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Este axioma quase que não necessita de comentário de qualquer ...

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1- Axioma Moral: A Alma, Para Ser Responsável, Deve Ser Livre<br />

Dr. Edgar Mullins<br />

2- O Axioma Teológico: O Deus Santo E Amoroso Tem Direito A Reinar Como Soberano Dr.<br />

Edgar Mullins<br />

1 - Axioma Moral: A Alma, Para Ser Responsável, Deve Ser Livre<br />

Dr. Edgar Mullins<br />

<strong>Este</strong> <strong>axioma</strong> <strong>quase</strong> <strong>que</strong> <strong>não</strong> <strong>necessita</strong> <strong>de</strong> <strong>comentário</strong> <strong>de</strong> qual<strong>que</strong>r espécie, sob o<br />

ponto <strong>de</strong> vista dos seus termos e da sua significação geral. É a base <strong>de</strong> toda filosofia<br />

moral. Sistema algum <strong>de</strong> moral ou <strong>de</strong> teologia tenta agora repudiá-lo ou mesmo pôlo<br />

em dúvida. Como temos visto, a soberania <strong>de</strong> Deus respeita-o. Jardineiro algum,<br />

<strong>que</strong> tenha um excessivo amor às plantas, proce<strong>de</strong>u jamais com tanto carinho e<br />

perícia com uma <strong>de</strong>licada vinha, dispondo-a <strong>de</strong> modo a <strong>que</strong> ela trepasse facilmente<br />

pelas varas, como Deus proce<strong>de</strong> com a alma humana. Devíamos imitar Deus a este<br />

respeito. A mensagem do evangelho <strong>não</strong> é imposta à vonta<strong>de</strong>. E, na verda<strong>de</strong>, a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>não</strong> po<strong>de</strong> ser forçada. A i<strong>de</strong>ia da vonta<strong>de</strong> e a i<strong>de</strong>ia da força são<br />

incompatíveis e incomensuráveis.<br />

O apelo do <strong>axioma</strong> moral é dirigido à nossa consciência. Foi isso o <strong>que</strong> o revestiu <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r quando os teólogos, <strong>de</strong>pois da Reforma, se serviram <strong>de</strong>le contra o calvinismo<br />

extremo da época. Os homens sabiam <strong>que</strong> eram livres e, portanto, teoria alguma dos<br />

<strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> Deus, <strong>que</strong> <strong>de</strong>ixassem <strong>de</strong> admitir esse fato, po<strong>de</strong>ria manter-se<br />

permanentemente no sistema doutrinário. A reação foi até muito longe, mas era<br />

salutar e necessária.<br />

A LIBERDADE APÕE-SE AO MATERIALISMO<br />

É nossa consciência da liberda<strong>de</strong> <strong>que</strong> nos fortifica contra a mo<strong>de</strong>rna doutrina da<br />

hereditarieda<strong>de</strong>. Por um lado, como se vê, a hereditarieda<strong>de</strong> contém uma gran<strong>de</strong> e<br />

profundamente significativa verda<strong>de</strong>. Mas o sentido moral do homem há <strong>de</strong><br />

obstinadamente guardar a cida<strong>de</strong>la da liberda<strong>de</strong>. A alma po<strong>de</strong> <strong>não</strong> estar apta para<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um modo especulativo ou metafísico. Encerra-se, porém,<br />

no seu castelo, levanta a ponte, impe<strong>de</strong> a entrada por outra qual<strong>que</strong>r forma, e<br />

zomba do inimigo. Sabe <strong>que</strong> há qual<strong>que</strong>r <strong>de</strong>feito na metafísica <strong>que</strong> nega a liberda<strong>de</strong>,<br />

e, visto <strong>que</strong> essa metafísica <strong>não</strong> po<strong>de</strong> livrar-se do embaraço, tanto pior para ela.<br />

1


A nossa consciência da liberda<strong>de</strong> repudia, outrossim, o materialismo. Quando o<br />

materialismo assegura <strong>que</strong> as seleções morais são o produto <strong>de</strong> combinações casuais<br />

<strong>de</strong> átomos e moléculas no passado obscuro, a alma apõe a isso uma negativa.<br />

Quando um cristão dá um copo <strong>de</strong> água fria a outro em nome <strong>de</strong> Cristo, ou emprega<br />

a sua vida, como herói espiritual, no esforço <strong>de</strong> remir as ilhas do mar, e os<br />

materialistas lhe dizem <strong>que</strong> todo esse seu procedimento foi pre<strong>de</strong>stinado pelos<br />

átomos irrequietos antes <strong>de</strong> o caos se haver transformado no cosmos, o cristão negao<br />

serenamente, ainda <strong>que</strong> com bastante ênfase, e passa adiante.<br />

Há, já se vê, <strong>de</strong>fesas boas e sólidas da liberda<strong>de</strong> no campo teológico, metafísico e<br />

psicológico, assim como no moral e religioso. O nosso propósito aqui <strong>não</strong> re<strong>que</strong>r <strong>que</strong><br />

as apresentemos, nem mesmo resumidamente. Estamos tratando <strong>de</strong> um <strong>axioma</strong>. E<br />

por<strong>que</strong> isto é uma verda<strong>de</strong> axiomática é <strong>que</strong> mantém o seu lugar na mente e<br />

experiência humanas, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> todas as objeções metafísicas. Se um corpo<br />

luminoso se conserva no firmamento durante milhares <strong>de</strong> anos e é observado por<br />

toda a raça humana, com exceção <strong>de</strong> um pe<strong>que</strong>no número <strong>de</strong> homens cuja visão é<br />

imperfeita, temos seguramente razão para asseverar <strong>que</strong> é uma estrela fixa e <strong>de</strong><br />

negar <strong>que</strong> seja um meteoro.<br />

Jesus pregou a liberda<strong>de</strong> moral dos homens. Ainda mais, <strong>de</strong>monstrou-a na sua<br />

própria pessoa. O primeiro episódio na sua vida <strong>que</strong> chegou ao nosso conhecimento,<br />

<strong>de</strong>pois da história do seu nascimento, foi a<strong>que</strong>le em <strong>que</strong> se revelou a si próprio,<br />

quando tinha doze anos. Trata-se da cena passada no templo. Não <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ceu aos<br />

pais, mas havia-se evi<strong>de</strong>ntemente tornado cônscio da sua responsabilida<strong>de</strong><br />

individual. Declarou posteriormente <strong>que</strong> tinha “vindo” ao mundo, e <strong>que</strong> havia <strong>de</strong> “ir”<br />

ao Pai. Asseverou <strong>que</strong> havia <strong>de</strong> “dar” a sua vida, e <strong>que</strong> havia <strong>de</strong> “retomá-la”<br />

novamente. Em toda a sua íntima união com o Pai <strong>não</strong> há nunca, da parte do mesmo<br />

Pai, o menor movimento ou impulso no sentido <strong>de</strong> intervir na voluntária escolha do<br />

Filho.<br />

CRISTO E AS ESCOLHAS LIVRE<br />

Jesus invectivou a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>que</strong> a hereditarieda<strong>de</strong> conce<strong>de</strong>sse direitos ou privilégios<br />

espirituais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da escolha pessoal. Os ju<strong>de</strong>us <strong>não</strong> eram verda<strong>de</strong>iros<br />

filhos <strong>de</strong> Abraão simplesmente por<strong>que</strong> eram <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes físicos <strong>de</strong> Abraão. A<br />

hereditarieda<strong>de</strong> <strong>não</strong> impedia o exercício da vonta<strong>de</strong> e <strong>não</strong> a isentava das escolhas<br />

morais e da obediência pessoal do Novo Pacto.<br />

2


A liberda<strong>de</strong> é a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir <strong>de</strong>sta ou da<strong>que</strong>la forma. Isto <strong>não</strong> <strong>que</strong>r dizer <strong>que</strong><br />

a vonta<strong>de</strong> <strong>não</strong> obe<strong>de</strong>ça a uma certa inclinação, ou <strong>que</strong> as escolhas humanas <strong>não</strong><br />

sejam influenciadas por forças exteriores, ou por outras entida<strong>de</strong>s humanas, ou pela<br />

graça divina. Quer dizer apenas <strong>que</strong>, quando um homem obra, obra por si próprio. A<br />

escolha é um ato seu. Não é compelido, mas impelido. Determina por si próprio. É<br />

isto o <strong>que</strong> constitui a parte essencial da natureza humana e da personalida<strong>de</strong>. É isto o<br />

<strong>que</strong> constitui a glória do nosso ser. É a centelha <strong>que</strong> cai sobre a nossa humanida<strong>de</strong>,<br />

cercando-a <strong>de</strong> um admirável esplendor.<br />

Em todas as esferas <strong>de</strong> ação a liberda<strong>de</strong> é a <strong>de</strong>terminação pessoal. Na vida política, a<br />

liberda<strong>de</strong> é a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer o governo. Um governo do povo e exercido pelo<br />

povo é um governo em <strong>que</strong> há liberda<strong>de</strong>. O indivíduo só é politicamente livre quando<br />

exercer as suas funções <strong>de</strong> cidadão sem um alheio, injusto impedimento. Um homem<br />

é intelectualmente livre quando raciocina in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> outrem. As suas<br />

i<strong>de</strong>ias <strong>não</strong> são impostas, mas adotadas por ele mesmo, como um ato da sua livre<br />

vonta<strong>de</strong>. A liberda<strong>de</strong> industrial é o privilégio <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação própria no mundo<br />

econômico. Discriminações injustas e quais<strong>que</strong>r inoportunas leis ou regulamentos,<br />

po<strong>de</strong>m prejudicar ou subverter a liberda<strong>de</strong> industrial. Moralmente, a liberda<strong>de</strong> é a<br />

<strong>de</strong>terminação própria relativamente ao modo <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r. Religiosamente a<br />

liberda<strong>de</strong> é a ausência <strong>de</strong> constrangimento do Estado, constrangimento da<br />

Socieda<strong>de</strong>, constrangimento <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s eclesiásticas, constrangimento <strong>de</strong> credos<br />

religiosos, constrangimento <strong>de</strong> país. A liberda<strong>de</strong> religiosa, no seu lado positivo, é o<br />

apelo <strong>que</strong> Deus dirige à alma mediante a verda<strong>de</strong>, esperando <strong>que</strong> ela lhe responda<br />

<strong>de</strong> maneira inteligente em <strong>que</strong> manifeste obediência. É o contato da alma com Deus,<br />

mediante a fé, a oração e a comunhão, obtendo por meio <strong>de</strong>le graça para prestar<br />

auxílio em tempo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>.<br />

CRISTO E A VONTADE<br />

Ora, a obra <strong>de</strong> Cristo peculiar e especial é libertar a vonta<strong>de</strong> individual <strong>de</strong> tal modo<br />

<strong>que</strong> ela adquira beleza moral no seu caráter pessoal e se una socialmente às outras<br />

vonta<strong>de</strong>s para <strong>que</strong> se revele a beleza <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> santa.<br />

Os anglo-saxões contribuíram para a civilização do mundo com uma das coisas mais<br />

importantes. Foi o amor à liberda<strong>de</strong> individual. Guizot afirma <strong>que</strong> este sentimento<br />

anglo-saxão <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> amor à liberda<strong>de</strong> <strong>não</strong> se encontra mais em parte<br />

alguma. Tem, sem dúvida, razão, pelo <strong>que</strong> diz respeito ao homem natural. Mas é<br />

exatamente este o dom <strong>que</strong> Cristo outorga. O mesmo amor à liberda<strong>de</strong> e sentimento<br />

da personalida<strong>de</strong>, o mesmo conceito próprio e paixão pelas aventuras, o mesmo<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> correr ao encontro do perigo e <strong>de</strong> praticar gran<strong>de</strong>s façanhas, <strong>que</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

3


antiguida<strong>de</strong> tem distinguido os anglo-saxões, aparece no cristianismo, mas com uma<br />

enorme diferença. Sob a influência <strong>de</strong> Cristo tudo é regenerado e espiritualizado. A<br />

liberda<strong>de</strong> dos anglo-saxões era apenas limitada pelas condições físicas – montanhas,<br />

mares e disposições <strong>de</strong>sfavoráveis da natureza – e foram elas somente <strong>que</strong> os<br />

obrigaram a <strong>de</strong>ter-se nos seus cometimentos. A liberda<strong>de</strong> religiosa é limitada apenas<br />

pelo meio espiritual. Mas o impulso íntimo <strong>que</strong> ten<strong>de</strong> a um <strong>de</strong>senvolvimento pessoal<br />

e social, no espírito <strong>de</strong> sujeição a Cristo, é como uma mola sem fim, colocada no<br />

maquinismo das faculda<strong>de</strong>s do homem e <strong>de</strong>senrolando-se através dos séculos com<br />

um vigor sempre crescente, e po<strong>de</strong>r. A liberda<strong>de</strong> anglo-saxônica, sem o fogo cristão a<br />

purificá-la e santificá-la, conduz ao super homem <strong>de</strong> Nietzche e seus discípulos, o<br />

colosso egoísta e <strong>de</strong>sapiedado, <strong>que</strong> se gloria, principalmente, <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong><br />

amor e das mais suaves virtu<strong>de</strong>s. A liberda<strong>de</strong> cristã, por outro lado, produz a<strong>que</strong>les<br />

gigantes morais e espirituais <strong>que</strong> vemos na história, e <strong>que</strong> aos majestosos elementos<br />

do po<strong>de</strong>r aliaram sempre os elementos levíticos do amor e da <strong>de</strong>dicação. Cristo<br />

tornou-nos “reis e sacerdotes perante Deus”.<br />

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2 - O AXIOMA TEOLÓGICO: O DEUS SANTO E AMOROSO TEM DIREITO A REINAR COMO SOBERANO<br />

por Dr. Edgar Mullins<br />

O CARÁTER É A BASE DA SOBERANIA<br />

Um Deus santo e amoroso tem direito à soberania. Os homens têm sempre<br />

tropeçado na doutrina da soberania <strong>de</strong> Deus. Principalmente por<strong>que</strong> <strong>não</strong> a têm<br />

compreendido. Pensavam <strong>que</strong> ela <strong>que</strong>ria dizer <strong>que</strong> Deus era simplesmente uma<br />

onipotência pre<strong>de</strong>stinadora, um relâmpago caprichoso, um Deus meteoro, movendose<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente através do céu on<strong>de</strong> o homem põe a esperança, matando a<br />

uns e salvando a outros, sem consi<strong>de</strong>ração pela lei moral. Viram Nele uma<br />

onipotência soberana ou uma soberana onisciência, e <strong>não</strong> uma soberana<br />

paternida<strong>de</strong>. Se Ele é santo e vivo, se possuía boas qualida<strong>de</strong>s morais, tem direito a<br />

reinar como soberano. Po<strong>de</strong>mos, com efeito, afirmar <strong>que</strong> os homens encontram<br />

pouca ou nenhuma dificulda<strong>de</strong> em aceitar a i<strong>de</strong>ia da soberania <strong>de</strong> Deus logo <strong>que</strong><br />

distinguem excelência <strong>de</strong> caráter por <strong>de</strong>trás da soberania. Logicamente falando, <strong>não</strong><br />

há no intelecto do homem um lugar permanente para qual<strong>que</strong>r teoria <strong>que</strong> se oponha<br />

à i<strong>de</strong>ia da soberania <strong>de</strong> Deus. Os homens têm-se revoltado contra uma soberania <strong>que</strong><br />

lhes parecia proce<strong>de</strong>r injustamente na escolha <strong>de</strong> umas tantas almas para a salvação,<br />

excluindo as outras. Que esta objeção, porém, <strong>não</strong> tinha por alvo a i<strong>de</strong>ia da soberania<br />

em si mesmo, mas o fato <strong>de</strong> ela salvar somente alguns e <strong>não</strong> todos, vê-se claramente<br />

nisto: a doutrina da soberania tem sido empregada para incutir a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma<br />

salvação universal. O Dr. Jorge A. Gordon, no seu livro O Cristo <strong>de</strong> Hoje e noutros,<br />

expõe uma doutrina <strong>de</strong> soberania divina <strong>que</strong> é manifestamente extraída dos ensinos<br />

<strong>de</strong> Jonatas Edwards. Mas Edwards, se pu<strong>de</strong>sse ver a aplicação <strong>que</strong> o Dr. Gordon fez<br />

da sua doutrina, <strong>de</strong> certo <strong>não</strong> a aprovaria. É <strong>que</strong> o doutor aproveita-a como princípio<br />

<strong>de</strong> uma salvação universal. Vemos, pois, <strong>que</strong>, logo <strong>que</strong> a soberania toma a forma <strong>de</strong><br />

amor, e, particularmente, amor <strong>que</strong> a todos salva, os homens, em vez <strong>de</strong> lhe aporem<br />

objeção, acolhem-na com satisfação. Em outras palavras, o caráter justifica a<br />

soberania.<br />

O caráter <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>ve, contudo, ser visto dos dois lados. Ele é tanto santida<strong>de</strong> como<br />

amor. Ocorrem também certas circunstâncias na liberda<strong>de</strong> humana, <strong>que</strong> é o sinal do<br />

caráter moral no homem em correlação com a soberania divina, <strong>que</strong> influem na<br />

operação da soberania <strong>de</strong> Deus. O Dr. Gordon passa isso em claro, ao preten<strong>de</strong>r<br />

mostrar <strong>que</strong> o amor soberano <strong>de</strong>ve necessariamente promover a salvação <strong>de</strong> todos.<br />

Apesar <strong>de</strong> tudo, é incontestável <strong>que</strong> o caráter é a justificação da soberania.<br />

A NATUREZA E O HOMEM<br />

5


Po<strong>de</strong>mos chegar à mesma verda<strong>de</strong>, indo por outro caminho. A filosofia e ciência<br />

mo<strong>de</strong>rnas têm salientado <strong>de</strong> maneira notável o estado in<strong>de</strong>feso do homem na or<strong>de</strong>m<br />

da natureza. É um átomo atuado por forças irresistíveis <strong>que</strong> existem fora <strong>de</strong>le. O<br />

domínio da lei na natureza e a inviolabilida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m natural tem aumentado<br />

sobremaneira a plausibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta opinião. E assim muitos sustentam uma mais<br />

rígida forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminismo baseado na lei natural. Despreza-se a i<strong>de</strong>ia duma<br />

vonta<strong>de</strong> livre. O homem é o títere e o entretenimento <strong>de</strong> uma soberania <strong>de</strong> forças<br />

materiais. É um pedacinho <strong>de</strong> matéria, <strong>de</strong>sempenhando o papel <strong>de</strong> tijolo no templo<br />

da natureza, com outros tijolos materiais <strong>que</strong> lhe ficam por cima e por baixo. Desse<br />

muro perpendicular e rígido <strong>não</strong> há maneira <strong>de</strong> escapar.<br />

Mateus Arnold adicionou alguma coisa a esta i<strong>de</strong>ia quando <strong>de</strong>screveu a po<strong>de</strong>rosa<br />

força fora do homem, <strong>que</strong> atua constantemente sobre ele, como sendo o po<strong>de</strong>r, e<br />

<strong>não</strong> nós mesmos, <strong>que</strong> se encaminha para a justiça. O elemento do progresso, na<br />

opinião <strong>de</strong> Arnold, está em reconhecer <strong>que</strong> o <strong>que</strong> é moral é o po<strong>de</strong>r, <strong>não</strong> somos nós.<br />

Isto é um passo no sentido <strong>de</strong> o tornar pessoal. Com efeito, mal se po<strong>de</strong> conceber<br />

<strong>que</strong> um po<strong>de</strong>r impessoal “se aproxime da justiça”. A justiça é um atributo da<br />

personalida<strong>de</strong>.<br />

O maometano faz <strong>de</strong> Deus um ser pessoal, mas imoral. “Deus é gran<strong>de</strong>”, eis a súmula<br />

do i<strong>de</strong>al maometano <strong>de</strong> Deus. Para Moslem, portanto, Deus é simplesmente uma<br />

onipotência pre<strong>de</strong>stinadora.<br />

Vê-se imediatamente <strong>que</strong> enorme avanço se dá na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Deus quanto à concepção<br />

<strong>de</strong> uma força exterior incitada pela ciência e pela filosofia, à do atributo da justiça,<br />

<strong>de</strong>fendido por Arnold, e à Pessoa onipotente do maometanismo, se ajunta a i<strong>de</strong>ia da<br />

santida<strong>de</strong> e do amor, e a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Deus se torna a da Pessoa santa e amorosa.<br />

O processo, contudo, <strong>não</strong> está ainda concluído. Esta análise da i<strong>de</strong>ia da soberania,<br />

nas suas partes constituintes, santida<strong>de</strong>, amor e personalida<strong>de</strong>, é fortemente<br />

corroborada na experiência dos espiritualmente sazonados. Nenhuma exigência da<br />

vida cristã amadurecida é mais imperiosa do <strong>que</strong> a exigência <strong>de</strong> uma soberania em<br />

Deus <strong>que</strong> tome a forma <strong>de</strong> santa e amorosa paternida<strong>de</strong>. A consciência cristã<br />

sazonada <strong>não</strong> só a tolera como a exige. A vida, na sua cegueira e na sua <strong>de</strong>stituição,<br />

na sua tristeza e no seu sofrimento, seria intolerável sem a consolação da crença<br />

numa paternida<strong>de</strong> santa, amorosa e soberana. O olho da fé discerne claramente <strong>que</strong><br />

as únicas mãos em <strong>que</strong> os negócios do universo po<strong>de</strong>m ser confiadamente entregues<br />

são as <strong>de</strong> Deus.<br />

ENCARNAÇÃO E SOBERANIA<br />

6


Ora, a soberania expressa em termos <strong>de</strong> amor e justificação é o fato saliente do<br />

evangelho. A encarnação <strong>de</strong> Deus em Cristo é a maior <strong>de</strong> todas as expressões<br />

concebíveis <strong>de</strong>ssa soberania. É, na verda<strong>de</strong>, a expressão <strong>de</strong> uma soberania <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

mas é mais do <strong>que</strong> tudo uma expressão da soberania <strong>de</strong> caráter, a soberania da<br />

paternida<strong>de</strong> santa e amorosa. A sua verda<strong>de</strong>ira essência é <strong>que</strong> o Pai entregou o Filho,<br />

e <strong>que</strong> o Filho veio para revelar o Pai. Assim, Deus manifesta a sua soberania no<br />

primeiro caso, tomando a iniciativa da salvação, e esta expressão inicial <strong>de</strong> soberania<br />

em <strong>que</strong> Ele se aproxima do homem, revela-Se e insta para <strong>que</strong> o homem se reconcilie<br />

com Ele mediante o Filho <strong>que</strong> o revela, é o índice <strong>de</strong> toda a soberania, uma amostra,<br />

por assim dizer, do <strong>que</strong> a soberania é na sua mais profunda essência. Uma gota <strong>de</strong><br />

orvalho sobre a erva é como todas as outras gotas <strong>de</strong> água até ser vista do<br />

conveniente ponto <strong>de</strong> observação. É, então, como <strong>que</strong> um espelho on<strong>de</strong> o sol se<br />

reflete. A humanida<strong>de</strong> imaculada <strong>de</strong> Cristo, como uma <strong>de</strong>terminada gota <strong>de</strong> orvalho,<br />

reflete a glória da soberana santida<strong>de</strong> e do soberano amor tomado a iniciativa <strong>de</strong><br />

salvar os homens.<br />

Quando discutirmos o nosso <strong>axioma</strong> moral, teremos ocasião <strong>de</strong> advogar a causa da<br />

liberda<strong>de</strong> humana. Por agora antecipamo-nos o suficiente para dizer <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r<br />

doutrina da soberania divina <strong>de</strong>ve salvaguardar a liberda<strong>de</strong> do homem. A soberania<br />

<strong>de</strong> caráter santo e amoroso manifesta-se a si própria constituindo o homem um ser<br />

moral livre. Entrou o pecado, e a natureza humana <strong>de</strong>sviou-se tanto da linha reta<br />

<strong>que</strong>, sem a preveniente graça <strong>de</strong> Deus, escolhe inevitavelmente o mal. Mas nem a<br />

graça <strong>de</strong> Deus, escolhe inevitavelmente o mal. Mas nem a graça preveniente, nem a<br />

graça regeneradora, nem a graça sob qual<strong>que</strong>r das suas formas, operam sobre a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> um modo compulsório, mas sempre em conformida<strong>de</strong> com o seu estado<br />

livre. A vonta<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>, e o homem escolhe para si mesmo o dom gratuito da<br />

salvação <strong>que</strong> lhe é oferecido por Deus. A graça adapta-se à estrutura da vonta<strong>de</strong>,<br />

percorre as sinuosida<strong>de</strong>s, torna-se intumescente sem, contudo, forçá-la, preenche-a<br />

uma luva à mão ficando as duas para todo o sempre distintas e separadas, posto <strong>que</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificadas na forma e unidas quanto ao <strong>de</strong>stino.<br />

O MÉTODO DIVINO É NECESSARIAMENTE LENTO<br />

Ora, esta necessida<strong>de</strong> da resposta da vonta<strong>de</strong> humana faz com <strong>que</strong> a soberania <strong>de</strong><br />

Deus, na salvação dos homens, siga um método lento. Ele po<strong>de</strong>ria salvar todos os<br />

homens <strong>de</strong> um momento para o outro, com um simples aceno, se a salvação fosse<br />

simplesmente uma <strong>que</strong>stão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Mas é, também, uma <strong>que</strong>stão referente ao<br />

santo e amoroso caráter em Deus e a liberda<strong>de</strong> do homem. A persuasão é necessária<br />

para convencer os homens. Os agentes humanos da re<strong>de</strong>nção, os pregadores e<br />

expositores do evangelho da sua graça, estão organicamente ligados no processo da<br />

re<strong>de</strong>nção. As leis morais e espirituais são, por sua própria natureza, a pouco e pouco<br />

7


incorporadas no caráter humano e na socieda<strong>de</strong> humana. O processo é semelhante<br />

ao ligamento <strong>de</strong>morado dos pedaços <strong>de</strong> um osso partido, ou à tecelagem, fio por fio,<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>licado e bonito pano num tear, ou à lenta transformação do primeiro germe<br />

da vida <strong>que</strong> existe na semente da majestosa e linda planta. A única diferença é <strong>que</strong><br />

estas coisas re<strong>que</strong>rem horas ou dias, e o processo espiritual re<strong>que</strong>r milênios.<br />

Ora, a eleição <strong>que</strong> Deus faz dos homens para a salvação <strong>não</strong> é a<strong>que</strong>la coisa arbitrária<br />

ou caprichosa <strong>que</strong> algumas das mais antigas e avançadas formas da doutrina da<br />

soberania afirmavam ser. Trata-se <strong>de</strong> sabedoria, graça e ciência infinitas, procurando<br />

salvar o mundo segundo um método <strong>que</strong> atinge o maior número no mais curto<br />

espaço <strong>de</strong> tempo. Isto explica o fato <strong>de</strong> a eleição ser um processo ampliativo. De<br />

geração para geração o horizonte vai-se tornando mais vasto e é cada vez maior o<br />

número dos <strong>que</strong> entram no reino. A santida<strong>de</strong> resulta do fato <strong>de</strong> Deus <strong>não</strong> <strong>que</strong>rer<br />

violar a natureza moral do homem, ainda mesmo para salvá-lo, e o amor, do fato <strong>de</strong><br />

ser o processo <strong>de</strong> salvar os homens o mais possível acelerado em cada período. As<br />

restrições relativamente a Deus são impostas por uma tríplice necessida<strong>de</strong>: em<br />

primeiro lugar, salvar o homem e ao mesmo tempo <strong>de</strong>ixá-lo livre, o <strong>que</strong> realmente<br />

significa <strong>que</strong> a salvação é um processo moral e <strong>não</strong> um mero ato físico <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r; em<br />

segundo lugar, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar a vonta<strong>de</strong> humana enquanto ela se<br />

encontra num estado <strong>de</strong> pecado <strong>que</strong> a levará certamente a exercer a sua liberda<strong>de</strong><br />

moral escolhendo o mal, a <strong>não</strong> ser <strong>que</strong> a impeçam disso; em terceiro lugar, a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empregar agentes humanos como canais da sua graça salvadora. Se<br />

Deus <strong>não</strong> empregasse agentes humanos, privaria o homem da sua tarefa moral,<br />

<strong>de</strong>spojá-lo-ia do principal direito <strong>que</strong> lhe dá o seu nascimento. Se Deus salvasse e<br />

santificasse os homens diretamente, se eles <strong>não</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ssem uns dos outros<br />

quanto ao esforço moral e espiritual, se <strong>não</strong> houvesse luta, se <strong>não</strong> houvesse<br />

sofrimento, se <strong>não</strong> houvesse trabalho, se <strong>não</strong> fosse preciso empregar esforços, para<br />

se salvarem uns aos outros, a fonte do verda<strong>de</strong>iro crescimento moral seria <strong>de</strong>struída.<br />

Se a salvação fosse um milagre direto, e a santificação um ato imediato <strong>de</strong> Deus<br />

sobre cada homem salvo, se necessida<strong>de</strong> das várias agências e operações do reino,<br />

como nós bem sabemos, é verda<strong>de</strong> <strong>que</strong> se evitaria muito pesar, e cessaria a agonia<br />

longa <strong>de</strong> uma geração <strong>que</strong> geme com dores <strong>de</strong> parto, mas por outro lado incorria-se<br />

numa temível perda. A liberda<strong>de</strong> moral do homem, o seu privilegio no tocante ao<br />

crescimento, a cultivação das virtu<strong>de</strong>s sociais, em resumo, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o<br />

homem atingir, mediante a graça <strong>de</strong> Deus, uma justiça <strong>que</strong> lhe pertence, em adição à<br />

justiça <strong>que</strong> recebe <strong>de</strong> Deus, tudo isto <strong>de</strong>sapareceria para sempre. Ficaria assim a raça<br />

espiritualmente falida e permaneceria eternamente num estado <strong>de</strong> infância<br />

espiritual. A empresa da re<strong>de</strong>nção é o ginasio espiritual <strong>de</strong> Deus on<strong>de</strong> se fazem<br />

gigantes. Só um preparativo <strong>que</strong> a<strong>de</strong>stre para a luta com o pecado po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

o mais elevado po<strong>de</strong>r espiritual. A capacida<strong>de</strong> para subjugar planetas e estrelas seria,<br />

em comparação, um brin<strong>que</strong>do infantil.<br />

8


A LIBERDADE DO HOMEM E A SUA ELEIÇÃO<br />

Voltando agora à tríplice necessida<strong>de</strong> <strong>que</strong> põe limites à santa e amorosa soberania na<br />

salvação e santificação dos homens – a liberda<strong>de</strong> do homem, a sua inevitável escolha<br />

do mal e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agentes humanos para a re<strong>de</strong>nção – po<strong>de</strong>mos dizer <strong>que</strong> a<br />

eleição era o único método <strong>de</strong> <strong>que</strong> Deus podia dispor sob as condições impostas por<br />

estas necessida<strong>de</strong>s. <strong>Este</strong> método <strong>de</strong> eleição per<strong>de</strong> toda a aparência <strong>de</strong> arbitrarieda<strong>de</strong><br />

ou injusta <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se adquirir a convicção <strong>de</strong> <strong>que</strong> só ele se acomoda às<br />

circunstâncias. Se, em adição a isto, supusermos <strong>que</strong> Deus começou o processo<br />

eletivo no período mais favorável da história do mundo, colocou os objetos da sua<br />

eleição nas condições mais favoráveis para servirem <strong>de</strong> intermediários na escolha <strong>de</strong><br />

outros, e, alargando o círculo do seu amor eletivo, fê-lo mover-se na direção mais<br />

favorável para uma rápida e eficiente evangelização <strong>de</strong> todo o mundo, chegar-se-á à<br />

conclusão <strong>de</strong> <strong>que</strong> uma soberania santa e amorosa tem presidido sempre o processo<br />

da eleição, e <strong>que</strong> em cada fase do processo é confirmada a <strong>de</strong>claração bíblica <strong>de</strong> <strong>que</strong><br />

ele <strong>não</strong> <strong>de</strong>seja <strong>que</strong> homem algum pereça, mas <strong>que</strong> todos tenham a vida eterna.<br />

OS HOMENS ESTRATÉGICOS DE QUE FALA A HISTÓRIA<br />

Todas estas condições existem na vocação e escolha <strong>de</strong> Abraão, no estabelecimento<br />

dos seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes na Palestina, na estrada das nações; na dispersão dos ju<strong>de</strong>us,<br />

<strong>que</strong> levaram consigo a verda<strong>de</strong> para abrirem caminho ao evangelho; na vocação <strong>de</strong><br />

Paulo, o apóstolo dos gentios; na evangelização presidida por Paulo, <strong>que</strong> teve mais<br />

por objeto as raças agressivas e missionárias do oci<strong>de</strong>nte do <strong>que</strong> os inermes povos<br />

orientais; na concentração do mo<strong>de</strong>rno esforço missionário do povo cosmopolita no<br />

oci<strong>de</strong>nte e <strong>não</strong> nas raças exclusivas do oriente, e em outras muitas coisas <strong>que</strong><br />

indicaríamos se o espaço no-lo permitisse. Olhando para a história da humanida<strong>de</strong> no<br />

seu conjunto, certificando-nos <strong>de</strong> <strong>que</strong> Deus ama sinceramente todos os homens, e<br />

reconhecendo os limites impostos à sua ação pela natureza da liberda<strong>de</strong> humana e<br />

do pecado, <strong>necessita</strong>mos apenas <strong>de</strong> mais duas coisas <strong>que</strong> nos mostram o caráter<br />

amoroso e santo <strong>que</strong>, na obra da re<strong>de</strong>nção, está por <strong>de</strong>trás da soberania eletiva.<br />

Essas duas coisas são a escolha da ocasião oportuna para operar, e a escolha <strong>de</strong><br />

homens estratégicos mediante os quais a graça pu<strong>de</strong>sse espalhar-se pelo mundo<br />

inteiro. Abraão, Paulo e centenas <strong>de</strong> outros homens são o exemplo da escolha <strong>de</strong><br />

homens estratégicos, e o Novo Testamento reconhece <strong>de</strong> muitos modos o princípio<br />

da “plenitu<strong>de</strong> do tempo”, relativamente à ação <strong>de</strong> Deus. Num jogo <strong>de</strong> bola usado na<br />

América, o empenho da cada jogador é acertar no chamado prego rei, pois a<strong>que</strong>le<br />

<strong>que</strong> o fizer, colocando-se numa <strong>de</strong>terminada direção, tem a certeza <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar abaixo<br />

todos os outros pregos. Deus proce<strong>de</strong> i<strong>de</strong>nticamente no <strong>que</strong> diz respeito à re<strong>de</strong>nção,<br />

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e escolhe a<strong>que</strong>les homens <strong>que</strong> garantem os maiores resultados compatíveis com as<br />

condições e limites a <strong>que</strong> a sua operação está sujeita. A essas condições e limites já<br />

nos referimos, os quais resultam principalmente da liberda<strong>de</strong> humana e do pecado.<br />

Os homens estratégicos <strong>não</strong> são necessariamente homens morais, e a sua escolha<br />

nada tem a ver com as qualida<strong>de</strong>s morais. Paulo chamava-se a si mesmo “o maior<br />

dos pecadores” e era talvez em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse fato <strong>que</strong> era um homem estratégico,<br />

um homem mediante o qual a graça podia ir ao encontro <strong>de</strong> um grandíssimo número<br />

<strong>de</strong> criaturas. E sabemo-lo pela própria boca <strong>de</strong> Paulo. Concluímos, portanto, <strong>que</strong> o<br />

amor eletivo <strong>de</strong> Deus é a<strong>que</strong>le seu empenho em salvar o maior número <strong>de</strong> pessoas<br />

no mais curto espaço <strong>de</strong> tempo, sob as condições impostas pela liberda<strong>de</strong> humana e<br />

os processos necessariamente morosos do crescimento moral.<br />

Ao terminar esta parte da nossa discussão, convém dizer <strong>que</strong> a aceitação do nosso<br />

<strong>axioma</strong> teológico <strong>não</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> necessariamente da aceitação, por parte do leitor,<br />

dos vários pontos subordinados <strong>que</strong> acabamos <strong>de</strong> expor nestas nossas breves<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre um assunto extremamente difícil. Estou certo <strong>de</strong> <strong>que</strong> todos os<br />

leitores circunspectos se compenetrarão do verda<strong>de</strong>iro sentido do <strong>axioma</strong>, isto é,<br />

<strong>que</strong> a soberania <strong>de</strong> Deus é justificada pelo seu caráter. O coração humano,<br />

adquirindo a convicção <strong>de</strong> <strong>que</strong> Deus é santo e cheio <strong>de</strong> amor, compraz-se na i<strong>de</strong>ia da<br />

sua soberania; ainda mais, consi<strong>de</strong>ra-a a única base possível da segurança e paz e o<br />

triunfo mais completo da santida<strong>de</strong> e do amor.<br />

Ser-nos-á fácil, agora, fazer um breve sumário do <strong>que</strong> ficou para trás.<br />

A CHAVE DA SOBERANIA<br />

Qual é a chave da soberania <strong>de</strong> Deus ao criar o universo? O jardim do É<strong>de</strong>n, o seu<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> criar seres <strong>que</strong> fossem eternamente santos e eternamente felizes. Qual é a<br />

chave da soberania <strong>de</strong> Deus na encarnação <strong>de</strong> Cristo? O <strong>de</strong>sejo da onipotência<br />

soberana <strong>de</strong> tornar-se soberana compaixão, soberana paciência e soberano<br />

sofrimento, para efetuar a obra da re<strong>de</strong>nção. O Deus <strong>que</strong> conquista os corações <strong>não</strong><br />

é o <strong>que</strong> lá do céu contempla um mundo <strong>que</strong> perece, mas sim o <strong>que</strong> se cinge com uma<br />

toalha e lava os pés a seus discípulos.<br />

Qual é a chave da soberania <strong>de</strong> Deus no tocante à providência? Simplesmente isto: a<br />

sua compaixão e paciência hão <strong>de</strong> prover tempo e lugar para os discípulos<br />

retardatários adquirirem boas qualida<strong>de</strong>s morais, para seu benefício e para benefício<br />

da socieda<strong>de</strong>. A socieda<strong>de</strong> humana <strong>não</strong> passa, por enquanto, <strong>de</strong> um esplêndido<br />

esboço, mostrando aqui uma coluna, ali um pórtico, mais além uma pedra<br />

fundamental. Esperai algum tempo, dizem a santida<strong>de</strong> e o amor soberano, e tereis<br />

diante <strong>de</strong> vós um edifício grandioso. Depois há também a<strong>que</strong>la parábola do profeta,<br />

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tão <strong>de</strong>sagradável para muitos, <strong>que</strong> compara Deus ao oleiro e o homem ao barro.<br />

Meditemos nessa parábola.<br />

O oleiro vê com os olhos da mente uma bela imagem <strong>que</strong> <strong>de</strong>seja reproduzir, e trata<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rá-la com o auxílio da roda <strong>que</strong> tem junto <strong>de</strong> si. Ora, se o barro tem a<br />

necessária elasticida<strong>de</strong>, o trabalho sai como o oleiro o imaginou, mas se, pelo<br />

contrário, resiste aos seus esforços, é certo o mau êxito. Tudo isto significa <strong>que</strong> Deus<br />

<strong>não</strong> <strong>que</strong>r ir <strong>de</strong> encontro à vonta<strong>de</strong> do homem. A sua soberania é santa e amorosa e<br />

respeitosa a liberda<strong>de</strong> humana. E assim em tudo. O Deus soberano é o Deus santo e<br />

o Deus benigno. Ele <strong>que</strong>r reproduzir na vida e socieda<strong>de</strong> humanas a or<strong>de</strong>m e a<br />

beleza, a majesta<strong>de</strong> e o po<strong>de</strong>r, do céu material, com as suas brilhantes constelações<br />

e sóis <strong>de</strong>slumbrantes. Ele <strong>que</strong>r comunicar aos homens a sua bem-aventurança, até o<br />

ponto <strong>de</strong> neles se refletirem a<strong>que</strong>les atributos <strong>que</strong> são apanágio das hostes angélicas<br />

<strong>que</strong> estão constantemente em redor do seu trono. Mas <strong>de</strong>seja ser soberano; tem<br />

sempre em suas mãos as ré<strong>de</strong>as do po<strong>de</strong>r, para <strong>que</strong> nenhum dos cavalos alados <strong>que</strong><br />

puxam o seu imponente coche e <strong>que</strong>, envolvidos em chamas, o levam através do<br />

firmamento, se torne insubmisso ou dê origem a algum <strong>de</strong>sastre. Ele até <strong>que</strong>r ter<br />

domínio sobre o pecado, <strong>de</strong> modo <strong>que</strong> se possa dizer com inteira verda<strong>de</strong> <strong>que</strong> coisa<br />

alguma está fora do alcance da sua soberania.<br />

Do livro: Os Axiomas da Religião.<br />

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