Revista Estratégica vol.10 - Faap

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27.08.2013 Views

1.1 Evolução da Gestão de Pessoas Ao se pensar sobre a gestão de pessoas no contexto empresarial deve-se, primeiramente, rever a razão de ser das empresas: o lucro sobre o investimento. Em face disto, o início dos estudos em administração buscava aperfeiçoar os processos que eram entendidos como diretamente relacionados ao lucro, ou seja, o que Machline (1994, p. 92), sintetizou como “fatores de sucesso: melhoria da qualidade; aumento de produtividade; redução do custo; diminuição do prazo de entrega.”. Observa-se que em 1930, quando surgiu a Escola de Relações Humanas, a Escola Clássica, já havia obtido resultados em seus estudos, especialmente por meio da iniciativa de Henry Ford. Logo, o olhar sobre as pessoas emergiu como contraponto daquilo que vinha sendo praticado. Nóbrega (2003) resume esta evolução como sendo gradual ao ambiente externo e, em seguida a divide por períodos. Esta divisão realizada por Nóbrega (2003) será utilizada nos subitens a seguir. 1.1.1 A revolução industrial Este período foi marcado pela substituição da mão de obra humana pelas máquinas. Como decorrência surge a divisão e especialização do trabalho, produção em massa, automação, eliminação do trabalho físico pesado, surgimento de engenheiros e cientistas e sistemas de controle. As fábricas pequenas eram conduzidas pelo proprietário e as plantas maiores, já departamentalizadas, pelo capataz que tinha entre outras responsabilidades, a de treinar os novos trabalhadores. As condições de trabalho eram abusivas, com jornadas de trabalho em torno de 13 horas, emprego de crianças e inexistência de proteção, no caso de doença. Na Inglaterra, em 1795, na contramão desta história, a empresa Boulton & Watt, utilizava um sistema de seleção e treinamento e se preocupava com salários justos, programas de bonificação e possuía um benefício para afastamento por saúde. Surgiram algumas publicações propondo reflexões para a forma como os trabalhadores eram tratados, mas sempre contra movimentos associativos. Apesar disto, a resistência dos trabalhadores crescia e se manifestava de diferentes formas, tais como, greve branca, protestos, boicotes etc. 1.1.2 O crescimento do sindicalismo O movimento ganhou força por meio das associações de profissionais que congregavam trabalhadores de uma mesma especialidade (trade unions), pois estes passaram a exercer influência política, chegando, em 1885, ao parlamento inglês com onze membros eleitos. 54 Estratégica, vol.10(02), dezembro.2010

Durante a década de 1920, surge nos Estados Unidos as associações de empregados patrocinadas pelas empresas e outras políticas relacionadas à educação, treinamento e programas de bem-estar, como parte de uma campanha da indústria americana contra os sindicatos. Ao longo do período da depressão estas ações atingiram seus objetivos e após o fim desta fase, diante da necessidade de lidar com os sindicatos, as empresas americanas criaram o cargo de vice-presidente ou diretor de relações trabalhistas ou industriais. 1.1.3 A administração científica Este movimento atingiu seu pico em 1930, tornando bem clara a divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho manual. Planejar e executar ações que dividiam claramente as categorias de gerência e trabalhadores, simultaneamente interferindo nos sistemas de remuneração e recompensas e utilizando sistemas de controle para garantir os resultados. O relacionamento entre os gerentes e os trabalhadores poderia ser otimizado pela especificação do método, seleção e alocação do melhor trabalhador para a tarefa e uma recompensa justa. Isto ampliaria a produtividade tendo como consequência maiores lucros e salários, resultando em harmonia entre patrões, gerentes e trabalhadores, reduzindo a importância do papel sindical nas relações. Paralelo ao sistema taylorista, surgia a burocracia, desenvolvida pelo sociólogo alemão Max Weber. Esta caracterizava-se pela pirâmide hierárquica desenvolvida, divisão do trabalho, regulamentação escrita onipresente, controles sofisticados, grande importância dos especialistas e técnicos, todos os itens significando práticas que garantiam a impessoalidade. Naturalmente os resultados preconizados pela adoção da administração científica não foram alcançados, em função da natureza humana, abrindo, assim, espaço para outros trabalhos focados nas relações humanas. 1.1.4 A era paternalista John Commons, Richard Ely e Thorstein Veblen são citados por Nóbrega (2003), como economistas institucionalistas que discordavam da visão clássica de regulação do trabalho pelas forças de mercado. Esta visão forneceu o fundamento teórico para a legislação trabalhista americana, criada até os anos 1930. Desta época também são os primeiros estudos que correlacionam carga horária e condições de trabalho com produtividade e saúde do trabalhador. Os institucionalistas acreditavam que o conflito entre trabalhadores e empregadores era inerente às organizações independentemente do contexto ambiental, defendendo a negociação e o compromisso periódico entre os interesses divergentes Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73 55

1.1 Evolução da Gestão de Pessoas<br />

Ao se pensar sobre a gestão de pessoas no contexto empresarial deve-se, primeiramente,<br />

rever a razão de ser das empresas: o lucro sobre o investimento. Em face disto,<br />

o início dos estudos em administração buscava aperfeiçoar os processos que eram<br />

entendidos como diretamente relacionados ao lucro, ou seja, o que Machline (1994, p.<br />

92), sintetizou como “fatores de sucesso: melhoria da qualidade; aumento de produtividade;<br />

redução do custo; diminuição do prazo de entrega.”.<br />

Observa-se que em 1930, quando surgiu a Escola de Relações Humanas, a Escola<br />

Clássica, já havia obtido resultados em seus estudos, especialmente por meio da iniciativa<br />

de Henry Ford. Logo, o olhar sobre as pessoas emergiu como contraponto daquilo<br />

que vinha sendo praticado. Nóbrega (2003) resume esta evolução como sendo gradual<br />

ao ambiente externo e, em seguida a divide por períodos. Esta divisão realizada por<br />

Nóbrega (2003) será utilizada nos subitens a seguir.<br />

1.1.1 A revolução industrial<br />

Este período foi marcado pela substituição da mão de obra humana pelas máquinas.<br />

Como decorrência surge a divisão e especialização do trabalho, produção em massa,<br />

automação, eliminação do trabalho físico pesado, surgimento de engenheiros e<br />

cientistas e sistemas de controle.<br />

As fábricas pequenas eram conduzidas pelo proprietário e as plantas maiores, já<br />

departamentalizadas, pelo capataz que tinha entre outras responsabilidades, a de<br />

treinar os novos trabalhadores. As condições de trabalho eram abusivas, com jornadas<br />

de trabalho em torno de 13 horas, emprego de crianças e inexistência de proteção,<br />

no caso de doença.<br />

Na Inglaterra, em 1795, na contramão desta história, a empresa Boulton & Watt, utilizava<br />

um sistema de seleção e treinamento e se preocupava com salários justos, programas<br />

de bonificação e possuía um benefício para afastamento por saúde. Surgiram<br />

algumas publicações propondo reflexões para a forma como os trabalhadores eram<br />

tratados, mas sempre contra movimentos associativos. Apesar disto, a resistência dos<br />

trabalhadores crescia e se manifestava de diferentes formas, tais como, greve branca,<br />

protestos, boicotes etc.<br />

1.1.2 O crescimento do sindicalismo<br />

O movimento ganhou força por meio das associações de profissionais que congregavam<br />

trabalhadores de uma mesma especialidade (trade unions), pois estes<br />

passaram a exercer influência política, chegando, em 1885, ao parlamento inglês<br />

com onze membros eleitos.<br />

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<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010

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