30.08.2013 Views

Ciclo Grandes Orquestras Mundiais 2005 2006 - Gulbenkian Música ...

Ciclo Grandes Orquestras Mundiais 2005 2006 - Gulbenkian Música ...

Ciclo Grandes Orquestras Mundiais 2005 2006 - Gulbenkian Música ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Orquestra Sinfónica NHK, Tóquio<br />

Orquestra de Câmara da Europa<br />

Orquestra Barroca de Friburgo<br />

Orquestra da Gewandhaus, de Leipzig<br />

Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera<br />

<strong>Ciclo</strong><br />

<strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong><br />

<strong>2005</strong> <strong>2006</strong>


Serviço de <strong>Música</strong><br />

Director<br />

Luís Pereira Leal<br />

Directores Adjuntos<br />

Rui Vieira Nery<br />

Miguel Sobral Cid<br />

Consultor<br />

Carlos de Pontes Leça


<strong>2005</strong>-<strong>2006</strong><br />

<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong><br />

<strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong>


<strong>2005</strong>-<strong>2006</strong><br />

<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong><br />

<strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong><br />

Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong> | BPI


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

página o.4<br />

Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong><br />

A Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong> promove em <strong>2005</strong>-06, mais uma vez em<br />

parceria com o Banco Português de Investimentos, uma nova edição do <strong>Ciclo</strong><br />

<strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong>. O público de Lisboa continua deste modo a poder<br />

contactar ao vivo, de forma regular, com algumas das formações orquestrais que<br />

constituem referências absolutas de qualidade neste domínio, e com maestros e<br />

solistas de grande prestígio mundial.<br />

Na presente temporada o ciclo integra cinco concertos, cobrindo um espectro<br />

de repertórios e formações instrumentais muito diversificado. A literatura<br />

sinfónica de maiores dimensões está representada logo no primeiro destes concertos,<br />

pela Orquestra Sinfónica NHK de Tóquio, com o seu Maestro Titular<br />

Vladimir Ashkenazy e o Soprano finlandês Soile Isokoski, e prosseguirá com os<br />

concertos da Orquestra da Gewandhaus de Leipzig, dirigida por Riccardo Chailly,<br />

e da Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera, com direcção de Mariss Jansons.<br />

De Haydn a Wagner e Mahler, e de Debussy a Stravinsky e Takemitsu, são 250 anos<br />

de tradição musical sinfónica assim percorridos por intérpretes de excepção.<br />

Uma das formações orquestrais de câmara mais prestigiadas do nosso tempo,<br />

a Orquestra de Câmara da Europa, apresenta-se num programa dedicado ao<br />

sinfonismo romântico, com András Schiff a assegurar simultaneamente a regência<br />

e a parte do piano solo no Concerto op. 33 de Dvorák. E o ciclo completa-se<br />

com um notável conjunto instrumental de <strong>Música</strong> Antiga, a Orquestra Barroca de<br />

Friburgo, dirigida por Petra Müllejans, a que se associa uma das vozes mais emblemáticas<br />

da interpretação de <strong>Música</strong> Antiga, o Meio-Soprano Cecilia Bartoli,<br />

para um programa dedicado à <strong>Música</strong> em Roma na viragem para o século XVIII.<br />

No momento em que a Fundação lança o seu novo Projecto Educativo<br />

Descobrir a <strong>Música</strong> na <strong>Gulbenkian</strong>, gostaria de sublinhar o facto de vários dos compositores<br />

representados neste ciclo serem objecto de iniciativas pedagógicas que<br />

procuram cativar novos públicos, sobretudo infantis e infanto-juvenis, para o<br />

universo da <strong>Música</strong> erudita. Estou certa, por último, de que mais uma vez o público<br />

não deixará de responder a este conjunto de novas propostas artísticas de um<br />

ciclo que continua a ocupar um lugar único na programação musical portuguesa.<br />

Teresa Gouveia<br />

Administradora


BPI<br />

Uma Empresa não vive apenas para si própria. Serve uma Comunidade que,<br />

em última instância, é a sua razão de ser. E perante a Comunidade contrai, por<br />

isso, uma responsabilidade que se traduz em compreender as suas necessidades<br />

e ajudar a formar e a concretizar as suas aspirações.<br />

É no quadro desta responsabilidade pública que o BPI tem desenvolvido desde<br />

a sua criação, há já 24 anos, uma extensa actividade de apoio a importantes<br />

iniciativas da Sociedade e do Estado, centradas, sobretudo, nos domínios da<br />

Assistência Social, da Educação e Ciência, da Cultura e Património. O principal<br />

objectivo tem sido o de ajudar a fazer o que, tendo indiscutível mérito e qualidade,<br />

muitas vezes dificilmente conseguiria afirmar-se sem este estímulo adicional,<br />

desenvolvido, sempre que possível, em associação com outras instituições<br />

públicas e privadas.<br />

Com este critério, o Banco assegurou durante sete anos o apoio mecenático<br />

ao ciclo “<strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong>”, respondendo a um convite da Fundação<br />

Calouste <strong>Gulbenkian</strong> para uma honrosa parceria, à qual caberá garantir a continuidade<br />

de um programa que recolocou Lisboa no circuito internacional da<br />

grande música erudita e que, em 17 anos de vida, se foi tornando um dos melhores<br />

hábitos da vida cultural do País.<br />

O BPI espera assim contribuir para manter viva a expectativa com que todos<br />

os anos uma audiência fiel aguarda o anúncio de uma nova temporada, fazendo<br />

justiça a uma programação que a Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong> tem mantido<br />

num elevadíssimo nível. A melhor recompensa serão as salas de concerto sempre<br />

cheias, com um público cada vez mais conhecedor e renovado.<br />

Artur Santos Silva<br />

Presidente do Conselho de Administração<br />

Banco BPI, S.A.<br />

página o.5


<strong>2005</strong>-<strong>2006</strong><br />

<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong>


Programa<br />

Orquestra Sinfónica NHK, Tóquio 08<br />

Vladimir Ashkenazy Maestro<br />

Soile Isokoski Soprano<br />

Orquestra de Câmara da Europa 28<br />

András Schiff Piano e Direcção<br />

Orquestra Barroca de Friburgo 38<br />

Cecilia Bartoli Meio-Soprano<br />

Petra Müllejans Direcção<br />

Orquestra da Gewandhaus, de Leipzig 44<br />

Riccardo Chailly Maestro<br />

Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera 52<br />

Mariss Jansons Maestro<br />

página o.7


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

página o.8<br />

A digressão europeia <strong>2005</strong> da Orquestra Sinfónica NHK é patrocinada por:<br />

Orquestra Sinfónica NHK, Tóquio<br />

Vladimir Ashkenazy Maestro<br />

Soile Isokoski Soprano


Vladimir Ashkenazy<br />

© Decca- Sasha Gusov<br />

Soile Isokoski<br />

Programa<br />

Toru Takemitsu<br />

A Flock Descends into the Pentagonal Garden<br />

Richard Strauss<br />

Vier letzte Lieder<br />

1. Frühling<br />

2. September<br />

3. Beim Schlafengehen<br />

4. Im Abendrot<br />

Intervalo<br />

Claude Debussy<br />

Jeux (Poème dansé)<br />

Maurice Ravel<br />

Daphnis et Chloé, Suite Nº 2<br />

1. Lever du jour<br />

2. Pantomime<br />

3. Danse générale<br />

16<br />

Domingo, 21.00 Coliseu dos Recreios<br />

Outubro <strong>2005</strong><br />

página o.9


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 10<br />

Toru Takemitsu<br />

Tóquio, 8 de Outubro de 1930<br />

Tóquio, 20 de Fevereiro de 1996<br />

A Flock Descends into the Pentagonal Garden<br />

(c. 13 min.)<br />

Nascido no Japão, durante a sua juventude Toru Takemitsu ficou fascinado<br />

pela música ocidental (clássica e ligeira) que avidamente ouvia pela rádio. Esta<br />

experiência auditiva levaria ao desejo de se tornar compositor, tendo em 1948<br />

iniciado estudos de composição com Yasuji Kiyose. A carreira de Takemitsu teria<br />

início dois anos mais tarde com a peça para piano Lento in due movimenti.<br />

Enquanto que a influência do expressionismo de Schönberg e de Berg são<br />

bastante visíveis nas obras do seu primeiro período, o estilo da escola francesa,<br />

nomeadamente da música de Debussy e de Messiaen, iriam marcar também o<br />

rumo e o som da sua música, a qual lograria, não obstante, manter-se essencialmente<br />

independente. Takemitsu evidenciou também um gosto muito requintado<br />

por formas de arte para além da música, como a pintura moderna, a literatura<br />

(especialmente poesia), o teatro e o cinema e os seus interesses por diferentes<br />

campos estéticos influenciaram muito o seu estilo inovador. Em 1951, juntamente<br />

com outros compositores e artistas de variadas tendências e disciplinas,<br />

fundou o Workshop Experimental, um grupo que rapidamente se tornaria uma<br />

referência artística de vanguarda no Japão pelas suas actividades em espectáculos<br />

multimédia e também pelo importante papel de divulgação da música de compositores<br />

ocidentais contemporâneos.<br />

Takemitsu começou a ganhar reputação internacional como compositor no<br />

fim dos anos cinquenta com o seu Requiem para cordas (1957), obra que<br />

Stravinsky teve oportunidade de ouvir no Japão em 1959 e que muito elogiou.<br />

Nesta década, Takemitsu começara a usar gravadores de bobine para criar colagens<br />

musicais ao estilo da “musica concreta” francesa, sendo as obras Water music<br />

(1960) e Kwaidan (1964) dois bons exemplos da sua técnica de escrita neste<br />

importante campo de expressão. A partir dos anos 60, dois novos factores assumiram<br />

particular importância na sua abordagem criativa: a introdução de<br />

elementos da música tradicional japonesa, como em November Steps (1967, para<br />

biwa, shakuhachi e orquestra) e a atracção pela natureza, de que são exemplos as<br />

obras para orquestra Arc I (1963) e A Flock Descends into the Pentagonal Garden<br />

(1977).


A estrutura desta última obra foi mesmo inspirada nos jardins japoneses, um<br />

conceito desenvolvido por Takemitsu e ao qual se referiu várias vezes. Ao falar da<br />

sua música, o compositor usa frequentemente a metáfora do “jardim”, uma<br />

paisagem artificial onde distribuiu os seus objectos musicais. Cada obra oferece<br />

então uma jornada num jardim imaginário, sendo o ouvinte convidado a observar<br />

cada objecto individualmente e em diversas perspectivas, por forma a serem<br />

constantemente renovadas as relações entre os elementos musicais.<br />

Embora tivesse atingido um alto grau de domínio e perfeição no âmbito dos<br />

meios electrónicos, as obras mais relevantes de Takemitsu foram escritas para<br />

grupos de câmara e para grande orquestra, revelando fortes influências de<br />

alguns compositores ocidentais, nomeadamente os acima citados. Em A Flock<br />

Descends into the Pentagonal Garden, algumas ideias orquestrais de Schönberg<br />

(Cinco Peças para Orquestra) e Debussy (Jeux) estão presentes. Toda a obra evolui<br />

em torno do número cinco, possuindo cinco secções separadas por pausas, onde<br />

cinco escalas pentatónicas (ou modos) são utilizadas em conjunto com a manipulação<br />

de cinco células rítmicas essenciais. \•<br />

Miguel Ângelo Ribeiro<br />

Richard Strauss<br />

Munique, 11 de Junho de 1864<br />

Garmisch (Alpes bávaros), 8 de Setembro de 1949<br />

Vier letzte Lieder<br />

(c. 20 min.)<br />

A escrita de Lieder é, no caso de Richard Strauss, em parte consequência do<br />

facto de ter casado com uma cantora, Pauline de Ahna, que fornecia, enquanto<br />

intérprete ideal, uma justificação imediata para inúmeras incursões a este<br />

género musical. É pois durante o tempo em que a sua mulher se encontra no<br />

auge da carreira, na transição entre os séculos XIX e XX, que Strauss irá compor<br />

uma parte substancial dos seus Lieder, em particular entre 1891 e 1906. De<br />

qualquer modo, à parte uma interrupção de cerca de doze anos, entre 1906 e<br />

1917, associada também ao facto de Pauline ter cessado a sua actividade como<br />

cantora, Strauss continuará a compor regularmente Lieder ao longo de toda a<br />

vida, realizando ainda orquestrações de alguns deles – originalmente escritos<br />

página 11


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 12<br />

para piano e voz – e escrevendo também alguns Lieder pensados originalmente<br />

para orquestra, como é o caso da obra que hoje poderemos ouvir, Vier letzte Lieder<br />

[Quatro últimas canções] para soprano e orquestra. Tal resulta, com frequência,<br />

num efeito mais espectacular, pela riqueza do colorido que os diferentes instrumentos<br />

da orquestra sinfónica permitem obter.<br />

No último período criativo de Richard Strauss, que se estende dos últimos<br />

anos da Segunda Guerra Mundial até à data da sua morte, o tema principal que<br />

irradia das obras deste compositor parece ser aquele da perda de valores, do final<br />

do mundo no qual se havia movido, nascido e crescido (como homem e<br />

artista) e que parece dissolver-se irremediavelmente com o final da guerra e a<br />

capitulação da Alemanha. Essa concepção traduz-se nos trabalhos que compôs<br />

nesta época, verdadeiros testamentos musicais, sobretudo em obras instrumentais<br />

como Metamorfoses, datada da primavera de 1945 (coincidindo, portanto,<br />

com o momento da rendição alemã), mas também em Vier letzte Lieder, datados<br />

de 1948.<br />

Strauss iniciou a composição deste ciclo em 1946 na Suíça, país onde se havia<br />

refugiado com a mulher, em finais de 1945, fugindo à instabilidade que, mesmo<br />

após o final da guerra, reinava na Áustria e Alemanha: só foi considerado um não<br />

nazi por um tribunal alemão em Junho de 1948, tendo apenas regressado a<br />

Garmisch, onde havia residido e onde vivia o seu filho, Franz, em Maio de 1949,<br />

três meses antes de falecer. Por conseguinte, a instalação na Suíça e a composição<br />

dos Vier letzte Lieder marca, de certo modo, a conclusão de uma etapa,<br />

quase o termo metafórico de uma viagem de um casal idoso que passou por toda<br />

uma vida de alegrias e tristezas e que, chegando a um lugar que se torna uma<br />

residência permanente, pode repousar, mas também reflectir sobre essa mesma<br />

vida e o seu percurso.<br />

É essa reflexão que encontramos nestas últimas canções de Strauss, alicerçadas<br />

sobre poemas de Hermann Hesse (nº 1-3) e Eichendorf (nº 4), autores alemães<br />

que, neste caso, focam não apenas as temáticas preferidas de Strauss, como o amor<br />

e as belezas da natureza, mas também a nostalgia do tempo que passa, de modo irremediável,<br />

e a transformação operada, materializada num presente necessariamente<br />

distinto.<br />

Strauss começou por se debruçar sobre um poema de Eichendorf (nº 4 – Im<br />

Abendrot). Pouco tempo depois, o filho enviou-lhe um volume de poemas de<br />

Hermann Hesse. Destes, Strauss interessou-se especialmente por quatro, mas<br />

apenas terminará a composição de três, juntando-os ao poema de Eichendorf


que, entretanto, havia terminado de compor, em Abril de 1948. Assim, escreveu<br />

sucessivamente Frühling (nº 1, Julho de 1948), Beim Schlafengehen (nº 3, Agosto<br />

de 1948) e September (nº 2, Setembro de 1948). Para a edição destes quatro<br />

Lieder, que começou a preparar em 1949, mas que só saiu postumamente, em<br />

1950, Strauss decidiu não ter em conta a ordem de composição, mas partindo do<br />

significado dos poemas, procurou organizá-los segundo a natural progressão<br />

temporal humana, conferindo-lhes assim, de facto, o carácter literal de ciclo.<br />

Tratam-se pois de canções outonais que reflectem sobre o significado da vida e<br />

da morte.<br />

Assim, Vier Letzte Lieder inicia-se com Frühling (Primavera), celebrando-se<br />

os ardores da juventude e do renascimento da natureza; continua com September<br />

(Setembro), o final do verão e início do outono, no qual se evoca a queda das folhas<br />

das árvores e o inexorável adormecimento da natureza. Com efeito, a 3ª estrofe<br />

fala-nos da aspiração a um repouso, que é o tema central de Beim<br />

Schlafengehen (Ao adormecer) que, por seu turno, desemboca em Im Abendrot<br />

(Ao Pôr-do-sol), na despedida serena da vida, porventura literal. Doente,<br />

Strauss seria submetido a uma cirurgia nesse mesmo ano de 1948, o que significa<br />

que, com este último lied, o compositor estaria talvez a despedir-se do mundo,<br />

dos amigos e das vozes das mulheres que tanto celebrou musicalmente. Este<br />

poema de Eichendorf, poeta romântico da natureza cósmica, colocado no final<br />

do ciclo, perspectiva o mesmo, de um ponto de vista histórico e semântico, como<br />

um epílogo a um século e meio de Lieder germânicos assentes no desafogo da<br />

alma e na íntima fusão com a natureza.<br />

Não se verificando nenhuma ligação motívica entre estes quatro Lieder, observa-se,<br />

contudo, uma coesão orquestral e harmónica: as melodias vocais desenrolam-se<br />

num clima sonoro romântico exultante, detentor de uma harmonia<br />

– tal como é habitual nas obras de Strauss – colorida, cheia de nuances subtis e,<br />

por vezes, bastante flutuante pela forte incidência cromática e das modulações ricas<br />

e complexas. Não obstante, a sumptuosidade da orquestração, muito colorida<br />

e extraordinariamente refinada, a voz humana permanece sempre destacada.<br />

Em Frühling, Strauss utiliza uma orquestra transparente onde dominam as<br />

cordas, a harpa e as madeiras, às quais se juntam depois as quatro trompas. Sem<br />

um verdadeiro centro harmónico e através de inúmeras modulações, a melodia<br />

flui numa estrutura estrófica livre, com uma ligação instrumental da segunda<br />

para a terceira estrofe. Se neste lied não se observa uma tónica bem definida, tal<br />

não é o caso de September que, pelo contrário, polariza a sua estrutura harmónica<br />

página 13


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 14<br />

em torno de Ré Maior, não obstante as inumeráveis modulações, reluzentes como<br />

as cores do outono. Destaca-se um motivo rítmico-melódico que confere<br />

unidade a este lied, recurso utilizado igualmente em Beim Schlafengehen. Tal<br />

como em Frühling, Strauss faz, neste terceiro lied, uma transição instrumental<br />

da segunda para a terceira estrofes, aqui assignada a um solo de violino. Já Im<br />

Abendrot é o único poema que possui quatro estrofes: uma grande frase lírica<br />

orquestral, em Mi bemol Maior, introduz serenamente a primeira estrofe. A segunda<br />

consiste num excelente exemplo dos sumarentos encadeamentos harmónicos<br />

de Strauss que conduzem à terceira estrofe que, tal como a precedente,<br />

se encontra povoada de trilos imitando pássaros, símbolos da primavera, uma<br />

vez que, se a temática do poema assenta no termo da vida para dois seres que<br />

caminharam juntos, esta, não obstante, continua. O apaziguamento musical no<br />

início da última estrofe conduz à misteriosa interrogação do último verso da mesma,<br />

sobre um conjunto de modulações («será isto, a morte?»). Strauss conclui<br />

com um lento final orquestral, destilando simbolicamente um eco do seu poema<br />

sinfónico Morte e transfiguração op.24 (1888): por um lado, uma referência ao seu<br />

passado longínquo, por outro, também ele, uma reflexão sobre a vida e a morte.<br />

Os Vier Letzte Lieder foram apresentados em primeira audição absoluta no<br />

Royal Albert Hall, em Londres, em 22 de Maio de 1950, por Kirsten Flagstad e a<br />

Philarmonia Orchestra, sob a direcção de Wilhelm Furtwängler.


Claude Debussy<br />

Saint-Germain-en-Laye, 22 de Agosto de 1862<br />

Paris, 25 de Março de 1918<br />

Jeux (Poème dansé)<br />

(c. 18 min.)<br />

Maurice Ravel<br />

Ciboure (Pirinéus Atlânticos), 7 de Março de 1875<br />

Paris, 28 de Dezembro de 1937<br />

Daphnis et Chloé, Suite Nº 2<br />

(c. 17 min.)<br />

A segunda década do século XX caracterizou-se, entre outros factores, por<br />

um investimento na música para bailado. Enquanto que, no século XIX, este<br />

género era encarado como algo meramente funcional, fazendo muitas vezes<br />

parte da obra e, quando não integrado noutros géneros musicais, visto como<br />

uma arte mediana, à margem da atribuição de qualidades poéticas, no século XX<br />

a situação alterou-se. Esta mudança decorreu em paralelo com os processos que<br />

levariam à dissolução do primado da música alemã e com o inevitável surgimento<br />

de outros critérios de valor. Iria ser precisamente a dança a tornar-se um dos<br />

grandes catalisadores desta mudança, uma vez que se torna um lugar de experimentação<br />

por excelência, crucial para as inovações que se deram na composição<br />

musical do século XX e para as quais contribuíram um leque alargado de compositores<br />

com obras que se tornaram determinantes para história da música erudita.<br />

Um dos factores que mais contribuíram para que se verificasse esta mudança<br />

foi o ambiente artístico e cultural que se vivia em Paris, uma cidade cosmopolita<br />

e que levou à colaboração, até então excepcional, de figuras ligadas aos mais diversos<br />

ramos da cultura e da arte: músicos, pintores, coreógrafos e empresários<br />

reuniram-se, motivados pelo ideal comum de renovar e estabelecer uma novidade<br />

e uma vanguarda em relação à arte, produzindo obras novas no campo do<br />

bailado, caracterizadas pela interacção inovadora dos vários campos artísticos,<br />

num esforço conjunto de cooperação até então inédito, vendo o bailado como a<br />

possibilidade de unificar a dança, a música, o drama e as artes plásticas. Esta<br />

unificação não deve ser entendida no sentido wagneriano de “arte total” e supe-<br />

página 15


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 16<br />

rior, mas na possibilidade de, não obstante a sua confluência, dar a cada campo<br />

artístico a liberdade de desenvolver em pleno, e até ao limite possível, as suas<br />

próprias capacidades.<br />

Como força motriz de todo este processo, destacou-se o empresário russo<br />

Sergei Diaghilev (1872-1929), divulgador fundamental da arte russa em geral e<br />

que encontrou, justamente em Paris, o ambiente ideal para dar fôlego à companhia<br />

de bailado que entretanto havia fundado, conjuntamente com Michel<br />

Fokine: os Ballets Russes. Tratava-se de um grupo que incluía alguns dos mais<br />

promissores bailarinos e coreógrafos russos, como o citado Fokine, George<br />

Balanchine, Anna Pavlova, Tamara Karsavina ou Vaslav Nijinsky, e que estreou<br />

na capital francesa, ao longo de cerca de vinte anos, um extenso leque de obras.<br />

As produções deste grupo visavam não apenas um público tradicional (não foi<br />

por acaso que Diaghilev continuou a propor música de compositores como<br />

Chopin, Weber, Schumann ou Tchaikovsky, mesmo se, por vezes, com novas<br />

roupagens), mas também um mais ecléctico, que se revisse nos movimentos<br />

artísticos em geral e nas suas figuras emergentes. Deste modo, reuniu aos seus<br />

bailarinos e coreógrafos figuras como Picasso, Braque, Utrillo, Matisse, De<br />

Chirico ou Bakst, trabalhando como cenógrafos e/ou figurinistas e Stravinsky,<br />

Debussy, Ravel, Satie, ou Prokofiev, entre outros, como compositores.<br />

Estimulando as suas capacidades criativas enquanto colectivo, observou-se que,<br />

efectivamente, os Ballets Russes incorporaram e deram a conhecer as mais diversas<br />

correntes estéticas. Por conseguinte, graças à sua acção, podemos dizer que<br />

Diaghilev alterou não apenas a história do bailado, mas também a história da<br />

música. É neste contexto que se enquadram duas das obras que poderemos ouvir<br />

hoje: a segunda suite retirada do bailado Daphnis et Chloé de Maurice Ravel e<br />

Jeux: poème dansé de Claude Debussy.<br />

Daphnis et Chloé, sinfonia coreográfica em três partes com coro, resultou de<br />

uma encomenda feita a Ravel em 1909 por Diaghilev para os Ballets Russes.<br />

Desde 1904 que Fokine tinha como projecto a realização de um bailado sobre argumento<br />

de Amours de Daphnis et Chloé, romance de Longus, mas sem conseguir<br />

despertar qualquer interesse por parte da direcção dos teatros municipais de<br />

São Petersburgo. Só alguns anos mais tarde, depois de se ter estabelecido em<br />

Paris, é que a ideia de Fokine despertou a atenção de Diaghilev, que encomendou<br />

a música a Ravel, usando como fonte a adaptação seiscentista do original<br />

grego de finais do século II, feita pelo poeta francês Jacques Amiot.


Este bailado foi objecto de um trabalho árduo que se arrastou por três anos:<br />

a concepção que Ravel tinha do mesmo diferia bastante daquela de Fokine, o argumentista<br />

e coreógrafo. A Grécia imaginada por Ravel era a do revivalismo da<br />

antiguidade da França setecentista. O compositor estava menos preocupado com<br />

o arcaísmo do que com a fidelidade à Grécia por si idealizada, veiculada pelos<br />

pintores franceses do séc. XVIII, o que, para Fokine, implicava também um distanciamento<br />

para com o seu tema. Por conseguinte, a música parecia adequar-se<br />

mal à coreografia e à cenografia propostas. Neste contexto, a data da primeira<br />

audição foi sucessivamente postergada e, por pouco, Diaghilev não anulou a sua<br />

encomenda a Ravel.<br />

Para além das inúmeras dificuldades de escrita sentidas pelo compositor,<br />

observaram-se incessantes querelas entre Fokine e Nijinsky (que iria representar<br />

Daphnis) e frequentes manifestações de desagrado por parte do restante<br />

corpo de baile, resultantes das dificuldades colocadas pela partitura. Esta ficou<br />

estruturada num único andamento/acto, dividido em três quadros ou cenas,<br />

construída sobre um plano tonal bastante rigoroso, no qual se destacam, como é<br />

habitual em Ravel, um pequeno número de motivos cujo desenvolvimento assegura<br />

a homogeneidade da obra. A estreia teve lugar no Théatre du Châtelet, em<br />

Paris, apenas a 8 de Junho de 1912, com cenários e figurinos de Léon Bakst, sob<br />

a direcção de Pierre Monteux e com Nijinsky e Karsavina nos papéis principais.<br />

O sucesso deste bailado de Ravel foi escasso, em parte devido ao facto de ter<br />

sido apresentado no final da temporada de 1912 dos Ballets Russes e após eventos<br />

tão marcantes como a estreia, como bailado, do Prelúde à l’aprés midi d’un faune<br />

de Debussy, algumas semanas antes. Voltando à ribalta no ano seguinte, o bailado<br />

foi dessa vez eclipsado pela Sagração da Primavera de Stravinsky. Não obstante<br />

os sucessos obtidos em Londres, em 1914, e em Paris, em 1921, Daphnis et Chloé<br />

não tem conhecido um sucesso tão grande como bailado como nas versões sinfónicas<br />

tout court, mediante as quais é regularmente executado pelas orquestras<br />

mundiais. Nesse campo, encontra-se com frequência seja na versão integral,<br />

seja nas duas versões reduzidas: os Fragments symphoniques ou, na designação<br />

mais comum, Suite Nº 1 e Suite Nº 2.<br />

Enquanto que a Suite Nº 1 resulta de uma compilação de fragmentos do<br />

bailado efectuada ainda durante o processo de composição do mesmo, tendo<br />

sido dada em primeira audição em Abril de 1911, ainda antes da estreia da versão<br />

integral, já a Suite Nº 2 foi organizada em 1913. Esta suite junta as três<br />

secções da terceira parte: «Lever du jour»; «Pantomime» e «Danse générale».<br />

página 17


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 18<br />

Na primeira secção, Daphnis acorda e reencontra-se com Chloé, que havia perdido<br />

em sonhos; na segunda, os protagonistas mimam a história dos deuses Pan<br />

e Syrinx, com cuja história se identificam; por último, a dança final do bailado,<br />

no qual intervêm diversas personagens, destaca-se pelo seu ritmo de 5/4. Este<br />

revelou-se tão difícil para os bailarinos que a única forma de conseguirem<br />

dançá-la foi recorrendo a uma mnemónica: a repetição interior das sílabas do<br />

nome do seu empresário, “Ser-gei Dia-gui-lev”. Não obstante tratar-se de uma<br />

obra extraordinariamente complexa, interessante e detentora de uma orquestração<br />

exuberante, esta acabou por se apresentar um pouco mais académica face<br />

à coreografia ousada de Fokine e aos cenários e figurinos de Bakst, o que, de certo<br />

modo, desconcertou o público que não se identificou de todo com a Grécia<br />

clássica. Paradoxalmente, tal circunstância acabou por ir ao encontro da visão<br />

setecentista que Ravel tinha desse período histórico.<br />

No que respeita a Jeux: poème dansé, trata-se sem dúvida da última grande<br />

partitura orquestral composta por Debussy (entre 1912 e 1913), tendo sido também<br />

encomendada por Diaghilev para os Ballets Russes e estreada em 15 de Maio<br />

de 1913 no Teatro dos Campos Elíseos, em Paris. Não obstante se tratar de uma<br />

obra profética em relação ao futuro, acabou por ser remetida para um plano secundário,<br />

completamente abafada pelo escândalo provocado pela Sagração da<br />

Primavera, de Igor Stravinsky, também encomendada por Diaghilev e apresentada<br />

quinze dias depois de Jeux, a 29 de Maio de 1913, no mesmo local. Apesar de<br />

ter sido dada uma versão de concerto em Colónia em 1914, Jeux permaneceu, por<br />

conseguinte, esquecida durante muitos anos. Só na década de cinquenta, sobretudo<br />

graças à acção de Pierre Boulez e Bouchourechliev, é que se reconheceu esta<br />

obra tanto no contexto geral, como em termos das perspectivas, proféticas, que<br />

apontava, na época em que foi composta, em relação ao futuro. Hoje em dia, vêse<br />

em Jeux uma das obras mais arrojadas de Debussy e, de facto, se a sua carreira<br />

enquanto peça cénica permanece algo incerta, tornou-se contudo uma importante<br />

peça sinfónica, sendo nesse formato que hoje a poderemos escutar: aliás,<br />

a manutenção de uma certa autonomia da música em relação à coreografia, isto<br />

é, a instância de deixar de ser meramente funcional é, também, um dos elementos<br />

que caracterizam todo o processo inovador que encontramos em torno da<br />

produção para bailado nesta época, e que justifica que Jeux tenha conhecido sobretudo<br />

uma existência como obra sinfónica, tal como, aliás, Daphnis et Chloé, de<br />

Ravel.


O argumento que, tal como a coreografia, é de Nijinsky, assenta num flirt entre<br />

duas raparigas e um rapaz, que fazem jogos complicados de sedução enquanto<br />

procuram num parque, ao crepúsculo, vestidos de branco e com raquetes na<br />

mão, uma bola de ténis que se perdeu. Em termos cénicos, estava prevista a luz<br />

artificial de dois grandes candeeiros eléctricos que espalhariam em redor das<br />

personagens uma luz ténue para sugerir uma noite tépida e doce. Mas o encanto<br />

é rompido por uma outra bola de ténis que surge entre eles, atirada não se sabe<br />

por quem. Surpresos e assustados, os três personagens desaparecem nas profundezas<br />

do parque envolto na noite.<br />

A noção de “jogo” tem de se entender sob múltiplas facetas: na ideia do jogo<br />

de ténis que terá tido lugar previamente e pelo qual a bola se extravia (trata-se<br />

de uma ideia também muito moderna, já que o ténis é uma modalidade desportiva<br />

em grande voga na época) ou no flirt juvenil que, sob alguns aspectos,<br />

recorda os jogos infantis: as personagens procuram-se, encontram-se, perdem-se,<br />

abraçam-se, perseguem-se e amuam sem razão aparente.<br />

Mas o jogo é também musical: observa-se a existência de um micromotivo<br />

que parece servir de refrão, mas tão subtilmente transformado que acaba por<br />

dar a ideia de um pseudo rondó, uma vez que, no lugar do refrão habitual, se encontram<br />

outras estruturas, abertas, tão imprevisíveis quanto os jogos que têm<br />

lugar em palco. Não se observam na partitura, por conseguinte, nem reprises,<br />

nem repetições desnecessárias, apenas pequenas e breves repetições de motivos<br />

a intervalos breves. Trata-se, na verdade, da exploração orgânica de simples<br />

células temáticas de base, expostas a uma enorme paleta de metamorfoses possíveis.<br />

A sensação que temos não é a de seccionamento, mas a de uma obra que<br />

se desenvolve por um encadeamento de impulsos. Este pseudo rondó assumese<br />

como uma espécie de fantasma formal do passado clássico/romântico, completamente<br />

mascarado e minado na sua função, um pouco como fez Schönberg,<br />

um ano antes, com o seu Pierrot Lunaire, em que as formas estruturais do classicismo<br />

são, em simultâneo, postas em causa e utilizadas como meio de coesão<br />

formal ao serem problematizadas em função de uma nova atitude estética. É um<br />

pouco nesse sentido que Jeux se torna numa obra tão profética. Os jogos de sedução<br />

existem, mas não têm um desfecho previsível, passando-se da lógica implacável<br />

das regras do ténis (e da música) para o jogo pelo jogo, sem regras estritas,<br />

sem os espartilhos do academismo.<br />

Deste modo, a primeira impressão que se tem de Jeux é a de um objecto contínuo<br />

e de uma dispersão da matéria sonora que escapa a qualquer compreensão<br />

página 19


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 20<br />

da sua estrutura, para o que contribui o seu final, que é aberto: a música acaba de<br />

repente, antecipando a ideia de “obra aberta”, dando-se uma ruptura com a concepção<br />

da forma tradicional, com a ideia de que as obras se devem submeter a<br />

esquemas preestabelecidos. Pelo contrário, Debussy propõe a noção de que cada<br />

obra deve inventar a sua própria forma. Para além disso, encontramos a ideia de<br />

pulverização sonora, que prenuncia aquilo que mais tarde se iria designar por<br />

“música de timbres”. Isto reenvia não só para uma noção do timbre enquanto<br />

entidade autónoma, mas também para uma relação timbre/espaço, para a mobilidade<br />

do primeiro dentro do segundo, tal como se verifica a mobilidade dentro<br />

do espaço cénico. Para além da extrema mobilidade do timbre (uma espécie de<br />

dispersão da sonoridade orquestral), a construção harmónica é deliberada e refinadamente<br />

ambígua. Se a tonalidade de base, implícita, é Lá Maior, a agitação<br />

permanente do fundo harmónico, passando com vivacidade de um instrumento<br />

ao outro, introduz permanentes incertezas sobre a mesma.<br />

Por fim, o ritmo é também um parâmetro em experimentação: a escrita rítmica<br />

é ligeira e saltitante como uma bola de ténis, mas a variação constante da<br />

acentuação em termos horizontais, e a sobreposição de esquemas métricos<br />

diferenciados sobre a base de um 3/8 contrariado sem cessar, presta-se a todos<br />

os equívocos possíveis, sem jamais os resolver. Não obstante, a obra mantém<br />

uma lógica implacável e quase objectiva, por força da coreografia, aqui não tão<br />

evidente, uma vez que a mesma não está presente.<br />

Se Jeux se encontra em perfeita coerência com toda a pesquisa formal, rítmica,<br />

melódica e tímbrica que Debussy havia realizado nos anos precedentes, aqui<br />

essa pesquisa é conduzida com um refinamento que atinge um auge na produção<br />

global da música deste compositor, colocando inúmeros desafios ao ouvinte,<br />

nomeadamente a necessidade de uma nova atitude de escuta. \•<br />

Bárbara Villalobos


Richard Strauss<br />

Vier letzte Lieder (Quatro últimas canções)<br />

FFrrüühhlliinngg<br />

(Hermann Hesse)<br />

In dämmrigen Grüften<br />

träumte ich lang<br />

von deinen Bäumen und blauen Lüften,<br />

von deinem Duft und Vogelsang.<br />

Nun liegst du erschlossen<br />

in Gleiß und Zier,<br />

von Licht übergossen<br />

wie ein Wunder vor mir.<br />

Du kennest mich wieder,<br />

du lockest mich zart,<br />

es zittert durch all meine Glieder<br />

deine selige Gegenwart!<br />

SSeepptteemmbbeerr<br />

(Hermann Hesse)<br />

Der Garten trauert,<br />

kühl sinkt in die Blumen der Regen.<br />

Der Sommer schauert<br />

still seinem Ende entgegen.<br />

Golden tropft Blatt um Blatt<br />

nieder vom hohen Akazienbaum.<br />

Sommer lächelt erstaunt und matt<br />

in den sterbenden Gartentraum.<br />

Lange noch bei den Rosen<br />

bleibt er stehen, sehnt sich nach Ruh.<br />

Langsam tut er die großen<br />

müdgewordnen Augen zu.<br />

Primavera<br />

Em túmulos crepusculares<br />

Sonhei longamente<br />

Com as tuas árvores, os teus céus azuis,<br />

O teu perfume e o teu canto de pássaros.<br />

Agora aqui estás<br />

Envolta em brilho e glória,<br />

Banhada em luz,<br />

Como um milagre diante de mim.<br />

Reconheces-me<br />

E atrais-me docemente;<br />

E os membros tremem-me<br />

Com a tua presença bem-aventurada!<br />

Setembro<br />

O jardim está de luto,<br />

A chuva fria penetra nas flores.<br />

O verão estremece calmamente<br />

Aproximando-se do seu fim.<br />

As folhas douradas caem uma a uma<br />

Do alto da acácia.<br />

O verão sorri, surpreendido e cansado,<br />

No sonho moribundo do jardim.<br />

Detém-se ainda longamente junto às rosas,<br />

Procurando o repouso.<br />

Lentamente vai cerrando<br />

Os seus olhos fatigados.<br />

Textos<br />

página 21


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Textos<br />

página 22<br />

BBeeiimm SScchhllaaffeennggeehheenn<br />

(Hermann Hesse)<br />

Nun der Tag mich müd gemacht,<br />

soll mein sehnliches Verlangen<br />

freundlich die gestirnte Nacht<br />

wie ein müdes Kind empfangen.<br />

Hände, lasst von allem Tun,<br />

Stirn, vergiss du alles Denken,<br />

alle meine Sinne nun<br />

wollen sich in Schlummer senken.<br />

Und die Seele unbewacht<br />

will in freien Flügen schweben,<br />

um im Zauberkreis der Nacht<br />

tief und tausendfach zu leben.<br />

IImm AAbbeennddrroott<br />

(Josef von Eichendorff)<br />

Wir sind durch Not und Freude<br />

Gegangen Hand in Hand:<br />

Vom Wandern ruhen wir beide<br />

Nun überm stillen Land.<br />

Rings sich die Täler neigen,<br />

Es dunkelt schon die Luft,<br />

Zwei Lerchen nur noch steigen<br />

Nachträumend in den Duft.<br />

Tritt her und lass sie schwirren,<br />

Bald ist es Schlafenszeit,<br />

Dass wir uns nicht verirren<br />

In dieser Einsamkeit.<br />

O weiter, stiller Friede!<br />

So tief im Abendrot,<br />

Wie sind wir wandermüde –<br />

Ist dies etwa der Tod?<br />

Ao Adormecer<br />

Agora que a jornada me fatigou<br />

O meu desejo ardente,<br />

Receberá com amizade a noite estrelada<br />

Como uma criança fatigada.<br />

Mãos, abandonai todo o trabalho,<br />

Fronte, esquece todos os pensamentos,<br />

Agora todos os meus sentidos<br />

Querem mergulhar no sono.<br />

E a minha alma, livre de vigilância,<br />

Quer pairar com asas livres,<br />

Para no círculo mágico da noite<br />

Viver mil vezes profundamente.<br />

Ao Pôr-do-sol<br />

Através de penas e de alegrias<br />

Caminhámos de mão dada,<br />

Agora repousamos os dois da viagem<br />

Nessa terra sossegada.<br />

Em torno de nós os vales inclinam-se,<br />

O céu escurece já,<br />

Só duas cotovias se elevam,<br />

Sonhadoras, no ar perfumado.<br />

Aproxima-te e deixa-as esvoaçar,<br />

Em breve será hora de dormir,<br />

Não vamos nós perder-nos<br />

Nesta solidão.<br />

Ó paz ampla e tranquila,<br />

Tão profunda ao pôr-do-sol;<br />

Como estamos cansados da viagem!<br />

Será isto talvez a morte?<br />

\•<br />

Traduções livres de: Rui Vieira Nery


Orquestra Sinfónica NHK, Tóquio<br />

A história da Orquestra Sinfónica NHK começou com a Nova Orquestra<br />

Sinfónica, a primeira orquestra profissional do Japão, fundada em 5 de Outubro<br />

de 1926, cujo concerto inaugural se realizou em Fevereiro do ano seguinte. A sua<br />

qualidade artística aumentou de forma significativa após a nomeação de Joseph<br />

Rosenstock como Maestro Titular. Os ciclos de concertos prosseguiram inclusive<br />

durante a Segunda Guerra Mundial. Depois de mudar de nome, a então<br />

Orquestra Sinfónica do Japão começou em 1951 a ser financiada pela NHK<br />

(Nippon Hoso Kyokai), passando a designar-se Orquestra Sinfónica NHK.<br />

Realizou numerosas actuações históricas com maestros lendários como Herbert<br />

von Karajan, Joseph Keilberth, Igor Stravinsky, Ernest Ansermet e Lovro von<br />

Matacic.<br />

Actualmente, a orquestra realiza cerca de 120 concertos anuais, incluindo 54<br />

por assinatura, com 27 programas diferentes, nas salas NHK Hall e Suntory Hall<br />

de Tóquio. Os concertos são transmitidos para todo o país através da televisão<br />

NHK e de estações de rádio, bem como para a Europa, a América do Norte e do<br />

Sul e a Ásia, através do NHK World Service. As suas actividades incluem ainda<br />

projectos musicais inovadores, representações de ópera, obras encomendadas e<br />

gravações de discos para as principais editoras discográficas. Além disso, efectua<br />

regularmente digressões de concertos no estrangeiro, principalmente na<br />

Europa e na América do Norte. A actual digressão europeia é a sua 27ª actuação<br />

internacional, desde 1960.<br />

Na temporada <strong>2005</strong>-<strong>2006</strong>, a Orquestra Sinfónica NHK prossegue o seu desenvolvimento<br />

artístico sob a direcção de Vladimir Ashkenazy (Director Musical<br />

e Maestro Titular), Charles Dutoit (Director Musical Emérito), Wolfgang<br />

Sawallisch (Maestro Honorário Laureado), dos maestro honorários Otmar<br />

Suitner, Horst Stein e Herbert Blomstedt e dos maestros permanentes Hiroyuki<br />

Iwaki, Yuzo Toyama e Hiroshi Wakasugi. A orquestra convida regularmente<br />

vários maestros de destaque como Nello Santi, Stanislaw Skrowaczewski, Jun<br />

Märkl ou Fabio Luisi.<br />

A digressão europeia <strong>2005</strong> da Orquestra Sinfónica NHK é patrocinada por:<br />

NEC, AISIN AW CO. LTD, Panasonic, Hoso Bunka Foundation, Rohm Music<br />

Foundation, Agency for Cultural Affairs of Japan, The Japan Foundation, Japan /<br />

European Union <strong>2005</strong>.<br />

página 23


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Biografias<br />

página 24<br />

ORQUESTRA SINFÓNICA NHK, TÓQUIO<br />

Director Musical Vladimir Ashkenazy<br />

Director Musical Emérito Charles Dutoit<br />

Maestro Honorário Laureado Wolfgang Sawallisch<br />

Maestros Honorários Otmar Suitner – Horst Stein – Herbert Blomstedt<br />

Maestros Permanentes IWAKI, Hiroyuki – TOYAMA, Yuzo – WAKASUGI, Hiroshi<br />

Concertino Solista HORI, Masafumi<br />

Concertinos Principais YAMAGUCHI, Hiroyuki – SHINOZAKI, Fuminori<br />

Maestro Assistente IWAMURA, Chikara<br />

Primeiros Violinos<br />

AOKI, Shirabe<br />

OSAWA, Kiyoshi<br />

OSHIKA, Yuki<br />

OMIYA, Rintaro<br />

◊ KANEDA, Yukio<br />

KUBOTA, Shigeo<br />

KOBAYASHI, Tamaki<br />

≈SAITO, Machia<br />

≈SAKAI, Toshihiko<br />

≈TANAKA, Yutaka<br />

∞TABUCHI, Akira<br />

TSURUGA, Hiroko<br />

NAKAMURA, Yumiko<br />

≈MATSUDA, Hiroyuki<br />

MURAKAMI, Kazukuni<br />

MORITA, Masahiro<br />

Segundos Violinos<br />

∞NAGAMINE, Takashi<br />

≈OBAYASHI, Nobuko<br />

OMATSU, Hachiro<br />

KIMATA, Toshiyuki<br />

SHIMADA, Keiko<br />

≈SHIRAI, Atsushi<br />

SUZUKI, Koichi<br />

NEZU, Akiyoshi<br />

≈HAYASHI, Tomoyuki<br />

HIRANO, Kazuhiko<br />

FUNAKI, Yoko<br />

MATANO, Kenji<br />

MIYAZATO, Chikahiro<br />

≈YOKOYAMA, Toshiro<br />

MIMATA, Haruhiko<br />

⁄⁄ UNE, Kyoko<br />

⁄⁄ TANAKA, Akiko<br />

⁄⁄ SAITO, Maiko<br />

Violas<br />

• TANAMURA, Mazumi<br />

∞INOBE, Daisuke<br />

∞SASAKI, Ryo<br />

OKUBO, Yoshito<br />

ONO, Satoshi<br />

≈ONO, Hisashi<br />

OBATA, Shigetaka<br />

SAKAGUCHI, Gentaro<br />

TANIGUCHI, Mayumi<br />

TABUCHI, Masako<br />

∞NAKATAKE, Hideaki<br />

NAGANO, Yuzo<br />

YAMADA, Yuji<br />

Violoncelos<br />

∞KIGOSHI, Yo<br />

∞FUJIMORI, Ryoichi<br />

IWAI, Masato<br />

≈KUWATA, Ayumu<br />

SANNOHE, Masahide<br />

TAZAWA, Shun’ichi<br />

≈DOGIN, Hisaya<br />

NISHIYAMA, Ken’ichi<br />

HIRANO, Hidekiyo<br />

≈FUJIMURA, Shunsuke<br />

MURAI, Yuki<br />

MOGI, Shinroku<br />

YAMANOUCHI, Shunsuke<br />

Contrabaixos<br />

∞IKEMATSU, Hiroshi<br />

∞NISHIDA, Naofumi<br />

ICHIKAWA, Masanori<br />

ITODA, Yoshiyuki<br />

KONNO, Takashi<br />

SAGAWA, Hiroaki<br />

SHIGA, Nobuo<br />

NIINO, Masuo<br />

≈NISHIYAMA, Shinji<br />

≈YOSHIDA, Shu<br />

Flautas<br />

∞KANDA, Hiroaki<br />

∞NAKANO, Tomio<br />

KAI, Masayuki<br />

SUGAWARA, Jun<br />

HOSOKAWA, Junzo<br />

Oboés<br />

∞KITAJIMA, Akira<br />

∞MOGI, Daisuke<br />

IKEDA, Shoko<br />

WAKUI, Hitoshi<br />

Clarinetes<br />

∞ISOBE, Shuhei<br />

∞YOKOKAWA, Seiji<br />

KATO, Akihisa<br />

MATSUMOTO, Kenji<br />

YAMANE, Takashi<br />

Fagotes<br />

∞OKAZAKI, Koji<br />

∞MIZUTANI, Kazusa<br />

INOUE, Toshitsugu<br />

SUGAWARA, Keiko<br />

MORITA, Itaru<br />

Trompas<br />

∞HIGUCHI, Tetsuo<br />

∞MATSUZAKI, Hiroshi<br />

IMAI, Hitoshi<br />

NAKAJIMA, Hiroyuki<br />

HIDAKA, Takeshi<br />

⁄⁄ KATSUMATA, Yasushi<br />

Trompetes<br />

∞SEKIYAMA, Yukihiro<br />

∞TSUKEN, Naohiro<br />

IKAWA, Akihiko<br />

TOCHIMOTO, Hiroki<br />

HOTOKEZAKA, Sachio<br />

Trombones<br />

∞KURITA, Masakatsu<br />

AKIYAMA, Koichi<br />

◊ IKEGAMI, Ko<br />

YOSHIKAWA, Takenori<br />

Tuba<br />

IKEDA, Yukihiro<br />

Tímpanos & Percussões<br />

ISHIKAWA, Tatsuya<br />

UEMATSU, Toru<br />

KUBO, Shoichi<br />

TAKESHIMA, Satoshi<br />

Harpa<br />

HAYAKAWA, Risako<br />

Direcção<br />

TABATA, Kazuhiro Chairman<br />

KANO, Tamio General Director<br />

YAMAZAKI, Hiroki General Director<br />

Planeamento de Concertos<br />

SUGIURA, Akira Artistic Administrator<br />

WATANABE, Katsu Chief Inspector<br />

TAKAGI, Kaori Artist Manager<br />

TOSHIMITSU, Keiji Associate Artistic Administrator<br />

TADO, Akihito Stage Manager<br />

± IWABUCHI, Kazuma Librarian<br />

AIBA, Yusuke Assistant Stage Manager<br />

TATEOKA, Goya Assistant Stage Manager<br />

Relações Públicas e Comunicação<br />

IRIE, Tetsuyuki General Manager<br />

MORI, Tetsuya Senior Associate Director<br />

SHIMIZU, Eiichiro Assistant General Manager<br />

NISHIMURA, Shusuke Marketing Officer<br />

KITAMI, Kaori Public Relations Officer<br />

YOSHITA, Asako Marketing Officer<br />

Secretariado<br />

DOSHO, Yoshihiko General Manager<br />

ISHII, Yasushi Managing Officer<br />

HASEGAWA, Naomi Managing Officer<br />

HASHIMOTO, Miki Managing Assistant<br />

Pesquisa<br />

HORIE, Satoru<br />

KOMON, Toshiyuki<br />

TADO, Ikumitsu<br />

Legenda:<br />

◊ Principal, • Solo-Principal, ∞ Principal Interino,<br />

≈Vice-Principal, # Vice-Principal Interino, ‡ Inspector, ± Bibliotecário,<br />

⁄⁄ Interno


Vladimir Ashkenazy<br />

Maestro<br />

Mencionado frequentemente por afirmar que, para si, a música é indivisível,<br />

esta convicção de Vladimir Ashkenazy emana do seu apaixonado compromisso<br />

com diferentes aspectos do trabalho musical, como maestro, pianista de recital<br />

e de música de câmara e criador de projectos de grande escala que englobam o<br />

amplo espectro das actividades musicais.<br />

A primeira parte do seu extenso percurso musical foi dedicada ao piano.<br />

Estudou na Escola Central de <strong>Música</strong> e Conservatório de Moscovo, ganhou o segundo<br />

prémio do Concurso Chopin de Varsóvia (1955), o primeiro prémio do<br />

Concurso Rainha Elisabeth de Bruxelas (1956) e o primeiro prémio do Concurso<br />

Tchaikovsky de Moscovo (1962). Durante três décadas, visitou os mais importantes<br />

centros musicais do mundo, interpretando um repertório cada vez mais<br />

alargado, em recitais e concertos, e colaborando com prestigiados músicos como<br />

Itzhak Perlman, Pinchas Zukerman, Lynn Harrell, Elisabeth Soederström,<br />

Barbara Bonney e Matthias Goerne. Durante este período, realizou um amplo<br />

trabalho discográfico que inclui quase todas as principais obras do repertório<br />

pianístico.<br />

A partir de 1970, passou a dedicar-se cada vez mais à direcção de orquestra,<br />

colaborando, como maestro convidado, com alguns dos melhores agrupamentos<br />

mundiais, como a Filarmónica de Berlim, a Sinfónica de Boston, a Filarmónica<br />

de Los Angeles, a Sinfónica de São Francisco, a Sinfónica de Filadélfia e a<br />

Orquestra do Concertgebouw de Amesterdão. Foi Maestro Convidado Principal<br />

da Philharmonia Orchestra e da Orquestra de Cleveland e Maestro Titular da Royal<br />

Philharmonic Orchestra e da Orquestra Sinfónica Alemã de Berlim. De 1998 a<br />

2003, liderou a Orquestra Filarmónica Checa, tendo realizado várias digressões,<br />

gravações e projectos especiais, incluindo um grande ciclo Prokofiev-<br />

Chostakovitch, em Colónia, Nova Iorque e Viena, na Primavera de 2003.<br />

Em Setembro de 2004, assumiu o cargo de Maestro Titular da Orquestra<br />

Sinfónica NHK, realizando uma digressão pela Europa em Julho do mesmo ano<br />

e em Outubro de <strong>2005</strong>. No Outono de <strong>2006</strong>, projecta visitar os Estados Unidos<br />

da América e gravar obras de Mozart, Tchaikovsky e Beethoven.<br />

A sua estreita relação com a Philharmonia Orchestra, da qual é actualmente<br />

Maestro Laureado, deu lugar a numerosos projectos de elevado nível artístico,<br />

Vladimir Ashkenazy<br />

©Decca-Sasha Gusov<br />

página 25


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Biografias<br />

página 26<br />

Soile Isokoski<br />

em Londres e no estrangeiro: o Festival Rachmaninov no Lincoln Center de<br />

Nova Iorque, uma digressão a Moscovo e pelo Japão (2002) e uma série de quatro<br />

concertos no South Bank Center, em 2003, comemorando o 50º aniversário<br />

da morte de Prokofiev e explorando a relação entre a música de Prokofiev e<br />

Chostakovitch e o regime comunista. Realizou também uma grande digressão<br />

pela Austrália, Formosa e Singapura. É também Maestro Titular da Orquestra<br />

Juvenil da União Europeia e Maestro Laureado da Orquestra Sinfónica Islandesa.<br />

Vladimir Ashkenazy tem mantido a sua actividade como pianista, actuando<br />

na Europa, na Ásia e na América e ampliando o seu repertório discográfico com<br />

importantes trabalhos, como a muito elogiada integral dos Prelúdios e Fugas de<br />

Chostakovitch que ganhou um Grammy para a “Melhor Interpretação<br />

Instrumental Solista” (sem orquestra) em 1999. A sua mais recente gravação de<br />

obras para piano de Chostakovitch, que inclui a Sonata Nº 2, foi nomeada para<br />

um Grammy na mesma categoria.<br />

Soile Isokoski<br />

Soprano<br />

Soile Isokoski é uma das melhores intérpretes actuais do seu repertório e é<br />

uma presença habitual nos palcos e salas de concerto mais famosas do mundo.<br />

Na primavera de <strong>2005</strong> voltou a actuar na Metropolitan Opera de Nova Iorque<br />

numa nova produção de Fausto.<br />

Natural da Finlândia, concluiu os seus estudos na Academia Sibelius, em<br />

Helsínquia, tendo aí realizado o seu concerto de estreia em 1986. Em 1987,<br />

ganhou o segundo prémio no concurso BBC Singer of the World, seguindo-se<br />

primeiros prémios no Concurso de Canto Elly Ameling e no Concurso<br />

International de Tóquio. Após a sua estreia na Ópera Nacional Finlandesa, em<br />

Helsínquia, no papel de Mimi, em La Bohème, recebeu o aplauso do público e da<br />

crítica nos palcos de ópera de Viena, Berlim, Munique, Hamburgo, Londres,<br />

Milão e Paris e nos festivais de Salzburgo, Savonlinna, Edimburgo e Orange.<br />

Soile Isokoski colabora com vários maestros de renome, incluindo Jukka-<br />

-Pekka Saraste, Esa-Pekka Salonen, Seiji Ozawa, John Elliot Gardiner, Sir Colin<br />

Davis, Zubin Mehta, Daniel Barenboim, Sir Simon Rattle, Bernhard Haitink e<br />

Riccardo Muti. Domina um vasto repertório de concerto e apresenta-se regularmente<br />

em recital com a pianista Marita Viitasalo. Estes e outros recitais,


levaram-na a Londres (Wigmore Hall), Paris, Amsterdão, Berlim, Munique,<br />

Viena (Musikverein), Roma, Atenas, Moscovo, São Petersburgo e Tóquio.<br />

Os compromissos recentes de Soile Isokoski no domínio da ópera incluem:<br />

Os Mestre Cantores de Nuremberga, com o maestro Bernard Haitink, e Falstaff, com<br />

Antonio Pappano, na Royal Opera House – Covent Garden; O Cavaleiro da Rosa,<br />

em Dresden, Helsínquia, Paris e Colónia; As Bodas de Fígaro, com Donald<br />

Runnicles, no Metropolitan de Nova Iorque; Turandot, com James Conlon, na<br />

Ópera da Bastilha; Carmen, Otelo, Turandot, Don Giovanni, O Cavaleiro da Rosa e Os<br />

Mestres Cantores de Nuremberga, em Viena. Futuros compromissos, já agendados,<br />

incluem: As Bodas de Fígaro, na Royal Opera House – Covent Garden (<strong>2006</strong>); Peter<br />

Grimes em Dresden (2007); Ariadne auf Naxos, em Monte Carlo (<strong>2006</strong>); As Bodas<br />

de Fígaro, no Metropolitan de Nova Iorque (<strong>2006</strong>); O Cavaleiro da Rosa, em São<br />

Francisco (2007); Così fan tutte e Lohengrin (estreia em Dezembro de <strong>2005</strong>), em<br />

Viena.<br />

Soile Isokoski e Marita Viitasalo gravaram obras de numerosos compositores<br />

escandinavos, assim como de Schubert e Schumann. Uma das gravações da cantora,<br />

as Quatro Últimas Canções de Richard Strauss, com Marek Janowski e a<br />

Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim, ganhou o Gramophone Editor’s Choice<br />

Award, tendo sido Disco do Mês no número de Abril de 2002. Com Bo Skovhus e<br />

Marita Viitasalo, gravou o Italienisches Liederbuch (Ondine) de Hugo Wolf.<br />

Em reconhecimento pela sua notável contribuição para a música finlandesa,<br />

foi atribuída a Soile Isokoski a medalha Pro-Finlandia em Dezembro de 2002.<br />

página 27


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

página 28<br />

Orquestra de Câmara da Europa<br />

András Schiff Piano e Direcção


András Schiff<br />

Programa<br />

Franz Schubert<br />

Sinfonia Nº 5, em Si bemol Maior, D. 485<br />

1. Allegro<br />

2. Andante con moto<br />

3. Menuetto: Allegro molto<br />

4. Allegro vivace<br />

Antonin Dvorák<br />

Concerto para Piano e Orquestra, em Sol menor, op. 33<br />

1. Allegro agitato<br />

2. Andante sostenuto<br />

3. Allegro con fuoco<br />

Intervalo<br />

Ludwig van Beethoven<br />

Sinfonia Nº 2, em Ré Maior, op. 36<br />

1. Adagio molto – Allegro com brio<br />

2. Larghetto<br />

3. Scherzo: Allegro<br />

4. Finale: Allegro molto<br />

06<br />

Segunda, 21.00 Grande Auditório <strong>Gulbenkian</strong><br />

Fevereiro <strong>2006</strong><br />

página 29


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 30<br />

Franz Schubert<br />

Viena, 31 de Janeiro de 1797<br />

Viena, 19 de Novembro de 1828<br />

Sinfonia Nº 5, em Si bemol Maior, D. 485<br />

(c. 28 min.)<br />

O presente programa é integralmente preenchido com obras sinfónicas que<br />

se encontram na fronteira entre fases distintas da produção musical dos seus<br />

autores. Com efeito, a Sinfonia Nº 5, em Si bemol Maior, de Franz Schubert, o<br />

Concerto para Piano, em Sol menor, op.33 de Antonin Dvorák e a Sinfonia Nº 2,<br />

em Ré Maior, de Beethoven, são trabalhos que se enquadram, em termos gerais,<br />

nos anos de formação e afirmação destes compositores, antes que os mesmos se<br />

concentrem numa linguagem idiossincrática que seja mais claramente distintiva<br />

da importância do seu legado no campo da música sinfónica. Tal não implica<br />

uma diminuição estética das obras em causa, de inegável qualidade, também<br />

porque foram, em grande parte, elas que constituíram a plataforma mediante a<br />

qual estes compositores puderam, com segurança, expandir-se para outros<br />

horizontes, continuando a comportar os mesmos géneros e estruturas formais,<br />

mas vistos sob outra perspectiva, repensados e problematizados.<br />

De facto, no campo da música instrumental composta por Franz Schubert,<br />

pode observar-se uma clara separação entre as obras escritas até 1820 e aquelas<br />

subsequentes, que correspondem ao seu período de maturidade. Sem embargo,<br />

grande parte da música instrumental que Schubert compôs até 1820 pode ser<br />

genericamente classificada como música de entretenimento, moldada nos legados<br />

de Haydn e Mozart, nela se incluindo as seis primeiras sinfonias, escritas<br />

entre 1813 e 1818, na sua essência trabalhos de aprendizagem, cheios de toques<br />

insinuantes e, embora com menor frequência, originalidade genuína, destinados<br />

a serem executados por uma orquestra privada.<br />

Neste quadro, a Sinfonia Nº 5 evidencia uma articulação em quatro andamentos<br />

típica do classicismo, uma textura transparente (que aqui evoca também<br />

a música de câmara do próprio Schubert, dado o efectivo orquestral modesto, no<br />

qual se observa a ausência de clarinetes, trompetes e percussão) e um grande<br />

equilíbrio dos elementos constituintes, sejam eles temáticos ou estruturais.<br />

Embora no primeiro andamento, em forma-sonata, Schubert apresente uma reexposição<br />

bastante original a nível harmónico, na tonalidade da subdominante,


em vez de o fazer na tónica, e adicione dezasseis novos compassos que preparam<br />

a cadência final, os três andamentos restantes evocam repetidamente Haydn,<br />

mas especialmente, Mozart. Aí destaca-se, de modo inequívoco, o andamento<br />

lento, que cita virtualmente um tema do minueto final da Sonata para Violino em<br />

Fá Maior, K.377, enquanto que o terceiro andamento se inspirou claramente na<br />

Sinfonia Nº 40, em Sol menor, K.550, não apenas pelo uso da mesma tonalidade<br />

no minueto, mas ainda pelo vigor deste, que contrasta com o trio, ao qual os sopros<br />

trazem uma nota brilhante que se filia no espírito de dança popular que o<br />

compositor procurou conferir.<br />

Esta obra foi escrita em 1816, numa altura em que Schubert deixou a casa paterna<br />

e se mudou para a casa do seu amigo Schobert, que o havia convencido a<br />

abandonar o seu trabalho como professor e a concentrar-se em pleno na composição.<br />

Por conseguinte, é uma obra que emana uma aura optimista e expansiva,<br />

plena de vigor e de uma intensa sensação de liberdade, repleta de melodias<br />

memoráveis e ritmos vivos: Schubert sente-se jovem e promissor, encontrando-se<br />

ainda longe do fantasma da doença que o levará a uma morte prematura.<br />

De certo modo, esta Sinfonia Nº 5 é uma obra na qual o compositor faz uma espécie<br />

de “ponto da situação” em que se encontra, antes de se lançar num projecto<br />

de renovação artística em direcção a uma vertente mais romântica e ousada,<br />

ao nível da estrutura formal e harmónica.<br />

Antonin Dvorák<br />

Nelahozeves (Boémia), 8 de Setembro de 1841<br />

Praga, 1 de Maio de 1904<br />

Concerto para Piano e Orquestra, em Sol menor, op. 33<br />

(c. 42 min.)<br />

Também o Concerto para Piano de Dvorák se encontra na charneira entre<br />

duas fases distintas da produção do compositor, uma em que o legado do romantismo<br />

ocidental é praticamente uma regra e outra na qual se pode falar de<br />

uma música de cariz “nacionalista”. É preciso, contudo, ter atenção a esta terminologia,<br />

que se pode revelar falaciosa na medida em que uma parte substancial<br />

da estética do romantismo assenta na busca de um ideal de “pureza original”,<br />

que seria proveniente de um passado remoto ou de raízes populares, ambas<br />

página 31


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 32<br />

facetas que seriam capazes de garantir alicerces culturais “autênticos”, legitimados<br />

e expurgados de tudo o que fosse efémero, vão e “não nacional”. É assim que<br />

se assiste a uma integração frequente de música de cariz popular dentro da designada<br />

música erudita e ao nascimento dos movimentos “nacionalistas”, em que os<br />

países periféricos à Europa central iniciam uma afirmação musical cada vez mais<br />

forte, se bem que a designação “nacionalista”, aplicada à música erudita produzida<br />

nesses países, seja um tanto ou quanto paradoxal. Com efeito, essa mesma<br />

música gravita sempre em torno do núcleo constituído pela tradição musical<br />

da Itália, França e Alemanha, pelo que a simples integração de elementos folclóricos<br />

não é suficiente para percepcionar, de modo inequívoco, uma música<br />

“nacional”, porque a mesma não é construída ou pensada em moldes substancialmente<br />

diversos daqueles que se observaram nos três países atrás citados. Trata-se,<br />

quando muito, da incorporação de “cor local” numa base já estereotipada.<br />

É neste contexto que se enquadra a produção musical de Dvorák, sempre<br />

claramente organizada segundo os parâmetros ocidentais, em particular a influência<br />

germânica, só passando a incorporar elementos que se pudessem percepcionar<br />

como especificamente checos a partir de finais dos anos setenta do<br />

século XIX. Assim, a fisionomia bastante convencional apresentada pelo<br />

Concerto para Piano, datado de 1876 e estreado em 1878, articulado em três andamentos<br />

nos quais é possível discernir uma nítida influência de Beethoven,<br />

permite incluí-lo na fase anterior. Aliás, a primeira fase de produção de Dvorák<br />

foi, de facto, moldada na estandardização técnica de compositores como Mozart<br />

ou Mendelssohn, mas sobretudo Beethoven, que se tornou uma referência incontornável.<br />

A matriz beethoveniana é visível sobretudo no primeiro andamento, de dimensões<br />

amplas, iniciando-se com a exposição típica de uma forma-sonata com<br />

dois temas. O segundo tema, tal como a entrada do solista, recorda o Concerto<br />

Nº 4 em Sol Maior, op.58, de Beethoven. As referências ao estilo pianístico deste<br />

compositor são evidentes, ainda nas mudanças frequentes dos valores rítmicos<br />

e na cadenza do solista no final do andamento. Do ponto de vista sonoro, a concepção<br />

é bastante sinfónica, não existindo um diálogo muito pronunciado entre<br />

o solista e a orquestra. O segundo andamento possui uma escrita orquestral que<br />

enfoca, sucessivamente, os distintos grupos da orquestra sobre o fundo, muito<br />

movimentado, da parte de piano. É apenas no terceiro andamento que podemos,<br />

de algum modo, observar uma manifestação de elementos “tradicionais”: este<br />

possui um ritmo bem vincado e três temas principais que participam, em igual<br />

proporção, na arquitectura do andamento, observando-se a introdução de uma


cor local sobretudo no terceiro tema. Esta é, contudo, menos “checa” e mais ao<br />

estilo cigano, imediatamente reconhecível pelos seus intervalos de segunda aumentada.<br />

Não obstante a grandiosidade dos meios sonoros utilizados, esta obra nunca<br />

chegou a ser muito popular: a fisionomia dos temas é muito desigual e a acumulação<br />

de efeitos sonoros, muitas vezes enfáticos, não mascara a ausência de surpresas<br />

de uma partitura muito convencional e que, não obstante solicitar uma<br />

grande perícia técnica por parte do solista, deixa paradoxalmente pouco espaço<br />

para uma exibição plena das capacidades do pianista, devido ao facto de a sua<br />

parte não ser demasiado enfatizada face ao restante material musical. Aliás, o<br />

género concerto para orquestra e instrumento solista foi sempre bastante marginal<br />

no contexto da produção musical de Dvorák. Este Concerto para Piano foi<br />

escrito onze anos após o Concerto para Violoncelo, em Lá menor, op.53, tendo<br />

sido, aliás, o único que escreveu para este instrumento, por incentivo do pianista<br />

Karel Sladkovskych, que foi também quem o deu em primeira audição, em<br />

Praga, com a Orquestra do Teatro Provisório Checo.<br />

Ludwig van Beethoven<br />

Bona, 16 (ou 17) de Dezembro de 1770<br />

Viena, 26 de Março de 1827<br />

Sinfonia Nº 2, em Ré Maior, op. 36<br />

(c. 35 min.)<br />

No que respeita a Beethoven, a Sinfonia Nº 2, datada de 1802 e dedicada a um<br />

dos seus mecenas, o príncipe Karl von Lichnowsky, assinala de modo claro o<br />

final de uma primeira fase sinfónica, antes da ousadia patente na Sinfonia Nº 3,<br />

op.55, Heróica. Não obstante, do ponto de vista do trabalho sobre a formasonata,<br />

Beethoven havia já dado passos importantíssimos na transformação<br />

dessa estrutura formal, nomeadamente no caso das sonatas para piano que compôs<br />

na transição para o século XIX, na senda de uma insatisfação perante os aspectos<br />

formais do estilo clássico.<br />

Numa fase inicial, Beethoven, pianista de formação, fez carreira em Viena,<br />

sobretudo como executante, improvisador e como compositor essencialmente<br />

de música para piano. É portanto natural que os primeiros passos que levariam<br />

a uma nova concepção da forma-sonata – que, sublinhe-se, é um género que<br />

página 33


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 34<br />

unifica, de modo geral, a produção musical de Beethoven, onde se destaca um<br />

inédito predomínio do instrumental sobre o vocal – tenham sido dados na<br />

música para piano: observam-se inovações em obras como as Sonatas para<br />

Piano op.2 nº 1 e nº 3 (1793-1795), como a introdução do scherzo como substituto<br />

do minueto clássico (mas amplificado face ao mesmo) ou andamentos iniciais<br />

que consistem em assinaláveis precursores da concentração e intensidade<br />

beethovenianas. A ruptura com o género manifesta-se também, entre outras<br />

obras, na Sonata para Piano, op.13, Patética (1798) e na Sonata para Piano, op.27<br />

nº 2, Ao luar (1801), mediante a articulação em três andamentos, a exploração<br />

das tonalidades menores, ou introduções lentas que sugerem improvisação,<br />

como nesta última, em particular.<br />

Contudo, se no que concerne ao seu instrumento de eleição, Beethoven se<br />

encontra completamente à vontade para ir além das normas estabelecidas, tal<br />

não se verifica, numa fase inicial, no que respeita à música sinfónica. É assim<br />

que as duas primeiras sinfonias se mantêm, na sua essência, trabalhos experimentais,<br />

nos quais Beethoven segue de forma mais ou menos fiel os modelos<br />

clássicos, mormente o das últimas obras de Haydn, observando-se, em termos<br />

da produção global, uma sobreposição bastante óbvia entre trabalhos cuja novidade<br />

e originalidade são patentes e outros mais conservadores, entre os quais se<br />

pode classificar a Sinfonia Nº 2, não obstante esta apresentar já uma distância<br />

clara face à Sinfonia Nº 1, em Dó Maior, op.21 (1801).<br />

Embora dificilmente a Sinfonia Nº 2 se possa confundir com um trabalho de<br />

Haydn, trata-se de uma obra que permanece, na sua essência, dentro do conceito<br />

de peça de concerto ampla que este último formulou e que Beethoven desenvolveu,<br />

articulando-se em quatro andamentos, como tradicionalmente o<br />

fazia a sinfonia clássica. A grande novidade é a substituição explícita do tradicional<br />

minueto como terceiro andamento, por um scherzo. Este adquire, face ao<br />

minueto, uma maior amplitude, embora o trio mantenha o seu carácter de divertimento<br />

mais ou menos contrastante. De resto, o primeiro andamento organiza-se<br />

de modo muito convencional na estrutura da forma-sonata, sem um desenvolvimento<br />

demasiado acentuado, como será típico das sinfonias<br />

subsequentes deste compositor; o andamento final estrutura-se numa expectável<br />

forma-rondó e o segundo andamento mantém a sua lentidão e o seu carácter<br />

essencialmente melódico. Destaca-se ainda um jogo entre as notas Fá sustenido<br />

e Sol como meio de unificação do todo.<br />

Porém, tanto no segundo como no quarto andamentos podemos sentir alguma


da intensidade típica das sinfonias futuras: no Larghetto sonhador, uma secção<br />

na tonalidade de Lá menor, amplamente desenvolvida, é detentora de uma tensão<br />

que se vai intensificando até ao surgimento da conclusão; por seu turno, o<br />

Finale expõe um tema precedido por um breve scherzando, violento e ácido, entrando<br />

sobre o acorde de sétima da dominante, observando-se diversas modulações<br />

e um tutti abrupto que propõe uma secção conclusiva vigorosa.<br />

Esta tensão que podemos, apesar de tudo, encontrar mesmo numa obra de<br />

contornos tão clássicos, é indissociável de alguns acontecimentos pessoais<br />

marcantes que ensombram a vida de Beethoven no início do século: a paixão não<br />

correspondida por Giulietta Guicciardi (a quem foi dedicada a Sonata ao Luar) e<br />

o confronto incontornável com a inevitabilidade da surdez total. Na perspectiva<br />

de uma melhoria da sua saúde, Beethoven passa a primavera e o verão de 1802 na<br />

aldeia de Heiligenstadt, onde conclui a Sinfonia Nº 2 e um leque de obras entre<br />

as quais se contam as três Sonatas para Violino op.30, as Bagatelas op.33 e<br />

provavelmente duas das suas Sonatas para piano op.31, para além dos primeiros<br />

esboços da Sinfonia Heróica. Não obstante a intensa actividade criativa,<br />

Beethoven chega a ponderar o suicídio, como atesta uma carta que escreveu aos<br />

irmãos em Outubro de 1802, pouco antes de regressar a Viena, que nunca enviou<br />

(foi encontrada entre os seus documentos após a sua morte) e que ficou conhecida<br />

como o Testamento de Heiligenstadt. Aí, Beethoven defendeu-se contra as<br />

acusações de misantropia e declarava que, embora já tivesse rejeitado a ideia do<br />

suicídio, estaria preparado para a morte caso esta eventualmente chegasse. Este<br />

testamento sempre foi reconhecido como um testemunho pungente do desespero<br />

que se abatia sobre o compositor nesta época.<br />

A Sinfonia Nº 2 pode considerar-se como o ponto culminante do Antigo<br />

Regime, pré revolucionário de Haydn e Mozart, ao mesmo tempo que podemos<br />

sentir já que é com esta obra que Beethoven se encontra, pela primeira vez, realmente<br />

empenhado para com a orquestra sinfónica, começando a compreender<br />

como é que esta pode servir os seus propósitos emergentes. A partir daí, o compositor,<br />

impulsionado pela necessidade de renovação permanente, a par com<br />

uma crise existencial continuada, irá partir para regiões inexploradas. A<br />

Sinfonia Nº 2 foi executada pela primeira vez em Viena a 5 de Abril de 1803 no<br />

Theater an der Wien, sob direcção do autor, em simultâneo com outras obras<br />

suas: o Concerto para Piano Nº 3, op.37 (1803) – com o próprio Beethoven como<br />

solista –, a oratória Cristo no Monte das Oliveiras, op.85 (1803) e a Sinfonia Nº 1, a<br />

única obra deste grupo que não seria, nesse dia, estreia absoluta. \•<br />

Bárbara Villalobos página 35


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Biografias<br />

página 36<br />

Orquestra de Câmara da Europa<br />

A Orquestra de Câmara da Europa foi fundada em 1981, é constituída por 50<br />

músicos de 15 países e actua principalmente na Europa.<br />

Nos últimos anos, a orquestra recebeu três prémios Gramophone, “Disco do<br />

Ano”, pelas gravações da ópera Viaggio a Reims de Rossini, do ciclo das sinfonias<br />

de Schubert, com Claudio Abbado, e do ciclo das sinfonias de Beethoven, com<br />

Nikolaus Harnoncourt.<br />

Participou na inauguração da temporada do 75º aniversário do Festival de<br />

Salzburgo, com As Bodas de Fígaro, sob a direcção de Nikolaus Harnoncourt e<br />

numa série televisiva de seis capítulos, realizada em Inglaterra. Em 2002, realizou<br />

vários concertos de alto nível na celebração do seu 21º aniversário, com<br />

Claudio Abbado, Anne Sophie von Otter e Thomas Quasthoff (gravados pela<br />

Deutsche Grammophon e distinguidos com um Grammy para “Melhor<br />

Interpretação Vocal Clássica”, em 2003).<br />

Durante a temporada 2003-2004, a Orquestra de Câmara da Europa actuou<br />

na “Semana Mozart” do Festival de Salzburgo, com Marc Albrecht, Philippe<br />

Jordan, Adam Fischer, Emmanuel Pahud, Christine Schäfer e Christian Tetzlaff,<br />

e deu concertos na Europa e nos Estados Unidos da América, com Pierre-Laurent<br />

Aimard, Hélène Grimaud, Nikolaus Harnoncourt, Thomas Hengelbrock, Heinz<br />

Holliger, Sir Roger Norrington, Murray Perahia, Jukka-Pekka Saraste, András<br />

Schiff, Mitsuko Uchida, Thomas Zehetmair e Tabea Zimmermann.<br />

Na temporada 2004-<strong>2005</strong>, efectuou uma digressão pela Alemanha, Países<br />

Baixos, Chipre e Espanha, com Emmanuel Krivine e Maria João Pires, dando<br />

continuidade às colaborações com importantes artistas, como Olari Elts, Hélène<br />

Grimaud, Thomas Hampson, Nikolaus Harnoncourt, Thomas Hengelbrock,<br />

Heinz Holliger, Evgeni Kissin, Sir Neville Marriner, Marc Minkowski, András<br />

Schiff e Mitsuko Uchida.<br />

A mais recente gravação da Orquestra de Câmara da Europa, para a Warner<br />

Classics, inclui o Triplo Concerto, o Rondó em Si bemol Maior e a Fantasia Coral,<br />

de Beethoven, com Nikolaus Harnoncourt e Pierre-Laurent Aimard, tendo sido<br />

muito elogiada pela crítica e recebido vários prémios.


András Schiff<br />

Piano e Direcção<br />

András Schiff nasceu em Budapeste em 1953 e iniciou a aprendizagem do<br />

piano, aos cinco anos de idade, sob a orientação de Elisabeth Vadasz. Prosseguiu<br />

o seu aperfeiçoamento na Academia Ferenc Liszt, com Pal Kadosa, György<br />

Kurtág e Ferenc Rados e em Londres, com George Malcom.<br />

András Schiff dedica uma parte importante da sua actividade à realização de ciclos<br />

de recitais monográficos (dedicados às obras para piano de Bach, Haydn,<br />

Mozart, Beethoven, Schubert, Chopin, Schumann e Bartók). A partir de 2004 interpreta<br />

integrais das 32 Sonatas para Piano de Beethoven, por ordem cronológica.<br />

Colabora com a maior parte das principais orquestras e maestros, mas a maioria<br />

das suas interpretações dos concertos para piano de Bach, Beethoven e<br />

Mozart são dirigidas pelo próprio. Em 1999 criou um agrupamento de câmara, a<br />

Cappella Andrea Barca, com o qual actua anualmente como maestro e solista, o<br />

mesmo sucedendo com a Philharmonia Orchestra de Londres e a Orquestra de<br />

Câmara da Europa. É convidado regular da Orquestra de Filadélfia, da<br />

Filarmónica de Los Angeles, da Staatskapelle Dresden, da Orquestra do Festival<br />

de Budapeste e da Orquestra Sinfónica da Cidade de Birmingham.<br />

Durante as celebrações do aniversário de J. S. Bach, em 2000, realizou numerosos<br />

recitais e dirigiu A Paixão Segundo São Mateus, assim como outras obras<br />

deste compositor. Em 2001 dirigiu interpretações, em versão de concerto, de<br />

Così fan futte de Mozart, em Vicenza e no Festival de Edimburgo. Na primavera de<br />

2003, dirigiu a Missa em Si menor de Bach, em Winterthur (Musikkollegium<br />

Winterthur), tendo em 2004 voltado a dirigir esta obra em Londres.<br />

Desde a sua infância, András Schiff manifesta um grande entusiasmo pela<br />

música de câmara, tendo exercido, entre 1989 e 1998, a direcção artística dos<br />

“Musiktage Mondsee”, um ciclo anual de música de câmara que se realiza em<br />

Salzburgo ao longo de uma semana. Com Heinz Holliger fundou, em 1995, o<br />

Festival Ittinger Pfingstkonzerte em Kartause Ittingen, na Suíça. Em 1998 promoveu<br />

um outro ciclo de concertos similar, intitulado “Hommage a Palladio”, que<br />

teve lugar no teatro Olímpico de Vicenza, em Itália.<br />

András Schiff recebeu, entre outras distinções: o Prémio Bartók (1991); a<br />

Medalha Claudio Arrau Memorial, concedida pela sociedade Robert Schumann<br />

de Düsseldorf (1994); o Prémio Kossuth (1996), a distinção mais prestigiada da<br />

Hungria; o Prémio de <strong>Música</strong> Leonie Sonnings, de Copenhaga (1997); o Palladio<br />

d’Oro, da Cidade de Vicenza; e o Musikfest-Preis, de Bremen (pelo seu importante<br />

trabalho artístico internacional), em 2003.<br />

András Schiff<br />

©Decca-Sasha Gusov<br />

página 37


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

página 38<br />

Freiburger Barockorchester<br />

(Orquestra Barroca de Friburgo)<br />

Cecilia Bartoli Meio-Soprano<br />

Petra Müllejans Direcção


Cecilia Bartoli<br />

Programa<br />

Händel e os seus contemporâneos *<br />

“Roma na transição para o século XVIII”:<br />

música das oratórias de Georg Friedrich Händel,<br />

Alessandro Scarlatti e Antonio Caldara<br />

(*) O programa detalhado deste concerto será publicado<br />

em separata oportunamente.<br />

11<br />

Sábado, 21.00 Grande Auditório <strong>Gulbenkian</strong><br />

Fevereiro <strong>2006</strong><br />

página 39


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Biografias<br />

página 40<br />

Freiburger Barockorchester<br />

(Orquestra Barroca de Friburgo)<br />

Sendo muitas vezes carinhosamente referenciados como “Os Freiburgers”,<br />

este facto representa um claro sinal de apreço, mas ao mesmo tempo o reconhecimento<br />

de um perfeito estabelecimento institucional da Orquestra Barroca<br />

de Friburgo. Entretanto, o seu repertório já não se limita à música barroca, tendo-se<br />

estendido para além do período clássico, até ao romantismo tardio e à<br />

música contemporânea. Por iniciativa da Simens Arts Program, cinco compositores<br />

europeus escreveram recentemente novas obras para a Orquestra Barroca<br />

de Friburgo (estreias a 27 de Agosto de <strong>2005</strong>, no Festival de Lucerna). A pátria<br />

musical dos “Freiburgers”, no entanto, continua a ser a música dos séculos XVII<br />

e XVIII.<br />

Para além dos concertos com maestros convidados, a orquestra trabalha habitualmente<br />

com os seus directores musicais Gottfried von der Goltz e Petra<br />

Müllejans, que dirigem largos agrupamentos a partir do lugar de concertino.<br />

Com esta receita de sucesso, a orquestra Barroca de Friburgo apresenta-se por<br />

todo o mundo, nas maiores salas de concerto e nos mais importantes festivais.<br />

Na temporada <strong>2005</strong>-<strong>2006</strong>, dão continuidade à profícua colaboração com a<br />

cantora Cecilia Bartoli. Uma digressão em três partes, em Fevereiro e Junho de<br />

<strong>2006</strong>, com obras de Händel e Caldara, leva-os a Portugal, Espanha, Inglaterra e<br />

Turquia. A temporada tem início com uma digressão na Alemanha. Sob a direcção<br />

de Trevor Pinnock e com a cantora Carolyn Sampson, a Orquestra<br />

Barroca de Friburgo apresenta um programa inglês: “If love’s sweet passion”.<br />

Uma produção da ópera La Clemenza di Tito antecipa o Ano Mozart de <strong>2006</strong>. René<br />

Jacobs dirige uma versão de concerto desta ópera em Bruxelas, Colónia, Paris e<br />

Berlim; será também produzido um CD para a Harmonia Mundi France.<br />

A Orquestra Barroca de Friburgo termina o ano de <strong>2005</strong> com René Jacobs e com<br />

uma bem conhecida obra, cuja interpretação por Jacobs reserva algumas surpresas,<br />

não só para o público: o Messias de Händel. Realizam-se concertos em<br />

Atenas, Paris, Valência, Castellon, Milão, Roma e Friburgo, para além de um CD<br />

para a Harmonia Mundi France.<br />

Em Março de <strong>2006</strong>, a Orquestra Barroca de Friburgo interpretará as suites<br />

orquestrais de J. S. Bach, sem maestro, em Nantes, Lyon, Metz, Wolfsburg,


Roterdão e Leiden. No verão, dois projectos marcarão o Ano Mozart: uma colaboração<br />

com a Orquestra Sinfónica SWR de Friburgo e Baden-Baden, como uma<br />

“Homenagem a Mozart”. Para além das obras de Mozart, a Orquestra Barroca de<br />

Friburgo e a Orquestra Sinfónica SWR tocarão, em estreia, uma obra de Jörg<br />

Widmann. Uma encenação de René Jacobs de Don Giovanni de Mozart constitui-<br />

-se como um grande evento no Ano Mozart. Uma gravação desta ópera está também<br />

a ser produzida para a Harmonia Mundi France, sendo mais uma evidência<br />

da já longa ligação entre os músicos e a editora francesa.<br />

Cecilia Bartoli<br />

Meio-Soprano<br />

É pouco frequente surgir no mundo da música uma artista dotada de tantas<br />

qualidades raras que possa ser considera uma verdadeira estrela. Contudo, desde<br />

o início da sua brilhante carreira como cantora, numa idade muito precoce,<br />

rapidamente se tornou claro que Cecilia Bartoli é, sem sombra de dúvida, uma<br />

das raras cantoras que merece plenamente esse estatuto, continuando a<br />

merecê-lo após vinte anos de sucesso contínuo.<br />

São raros os artistas que têm a sorte de possuir um instrumento não só único,<br />

mas também de uma beleza espantosa – a sua voz de uma impressionante<br />

flexibilidade, cobre grande parte da extensão dos meios-sopranos e sopranos –,<br />

mas ainda mais extraordinário é o seu enorme talento, o seu gosto sofisticado, a<br />

sua extrema musicalidade, os seus conhecimentos, a inteligência como intérprete<br />

e a sua forte presença em palco. Estas qualidades constituem a base do talento<br />

de Cecilia Bartoli, permitindo a expressão das emoções contidas na música<br />

de uma forma tão intensa que a leva a conquistar sucessivamente o seu público.<br />

Estas excepcionais qualidades são acompanhadas, em Cecilia Bartoli, por um<br />

desejo constante de alargar o seu repertório, de forma a reflectir o seu desenvolvimento<br />

artístico, respeitando porém as características do seu instrumento<br />

vocal. Foi no repertório de meados do século dezoito e princípio do século<br />

dezanove – quando as fronteiras entre o mezzo e o soprano ainda não tinha sido<br />

bem estabelecidas, e quando a cor do timbre, a agilidade vocal e os meios de expressão<br />

dramática determinavam os papeis atribuídos – que Cecilia Bartoli se<br />

Cecilia Bartoli<br />

página 41


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> 2004 <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong> <strong>2005</strong><br />

Biografias<br />

página 42<br />

sentiu inicialmente mais à vontade. Contudo, desde então, a cantora decidiu-se<br />

a explorar épocas anteriores na história da música e, mais tarde, composições de<br />

períodos posteriores, descobrindo inúmeras novas facetas da sua personalidade<br />

artística. Acima de tudo, Cecilia Bartoli vê-se a si própria como um músico que<br />

tem como principal objectivo um constante aperfeiçoamento do seu mais conhecido<br />

repertório e, ao mesmo tempo, a realização de um trabalho de investigação<br />

com o qual descobre constantemente novas e fascinantes áreas de actividade.<br />

Na ópera, cantou primeiro as famosas obras de Rossini e Mozart, mas posteriormente<br />

apresentou ao seu público óperas menos conhecidas de Rossini,<br />

Paisiello, Händel e Haydn. O seu repertório de concerto abrange desde os<br />

primeiros compositores italianos até à música do início do século XX. No entanto,<br />

teve também grande impacto o seu resgate de árias de ópera, até então esquecidas,<br />

de Vivaldi, Gluck e Salieri, tendo dedicado um álbum a cada um deles<br />

e muitas digressões de concertos. O enorme sucesso comercial (inúmeros<br />

prémios, centenas de milhares de cópias vendidas) e a inesperada aprovação<br />

destes projectos, originou um revivalismo destes compositores, provando que a<br />

via escolhida por esta extraordinária artista tinha sido a correcta.<br />

Não é de estranhar que Herbert von Karajan, Daniel Barenboim e Nikolaus<br />

Harnoncourt se encontrem entre os primeiros maestros com os quais Cecilia<br />

Bartoli trabalhou, tendo estes notado o seu talento desde muito cedo, muito<br />

pouco tempo depois da cantora ter concluído os estudos de canto com os pais.<br />

Desde então, os principais maestros, pianistas e orquestras do mundo têm trabalhado<br />

com Cecilia Bartoli. Mais recentemente, os seus projectos incluíram<br />

concertos com os principais agrupamentos que tocam em instrumentos antigos,<br />

para além de concertos como a Filarmónica de Viena, sem maestro.<br />

Cecilia Bartoli actua regularmente nas principais salas de concerto da<br />

Europa, dos Estados Unidos da América e do Japão e nos mais prestigiados palcos<br />

de ópera e festivais, como o Metropolitan de Nova Iorque, a Royal Opera<br />

House – Covent Garden de Londres, o Scala de Milão, a Ópera da Baviera de<br />

Munique, o Festival de Salzburgo e a Ópera de Zurique, onde interpretou muitos<br />

dos seu papéis de ópera pela primeira vez.<br />

Os numerosos discos de Cecilia Bartoli incluem mais de dez óperas completas<br />

e muitas gravações a solo. Actualmente, grava em exclusivo para a Decca, tendo<br />

as suas vendas alcançado cerca de quatro milhões de cópias – o que excede<br />

largamente qualquer número alcançado por um artista clássico recentemente.


Os seus inúmeros prémios incluem quatro Grammies para os seus álbuns a solo,<br />

o Bambi, dois prémios Classical Brit, o Jahrespreis der Deutschen Schallplattenkritik<br />

e o Prémio da Academia Japonesa do Disco. Entre outras distinções, foi agraciada<br />

com um grau honorífico italiano e recebeu o título de “Chevalier des Arts et<br />

des Lettres”, em França. Em Junho de <strong>2005</strong>, foi nomeada membro honorário da<br />

Royal Academy of Music de Londres.<br />

Petra Müllejans<br />

Violino<br />

A invulgar arte de Petra Müllejans no violino barroco combina o estilo de<br />

época, ou autêntico, com a espontaneidade emocional.<br />

Depois de estudar em Dusseldorf e Nova Iorque, completou os seus estudos<br />

em interpretação com Rainer Kussmaul, em Friburgo. O som do violino barroco<br />

fascinou-a desde sempre. Membro fundador da Orquestra Barroca de Friburgo,<br />

tem actuado como líder da orquestra e como solista.<br />

A música de câmara com solistas é também um aspecto importante do seu<br />

trabalho. Com o Freiburg Baroque Consort, interpreta obras dos séculos XVII e<br />

XVIII. Pelos CDs gravados com o Consort recebeu vários prémios, incluindo o<br />

Diapason d’Or.<br />

A sua musicalidade extraordinária e expontânea é particularmente evidente<br />

quando interpreta música klezmer, tango e czardas. Para Petra Müllejans, estas<br />

“escapadas”, não constituem um afastamento da música barroca, são pelo contrário<br />

uma contribuição vital para o seu desenvolvimento musical.<br />

Petra Müllejans ensina o violino barroco no Conservatório de Friburgo e na<br />

Hochschule für Musik und Darstellende Kunst Frankfurt am Main.<br />

Petra Müllejans<br />

página 43


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

página 44<br />

Orquestra da Gewandhaus, de Leipzig<br />

Riccardo Chailly Maestro


© Gert Mothes<br />

Riccardo Chailly<br />

Programa<br />

Gustav Mahler<br />

Sinfonia Nº 7, em Mi menor<br />

1. Langsam (Adagio) – Allegro risoluto, ma non troppo<br />

2. Nachtmusik (Allegro moderato)<br />

3. Scherzo: Schattenhaft<br />

4. Nachtmusik (Andante amoroso)<br />

5. Rondo-Finale: (Allegro ordinario – Allegro moderato ma energico)<br />

Este concerto não tem intervalo<br />

04<br />

Sábado, 21.00 Coliseu dos Recreios<br />

Março <strong>2006</strong><br />

página 45


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 46<br />

Gustav Mahler<br />

Kaliste (Boémia), 7 de Julho de 1860<br />

Viena, 18 de Maio de 1911<br />

Sinfonia Nº 7, em Mi menor<br />

(c. 1h e 20 min.)<br />

Composta entre 1904 e 1905, a Sinfonia Nº 7, em Mi menor, é um dos marcos<br />

da produção instrumental mahleriana que teve origem entre a composição<br />

das Sinfonias Nº 4, em Sol Maior (1900) e Nº 8, em Mi bemol Maior, Dos mil<br />

(1906), ambas possuidoras de duplo efectivo vocal-instrumental. Durante longo<br />

tempo, a sétima foi um dos marcos menos visitados da produção sinfónica do<br />

compositor boémio, devido à complexidade da sua linguagem musical, situada<br />

algures na fronteira do movimento romântico com as tendências de um<br />

modernismo latente, ambicionado por um número cada vez maior de contemporâneos<br />

de Mahler. Do ponto de vista da linguagem harmónica, trata-se<br />

provavelmente da sinfonia mais sofisticada do compositor, povoada por dissonâncias<br />

ásperas e modulações abruptas, cuja acção conjunta exerce um efeito<br />

de dissolução das funções tonais convencionais. Neste aspecto específico, a obra<br />

dá plena continuidade à anterior Sinfonia Nº 6, em Lá menor (1904). Por outro<br />

lado, a utilização recorrente do intervalo de quarta, como elemento estruturador<br />

quer de motivos e temas, quer de agregados harmónicos, traz ao idioma da<br />

Sinfonia Nº 7 um carácter distintivo, que a afasta dos cânones mais tradicionais<br />

do género. Não deixa de ser relevante, a este propósito, que o mesmo intervalo<br />

musical tenha tido um papel de vulto na contemporânea Sinfonia de Câmara,<br />

op.9 de Arnold Schönberg.<br />

Apesar da sua vincada influência modernista, A Sinfonia Nº 7 não deixa de<br />

prestar homenagem ao universo romântico, através de uma arquitectura global<br />

de inspiração poética, a qual faz transportar o ouvinte dos contornos sombrios<br />

do Allegro introdutório até à apoteose triunfante do Allegro final. De permeio,<br />

Mahler compôs dois singulares andamentos moderados, ambos intitulados<br />

Nachtmusik («música nocturna»), os quais enquadram, por sua vez, um Scherzo<br />

central, Schattenhaft («como uma dança de sombras»). O signo da noite – ícone<br />

dilecto da cultura romântica – perpassa pois toda a concepção da sinfonia, estando<br />

na origem do subtítulo «Canto da noite», pelo qual é muitas vezes designada.


Mahler concluiu a Sinfonia Nº 7 na localidade austríaca de Toblach, durante<br />

o verão de 1905. No entanto, a obra só veio a ser estreada a 9 de Setembro de<br />

1908, em Praga, depois de Mahler ter declarado que esperaria «o tempo que fosse<br />

preciso» para assistir a este evento. As expectativas do compositor foram, de<br />

certo modo, correspondidas por uma recepção respeitosa, mas não propriamente<br />

calorosa, o que se pode facilmente compreender em vista das vastas dimensões<br />

e do estilo da partitura, bastante arrojado para a época.<br />

Desde os primeiros compassos da introdução, Adagio, as sonoridades refinadas<br />

e ritmicamente bem destacadas tomam conta da textura. A linha melódica<br />

irregular entoada pela trompa-tenor, virá a ser empregue noutras partes da<br />

partitura, desempenhando um papel unificador de fundo. A introdução virá a<br />

ser sucedida por um Allegro de carácter marcial, em que se impõe, de imediato,<br />

o intervalo de quarta descendente.<br />

Mahler prossegue nesta sinfonia o mesmo conceito de tonalidade evolutiva<br />

expresso na sua anterior Sinfonia Nº 5 (1902), segundo o qual o plano tonal dos<br />

andamentos está sujeito a permanentes mutações, o que leva a que a obra se inicie<br />

numa determinada tonalidade e conclua noutra completamente diferente.<br />

No caso da Sinfonia Nº 7, este percurso tem como referências principais, por ordem<br />

sucessiva, as tonalidades de Si menor (a tonalidade da introdução; quinto<br />

grau da tonalidade principal), Mi menor e Dó Maior.<br />

O desenvolvimento que se segue desenrola-se com base em duas secções<br />

distintas. Na primeira assiste-se ao prolongamento do movimento impetuoso<br />

da exposição, ao mesmo tempo que o material melódico e harmónico de origem<br />

é variado e ampliado. Já na segunda secção, Mahler propõe um quadro esplendoroso<br />

de imaginário bucólico, o qual vem depois a ser importunado pelo<br />

recitativo inicial da trompa-tenor. O regresso do anterior episódio Allegro, densamente<br />

trabalhado, encerra o andamento na tonalidade de Mi Maior.<br />

O segundo andamento, Nachtmusik (Allegro moderato, em Dó Maior), constitui<br />

uma espécie de marcha lenta de carácter militar, iluminada por uma atmosfera<br />

fantástica que faz recordar alguns dos Wunderhorn Lieder. Segundo o amigo<br />

do compositor Willem Mengelberg, o andamento foi inspirado pelo célebre<br />

quadro seiscentista de Rembrandt intitulado A Ronda da Noite.<br />

O Scherzo (Schattenhaft, “vago, incerto”, em Ré menor), não esconde a sua filiação<br />

na valsa vienense, muito embora os contornos da instrumentação sugiram,<br />

por diversas vezes, uma face grotesca e desconcertante que transfigura, por<br />

completo, a recriação da dança. No centro do andamento é exposta, por três<br />

página 47


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 48<br />

oboés, uma melodia de tipo popular, na tonalidade de Ré Maior, antes do reaparecimento<br />

súbito da bizarra valsa inicial.<br />

A orquestração do terceiro andamento, Nachtmusik (Andante amoroso, em Fá<br />

Maior), integra uma guitarra e um bandolim, dois instrumentos de aparecimento<br />

muito raro neste tipo de repertório, mas que conferem uma sonoridade característica<br />

às texturas «nocturnas» de Mahler, numa espécie de antevisão do tecido<br />

tímbrico que viria a ser pilar das Cinco Peças para Orquestra op.10, de Anton<br />

Webern (1913).<br />

Por fim, o efervescente Finale (Rondo, em Dó Maior) é o exemplo acabado da<br />

visão progressista de Mahler, instaurando, por detrás de aparente desordem, as<br />

mais complexas inter-relações entre o material musical e a organização de um<br />

tempo psicológico cuja apreensão se revela deveras complexa e exigente, do<br />

ponto de vista do ouvinte. Na sua mescla controversa entre o trivial e o sublime,<br />

o andamento progride inexoravelmente, até à sua conclusão triunfal, sobre as<br />

ondulações maciças de semicolcheias que reúnem os sopros, a percussão e as<br />

cordas. \•<br />

Rui Cabral Lopes


Orquestra da Gewandhaus,<br />

de Leipzig<br />

A história da Orquestra da Gewandhaus teve início há mais de 250 anos,<br />

quando um grupo de comerciantes de Leipzig fundou e financiou uma sociedade<br />

de concertos que ao longo dos anos se converteria numa das mais admiradas<br />

orquestras do mundo. Felix Mendelssohn-Bartholdy, Arthur Nikisch, Wilhelm<br />

Furtwängler, Franz Konwitschny e Kurt Masur foram os seus mais destacados<br />

maestros, imprimindo cada um a sua marca pessoal numa cultura musical única,<br />

que o seu último Maestro Titular, Herbert Blomstedt, continuou a desenvolver<br />

nos anos mais recentes.<br />

A Orquestra da Gewandhaus realiza cerca de 70 grandes concertos na sua<br />

temporada de Leipzig, onde é também, há mais de 200 anos, a orquestra da<br />

Ópera de Leipzig. A esta actividade juntam-se a sua interpretação semanal de<br />

Cantatas de J. S. Bach, na Igreja de St. Thomas, os cerca de 35 convites para actuar<br />

em palcos internacionais e numerosas gravações. A reputação de Leipzig<br />

como “Cidade da <strong>Música</strong>” deve-se principalmente às várias actividades da<br />

Orquestra da Gewandhaus e ao facto de esta ser a mais antiga orquestra fundada<br />

e patrocinada por comerciantes. Ninguém podia prever o seu êxito quando, em<br />

Março de 1743, dezasseis comerciantes se reuniram para criar uma sociedade de<br />

concertos, chamada “Grand Concert”, que financiava a actividade de 16 músicos.<br />

Após mais de três décadas em “Three Swans Inn”, o interesse de um público<br />

crescente tornou necessária uma nova sede: em 1781 a orquestra mudou-se para<br />

uma sala de 500 lugares, com uma excelente acústica, situada na praça onde se<br />

reuniam os comerciantes têxteis, a “Gewandhaus”, à qual a orquestra e a sua<br />

sede devem o nome. Quando esta sala já não era suficientemente grande para<br />

acolher o público que assistia aos concertos, foi construída, em 1884, uma nova<br />

Gewandhaus, em estilo clássico, com um grande auditório com capacidade para<br />

1500 pessoas e uma sala mais pequena, para música de câmara, evocando a antiga<br />

sede, com capacidade para 500 pessoas. Durante um bombardeamento, em<br />

Fevereiro de 1942, o edifício ficou gravemente danificado e as suas ruínas,<br />

cuidadosamente preservadas, foram finalmente dinamitadas em Março de 1968.<br />

Durante mais de 30 anos os concertos realizaram-se numa sala de congressos<br />

próxima do Jardim Zoológico da cidade. Graças aos incansáveis esforços do então<br />

Maestro Titular, Kurt Masur, a orquestra pôde mudar-se para uma moderna<br />

página 49


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Biografias<br />

página 50<br />

Riccardo Chailly<br />

sala de concerto, adequada a todos os seus requisitos musicais, acústicos e técnicos:<br />

a terceira Gewandhaus, na Augustusplatz.<br />

Até hoje, há no majestoso órgão Schuke, da sala principal, uma inscrição com<br />

uma citação do jovem Séneca, que tem sido o lema da Gewandhaus desde 1781:<br />

“Res severa verum gaudium” (“O verdadeiro prazer é um assunto sério”). Esta sala,<br />

com 1900 lugares distribuídos em anfiteatro, a Sala Mendelssohn, de 500 lugares,<br />

e um vestíbulo inundado de luz, formam um conjunto arquitectónico único,<br />

enriquecido esteticamente por estátuas e bustos de músicos, exposições de<br />

quadros e, acima de tudo, pela monumental pintura no tecto dos quatro pisos do<br />

edifício: “Canção da Vida” de Sighard Gille, artista de Leipzig.<br />

Todos os anos, realizam-se na Gewandhaus mais de 600 eventos. Entres<br />

estes, os grandes concertos da orquestra constituem o centro das actividades,<br />

juntamente com as actuações do Coro da Gewandhaus e do Coro Infantil, de numerosos<br />

agrupamentos de música de câmara, em especial o Quarteto<br />

Gewandhaus, o Quinteto de Sopros Gewandhaus e o Octeto Gewandhaus, para<br />

além dos populares recitais de órgão de sábado à tarde.<br />

Riccardo Chailly<br />

Maestro<br />

A actividade do maestro milanês Riccardo Chailly abrange tanto o repertório<br />

sinfónico como o operático. Dirigiu a Filarmónica de Berlim, a Filarmónica de<br />

Viena, a Orquestra da Gewandhaus de Leipzig, a Orquestra de Paris, a Orquestra<br />

Sinfónica de Londres, a Filarmónica de Nova Iorque, a Orquestra de Cleveland,<br />

a Orquestra de Filadélfia e a Orquestra Sinfónica de Chicago. Actuou também<br />

nas mais importantes salas de ópera, como o Scala de Milão (onde se estreou em<br />

1978), a Staatsoper de Viena, o Metropolitan de Nova Iorque, a Royal Opera<br />

House – Covent Garden de Londres (estreia em 1979) e a Ópera da Baviera, de<br />

Munique.<br />

Em 1984, Riccardo Chailly dirigiu o concerto de abertura do Festival de<br />

Salzburgo e actuou no Festival da Páscoa, dirigindo a Orquestra Real do<br />

Concertgebouw em 1988, 1996 e 1998. De 1982 a 1989, dirigiu a Orquestra<br />

Sinfónica da Rádio de Berlim e, de 1982 a 1985, foi Maestro Convidado Principal<br />

da Orquestra Filarmónica de Londres. Entre 1986 e 1993, esteve à frente do


Teatro Comunale de Bolonha, onde dirigiu, com enorme êxito, várias produções<br />

de ópera. Em 1986, foi nomeado Maestro Titular e, em 2002, Maestro Emérito<br />

da Orquestra Real do Concertgebouw. Em Setembro de 1999, foi nomeado<br />

Maestro Titular da Orquestra Sinfónica de Milão Giuseppe Verdi. No presente<br />

ano, para além de continuar como maestro em Milão, foi nomeado Maestro<br />

Titular da Orquestra da Gewandhaus de Leipzig e Director Musical da Ópera de<br />

Leipzig.<br />

No âmbito de um contrato de exclusividade com etiqueta Decca, Riccardo<br />

Chailly produziu um largo número de gravações, pelas quais recebeu diversos<br />

prémios, como o Gramophone, o Diapason d’Or, o Edison, o prémio da Academia<br />

Charles Cross, o Unga Knonotomo do Japão, o Toblacher Komponier-Häuschen e<br />

várias nomeações para os Grammy. Recentemente, foi eleito “Artista do Ano”<br />

pelas revistas Diapason e Gramophone.<br />

Riccardo Chailly foi distinguido com o título de “Grand’Ufficiale della<br />

Repubblica Italiana”, em 1994, e nomeado membro honorário da Royal Academy<br />

of Music de Londres, em 1996. Por ocasião do décimo aniversário à frente da<br />

Orquestra Real do Concertgebouw, foi-lhe concedido, pela Rainha Beatriz, o<br />

título de “Oficial da Ordem do Leão Holandês”, em Novembro de 1998. No mesmo<br />

ano foi distinguido em Itália com o título de “Cavaliere di Gran Croce della<br />

Repubblica Italiana”.<br />

página 51


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

página 52<br />

Symphonieorchester<br />

des Bayerischen Rundfunks<br />

(Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera)<br />

Mariss Jansons Maestro


© Georg Thum<br />

© Georg Thum<br />

Mariss Jansons<br />

21<br />

Programa<br />

Joseph Haydn<br />

Sinfonia Nº 94, em Sol Maior, A Surpresa<br />

1. Adagio cantabile – Vivace assai<br />

2. Andante<br />

3. Menuetto<br />

4. Finale: Allegro molto<br />

Richard Wagner<br />

Tristão e Isolda: «Prelúdio» e «Liebestod»<br />

Intervalo<br />

Igor Stravinsky<br />

O Pássaro de Fogo<br />

1. Introdução<br />

2. O jardim encantado de Kashchei<br />

3. Aparição do Pássaro de Fogo perseguido por Ivan Tsarevich<br />

4. Dança do Pássaro de Fogo<br />

5. Ivan Tsarevich captura o Pássaro de Fogo<br />

6. Súplica do Pássaro de Fogo<br />

7. Jogo das Princesas com as maçãs douradas<br />

8. Aparição súbita de Ivan Tsarevich<br />

9. Ronda das Princesas<br />

10. Nascer do dia<br />

11. Carrilhão Mágico, aparição dos Monstros Guardiões de Kashchei e captura<br />

de Ivan Tsarevich<br />

12. Dança da comitiva de Kashchei sob o feitiço do Pássaro de Fogo<br />

13. Dança infernal de Kashchei<br />

14. Melodia do Pássaro de Fogo<br />

15. Colapso do Palácio de Kashchei e dissolução de todos os encantamentos –<br />

Reanimação dos Prisioneiros Petrificados – Júbilo generalizado<br />

Terça, 21.00 Coliseu dos Recreios<br />

Março <strong>2006</strong><br />

página 53


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 54<br />

Joseph Haydn<br />

Rohrau, 31 de Março de 1732<br />

Viena, 31 de Maio de 1809<br />

Sinfonia Nº 94, em Sol Maior, A Surpresa<br />

(c. 26 min.)<br />

As duas viagens que Joseph Haydn realizou a Londres entre 1791 e 1795 sintetizam<br />

o êxito extraordinário que envolveu a projecção da sua música no<br />

panorama internacional e designadamente em centros musicais como Paris,<br />

Amesterdão, Berlim, Leipzig e Viena. Anteriormente à sua primeira visita à capital<br />

inglesa, realizada em Janeiro de 1791, Haydn nunca abandonara a sua Áustria<br />

natal, apesar de ter assistido com assombro à proliferação crescente (e por vezes<br />

ilícita) de edições da sua música em toda a Europa. Foi somente depois da morte<br />

do Príncipe Nikolaus Esterházy, a quem havia servido durante perto de trinta<br />

anos, que Haydn decidiu aceitar o convite formulado por um conceituado violinista<br />

e promotor de concertos, Johann Peter Salomon, no sentido de vir a realizar uma<br />

série de concertos em Londres. Para a programação destes espectáculos, Haydn<br />

compôs um conjunto de doze sinfonias que representam o corolário de toda a<br />

sua produção orquestral. Nestas obras o compositor propõe uma linguagem musical<br />

inovadora, que se distancia das definições modelares do estilo sinfónico<br />

clássico para enfatizar o virtuosismo dos naipes orquestrais e propiciar uma<br />

maior liberdade das formas.<br />

Apesar de o autógrafo da Sinfonia Nº 94, em Sol Maior, A Surpresa, ser datado<br />

de 1791, a estreia da obra só sobreveio no sexto concerto que Salomon organizou<br />

para a temporada de 1792, ocorrido a 23 de Março. Tornada extremamente célebre,<br />

sobretudo em Viena, a Sinfonia Surpresa ilustra um dos aspectos mais característicos<br />

do estilo sinfónico tardio de Haydn: a síntese muito bem conseguida<br />

entre temas de carácter popular e outros de cariz mais erudito. A celebridade da<br />

obra deriva, sobretudo, do tema inicial do Andante, uma espécie de transfiguração<br />

orquestral de uma singela sequência melódica triádica que, num outro<br />

qualquer contexto, pareceria banal e desinteressante. O inesperado fortíssimo que<br />

envolve o acorde do segundo tempo do compasso dezasseis deu azo a uma história<br />

inverosímil que se encontra, por sua vez, na origem do subtítulo da obra, segundo<br />

a qual Haydn teria pretendido infligir um «castigo» auditivo nos elementos do<br />

público que eventualmente se tivessem deixado adormecer durante a audição da<br />

sua obra, o que não era, de modo algum, caso raro nas salas de concerto da época.


Richard Wagner<br />

Leipzig, 22 de Maio de 1813<br />

Veneza, 13 de Fevereiro de 1883<br />

Tristão e Isolda: «Prelúdio» e «Liebestod»<br />

(c. 20 min.)<br />

As profundas modificações introduzidas por Richard Wagner na concepção<br />

dramática e musical da ópera romântica alemã, tornaram-no um dos grandes<br />

vultos de toda a história da música ocidental. O contributo de Wagner para o universo<br />

musical da sua época pode ser entendido segundo três perspectivas distintas:<br />

a da consumação da ópera romântica alemã, à semelhança do que sucedeu<br />

com a ópera italiana sob a influência de Verdi; a da criação de um novo modelo<br />

de fusão das artes – o Drama Musical – e, finalmente, a da condução da linguagem<br />

harmónica até ao limite das tendências românticas, num gesto que preconizou a<br />

dissolução da tonalidade clássica, convertendo-se, por outro lado, num ponto<br />

de partida para desenvolvimentos posteriores que ainda hoje são objecto de<br />

problematização musicológica. Também os escritos legados por Wagner exerceram<br />

uma considerável influência sobre o pensamento do século XIX, não apenas<br />

em relação à música, mas também à literatura e ao teatro.<br />

No entender de Wagner, a música devia servir os fins da expressão dramática,<br />

contribuindo, deste modo, para suscitar a perfeita identificação do ouvinte<br />

com a acção, um objectivo revelador das influências iluministas sobre a ilusão<br />

pelo natural. A concepção wagneriana do Drama Musical conhece um enunciado<br />

modelar em Tristão e Isolda, ópera em três actos apresentada pela primeira vez<br />

em Munique, a 10 de Junho de 1865.<br />

O ideal que preside à organização formal wagneriana é o da unicidade absoluta<br />

do drama e da música, tornando-se ambos expressões organicamente vinculadas<br />

de uma única ideia dramática. Este é um dos aspectos que mais claramente<br />

diferencia a ópera wagneriana da ópera convencional, na qual o libreto<br />

constitui o ponto de partida para a elaboração da música.<br />

O desenvolvimento e a transformação de motivos musicais característicos<br />

tornam-se procedimentos estruturadores do discurso musical no decorrer do<br />

«Prelúdio». Nesta secção é conferido um intenso tratamento orquestral a alguns<br />

dos principais motivos da ópera, entre os quais o denominado «acorde de<br />

Tristão», introduzido pelos sopros no segundo compasso (um agregado sonoro<br />

susceptível de várias interpretações, do ponto de vista harmónico).<br />

página 55


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Notas à margem<br />

página 56<br />

«Liebestod», derradeiro momento da ópera, em que se assiste à morte de Isolda,<br />

constitui a aproximação mais evidente em toda a obra ao conceito de ária, um<br />

conceito não compatível, na sua acepção tradicional, com o discurso contínuo do<br />

Drama Musical. Alguns elementos da textura, em particular nas partes orquestrais,<br />

revelam uma estrutura simétrica e periódica, conferindo a esta secção um<br />

carácter autónomo, quer do ponto de vista musical quer dramático.<br />

Igor Stravinsky<br />

Oranienbaum, 17 de Junho de 1882<br />

Nova Iorque, 6 de Abril de 1971<br />

O Pássaro de Fogo<br />

(c. 45 min.)<br />

Primeira obra coreográfica concebida por Igor Stravinsky para a companhia<br />

Ballets Russes, dirigida por Sergey Diaghilev, O Pássaro de Fogo contribuiu, em<br />

larga medida, para a projecção do nome do compositor além das fronteiras da<br />

sua Rússia natal. Apresentada pela primeira vez ao público parisiense a 25 de<br />

Junho de 1910, a obra suscitou, desde logo, vivo entusiasmo entre os ouvintes e<br />

os críticos, consagrando-se, nesta atmosfera, o início da carreira internacional<br />

de Stravinsky.<br />

A adaptação de um célebre conto tradicional russo, realizada por Mikhail<br />

Fokine, serviu de matéria literária para a elaboração de O Pássaro de Fogo.<br />

O bailado relata o percurso atribulado de Ivan Tsarevich, símbolo da figura mítica<br />

do herói popular russo, a quem o maravilhoso Pássaro de Fogo auxilia a libertar<br />

um grupo de treze princesas encantadas, mantidas prisioneiras pelo feiticeiro<br />

Kashchey. O casamento de Tsarevich com uma das princesas, momento de<br />

júbilo generalizado, ilustra a cena final do bailado.<br />

Constituída por dezanove quadros sucessivos, a partitura coreográfica basta-se<br />

a si mesma como se de um vasto poema sinfónico se tratasse. Com maior frequência<br />

são ouvidas em concerto as três suites para orquestra que Stravinsky compôs a<br />

partir do bailado original, concluídas, respectivamente, em 1911, 1919 e 1945. \•<br />

Rui Cabral Lopes


Symphonieorchester<br />

des Bayerischen Rundfunks<br />

(Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera)<br />

Desde a sua fundação em 1949, por Eugen Jochum, a Orquestra Sinfónica da<br />

Rádio da Baviera alcançou uma elevada qualidade artística, interpretando um<br />

vastíssimo repertório que se estende desde o século XVII até aos nossos dias. No<br />

âmbito da série “<strong>Música</strong> Viva”, criada por Karl Amadeus Hartmann em 1945,<br />

dedicou-se também desde o seu início à música contemporânea. Os compositores<br />

Igor Stravinsky, Darius Milhaud, Paul Hindemith e, mais recentemente,<br />

Karlheinz Stockhausen, Mauricio Kagel e Luciano Berio, dirigiram as suas<br />

próprias composições. A lista de maestros convidados poderia facilmente representar<br />

a “História da direcção de orquestra no século XX”: Bernard Haitink,<br />

Günter Wand, Sir Georg Solti, Claudio Abbado, Seiji Ozawa e Riccardo Muti, para<br />

nomear apenas alguns. Manteve ainda uma estreita colaboração artística com<br />

Leonard Bernstein, tendo gravado com este maestro, pela primeira vez, Tristão e<br />

Isolda de Wagner.<br />

A história da orquestra está intimamente ligada à dos seus maestros titulares:<br />

Eugen Jochum (1949 a 1960), seu fundador, consolidou a sua reputação<br />

internacional; Rafael Kubelik (1961 a 1979) ampliou o repertório, incluindo<br />

obras de compositores eslavos como Smetana, Janácek e Dvorák, divulgou obras<br />

de compositores do século XX, como Karl Amadeus Hartmann, e dirigiu o<br />

primeiro ciclo Mahler com uma orquestra alemã, incluindo a gravação. Sir Colin<br />

Davis (1983 a 1992) foi um reconhecido especialista de Berlioz e dos compositores<br />

ingleses mais recentes. O trabalho de Lorin Maazel (1993 a 2002), desenvolvido<br />

de forma eficiente e precisa, permitiu à orquestra alcançar um elevado<br />

nível técnico, que a colocou entre as melhores do mundo. Em Outubro de 2003,<br />

Mariss Jansons apresentou o seu concerto inaugural com o Coro e a Orquestra da<br />

Rádio da Baviera, em Munique.<br />

Para além da sua actividade concertística e discográfica, nesta e noutras<br />

cidades alemãs, a orquestra realiza extensas digressões. No outono de <strong>2005</strong>,<br />

realizou as suas primeiras actuações na Ásia. Outra importante actividade é a<br />

promoção de jovens músicos, dedicando-se a Academia da Orquestra Sinfónica<br />

da Rádio da Baviera à formação musical desses jovens.<br />

página 57


<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> / <strong>2006</strong><br />

Biografias<br />

página 58<br />

Mariss Jansons<br />

© Johannes Ifkevits<br />

Desde que ocupou o cargo de Maestro Titular, Mariss Jansons dispôs-se a interpretar<br />

um vasto repertório, revelador da versatilidade musical da orquestra.<br />

Os programas incluem obras já consagradas, assim como tesouros musicais desconhecidos.<br />

Desde 2004, e sob a direcção de Mariss Jansons, é a orquestra residente<br />

do Festival de Páscoa de Lucerna. Com uma trajectória consolidada no<br />

campo discográfico, em Outubro de 2004 criou a sua própria etiqueta, com a<br />

Sony Classics, para a qual começou a gravar actuações ao vivo, com Mariss<br />

Jansons.<br />

Mariss Jansons<br />

Maestro<br />

Mariss Jansons foi nomeado Maestro Titular do Coro e da Orquestra<br />

Sinfónica da Rádio da Baviera no início da temporada de 2003. Os seus concertos,<br />

gravações, emissões radiofónicas e televisivas e digressões internacionais,<br />

granjearam-lhe um lugar entre os mais admirados e respeitados maestros dos<br />

nossos dias.<br />

Nascido em Riga, na Letónia, filho do conhecido maestro e professor Arvid<br />

Jansons, estudou violino, piano e direcção de orquestra no Conservatório de<br />

Leninegrado, licenciando-se com os mais altos louvores. Em 1969 prosseguiu a<br />

sua formação em Viena com Hans Swarowsky e em Salzburgo com Herbert von<br />

Karajan. O lendário Evgeni Mravinski foi uma influência fundamental na carreira<br />

de Mariss Jansons. Em 1971 nomeou-o seu assistente na então Orquestra<br />

Filarmónica de Leninegrado. Nesse mesmo ano, Mariss Jansons foi também o<br />

vencedor do Concurso Internacional da Fundação Herbert von Karajan de<br />

Berlim.<br />

De 1971 a 1999, foi Maestro Titular Associado da Orquestra Filarmónica de<br />

São Petersburgo e, de 1979 a 2000, o Maestro Titular da Orquestra Filarmónica<br />

de Oslo. Entre 1992 e 1997, ocupou o lugar de Maestro Convidado Principal da<br />

Filarmónica de Londres. De 1997 até 2004, dirigiu a Orquestra Sinfónica de<br />

Pittsburgh. Em 2004, assumiu o lugar de Maestro Titular da Orquestra Real do<br />

Concertgebouw de Amesterdão.<br />

Colaborou com as principais orquestras americanas, incluindo as de Nova<br />

Iorque, Boston, Cleveland, Chicago e Filadélfia. Dirigiu ainda a Sinfónica de


Londres, a Filarmónica de Londres, a Philharmonia Orchestra, a Filarmónica de<br />

Israel e a Orquestra do Tonhalle de Zurique. As suas frequentes actuações e digressões<br />

com as Filarmónicas de Viena e de Berlim tiveram uma especial importância<br />

no seu excepcional percurso. É habitualmente convidado para actuar<br />

no Festival de Salzburgo.<br />

Como Maestro Titular da Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera, Mariss<br />

Jansons dirige um vasto repertório, de Haydn a Bernstein. Com esta orquestra,<br />

visita regularmente os principais centros internacionais, como Viena, Londres,<br />

Madrid e Bruxelas, com residências anuais no Festival de Páscoa de Lucerna. No<br />

outono de <strong>2005</strong>, realizou uma extensa digressão no Japão e na China. De 1971 a<br />

2000, foi professor de direcção de orquestra no Conservatório de São<br />

Petersburgo.<br />

Mariss Jansons recebeu numerosos prémios e distinções, incluindo o título<br />

de “Oficial com Estrela da Real Ordem de Mérito Norueguesa” e o prestigiado<br />

prémio Anders Jahre, da Noruega. Em 1999 foi nomeado membro honorário da<br />

Royal Academy of Music de Londres e, em Junho de 2001, da “Sociedade de<br />

Amigos da <strong>Música</strong>” de Viena. Em Maio de 2004, foi-lhe atribuído o prémio de<br />

música RPS.<br />

A sua vasta produção discográfica estende-se de Berlioz a Weill. Muitas das<br />

suas gravações receberam prémios internacionais. Actualmente grava o ciclo<br />

completo das sinfonias de Chostakovitch (EMI), com a Orquestra Sinfónica da<br />

Rádio da Baviera, que se completará em <strong>2006</strong>, no centésimo aniversário do<br />

nascimento do compositor.<br />

página 59


Serviços Centrais<br />

Coordenador da Área de Espectáculos<br />

Otelo Lapa<br />

Directores de Cena<br />

Helena Simões<br />

Jorge Freire<br />

Direcção de Cena<br />

Catarina Lobo<br />

Diogo Figueiredo<br />

Ficha Editorial<br />

Coordenação<br />

Miguel Ângelo Ribeiro<br />

Design Gráfico<br />

Filipe Preto<br />

Impressão e Acabamento<br />

1300 exemplares<br />

Depósito Legal:<br />

Preço: € 7,50<br />

Lisboa, Outubro <strong>2005</strong><br />

Programas e elencos sujeitos<br />

a alterações sem aviso prévio.


<strong>Grandes</strong> <strong>Ciclo</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong><br />

<strong>Ciclo</strong> <strong>Grandes</strong> <strong>Orquestras</strong> <strong>Mundiais</strong> <strong>2005</strong> <strong>2006</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!