a importância da leitura silenciosa e oral segundo vigotski - Unioeste

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17.09.2013 Views

Neste artigo relatamos uma prática pedagógica no quarto ano do ensino fundamental de uma escola pública municipal. A prática relatada foi realizada pela professora regente da turma, sob orientação e supervisão da sua professora no curso de Pedagogia da Unioeste. Embora sendo uma atividade simples, é importante relatá-la, a fim de ressaltar sua importância no cotidiano escolar, segundo a psicologia histórico- cultural. A atividade consistiu na leitura diária, silenciosa e oral, de literatura infantil. O objetivo foi proporcionar o contato com a literatura infantil e provocar as crianças a treinarem a leitura em casa para, depois, fazerem a leitura em voz alta para os colegas. As atividades realizadas são relatadas no primeiro tópico deste artigo. No segundo, discutimos sobre a importância da literatura infantil para a atividade criadora, segundo Vigotski. No terceiro, mostramos a importância da leitura silenciosa. 1. A Literatura infantil em sala de aula: “a atenção concentrada das crianças era muito pequena” Quando conhecemos a turma no final do mês de julho de 2008, os alunos, aparentemente, já apresentavam certos hábitos de leitura, pois tomavam livros de empréstimo na biblioteca a cada oito dias. Percebemos também que tinham muita dificuldade de produzir textos. A partir de uma análise, ainda que empírica, pudemos reconhecer que alguns dos melhores textos produzidos em sala de aula eram de autoria dos alunos que mais tomavam livros emprestados na Biblioteca Municipal. Disso adveio a idéia de incentivar o gosto pela leitura a partir da leitura oral de literatura infantil, inicialmente pela professora regente e, posteriormente, pelos alunos interessados. Tendo em vista que os alunos concentravam pouca atenção durante as atividades, inicialmente houve receio de que não apresentassem interesse em ouvir contos de literatura infantil. O maior receio foi o de infantilizar a leitura literária, pois os alunos tinham grande capacidade de compreensão e já contavam com idades entre nove e quatorze anos. Apesar dos receios, começamos as leituras na metade do mês de agosto. No primeiro dia os alunos estavam agitados, dando a impressão de que não prestariam atenção à história. No entanto, quando viram o livro “O rei que tinha quase tudo”, sobre a classe da professora, demonstraram interesse em ouvir. Apesar disso, continuavam

astante agitados. No entanto, ao ser iniciada a leitura em voz alta, os alunos começaram a ficar quietos para ouvir a história, alguns inclusive pediram silêncio para a turma. Em poucos segundo só se escutava a voz da professora em sala de aula, lendo página por página, mostrando as ilustrações. Depois deste episódio, a leitura em voz alta de livros de literatura infantil pela professora tornou-se rotina, sendo momento da aula muito aguardado pela turma. Depois de uma semana realizando leituras diárias, sem hora fixada para começar ou terminar, lançamos o desafio dos alunos se responsabilizarem ler para a turma. Muitos se voluntariaram. Estabelecemos que o responsável pela leitura não poderia faltar, que deveria ler muito bem a história em casa, mostrar as ilustrações e falar em um tom que todos os colegas pudessem escutar. Mesmo alguns alunos que inicialmente ficaram com vergonha, acabaram por se prontificar a ler em voz alta para a turma. Evitamos usar o livro infantil para propor exercícios ortográficos e gramaticais, ou interpretações mecânicos sobre moral e partes da história. Nosso objetivo foi simplesmente contar histórias bonitas de ver e de ouvir. A atenção das crianças deveria ser focada exclusivamente nos mundos fantásticos criados pela literatura. Nosso objetivo era o prazer estético proporcionado pela literatura infantil. Segundo Magnani (2001), é preciso entender que a literatura não é apenas uma obrigação curricular, pois, para formar bons leitores de bons textos, deve ser entendida como meio para obtenção do prazer estético. De acordo com Zilberman (1998), o fato de ser do âmbito da Pedagogia é algo, muitas vezes, prejudicial à literatura infantil. Na pedagogia a literatura infantil pode ganhar sentido pragmático, se descaracterizando como arte. Isto não ocorre só quando ela é utilizada em sala de aula como pretexto para propor exercício de ortografia e gramática, mas também no contexto da produção de textos para crianças. É o caso dos livros para crianças que não podem ser considerados de literatura, pois têm apenas o pretexto de ensinar lições de moral através da presença de um narrador ou personagem que ensina, julga e repreende. Em outra direção de livros sem valor estético, encontram- se aqueles que buscam justificar a marginalidade ou compensar a inferioridade social da criança, elevando sua moral através de relatos de heróis mirins. Literatura, segundo Zilberman, tem linguagem simbólica, jogo de palavras, polissemia. Representa uma síntese da realidade através da ficção. Assim, a professora precisa saber escolher o livro literário pelo seu valor estético e não pelas suas possibilidades pedagógicas. Para isso, é preciso prestar atenção ao

Neste artigo relatamos uma prática pe<strong>da</strong>gógica no quarto ano do ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental de uma escola pública municipal. A prática relata<strong>da</strong> foi realiza<strong>da</strong> pela<br />

professora regente <strong>da</strong> turma, sob orientação e supervisão <strong>da</strong> sua professora no curso de<br />

Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>Unioeste</strong>. Embora sendo uma ativi<strong>da</strong>de simples, é importante relatá-la, a<br />

fim de ressaltar sua <strong>importância</strong> no cotidiano escolar, <strong>segundo</strong> a psicologia histórico-<br />

cultural.<br />

A ativi<strong>da</strong>de consistiu na <strong>leitura</strong> diária, <strong>silenciosa</strong> e <strong>oral</strong>, de literatura infantil. O<br />

objetivo foi proporcionar o contato com a literatura infantil e provocar as crianças a<br />

treinarem a <strong>leitura</strong> em casa para, depois, fazerem a <strong>leitura</strong> em voz alta para os colegas.<br />

As ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s são relata<strong>da</strong>s no primeiro tópico deste artigo. No <strong>segundo</strong>,<br />

discutimos sobre a <strong>importância</strong> <strong>da</strong> literatura infantil para a ativi<strong>da</strong>de criadora, <strong>segundo</strong><br />

Vigotski. No terceiro, mostramos a <strong>importância</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong>.<br />

1. A Literatura infantil em sala de aula: “a atenção concentra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças era<br />

muito pequena”<br />

Quando conhecemos a turma no final do mês de julho de 2008, os alunos,<br />

aparentemente, já apresentavam certos hábitos de <strong>leitura</strong>, pois tomavam livros de<br />

empréstimo na biblioteca a ca<strong>da</strong> oito dias. Percebemos também que tinham muita<br />

dificul<strong>da</strong>de de produzir textos. A partir de uma análise, ain<strong>da</strong> que empírica, pudemos<br />

reconhecer que alguns dos melhores textos produzidos em sala de aula eram de autoria<br />

dos alunos que mais tomavam livros emprestados na Biblioteca Municipal. Disso<br />

adveio a idéia de incentivar o gosto pela <strong>leitura</strong> a partir <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong> de literatura<br />

infantil, inicialmente pela professora regente e, posteriormente, pelos alunos<br />

interessados.<br />

Tendo em vista que os alunos concentravam pouca atenção durante as<br />

ativi<strong>da</strong>des, inicialmente houve receio de que não apresentassem interesse em ouvir<br />

contos de literatura infantil. O maior receio foi o de infantilizar a <strong>leitura</strong> literária, pois os<br />

alunos tinham grande capaci<strong>da</strong>de de compreensão e já contavam com i<strong>da</strong>des entre nove<br />

e quatorze anos.<br />

Apesar dos receios, começamos as <strong>leitura</strong>s na metade do mês de agosto. No<br />

primeiro dia os alunos estavam agitados, <strong>da</strong>ndo a impressão de que não prestariam<br />

atenção à história. No entanto, quando viram o livro “O rei que tinha quase tudo”, sobre<br />

a classe <strong>da</strong> professora, demonstraram interesse em ouvir. Apesar disso, continuavam

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