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a importância da leitura silenciosa e oral segundo vigotski - Unioeste

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LITERATURA INFANTIL NA HORA DO CONTO: A IMPORTÂNCIA DA<br />

LEITURA SILENCIOSA E ORAL SEGUNDO VIGOTSKI<br />

LUZIA FRANCO DUARTE 1<br />

TAMARA CARDOSO ANDRÉ 2<br />

RESUMO: No presente artigo fazemos breve relato de uma prática pe<strong>da</strong>gógica, segui<strong>da</strong><br />

de análise teórica <strong>da</strong> mesma. A prática pe<strong>da</strong>gógica foi realiza<strong>da</strong> em uma escola pública<br />

municipal, em uma turma do quarto ano do ensino fun<strong>da</strong>mental. Consistiu na <strong>leitura</strong>,<br />

<strong>silenciosa</strong> e <strong>oral</strong>, de contos de literatura infantil. A partir <strong>da</strong> psicologia históricocultural,<br />

mais especificamente <strong>da</strong> teoria de Vigotsky, desenvolvemos dois temas<br />

concernentes à literatura infantil: a <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> e <strong>oral</strong> na hora do conto e a criação<br />

literária. Vigotski nos aju<strong>da</strong> a entender o papel <strong>da</strong> literatura infantil no desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de de criação literária e o papel <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> para a compreensão do<br />

texto. Segundo Vigotsky (2003), a capaci<strong>da</strong>de de criar deriva <strong>da</strong> experiência. Assim, se<br />

queremos formar crianças produtoras de textos, torna-se importante possibilitar a<br />

experiência com <strong>leitura</strong> e escrita. A <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong> de textos de literatura infantil, quando<br />

texto e <strong>leitura</strong> são agradáveis, pode aju<strong>da</strong>r no desenvolvimento do gosto pela <strong>leitura</strong>. Por<br />

sua vez, a <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong>, por ser mais rápi<strong>da</strong> e ritma<strong>da</strong>, aju<strong>da</strong> a criança a melhor<br />

compreender o texto. (VIGOTSKY: 2000). Por este motivo é importante intercalar<br />

<strong>leitura</strong> <strong>oral</strong> e <strong>silenciosa</strong>. O objetivo de nossa proposta consistiu em proporcionar o<br />

contato com a literatura infantil e provocar as crianças a treinarem a <strong>leitura</strong> em casa<br />

para, depois, fazerem a <strong>leitura</strong> em voz alta para os colegas. Com isso, esperamos<br />

contribuir para o desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des de <strong>leitura</strong> e escrita literária.<br />

Palavras-chave: literatura infantil, <strong>leitura</strong>, criação<br />

1 Professora de ensino fun<strong>da</strong>mental, estu<strong>da</strong>nte do curso de Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>Unioeste</strong> Campus de Foz do<br />

Iguaçu, aluna do Programa de Iniciação Científica Voluntária. Email: luzia_fd@hotmail.com<br />

2 Professora do curso de Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual do Oeste do Paraná, campus de Foz do<br />

Iguaçu, Mestre pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Paraná. Email: tcardosoandre@yahoo.com.br


Neste artigo relatamos uma prática pe<strong>da</strong>gógica no quarto ano do ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental de uma escola pública municipal. A prática relata<strong>da</strong> foi realiza<strong>da</strong> pela<br />

professora regente <strong>da</strong> turma, sob orientação e supervisão <strong>da</strong> sua professora no curso de<br />

Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>Unioeste</strong>. Embora sendo uma ativi<strong>da</strong>de simples, é importante relatá-la, a<br />

fim de ressaltar sua <strong>importância</strong> no cotidiano escolar, <strong>segundo</strong> a psicologia histórico-<br />

cultural.<br />

A ativi<strong>da</strong>de consistiu na <strong>leitura</strong> diária, <strong>silenciosa</strong> e <strong>oral</strong>, de literatura infantil. O<br />

objetivo foi proporcionar o contato com a literatura infantil e provocar as crianças a<br />

treinarem a <strong>leitura</strong> em casa para, depois, fazerem a <strong>leitura</strong> em voz alta para os colegas.<br />

As ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s são relata<strong>da</strong>s no primeiro tópico deste artigo. No <strong>segundo</strong>,<br />

discutimos sobre a <strong>importância</strong> <strong>da</strong> literatura infantil para a ativi<strong>da</strong>de criadora, <strong>segundo</strong><br />

Vigotski. No terceiro, mostramos a <strong>importância</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong>.<br />

1. A Literatura infantil em sala de aula: “a atenção concentra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças era<br />

muito pequena”<br />

Quando conhecemos a turma no final do mês de julho de 2008, os alunos,<br />

aparentemente, já apresentavam certos hábitos de <strong>leitura</strong>, pois tomavam livros de<br />

empréstimo na biblioteca a ca<strong>da</strong> oito dias. Percebemos também que tinham muita<br />

dificul<strong>da</strong>de de produzir textos. A partir de uma análise, ain<strong>da</strong> que empírica, pudemos<br />

reconhecer que alguns dos melhores textos produzidos em sala de aula eram de autoria<br />

dos alunos que mais tomavam livros emprestados na Biblioteca Municipal. Disso<br />

adveio a idéia de incentivar o gosto pela <strong>leitura</strong> a partir <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong> de literatura<br />

infantil, inicialmente pela professora regente e, posteriormente, pelos alunos<br />

interessados.<br />

Tendo em vista que os alunos concentravam pouca atenção durante as<br />

ativi<strong>da</strong>des, inicialmente houve receio de que não apresentassem interesse em ouvir<br />

contos de literatura infantil. O maior receio foi o de infantilizar a <strong>leitura</strong> literária, pois os<br />

alunos tinham grande capaci<strong>da</strong>de de compreensão e já contavam com i<strong>da</strong>des entre nove<br />

e quatorze anos.<br />

Apesar dos receios, começamos as <strong>leitura</strong>s na metade do mês de agosto. No<br />

primeiro dia os alunos estavam agitados, <strong>da</strong>ndo a impressão de que não prestariam<br />

atenção à história. No entanto, quando viram o livro “O rei que tinha quase tudo”, sobre<br />

a classe <strong>da</strong> professora, demonstraram interesse em ouvir. Apesar disso, continuavam


astante agitados. No entanto, ao ser inicia<strong>da</strong> a <strong>leitura</strong> em voz alta, os alunos<br />

começaram a ficar quietos para ouvir a história, alguns inclusive pediram silêncio para a<br />

turma. Em poucos <strong>segundo</strong> só se escutava a voz <strong>da</strong> professora em sala de aula, lendo<br />

página por página, mostrando as ilustrações.<br />

Depois deste episódio, a <strong>leitura</strong> em voz alta de livros de literatura infantil pela<br />

professora tornou-se rotina, sendo momento <strong>da</strong> aula muito aguar<strong>da</strong>do pela turma.<br />

Depois de uma semana realizando <strong>leitura</strong>s diárias, sem hora fixa<strong>da</strong> para começar ou<br />

terminar, lançamos o desafio dos alunos se responsabilizarem ler para a turma. Muitos<br />

se voluntariaram. Estabelecemos que o responsável pela <strong>leitura</strong> não poderia faltar, que<br />

deveria ler muito bem a história em casa, mostrar as ilustrações e falar em um tom que<br />

todos os colegas pudessem escutar. Mesmo alguns alunos que inicialmente ficaram com<br />

vergonha, acabaram por se prontificar a ler em voz alta para a turma.<br />

Evitamos usar o livro infantil para propor exercícios ortográficos e gramaticais,<br />

ou interpretações mecânicos sobre m<strong>oral</strong> e partes <strong>da</strong> história. Nosso objetivo foi<br />

simplesmente contar histórias bonitas de ver e de ouvir. A atenção <strong>da</strong>s crianças deveria<br />

ser foca<strong>da</strong> exclusivamente nos mundos fantásticos criados pela literatura.<br />

Nosso objetivo era o prazer estético proporcionado pela literatura infantil.<br />

Segundo Magnani (2001), é preciso entender que a literatura não é apenas uma<br />

obrigação curricular, pois, para formar bons leitores de bons textos, deve ser entendi<strong>da</strong><br />

como meio para obtenção do prazer estético.<br />

De acordo com Zilberman (1998), o fato de ser do âmbito <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia é algo,<br />

muitas vezes, prejudicial à literatura infantil. Na pe<strong>da</strong>gogia a literatura infantil pode<br />

ganhar sentido pragmático, se descaracterizando como arte. Isto não ocorre só quando<br />

ela é utiliza<strong>da</strong> em sala de aula como pretexto para propor exercício de ortografia e<br />

gramática, mas também no contexto <strong>da</strong> produção de textos para crianças. É o caso dos<br />

livros para crianças que não podem ser considerados de literatura, pois têm apenas o<br />

pretexto de ensinar lições de m<strong>oral</strong> através <strong>da</strong> presença de um narrador ou personagem<br />

que ensina, julga e repreende. Em outra direção de livros sem valor estético, encontram-<br />

se aqueles que buscam justificar a marginali<strong>da</strong>de ou compensar a inferiori<strong>da</strong>de social <strong>da</strong><br />

criança, elevando sua m<strong>oral</strong> através de relatos de heróis mirins. Literatura, <strong>segundo</strong><br />

Zilberman, tem linguagem simbólica, jogo de palavras, polissemia. Representa uma<br />

síntese <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de através <strong>da</strong> ficção.<br />

Assim, a professora precisa saber escolher o livro literário pelo seu valor estético<br />

e não pelas suas possibili<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas. Para isso, é preciso prestar atenção ao


caráter inovador <strong>da</strong> obra, presente nos textos que mostram o mundo de vários ângulos.<br />

Isto é importante porque a relação entre obra e leitor se dá pela coincidência entre o<br />

mundo que o livro apresenta e o contexto do leitor. Através <strong>da</strong> linguagem simbólica, o<br />

texto leva o leitor a conhecer melhor o mundo em que vive, e a si mesmo.<br />

No que se refere à literatura infantil e seus usos em sala de aula, Zilberman<br />

considera a escola como lugar privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela<br />

<strong>leitura</strong>. No entanto, a professora não pode reduzir o sentido do texto a um número de<br />

observações ti<strong>da</strong>s como corretas, através de questionários e fichas de <strong>leitura</strong>. O melhor é<br />

enfatizar as múltiplas visões que a literatura sugere, ou seja, a singulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

percepção. Literatura não é a mera absorção de uma mensagem, mas sim a convivência<br />

particular com o mundo criado pelo imaginário. A obra de arte não tem um conteúdo<br />

reificado, mas depende <strong>da</strong> assimilação individual de um conteúdo imaginário. Por isso é<br />

preciso estimular a verbalização <strong>da</strong> compreensão do tema, auxiliando na percepção do<br />

texto.<br />

2. A literatura infantil e a criação literária: “será que é possível ler literatura para<br />

alunos de nove a quatorze anos de i<strong>da</strong>de?’<br />

Inicialmente houve receio de ler em voz alta para alunos de nove a quatorze<br />

anos, praticamente já na fase <strong>da</strong> puber<strong>da</strong>de. Será que a literatura infantil não se destina<br />

apenas às crianças pequenas? Pensávamos. Havia o receio dos alunos acharem a<br />

ativi<strong>da</strong>de muito infantil, de não prestarem atenção, de debocharem <strong>da</strong>s histórias.<br />

No entanto, o interesse <strong>da</strong> turma pelas histórias conta<strong>da</strong>s corroborou a tese de<br />

Vigotsky: a literatura exerce importantes influências na fase <strong>da</strong> puber<strong>da</strong>de, pois aju<strong>da</strong> a<br />

desenvolver a criativi<strong>da</strong>de e habili<strong>da</strong>de necessária para a expressão dos sentimentos.<br />

De acordo com Vigotsky (2003) se queremos que a criança desenvolva a<br />

criativi<strong>da</strong>de, é preciso proporcionar-lhe uma experiência rica. A criação não surge do<br />

na<strong>da</strong>, ela é a soma <strong>da</strong>s experiências e vivências humanas. Quanto mais a criança<br />

vivenciar, conhecer e experimentar, mais elementos terá para criar. Para a criança<br />

tornar-se uma produtora de textos, é preciso que antes ela se torne uma leitora. Crianças<br />

mais novas têm capaci<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> para criar porque não têm experiência suficiente.<br />

Conseqüentemente, quando tentam fazer literatura, suas produções resultam ingênuas. O<br />

que torna possível a criação literária é a experiência no domínio <strong>da</strong> linguagem e o<br />

desenvolvimento do mundo pessoal.


A partir de uma perspectiva pauta<strong>da</strong> em Vigotsky, compreendemos a<br />

necessi<strong>da</strong>de de propiciar a ampliação <strong>da</strong> experiência <strong>da</strong> criança se realmente queremos<br />

consoli<strong>da</strong>r bases suficientemente sóli<strong>da</strong>s para sua ativi<strong>da</strong>de criadora, pois a imaginação<br />

está sempre condiciona<strong>da</strong> pelos meios materiais <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. A literatura amplia o<br />

mundo criativo porque fornece elementos para a criação. Vigotsky (2003) considera<br />

que, além do cérebro conservar e reproduzir a experiência, ele também combina, cria e<br />

transforma a partir dos elementos existentes na reali<strong>da</strong>de. Disso se infere que, quando a<br />

criança entra em contato com a literatura infantil, sua capaci<strong>da</strong>de criativa se amplia,<br />

pois ela recebe mais elementos para compor sua capaci<strong>da</strong>de criadora.<br />

(...) la activi<strong>da</strong>d creadora de la imaginación depende directamente de la<br />

riqueza y la diversi<strong>da</strong>d de la experiencia anterior del hombre, ya que esta<br />

experiência brin<strong>da</strong> el material com cual se há estrutucrado la fantasia<br />

(VIGOTSKY, 2003: 22)<br />

A imaginação infantil não é completamente pobre quando compara<strong>da</strong> com a de<br />

um adulto, mas é menos preenchi<strong>da</strong> de experiências. Muitas vezes a criança parece mais<br />

criativa que o adulto, mas isso é aparente. O que faz a criança parecer mais criativa é<br />

sua espontanei<strong>da</strong>de em relação ao adulto, geralmente mais preocupado com sua imagem<br />

perante os outros. A criativi<strong>da</strong>de se desenvolve na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> experiência, Quanto mais<br />

rica a experiência do sujeito, mais rica deve ser, em iguais condições, a imaginação.<br />

A primeira forma de relação <strong>da</strong> imaginação com a reali<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong>menta-se no<br />

fato de a imaginação sempre ser constituí<strong>da</strong> a partir de elementos apropriados <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de. Assim, as criações mais fantásticas resultam de uma combinação de<br />

elementos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que foram subordinados a ativi<strong>da</strong>de transformadora e<br />

modificadora <strong>da</strong> imaginação humana. Ocorre uma dupla dependência entre a<br />

imaginação e a experiência, a medi<strong>da</strong> que a experiência se apóia na imaginação e a<br />

imaginação se apóia na experiência. (Vigotsky, 2003)<br />

Na escrita a dificul<strong>da</strong>de criadora <strong>da</strong> criança tende a se manifestar mais. A<br />

dificul<strong>da</strong>de inicial que a criança tem de escrever é natural, pois, enquanto a linguagem<br />

<strong>oral</strong> é mais compreensiva, resultando <strong>da</strong> reação natural que surge <strong>da</strong> interação entre as<br />

pessoas, a linguagem escrita é mais abstrata. Por isso, a linguagem escrita se desenvolve<br />

mais lentamente do que a linguagem <strong>oral</strong>.<br />

De acordo com Vigotsky (2003) a linguagem escrita será desenvolvi<strong>da</strong> na<br />

medi<strong>da</strong> em que a criança sentir necessi<strong>da</strong>de de escrever. Quando a escola impõe temas<br />

para os alunos escreverem, obrigando a seguir os modelos literários dos adultos, não


leva a criança a entender os motivos <strong>da</strong> escrita. O púbere sente necessi<strong>da</strong>de de relatar<br />

seus sentimentos e sua experiência. No entanto, se não tiver entrado em suficiente<br />

contato com a literatura, não terá subsídios para o desenvolvimento <strong>da</strong> imaginação<br />

criadora, de modo que acabará por desistir de escrever. Vigotsky considera que na<strong>da</strong> de<br />

grandioso na vi<strong>da</strong> é feito sem sentimento. A puber<strong>da</strong>de é uma fase caracteriza<strong>da</strong> pela<br />

ampliação <strong>da</strong> excitabili<strong>da</strong>de e do sentimento. A linguagem escrita, na puber<strong>da</strong>de, aju<strong>da</strong><br />

a transmitir com mais precisão a complexi<strong>da</strong>de destes sentimentos. Por isso, a<br />

puber<strong>da</strong>de pode ser considera<strong>da</strong> o período literário. Aqui é importante ressaltar que,<br />

embora o bom escritor seja antes um conhecedor de literatura, nem to<strong>da</strong>s as pessoas que<br />

lêem e conhecem literatura tornam-se escritoras. Vigotsky mostra que a vontade de<br />

escrever do adolescente tende a diminuir com o tempo.<br />

(...)¿ cuál es el sentido de esta creación si no puede formar en el niño al<br />

futuro escritor, al creador, si es solo un fenómeno breve, episódico en el<br />

desarrollo del adolescente que después se reduce y a veces se pierde por<br />

completo?<br />

El sentido y la importancia de esta creación consiste en que permite al niño<br />

<strong>da</strong>r ese paso dificil en el desarrollo de la imaginación creadora que brin<strong>da</strong><br />

una nueva dirección de su fantasía que se mantiene para to<strong>da</strong> la vi<strong>da</strong>. Su<br />

sentido está en que profundiza, amplía y purifica la vi<strong>da</strong> emocional del niño,<br />

estimula y condiciona por primera vez a la adultez y, por último, su<br />

importancia radica en que le permite al niño, al ejercitar sus deseos de<br />

creación y sus hábitos, dominar el lenguaje ese instrumento delicado y<br />

complejo de formación y entrega del pensamiento y el sentimiento humanos,<br />

y del mundo interior del hombre. (VIGOTSKY, 2003: 93)<br />

Assim, a constatação inicial que fizemos sobre a dificul<strong>da</strong>de que os alunos têm<br />

de produzir textos pode ser considera<strong>da</strong> normal e espera<strong>da</strong> na i<strong>da</strong>de dos nove aos<br />

quatorze anos. Entretanto, a <strong>leitura</strong> diária de literatura, pode aju<strong>da</strong>r estes alunos a<br />

desenvolverem não só o gosto pela <strong>leitura</strong>, mas também a capaci<strong>da</strong>de de escrever.<br />

Aos poucos, a contação de histórias foi tornando-se um elemento inerente a um<br />

novo modo de produção textual feito pelos próprios alunos. A produção de texto, antes<br />

concebi<strong>da</strong> simplesmente como um instrumento de aferição dos conhecimentos<br />

internalizados, agora era ti<strong>da</strong> com uma necessi<strong>da</strong>de de organizar os elementos <strong>da</strong><br />

imaginação, na qual a criação passou a agregar os elementos <strong>da</strong> experiência. (Vigotsky,<br />

2003).<br />

Em síntese, à luz <strong>da</strong> teoria histórico-cultural, percebemos que a <strong>leitura</strong> e a escrita<br />

dos alunos estavam se modificando em direção a uma compreensão mais ampla do<br />

conhecimento sistematizado pela humani<strong>da</strong>de, potencializando individual e socialmente<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong> escrita.


3. A <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong>: o desafio de ler em casa<br />

Surpreendentemente, quando foi proposto que os alunos treinassem a <strong>leitura</strong> em<br />

casa para depois lerem em voz alta para a turma, houve ampla adesão. Preferimos que a<br />

adesão à ativi<strong>da</strong>de se desse voluntariamente, para não constranger perante a turma os<br />

alunos com pouca habili<strong>da</strong>de de <strong>leitura</strong> expressiva. No entanto, os primeiros voluntários<br />

leram baixo, sem expressivi<strong>da</strong>de, não chamando atenção para a história. Mais uma vez<br />

foi salientado a <strong>importância</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> ser feita de modo agradável ao ouvinte, o que só<br />

seria possível com treino em casa.<br />

Acreditamos, no entanto, que tal ativi<strong>da</strong>de foi váli<strong>da</strong> para levar os alunos a<br />

fazerem <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong>. Achamos conveniente nunca exigir que um aluno faça <strong>leitura</strong><br />

em voz alta sem antes ter feito <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong>. Buscamos também sempre explicar aos<br />

alunos como se faz <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> e a <strong>importância</strong> disso para a aprendizagem. Como<br />

veremos, Vygotski considera a <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> essencial para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

habili<strong>da</strong>de de <strong>leitura</strong>.<br />

De acordo com Vygotski (2000), a escrita é uma função cultural complexa e<br />

uma linguagem, qualitativamente diferente <strong>da</strong> fala. É uma função cultural complexa<br />

porque exerce importantes papéis nas socie<strong>da</strong>des letra<strong>da</strong>s, visto que amplia as<br />

possibili<strong>da</strong>des de interação entre as pessoas, permitindo ativi<strong>da</strong>des que a fala não<br />

permite, como, por exemplo, escrever um bilhete para auxiliar a memória. A escrita é<br />

diferente <strong>da</strong> fala pois, como seu interlocutor é ausente ou imaginário, exige uma<br />

expressivi<strong>da</strong>de mais precisa, não permitindo as mesmas omissões e aglutinações que a<br />

fala permite. Por exemplo, em um diálogo <strong>oral</strong> é possível se fazer entender usando<br />

cortes, imprecisões e descontinui<strong>da</strong>des, como: ‘olha’, ‘vem o dez’, ‘eu prefiro aquele’.<br />

Na escrita, estas imprecisões resultam na incompreensão.<br />

A criança tem uma fase no desenvolvimento <strong>da</strong> escrita no qual reproduz a fala.<br />

O resultado são as produções de textos quase incompreensíveis ao leitor. No entanto,<br />

na medi<strong>da</strong> em que entrar em contato com a diversi<strong>da</strong>de de textos que circulam na<br />

socie<strong>da</strong>de, a criança gradualmente entenderá as diferenças <strong>da</strong> escrita em relação à fala e<br />

passará a melhorar a própria escrita.<br />

Segundo Vygotski (2000) para se apropriar <strong>da</strong> escrita como função cultural<br />

complexa, a criança precisa se desprender do seu aspecto sonoro. A <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> é<br />

um importante meio de aju<strong>da</strong> para que a criança se despren<strong>da</strong> do aspecto sonoro <strong>da</strong>


escrita. O ritmo <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> é mais adequado que o ritmo <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong>. A<br />

vocalização atrasa e dificulta a atenção e a compreensão. A Vocalização dos signos<br />

visuais dificulta a <strong>leitura</strong> porque o ato de falar atrasa a percepção e trava e fraciona<br />

atenção. Durante a <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> a percepção <strong>da</strong>s letras e o movimento dos olhos<br />

tornam-se mais rápidos, <strong>da</strong>ndo mais ritmo à <strong>leitura</strong>. Além disso, os movimentos de<br />

retorno dos olhos tornam-se menos freqüentes. A compreensão é maior quando a <strong>leitura</strong><br />

é mais ligeira e ritma<strong>da</strong>, o que ocorre na <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong>.<br />

El estudio de la lectura demuestra que, a diferencia de la enseñanza<br />

antigua que cultivaba la lectura en voz alta, la <strong>silenciosa</strong>, es<br />

socialmente la forma más importante del lenguaje escrito y posee,<br />

además, dos ventajas importantes. Ya a finales del primer año de<br />

aprendizaje, la lectura <strong>silenciosa</strong> supera a la que se hace en voz alta<br />

en el número de fijaciones dinámicas de los ojos en las líneas. Por<br />

consiguiente, el proprio proceso de movimiento de los ojos y la<br />

percepción de las letras se aligera durante la lectura <strong>silenciosa</strong>, el<br />

carácter del movimiento se hace más rítmico y son menos frecuentes<br />

los movimientos de retorno de los ojos. La vocalización de los<br />

símbolos visuales dificulta la lectura, las reacciones verbales retrasan<br />

la percepción, la traban, fraccionan la atención. Por extraño que<br />

pue<strong>da</strong> parecer, no sólo el proprio proceso de la lectura, sino también<br />

la comprensión es superior cuando se lee <strong>silenciosa</strong>mente. La<br />

investigación ha demostrado que existe una cierta correlación entre la<br />

veloci<strong>da</strong>d de lectura y la comprensión. Suele creerse que cuando se<br />

lee despacio se comprende mejor, pero de hecho la comprensión sale<br />

ganando con la letura rápi<strong>da</strong> ya que los diversos procesos se realizan<br />

con diversa rapidez y la veloci<strong>da</strong>d de comprensión corresponde a un<br />

ritmo de lectura más rápi<strong>da</strong>. (VIGOTSKI, 2000: 198)<br />

Isto não significa que a <strong>leitura</strong> em voz alta seja inadequa<strong>da</strong>. Sem vocalização é<br />

muito difícil a criança se apropriar <strong>da</strong>s relações grafo-fônicas no início do processo de<br />

alfabetização. No entanto, ao aju<strong>da</strong>r a criança a se desprender do aspecto sonoro <strong>da</strong><br />

escrita, a <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> evita a mera decodificação de letras em sons que impede o<br />

entendimento do conteúdo do texto.<br />

No que se refere à <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong>, Vygotski (2000) diz que nesta há um intervalo<br />

visual, no qual a voz precede os olhos proporcionando a sincronização <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> com a<br />

vocalização. Na boa <strong>leitura</strong> em voz alta, a <strong>leitura</strong> antecede a vocalização. Um bom leitor<br />

em voz alta tem um intervalo maior entre os olhos e a voz. Por sua vez, na <strong>leitura</strong><br />

<strong>silenciosa</strong>, o bom leitor apreende mais o significado do texto do que as relações entre<br />

letras e sons. Neste caso, o significado <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> se emancipa do som, ou seja, torna-se<br />

desnecessário o som para a compreensão.


O ritmo <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>silenciosa</strong> é mais rápido e ocorre um desprendimento do<br />

aspecto sonoro. Por sua vez, a <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong> é mais lenta. Por este motivo, a compreensão<br />

no ato de ler é mais fácil que a compreensão no ato de ouvir alguém lendo.<br />

Conseqüentemente, se a <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong> não for bem feita, a tendência é o não entendimento<br />

e a dispersão, do ouvinte. Disso se infere que, ao fazer uma <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong>, é preciso usar<br />

recursos expressivos e boa entonação de voz. Provavelmente o interesse por ouvir<br />

histórias despertará o interesse pela <strong>leitura</strong>.<br />

4. Conclusões: como contar história com a turma tão agita<strong>da</strong>?<br />

Pela experiência aqui relata<strong>da</strong>, pudemos perceber que as crianças de nove a<br />

quatorze anos gostam de ouvir contos de literatura infantil lidos em voz alta. Quando a<br />

história é boa, os alunos cessam a agitação para ouvir.<br />

Além <strong>da</strong> história em si, o modo de contá-la também precisa ser agradável ao<br />

ouvinte: voz em tom macio, nem alta nem baixa, boa entonação e respeito à pontuação e<br />

às pausas, gestos de an<strong>da</strong>r pela sala e mostrar as gravuras, evitação de pausas<br />

desnecessárias (há leitores que costumam parar a <strong>leitura</strong> para fazer perguntas aos<br />

ouvintes, ou comentar a história. Consideramos que isso quebra o ritmo e a sonori<strong>da</strong>de<br />

do texto literário). São válidos recursos extras, como imitação <strong>da</strong>s vozes dos<br />

personagens <strong>da</strong> história e uso de fantoches, mas eles não são imprescindíveis para a<br />

criança prestar atenção na história.<br />

Fizemos poucas análises dos critérios estéticos que formam a boa literatura<br />

infantil, pois buscamos enfatizar os motivos para a nossa ativi<strong>da</strong>de <strong>segundo</strong> a psicologia<br />

histórico-cultural. Fizemos isso porque acreditamos na <strong>importância</strong> de ter consciência<br />

quanto às razões <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s na escola. No entanto vale lembrar Zilberman<br />

(1998), para quem a boa literatura infantil é polissemia, jogo de palavras, não podendo<br />

ser confundi<strong>da</strong> com textos m<strong>oral</strong>istas e paradidáticos.<br />

As ativi<strong>da</strong>des aqui relata<strong>da</strong>s resumiram-se à prática cotidiana, diária, de ler em<br />

voz alta. Com isso, ressaltamos também a <strong>importância</strong> de não usar a literatura infantil<br />

para fazer ativi<strong>da</strong>des de ortografia, gramática ou trabalhar conteúdos. A literatura<br />

infantil é arte, e como tal deve ser aprecia<strong>da</strong>. Simplesmente proporcionar momentos de<br />

<strong>leitura</strong>, <strong>silenciosa</strong> e <strong>oral</strong> já é suficiente para melhorar as habili<strong>da</strong>des de <strong>leitura</strong> e escrita<br />

do aluno. Segundo Magnani (2001), o fracasso escolar de um indivíduo, em muitos<br />

casos, é tido como conseqüência <strong>da</strong> falta de estímulo ao hábito de <strong>leitura</strong>. Certas


concepções de educação compreendem que a função <strong>da</strong> escola é oferecer formação para<br />

a vi<strong>da</strong>, sendo a literatura pertinente a tal função.<br />

Em nossa prática pe<strong>da</strong>gógica, buscamos evitar as ativi<strong>da</strong>des de <strong>leitura</strong> e escrita<br />

literária sem intencionali<strong>da</strong>de, objetivos e planejamento, pois concebemos a literatura<br />

como ‘agente de transformação’. Entendemos a literatura infantil como um encontro do<br />

leitor (mesmo o leitor-ouvinte) com o escritor, pois o texto é uma concretização de<br />

relações sociais, pelo qual os significados constituem-se pela <strong>leitura</strong> visual e sonora.<br />

Assim, a <strong>leitura</strong> e a escrita não podem ser considera<strong>da</strong>s como conteúdo concluído em<br />

certo momento estanque do processo de ensino-aprendizagem.<br />

Nossas considerações não são conclusivas, pois nossa prática pe<strong>da</strong>gógica ain<strong>da</strong><br />

está em an<strong>da</strong>mento. Não consideramos a existência de uma metodologia específica para<br />

a formação de leitores-escritores, apenas buscamos subsídios na psicologia histórico-<br />

cultural. A partir desta concepção, compreendemos a imensa potenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

imaginação e criação infantil que pode ser trabalha<strong>da</strong> na <strong>leitura</strong> <strong>oral</strong> e <strong>silenciosa</strong>.<br />

RERERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

MAGNANI, Maria do Rosário Mortatti. Leitura, literatura e escola: Sobre a formação<br />

do gosto. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.<br />

VIGOTSKY, L.S. Imaginación y creación en la e<strong>da</strong>d infantil. Buenos Aires: Nuestra<br />

América, 2003.<br />

VYGOTSKI, L.S. Historia del desarrollo de las funciones psíquicas superiores. In:<br />

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