto, a arma <strong>da</strong> bela foi<br />

despe<strong>da</strong>ça<strong>da</strong> em segundos. Para não ser acerta<strong>da</strong> em cheio,<br />

a amazona pulou para o lado. Porém, um dos lampejos lhe<br />

atingiu a perna. A guerreira perdeu o equilíbrio e caiu na<br />

grama.<br />

Novamente, Álefe se espantou com o poder de Valentim.<br />

Aquela técnica que envolvia magia se assemelhava com a<br />

que ele usou no Jardim <strong>da</strong>s Ilusões, mas desta vez, eram<br />

vários tiros, com menor força.<br />

Ágata se levantou com dificul<strong>da</strong>de. A perna esquer<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> amazona sangrava. Porém, permanecia decidi<strong>da</strong> em<br />

vencer o combate.<br />

_ Seu poder realmente é incrível, mas perdeu a única chance<br />

de acabar comigo! _ comentou, preparando-se para contra-atacar.<br />

_ Engana-se! _ retrucou Valentim. _ Não é de meu interesse<br />

matá-la! Álefe me pediu para poupar sua vi<strong>da</strong> e não o<br />

desapontarei. Por mim, nem lutaríamos!<br />

_ Acha que permitirei que peguem a Palma? Só se me tirarem<br />

do caminho! Vou defendê-la com minha vi<strong>da</strong>! _ disse<br />

a amazona, firmemente.<br />

_ Seria tão bom se usasse sua bravura <strong>da</strong> maneira certa! _


lamentou Valentim pela ignorância <strong>da</strong> lin<strong>da</strong> jovem. _ Uma<br />

guerreira como você, não deveria ser tão ingênua, ou será<br />

que herdou isso de seu pai?<br />

Ágata não respondeu uma só palavra. Em segui<strong>da</strong>,<br />

abaixou-se e pegou as flores que colhera, segurando-as<br />

de forma diferente e concentra<strong>da</strong>. Ela olhou fixamente<br />

para elas, e enquanto as contemplava, ameaçou Valentim:<br />

_ Vai ter que engolir o que disse! Explose flowers (Flores explosivas)!<br />

_ exclamou, lançando as flores que voaram como<br />

mísseis na direção de Valentim. Quando a primeira flor<br />

atingiu o chão, explodiu como uma dinamite. O rapaz se<br />

assustou:<br />

_ Impressionante! _ exclamou o guerreiro. _ As flores energiza<strong>da</strong>s<br />

por Ágata se transformam em dinamites! _ disse,<br />

após se esquivar com rapidez do ataque.<br />

_Valentim é muito poderoso, isso é inegável! No entanto,<br />

Ágata possui habili<strong>da</strong>des incríveis que desafiam a qualquer<br />

guerreiro. _ comentou Guímel, que observava o combate<br />

de longe.<br />

Ágata continuou o arremesso <strong>da</strong>s poderosas flores contra<br />

ele, que tentava se desviar <strong>da</strong>s explosões com saltos para<br />

os lados. Ela novamente pausou o ataque e concentrouse<br />

novamente com uma flor em especial:<br />

_ Agora, vou acabar com você e pegarei a Palma! _ disse a<br />

bela com os olhos fechados.<br />

_ Se pensa que vai ser fácil assim, está engana<strong>da</strong>! _ retrucou<br />

Valentim, que embora fosse corajoso, permanecia alerta na<br />

defensiva. Ele sabia que se fosse atingido pelas flores de


Ágata, provavelmente não sobreviveria. Álefe permanecia<br />

paralisado e preocupado com a vi<strong>da</strong> do amigo.<br />

Ágata segurou na mão uma rosa branca que havia<br />

colhido há pouco. As belas flores eram as que possuíam<br />

maior poder explosivo, sendo três vezes mais poderosas<br />

que as lança<strong>da</strong>s anteriormente.<br />

Enquanto Valentim mantinha-se atento ao próximo ataque,<br />

Kedáre, aproveitando a oportuni<strong>da</strong>de, aproximou-se<br />

por detrás dele com a espa<strong>da</strong> de Merope nas mãos. Álefe<br />

conseguiu vê-lo e tentou avisar ao amigo:<br />

_ Valentim, atrás de você! _ gritou Álefe. To<strong>da</strong>via, quando<br />

ele se virou para trás, já era tarde. Valentim estava muito<br />

envolvido no combate. Não notou a presença sorrateira de<br />

Kedáre, que num ataque covarde perfurou sua barriga com<br />

a espa<strong>da</strong> de Merope. Imediatamente, o rapaz caiu ajoelhado<br />

e segurou a espa<strong>da</strong> crava<strong>da</strong> no abdômen, tendo ain<strong>da</strong><br />

forças para arrancá-la de si. Posteriormente, Ágata abaixou<br />

a rosa, desistindo do ataque:<br />

_ Isso é pela morte de meu pai! _ exclamou Kedáre com a<br />

voz e expressão toma<strong>da</strong>s de ódio. Em segui<strong>da</strong>, afastou-se.<br />

Álefe correu até Valentim para socorrê-lo, segurando-o<br />

firme em seus braços. Em meio à sua aflição, tentava<br />

reanimá-lo, mas o ferimento parecia fatal. O sangue<br />

escorria em grande quanti<strong>da</strong>de e aos poucos, os sentidos<br />

do forte e corajoso Valentim esvaiam-se juntamente<br />

com seu fôlego de vi<strong>da</strong>. Seria o fim do guerreiro chefe <strong>da</strong><br />

milícia de Alioth? Seriam os últimos instantes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do<br />

filho de Merope, que arriscou tudo a fim de proteger e<br />

ensinar o Eleito dos Arcanjos a tornar-se um guerreiro?


Quantos questionamentos passavam pela mente do<br />

inexperiente, mas determinado, Álefe! Naqueles breves<br />

segundos, na<strong>da</strong> parecia importar para ele, com exceção<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do melhor amigo. Kedáre, tampouco Ágata,<br />

por mais forte que fossem, representavam motivo de<br />

preocupação ao terráqueo. O rapaz mantinha todo seu<br />

ser voltado ao sofrimento de Valentim, que agonizava<br />

em sua frente:<br />

_ Valentim! Seja forte, eu vou curá-lo! _ disse Álefe com o<br />

sentimento de impotência diante de algo tão grave. Suas<br />

mãos estavam vermelhas pelo sangue que saía do ferimento<br />

do amigo, o mesmo sangue que banhava seu desespero.<br />

_ Acho que não dá tempo, amigo... Este ferimento foi<br />

mortal... Não sobreviverei! _ respondeu Valentim, já sem<br />

forças para falar. Seus olhos <strong>da</strong> cor <strong>da</strong>s esmeral<strong>da</strong>s que expressavam<br />

incrível vigor, agora eram palco <strong>da</strong> agonia e dor<br />

que contaminavam o destemido guerreiro. A coragem e a<br />

bravura, adjetivos claramente percebidos por Álefe to<strong>da</strong><br />

vez que observava seu amigo e mestre em combate, <strong>da</strong>vam<br />

lugar a um sentimento de fragili<strong>da</strong>de e per<strong>da</strong>, que consumiam<br />

a alma do filho de Lysa. Como um olhar tão valente<br />

e corajoso estava agora à mercê de seu último piscar? Era<br />

incompreensível a Álefe ver seu maior exemplo de força,<br />

deslizando-se rapi<strong>da</strong>mente em direção à morte, com opacos<br />

e leves gemidos que emitiam um indesejado e torturante<br />

som aos ouvidos de seu jovem aprendiz.<br />

_ Não ousaria atacá-lo assim! Ousaria? _ perguntou Álefe<br />

à Ágata, repreendendo-a quanto a uma possível agressão.<br />

_ Não! Não sou covarde! Mas isso não acaba aqui! _ respondeu, friamente<br />

sem mover nenhum músculo contra eles, olhando-os sob o ódio e a pena.


Álefe não sabia o que fazer, seus inimigos o cercavam e Valentim<br />

estava à beira <strong>da</strong> morte. Guímel estava próximo, porém<br />

a única coisa que podia fazer era torcer por eles. Se<br />

interviesse, todos saberiam que agora estava ao lado de<br />

Álefe, jogando por terra todos os seus planos. Ao mesmo<br />

tempo, estava chocado em saber que seu pai havia<br />

morrido. Kedáre, aproveitando a chance, sem nenhuma<br />

misericórdia, ousou avançar na tentativa de matá-los:<br />

_ Vou acabar com vocês aqui mesmo! _ disse ao desembainhar<br />

a espa<strong>da</strong>. Logo, lançou-a em direção aos dois que estavam<br />

no chão, sem possibili<strong>da</strong>des de defesa. Para ele, pouco<br />

importava os sentimentos alheios e os laços que uniam os<br />

guerreiros. Agora, envolvidos pela dor que ameaçava separá-los<br />

para sempre.<br />

Ágata permanecia inerte e somente os observava.<br />

Estavam indefesos e sem a menor possibili<strong>da</strong>de de fuga.<br />

No entanto, Álefe parecia ignorar o inimigo, fixando a<br />

atenção apenas no amigo que morria em seus braços. De<br />

repente, a esmeral<strong>da</strong> começou a brilhar intensamente<br />

em seu bolso.<br />

Álefe segurou a pedra fortemente, com o pressentimento<br />

que uma esperança brotava naquele instante. Todos se<br />

impressionaram com a luz <strong>da</strong> belíssima joia, que fez<br />

com que a espa<strong>da</strong> do inimigo caísse ao chão. Mesmo<br />

assim, Kedáre, sem nenhuma intimi<strong>da</strong>ção, prosseguiu<br />

em direção a eles. O brilho radiante <strong>da</strong> pedra abriu uma<br />

espécie de portal diante de Álefe. A voz de Esmeral<strong>da</strong>, a<br />

fa<strong>da</strong>, orientou-lhe:<br />

_ Corra para o túnel, para que salve sua vi<strong>da</strong>! A chave para o que<br />

procura é a pedra e ela acaba de abrir a porta para você.


Com to<strong>da</strong>s as forças que lhe restavam, Álefe arrastou Valentim<br />

desespera<strong>da</strong>mente para dentro do túnel. Kedáre correu<br />

rapi<strong>da</strong>mente, mas, não conseguiu alcança-los. Ambos desapareceram<br />

num piscar de olhos junto com o portal.<br />

Quando caíram em si, estavam dentro de uma espécie de<br />

gruta. Todo o local era cravejado em esmeral<strong>da</strong>s e de um<br />

brilho excepcional. Álefe contemplava o lugar, admirado<br />

com tamanha beleza. Não via a Palma em nenhum dos lados.<br />

Para piorar, seu amigo estava gravemente ferido e quase<br />

inconsciente.<br />

_Valentim! Consegue me ouvir? _ perguntou ao segurá-lo<br />

firme, agachado no chão.<br />

_ Sim, mas quase não possuo forças para responder. Acho<br />

que o ferimento é grave demais para que me cure, com a<br />

virtude que Rafael lhe concedeu. _ respondeu Valentim<br />

descrente e sem forças para falar direito, quase sem vi<strong>da</strong>.<br />

_ Não! _ exclamou Álefe. _ Não acredite nisso! O poder<br />

que Rafael me concedeu é infinito! Ele mesmo afirmou<br />

isso ao dizer que eu poderia restaurar o corpo de qualquer<br />

ferimento. Enquanto houver fôlego de vi<strong>da</strong> em você, sei<br />

que é possível!<br />

Álefe estendeu a mão direita em direção a Valentim,<br />

pensou novamente em to<strong>da</strong>s as coisas em que acreditava<br />

serem boas e em tudo aquilo que o incentivou a chegar<br />

até ali. Lembrou-se de todos os momentos de alegria em<br />

que vivera ao lado do amigo, dos treinos, <strong>da</strong>s batalhas e<br />

até <strong>da</strong>s vezes em que apenas riam juntos nos pátios do<br />

palácio e disse emocionado para ele, enquanto a energia<br />

se expandia:


_ De to<strong>da</strong>s as coisas que vivi aqui, sua amizade foi a mais<br />

bonita! Sou eternamente grato por tudo. Por todos os bons<br />

momentos que tive ao lado de um ver<strong>da</strong>deiro amigo. Você<br />

me ensinou a ser corajoso e a acreditar em minha própria<br />

força. Fez-me ver a importância de lutar por quem amamos<br />

e por aquilo que acreditamos. De na<strong>da</strong> me adiantaria, ter<br />

vindo aqui em busca <strong>da</strong> cura para minha mãe e meu planeta,<br />

se deixar aqui morto, aquele que fez tudo isso valer<br />

à pena!<br />

E finalmente, a poderosa dádiva <strong>da</strong> cura se manifestou nas<br />

mãos de Álefe, numa grande luz, diferente <strong>da</strong>s outras que<br />

havia convocado. Desta vez, era mais intensa e se misturava<br />

à aura violeta que a vi<strong>da</strong> de Valentim emanava. A energia<br />

se tornou tão poderosa, que ao tocar o guerreiro ferido,<br />

causou pequenos tremores em to<strong>da</strong> a Montanha.<br />

Quando a luz desapareceu no peito de Valentim, um novo<br />

tremor teve início em to<strong>da</strong> a Montanha Sagra<strong>da</strong>. Em meio<br />

às rachaduras do chão, um altar dourado subia imponente.<br />

Em cima dele estava a Palma Sagra<strong>da</strong> feita de puro ouro. O<br />

brilho do elemento era esplêndido e o poder que ele emanava<br />

era sentido nos corações dos dois amigos.<br />

Álefe deixou o companheiro deitado no chão e se<br />

aproximou <strong>da</strong> Palma. Ele a observou bem, mas não sabia<br />

como pegá-la, uma vez que estava presa em uma mão<br />

totalmente de pedras preciosas que a mantinha firme<br />

e segura. Valentim, já curado, conseguiu levantarse<br />

e caminhou na direção do amigo. Este permanecia<br />

extasiado em ver a Palma Sagra<strong>da</strong>, que exibia um<br />

magnífico resplendor diante de seus olhos humanos. O<br />

sentimento de alegria e satisfação por tê-la alcançado,


misturava-se ao medo e insegurança por haverem tantos<br />

opositores que o aguar<strong>da</strong>vam, a fim de lhe roubar o<br />

Elemento.<br />

Álefe sabia que deveria levá-la consigo, no entanto,<br />

sentia-se desconfortável em tocá-la por ser tão divina.<br />

Aquele momento era único para o rapaz, estar diante do<br />

Elemento que positivamente liberaria a cura para Lysa,<br />

era simplesmente mágico. Todo esforço e dedicação nos<br />

treinos e batalhas que havia travado em Alioth eram<br />

recompensados naquele momento. A coragem e bravura<br />

em abandonar seu planeta e seguir rumo ao desconhecido<br />

por amor, finalmente alcançara seu propósito. Valentim<br />

ao aproximar-se do discípulo, pôs a mão em seu ombro,<br />

agradecendo-lhe:<br />

_ Obrigado! Salvou minha vi<strong>da</strong>!<br />

_ Não me agradeça! _ respondeu Álefe feliz em vê-lo totalmente<br />

curado. _ Teria feito o mesmo por mim! Bom é estar<br />

de pé e sarado, desta forma já me agradeceu. Agora temos<br />

que saber como pegar a Palma que está presa a esta mão.<br />

Valentim e Álefe observaram bem o Elemento na tentativa<br />

de descobrir um meio de pegá-lo. E apareceu-lhes em<br />

segui<strong>da</strong>, Esmeral<strong>da</strong>, a líder <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Floresta, que lhes<br />

instruiu:<br />

_ Queridos, a Palma está protegi<strong>da</strong> com a força de Rafael,<br />

jamais homem algum poderá apanhá-la, é impossível! A<br />

única maneira de pegá-la é ativando a pureza que existe<br />

no coração e você, Álefe, ativou essa poderosa energia ao<br />

curar Valentim. Ao mesmo tempo, a Palma reconheceu em<br />

sua pessoa, a energia do Arcanjo, emergindo de dentro <strong>da</strong>


terra. Então, somente aproxime-se dela. Pense na melhor<br />

imagem que puder <strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> em sua mente, e pegue-a sutil<br />

e delica<strong>da</strong>mente.<br />

Bem próximo do elemento, Álefe o segurou firmemente<br />

nas mãos nervosas e trêmulas pela responsabili<strong>da</strong>de que<br />

carregavam. Lembrou-se do rosto <strong>da</strong> mãe, que finalmente<br />

seria cura<strong>da</strong> juntamente com to<strong>da</strong> a terra. Ao pensar nela,<br />

uma lágrima de alegria e gratidão desceu em seu rosto. Finalmente,<br />

a mão que segurava a Palma se abriu, podendo<br />

ele tomá-la para si. Ela brilhava mais do que to<strong>da</strong>s as pedras<br />

preciosas que ele havia visto em Alioth:<br />

_ Tomem cui<strong>da</strong>do! _ admoestou-os Esmeral<strong>da</strong>. _ Quando<br />

a Palma Sagra<strong>da</strong> é solta <strong>da</strong> mão de pedras que simboliza a<br />

mão de Rafael, o efeito <strong>da</strong> dimensão paralela desaparece e<br />

logo retornarão ao lugar em que estavam antes. E estejam<br />

certos de que seus inimigos esperam por vocês. Que os anjos<br />

do Senhor Rafael vos protejam!<br />

Dizendo isso, a fa<strong>da</strong> Esmeral<strong>da</strong> desapareceu e com ela to<strong>da</strong><br />

a gruta. Imediatamente, viram-se novamente no cume <strong>da</strong><br />

montanha. Ágata já estava em posição de ataque juntamente<br />

com Kedáre e Guímel:<br />

_ Não pensem que sairão <strong>da</strong>qui vivos com esta Palma. Eu<br />

a tomarei de vocês e hoje mesmo meu pai a terá nas mãos.<br />

_ disse Ágata enfureci<strong>da</strong> com a espa<strong>da</strong> em punho na mão<br />

direita. Na esquer<strong>da</strong>, segurava várias flores que pretendia<br />

usar como arma contra eles.<br />

_ “Sei que Guímel está com eles por que é preciso, mas confio que<br />

jamais me atacará, agora que se regenerou”! _ pensou Álefe<br />

consigo, ao notar que o novo aliado permanecia ao lado


deles, conforme o combinado.<br />

Merope logo chegou e se juntou a Álefe e Valentim. Apanhou<br />

a espa<strong>da</strong> no chão, ain<strong>da</strong> suja com o sangue de seu<br />

filho, que já estava em pé e curado diante de todos. O príncipe<br />

se intrigou ao ver a arma próxima ao grupo, uma vez<br />

que a havia deixado sobre o corpo de Bilsã, suspeitando<br />

logo que Kedáre a apanhara. Álefe amparava a Palma Sagra<strong>da</strong><br />

nas mãos, enquanto Valentim permanecia a sua frente,<br />

para protegê-lo de qualquer ataque:<br />

_ Cheguei numa boa hora! _ disse Merope, juntando-se a<br />

eles.<br />

_ Com certeza! _ respondeu Álefe, tenso. _ Eles não nos<br />

deixarão sair <strong>da</strong>qui em paz.<br />

_ Nós sairemos <strong>da</strong>qui, mesmo que para isso, tenhamos que<br />

passar por cima de vocês! _ disse Valentim bravamente à<br />

Ágata e aos outros.<br />

_ Por acaso pretende fazer como fez com meu pai, matando-o?<br />

_ acusou Kedáre a Merope.<br />

_ Não assassinamos seu pai Kedáre! _ disse o príncipe em<br />

resposta. _ Mesmo que não acredite, Bilsã se matou sozinho!<br />

Guímel se chocou ao ouvir as palavras de Merope, pois sabia<br />

que eram ver<strong>da</strong>deiras. Logo, abaixou a cabeça entristecido.<br />

Alcione preocupa<strong>da</strong>, atentamente observava a situação<br />

junto a Rafael. Todos estavam tensos na Montanha. E agora,<br />

como lutariam e protegeriam a Palma ao mesmo tempo?<br />

De repente, uma estranha nuvem negra aproximou-se do<br />

local, escurecendo todo o ambiente. O brilho <strong>da</strong> estrela


Merope desapareceu por causa <strong>da</strong> escuridão <strong>da</strong> enigmática<br />

neblina, que transformou o dia em noite.<br />

Todos ficaram aflitos sem saber o que estava por vir. Olhavam<br />

assustados para a nuvem, que parou sobre eles e dela<br />

desceu alguém. A aparência era sombria e tratava-se de<br />

uma mulher que trajava roupas escuras. Os cabelos eram<br />

vermelhos e seu rosto tinha uma expressão de ódio. Quando<br />

tocou o chão, posicionou-se na frente de Ágata e dos<br />

outros. Em segui<strong>da</strong>, dirigiu a palavra ao príncipe de Alioth:<br />

_ Não costumo aparecer em público, mas esta ocasião pede<br />

que seja assim! Permita que eu me apresente. Meu nome é<br />

Kalanta e vim a mando de Juliano!<br />

Merope e Valentim se assustaram quando ela disse seu<br />

nome, pois conheciam bem suas mal<strong>da</strong>des. Já Ágata, disse,<br />

agradeci<strong>da</strong>:<br />

_ Sabia que meu pai não nos deixaria desamparados! Agora<br />

que você está aqui, podemos pegar a Palma facilmente.<br />

_ Sim é ver<strong>da</strong>de, queri<strong>da</strong>! _ respondeu Kalanta, esboçando<br />

um sínico sorriso à jovem. _ Agora, entreguem-me esta lin<strong>da</strong><br />

Palma, meu mestre necessita rapi<strong>da</strong>mente dela!<br />

_ E por que a entregaríamos a você? _ perguntou Valentim<br />

rindo <strong>da</strong> atitude dela.<br />

_ Creio que para ativar o poder dela, precisam disto! _ disse<br />

Kalanta ao levantar o colar de Merope, exibindo-o para<br />

Valentim: _ Por acaso se esqueceram de que a Palma só é<br />

ativa<strong>da</strong> com a energia desta joia? E somente Merope pode<br />

fazer isso! Não entregarei o objeto a vocês, a menos que,<br />

deem-me a Palma agora.


Todos estavam sem saí<strong>da</strong> diante <strong>da</strong>quela situação e o ar de<br />

satisfação no rosto de Kedáre e Ágata era nítido.<br />

_ O que faremos agora? _ perguntou Valentim, ao pai. _ Se<br />

não tivermos o colar, jamais ativaremos a Palma!<br />

_ Sim eu sei, mas não vejo outra saí<strong>da</strong>! Temos que entregar<br />

a Palma e depois ir atrás dela, é o único jeito! Se ela destruir<br />

o colar, tudo terá sido em vão e a missão de aju<strong>da</strong>r a<br />

Terra não terá sucesso. _ respondeu Merope, preocupado.<br />

_ Quero uma resposta agora! _ exclamou Kalanta, impaciente.<br />

_ Não tenho tempo para esperar vocês se decidirem.<br />

Quero a Palma, senão destruo o colar.<br />

Álefe e Valentim, sem outra opção, caminharam em<br />

direção a Kalanta com a Palma, a fim de entregá-la.<br />

Valentim planejava atacá-la quando se aproximassem<br />

mais e ela junto com Ágata, pensava a mesma coisa. De<br />

repente, as três fa<strong>da</strong>s materializam-se ao lado de Merope<br />

e os doze guerreiros <strong>da</strong> floresta, os Ninjas Verdes, apareceram<br />

diante de Valentim e Álefe, impedindo-lhes a passagem:<br />

_ Não se aproximem mais! _ exclamou Strong com autori<strong>da</strong>de.<br />

_ Não permitiremos que entreguem o elemento para<br />

Kalanta! Viemos para ajudá-los!<br />

_ Como ousam interromper nossa negociação, malditos<br />

Ninjas Verdes! _ esbravejou Kalanta, nervosa.<br />

Esmeral<strong>da</strong>, Brisa e Minerva, ao lado de Merope, orientam-<br />

-lhe quanto ao colar:<br />

_ O colar te pertence, nobre príncipe! Rafael o deu a você!


Concentre-se nele, traga-o de volta! Aju<strong>da</strong>remos com nossa<br />

energia. _ explicou Esmeral<strong>da</strong>.<br />

_ A energia conti<strong>da</strong> na armadura feita pelo Arcanjo fará<br />

com que a intensi<strong>da</strong>de de nossas vibrações aumente e conseguiremos<br />

facilmente atrair o colar <strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong> Rainha<br />

do Mal. _ acrescentou a fa<strong>da</strong> Minerva.<br />

As fa<strong>da</strong>s reuniram em suas palmas mágicas to<strong>da</strong> a energia<br />

que possuíam. O príncipe fechou os olhos, concentrando-<br />

-se na joia. Uma vibração poderosa começou a jorrar de<br />

Merope e <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s. Logo, o colar nas mãos de Kalanta se<br />

mexeu, como se tivesse vi<strong>da</strong> própria. Ela o segurou firme e<br />

aborreceu-se profun<strong>da</strong>mente.<br />

_ Ordeno que saiam <strong>da</strong> minha frente! _ exclamou a Rainha<br />

do Mal aos ninjas, no entanto, não foi obedeci<strong>da</strong>.<br />

_Jamais! _ disse Strong, em resposta. _ Se quiser passar,<br />

terá que nos destruir antes!<br />

Todos os ninjas <strong>da</strong> Floresta desembainharam as espa<strong>da</strong>s que<br />

eram muito semelhantes à que Merope carregava, feitas de<br />

peridôtos. O guerreiro Dáios estava entre eles, porém em<br />

lugar <strong>da</strong> lança, também usava uma espa<strong>da</strong>. Posicionaram-<br />

-se os doze diante de Kalanta bloqueando sua passagem.<br />

Ágata se indignou, porém não poderia fazer muita coisa,<br />

pois Valentim estava com o olhar fixo em todos os seus<br />

movimentos.<br />

A energia <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s em união com Merope aumentava a<br />

intensi<strong>da</strong>de. Kalanta não mais conseguia conter o colar.<br />

O objeto logo se desprendeu <strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong> Rainha do Mal,<br />

voando em direção a Merope que o apanhou em segurança.<br />

Enfureci<strong>da</strong>, a alia<strong>da</strong> de Juliano decidiu atacar:


_ Malditos! Garanto que aqui mesmo será o túmulo de<br />

todos vocês! Veja Rafael, no Cume <strong>da</strong> Montanha Sagra<strong>da</strong><br />

que você protege, eu, Kalanta, matarei todos os seus<br />

protegidos! _ dizendo essas palavras, levantou para o céu<br />

as mãos obceca<strong>da</strong> por vingança. Ela convocou através <strong>da</strong><br />

nuvem negra estranhos sol<strong>da</strong>dos far<strong>da</strong>dos com armaduras<br />

e com os rostos cobertos com máscaras. Estes se posicionaram<br />

junto a Kalanta, que ordenou o ataque:<br />

_ Matem todos! _ Imediatamente, os guerreiros avançaram<br />

em direção aos Ninjas <strong>da</strong> Floresta desferindo ataques violentos<br />

contra eles. Ágata e Kedáre também combateram os<br />

ninjas. Guímel, porém, ficou sem reação diante <strong>da</strong> batalha<br />

sem se mover do lugar. Valentim ordenou a Álefe que se<br />

afastasse e se juntasse a Merope e às fa<strong>da</strong>s, para que lutasse<br />

ao lado dos ninjas.<br />

Estranhamente, os sol<strong>da</strong>dos de Kalanta quando eram atingidos<br />

de forma fatal, desapareciam e suas armaduras caiam<br />

no chão como se dentro delas não houvesse ninguém. A<br />

Rainha do Mal aproveitou que todos estavam ocupados e<br />

avançou na direção do príncipe e de Álefe que transportava<br />

firmemente a Palma ao lado <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s:<br />

_ Lamento muito estragar a missão de vocês, mas Juliano<br />

precisa desta Palma! É melhor que a entreguem agora mesmo!<br />

_ Mesmo que morramos aqui, jamais lhe <strong>da</strong>remos o Elemento!<br />

Suas mãos sujas devem permanecer bem longe deste<br />

objeto Sagrado. _ disse o príncipe corajosamente. Kalanta<br />

enfureci<strong>da</strong> expressava puro ódio no olhar.<br />

_ Então, irão morrer! _ A Rainha do Mal reuniu uma es-


tranha energia na mão direita, como uma corrente elétrica,<br />

que lançou na direção de Álefe e Merope. O poderoso raio<br />

vermelho foi bloqueado pela Fa<strong>da</strong> Esmeral<strong>da</strong>, que se colocou<br />

na frente dos dois:<br />

_ Jovem Álefe, você juntamente com Valentim, perdoou-<br />

-nos em nossa floresta quando quisemos atacá-los! Agora,<br />

retribuiremos seu perdão.<br />

_ Acha que me deterá fa<strong>da</strong> Esmeral<strong>da</strong>? _ perguntou Kalanta<br />

com tom de revolta. Novamente, a mulher de olhar<br />

frio reuniu sua força na mão direita e arremessou outro<br />

ataque contra Esmeral<strong>da</strong>. Esta se defendeu com o poder de<br />

sua palma mágica. As energias chocavam-se no ar, raios e<br />

relâmpagos eram vistos e ouvidos! Kalanta toma<strong>da</strong> de ódio<br />

juntou as duas mãos, a fim de intensificar o efeito do golpe<br />

contra a fa<strong>da</strong>. Esmeral<strong>da</strong> não mais continha à força maligna<br />

<strong>da</strong> Rainha do Mal:<br />

_ Aqui será seu fim, fa<strong>da</strong> <strong>da</strong> luz! _ exclamou aos risos.<br />

Contudo, antes que Kalanta acertasse Esmeral<strong>da</strong>, Brisa e<br />

Minerva uniram-se em auxílio. A energia <strong>da</strong>s três fa<strong>da</strong>s reuni<strong>da</strong>s<br />

bloqueou o raio de Kalanta e o choque, causou um<br />

estrondo e um forte vento em todo local.<br />

_ Não vencerá Rainha do Mal! Sugerimos que desista! _<br />

disse Esmeral<strong>da</strong>.<br />

_ Eu jamais desistirei! _ respondeu Kalanta enraiveci<strong>da</strong>,<br />

quando se aproximaram os ninjas, já vitoriosos do combate<br />

contra os sol<strong>da</strong>dos. Logo, Strong disse:<br />

_ Seus sol<strong>da</strong>dos são muito fracos Kalanta! Não nos deram<br />

o menor trabalho!


Ágata e Kedáre, encurralados por Valentim e os ninjas,<br />

cessaram o combate e se afastaram, pois sabiam <strong>da</strong><br />

desvantagem que estavam naquele momento.<br />

Os ninjas puseram-se na frente <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s com as espa<strong>da</strong>s<br />

nas mãos e a Rainha do Mal se viu sem saí<strong>da</strong>.<br />

Aproveitando a distração de todos, Ágata segurou três flores<br />

e se preparou para atirar. Porém, Valentim reuniu sua<br />

energia na mão direita, advertindo-a:<br />

_ Se ousar disparar essas flores, eu lançarei meu thunder light<br />

sobre você. Poderá atingir-nos como deseja, no entanto,<br />

também sairá gravemente feri<strong>da</strong> ou morta!<br />

Ágata se viu obriga<strong>da</strong> a abaixar as flores, lançando-as no<br />

chão. Guímel se alegrou ao ver o triunfo de seus novos<br />

amigos, já Kedáre, aborreceu-se.<br />

_ Não arrancará a Palma de nosso poder! Ordeno que deixe<br />

esta Montanha imediatamente. Como líder dos Ninjas<br />

Verdes, eu não permitirei que você, sendo serva de Juliano,<br />

continue pisando neste solo sagrado.<br />

_ Podem ter conseguido desta vez, mas na<strong>da</strong> garante que<br />

nos vencerão! Existe muito chão pela frente. Até que a transição<br />

<strong>da</strong> terra seja realiza<strong>da</strong> por completo. Este foi só o primeiro<br />

passo que deram. _ disse Kalanta reunindo-se com<br />

Ágata e os dois irmãos. Em segui<strong>da</strong>, um estranho tornado<br />

surgiu <strong>da</strong> sombria nuvem e envolveu os três. Porém, antes<br />

que partissem, Guímel sorriu para Álefe discretamente,<br />

como se quisesse agradecê-lo por tudo. O redemoinho negro os tragou para<br />

a nuvem, que desapareceu em segui<strong>da</strong>. Valentim notou a demonstração de<br />

afeto <strong>da</strong> parte de Guímel para com Álefe, questionou-o:


_ Por que ele sorriu para você?<br />

_ Não tive tempo de te contar, mas ele se regenerou! Está<br />

agora do nosso lado. Quando o encontrei, conversamos<br />

muito. Acredito que Guímel tenha se redimido de ver<strong>da</strong>de,<br />

pois me provou isso, quando enfrentou Dáios em meu<br />

lugar. Espero que fique bem! _ respondeu Álefe feliz pela<br />

conquista do novo aliado.<br />

_ Isso é bom! _ comentou Valentim. _ Mas por que ele foi<br />

embora ao lado de Kalanta?<br />

_ Ele me prometeu que nos aju<strong>da</strong>rá ao permanecer do lado<br />

rival. Guímel nos deixará a par de qualquer coisa que Juliano<br />

tramar contra Alioth.<br />

As fa<strong>da</strong>s se dirigiram a Álefe que estava com a Palma nas<br />

mãos e o advertiram:<br />

_ Agora que cumpriu a missão, leve imediatamente a Palma<br />

até o Arcanjo Rafael. Espero que tenhamos aju<strong>da</strong>do! _<br />

disse Esmeral<strong>da</strong> ao desaparecer juntamente com Minerva<br />

e Brisa.<br />

Strong e Dáios se aproximaram dos rapazes. Então, Álefe<br />

decidiu entregar-lhes à Esmeral<strong>da</strong>:<br />

_ Strong, fique com isso! Estará segura em suas mãos! _ disse<br />

Álefe ao colocar a pedra nas mãos do líder dos guerreiros<br />

<strong>da</strong> floresta.<br />

_ Obrigado! Usarei os poderes <strong>da</strong> esmeral<strong>da</strong> para restaurar<br />

a lança de Dáios, que você partiu com sua espa<strong>da</strong> e devolverei<br />

o poder à Floresta Viva. Não me esquecerei <strong>da</strong> grande<br />

força que manifestou! Ain<strong>da</strong> tem muito que descobrir sobre si mesmo!


Álefe sorriu levemente em resposta às palavras de Strong.<br />

Dáios também o elogiou:<br />

_ Jovem Álefe, jamais presenciei num adversário a determinação<br />

e o amor por uma causa, como em você! Siga em<br />

frente e mantenha essa postura! Jamais me esquecerei <strong>da</strong><br />

incrível habili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quele garoto que me venceu.<br />

_ Obrigado Dáios! _ disse Álefe. _ Sua atitude fria naquele<br />

momento do combate me mostrou o quanto preciso me<br />

empenhar pelo que acredito. E a regeneração de Guímel,<br />

foi uma <strong>da</strong>s maiores recompensas que tive nessa batalha.<br />

_ Príncipe Merope, você hoje foi como um de nós,<br />

defendendo bravamente seu reino. Orgulhamo-nos em<br />

viver num mundo governado por alguém tão corajoso<br />

e destemido. Espero que nossa aju<strong>da</strong> tenha sido de<br />

valor. Seu filho realmente é um exímio guerreiro, deve<br />

orgulhar-se muito dele. _ prosseguiu Strong.<br />

_ Sim, orgulho-me ver<strong>da</strong>deiramente! E que vocês protejam<br />

esta Montanha de seres como Juliano e Kalanta. Eu, <strong>da</strong> minha<br />

parte, seguirei minha missão. _ respondeu o príncipe,<br />

com um sorriso de satisfação no rosto.<br />

_ Sim! Mas as ameaças de Juliano não se baseiam apenas<br />

no que viram aqui. Fiquem atentos! _ prosseguiu Strong<br />

em advertência. Os doze ninjas se transformaram em doze<br />

pontos de luz e retornaram ao lago. Ficaram os três no local<br />

e o Sol de Alioth voltou a brilhar, após a nuvem negra<br />

de Kalanta ter partido. Álefe pensou em Ágata e se entristeceu<br />

por alguns instantes, achando que jamais a veria<br />

de novo, agora que a missão fora concluí<strong>da</strong>. Por mais que<br />

soubesse que era sua inimiga, não carregava sentimentos


negativos por ela. Ele guar<strong>da</strong>va para si os breves e bons<br />

momentos em que vivera ao lado <strong>da</strong> lin<strong>da</strong> e inesquecível<br />

jovem, antes de descobrirem que lutavam em lados<br />

opostos. Certa lamentação atordoava o rapaz que desejou<br />

profun<strong>da</strong>mente que todo esse conflito entre reinos, fosse<br />

apenas um pesadelo. Como também desejou ter nascido<br />

em Alioth, para não ter que dizer adeus aos novos amigos.<br />

Capítulo 19 _ O poder <strong>da</strong> cura<br />

Uma suave brisa envolveu os três no cume <strong>da</strong> Montanha<br />

Sagra<strong>da</strong>. Uma sublime paz invadiu todos os presentes. Um<br />

dos serafins de Rafael lhes apareceu, cheio de luz e beleza.<br />

Com o mover <strong>da</strong>s asas espalhava um moderado vento que<br />

despertou uma fina poeira, criando um bailado entre a relva<br />

e as folhas <strong>da</strong>s árvores em volta do ambiente:<br />

_ Nosso amado Arcanjo Rafael vos espera no Templo <strong>da</strong><br />

Paz, vamos agora mesmo! _ disse o serafim, transportando-<br />

-os imediatamente ao salão do local, onde estavam Alcione<br />

e Rafael na expectativa de reencontrá-los. Merope abraçou<br />

sua mãe que estava feliz e emociona<strong>da</strong> pelo triunfo <strong>da</strong> missão.<br />

Em segui<strong>da</strong>, os guerreiros reverenciaram o Arcanjo<br />

que estava em pé junto a vários anjos. Logo, a rainha fez<br />

alguns agradecimentos:<br />

_ Merope, meu filho, por sua coragem e fideli<strong>da</strong>de aos Arcanjos<br />

e ao nosso reino! És digno <strong>da</strong> coroa real. Valentim,<br />

o grande guerreiro, que protegeu seu amigo com destemi<strong>da</strong><br />

bravura e como um ver<strong>da</strong>deiro líder. E Álefe, que abriu seu<br />

coração e mostrou to<strong>da</strong> a pureza de um espírito escolhido, propondo-se<br />

a aju<strong>da</strong>r-nos com a própria vi<strong>da</strong>. Somos gratos a todos vocês.


Álefe se aproximou um pouco amedrontado, mas também<br />

com notória satisfação para entregar ao Arcanjo a Palma<br />

Sagra<strong>da</strong>. Rafael olhou fixamente nos olhos do rapaz e<br />

sorriu amigavelmente, já com o Elemento em seu poder.<br />

_ Merope, está na hora de ativar o poder Palma com seu<br />

belo colar. Esten<strong>da</strong> as mãos com a joia em direção a estrela<br />

que se chama pelo seu nome. _ orientou o Arcanjo.<br />

O príncipe fez o que o Arcanjo lhe disse. Ele ergueu o colar<br />

em direção ao teto, respirou fundo e com uma sensação de<br />

satisfação, aguardou o sinal <strong>da</strong> manifestação <strong>da</strong> estrela Merope.<br />

Imediatamente um raio solar ultrapassou as paredes<br />

e o objeto, causando uma iluminação mágica e fascinante.<br />

Os olhos do príncipe se tornaram tão verdes como a esmera<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> armadura que trajava. O poderoso colar resplandeceu<br />

nas mãos de Merope divinamente!<br />

_ Está pronto! _ disse Rafael. _ Agora vamos até o ponto<br />

energético <strong>da</strong> Terra. Somente deste lugar a Palma enviará<br />

sua energia ao planeta do jovem Álefe.<br />

O Arcanjo levantou a mão direita e, logo um portal se abriu<br />

ao seu lado. Uma imagem familiar foi vista por Álefe através<br />

<strong>da</strong> abertura dimensional. Era a lua do planeta Terra:<br />

_ Convido a vocês, Álefe e Valentim, a estabelecerem comigo<br />

a cura para a Terra. _ disse Rafael, convocando-os.<br />

Ambos emocionados atravessaram o túnel de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

Do outro lado do portal pisaram em solo lunar. De lá contemplaram<br />

o planeta azul:<br />

_ Aquele é seu planeta? _ perguntou Valentim admirado<br />

com a beleza <strong>da</strong> Terra.


_ Sim, ele mesmo! Pena que não o conheceu pessoalmente.<br />

Com certeza iria gostar muito! _ respondeu Álefe.<br />

_ Nossa! Parece que é um lugar muito bonito. _ comentou<br />

Valentim ao erguer a sobrancelha.<br />

Enquanto ain<strong>da</strong> conversavam com entusiasmo juvenil, o<br />

Arcanjo Rafael apareceu atrás deles e lhes instruiu sobre o<br />

que deveria ser feito:<br />

_Olhem para aquela direção e observem o Candelabro!<br />

Ao se virarem, os rapazes viram um grande candelabro de<br />

prata com suporte para sete velas. No entanto, o local <strong>da</strong>s<br />

sete velas estava vazio, o que chamou a atenção dos dois.<br />

Valentim já ouvira relatos sobre o castiçal, mas era a primeira<br />

vez que o via. A Palma que estava nas mãos de Rafael<br />

desapareceu e, em segui<strong>da</strong> materializou-se nas mãos de<br />

Álefe.<br />

_Coloque a Palma no primeiro suporte! _ ordenou o Arcanjo.<br />

Álefe assim fez, encaixando-a no local indicado por<br />

Rafael. Assim que o Elemento agregou o local designado,<br />

os olhos do Arcanjo brilharam como estrelas e ativou na<br />

Palma um feixe de luz verde que se direcionou a Terra. Valentim<br />

e Álefe ficaram espantados com a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

energia do bem, que naquele momento cumpria o propósito<br />

<strong>da</strong> cura. O raio durou apenas um minuto e logo se<br />

desfez:<br />

_ Está feito! Com exceção de sua mãe, Álefe, nenhum ser<br />

humano sentirá algo. _ disse o Arcanjo.<br />

Finalmente, a Terra fora salva <strong>da</strong>s doenças. O primeiro passo<br />

na ascensão do planeta estava concretizado. Valentim e


Álefe foram levados de volta a Alioth num piscar de olhos<br />

e encerrou-se ali a <strong>odisseia</strong> pela cura.<br />

No outro dia, já no palácio de Merope, Valentim acompanhou<br />

Álefe até seu quarto para pegar os pertences que<br />

levara para Plêiades. Ele olhou bem para as coisas que o<br />

cercavam e sorriu, demonstrando que sentiria sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong>quele<br />

mundo. Imagens de tudo o que viveu durante esse<br />

período e de todos os lugares pelos quais passou, os seres e<br />

situações que conheceu e enfrentou, passaram pela mente<br />

do rapaz em lembranças como flashs.<br />

_Vivi tantas coisas especiais aqui! _ exclamou Álefe um<br />

pouco triste por partir. _ Jamais me esquecerei desse lugar<br />

mágico!<br />

_ Foram quase três meses que passaram tão rapi<strong>da</strong>mente!<br />

_ comentou Valentim e complementou: _ O importante é<br />

que ca<strong>da</strong> momento aqui valeu à pena para você, para Alioth,<br />

para a Terra e para mim.<br />

Os dois saíram do quarto e Valentim fechou a porta. Desceram<br />

as esca<strong>da</strong>s e se dirigiram ao pátio do palácio. A nobre<br />

rainha de Plêiades e Merope os aguar<strong>da</strong>vam, trajados com<br />

uma inconfundível roupa real. Um anjo também esperava<br />

pelos jovens, com um túnel já aberto para Álefe partir. O<br />

Espírito Sagrado se aproximou e abraçou Alcione como se<br />

fosse sua mãe. A rainha, emociona<strong>da</strong> e com uma doce voz,<br />

disse:<br />

_ Obrigado por tudo Álefe, você me orgulha muito.<br />

Em segui<strong>da</strong>, ele abraçou também ao príncipe, que não deixou<br />

de elogiá-lo:


_ Quem dera se todos na Terra fossem tão obstinados como<br />

você! Que sua coragem sirva de exemplo para todos nós!<br />

Depois, Álefe se aproximou de Valentim que já estava com<br />

lágrimas nos olhos. Não distante <strong>da</strong>li, sem que ninguém<br />

notasse, Ágata observava a tudo, olhando profun<strong>da</strong>mente<br />

para o rapaz, como se despedisse dele. Álefe, então, abraçou<br />

fortemente a Valentim agradecendo-lhe por tudo:<br />

_ Você me ensinou tantas coisas. Levarei to<strong>da</strong> coragem que<br />

ajudou a despertar em mim, adormeci<strong>da</strong> talvez pela falta<br />

de conhecimento, pela inocência ou pelo orgulho, sei lá...<br />

Nunca me esquecerei de um amigo como você! O levarei<br />

no coração para sempre! Adeus!<br />

_ Faço minhas as suas palavras! Siga nesta bravura e coragem<br />

e lembre-se sempre de nossos treinamentos. Não se<br />

preocupe, iremos atrás de Havén para encontrá-lo. Adeus!<br />

_ respondeu Valentim sem conter a emoção <strong>da</strong> despedi<strong>da</strong><br />

ao deixar escapar uma lágrima.<br />

Álefe se afastou em direção ao portal, com um pranto<br />

contido. Jamais imaginou que ganharia tantos amigos<br />

naquele estranho mundo. Ao virar-se para entrar no<br />

túnel, sem querer, avistou Ágata em cima do muro do<br />

palácio e olhou fixamente nos olhos <strong>da</strong> bela por alguns<br />

instantes:<br />

_ Adeus! _ disse ele aos sussurros e com um forte aperto<br />

no coração. Em segui<strong>da</strong>, entrou no portal e não viu mais<br />

na<strong>da</strong>.<br />

De um sobressalto e como se seu coração parecesse sair<br />

pela boca, Álefe despertou. O rapaz notou que estava deitado<br />

em sua cama, vestido com as roupas que usava na


Terra. Espantado, observava o quarto, como se não o reconhecesse.<br />

Tudo estava exatamente como deixara. Então,<br />

levantou-se e caminhou em direção às esca<strong>da</strong>s, quando, de<br />

repente, escutou a voz de Lysa que cantava docemente uma<br />

lin<strong>da</strong> canção. Ao ouvi-la, seguiu aquela melodia e desceu<br />

rapi<strong>da</strong>mente os degraus com largo sorriso na face. Ele se<br />

encostou à porta <strong>da</strong> cozinha e apenas observava a mãe.<br />

Ao sentir algo estranho, Lysa virou-se e viu o amado filho,<br />

logo, exclamou extasia<strong>da</strong>:<br />

_ Meu querido! Você voltou! _ emociona<strong>da</strong>, correu em direção<br />

a ele, com um abraço amorosamente apertado, sufocou<br />

to<strong>da</strong> a sau<strong>da</strong>de que sentia.<br />

_ Mãe, pensei tanto em você! _ disse Álefe feliz e aliviado<br />

por encontrá-la novamente.<br />

_ Meus pensamentos estiveram a todo instante com você!<br />

Estou finalmente cura<strong>da</strong>! Você conseguiu! _ enquanto lhe<br />

dizia, segurava seus ombros, acariciando-os num misto de<br />

alegria e gratidão.<br />

Tudo voltou ao normal. As doenças desapareceram milagrosamente<br />

<strong>da</strong> Terra, envolvi<strong>da</strong> agora em uma atmosfera<br />

saudável para todos do planeta e a vi<strong>da</strong> de Álefe voltava<br />

a ser como sempre. Em todos os jornais e programas de<br />

televisão fora noticiado o milagroso desaparecimento <strong>da</strong>s<br />

enfermi<strong>da</strong>des que afetavam milhões de pessoas em todo<br />

mundo e a maioria pensava que tal evento era sinal divino.<br />

Certo dia, ao amanhecer, Álefe se levantou como de costume<br />

para ir à escola, enquanto Lysa preparava o café <strong>da</strong><br />

manhã. O dia estava lindo, os pássaros cantavam próximos<br />

à janela do quarto do jovem, numa melodia que parecia ser


feita para chamar sua atenção.<br />

Álefe sentou-se na cama para apreciar o bom dia dos<br />

pássaros, enquanto sentia os raios de sol penetrando<br />

pela janela parcialmente aberta. As cortinas balançavam<br />

vagarosamente pelo vento <strong>da</strong> bela e ensolara<strong>da</strong> manhã,<br />

que anunciava o recomeço do novo guerreiro na Terra.<br />

Ele se levantou e caminhou em direção à janela, enfeitiçado<br />

pela magia com que aquela manhã se apresentava.<br />

Abriu os vidros e contemplou três maravilhosos pássaros<br />

com lindíssimas penas doura<strong>da</strong>s que atraíram sua curiosi<strong>da</strong>de.<br />

Jamais viu seres tão belos em lugar algum.<br />

O céu azul, de poucas nuvens coloria a manhã e os raios<br />

solares destacavam o incrível dourado dos pássaros, que ao<br />

notarem a proximi<strong>da</strong>de com que eram observados, voaram<br />

de encontro com o brilho do Sol no firmamento.<br />

Em segui<strong>da</strong>, com as vistas embaraça<strong>da</strong>s pela forte luz do<br />

dia, Álefe esfregou os olhos e quando avistou <strong>da</strong> janela do<br />

quarto o jardim <strong>da</strong> casa, percebeu um objeto brilhante, de<br />

cor doura<strong>da</strong> na grama. Curioso, desceu para verificar do<br />

que se tratava. Sua mãe, <strong>da</strong> cozinha, percebeu a agitação<br />

do rapaz em descer as esca<strong>da</strong>s, no entanto, não deu muita<br />

atenção e prosseguiu na preparação do café <strong>da</strong> manhã.<br />

Álefe caminhou em direção ao objeto e quando se agachou<br />

para pegá-lo, notou que era uma pedra, especificamente<br />

um citrino. Ele conhecia muito sobre pedras e sabia a<br />

maioria de seus nomes.<br />

O jovem percebeu que nela havia algo escrito em letras<br />

bem pequenas, que a olho nu jamais seriam li<strong>da</strong>s. Então,<br />

levou a misteriosa joia para o quarto e com a aju<strong>da</strong> de uma


lupa, decifrou as letras embaraça<strong>da</strong>s, que pareciam escritas<br />

com muita dificul<strong>da</strong>de. Sentado na escrivaninha, ele leu a<br />

seguinte frase: “A Sabedoria somente será <strong>da</strong><strong>da</strong> àqueles que se<br />

entregarem sem reservas a sua causa”.<br />

Espantado, Álefe dirigiu o olhar à janela ao buscar no infinito,<br />

as respostas para o enigma <strong>da</strong> frase, afinal, ele tinha<br />

enfrentado grandes desafios em Alioth, descoberto coisas<br />

incríveis e vivenciado momentos inesquecíveis ao lado do<br />

grande amigo Valentim. Muitas perguntas invadiam a mente<br />

do jovem guerreiro que diante do mistério envolvendo<br />

a palavra sabedoria, sentia vindo do íntimo <strong>da</strong> alma uma<br />

estranha motivação e a sensação de um novo chamado.<br />

FIM


Vinícius Francis Santos, born in Mariana, in the state of Minas Gerais- Brazil,<br />

since his childhood, has demonstrated profound interest in arts and fiction. For<br />

many years he was an active member of an evangelical community where he<br />

developed a gift for singing, communication and composition.<br />

As a teenager he would write plays that were performed at the church. Later he<br />

developed a gift of spiritual channeling and began a work along with consciousnesses<br />

from other dimensions named “Elohins”.<br />

Literature was always something that awakened a positive longing in his being.<br />

By reading a book, he would travel through images that would appear with each<br />

excerpt, each point of the plot, and would visualize characters, scenarios and<br />

situations that would transport him to the stories being told.<br />

Very interested in the following areas: psychological, metaphysics, spiritualist<br />

and medium, has always deepened his studies in these subjects and others such<br />

as, ufology and astronomy, besides dedicating great part of his life to studying<br />

music.<br />

Currently, dedicates himself to writing fictional stories and conducting the<br />

self-help spiritualist blog, “Os Filhos <strong>da</strong> Alva” (www.os.filhos-<strong>da</strong>-alva.blogspot.<br />

com). In this space he shares in partnership with Márcia Diniz (co-author in<br />

“Pleiades”, composer, <strong>da</strong>ncer and also a contributor in his current works), the<br />

wisdom received from the “Heloins” and works developed by him.<br />

For over three years Vinícius Francis started writing the saga of “Pleiades” with<br />

the essential help of Márcia Diniz, based on elements that were built during<br />

their lives, which germinated resulting in a coexistence of 14 years.<br />

The authors have as inspiration references from books that were read, movies<br />

watched, life experiences, people that pass through their lives and naturally start<br />

forming the story´s plot and flowing towards the creation of the book. The first<br />

three books of the “Pleiades” series are already finalized and duly registered in<br />

the Escritório de Direitos Autorais (EDA) Fun<strong>da</strong>ção Biblioteca Nacional.

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