Revista Estratégica vol.10 - Faap
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VOLUME<br />
ISSN 1519-4426<br />
10<br />
<strong>Estratégica</strong><br />
Comportamento do consumidor livre de<br />
energia elétrica<br />
Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral<br />
de Almeida Prado Jr.<br />
Innovation applied to the recovery of<br />
degraded areas by clay extraction through<br />
the installation of fish culture activity in the<br />
region of the sub basin of the upper region<br />
of the Machado River, Rondônia, Brazil<br />
Marcelo Rodrigo dos Anjos, Francisco Alves de<br />
Andrade e Pamela Monalisa Rodrigues Monte<br />
<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração<br />
Número 2<br />
volume 10 • número 2 • dezembro 2010<br />
E-learning e aprendizagem significativa<br />
Celi Langhi<br />
Universidade corporativa: uma metáfora<br />
contemporânea<br />
Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira<br />
dos Santos<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM<br />
(Business Process Management)<br />
Marcos Briaga
CONSELHO DE CURADORES<br />
Presidente<br />
Sra. Celita Procopio de Carvalho<br />
Integrantes<br />
Dr. Benjamin Augusto Baracchini Bueno<br />
Dr. Octávio Plínio Botelho do Amaral<br />
Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto<br />
Sra. Maria Christina Farah Nassif Fioravanti<br />
Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima<br />
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO<br />
Diretor<br />
Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />
DIRETORIA EXECUTIVA<br />
Diretor Presidente<br />
Dr. Antonio Bias Bueno Guillon<br />
Diretor Tesoureiro<br />
Dr. Américo Fialdini Jr.<br />
Diretor Cultural<br />
Prof. Victor Mirshawka<br />
ASSESSORES DA DIRETORIA<br />
Área Administrativa e Financeira<br />
Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese<br />
Área Acadêmica<br />
Prof. Raul Edison Martinez<br />
ESTRATÉGICA<br />
<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração FAAP e do FAAP-MBA<br />
Editor<br />
Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />
Editores Associados<br />
Armando Terribili Filho e Celi Langhi<br />
Conselho Editorial<br />
Alexandre Massote, Armando Terribili Filho, Celi<br />
Langhi, Emerson Piovezan, Jorge Marinho de<br />
Araújo, Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva,<br />
Marco Aurélio Xavier Soares de Mello, Marina<br />
Lindenberg Lima, Tharcisio Bierrenbach de Souza<br />
Santos e Walter Gomes da Cunha Filho.<br />
Arte / Editoração Eletrônica<br />
Agência FAAP<br />
Periocidade<br />
Semestral<br />
Publicação<br />
As correspondências, inclusive originais de<br />
artigos, devem ser endereçadas à<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />
Rua Alagoas, 903 – Prédio 4 – 2º andar<br />
Higienópolis – São Paulo/SP<br />
CEP: 01242-902<br />
ou pelo e-mail: estrategica@faap.br<br />
www.faap.br
volume 10 / número 2/ dezembro de 2010<br />
ISSN 1519-4426<br />
Rua Alagoas, 903 - Higienópolis<br />
São Paulo, SP - Brasil
<strong>Estratégica</strong>/ Faculdade de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado.<br />
Vol. 10, n. 2 (2010) - São Paulo: FA-FAAP, 2010<br />
Semestral<br />
1. Administração – Periódicos. I. Fundação Armando Alvares Penteado. Faculdade de Administração.<br />
ISSN 1519-4426
Editorial<br />
volume 10 / número 2/ dezembro de 2010<br />
Sumário<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica<br />
Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr.<br />
Innovation applied to the recovery of degraded areas by clay extraction<br />
through the installation of fish culture activity in the region of the sub<br />
basin of the upper region of the Machado River, Rondônia, Brazil<br />
Marcelo Rodrigo dos Anjos, Francisco Alves de Andrade e Pamela Monalisa<br />
Rodrigues Monte<br />
E-learning e aprendizagem significativa<br />
Celi Langhi<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea<br />
Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM<br />
(Business Process Management)<br />
Marcos Briaga<br />
Orientações para os autores e para a elaboração de artigos científicos 91<br />
7<br />
9<br />
23<br />
37<br />
51<br />
75
6<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Nesta edição apresentamos cinco artigos que permeiam áreas importantes da<br />
administração, englobando o comportamento de consumidor, treinamento e gestão<br />
por processos.<br />
No primeiro artigo, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida<br />
Prado Jr. apresentam a evolução do comportamento do consumidor livre de energia<br />
elétrica verificado nos anos de 2007 e 2010, quando foram pesquisados clientes dos<br />
mais diferentes ramos de atividade e localização geográfica. O título do artigo é “Comportamento<br />
do consumidor livre de energia elétrica”.<br />
O segundo artigo de autoria de Marcelo Rodrigo dos Anjos, Francisco Alves de Andrade<br />
e Pamela Monalisa Rodrigues Monte, publicado em língua inglesa, apresenta a<br />
atividade piscícola como alternativa para a recuperação de áreas degradadas em sistema<br />
intensivo de extração de argila (matéria prima utilizada na confecção de artefatos<br />
como telhas, tijolos, elementos vazados entre outros) de bacias hidrográficas na região<br />
de Pimenta Bueno localizada no cone sul do estado de Rondônia para a indústria cerâmica.<br />
Os autores apresentam como alternativa a geração de renda, segurança alimentar,<br />
além do reaproveitamento de áreas anteriormente deixadas como passivo ambiental.<br />
O terceiro artigo, desenvolvido por Celi Langhi foi apresentado no Congresso da<br />
Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD). No artigo intitulado<br />
“E-learning e aprendizagem significativa”, a autora propõe uma metodologia para a elaboração<br />
de materiais instrucionais para e-learning, baseada na teoria da aprendizagem<br />
significativa do psicólogo David Ausubel.<br />
“Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea” é o quarto artigo. De<br />
autoria de Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, as autoras apresentam<br />
a universidade corporativa como uma metáfora imbuída do valor da educação<br />
permanente, destacando que o “aprender a aprender” passou a significar a transformação<br />
da própria experiência em conhecimento.<br />
Finalmente, o quinto artigo, subproduto de um ex-aluno do MBA da FAAP - Marcos<br />
Briaga, intitulado “Minimizando riscos na implantação de BPM - Business Process Management”,<br />
que por meio de investigação realizada para o desenvolvimento de sua monografia,<br />
o autor constata que o BPM apresenta uma visão integrada dos processos e que<br />
traz como benefícios: transparência do processo, melhoria contínua, maior agilidade e<br />
padronização nas organizações.<br />
Boa leitura!<br />
Editorial<br />
Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />
Diretor da Faculdade de Administração da FAAP<br />
Editor da <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />
7
8<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Comportamento do consumidor livre<br />
de energia elétrica: pesquisas ano<br />
2007 e ano 2010<br />
Ana Lúcia Rodrigues da Silva *<br />
Fernando Amaral de Almeida Prado Jr. **<br />
Resumo: O trabalho apresenta a evolução<br />
do comportamento do consumidor<br />
livre de energia elétrica verificado nos<br />
anos de 2007 e 2010. Para identificação<br />
desse comportamento a metodologia<br />
empregada foi a de pesquisas primárias<br />
qualitativa e quantitativa, utilizando respectivamente<br />
a técnica de grupo de foco<br />
e questionários estruturados. Foram pesquisados<br />
os clientes dos mais diferentes<br />
ramos de atividade e localização geográfica.<br />
Os aspectos selecionados e contemplados<br />
na pesquisa são características<br />
referentes à compra de energia; gestão<br />
dos contratos; valor declarado da energia<br />
elétrica; ciclo de vida do cliente no mercado<br />
livre; sensibilidade comparativa de<br />
preços; imagem percebida do fornecedor<br />
de energia; pontos fortes e fracos dos diferentes<br />
players, além de aspectos associados<br />
à energia e mudanças climáticas.<br />
Palavras-chave: Mercado Livre. Mercado<br />
Regulado. Energia Elétrica. Pesquisa de<br />
Comportamento do Consumidor.<br />
Abstract: This work discusses the evolution<br />
of the behavior of the electric energy<br />
free consumer verified in the years<br />
of 2007 and 2010. In order to identify<br />
this behavior, the methodology applied<br />
were primary qualitative and quantitative<br />
researches, using respectively the<br />
technique of focus group and structured<br />
questionnaires. Customers from<br />
the most different industries and geographic<br />
locations were surveyed. The<br />
selected and featured aspects of the<br />
research are characteristics referring<br />
to purchase of energy, management of<br />
contracts, declared value of the electricity,<br />
client life cycle in the free market,<br />
comparative price sensitivity, perceived<br />
image of the energy suppliers;<br />
strengths and weaknesses identified<br />
on different players, as well as aspects<br />
related to energy and climate change.<br />
Keywords: Free Market. Regulated<br />
Market. Electric Energy. Consumer Behavior<br />
Research.<br />
* Física, mestre, doutora e pós doutora em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP, autora dos<br />
livros “Monografia Fácil: ferramentas e exercícios”; “Marketing Energético” e “Comportamento do Grande Consumidor<br />
de Energia Elétrica”. Sócia da Sinerconsult Consultoria e Treinamento, Professora da Fundação Armando<br />
Alvares Penteado. E-mail: ana@sinerconsult.com.br.<br />
** Engenheiro civil, mestre e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP. Professor Doutor<br />
da Escola Politécnica da USP, onde realizou seu pós-doutorado. Sócio da Sinerconsult Consultoria e Treinamento.<br />
E-mail: fernando@sinerconsult.com.br.<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />
9
Introdução<br />
O mercado livre de energia elétrica no Brasil, institucionalizado na Lei 9074/95 propiciou<br />
que em 1999, a Carbocloro se tornasse a primeira empresa a adquirir eletricidade<br />
a partir da livre negociação. Em 2007, após oito anos de vigência do Ambiente de Contratação<br />
Livre (ACL), poucas informações estruturadas existiam sobre os agentes que<br />
nele participavam e suas necessidades.<br />
Neste período de vigência do ACL o mercado de energia elétrica vivenciou períodos<br />
de desequilíbrio entre oferta e demanda, onde a escassez e a oferta abundante de<br />
eletricidade ocasionaram variações bruscas no preço desse insumo, especialmente o<br />
preço no mercado spot.<br />
Após o período de racionamento (01.06.2001 à 28.02.2002), a normalização do suprimento<br />
de energia elétrica foi acompanhada por um novo desequilíbrio entre oferta<br />
e demanda, onde as sobras de energia provocaram uma acentuada redução nos preços<br />
praticados no mercado livre.<br />
A atratividade decorrente dos preços reduzidos no ACL provocou um período de<br />
grande adesão de clientes nesse ambiente, o que vem se alterando ao longo dos anos.<br />
A busca pela maior compreensão das necessidades dos clientes livres e de sua satisfação<br />
frente às experiências vivenciadas no ACL é uma necessidade dos agentes que<br />
participam desse mercado, o que representa um desafio frente à falta de informações<br />
sistematizadas sobre esse tema, muitas vezes justificada pelos critérios de confidencialidade<br />
dos contratos.<br />
Diante desse contexto, no ano de 2007 foi realizada uma pesquisa de mercado para<br />
levantar informações primárias sobre esses clientes, informações estas que ajudam no<br />
entendimento do comportamento do consumidor livre de energia, bem como suas<br />
necessidades no mercado livre. Essa pesquisa foi atualizada em 2010 e a análise comparativa<br />
de ambas constitui o presente trabalho.<br />
1 Metodologia de Pesquisa<br />
O conhecimento do comportamento do consumidor livre de energia elétrica foi<br />
verificado em dois diferentes momentos, em 2007 e 2010. Para tanto, foram utilizadas<br />
pesquisas qualitativas (duas reuniões de grupo de foco) e quantitativas com questionários<br />
estruturados. A amostra de clientes foi identificada no universo dos agentes cadastrados<br />
na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).<br />
Complementando o conhecimento identificado em 2007, nova pesquisa foi realizada<br />
junto aos clientes livres de energia. Essa nova pesquisa realizada em 2010 utilizou o<br />
mesmo questionário de pesquisa, de tal forma que uma evolução comparativa pudesse<br />
ser estabelecida, acrescentando apenas novos questionamentos que naquela pri-<br />
10<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
meira versão não se apresentaram como necessários. As duas pesquisas envolveram os<br />
mais diferenciados ramos de atuação, bem como diferentes localizações geográficas.<br />
Em 2007, foram realizadas 53 entrevistas que representaram um erro amostral inferior<br />
a 5% e um intervalo de confiança superior a 95%. A técnica empregada foi entrevista<br />
telefônica e o questionário foi composto por 20 questões de diferentes características.<br />
Na segunda pesquisa realizada no ano de 2010 foi utilizado o mesmo questionário<br />
empregado em 2007, porém foram acrescidas mais três novas perguntas, sobre a alteração<br />
das regras de responsabilidade sobre os equipamentos de medição; o interesse<br />
em negociar sobras ou faltas de energia com outros clientes livres, os impactos das<br />
mudanças climáticas nas empresas e a propensão destas em investir mais recursos na<br />
aquisição de energias ambientalmente mais sustentáveis. A aplicação do questionário<br />
em 2010 foi feita on-line e auto-respondente.<br />
A realização da pesquisa ocorreu no período de 1º de maio a 15 de junho de 2010.<br />
Nesse período foram realizadas 38 pesquisas, sendo quinze pesquisas a menos do que<br />
a amostra utilizada na pesquisa de 2007. Esse resultado implica um erro amostral de<br />
15,6%, o que pode ser atenuado na medida em que o número de agentes na CCEE não<br />
representa igual número de clientes, pois em vários casos, existe um mesmo cliente<br />
representando vários agentes, como bem exemplifica os casos da Nestlé do Brasil e do<br />
Grupo Pão de Açúcar. Ambos participantes da pesquisa e que contabilizam, cada um<br />
deles, seis agentes na relação da CCEE, ou seja, apenas nesses dois exemplos totaliza-se<br />
12 agentes e não apenas 2, conforme computado para cálculo do erro amostral.<br />
Os principais resultados estão aqui apresentados com suas respectivas análises e<br />
pontos de atenção.<br />
2 Gestão do Contrato de Energia Elétrica<br />
As atividades internamente realizadas com maior intensidade são acompanhamento<br />
do consumo de energia e das curvas de carga contratada e realizada e o<br />
acompanhamento dos preços no curto, médio e longos prazos. As atividades mais<br />
realizadas por parceiros externos foram à análise das quantidades de energia elétrica<br />
contabilizadas na CCEE e dos valores econômicos resultantes, acompanhamento<br />
do contexto de curto prazo visando otimizar a produção, além do acompanhamento<br />
dos preços da energia elétrica.<br />
A principal atividade mencionada como não realizada foi o acompanhamento das<br />
operações de curto prazo no mercado de energia elétrica, visando identificar oportunidades<br />
de otimização.<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />
11
3 Perfil de Contratação e Práticas Adotadas<br />
As principais práticas das empresas pesquisadas são a busca por maior eficiência,<br />
pela contratação integral da energia necessária e também foram identificados casos de<br />
contratação de quantidades declaradas de energia inferiores ao consumido com eventuais<br />
riscos assumidos pelo cliente.<br />
Comparando os resultados de 2007 e os de 2010, verifica-se uma redução no interesse<br />
por ações de eficiência energética, porém apesar desta redução, o tema permaneceu<br />
nesta última pesquisa como o segundo tema de importância totalizando 18,1%<br />
dos casos, enquanto que os demais perfis de contratação identificados foram:<br />
12<br />
• Contratar integralmente a energia necessária aumentou para 21%;<br />
• Contratar a energia por quantidade declarada, quando estiver sujeito a riscos assumidos<br />
pelos clientes, reduziu-se de 16% para 8%.<br />
Verifica-se também o aumento do acompanhamento dos custos de outras alternativas<br />
energéticas, bem como da legislação setorial, o que indica elevação da curva de<br />
aprendizagem desses clientes.<br />
4 Responsáveis pela Compra de Energia<br />
A responsabilidade interna pela compra de energia sofreu várias alterações quando<br />
se compara as duas pesquisas. Anteriormente a opção “outros” era a mais citada, o que<br />
indicava uma grande diversidade de responsabilidade pela compra, o que pode ser<br />
explicado pelo aspecto inovador da atividade, cuja responsabilidade ficava diluída na<br />
estrutura empresarial existente na época.<br />
Após três anos, a pesquisa aponta uma valorização da área de suprimento e compras,<br />
que antes representava 17%, e agora 38%, como também da área específica de<br />
energia antes responsável por 15%, e em 2010, alterou-se para 31%. A participação da<br />
gerência de manutenção diminuiu de 17% para 13%, enquanto que na engenharia a<br />
redução foi de 19% para 9%.<br />
Os responsáveis no âmbito externo para a compra de energia também sofreram<br />
alteração nas duas pesquisas. Em 2007, a comercializadora independente, a consultoria<br />
independente e a comercializadora vinculada à distribuidora foram os três agentes<br />
mais mencionados como responsáveis no processo de aquisição de energia.<br />
Em 2010 esse quadro também se alterou: a consultoria aumentou sua participação<br />
para 34,4% (antes 28,3%), enquanto as comercializadoras de toda natureza (independente,<br />
vinculada à geradora e à distribuidora) diminuíram a sua participação de 49,1%<br />
para 40,7%. As geradoras aumentaram a sua participação de 3,8% para 9,4% na responsabilidade<br />
externa pela compra de energia.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
5 Responsáveis pela Administração do Contrato de Energia<br />
Os responsáveis pela administração do contrato no âmbito interno no ano de 2007<br />
eram: engenharia (24,5%), participação conjunta de várias áreas – denominada “outros”<br />
(22,6%) e manutenção (15,1%). Em 2010, aparece como principal responsável interno a<br />
área específica de energia (antes com 15,1% e agora com 31,3%), na segunda posição<br />
está a manutenção com 21,9% (antes 15,1%).<br />
Verifica-se na responsabilidade pela administração de contrato, o mesmo que ocorreu<br />
com a responsabilidade interna pela aquisição de energia, ou seja, o fortalecimento<br />
da área específica de energia nas organizações participantes do mercado livre.<br />
No âmbito externo, os principais responsáveis pela administração do contrato em<br />
2007 foram: comercializadora independente ou consultoria independente. Em 2010<br />
verifica-se um aumento da participação da consultoria independente de 26,4% para<br />
37,9%, uma redução da participação geral das comercializadoras (independente, ligada<br />
a geradora ou distribuidora), que antes totalizava 49,1% e em 2010 totalizou 41,9%.<br />
6 Responsáveis pela Representação do Cliente junto à CCEE<br />
Em 2007, a comercializadora independente teve a maior participação, seguida pela<br />
comercializadora vinculada à distribuidora de energia elétrica e pela própria empresa. Em<br />
2010 se verifica uma diminuição da participação das comercializadoras, antes totalizavam<br />
64% e em 2010 representam 50% da representação do cliente junto à CCEE. A representação<br />
pelo próprio cliente aumentou em 2010, passando de 15% para 19%. Outro agente<br />
que aumentou sua participação foi a consultoria independente, antes com 13% e em<br />
2010 foi para 22% na participação da representação do cliente junto a CCEE.<br />
Um aspecto explorado foi a percepção do cliente frente à situação na qual a representação<br />
junto à CCEE está sob responsabilidade do mesmo fornecedor de energia.<br />
Essa pergunta foi respondida não apenas pelos clientes que estavam nessa situação<br />
como também pelos demais clientes participantes da pesquisa. Em 2007, uma quantidade<br />
expressiva dos clientes (29,6%) entendia que isso facilita a gestão devido à centralização<br />
das informações, enquanto que 23,9% percebem que podia haver conflito de<br />
interesse enquanto a mesma quantidade de clientes se posicionava pelo entendimento<br />
que isso facilitava a gestão no fechamento do mês junto à CCEE.<br />
Na pesquisa de 2010, as três respostas continuaram como mais citadas, porém ocorreu<br />
uma inversão na ordem relativa entre elas. A resposta mais citada identifica conflito<br />
de interesse quando a representação é feita por quem vende energia (28,3% dos respondentes<br />
em 2010, antes era 23,9%). Observa-se também uma redução na percepção<br />
dos benefícios da centralização pela facilidade de ser o mesmo fornecedor, pois antes<br />
essa resposta foi mencionada por 29,6% dos respondentes, sendo em 2010, um total<br />
de 20%. A percepção de facilidade junto a CCEE apresentou pequena redução, antes de<br />
23,9% para 21,7% em 2010.<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />
13
7 Participação da Energia Elétrica no Custo de Produção<br />
Verifica-se que 39,6% dos respondentes em 2007 identificavam a participação de<br />
energia elétrica entre 5 a 15%. Em 2010 esse valor aumentou para 45,9% dos respondentes.<br />
Em 2007, 22,6% declaram que essa participação era superior a 25%, e em 2010<br />
essa faixa de respondentes diminuiu para 10,8%. Em 2010, 24,3% dos clientes que responderam<br />
a pesquisa consideram a energia elétrica menor que 5% no custo de produção,<br />
em 2007 esse valor era de 17%.<br />
Essas alterações permitem verificar que o perfil das amostras utilizadas nas duas<br />
pesquisas é diferente quanto à participação da energia elétrica no custo de produção.<br />
Em 2010, o perfil dos respondentes da pesquisa não eram eletrointensivo, pelo contrário,<br />
a energia elétrica representava no máximo 15% dos seus custos de produção, o que<br />
totalizou 70,2% das respostas.<br />
8 Importância Declarada da Energia Elétrica<br />
A pesquisa classifica a importância da energia elétrica na empresa pesquisada quando,<br />
em 2007, 92,5% consideravam a mesma de elevada importância, em 2010, um percentual<br />
menor dos respondentes atribuiu elevada importância a energia (86,5%). Vale<br />
destacar que em ambas as pesquisas, 100% dos respondentes classificaram a energia<br />
com elevada ou média importância para a organização.<br />
9 Principal Valor Representado pela Energia Elétrica<br />
O principal atributo representado pela energia elétrica para o cliente entrevistado<br />
foi apurado, onde se verificou em 2007 que o preço (46% dos respondentes) e a continuidade<br />
de fornecimento (42% dos respondentes) são os dois principais valores declarados<br />
e desejados.<br />
Como essa questão só permite uma única alternativa de resposta e como o preço<br />
era um dos atributos avaliados, os demais itens representaram baixa incidência de resposta,<br />
ou seja, 4% em cada uma das demais alternativas.<br />
Em 2010, observa-se que os dois valores principais associados à energia refere-se<br />
a sua qualidade técnica, respectivamente sem interrupções (46%) e sem oscilação de<br />
tensão (22%), já o preço foi escolhido por 22% dos respondentes, valor este inferior aos<br />
46% auferidos em 2007.<br />
Esse resultado demonstra uma valorização maior da qualidade da energia em relação<br />
ao seu próprio preço. Porém, vale ressaltar que a escolha entre o ambiente livre e<br />
regulado de contratação de energia não altera sua qualidade técnica, visto que esses<br />
parâmetros dependem dos sistemas elétricos da distribuidora.<br />
14<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
10 Análises dos Diferentes Serviços Associados à Energia Elétrica<br />
Uma questão específica verificou entre diferentes tipos de serviços, qual o cliente<br />
possui, e sua importância sempre na percepção do cliente. Complementando essa pergunta,<br />
o entrevistado declarava o interesse pelos serviços mencionados, separando-<br />
-os na modalidade grátis e pago. Finalizando os objetivos da pergunta, o cliente ainda<br />
identifica, para os mesmos serviços, se não há interesse em recebê-lo do seu fornecedor<br />
de energia.<br />
A Tabela 1 consolida as quatro análises onde se evidenciou os serviços mais elencados<br />
pelos clientes pesquisados nos anos de 2007 e 2010. É possível verificar uma<br />
consistência e permanência no enquadramento da maioria dos serviços avaliados na<br />
pesquisa. Ressalta-se uma mudança mais significativa na importância percebida da representação<br />
da CCEE (que diminuiu em 2010) e no interesse por auditoria energética<br />
(que aumentou em 2010).<br />
Tabela 1 - Serviços selecionados pelos clientes - Quadrantes de interesse – 2007/2010<br />
Interessa Grátis<br />
Tem e não é<br />
Importante<br />
• Eventos Técnicos 2007/2010.<br />
• Acesso à Especialista 2007/2010.<br />
• Reuniões Clientes Livres 2007/2010.<br />
• Treinamento do Cliente 2007/2010.<br />
• Modelo de Fatura 2007/2010.<br />
• Data de Pagamento 2007/2010.<br />
• Flexibilidade para Games 2007.<br />
Fonte: Autores do artigo.<br />
11 Renovações de Contratos no ACL<br />
• Treinamento do Cliente 2007.<br />
• Manutenção de equipamentos 2007.<br />
• Acesso ao Grupo de Especialistas<br />
2007/2010.<br />
• Compartilhamento de sobras e<br />
Déficits de Energia 2007/2010.<br />
• Eventos Técnicos 2007/2010.<br />
• Auditoria Energética 2010.<br />
• Manutenção de equipamentos<br />
2007/2010.<br />
• Representação na CCEE 2007.<br />
• Informações On-line 2007/2010.<br />
• Flexibilidade para Games 2010.<br />
A experiência com renovação de contratos, no ano de 2007, já havia ocorrido<br />
para 53% dos entrevistados, enquanto que 47% ainda não tinham realizado nenhuma<br />
renovação contratual. Na pesquisa realizada em 2010 essa realidade foi<br />
alterada, visto que 76% dos clientes entrevistados já vivenciaram a renovação de<br />
contrato no ACL, o que caracteriza a amostra como mais experiente na análise dos<br />
questionamentos realizados.<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />
Interessa Pago<br />
Tem e é<br />
Importante<br />
15
12 Interesse de Retorno ao Ambiente de Contratação Regulada – ACR<br />
Em 2007, apenas 19% responderam de forma afirmativa que haviam pensado em<br />
retornar para o Ambiente de Contratação Regulada (ACR), a maioria (81%) não tinha<br />
interesse em retornar ao ACR naquela ocasião. No ano de 2010 ocorreu um aumento<br />
significativo nessa intenção de retorno, visto que 60,5% responderam afirmativamente<br />
a essa questão.<br />
13 Motivos do Interesse de Retorno ao ACR<br />
No caso das respostas afirmativas para a intenção de retornar ao ACR, o cliente destacou<br />
em 2007 os seguintes motivos: o preço com baixa atratividade, a possibilidade de<br />
ficar descontratado e a maior segurança no mercado cativo. Na pesquisa realizada em<br />
2010, as três alternativas igualmente citadas (22%) foram: preço com baixa atratividade,<br />
possibilidade de ficar descontratado e descontentamento com o fornecedor.<br />
Comparando os dois resultados verifica-se que a maior segurança no mercado cativo<br />
perdeu posição, antes representava 20% e em 2010 apenas 6% das respostas, desmistificando<br />
alguns medos existentes na fase inicial do ACL. O descontentamento com<br />
o fornecedor aumentou de 7% em 2007 para 22% em 2010, o que possivelmente foi<br />
intensificado com a maior convivência e relacionamento entre os agentes no ACL.<br />
14 Motivos do Interesse em Permanecer no Ambiente de<br />
Contratação Livre – ACL<br />
No caso das respostas negativas quanto ao interesse de retorno ao ACR, o cliente<br />
destacou em 2007 os seguintes motivos: a previsibilidade e o controle sobre os preços<br />
de energia (29,2%) e os índices negociáveis de reajustes (15,3%). A terceira posição foi a<br />
alternativa “outros” que reúnem explicações também associadas à redução do custo e<br />
controle sobre os preços.<br />
Em 2010, os dois primeiros motivos já apontados permaneceram entre as três alternativas<br />
mais citadas, inclusive a previsibilidade de preço permaneceu em primeiro<br />
lugar e aumentou para 35,3% das respostas, enquanto a alternativa “flexibilidade de<br />
negociação das quantidades de energia” foi a segunda mais citada, com 20,6% das respostas.<br />
O índice de reajustes negociáveis ficou em 3º lugar com 14,7% das respostas<br />
em 2010.<br />
15 Diferença Atrativa de Preços de Energia<br />
A diferença mínima de preço que justifica a permanência no mercado livre, na comparação<br />
com o mercado cativo foi avaliada, onde em 2007 se identificava ainda a necessidade<br />
de diferenças significativas, como acima de 13% (32,7% das respostas) e até 12%<br />
16<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
(21,2% das respostas) para a permanência no ACL, embora alguns clientes declararam<br />
interesse mesmo com diferenças menores. Em 2010, verifica-se um maior percentual<br />
de respostas para diferenças menores de preço entre os dois mercados, como até 9%,<br />
com 22,2% das respostas e até 6%, com 16,7% das respostas. Isso permite identificar<br />
uma alteração de sensibilidade comparativa de preço, ou seja, mesmo para diferenças<br />
menores entre os mercados ACL e ACR a atratividade do mercado livre se mantém para<br />
muitos clientes pesquisados em 2010, o que não ocorria na mesma proporção em 2007.<br />
Isso se deve, principalmente, à maturidade do mercado, onde situações de preços<br />
de elevada atratividade não são realidades constantes no mercado livre, como era na<br />
ocasião da primeira pesquisa.<br />
16 Estratégias para a Permanência no ACL<br />
As estratégias que serão adotadas pelo cliente no caso de permanência no mercado<br />
livre foram em 2007: a realização de um leilão de compra (26,8%) e a manutenção do<br />
fornecedor atual (22,7%). Isso demonstrava, em 2007, a resistência de alguns clientes<br />
em experimentar novos fornecedores.<br />
Na pesquisa realizada em 2010, a manutenção do fornecedor foi reduzida de 22,7%<br />
para 11,7%, sendo as duas alternativas de estratégias mais citadas: realização de um leilão<br />
de compra com o máximo possível de fornecedores e a solicitação de cotação para<br />
alguns fornecedores, ambas com 25% de respostas.<br />
Acredita-se que a maior maturidade dos participantes no ACL permita arriscar mais,<br />
o que diminuiu a fidelização ao fornecedor frente a uma melhor oferta de solução para<br />
o suprimento de energia.<br />
17 Parceiros para a Permanência no ACL<br />
Os parceiros preferidos para a fase de identificação das alternativas para renovação<br />
de contrato eram em 2007: a comercializadora (30,8%) e o consultor/especialista<br />
(29,5%) independentes. Observa-se que os parceiros mais citados nas duas pesquisas<br />
permanecem os mesmos, porém a comercializadora independente diminui sua participação<br />
para 24,6% dos respondentes. O primeiro lugar, em 2010, ficou com a escolha<br />
de uma especialista/consultor independente, que manteve nas duas pesquisas o percentual<br />
em torno de 29%.<br />
18 Ausência de Proposta para Renovação de Contrato<br />
Uma pergunta específica foi feita para identificar como o cliente vê a situação na<br />
qual um fornecedor de energia atuante no mercado não apresente uma proposta no<br />
momento de renovação do contrato de seu cliente.<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />
17
Em 2007, 24,1% dos clientes preferiam que o fornecedor apresentasse uma proposta,<br />
mesmo que ela não fosse competitiva, enquanto que 20,3% entendiam que são<br />
regras do mercado e 19% declarou que o fornecedor não teve consideração, o que representava,<br />
para esses clientes, restrições para a contratação desse fornecedor.<br />
Em 2010, 41,2% respondeu que o fornecedor deveria ter apresentado uma proposta<br />
mesmo que não competitiva. Isso representou um aumento significativo, quando<br />
comparada a primeira pesquisa. Em compensação, diminuiu o número de respostas de<br />
19% para 11,8% de que o cliente não teve consideração e, portanto, sofreria restrições<br />
em novas contratações.<br />
19 Referência Comparativa de Preço para Renovação Contratual<br />
Em 2007, 43% dos clientes consideravam como referência comparativa para a análise<br />
de atratividade a tarifa do mercado cativo e 30% os preços praticados no mercado<br />
livre. O preço praticado no contrato atual foi mencionado por 19%, enquanto que as<br />
demais alternativas não demonstram representatividade.<br />
Em 2010, a comparação com os preços praticados pelo mercado livre foi escolhida<br />
por 54% dos respondentes, enquanto que a comparação com a tarifa do mercado cativo<br />
foi mencionada por apenas 22%, valor inferior aos 43% apontados em 2007.<br />
Essa alteração reflete a tendência do cliente em comparar as novas propostas de<br />
preços do mercado livre, com os já praticados nele. A comparação com o ACR, embora<br />
exista, é menos natural em horizontes maiores de tempo. Isso decorre do próprio ciclo<br />
de vida do cliente no ACL e do seu decorrente aculturamento, pois a decisão não se<br />
trata mais de escolher entre sair ou não do ACR.<br />
20 Aporte de Garantias Financeiras e sua Importância para o Cliente<br />
Considerando a garantia financeira exigida no contrato de compra de energia, o<br />
que não inclui as garantias exigidas pela CCEE, foi verificado se o cliente apresentou<br />
garantias ao seu fornecedor de energia elétrica, bem como, se ele tem dificuldades em<br />
apresentar garantias, e a sua disposição em pagar um valor adicional para não ter que<br />
fornecer essas garantias.<br />
Comparando os resultados auferidos em 2007 e 2010, verifica-se um aumento do<br />
número de clientes que fizeram aporte de garantias (de 50,9% em 2007 para 78,4% em<br />
2010); uma diminuição no percentual de clientes que declararam dificuldades para realizar<br />
o aporte de garantias junto ao fornecedor de energia antes de 17%, em 2007, para 11% em<br />
2010. Ocorreu um aumento de 2% para 16% no número de respondentes que manifestaram<br />
interesse em pagar um valor adicional por MWh para não apresentar garantias.<br />
18<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
21 Perfil Desejado do Fornecedor de Energia<br />
O perfil desejado para o fornecedor de energia no ACL foi investigado e verificou-se<br />
que 27,7% dos clientes preferiam os grandes geradores, 15,7% eram indiferentes, seguidos<br />
igualmente pelas comercializadoras independente ou vinculada ao gerador, que<br />
representavam cada uma, 14,5% da preferência dos entrevistados em 2007. Em 2010<br />
se percebe uma menor diferença entre as quatro primeiras opções de fornecedores de<br />
energia, sendo: grande gerador e comercializadora independente (ambos com 21,6%)<br />
e pequeno gerador e comercializadora vinculada ao gerador (ambos com 18,9%).<br />
Destaca-se que a comercializadora vinculada à distribuidora, em ambas as pesquisas,<br />
ficou na última posição, com 12% e 8,1% respectivamente nos anos de 2007 e 2010.<br />
22 Atributos Desejados do Fornecedor de Energia<br />
Os atributos preferidos em 2007 para um bom fornecedor de energia foram: flexibilidade,<br />
preço menor e ser uma empresa responsável de modo socioambiental. Em 2010<br />
não houve alteração nos três primeiros classificados, porém identifica-se um aumento<br />
da escolha do requisito “empresa com certificação de qualidade”, de 3,9% dos respondentes<br />
em 2007 para 12,9% dos respondentes em 2010.<br />
23 Pontos Fortes e Fracos da Distribuidora e do Fornecedor de<br />
Energia e do Agente Representante junto a CCEE<br />
Essa questão teve como característica a pergunta aberta, onde os respondentes<br />
identificaram até dois pontos fortes e dois pontos fracos dos parceiros (distribuidora de<br />
energia, fornecedor de energia no ACL e representante da empresa junto à CCEE). Nem<br />
todos os clientes identificaram todos os pontos solicitados, nem abordaram todos os<br />
parceiros, porém as respostas possibilitam conhecer os principais atributos positivos e<br />
negativos de cada um deles.<br />
A pesquisa de 2010 teve um número menor de pontos fortes e fracos, e isso se deve<br />
principalmente pela metodologia do questionário auto-respondente, enquanto que,<br />
em 2007, a pesquisa utilizou a técnica de entrevista telefônica, sendo mais favorável<br />
para insistir na alocação dos pontos fortes e fracos dos agentes setoriais analisados.<br />
Para o agente distribuidor os resultados obtidos foram:<br />
• Principais pontos fortes em 2007: atendimento, qualidade da energia e flexibilidade.<br />
Em 2010: atendimento, grupo sólido e estrutura adequada;<br />
• Principais pontos fracos em 2007: inflexibilidade, baixa qualidade da energia e preço<br />
alto. Em 2010: inflexibilidade, baixa qualidade da energia e atendimento inadequado/pós-venda.<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />
19
20<br />
Para o agente fornecedor de energia os resultados obtidos foram:<br />
• Principais pontos fortes em 2007: flexibilidade, cumprimento do contrato e preço<br />
atrativo. Em 2010: flexibilidade e preço atrativo;<br />
• Principais pontos fracos em 2007: inflexibilidade, relacionamento ruim ou ineficiente,<br />
burocracia e morosidade. Em 2010: inflexibilidade, relacionamento ruim ou<br />
ineficiente, preço e falta de transparência.<br />
Para o agente representante junto à CCEE os resultados obtidos foram:<br />
• Principais pontos fortes em 2007: atendimento e estrutura adequada, segurança,<br />
confiança e agilidade. Em 2010: atendimento, estrutura adequada e comodidade;<br />
• Principais pontos fracos em 2007: assessoria ruim, insatisfações técnicas, atendimento<br />
e relacionamento inadequados, conflito de interesses. Em 2010: atendimento<br />
e relacionamento inadequados, conflito de interesses, morosidade e falha<br />
no envio das faturas.<br />
Na análise dos pontos fortes e fracos dos agentes, não raramente se percebe um<br />
mesmo item classificado com destaque tanto como ponto positivo, como negativo.<br />
Pelo fato de essa pergunta ser aberta, os respondentes, tanto em 2007, como em 2010,<br />
destacaram os itens de maior percepção e lembrança para eles. A incidência de atributos<br />
iguais nos pontos fracos e fortes ilustra a elevada atenção provocada por estes na<br />
percepção dos clientes, tanto quando ele é bem provido, como quando não o é.<br />
24 Novas questões – Pesquisa 2010: Alteração das Regras de<br />
Responsabilidade pela Medição, Negociação de Eventuais<br />
Excedentes ou Faltas de Energia e Mudanças Climáticas<br />
Na realização da segunda pesquisa que tinha como objetivo atualizar os resultados<br />
apurados no ano de 2007 se verificou que três importantes pontos precisavam ser incluídos<br />
nela, sendo: análise da percepção do cliente frente às alterações das regras de responsabilidade<br />
pela medição, possibilidade de negociação de eventuais excedentes ou faltas<br />
de energia e, por fim, a influência das mudanças climáticas nas decisões energéticas.<br />
As alterações das regras de responsabilidade pela medição foram indiferentes<br />
para 34% dos respondentes, enquanto que 18% alegaram não terem informações<br />
sobre o tema ou acharam injusta essa alteração com os clientes que migraram<br />
antes. Os clientes que manifestaram o ingresso ao mercado livre em decorrência<br />
dessa mudança totalizaram 16%, enquanto que 14% mencionaram que novas unidades<br />
aderiram ao mercado livre em função dessa alteração na responsabilidade<br />
sobre a medição. Pelo resultado da amostra, essa alteração beneficiou 30% dos<br />
entrevistados na pesquisa realizada em 2010.<br />
A possibilidade de negociação de eventuais excedentes ou faltas de energia interessa<br />
a 43,3% dos entrevistados, embora, 21,4% se declaram não aptos para negociar<br />
essas diferenças. A intenção de terceirizar essas atividades ocorre em 21,4%<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
dos respondentes, enquanto 16,7% declaram não ter a necessidade de negociar<br />
com outros clientes eventuais sobras ou excedentes.<br />
Aspectos referentes à energia e às mudanças climáticas também foram identificados<br />
na pesquisa de 2010. Utilizando a técnica de “verdadeiro” ou “falso”, verificou-se o<br />
conhecimento sobre o tema, bem como se o respondente acredita ou não nas mudanças<br />
climáticas. A questão também teve o objetivo de avaliar a predisposição dos<br />
clientes livres em buscar alternativas ambientalmente mais atrativas, incluindo o pagamento<br />
de um preço premium maior por essas alternativas.<br />
Entre os resultados obtidos se destacam: 94% acreditam nos impactos das mudanças<br />
climáticas, 77% percebem que as escolhas energéticas têm contribuições significativas<br />
nas mudanças climáticas.<br />
Em relação à disposição em pagar mais caro para uma energia ambientalmente<br />
mais correta se verifica uma adesão de 43%, embora 61% dos respondentes concordem<br />
que a busca pela competitividade impede a empresa de priorizar fontes de energia<br />
mais caras, ainda que melhores do ponto de vista ambiental.<br />
Conclusão<br />
A importância do mercado existente, dos consumidores que compõem esse mercado<br />
e de suas propensões a consumir é inegável, o que atrai interesse, cada vez maior,<br />
pelo pleno entendimento sobre o processo pelo qual se dá o consumo e o comportamento<br />
dos consumidores.<br />
Apesar da necessidade quase que universal da energia, poucos avanços existem no<br />
conhecimento do comportamento de seus consumidores. Isso reflete a atenção insuficiente<br />
despendida pelo setor a estudos que permitam conhecer mais e melhor seus diferentes<br />
clientes. Com o objetivo de contribuir para a diminuição dessa lacuna, este trabalho<br />
procurou coletar, analisar e consolidar informações sobre o comportamento de um<br />
importante grupo de clientes, os clientes inseridos no ambiente livre de contratação.<br />
Essa escolha foi priorizada em decorrência da existência de competição, ou seja, a<br />
maioria desses clientes pode escolher em qual ambiente de contratação deseja permanecer,<br />
o que torna a análise mais complexa e desafiadora.<br />
De modo geral, os clientes pesquisados são empresas que utilizam energia elétrica<br />
e que atribuem a ela uma importância significativa. Clientes de vários Estados da<br />
Federação foram pesquisados, bem como elevada diversidade de ramos de atuação e<br />
modelos de gestão.<br />
As pesquisas quantitativas realizadas em 2007 e 2010 permitem o aprimoramento do<br />
conhecimento sobre o mercado livre de energia, identificando o comportamento dos<br />
clientes livres frente aos principais aspectos desse ambiente de contratação de energia.<br />
Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />
21
Os aspectos selecionados e contemplados na pesquisa são características referentes<br />
à compra de energia; gestão do contrato; representação na CCEE; valor declarado da<br />
energia elétrica; ciclo de vida do cliente no mercado livre; sensibilidade comparativa<br />
de preço; metodologias adotadas e pretendidas; reação frente a situações preestabelecidas;<br />
percepção decorrente da necessidade de garantias exigidas nos contratos de<br />
energia; imagem percebida do fornecedor de energia; pontos fortes e fracos identificados<br />
na distribuidora, no fornecedor de energia no mercado livre e no representante nas<br />
atividades regulamentadas pela CCEE.<br />
Especificamente na pesquisa realizada em 2010, acrescentou-se ainda a verificação<br />
da percepção do cliente frente à alteração da responsabilidade sobre a medição, a atratividade<br />
de permutar sobras ou faltas de energia com outros clientes, além de aspectos<br />
associados à energia e mudanças climáticas.<br />
As informações coletadas permitem aos diferentes agentes do setor energético<br />
explorar a possibilidade de novas segmentações do mercado livre, com base nas experiências<br />
dos clientes que atuam nesse mercado, formatando produtos, serviços e<br />
soluções que representem vantagens competitivas para as empresas e que possam<br />
contribuir de forma virtuosa na melhoria contínua desse ambiente de contratação.<br />
As pesquisas apresentadas possuem limitações como quaisquer pesquisas, pois trabalham<br />
com uma amostra, que apesar de representar estatisticamente o universo, estão<br />
sujeitas à margem de erros; os resultados refletem o momento no qual estas ocorreram,<br />
ou seja, não necessariamente são mantidos ao longo do tempo, entre outros<br />
pontos de atenção.<br />
Essas limitações não invalidam os objetivos deste trabalho, que são: apresentar a<br />
importância do estudo do comportamento do consumidor de energia na formatação<br />
de estratégias empresariais e no aumento da satisfação dos clientes.<br />
Finalizando, é importante ressaltar que conhecimento sem ação tem quase nenhuma,<br />
ou nenhuma utilidade, ou seja, a busca contínua pelo conhecimento do cliente<br />
de energia não é um objetivo final, mas sim uma importante ferramenta que poderá<br />
contribuir na revisão de processos, produtos, serviços e posturas, tornando cada vez<br />
melhor a relação cliente-fornecedor, o que permite um ciclo virtuoso de melhoria contínua<br />
e encantamento dos envolvidos.<br />
22<br />
Referências<br />
SILVA. Ana Lúcia Rodrigues da. Comportamento do Grande Consumidor de Energia Elétrica. São<br />
Paulo: Geodireito, 2011.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Innovation applied to the recovery of<br />
degraded areas by clay extraction through<br />
the installation of fish culture activity in the<br />
region of the sub basin of the upper region<br />
of the Machado River, Rondônia, Brazil<br />
Marcelo Rodrigues dos Anjos *<br />
Francisco Alves de Andrade **<br />
Pamela Monalisa Rodrigues Monte ***<br />
Abstract: The ceramics industry is one of<br />
the main impacting activities regarding the<br />
conservation and watershed management<br />
with the extraction of clay, the raw material<br />
for manufactured goods such as tiles,<br />
bricks, hollow elements among others.<br />
The Pimenta Bueno region located in the<br />
southern cone of Rondônia state is characterized<br />
by a geology named intercalated<br />
shale of the Cacoal Formation, displaying<br />
layered deposits related to this activity. The<br />
existing environmental liabilities, although<br />
being the responsibility of mining companies,<br />
causes conflicts with environmental<br />
managers, generating pressures from society<br />
to restore and establish the compatibility<br />
of the mineral extraction activity and<br />
the environment. Generally, pits originated<br />
from clay extraction are abandoned and<br />
end up being flooded by rainwater or<br />
groundwater, result in small ponds with<br />
depths ranging from 1.5 to 5.0 meters.<br />
The objective of this study is to determine<br />
the feasibility of fish culture as an<br />
alternative activity for the recovery of the<br />
degraded areas in intensive system, as<br />
well as an alternative for income generation,<br />
food safety, in addition to the reuse<br />
of areas previously left as environmental<br />
liabilities. It was used as method the descriptive<br />
research with periodic observation<br />
visits, interviews with questionnaires<br />
prepared with managers and officials of<br />
the studied ceramics industry. As a result<br />
it was observed that the fish culture consists<br />
of an alternative that allows areas to<br />
mitigate environmental liabilities generated<br />
by the extraction of clay. And yet, it<br />
offers a competitive advantage for companies<br />
in this sector since it becomes a<br />
profitable alternative.<br />
Keywords: Technology. Recovery of degraded<br />
areas. Mining activity. Pisciculture.<br />
* Fundação Universidade Federal do Amazonas. Rua 29 de agosto, 786 - CEP: 69.800-000 - Humaitá (AM). Instituto<br />
de Educação Agricultura e Ambiente/Humaitá – Amazonas – Brasil. Phone +55 (97) 3373-1180. E-mail: anjos@<br />
ufam.edu.br.<br />
** Faculdade de Pimenta Bueno. Av. Castelo Branco, 780 - CEP: 76.970-000 - Pimenta Bueno (RO) - Brasil. Phone<br />
+55 (69) 3451-4100.<br />
*** Fundação Universidade Federal de Rondônia – Campus - BR 364, Km 9,5 CEP 76.808-695 - Porto Velho (RO) -<br />
Brasil Phone. +55 (69) 2182-2100.<br />
Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />
23
Introduction<br />
The region of the sub-basin of the upper region of the Machado River, sitting in a geology<br />
named intercaleted shales of the Cacoal Formation, is characterized by sedimentary<br />
deposits related to the mineral extraction, with deposits of clay, sand and gravel<br />
that are close to the consumer market. For Souza et al. (2001) the mineral extraction is<br />
one of the human activities with the largest impact, promoting changes in landscape<br />
and ecosystem dynamics.<br />
Despite that, the state of Rondônia has a department responsible for the environmental<br />
licensing for this activity, State Department for Environmental Development<br />
(SEDAM), which grants this license only to enterprises that meet the legal standards,<br />
legislation and submit environmental restoration projects of the areas upon completion<br />
of mining activities. In the region there are approximately about 70 hectares of<br />
already degraded areas, resulting from mineral exploitation, due to the informal sector,<br />
which eventually facilitates the irregularity of this activity.<br />
The existing environmental liabilities, even though being responsibility of the mining<br />
companies, cause conflicts with environmental managers, generating pressures<br />
from society to restore and establish the compatibility between the mineral extraction<br />
activity and the environment. In this sense, the cultivation of fish in intensive and semiintensive<br />
system has proven to be a good strategy for the recovery of degraded areas<br />
from clay mining in the region and has attracted the interest of mining companies,<br />
since the initial investment is low, given the possibility of the construction of tanks at<br />
the moment of the extraction.<br />
Clay mining process in the production of ceramics<br />
According to DNPM apud Radambrasil (1978) there are registered eight producers,<br />
among suppliers and ceramicists, which, according to data provided, extract 1,545m3<br />
per month. This is an average estimate and the extraction of material occurs mainly during<br />
the dry season, between May and October, when the conditions of access and the<br />
actual exploitation work are facilitated.<br />
The mining method employed in the extraction of clay is usually an open-pit, because<br />
the sedimentary deposits are located very near the surface and are covered by<br />
soil layers of small thickness. The method consists of mechanical dismantling of clay<br />
layers or strips by semicircular arches, using equipment such as wheel loader, excavator<br />
or backhoe, and the choice of the proper equipment depends on the shape and depth<br />
of the clay package. The raw material, after extraction, is temporarily stored in a warehouse<br />
near the mine. After the seasoning process, the clay is transported by truck to the<br />
internal tank of the industry.<br />
In general, mining causes a number of unwanted effects that can be named externalities.<br />
Some of these externalities are: environmental change, land use conflicts,<br />
24<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
depreciation of surrounding properties, generation of degraded areas and urban traffic<br />
disturbances. These same externalities generate conflicts in the community, which<br />
usually originate on the implementation of the project because the developer does not<br />
seek information about the expectations, desires and concerns of residents living near<br />
the mining company (BITAR, 1997).<br />
The distortion of the landscape caused by the opening of the mine front sets up a<br />
substantial impact, almost always being the first one to be noticed in the clay mining<br />
enterprises. It is not just a visual impact but also a geomorphological change expressed<br />
by changes in morphology and in flows of matter and energy existing in the system.<br />
The pit resulting from the extraction of clay and deposits of sterile material alter the<br />
local topographic forms, which can result in a number of other indirect changes, causing<br />
modifications in current morphological processes, such as changing directions of<br />
flows of water runoff, determining that areas under the control of the erosive effects<br />
become environments of deposition and vice versa (COLTURATO, 2002).<br />
According to Brushi and Peixoto (1997), materials released in the extraction process<br />
tend to move around the strands until they reach the river channel, causing siltation.<br />
The increased bed load, in general, echoes in increased bank erosion, once the drainage<br />
tends to seek its equilibrium profile by extending the thalweg in a geometric pattern<br />
more appropriate in order to transport the imputed mass into the system, sometimes<br />
incompatible with its capability.<br />
The sediments are also released by waste dumps without stability arranged in<br />
plots, where the retaining walls are absent or inadequate. In addition, it also degrades<br />
the soil on which it is laid, as well as the existing vegetation that is buried<br />
by the overlying tailings.<br />
Another pressing problem to be considered in mine planning refers to the aeolian<br />
transportation of small size materials ; this property is intrinsic to the sterile clay, when<br />
uncompressed. The particles can sometimes be transported to considerable distances,<br />
beyond the area of the mining influence , thus expanding the spatial extent of impacts.<br />
Fish culture activity as a strategic tool for the recovery of<br />
degraded areas<br />
Mining is a degrading activity and one of the largest contributors to the process of<br />
environmental change, affecting not only the local landscape, but the entire ecosystem<br />
dynamics. Nevertheless, mineral resources are essential inputs and are part of virtually<br />
all human activities.<br />
There are many studies that aim at the recovery of areas degraded by mining. But<br />
when it refers to a line of innovative research, such as the use of armholes for fish production,<br />
it tends to draw the attention of companies. Several study centers have been<br />
Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />
25
esearching this new kind of usage of the degraded areas and have been extremely<br />
supportive of this practice.<br />
Besides being an efficient tool for recovery of these areas, it is also an important<br />
source of production of food, very rich in protein, low production cost and high degree<br />
of environmental response. (PIEDRAS et al., 2005).<br />
Materials and Methods<br />
Location of Area<br />
The area lies between the segments of the parallel of 11 ° to 12 ° S and meridians<br />
61 º 00 ‘to 62 º 00’ WGr (RADAMBRASIL, 1978).<br />
Description of the Area<br />
The study aims at the recovery of an area of 17.65 ha based on the extraction of a<br />
clay - deposit, located in Lot 01, Sector 09 Gleba Baron Melgaço, Pimenta Bueno, the<br />
municipality belonging to Santa Maria Ceramics.<br />
According to Socio-Economic Zoning (ZSE), the area of the mine is located in the<br />
Sub-Area 1.1, has great potential and is already endowed with social infrastructure for<br />
the development of industrial and agricultural activities.<br />
Regarding the morph structure units, the region is classified as the degraded highlands<br />
of the Western Amazonia. The largest area of this morphostructural unit is extended<br />
from the left margin of the Madeira River and the area between the right margin<br />
of the Machado River and the Serra do Machado. These areas are usually made up of<br />
savannah vegetation that covers hydromorphic litters and recent sedimentary lithologies,<br />
from the quaternary (RADAMBRASIL, 1978).<br />
According to the study of Radambrasil (1978), the morph climatic unit that makes<br />
up the area is characterized by interfluvial tabular reliefs and areas where the pediplane<br />
eutrophic Cambisol and red yellow podzolic dominate. The climate of this area is attenuated<br />
termoxeroquimenic. The red-yellow podzolic Alic soils, hydromorphic Alic<br />
laterite, all with clay texture in flat terrain and under vegetation in contact with the Savannah/Open<br />
Forest, give the region the possibility of developing the ceramic industry<br />
because of the great potential of raw material available for this activity.<br />
The drainage of the area is intense, of fine texture and dendritic type. Ji-Parana<br />
River or Machado River rises from the junction of the Melgaço Baron River, also<br />
named Comemoração de Floriano, and Apidiá River, named Pimenta Bueno, in the<br />
Chapada dos Parecis. Its course has a length of 800 kilometers, crossing the cen-<br />
26<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
tral region of the state before debouching into the Madeira River, Calama region,<br />
municipality of Porto Velho. Its tributaries along the right margin are Riozinho,<br />
Lourdes, São João and Tarumã Rivers. The left margin tributaries are the Luiz de<br />
Albuquerque, Rolim de Moura, Ricardo Franco, Black, Jaru, Boa Vista and Urupá<br />
Machadinho Rivers. Its main hydrographic accident, among the various existing<br />
which hinder navigation, is the waterfall 02 de Novembro, located in the Machadinho<br />
do Oeste municipality; all occur in valleys well inserted, except for a segment<br />
of the Roosevelt River, in which a fluvial plain appears (RADAMBRASIL, 1978).<br />
The sub basin of the Upper region of the Machado River is the second in area,<br />
with 10696.8029 km2, behind the sub-basin of the Black River with a total of<br />
11,037.1047 km2, but it is the first in perimeter with a total 809.00 km.<br />
Regarding the stratigraphy of the area it was noted the presence of pebbles<br />
and blocks of various rocks, joined by a mass of brown clay lithostratigraphic; this<br />
region is still composed of chocolate color to green shales, fissile, micaceous, tiny<br />
crystals of pyrite disseminated, interbedded arkoses, brown massive fine to medium<br />
flakes of muscovite and clay minerals.<br />
According to Radambrasil (1978), the physiography of this area is quite diversified<br />
with hills and mountains that continue across the northern border. The coating<br />
surfaces of the crystalline basement are dense forest with cluster of open forest<br />
formations. The gently undulating areas in southwestern and northern portion<br />
sport the Open Forest. To the southeast, a tabular surface stands to reach higher<br />
altitudes, all in its mid-eastern half. It is, however, sometimes quite eroded in crests<br />
as in hills, except in its most northern portion where its table tops, with more than<br />
300 meters in altitude, include the mountain Quatorze de Abril. There is practically<br />
an intercalation from south to north, between the coverage areas of the platform<br />
and the Precambrian crystalline basement. As a consequence, there is a great diversification<br />
on their forest cover (RADAMBRASIL, 1978).<br />
Also, according to Radambrasil (1978), among the reliefs described, a surface<br />
appears flattened due, perhaps, to the accumulation provoked by the Comemoração<br />
River, which cuts it in half. They are areas of eutrophic Cambisol soil covered<br />
by savanna areas and contact of Savannah / Forest areas. In a small segment of<br />
the Roosevelt River, to the south, there is a narrow bent of alluvium that interpenetrates<br />
in two tributaries of the right margin.<br />
Procedures<br />
Resources and procedures used for this study included surveys of databases<br />
from the library of the Brazilian Association of Ceramics at the Library of the Society<br />
of Mining Rondônia (CMR) also, monthly visits on site monthly during the<br />
period of one year in 2006 were performed to identify the nuances of using fish<br />
culture as a strategy for recovery of the degraded areas.<br />
Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />
27
Although there are other companies that perform extraction of clay for the manufacture<br />
of ceramic artifacts in the region, Santa Maria Ceramics in Pimenta Bueno, Rondônia<br />
was chosen as a strategy to restrict the scope of this study since it is a representative<br />
sample of the industry and is subject of a forefront process of complaints because<br />
the use of fish culture in the region. In this regard, data was collected on the production<br />
process involving different items of investment in infrastructure and/or operational.<br />
Data Analysis<br />
The data was analyzed qualitative and quantitatively, as it is an exploratory-descriptive<br />
research. The ordering of the concepts and fundamentals that came from the related<br />
literature sources made it possible to identify processes and methods that are more<br />
convenient to carry out the recovery of the degraded areas for the extraction of clay<br />
through fish culture. The measurements carried out in the field provided a quantitative<br />
assessment of production, thereby constituting a measure of its efficiency, according to<br />
the function for which it was deployed.<br />
Results and Discussion<br />
Considering the various aspects involved in the recovery of degraded areas due to<br />
the extraction of clay, the basic steps and procedures that should guide the work in the<br />
case of ceramic enterprises can be listed (Figure 1).<br />
It was included, among the planning activities involving the entrepreneur, a proper<br />
and careful assessment of the installed degradation. Furthermore, there was the necessary<br />
participation of environmental agencies (IBAMA and SEDAM) legally responsible<br />
for the review, approval and control of the recovery.<br />
The central element in the sequence of steps and procedures tends to be the recovery<br />
plan. The plan fulfills both the role of an instrument of planning and negotiation,<br />
and is potentially capable of integrating and harmonizing during the procedures<br />
of preparation and analysis, solutions that meet the intentions of the entrepreneur and<br />
the duties of public agencies involved.<br />
The approval of the plan promotes the implementation of planned measures, including<br />
those for the installation of the future use of the area.<br />
28<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
No<br />
Figure 1 - Steps and basic procedures in recovering the area of clay extraction<br />
Source: Made by the authors.<br />
STEPS BASIC PROCEDURES<br />
Identication and<br />
characterization of the<br />
degraded area<br />
Recovery Planning<br />
Approval<br />
of recovery<br />
plan?<br />
Yes<br />
Implementation of<br />
recovery plan<br />
Monitoring and<br />
maintenance of recovery<br />
Closure of the mining and<br />
consolidation of land use<br />
Preliminary assessment<br />
of the degradation or<br />
expedient<br />
Implementation of<br />
emergency measures<br />
Commitment of miner<br />
Evaluation of the<br />
degraded areas<br />
Denition of the goals<br />
of the recovery<br />
Elaboration of the<br />
recovery plan<br />
Analysis of the recovery<br />
plan by the Environmental<br />
Implementation of<br />
emergency measures<br />
Inspection of the<br />
measures implemented<br />
Verication of<br />
environmental<br />
Implementation of<br />
additional measures<br />
Stabilization<br />
measures<br />
and future<br />
land use<br />
Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />
29
Topographic remodeling in fish culture aims to systematize the area by providing<br />
the conformation of tanks with varying dimensions. In Santa Maria Ceramics, 11 tanks<br />
were built and the walls were modeled with a maximum tilt of 45 degrees, with grassy<br />
borders to prevent landslides (Figure 2).<br />
The depths of the tanks vary on average from 1.5 m to 2.0 m and its floor and walls<br />
are properly compacted to prevent water loss through seepage. For topographic remodeling<br />
of the study area a track type tractor was used.<br />
Source: Made by the authors.<br />
30<br />
Figure 2 - Diagram of a fish tank<br />
The liming in the tanks was the first thing to be done and it was based on soil analysis<br />
of the tank. The objective was to bring the pH to 7.0 and get a base saturation around 70%.<br />
The amount of limestone used to correct acidity was 80 tons. Liming was carried out three<br />
months prior to the settlement. For fertilization, chicken manure was used (fully tanned) in<br />
the amount of 50 kg / ha and 160 kg / ha of bone flour. All the fertilizer was applied broadcast.<br />
The species used in the process of settlement were native species from the Amazon,<br />
prioritizing the use of those, thereby avoiding the cultivation of exotic species.<br />
Tambaqui (Colossoma macropomum)<br />
The choice of this species was made based mainly on biological qualities and adaptability<br />
to the regional culture, with decisive factors such as: fast growth, hardiness, resist-<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
ance to low levels of dissolved oxygen, high temperatures, handling, disease resistance,<br />
preferably in the consumer market and excellent price. Proven adaptability, once they<br />
are in the rivers of the Amazon, their natural habitat, tambaqui reaches, on average 2.0<br />
kg in a 12-month period, in semi-intensive system which makes the species, together<br />
with other factors, greatly appreciated by the local inhabitants and even adding appeal<br />
to other international markets.<br />
Pirarucu (Arapaima gigas)<br />
The choice of this species is justified because this is one of the main representatives<br />
of the Amazon fish fauna. The red fish, as is known by the Indians, has been considered<br />
the ox of the water, and entitled as the cod of Brazil. The commercial value of this<br />
species relies on its large size and excellent flavor of its meat, especially, marketed as<br />
drought-and salt “in nature”.<br />
With high hardiness, considering the air breathing and high growth rate, these characteristics<br />
were decisive factors for the success of this fish, reaching 10 kg in the period<br />
shape of 12 months and 20 kg on average, with 24 months in semi-intensive system<br />
(SAMPAIO, 2003).<br />
Source: Made by the authors.<br />
Table 1 - Cost of Implementation<br />
Components Unit Quantity<br />
Prices Mar/2007<br />
Unit price Total price<br />
2 – Initial Expenditures<br />
Permit (environmental permit) One 1 510.00 510.00<br />
Project Design One 1 905.00 905.00<br />
Surveying<br />
3 - Equipment<br />
Hectare 5.5 497.00 2,733.50<br />
Trawl net One 1 1,025.00 1,025.00<br />
Kit for Water Analysis<br />
4 – Infrastructure Support<br />
One 1 302.00 302.00<br />
Pipe PN60 150mm (capture) Un 22 37.00 814.00<br />
Knee PVC - 150mm Un 22 69.00 1,518.00<br />
PN80 150mm tube (flow)<br />
5 – Services for Implementation of Nurseries<br />
M 22 30.00 660.00<br />
Service redesign pits h/maq 15 121.00 1,815.00<br />
Supply channel h/maq 5 121.00 605.00<br />
Installation of plumbing Day 4 16.00 64.00<br />
Planting grass and native plants Day 14 25.00 224.00<br />
Total Cost – U$ U$ 11,175.50<br />
Cost per Hectare – U$ U$ 2,031.90<br />
Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />
31
The tanks were randomly populated with specimens of tambaqui (Colossoma macropomum)<br />
and pirarucu (Arapaima gigas). The tambaqui fingerlings had an average<br />
length of 5 cm and an average weight of 100 grams, while the fingerlings of pirarucu<br />
had an average length of 15 cm and an average weight of 300 grams. During the 12<br />
months of experiment, the animals were fed with commercial extruded type food. The<br />
amount of food provided was adjusted by means of biometry performed in 10% of<br />
the population of each tank. Maintenance, transparency, and adjustment of fertilization<br />
were performed using the Secchi disk to 35 cm.<br />
Every 30 days a Biometry was performed to monitor the development of the fish<br />
and to check the weight gain. The program of biometrics and food supply is shown in<br />
Appendix (Table 5).<br />
In relation to food, practically all organisms in the pond contribute with the feeding<br />
of the fish. The greater or lesser number of these organisms influences the production<br />
of fish increasing or decreasing the productive capacity respectively.<br />
Because it is a semi-intensive system, artificial food was administered periodically<br />
and the food used was extruded or floating types. After a year of settlement and with<br />
the weight of 2.0 kg for tambaqui and two years for pirarucu with 20 kg in average, the<br />
removal of the fish was performed with the usage of trawl net, with 25 mm mesh, wire<br />
multifilament nylon No. 18. The Table 1 sets out the costs of deployment for the recovery<br />
of 5.5 ha of degraded area by clay mining by Santa Maria Ceramics.<br />
In Table 2, it is represented the cost of producing a 12-month cycle for the Tambaqui<br />
species and 24 months for Pirarucu species in an area of 5.5 ha of clay extraction.<br />
Results achieved in production<br />
As Table 3 shows, it can be seen that the final biomass gain for the tambaqui species<br />
was 22,400 kg, and for the pirarucu species it was 24,600 kilograms on average. Regarding<br />
the mortality rate, it was 11% for tambaqui species and 18% for the pirarucu species,<br />
thus resulting in a survival of 89% and 82% for Tambaqui and Pirarucu respectively.<br />
32<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Source: Made by the authors.<br />
Source: Made by the authors.<br />
Production and gross revenue reached<br />
The production and gross revenue achieved by fish culture in clay mining pits are<br />
better represented in the Table 4.<br />
Source: Made by the authors.<br />
Table 2 - Cost of production the Tambaqui and Pirarucu species<br />
Components Unit Quantity<br />
Prices Mar/2007<br />
Unit price Total price<br />
A – VARIABLE COSTS<br />
1 – Inputs<br />
Tambaqui fingerlings thousand 14 37.00 518.00<br />
Pirarucu fingerlings thousand 1,5 4,519.00 6,778.50<br />
Limestone T 80 31.00 2.480,00<br />
Extruded Food kg 48.542 0.45 21,843.90<br />
Cow dung<br />
2 – Manpower<br />
Distribution of limestone, people with finger-<br />
kg 275 1.20 330.00<br />
lings, food, control, inspection, daily sampling<br />
of fish and removal of fish (monthly salary<br />
plus 13th salary)<br />
Months 26 325.30 8,458.00<br />
C – TOTAL COST U$ 40,408.40<br />
Species<br />
Table 3 - Representation of the results achieved by the biomass of<br />
tambaqui and pirarucu in clay mining pits in the ceramic Santa Maria<br />
Average Weight<br />
(kg)<br />
initial final<br />
consumption<br />
of food<br />
(food / kg)<br />
food<br />
conversion<br />
(e = food:<br />
fish)<br />
mortality<br />
total<br />
survival<br />
initial<br />
biomass<br />
(kg)<br />
final<br />
biomass<br />
(kg)<br />
Table 4 - Gross revenue reached in the activity of fish culture<br />
Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />
improvement<br />
of biomass<br />
(kg)<br />
Tambaqui 0.2 2 36,512 2:1 2,800 11,200 2,800.00 22,400 19,600<br />
Pirarucu 0.1 20 12,000 3:1 270 1,230 150.00 24,600 24,450<br />
Total 0.3 22 48,542 3,070 12,430 2,950.00 47,000 44,050<br />
Species Production (kg) Selling Price (U$/kg) Gross Revenue (U$)<br />
Tambaqui 22,400 2.40 53,760.00<br />
Pirarucu 24,600 3.91 96,186.00<br />
Total 47,000 6.31 149,946.00<br />
33
Final Considerations<br />
The implementation of this study pointed out the issue of environmental liabilities<br />
arising from the extraction of clay, an important mineral resource for the building industry<br />
in which Brazil is among the largest exporters. As a result of this activity, there<br />
are environmental aspects which end when the exploitation finishes. In this regard different<br />
modes of socioenvironmental impacts take place, according to the nature of the<br />
extracted material and the conditions in which exploitation operations are conducted.<br />
When the mining operations are processed in urban areas, the negative outcomes<br />
are summed up in the physical impacts of a social nature. As the exploratory mode,<br />
mining can trigger air pollution, noise, visual, water resources, affecting the society at<br />
different levels.<br />
The environmental damage takes shape at the close of exploratory practice, which<br />
can occur due to the exhaustion of the deposit, the impossibility of economic exploitation<br />
or the effect of intervention of the government. In this regard, the study searched<br />
to point out the possibility of recovering a specific type of environmental liabilities,<br />
especially the abandoned pits of clay extraction. The outlook takes into account the<br />
predicted stability of the ground and it is simple to carry out and it can be extended to<br />
other similar situations where conditions of physical and chemical stability, layout and<br />
size of the pit are permissible.<br />
Finally, the mining should be assessed in its entirety from the stage of research and<br />
implementation to the recovery phase after exhaustion of the deposit, always taking<br />
into account the externalities that are installed with the production process. The need<br />
to consider the most likely balance possible between mineral exploration and environmental<br />
deterioration constitutes a challenge of prime importance for mining.<br />
The lakes resulting from clay extraction pits by Santa Maria Ceramics have environmental<br />
conditions that allow the cultivation of fish in semi-intensive system. The<br />
tambaqui and pirarucu exhibited satisfactory performance when cultivated in tanks<br />
installed in clay mining pits.<br />
With the recovery of degraded areas by the extraction of clay for the fish culture, the<br />
pressure on fish stocks will be reduced and thus it will contribute to the preservation of<br />
pirarucu and tambaqui species today, threatened of extinction, in the main rivers and<br />
tributaries of the river the Amazon basin.<br />
Other fish species should be evaluated for their productivity when grown in semiintensive<br />
pond in clay mining pit.<br />
After completing the calculations for implantation and production using this model,<br />
it can be seen that this branch of activity has a relatively low initial cost, because it uses<br />
only areas already dug to extract clay. So when it is compared the cost of production<br />
with the sale price of the fish, it is clear that the costs are offset by a good margin.<br />
34<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Considering the hypothesis, it appears that with the implementation of aquaculture<br />
activity it can mitigate areas of environmental liabilities generated by the extraction of<br />
clay. And yet, it presents a competitive advantage for the company as it becomes a profitable<br />
alternative. For the data presented in the activity of fish culture it was achieved<br />
U$ 149,946.00 as gross revenue, U$ 40,408.40 for the total costs and U$ 109,537.60 for<br />
the net earnings.<br />
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BITAR, Omar Yazber. Avaliação da recuperação de áreas degradadas por mineração na<br />
região metropolitana de São Paulo. 1997. 184p. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da<br />
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BRUSCHI, Denise Marilia; PEIXOTO, Mônica Campolina Diniz. Extração de areia, cascalho e<br />
argila: técnicas e controle ambiental. Fundação Estadual do Meio Ambiente, Belo Horizonte,<br />
n.4, 90 p., 1997.<br />
COLTURATO, Silvio César Oliveira. Aspectos e impactos ambientais da mineração de argila<br />
na região de Rio Claro e Santa Gertrudes, SP: Proposta Metodológica para ponderação dos<br />
impactos negativos. 2002. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – IGCE. UNESP. Rio Claro. 2002.<br />
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SAMPAIO, Airton Rebouças. Piscicultura continental: métodos e práticas. Fortaleza: Expressão, 2003.<br />
SOUZA, Patrícia Aparecida; VENTURIN, Nelson; MACEDO, Renato Luiz Grisi et al. Estabelecimento<br />
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Cerne, Lavras, v.7, n.2, p. 43-52, 2001.<br />
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35
36<br />
PROD-<br />
UCT<br />
SIZE<br />
(mm)<br />
Phase<br />
Cultivation<br />
AL 55 Ground Nursery<br />
AL 45 1 e 2 Nursery<br />
TR 36 3 e 4<br />
TR 32 4 e 5<br />
S 128<br />
Growth<br />
S 128<br />
Fattening<br />
S 128<br />
Termination<br />
8 e 9<br />
8 e 9<br />
8 e 9<br />
Rebuilds<br />
Home<br />
Recreates<br />
Final<br />
Fattening<br />
Fattening<br />
and<br />
Termination<br />
Fattening<br />
and<br />
Termination<br />
Source: Made by the authors.<br />
APPENDIX - Table 5 - Program of fish feeding<br />
Weight of Fish (g)<br />
from until<br />
Week of<br />
Cultivation<br />
Daily<br />
meal (%<br />
biomass)<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />
Number<br />
of treatments<br />
per day<br />
Daily<br />
amount<br />
of food<br />
per 1000<br />
fish<br />
Amount<br />
of fish<br />
food to<br />
treat<br />
1,000<br />
fish<br />
0,5 2 1 18 12 225 g 20 g<br />
2 5 2 15 9 525 g 70 g<br />
5 10 3 11,5 9 863 g 75 g<br />
10 20 4 8 8 1200 g 90 g<br />
20 30 5 7 7 1800 kg 250 g<br />
30 45 6 6 5 2.3 kg 450 g<br />
45 70 7 5 5 2.9 kg 575 g<br />
70 10 8 5 5 4.3 kg 850 g<br />
100 130 9 4,5 4 5.2 kg 1.3 kg<br />
130 165 10 4,3 4 6.3 kg 1.6 kg<br />
165 200 11 4,2 4 7.7 kg 1.9 kg<br />
200 240 12 4 3 8.8 kg 2.9 kg<br />
240 285 13 3,7 3 9.6 kg 3.2 kg<br />
285 335 14 3,5 3 10.9 kg 3.6 kg<br />
335 385 15 3 3 10.8 kg 3.6 kg<br />
385 440 16 3 3 12.4 kg 4.1 kg<br />
440 500 17 2,6 3 12.2 kg 4.1 kg<br />
500 560 18 2,3 3 12.3 kg 4.1 kg<br />
560 620 19 2,2 3 12.7 kg 4.2 kg<br />
620 680 20 2,2 3 14 kg 4.7 kg<br />
680 745 21 2,2 3 15.3 kg 5.1 kg<br />
745 810 22 2,2 3 16.7 kg 5.6 kg<br />
810 875 23 2,2 3 18.1 kg 6 kg<br />
875 945 24 2,2 3 19.6 kg 6.5 kg<br />
945 1015 25 2,2 3 21.1 kg 7 kg<br />
1015 1090 26 2,2 3 22.6 kg 7.5 kg<br />
1090 1165 27 2 3 22.6 kg 7.5 kg<br />
1165 1245 28 1,7 3 21.0 kg 7 kg<br />
1245 1330 29 1,7 3 21.2 kg 7.1 kg<br />
1330 1420 30 1,6 3 22.0 kg 7.3 kg<br />
3420 1515 31 1,6 3 22.7 kg 7.6 kg<br />
1515 1610 32 1,4 3 22.5 kg 7.5 kg<br />
1610 1710 33 1,3 3 21.9 kg 7.3 kg<br />
1710 1810 34 1,2 3 21.5 kg 7.2 kg<br />
1810 1915 35 1,1 3 21.2 kg 7.1 kg<br />
1915 2020 36 1 3 19.7 kg 6.6 kg<br />
2020 2125 37 1 3 20.7 kg 6.9 kg<br />
Food intake<br />
per<br />
phase<br />
for 1,000<br />
fish<br />
6.1 kg<br />
22 kg<br />
66 kg<br />
134 kg<br />
452 kg<br />
1,224 kg<br />
1,356 kg
E-learning e aprendizagem significativa<br />
Resumo: Com a globalização as empresas<br />
buscam, cada vez mais, alinhar suas<br />
estratégias às competências e habilidades<br />
de seus profissionais. Para isso elaboram<br />
programas de educação corporativa<br />
e o e-learning pode ser uma das soluções<br />
viáveis para essa finalidade. Mas, para<br />
que seja realmente efetivo, a elaboração<br />
de cursos via e-learning deverá respeitar<br />
vários requisitos na elaboração dos materiais<br />
instrucionais que serão aplicados.<br />
Esse artigo propõe uma metodologia<br />
para a elaboração de materiais instrucionais<br />
para e-learning, baseada na teoria da<br />
aprendizagem significativa de Ausubel.<br />
Palavras-chave: Educação corporativa.<br />
E-learning. Aprendizagem significativa.<br />
Materiais instrucionais.<br />
Introdução<br />
Celi Langhi *<br />
* Doutora e mestre em psicologia da aprendizagem pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.<br />
Mestre em comunicação social pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em didática e pedagoga.<br />
Professora da Faculdade de Administração e do MBA da FAAP. Diretora da Infolearning Projetos Educacionais.<br />
Exerceu cargos de direção em diversas instituições de ensino e também na área corporativa. Trabalho apresentado<br />
no Congresso da ABTD em 07 de dezembro de 2011. E-mail: clanghi@faap.br.<br />
E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />
Abstract: In globalized scenario companies<br />
increasingly seek to align their strategies<br />
to the competencies and skills of<br />
their professionals. To address this need,<br />
they design corporate education programs<br />
in which e-learning can be one of<br />
the feasible solutions for this purpose. But<br />
to be truly effective, the development of<br />
e-learning courses must meet several requirements<br />
in the preparation of instructional<br />
materials that will be applied. This<br />
article proposes a methodology for the<br />
development of instructional materials<br />
for e-learning, based on Ausubel theory<br />
of meaningful learning.<br />
Keywords: Corporate education. Elearning.<br />
Meaningful learning. Instructional<br />
materials.<br />
A expansão de novas tecnologias da informação e da comunicação, e a velocidade<br />
dos fluxos de transações globais intensificou a necessidade de educação continuada<br />
do trabalhador, com ênfase: na formação de competências múltiplas, na solução de<br />
problemas, no trabalho em equipe de modo cooperativo e pouco hierarquizado, na<br />
flexibilidade para adaptar-se a novas funções, na capacidade de aprender a aprender<br />
para gerir e processar informações e atualizar conhecimentos e tecnologias.<br />
O e-learning, ou seja, ensino a distância via Internet, pode ser uma das possibilidades<br />
de se atender a essas novas exigências, principalmente diante da necessidade de<br />
formação de conhecimentos, habilidades e atitudes que compõem as competências<br />
necessárias para organizações e indivíduos que queiram atuar de forma adequada nessa<br />
nova realidade.<br />
37
Atualmente é possível adquirir, de forma fácil e rápida, diversos cursos via Internet,<br />
com os mais variados conteúdos. Muitos desses cursos são gratuitos (por<br />
exemplo: www.sebrae.com.br; www.unicamp.br). Outros cobram taxas que diferem<br />
de acordo com a especialização e profundidade do assunto. É possível fazer<br />
cursos de graduação, mestrado e doutorado totalmente a distância, cursos esses<br />
oferecidos por renomadas instituições de ensino tanto no Brasil (conforme site do<br />
Ministério da Educação) como no exterior (PETERSON’S EDUCATION CENTER, 2010).<br />
Também é possível customizar cursos conforme as necessidades apresentadas<br />
nos planejamentos estratégicos das organizações. Nos últimos anos milhares de empresas,<br />
principalmente as multinacionais, tomaram para si a responsabilidade de formar<br />
seus profissionais, para atuarem em filiais espalhadas em diversos continentes.<br />
O questionamento que se pretende fazer nesse artigo diz respeito à qualidade com<br />
que os materiais instrucionais chegam até os participantes dos cursos. A literatura nacional<br />
e internacional não apresenta muitos estudos sobre o emprego de teorias de<br />
ensino e de aprendizagem na produção desses materiais (LANGHI, 2005), ou seja, a área<br />
científica não tem fornecido muitos subsídios a respeito de como esses materiais devem<br />
ser elaborados para que realmente promovam aprendizagem significativa.<br />
Esse fato foi decisivo para que fosse realizado um estudo sobre quais teorias<br />
de ensino e de aprendizagem podem ser utilizadas na produção de materiais instrucionais<br />
para cursos a distância de forma que realmente se possa garantir que o<br />
participante irá aprender. Após estudar mais de 46 teorias diferentes, foi percebido<br />
que a teoria da aprendizagem significativa proposta por Ausubel et al. (1980) pode<br />
oferecer os subsídios desejados. O texto a seguir é parte dos resultados encontrados<br />
tendo por base as pesquisas que a autora vem desenvolvendo nos últimos dez anos.<br />
1 Algumas considerações sobre o ensino a distância<br />
As diferentes tecnologias incorporadas ao ensino a distância praticamente determinaram<br />
os suportes fundamentais por ela usados ao longo de sua história.<br />
Na primeira geração do ensino a distância prevaleceu o correio físico como o<br />
principal tipo de recurso disponível. Os contatos dos alunos com os professores<br />
eram lentos, tornando inviável qualquer tentativa de propostas dialógicas.<br />
Em sua segunda geração o ensino a distância contou com a integração dos<br />
meios de comunicação audiovisuais com os materiais impressos. Na década de<br />
1980, mais especificamente, houve intensificação dos recursos multimídia, com<br />
várias experiências com tendências homogeneizadoras, ou seja, propostas de cursos<br />
baseados no modelo fordista, com pouca valorização de propostas socioculturais<br />
baseadas nas demandas dos alunos e dos grupos sociais.<br />
38<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Na década de 1990 surge a terceira geração do ensino a distância, principalmente<br />
com o uso da Internet. A incorporação de redes de satélites, o correio eletrônico<br />
e os recursos associados a mídias diversas possibilitou uma maior interação entre<br />
os participantes do processo de ensino e aprendizagem. Nesse momento surge o<br />
termo e-learning.<br />
Atualmente o e-learning está em sua quarta geração, uma vez que o uso das<br />
novas tecnologias de comunicação social (blogs, tablets, aparelhos celulares sofisticados<br />
etc.) acoplados à Internet, favorece desde a construção do conhecimento<br />
em conjunto até a troca de experiências simultâneas por meio de vivências com<br />
softwares de realidade virtual.<br />
É possível perceber que com toda evolução das tecnologias de comunicação,<br />
que as barreiras relacionadas a softwares, meios de comunicação ou conexões já<br />
podem ser resolvidas com certa facilidade. Mas, mesmo assim, há um componente<br />
que ainda precisa ser mais explorado, ou seja, a qualidade do material instrucional<br />
utilizados nos cursos.<br />
2 Modelos de design instrucionais aplicados nos cursos a<br />
distância no Brasil<br />
Nas pesquisas realizadas sobre a qualidade de cursos a distância observou-se<br />
que para a produção de materiais instrucionais geralmente se leva em consideração:<br />
conceitos, tipo de design ou requisitos técnicos.<br />
No Quadro 1 observa-se que quanto aos conceitos, os cursos podem receber<br />
os nomes de e-learning, web-based learning, web-based courses, online learning e<br />
distance learning.<br />
Do ponto de vista do design instrucional surgem denominações como: Web/<br />
CBT (computer based training; Web/ EPSS (eletronic performance support systems);<br />
Web/ VAC (virtual asynchronous classroom) e Web/VSC (virtual synchronous classroom),<br />
conforme pode-se observar no Quadro 2.<br />
A classificação dos cursos também poderá ser realizada por características técnicas<br />
como: learner-led-learning (autoaprendizagem); facilitated e-learning (ensino<br />
a distância facilitado); instructor-led-e-learning (condução do ensino pelo instrutor)<br />
e embedded e-learning (ensino a distância integrado). A definição de cada um<br />
desses tipos de curso consta no Quadro 3.<br />
As classificações propostas nos quadros de um a três apenas exemplificam que<br />
muitas vezes o principal foco na produção de um curso está na apresentação e não<br />
na qualidade da produção dos materiais instrucionais oferecidos.<br />
E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />
39
40<br />
Quadro 1 - Classificação de cursos a distância por conceitos<br />
E-Learning Web-based learning Web-based courses Online learning Distance learning<br />
Atividades que envolvem<br />
computadores<br />
e redes interativas<br />
simultaneamente.<br />
O computador<br />
não é o elemento<br />
central da atividade<br />
ou o provedor do<br />
conteúdo.<br />
O computador e a<br />
Internet devem ter<br />
um envolvimento<br />
significativo capaz<br />
de promover ações<br />
que promovam<br />
aprendizagem.<br />
Fonte: Tsai e Machado (2003).<br />
Materiais distribuídos<br />
por um web<br />
browser, incluindo<br />
aqui os materiais<br />
“empacotados” num<br />
CD-ROM ou em outra<br />
mídia.<br />
Não representa,<br />
necessariamente,<br />
distance learning.<br />
A preocupação gira<br />
apenas em torno do<br />
material produzido<br />
para Internet como<br />
vídeos, áudios e telas.<br />
Não há envolvimento<br />
do instrutor na<br />
ação de ensinoaprendizagem.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />
Está associado<br />
com conteúdos<br />
prontamente<br />
acessíveis a partir de<br />
um computador.<br />
O conteúdo pode<br />
estar na Internet<br />
ou simplesmente<br />
instalado num CD-<br />
ROM ou no disco<br />
rígido do próprio<br />
computador.<br />
Envolve interações<br />
a distância entre<br />
professores e alunos<br />
e permite a comunicação<br />
imediata entre<br />
ambos.<br />
Há processos de<br />
feedback entre<br />
instrutores e<br />
aprendizes.<br />
Não requer, necessariamente,<br />
o uso de<br />
computadores ou<br />
redes.<br />
A forma pela qual o material instrucional é desenvolvido é fundamental para<br />
que o participante de um curso a distância se mantenha motivado para continuar<br />
e finalizar seu curso, bem como para que perceba que aprendeu e que houve valor<br />
agregado à sua formação. Serão analisados a seguir alguns pressupostos que poderão<br />
servir como subsídios para a produção de materiais instrucionais mais significativos<br />
para os participantes desses cursos.<br />
3 Produção de materiais instrucionais para e-learning<br />
Promover a interação do estudante com o material instrucional é imprescindível<br />
num programa de e-learning. Por isso esses materiais requerem um design instrucional<br />
próprio para os objetivos que o curso pretende atingir. Esse design instrucional<br />
pode ser considerado o modelo ou a forma de apresentação de um determinado<br />
material instrucional (virtual ou não), capaz de garantir o desenvolvimento de<br />
competências e habilidades que promovam a construção do conhecimento.<br />
Na literatura científica (LANGHI, 2005) e nas práticas de mercado verifica-se que<br />
na produção de um curso a distância devem estar presentes os seguintes elementos:<br />
estrutura do curso, navegabilidade e forma de escrita do discurso.<br />
A estrutura do curso prevê aspectos como: a) componentes que farão parte de cada<br />
módulo do curso: objetivo, conteúdo, desenvolvimento e avaliação; b) sequência em<br />
que as informações serão apresentadas; c) forma como poderão ser selecionadas as<br />
informações que se pretende buscar, que são os mecanismos de busca do curso; d)<br />
relação prática-teoria, possibilitar a prática dos alunos por meio de exercícios; e) autoavaliação,<br />
questões que levem o aluno a procurar reescrever, com suas próprias palavras,<br />
o conteúdo tratado, de forma a garantir a retenção; f) glossário, para esclarecer<br />
os diversos conceitos discutidos nos textos; g) exemplificação, procurando aproximar a
teoria e a prática; h) animações e vídeos, que associadas a textos em formato de hipertexto,<br />
poderão auxiliar na motivação para realizar o curso; i) resumos, apresentados no<br />
final dos conteúdos, que têm por função destacar as ideias centrais dos textos.<br />
A navegabilidade é a possibilidade de estudo em cada uma das telas propostas<br />
para um curso. Essas telas deverão ter fácil acesso, por meio de links, botões ou<br />
outros recursos, que demonstrem a sequência das informações a serem aprendidas.<br />
Deve-se procurar utilizar hipertexto, vídeo, animação, áudio, produção gráfica<br />
e demais recursos que permitam a participação.<br />
Objetivo<br />
Tipos de<br />
aprendizagem<br />
Facilitador ou<br />
Designer<br />
Aluno<br />
Métodos<br />
Interações<br />
Fonte: Driscoll (2000).<br />
Quadro 2 - Classificação de cursos a distância por design instrucional<br />
Web/ CBT<br />
Computer based<br />
training<br />
Treinamento baseado<br />
em desempenho<br />
com mensuração de<br />
objetivos e metas<br />
Problemas bem<br />
estruturados que<br />
requerem transferência<br />
de conhecimento,<br />
compreensão e aplicação<br />
de habilidades<br />
Gerenciador da<br />
instrução: controles,<br />
previsões, direcionamentos,<br />
acesso a<br />
resultados da aprendizagem,<br />
comunicação<br />
com o aluno<br />
Tem papel ativo na<br />
prática de novos comportamentos,<br />
recebe<br />
feedback, se comunica<br />
com o instrutor<br />
Exercícios e práticas,<br />
simulações, leituras,<br />
questionamentos e<br />
respostas<br />
Multimídia, hipertexto,<br />
hipermídia,<br />
simulações, exercícios,<br />
e-mail, lista de<br />
discussão, quadros<br />
de informações,<br />
comunicação com o<br />
instrutor<br />
Web/ EPSS<br />
Eletronic<br />
performance support<br />
systems<br />
Conhecimento prático<br />
e habilidade para<br />
solução de problemas<br />
num formato justin-time<br />
Problemas bem<br />
estruturados que<br />
requerem análise e<br />
síntese de elementos,<br />
relações e princípios<br />
organizacionais para<br />
produzem soluções<br />
Organizador de<br />
conteúdo: localização,<br />
análise, resumo, índice<br />
e informações classificadas<br />
em módulos<br />
de aprendizagem<br />
Tem iniciativa e dirige<br />
sua própria aprendizagem,<br />
determina o<br />
nível de detalhamento<br />
e avalia o sucesso<br />
da instrução<br />
Solução de problemas,<br />
método<br />
científico, método<br />
experimental, método<br />
de projetos<br />
Multimídia, hipertexto,<br />
hipermídia, quadros<br />
de informações,<br />
notas, módulos de<br />
Web/ CBT, e e-mail<br />
com o facilitador e<br />
demais participantes<br />
Web/ VAC<br />
Virtual Asynchronous<br />
Classroom<br />
Grupos de aprendizagem<br />
remotos<br />
Problemas menos estruturados<br />
que requerem<br />
aplicação, análise,<br />
síntese e avaliação<br />
para a produção de<br />
novas ideias, planos<br />
ou produtos<br />
Facilitador de grupos<br />
de aprendizagem:<br />
guias de instrução,<br />
fornecimento de<br />
recursos, avaliação de<br />
resultados e comunicação<br />
com os alunos<br />
É guiado de forma individual<br />
ou em grupo<br />
por um facilitador,<br />
participa de atividades<br />
instrucionais e<br />
recebe feedback<br />
Tarefas experimentais,<br />
grupos de discussão,<br />
projetos em equipes,<br />
aprendizagem autodirigida,<br />
método da<br />
descoberta<br />
Multimídia, hipertexto,<br />
hipermídia, quadros<br />
de informações,<br />
notas, módulos de<br />
Web/ CBT, e e-mail<br />
com o facilitador e<br />
demais participantes<br />
E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />
Web/ VSC<br />
Virtual Synchronous<br />
Classroom<br />
Grupos de aprendizagem<br />
em tempo real<br />
Problemas bem estruturados<br />
que requerem<br />
sínteses e avaliações<br />
de informações e<br />
experiência para<br />
produzir novas ideias,<br />
planos ou produtos<br />
Coordenador de<br />
experiências de<br />
aprendizagem:<br />
participação como coaprendiz,<br />
recomenda<br />
o direcionamento<br />
da aprendizagem,<br />
mas não determina<br />
direções ou avalia<br />
resultados<br />
Tem participação<br />
ativa em processos<br />
de aprendizagem<br />
colaborativa com o<br />
facilitador e com seus<br />
pares, participa de<br />
diálogos e reflexões<br />
sobre experiências<br />
Diálogo e discussão,<br />
solução de problemas,<br />
interação máxima<br />
Áudio e vídeo conferência<br />
síncronos,<br />
compartilhamento<br />
de informação,<br />
compartilhamento de<br />
aplicações<br />
41
O discurso deve apresentar duas características básicas: a) dialogicidade, ou seja, os<br />
textos devem ser escritos de forma a reproduzir ou simular a possibilidade de diálogo<br />
entre o autor do curso e o leitor; b) interatividade, garantindo ao aluno o desenvolvimento<br />
de uma ação interativa, por meio de atividades e exercícios que promovam a<br />
troca de experiências.<br />
42<br />
Quadro 3 - Classificação dos cursos a distância por características técnicas<br />
Learner-led-learning<br />
(auto-aprendizagem)<br />
O aluno interage<br />
diretamente com o<br />
material instrucional<br />
Não há nenhum tipo<br />
de comunicação<br />
com um instrutor<br />
ou com os outros<br />
participantes do curso<br />
Facilitated e-learning<br />
(ensino a distância<br />
facilitado)<br />
Combina recursos de<br />
auto-aprendizagem<br />
com a comunicação,<br />
mediada por um<br />
facilitador ou instrutor<br />
e também entre os<br />
alunos do curso<br />
Fonte: Horton e Horton (2003).<br />
Instructor-lede-learning<br />
(condução do ensino<br />
pelo instrutor)<br />
Condução de<br />
aulas do tipo<br />
“convencional” com<br />
o uso de tecnologia<br />
de comunicação<br />
síncrona:<br />
Apresentar conteúdos<br />
Transmitir imagens<br />
(instrutor)<br />
Fazer perguntas e ter<br />
respostas imediatas<br />
Diversos materiais elaborados para e-learning tanto no Brasil como no exterior<br />
apresentam esses três elementos (estrutura, navegabilidade e discurso) organizados<br />
conforme as regras do ensino programado, com embasamento na psicologia<br />
comportamental. Muitos desses cursos são avaliados a partir da quantidade de<br />
“cliques” possíveis em uma tela do curso ou então em elementos básicos como:<br />
objetivo, conteúdo, atividades e avaliação. Não há preocupação com a forma pela<br />
qual a informação chega até o aluno.<br />
A presença de elementos como: estrutura, navegabilidade e discurso pode ser<br />
útil para orientar a elaboração da interface dos materiais instrucionais com os alunos,<br />
ou seja, na aparência que um determinado material instrucional terá quando<br />
veiculado pela Internet. Mas essas sugestões não são suficientes para orientar<br />
como os materiais instrucionais deverão ser produzidos para que promovam índices<br />
satisfatórios de aprendizagem.<br />
Para que realmente ocorra aprendizagem, os materiais instrucionais para o e-<br />
-learning deverão estar fundamentados numa concepção de ensino e de aprendizagem,<br />
capazes de sustentar os princípios teóricos e metodológicos que nortearam<br />
sua produção.<br />
Dentre as várias teorias que se propõem a estudar aprendizagem, encontrou-se na<br />
teoria da aprendizagem significativa de Ausubel et al. (1980) uma abordagem capaz<br />
de dar embasamento para o planejamento e o desenvolvimento de materiais instrucionais<br />
para e-learning porque ela propõe uma teoria sobre aprendizagem receptiva<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />
Embedded<br />
e-learning<br />
(ensino a distância<br />
integrado)<br />
Permite que o<br />
treinamento ocorra<br />
no momento em<br />
que o aprendiz<br />
necessita de alguma<br />
informação imediata<br />
Atua como um tutor<br />
eletrônico dando<br />
explicações passo a<br />
passo<br />
Telementoring and<br />
e-coaching<br />
(ensino<br />
personalizado)<br />
Utiliza-se tecnologia<br />
de ponta para<br />
a capacitação<br />
personalizada,<br />
direcionada, com<br />
metas específicas<br />
para determinados<br />
profissionais
que contém dados sobre os dispositivos instrucionais que podem torná-la significativa.<br />
Entende-se por aprendizagem significativa aquela que faz sentido para o aprendiz porque<br />
se relaciona a algo que ele já sabe.<br />
3.1 Aprendizagem significativa<br />
Ao se preocupar com a forma pela qual o ensino ocorre em sala de aula, Ausubel et<br />
al. (1980) propõem que o conhecimento se organiza em estruturas cognitivas, que são<br />
conjuntos de conhecimentos que o indivíduo possui sobre um determinado assunto e<br />
a maneira como esses conhecimentos estão relacionados. O conhecimento se distribui<br />
na mente do indivíduo sob a forma de ideias mais gerais e amplas, para depois integrarem<br />
ideias mais específicas.<br />
Os conceitos e as demais proposições são aprendidos a partir de outros conceitos<br />
preexistentes. A nova aprendizagem precisa ser ancorada a uma outra já existente na<br />
estrutura cognitiva do sujeito para que possa ser assimilada. Um conceito mais geral é<br />
capaz de abrigar um conceito mais específico. É assim que surge a aprendizagem significativa,<br />
ou seja, para aprender de modo significativo, o indivíduo tem que ter dentro<br />
de si um conceito ou uma proposição mais geral que possa ancorar o conhecimento<br />
mais específico.<br />
A esse conceito ou proposição mais amplo, ou mais geral, e que é capaz de incorporar<br />
um novo conceito mais específico, atribui-se o nome de subsunçor. Cada vez que o<br />
subsunçor assimila uma nova informação, pode se tornar mais completo.<br />
Mas, para que haja aprendizagem significativa, são necessários três fatores:<br />
predisposição do indivíduo para a aprendizagem de modo significativo, material<br />
potencialmente significativo e estrutura cognitiva capaz de assimilar a nova<br />
informação.<br />
a) Predisposição para aprendizagem significativa<br />
A predisposição para a aprendizagem significativa indica que o indivíduo precisa<br />
estar disposto a querer aprender. Esse tipo de aprendizagem exige mais esforço por<br />
parte do aprendiz, principalmente porque requer a busca de conceitos já existentes em<br />
sua estrutura cognitiva. Como exemplo, pode-se citar que ao ler um texto desconhecido,<br />
cabe ao indivíduo questionar como é que os conceitos apresentados podem se<br />
relacionar com o que ele já sabe.<br />
b) Material significativo<br />
Um material pode ser considerado potencialmente significativo quando está devidamente<br />
organizado e apresenta conceitos gerais antes dos mais específicos, relacionando-se<br />
a outros conceitos ou proposições que, provavelmente, já são do conhecimento<br />
do indivíduo.<br />
E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />
43
c) Estrutura cognitiva<br />
Quanto à estrutura cognitiva do aprendiz, nela devem estar disponíveis os conceitos<br />
subsunçores específicos com o qual o novo material é relacionável. Ausubel<br />
et al. (1980) indicam que se o indivíduo não possuir um conjunto de conhecimentos<br />
prévios (subsunçores) sobre o novo conceito ou proposição a ser aprendida, a<br />
aprendizagem significativa não ocorrerá. Mas o instrutor pode provê-los, por meio<br />
de organizadores prévios.<br />
O contrário da aprendizagem significativa é a aprendizagem mecânica, mnemônica,<br />
decorativa. Refere-se à aprendizagem de novas informações com pouca ou<br />
nenhuma associação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva.<br />
Nesse caso, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária. O conhecimento<br />
assim adquirido fica arbitrariamente distribuído na estrutura cognitiva, sem ancorar-se<br />
a outros conceitos subsunçores específicos. Seu destino é o esquecimento.<br />
3.1.1 Produção de materiais instrucionais significativos<br />
De acordo com a teoria da aprendizagem significativa, os alunos adquirem grande<br />
parte dos conhecimentos primariamente por meio da aprendizagem receptiva<br />
significativa, que é facilitada por um ensino expositivo, apropriadamente elaborado,<br />
e por materiais instrucionais adequados. O corpo básico de conhecimentos de<br />
qualquer disciplina acadêmica, e por que não dizer de qualquer pessoa que já passou<br />
pelo ensino formal, é adquirido dessa forma. É graças a ela que a humanidade<br />
construiu, armazenou e acumulou seu conhecimento e cultura.<br />
A tarefa inicial de qualquer profissional que se proponha a produzir materiais<br />
instrucionais consiste em programar, organizar e sequenciar os conteúdos. Isso facilitará<br />
a ancoragem dos novos conhecimentos na estrutura cognitiva, evitando a<br />
aprendizagem mnemônica ou repetitiva. Quando não existem conceitos relevantes<br />
na estrutura cognitiva do sujeito, as novas informações são aprendidas de forma<br />
mecânica, uma vez que as novas informações não se relacionam com as já existentes.<br />
Assim, não ocorre a aprendizagem significativa.<br />
Em situações de ensino deve-se utilizar recursos que facilitem a passagem da<br />
estrutura conceitual da disciplina para a estrutura cognitiva do aluno, de forma a tornar<br />
o material significativo. Um dos maiores trabalhos do professor consiste em auxiliar<br />
o aluno a assimilar a estrutura da disciplina e a reorganizar sua própria estrutura<br />
cognitiva, mediante a aquisição de novos significados que podem gerar conceitos e<br />
princípios. Cabe ao professor, portanto, facilitar a aprendizagem significativa.<br />
Os materiais instrucionais devem ser elaborados de modo que possibilitem que<br />
os novos conhecimentos sejam relacionados de forma substancial, e não arbitrária,<br />
com aquilo que o sujeito já conhece, e que este adote uma atitude ativa para estabelecer<br />
as mencionadas relações.<br />
44<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
No processo de aprendizagem significativa os materiais instrucionais devem<br />
possuir significado lógico ou potencial, e isso só ocorre se seus elementos estiverem<br />
organizados e não somente sobrepostos. Esse material deve ser composto<br />
por elementos “organizados” em uma estrutura, de tal forma que as diferentes partes<br />
dessa estrutura se relacionem entre si de maneira não arbitrária (POZO, 2002).<br />
Essa organização deverá permitir com que os conceitos e proposições mais<br />
gerais sejam introduzidos primeiro, servindo assim para facilitar a aprendizagem<br />
significativa de uma vasta gama de informação e, também, para facilitar o aprendizado<br />
de conceitos subordinados.<br />
A elaboração de materiais instrucionais específicos para a aprendizagem significativa<br />
envolve pelo menos quatro tarefas fundamentais. Inicialmente, deve-se<br />
determinar a estrutura conceitual e proposicional da matéria de ensino, identificando<br />
os conceitos e princípios unificadores, inclusivos, com maior poder explanatório<br />
e propriedades integradoras, e organizá-los hierarquicamente de modo<br />
que, progressivamente, abranjam os menos inclusivos até chegar aos exemplos e<br />
dados específicos. Em seguida, é importante identificar os subsunçores (conceitos,<br />
proposições e ideias claras, precisas, estáveis) relevantes à aprendizagem do<br />
conteúdo a ser ensinado, os quais o aluno deveria ter em sua estrutura cognitiva<br />
para poder aprender significativamente o conteúdo. A terceira etapa consiste<br />
em diagnosticar aquilo que o aluno já sabe; determinar, dentre os subsunçores<br />
especificamente relevantes (previamente identificados ao “mapear” e organizar<br />
a matéria de ensino), quais os que estão disponíveis na estrutura cognitiva do<br />
aluno. Finalmente, deve-se utilizar recursos e princípios que facilitem a passagem<br />
da estrutura conceitual da matéria de ensino para a estrutura cognitiva do aluno<br />
de uma maneira significativa. A tarefa do professor, aqui, é auxiliar o aluno a assimilar<br />
a estrutura da matéria de ensino e organizar sua própria estrutura cognitiva<br />
nessa área de conhecimento, por meio da aquisição de significados claros, estáveis<br />
e transferíveis.<br />
Ausubel et al. (1980) enfatizam a importância da estrutura cognitiva preexistente<br />
e a organização significativa da matéria de ensino como preocupações principais<br />
no planejamento da instrução. São esses dois princípios que irão auxiliar na<br />
elaboração de materiais instrucionais e nas técnicas de avaliação. Os materiais instrucionais,<br />
portanto, devem contemplar os processos de diferenciação progressiva<br />
e reconciliação integrativa, os organizadores prévios, a prática e o treino.<br />
a) Processos de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa<br />
A diferenciação progressiva é o princípio pelo qual o assunto deve ser programado<br />
de forma que as ideias mais gerais e inclusivas da disciplina sejam apresentadas<br />
antes e, progressivamente diferenciadas, introduzindo os detalhes específicos<br />
necessários. A reconciliação integrativa é o princípio pelo qual a programação do<br />
material instrucional deve ser feita para explorar relações entre ideias, apontar similaridades<br />
e diferenças significativas, reconciliando discrepâncias reais ou aparentes.<br />
E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />
45
) Organizadores prévios<br />
O uso de organizadores prévios é uma estratégia proposta para manipular a estrutura<br />
cognitiva a fim de facilitar a aprendizagem significativa. São materiais introdutórios<br />
apresentados antes do próprio material a ser aprendido.<br />
Eles consistem em um material introdutório de maior nível de abstração, generalização<br />
e inclusividade do que o novo material que se vai aprender. Diferenciam-se, portanto,<br />
dos resumos ou sumários, que são os conceitos de nível mais alto, ou macroestrutura dos<br />
próprios conteúdos em que se omitiu a informação de detalhes, mas não são conceitos<br />
de maior nível que o novo material, como ocorre no caso dos organizadores prévios.<br />
A apresentação de um organizador prévio, antes de uma lição ou de um texto, proporciona<br />
uma “ponte” entre o que o sujeito já conhece e aquilo que necessita conhecer,<br />
para assimilar significativamente os novos conhecimentos. Sua função é proporcionar<br />
uma “andaimaria ideativa” (scaffolding) para a retenção e incorporação estável do material<br />
mais detalhado e diferenciado que se vai aprender. Por isso, devem ser expressos<br />
na forma mais familiar e simples possível, sendo facilmente compreensíveis pelo aluno.<br />
c) Prática e treino<br />
A prática e o treino não devem ser vistos como uma simples atividade de memorização,<br />
mas sim como a ação direta e ativa do aprendiz sobre o material instrucional a<br />
ser utilizado. É uma das principais atividades (junto a variáveis do material instrucional)<br />
que influencia a estrutura cognitiva.<br />
Pozo (2002) indica que uma instrução expositiva, dirigida à compreensão, deve<br />
constar de três fases principais: o cabeçalho ou introdução; a apresentação propriamente<br />
dita do material e a consolidação da estrutura conceitual.<br />
O cabeçalho ou introdução atua como um organizador prévio e tem por função<br />
ativar o conhecimento prévio do aprendiz. Isso permitirá que o novo conteúdo seja<br />
mais facilmente assimilado e integrado à estrutura cognitiva preexistente. Essa parte<br />
introdutória oferece o contexto de interpretação da atividade de aprendizagem, que<br />
serve como “ancoragem” para as ideias que se apresentam a seguir.<br />
A apresentação do material de aprendizagem pode adotar formatos os mais diversos<br />
(desde leituras ou exposições do professor ou dos próprios alunos até discussões,<br />
realização de experiências, elaboração de materiais etc.). É importante que<br />
os materiais estejam bem estruturados e que tenham uma organização conceitual<br />
explícita e captem o interesse dos alunos (que são duas condições da aprendizagem<br />
construtiva). É importante que as ideias estejam ligadas entre si e não simplesmente<br />
justapostas, ou seja, as informações devem se remeter umas às outras<br />
e não serem apresentadas uma de cada vez, sem nenhum tipo de ligação entre si.<br />
Como acontece com um bom filme, o “roteiro” de uma exposição condiciona, em<br />
boa parte, seu sucesso. Deve-se considerar, nesse caso, que uma exposição é me-<br />
46<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
lhor compreendida quando as ideias principais são apresentadas no começo, isto<br />
é, quando a exposição parte das ideias gerais para depois ir entrando nos detalhes.<br />
A consolidação da estrutura conceitual ocorre mediante a relação explícita entre os<br />
conhecimentos prévios do aluno, que foram ativados, e a organização conceitual dos<br />
materiais instrucionais. Aqui está a importância das tarefas de aprendizagem e de fixação.<br />
É preciso induzir os alunos a uma reflexão sobre seus próprios conhecimentos, o<br />
que os ajudará a tomar consciência do que já sabem e a construir novos conhecimentos.<br />
Tal reflexão pode ser feita habituando-os a utilizar estratégias de organização com<br />
os materiais de aprendizagem, o que consiste em que os próprios alunos estabeleçam,<br />
de modo explícito, relações internas entre os elementos que compõem os materiais<br />
de aprendizagem e entre estes e seus conhecimentos prévios. Há diversas estratégias<br />
que podem ser empregadas, ou seja, pode se utilizar desde a classificação simples até<br />
uma organização hierárquica, mediante esquemas, diagramas, redes de conhecimento<br />
e mapas conceituais.<br />
3.1.2 Processos de Avaliação<br />
No processo educacional, a observação da transferência de conhecimentos ocorre<br />
por meio do resultado de avaliações desenvolvidas pelos alunos. As avaliações, mais<br />
do que informar se os estudantes estão sendo realmente ensinados, devem oferecer<br />
dados que possibilitem o controle da qualidade sobre o empreendimento educacional.<br />
Elas devem permitir o conhecimento da eficiência do programa educacional, dos métodos<br />
de ensino empregados, dos materiais instrucionais e das maneiras de organizar o<br />
conteúdo da disciplina e as sequências curriculares.<br />
Ao se elaborar materiais instrucionais é importante reconhecer que os exercícios ou<br />
questões de estudo, ao propiciarem uma prática repetitiva, ou seja, a reiteração continuada<br />
de uma mesma atividade de aprendizagem produzem aprendizagens mais pobres<br />
ou limitadas que uma prática por solução de problemas, que envolve a realização<br />
de diversas atividades com o fim de promover a reflexão sobre o que se está aprendendo.<br />
Em outras palavras, uma prática repetitiva auxilia na aprendizagem reprodutiva,<br />
associativa, e uma prática reflexiva promoverá a aprendizagem mais construtiva ou<br />
significativa, uma vez que o aprendiz deverá compreender o que está fazendo.<br />
No contexto do e-learning, embora se admita que os estudantes devam assumir a<br />
responsabilidade por sua própria aprendizagem, os coordenadores dos cursos não podem<br />
abdicar da responsabilidade de orientar a aprendizagem para que esta seja realmente<br />
significativa e atenda aos objetivos a que se propõe. Não se pode esquecer que<br />
se estará planejando cursos para um público adulto, com vivências em várias áreas, que<br />
já participou de muitos cursos no sistema de ensino formal. Não se pode deixar de lado<br />
os históricos pessoal, profissional e acadêmicos dos participantes.<br />
A utilização de tarefas, visando a solução de problemas, pode ser indicada como<br />
um excelente recurso para a transferência de conhecimentos no contexto do ensino a<br />
E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />
47
distância. Mas isso requer muita reflexão e planejamento quanto ao tipo de problema<br />
a ser desenvolvido, aos critérios de avaliação para as soluções e ao uso, ou não, de materiais<br />
de apoio.<br />
4 Propostas de cursos a distância baseadas na aprendizagem<br />
significativa<br />
Na produção de materiais instrucionais para e-learning deve-se considerar, de forma<br />
clara e precisa três elementos básicos:<br />
a) Cabeçalho ou introdução: é uma espécie de organizador prévio, que tem por<br />
função ativar o conhecimento prévio do aprendiz. Ele oferece o contexto de interpretação<br />
da atividade de aprendizagem, que serve como “ancoragem” para as ideias que se<br />
apresentam a seguir.<br />
b) Apresentação do material de aprendizagem: pode adotar vários formatos (leituras<br />
ou exposições do professor ou dos próprios alunos; discussões, realização de<br />
experiências ou elaboração de trabalhos e exercícios). Esses materiais devem ser bem<br />
estruturados, ter uma organização conceitual explícita, captar o interesse dos alunos e<br />
ter as ideias ligadas entre si e não simplesmente justapostas. Eles devem ser elaborados<br />
de acordo com um planejamento de ensino, isto é, conforme a seleção de atividades de<br />
aprendizagem que melhor se liguem à estrutura cognitiva existente do aluno (conhecimentos<br />
prévios) e incorporem os conceitos e habilidades identificados no plano de<br />
currículo (o qual define as disciplinas de um curso).<br />
Na formulação dos conteúdos, os conceitos e proposições mais importantes devem<br />
ser introduzidos em primeiro lugar, servindo assim para facilitar a aprendizagem<br />
significativa de uma vasta gama de informação e também para facilitar o aprendizado<br />
de conceitos subordinados. Na sequência devem vir as informações específicas sobre<br />
esses conceitos e proposições e, na sequência reapresentar, novamente, esses conceitos<br />
e proposições. Em outras palavras pode-se dizer que o conteúdo deverá sempre<br />
ser apresentado em seu todo para depois aprofundar o significado de cada uma das<br />
partes. Terminada essa etapa volta-se novamente para o todo e assim sucessivamente.<br />
É nesse momento que estarão presentes os conceitos de diferenciação progressiva e<br />
reconciliação integrativa.<br />
c) Consolidação da estrutura conceitual: deve haver relação explícita entre os conhecimentos<br />
prévios do aluno que foram ativados e a organização conceitual dos materiais<br />
instrucionais, exercícios de aprendizagem e fixação, indução de reflexão sobre os<br />
conhecimentos adquiridos, estabelecimento de relações internas entre os elementos<br />
que compõem os materiais de aprendizagem e entre estes e os conhecimentos prévios.<br />
As principais estratégias para a classificação conceitual são: classificação simples,<br />
organização hierárquica mediante esquemas, diagramas, redes de conhecimento, mapas<br />
conceituais. É nesse momento que se apresenta a prática e o treino para que ocorra<br />
a aprendizagem significativa.<br />
48<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Conclusão<br />
Os cursos a distância crescem consideravelmente em todas as áreas do conhecimento.<br />
O tipo de curso que será desenvolvido e os conhecimentos, habilidades e atitudes<br />
que se propõe formar são os mais diversos. O layout e as ferramentas para distribuição<br />
das informações são decisões menos complexas, tendo-se em vista a quantidade<br />
de oferta que se tem no mercado. Fica então a problemática da qualidade do material<br />
instrucional que será veiculado nesses cursos.<br />
Para que os materiais instrucionais desses cursos sejam significativos deverão apresentar<br />
um organizador prévio dos conteúdos a serem estudados. A escrita dos conteúdos<br />
deverá respeitar os princípios da diferenciação progressiva e da reconciliação<br />
integrativa e nessa mesma sequência deverá vir a prática e o treino para que as novas<br />
informações tenham significado para os aprendizes.<br />
Referências<br />
AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H.. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana,<br />
1980.<br />
DRISCOLL, M.. Web-based training: Using technology to design adult learning experiences.<br />
San Francisco: Jossey-Bass Pfeiffer, 2000.<br />
HORTON, W.; HORTON, K.. E-learning tools and technologies. Indianápolis: Wiley Publishing,<br />
Inc, 2003.<br />
LANGHI, C.. Materiais instrucionais para o ensino a distância. Estudo sobre a aplicação<br />
da teoria significativa de Ausubel na produção de conteúdos para cursos via Internet.<br />
Tese (doutorado) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Departamento de<br />
Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. São Paulo, s.n., 2005.<br />
PETERSON’S Education Center. MBA distance learning programs. Princeton, N. J.: Peterson’s, 2010.<br />
POZO, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />
TSAI, S.; MACHADO, P.. E-learning, online learning, web-based learning, or distance learning:<br />
Inveiling the ambiguity in current terminology. 2003. E-Learn magazine. [online]. Disponível<br />
em: . Acesso em: 23 jan. 2004.<br />
E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />
49
50<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Universidade Corporativa: uma metáfora<br />
contemporânea<br />
Cristina Valiukenas *<br />
Elisabete Adami Pereira dos Santos **<br />
Resumo: Este trabalho discorre sobre<br />
a história de treinamento e desenvolvimento,<br />
chegando até a universidade<br />
corporativa. Os meios disponibilizados<br />
para formação dos trabalhadores, neste<br />
cenário de competição, exigem a<br />
construção de alternativas duradouras<br />
e eficazes, não cabendo apenas soluções<br />
imediatistas com foco na realidade<br />
atual e passada. Neste contexto,<br />
surgiu a expressão “universidade corporativa”,<br />
representando uma metáfora<br />
imbuída do valor da educação permanente,<br />
onde o “aprender a aprender”<br />
passou a significar, além de estudar em<br />
permanência, transformar a própria<br />
experiência em conhecimento que, de<br />
preferência, possa ser compartilhado<br />
entre os membros de uma organização,<br />
facilitando a reconstrução de um<br />
ambiente onde as únicas certezas são:<br />
a mudança e a competição.<br />
Palavras-chave: Universidade Corporativa.<br />
Treinamento. Desenvolvimento.<br />
Abstract: This paper addresses the history<br />
of training and development until<br />
its advance as corporate university. The<br />
availability of resources intended for<br />
worker´s capabilities building demand<br />
lasting effective alternatives since they<br />
have become an essential requisite,<br />
especially in this competitive environment.<br />
Immediate solutions focused on<br />
current and past situations no longer<br />
apply. Within this context, the term<br />
“corporate university” was invented,<br />
representing a metaphor ingrained in<br />
permanent education values in which<br />
“learning to learn” means continuous<br />
studying, transformation of one’s own<br />
experience into knowledge which<br />
should preferably be shared among<br />
members within an organization, facilitating<br />
the reconstruction of an environment<br />
in which the only certainties are:<br />
change and competition.<br />
Keywords: Corporate University. Training.<br />
Development.<br />
* Graduada em Administração de Empresas, pós-graduada em Orientação Pedagógica em Educação a Distância<br />
(UFMS), Administração de Empresas com ênfase em Recursos Humanos (PUC-SP) e Comunicação Social (Cásper<br />
Líbero). Gerente de educação a distância na ESPM. E-mail: crisvaliukenas@terra.com.br<br />
** Graduada em Administração de Empresas (EAESP-FGV), bacharel em Filosofia (USP), especialista em Administração<br />
(EAESP-FGV), mestre em Administração (PUC-SP), doutoranda em Ciências Sociais (PUC-SP). Professora de<br />
graduação e pós-graduação da PUC-SP, do MBA-FAAP e pós-Graduação da UNIFEI. Consultora da ABTG-Associação<br />
Brasileira de Tecnologia Gráfica. E-mail: betadami@uol.com.br<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
51
Introdução<br />
O processo de globalização trouxe para as organizações profundas transformações,<br />
gerando a permanente necessidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento do conjunto<br />
de colaboradores. O acelerado desenvolvimento tecnológico aliado a “redução<br />
gradativa do prazo de validade do conhecimento e a emergência da organização não<br />
hierárquica, enxuta e flexível” (SOARES, 2002) impuseram às organizações a necessidade<br />
de estruturar o tratamento da educação corporativa.<br />
A atividade de treinamento e desenvolvimento de pessoal é antiga na estrutura das<br />
organizações. Treinamento, significando a “obtenção de técnicas e habilidades específicas,<br />
detalhadas e rotineiras do trabalho” (MEGGINSON et al., 1998, p. 299); enquanto<br />
desenvolvimento, amplia este escopo para “a melhoria e crescimento, dentro de um<br />
objetivo mais amplo, das habilidades, atitudes e traços de personalidade” (MEGGINSON<br />
et al., 1998, p. 299). Segundo Meister (1999, p. 129), “à medida que os trabalhos vão ficando<br />
mais complexos e as qualificações que eles exigem, mais extensas, os executivos<br />
estão começando a questionar os pressupostos tradicionais que fundamentam<br />
os programas corporativos de treinamento e desenvolvimento”. Meister (1999, p. 130)<br />
afirma “é imperativo desenvolver um currículo que reflita os objetivos estratégicos da<br />
organização. [...] em consequência desses avanços tecnológicos, as empresas com universidades<br />
corporativas estão desafiando os pressupostos do treinamento tradicional”.<br />
Esta frenética busca contribuiu para a ascensão das universidades corporativas que,<br />
segundo Soares (2002) em 1988 existiam 400 universidades corporativas nos Estados<br />
Unidos e 2002 já eram cerca de 2 mil. A autora ainda estimava que em 2010 elas superariam<br />
o número de universidades tradicionais nos Estados Unidos – cerca de 3 mil. No<br />
Brasil também há expressivo crescimento das universidades corporativas nos últimos<br />
dez anos. No início da década de 1990 eram conhecidas a Académie Universidade de<br />
Serviços (Accor) e a Universidade Corporativa Motorola. Atualmente, muitas delas são<br />
conhecidas, como, Algar, Unimed, Sebrae e outras.<br />
1 Evolução da organização de recursos humanos: desenvolvimento<br />
organizacional, treinamento e desenvolvimento<br />
A organização de recursos humanos, como parte integrante de uma empresa, está<br />
subordinada a razão de ser e aos objetivos deste empreendimento. Segundo Lakatos<br />
(1997, p. 32), “o objetivo de uma organização consiste naquilo que ela pretende atingir,<br />
uma situação desejada”, podendo ser real ou estabelecido. O primeiro tipo é onde a<br />
direção da empresa empreende seus recursos e orienta seus esforços, focando, em caso<br />
de conflito, as ações de seus membros. Já o estabelecido, representa a intenção, mas<br />
que não necessariamente ela irá atingir.<br />
Utilizando-se a definição genérica para recurso, verifica-se que é meio empregado<br />
para vencer uma dificuldade ou embaraço, por isso, não se pode eliminar o<br />
fato que as pessoas são, dentre outros, um meio para a organização atingir seus<br />
52<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
objetivos. Neste instante é possível identificar o quão difícil deve ser a gestão de<br />
algo intermediário, que não responde com a mesma precisão de uma máquina e<br />
ainda carece de alimentação constante.<br />
Considerando que as atividades de desenvolvimento organizacional, treinamento<br />
e desenvolvimento, além de traduzirem a capacidade de administração da aprendizagem<br />
de uma organização, estão incluídas no escopo da gestão de pessoas, é prudente<br />
uma rápida visita na evolução desta área.<br />
Segundo Nóbrega (2003), a origem da função administração de recursos humanos<br />
pode ser atribuída aos métodos de organização do trabalho introduzidos com a revolução<br />
industrial na Inglaterra e Estados Unidos. Porém, não foi senão nos anos 1920 que a<br />
função começou a adquirir uma face mais estruturada, sistêmica e científica.<br />
Dutra (2002, p. 31), sintetizando outros autores nacionais, apresenta o processo evolutivo<br />
da gestão de pessoas a partir das fases históricas brasileiras. Sendo:<br />
• Até 1930 (Primeira República): princípio da atividade industrial com o deslocamento<br />
de parte dos trabalhadores do setor agrícola para a indústria. Os setores<br />
em destaque são o ferroviário, portuário e têxtil.<br />
• De 1930 a 1945 (Estado Novo): caracterizado pelo surgimento da legislação<br />
trabalhista, a formação dos sindicatos dos trabalhadores e de empresas e a<br />
formação de uma estrutura jurídica para mediar estas relações. Em função da<br />
guerra, o país tinha dificuldade em importar, o que favoreceu a instalação das<br />
indústrias. As empresas se estruturaram para atender os preceitos legais.<br />
• De 1945 a 1964 (Segunda República): redemocratização do país, intensificação<br />
da substituição das importações e investimentos na indústria de base, com o<br />
estímulo para empresas estrangeiras se instalarem no país. As multinacionais<br />
traziam práticas de gestão de pessoas baseadas no paradigma taylorista / fordista.<br />
Este é um marco na formação dos dirigentes empresariais brasileiros e da<br />
profissionalização da gestão de pessoas.<br />
• Após 1964: até o final dos anos 1990 reforçou-se os paradigmas tayloristas /<br />
fordistas no Brasil, embora neste período já houvesse na Europa e Estados Unidos<br />
novas propostas para gestão de pessoas nas organizações. No final deste<br />
período acontece a valorização das novas competências individuais como consequência<br />
da evolução no contexto econômico, social e político.<br />
Resumindo, o processo de gestão de pessoas no Brasil é marcado por características<br />
legais e pelo taylorismo. Já a formação dos trabalhadores, por meio de dois caminhos diferenciados:<br />
dirigentes de dois níveis, médio e superior; e trabalhadores para o processo<br />
produtivo, por meio da transferência de responsabilidade do Estado para os empresários,<br />
cujo principal ícone é o Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI), organizado pela<br />
Confederação Nacional das Indústrias (CNI), conforme Garcia (2004) tão bem discorre.<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
53
1.1 Evolução da Gestão de Pessoas<br />
Ao se pensar sobre a gestão de pessoas no contexto empresarial deve-se, primeiramente,<br />
rever a razão de ser das empresas: o lucro sobre o investimento. Em face disto,<br />
o início dos estudos em administração buscava aperfeiçoar os processos que eram<br />
entendidos como diretamente relacionados ao lucro, ou seja, o que Machline (1994, p.<br />
92), sintetizou como “fatores de sucesso: melhoria da qualidade; aumento de produtividade;<br />
redução do custo; diminuição do prazo de entrega.”.<br />
Observa-se que em 1930, quando surgiu a Escola de Relações Humanas, a Escola<br />
Clássica, já havia obtido resultados em seus estudos, especialmente por meio da iniciativa<br />
de Henry Ford. Logo, o olhar sobre as pessoas emergiu como contraponto daquilo<br />
que vinha sendo praticado. Nóbrega (2003) resume esta evolução como sendo gradual<br />
ao ambiente externo e, em seguida a divide por períodos. Esta divisão realizada por<br />
Nóbrega (2003) será utilizada nos subitens a seguir.<br />
1.1.1 A revolução industrial<br />
Este período foi marcado pela substituição da mão de obra humana pelas máquinas.<br />
Como decorrência surge a divisão e especialização do trabalho, produção em massa,<br />
automação, eliminação do trabalho físico pesado, surgimento de engenheiros e<br />
cientistas e sistemas de controle.<br />
As fábricas pequenas eram conduzidas pelo proprietário e as plantas maiores, já<br />
departamentalizadas, pelo capataz que tinha entre outras responsabilidades, a de<br />
treinar os novos trabalhadores. As condições de trabalho eram abusivas, com jornadas<br />
de trabalho em torno de 13 horas, emprego de crianças e inexistência de proteção,<br />
no caso de doença.<br />
Na Inglaterra, em 1795, na contramão desta história, a empresa Boulton & Watt, utilizava<br />
um sistema de seleção e treinamento e se preocupava com salários justos, programas<br />
de bonificação e possuía um benefício para afastamento por saúde. Surgiram<br />
algumas publicações propondo reflexões para a forma como os trabalhadores eram<br />
tratados, mas sempre contra movimentos associativos. Apesar disto, a resistência dos<br />
trabalhadores crescia e se manifestava de diferentes formas, tais como, greve branca,<br />
protestos, boicotes etc.<br />
1.1.2 O crescimento do sindicalismo<br />
O movimento ganhou força por meio das associações de profissionais que congregavam<br />
trabalhadores de uma mesma especialidade (trade unions), pois estes<br />
passaram a exercer influência política, chegando, em 1885, ao parlamento inglês<br />
com onze membros eleitos.<br />
54<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Durante a década de 1920, surge nos Estados Unidos as associações de empregados<br />
patrocinadas pelas empresas e outras políticas relacionadas à educação, treinamento<br />
e programas de bem-estar, como parte de uma campanha da indústria<br />
americana contra os sindicatos. Ao longo do período da depressão estas ações atingiram<br />
seus objetivos e após o fim desta fase, diante da necessidade de lidar com os<br />
sindicatos, as empresas americanas criaram o cargo de vice-presidente ou diretor de<br />
relações trabalhistas ou industriais.<br />
1.1.3 A administração científica<br />
Este movimento atingiu seu pico em 1930, tornando bem clara a divisão entre o<br />
trabalho intelectual e o trabalho manual. Planejar e executar ações que dividiam claramente<br />
as categorias de gerência e trabalhadores, simultaneamente interferindo nos<br />
sistemas de remuneração e recompensas e utilizando sistemas de controle para garantir<br />
os resultados.<br />
O relacionamento entre os gerentes e os trabalhadores poderia ser otimizado pela<br />
especificação do método, seleção e alocação do melhor trabalhador para a tarefa e uma<br />
recompensa justa. Isto ampliaria a produtividade tendo como consequência maiores<br />
lucros e salários, resultando em harmonia entre patrões, gerentes e trabalhadores, reduzindo<br />
a importância do papel sindical nas relações.<br />
Paralelo ao sistema taylorista, surgia a burocracia, desenvolvida pelo sociólogo<br />
alemão Max Weber. Esta caracterizava-se pela pirâmide hierárquica desenvolvida,<br />
divisão do trabalho, regulamentação escrita onipresente, controles sofisticados,<br />
grande importância dos especialistas e técnicos, todos os itens significando práticas<br />
que garantiam a impessoalidade.<br />
Naturalmente os resultados preconizados pela adoção da administração científica<br />
não foram alcançados, em função da natureza humana, abrindo, assim, espaço para<br />
outros trabalhos focados nas relações humanas.<br />
1.1.4 A era paternalista<br />
John Commons, Richard Ely e Thorstein Veblen são citados por Nóbrega (2003),<br />
como economistas institucionalistas que discordavam da visão clássica de regulação<br />
do trabalho pelas forças de mercado. Esta visão forneceu o fundamento teórico para a<br />
legislação trabalhista americana, criada até os anos 1930. Desta época também são os<br />
primeiros estudos que correlacionam carga horária e condições de trabalho com produtividade<br />
e saúde do trabalhador.<br />
Os institucionalistas acreditavam que o conflito entre trabalhadores e empregadores<br />
era inerente às organizações independentemente do contexto ambiental, defendendo<br />
a negociação e o compromisso periódico entre os interesses divergentes<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
55
de trabalhadores, executivos e a sociedade. Ainda segundo Nóbrega (2003), foi nessa<br />
época que o pacote total de remuneração dos trabalhadores passou a incluir serviços<br />
e benefícios indiretos.<br />
1.1.5 O departamento de pessoal<br />
Nóbrega (2003, p. 34), cita a NCR como sendo a primeira empresa nos Estados<br />
Unidos, em 1890, a possuir um Departamento de Pessoal, cujo objetivo era ”estabelecer<br />
um método pelo qual pudessem discernir melhor, entre a extensa e diversificada<br />
massa de candidatos a emprego, que indivíduos poderiam tornar-se empregados<br />
eficientes ao melhor custo possível”. Este papel atribuído ao departamento<br />
pessoal já demonstra a preocupação com os custos para preparação do empregado<br />
e a busca por maior produtividade.<br />
As empresas que passaram a adotar esta área, também lhes atribuíam: recrutamento,<br />
seleção, alocação de pessoal e manutenção de registros e documentos. Ainda<br />
segundo o autor, “em menor escala, podiam estar envolvidos com treinamento, administração<br />
de conflitos, programas de bem-estar e decisões sobre demissões. Essas unidades<br />
foram embriões dos departamentos de pessoal, precursores dos departamentos<br />
de relações industriais (que lidavam exclusivamente com os trabalhadores sindicalizados)<br />
e das atuais áreas de recursos humanos”.<br />
1.1.6 Psicologia industrial<br />
Segundo Nóbrega (2003) a diferença mais importante entre a administração científica<br />
e a psicologia industrial é que a primeira, enfatiza o papel do engenheiro na otimização<br />
dos processos de produção e a segunda, se ocupa com o papel do psicólogo e os<br />
aspectos humanos das práticas de gestão.<br />
As contribuições mais significativas são aquelas relacionadas a testes e aferições,<br />
técnicas de entrevista, teoria da aprendizagem, orientação profissional, treinamento,<br />
estudos sobre os efeitos da fadiga e da monotonia, segurança, análise de cargos e fatores<br />
humanos.<br />
1.1.7 A Escola das Relações Humanas<br />
56<br />
Três razões são decisivas para o fortalecimento desta escola:<br />
• o crescimento do movimento trabalhista fez com que as empresas buscassem<br />
uma alternativa para minimizar seu efeito;<br />
• o aumento do nível de escolaridade dos trabalhadores; e<br />
• a mudança do mix ocupacional, ou seja, a redução das posições do “chão da<br />
fábrica” e o aumento dos profissionais administrativos.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Estas razões levaram ao surgimento de programas de pessoal com maior consistência,<br />
lideranças mais competentes e inspiradoras, abertas aos problemas e<br />
necessidades dos trabalhadores.<br />
Para esta escola, as pessoas são motivadas majoritariamente pela necessidade<br />
de reconhecimento, aprovação social e de participação nas atividades dos grupos<br />
sociais a que pertencem. Ela logo passou a ser vista como um conjunto de técnicas<br />
manipulativas de persuasão psicológica.<br />
1.1.8 A Escola Comportamentalista<br />
Nomes expressivos de autores vinculados a esta corrente são: Maslow, Herzberg,<br />
Argyris e McGregor. Nesta abordagem entende-se a motivação como resultado<br />
de um conjunto complexo de diferentes necessidades, relacionadas com o<br />
trabalho que as pessoas realizam e não estão sujeitas a sistemas externos de controle.<br />
O fator motivador de maior importância seria a auto-realização. Diferenciaram<br />
a motivação extrínseca e a intrínseca.<br />
Outro autor, Rensis Likert, um psicólogo norte-americano, advogava os benefícios<br />
da gerência participativa e denunciava a incoerência da busca de esforços<br />
colaborativos por meio da rígida especialização do trabalho. Defendia uma cultura<br />
organizacional de colaboração através da utilização de grupos de trabalho com os<br />
trabalhadores participando de diversos grupos e assim evitando a rivalidade.<br />
Duas importantes contribuições foram deixadas pela Escola Comportamentalista:<br />
• realçou a importância da integração de objetivos individuais e corporativos e<br />
do envolvimento; e<br />
• envolveu os dirigentes para a necessidade de aprimoramento contínuo da qualidade<br />
de vida no trabalho como fator motivacional.<br />
A abordagem sociotécnica tem suas raízes na Inglaterra e mais tarde na Noruega<br />
e Suécia. Segundo Fleury e Fleury (1997, p. 41), esta proposta “implica a busca<br />
de uma solução ótima numa visão de sistema integrado, na qual as demandas e<br />
as capacitações do sistema social sejam adequadamente articuladas às demandas<br />
e aos requisitos do sistema técnico, tendo em vista a consecução das metas da<br />
produção e os objetivos da organização e das pessoas”.<br />
Pode-se citar, ainda, outras teorias de motivação: Teoria da Avaliação Cognitiva,<br />
Teoria da Determinação de Metas, Teoria da Equidade e Teoria da Expectativa. Todas<br />
elas buscam compreender melhor como o homem envolve-se com o trabalho<br />
e como poderá apresentar maiores e duradouros resultados.<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
57
1.1.9 A Administração <strong>Estratégica</strong> de Recursos Humanos<br />
Segundo Nóbrega (2003), até os anos 1980 a disciplina recursos humanos evoluiu<br />
de forma reativa, e este avanço ocorreu como resposta a transformações ambientais<br />
ou movimentos sociais, incorporando técnicas e teorias desenvolvidas em outros campos<br />
do conhecimento como a engenharia. A partir dos anos 1980, o foco evoluiu para<br />
o alinhamento dos objetivos individuais e organizacionais de forma sistêmica. A função<br />
passou a ser compartilhada pelos gerentes de linha sendo orientados pelos profissionais<br />
de Recursos Humanos (RH) sobre as técnicas, sistemas e práticas de gestão<br />
de pessoas. A discussão sobre o papel das pessoas como vantagem competitiva das<br />
organizações, a autodeterminação e o autogerenciamento, passou a ser fundamental<br />
em recursos humanos. Uma síntese poderá ser observada no Quadro 1.<br />
58<br />
Quadro 1 - Administração de Recursos Humanos – Período entre 1945 e 1990<br />
Condições socioeconômicas Configuração organizacional Recursos Humanos<br />
• Crescimento econômico<br />
• Estado de bem-estar social<br />
• Internacionalização da<br />
economia<br />
• Consumo em massa<br />
• Entrada das mulheres no<br />
mercado de trabalho<br />
• Desenvolvimento de novas<br />
tecnologias<br />
• Fortalecimento dos sindicatos<br />
no início do período com<br />
posterior perda gradual ao<br />
longo dos anos seguintes<br />
• Pleno emprego no início do<br />
período e reestruturações<br />
durante a década de 1980<br />
Fonte: Adaptado de Nóbrega (2003).<br />
• Produção em massa<br />
• Expansão das multinacionais<br />
• Estruturas divisionais<br />
• Início da difusão de modelos<br />
“flexíveis” e “orgânicos”<br />
1.1.10 Gestão de Pessoas Para a Competitividade<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />
• Transformação do<br />
departamento de pessoal em<br />
departamento de recursos<br />
humanos<br />
• Preocupação com motivação,<br />
liderança e retenção de<br />
empregados<br />
• Surgimento de modelos de<br />
gestão de RH orientados para a<br />
“organização flexível”<br />
• Remuneração por<br />
desempenho<br />
• Empowerment<br />
O surgimento de diversos estudos e publicações sobre estratégia nas décadas de<br />
1980 e 1990 cria espaço para a introdução deste modelo para gestão de pessoas. Mintzberg,<br />
Lampel e Ahlstrand (1999), no artigo “Todas as partes do elefante”, elaboraram<br />
um quadro síntese das principais linhas de pensamento estratégico, dividindo-as em<br />
três grupos, conforme sua natureza. Quando se observa a ênfase aos “autores-chave” e<br />
as “palavras-chave” de cada linha, pode-se abstrair para os efeitos na gestão de pessoas<br />
e educação corporativa (Quadro 2).
Este quadro, além de facilitar a compreensão dos atores-chave em cada linha de<br />
pensamento, também deixa transparente a ênfase no “sujeito” ou restrito grupo de pessoas<br />
que ocupava aquela posição, favorecendo que o poder da definição da estratégia<br />
estivesse centrado em poucos, com questionável utilização do saber coletivo acumulado<br />
ao longo da organização.<br />
Quadro 2 - Palavras e atores-chave no pensamento sobre estratégia<br />
Autores Palavras-chave Atores-chave<br />
Selznick, 1957;<br />
Andrews, 1965.<br />
Ansoff, 1965.<br />
Schendel, Cooper, Hatten,<br />
meados de 1970; Porter, 1980<br />
e 1985.<br />
Schumpeter, 1954; Cole, 1959;<br />
vários economistas.<br />
Simon, 1945; March e Simon,<br />
1958.<br />
Lindblom, 1959; Cyert e March,<br />
1963; Weick, 1969; Quinn, 1980;<br />
Prahalad e Hamel, 1990.<br />
Allison (micro), 1971; Pfeffe e<br />
Salanick, 1978; Asley (macro),<br />
1984.<br />
Rhenman e Normann, fim dos<br />
anos 1960 na Suécia.<br />
Hannan e Freeman, 1977; os<br />
teóricos da contingência (Pugh<br />
etc.), fim dos anos 1960.<br />
Chandler, 1962; grupo Mcgill<br />
(Mintzberg, Miller etc.), fim dos<br />
anos 1970; Miles e Snow, 1978.<br />
Congruência/correspondência,<br />
competência distintiva,<br />
vantagem competitiva,<br />
realização.<br />
Programa, orçamento, esquema,<br />
cenário.<br />
Estratégia genérica, grupo<br />
estratégico, análise da<br />
concorrência, curva de<br />
experiência.<br />
Golpe de audácia, visão,<br />
perspicácia.<br />
Staff, ambiente, conceito,<br />
percepção, interpretação,<br />
capacidade de raciocínio<br />
limitada, estilo cognitivo.<br />
Por incrementos, estratégia<br />
emergente, criação de sentido,<br />
espírito empreendedor,<br />
competência básica.<br />
Discussão sobre preços, conflito,<br />
coalizão, jogo político, estratégia<br />
coletiva, rede, aliança.<br />
Valores, crenças, mitos, cultura,<br />
ideologia, simbolismo.<br />
Adaptação, contingência,<br />
seleção, complexidade, nicho.<br />
Configuração, arquétipo, etapa,<br />
ciclo de vida, transformação,<br />
revolução, reviravolta,<br />
revitalização.<br />
Fonte: Adaptado de Mintzberg, Lampel e Ahlstrand (1999).<br />
O presidente da empresa (como<br />
arquiteto).<br />
Os planejadores.<br />
Os analistas.<br />
O chefe.<br />
O espírito.<br />
Os que aprendem (que sabem<br />
fazer as coisas).<br />
Qualquer pessoa que detenha<br />
o poder (micro), a organização<br />
inteira (macro).<br />
A coletividade.<br />
O ambiente.<br />
Dependendo do contexto.<br />
Um grande marco na década de 1980 foi Michael Porter, com a introdução de competitividade<br />
e agregação de valor. A reengenharia, introduzida por Michael Hammer e<br />
James Champy, na década de 1990 também contribui neste modelo, pois ela propagava<br />
a “mudança radical de todos os princípios que orientam a administração de empresas nos<br />
últimos dois séculos” (FISCHER in FLEURY et al., 2002, p. 26). Esta mudança radical era a<br />
receita recomendada para lidar com as três forças que pressionavam as organizações:<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
59
60<br />
• O acirramento inusitado da concorrência;<br />
• O controle da relação com a empresa, assumido pelo cliente;<br />
• A mudança transformada em paradigma básico da gestão empresarial.<br />
A seguir uma síntese apresentada por Fischer in Fleury et al. (2002, p. 31), resume o<br />
modelo de gestão de pessoas para a competitividade:<br />
• Seu núcleo está no comportamento;<br />
• Alinha o comportamento às estratégias da organização;<br />
• Lida com ambiente em permanente transformação;<br />
• Dispõe de maior capacidade de gerar, por meio das pessoas, maior competitividade<br />
para a empresa.<br />
Visto no limite, pode-se dizer que a gestão de pessoas para a competitividade,<br />
está alicerçada na busca de um modelo para obter vantagens em função de um ambiente<br />
competitivo e está articulada em torno de competências, ou seja, instrumentos<br />
e ferramentas que são meios para determinado fim, independente da escola a<br />
que estejam subordinados.<br />
Fleury et al. (2002, p. 55) definem competência como um “saber agir responsável<br />
e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos,<br />
habilidades, que agregue valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”.<br />
Esta definição imprime o tom que as áreas de treinamento e desenvolvimento passaram<br />
a utilizar a partir da década de 1990, cujo principal objetivo é, segundo Reich<br />
(1999), ex-secretário do trabalho dos Estados Unidos da América, descobrir, atrair e<br />
reter as pessoas talentosas, reunindo as três qualidades fundamentais das empresas<br />
do século XXI: flexibilidade, velocidade e criatividade.<br />
Pode-se sintetizar a evolução, discorrida por meio de tópicos até o momento, conforme<br />
o Quadro 3.<br />
Quadro 3 - Evolução do foco da administração de recursos humanos<br />
Departamento de Pessoal<br />
(antes de 1960)<br />
• Recrutamento<br />
• Seleção<br />
• Alocação de pessoal<br />
• Manutenção de registros<br />
(controle de frequência) e<br />
documentos<br />
• Cumprimento da legislação<br />
• Em menor escala,<br />
envolvimento com<br />
treinamento, administração<br />
de conflitos, programas de<br />
bem-estar e decisões sobre<br />
demissões<br />
Fonte: Adaptado de Nóbrega (2003).<br />
Relações Humanas ou<br />
Relações Industriais<br />
(entre 1960 e 1980)<br />
• Motivação<br />
• Liderança<br />
• Qualidade de Vida no Trabalho<br />
• Treinamento<br />
• Desenvolvimento (surgem<br />
o coaching, mentoring e job<br />
rotation)<br />
• Foco no autodesenvolvimento<br />
• Cargos e salários<br />
• Benefícios<br />
• Negociações trabalhistas<br />
• Medicina do trabalho<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />
Gestão de Recursos Humanos<br />
(depois de 1980)<br />
• Retenção<br />
• Desenvolvimento de<br />
competências organizacionais<br />
• Aprendizagem<br />
• Conhecimento<br />
• Avaliação de Desempenho<br />
• Desenvolvimento gerencial<br />
• Compartilhamento da função<br />
do RH com as gerências<br />
• Inovação<br />
• Criatividade
1.2 Impacto das fases da gestão de recursos humanos em<br />
desenvolvimento organizacional, treinamento e desenvolvimento<br />
Por meio da análise e interpretação destas fases, pode-se extrair a ênfase dada no<br />
desenvolvimento organizacional, treinamento e desenvolvimento, cujo resultado pode<br />
ser observado no Quadro 4.<br />
Assim, ao longo da história pode-se dizer que a educação para o trabalho, ou seja,<br />
aquela que prepara o indivíduo para e ou na vida profissional, compreende:<br />
• aquela que é provida para preparar ou adaptar o sujeito para desempenhar uma<br />
tarefa ou exercer uma função, ou seja, é aplicada tendo em vista um curto espaço<br />
de tempo e abrangência restrita ou específica. Neste caso, aplica-se treinamento;<br />
• aquela que desenvolve a pessoa para melhorar seu desempenho em médio<br />
prazo, considerando necessidades atuais e futuras do cargo atual ou potencial,<br />
tomando decisões de maior complexidade, ou seja, desenvolvendo pessoas;<br />
• aquela que forma o indivíduo em uma profissão em longo prazo, com a abrangência<br />
requerida ao exercício da atividade. Pode ser institucionalizada ou não,<br />
mas será a formação profissional do indivíduo.<br />
Quadro 4 - Abordagem da gestão de pessoas e o impacto na formação<br />
Fases Impacto na formação das pessoas<br />
Enfatiza a existência de dois grupos de trabalhadores:<br />
• Engenheiros e cientistas; e<br />
• Operários.<br />
Revolução industrial As pessoas do primeiro grupo são aquelas que puderam usufruir a educação<br />
formal disponibilizada aos que estavam na classe social de maior poder<br />
aquisitivo. O segundo é treinado pelo capataz ou alguém com conhecimento<br />
na tarefa, para fazer melhor e no menor tempo possível.<br />
Crescimento do<br />
sindicalismo<br />
Administração<br />
científica<br />
Os grupos continuam existindo adicionando-se ao grupo de operários o<br />
acesso a programas de educação, já com uma perspectiva da melhoria do<br />
bem-estar geral e possibilidade de ampliar o desempenho profissional.<br />
Além dos especializados (engenheiros e cientistas), surge um terceiro grupo,<br />
o de gerentes, embora pudessem ter saído de uma das especializações<br />
do primeiro grupo. Considerando que a âncora desta fase foi a padronização<br />
e a produtividade, habilitar o trabalhador para fazer certo da primeira<br />
vez, o mais rápido possível e na maior quantidade, foi imperativo.<br />
Paternalismo Embora tenha alterado a relação entre empregado e empregador, pode-se<br />
Departamento de<br />
pessoal<br />
inferir que não interfere na forma de preparo do trabalhador, mas impacta<br />
em desenvolvimento organizacional, uma vez que há preocupação com a<br />
saúde do trabalhador.<br />
Psicologia industrial A humanização das práticas de gestão pela inclusão do psicólogo no ambien-<br />
Escola de relações<br />
humanas<br />
Escola<br />
comportamentalista<br />
te organizacional, permite inferir que a introdução de teorias de aprendizagem,<br />
além de serem utilizadas para agilizar a sedimentação da informação<br />
pelo operário, também abre espaço para desenvolvimento de características<br />
de liderança que poderiam auxiliar na ampliação da produtividade.<br />
A integração dos objetivos individuais e organizacionais e a busca contínua<br />
da qualidade de vida no trabalho ampliam as oportunidades para além do<br />
treinamento, auxiliando o indivíduo para seu autodesenvolvimento.<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
Continua...<br />
61
62<br />
Quadro 4 - Abordagem da gestão de pessoas e o impacto na formação<br />
Fases Impacto na formação das pessoas<br />
Administração<br />
estratégica de recursos<br />
humanos<br />
Gestão de pessoas<br />
para a competitividade<br />
Fonte: Elaborado pelas autoras.<br />
A busca do alinhamento entre objetivos individuais e organizacionais, de<br />
forma sistêmica, carrega intrinsecamente a necessidade da organização escolher<br />
indivíduos com este alinhamento e vice-versa. Desenvolver pessoas<br />
e empresas que sejam capazes de sobreviver neste ambiente caótico levou<br />
a administração a se inspirar na teoria do caos, uma vez que se está diante<br />
de relacionamentos dentro de sistemas complexos.<br />
Desta forma, pode-se entender que nas diferentes fases da história da gestão de<br />
pessoas, treinamento sempre esteve presente, considerando seu resultado imediato na<br />
continuidade das atividades de qualquer negócio, garantindo a adaptação do sujeito no<br />
exercício de determinado cargo e sua produtividade. A formação profissional institucionalizada<br />
sempre foi acessível aos que tinham condições econômicas de possuí-la, já a não<br />
institucionalizada, que também é muito antiga, especialmente considerando-se o empenho<br />
dos artesãos em preparar seus sucessores. Desenvolvimento de pessoas já é uma<br />
ação que requer maior compromisso da organização com seus recursos humanos, uma<br />
vez que seus resultados não aparecem em curto prazo, bem como não afeta a produtividade<br />
de imediato. Estas etapas da educação para o trabalho constituem importante<br />
núcleo da educação corporativa da atualidade, conforme se verá mais adiante.<br />
As fases da administração estratégica de recursos humanos e gestão de pessoas<br />
para a competitividade possuem linha divisória muito sensível, uma vez que na atualidade<br />
encontram-se empresas que se distribuem nas últimas três fases, ou seja, escola<br />
comportamentalista, administração estratégica de recursos humanos e gestão de<br />
pessoas para a competitividade. Alinhar o comportamento humano às estratégias da<br />
organização significa preparar pessoas e empresas para um ambiente em permanente<br />
competição, em que fazer certo da primeira vez hoje pode não ser válido amanhã. Assim,<br />
as organizações, buscando maximizar sua capacidade de competir, validaram o ser<br />
humano como elo entre o passado, onde estão as experiências de sucesso ou não, e o<br />
presente, onde está sendo germinado um futuro imaginado, mas que não se tem certeza<br />
quando começa. Assim, a gestão do conhecimento ganha espaço na atualidade<br />
como área onde há muito a ser pesquisado e conquistado.<br />
De qualquer forma, Darwin seria de grande auxílio na atualidade, tendo em vista<br />
que a origem e a adaptação dos trabalhadores ao meio ambiente organizacional é<br />
construída diariamente por sonhos, resultados alcançados, alegrias e frustrações.<br />
2 Universidade Corporativa<br />
A autora responsável pela disseminação comercial deste tema define universidade<br />
corporativa como: “um guarda-chuva estratégico para desenvolver e educar funcionários,<br />
clientes, fornecedores e comunidade, a fim de cumprir as estratégias empresariais<br />
da organização” (MEISTER, 1999, p. 29).<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Meister (1999, p. 30) apresentou os dez princípios e objetivos que “constituem<br />
a base do poder que as universidades corporativas têm no sentido de mobilizar<br />
os funcionários para que eles formem uma força de trabalho de altíssima qualidade,<br />
necessária para que a organização tenha sucesso no mercado global”. Embora<br />
o termo não esteja inserido na definição de universidade corporativa apresentada<br />
por esta autora, ela também reforça que “o modelo de universidade é baseado em<br />
competências e vincula a aprendizagem às necessidades estratégicas da empresa”<br />
(p. 31). Neste sentido, é importante a compreensão do significado de competência<br />
para a autora: “são definidas como a soma de qualificações, conhecimento e ‘conhecimento<br />
implícito’ necessária para superar o desempenho da concorrência” (p. 13).<br />
Como exposto anteriormente na definição de competências de Fleury et al.<br />
(2002), os princípios e objetivos foram estabelecidos para nortear o trabalho que<br />
deve ser desenvolvido para assegurar o resultado sobre as competências. Os termos<br />
princípios, objetivos e metas são utilizados sem a preocupação do rigor conceitual<br />
que possuem na administração, sendo tratados de forma substitutiva ao se<br />
apresentar as dez afirmações a seguir.<br />
1. Oferecer oportunidades de aprendizagem que deem sustentação às questões empresariais<br />
mais importantes da organização.<br />
2. Considerar o modelo da universidade corporativa um processo e não um espaço<br />
físico destinado à aprendizagem.<br />
3. Elaborar um currículo que incorpore os três Cs: Cidadania Corporativa, Estrutura<br />
Contextual e Competências Básicas.<br />
4. Treinar a cadeia de valor e parceiros, inclusive clientes, distribuidores, fornecedores<br />
de produtos terceirizados, assim como universidades que possam fornecer os trabalhos<br />
de amanhã.<br />
5. Passar do treinamento conduzido pelo instrutor para vários formatos de apresentação<br />
da aprendizagem.<br />
6. Encorajar e facilitar o envolvimento dos líderes com o aprendizado.<br />
7. Passar do modelo de financiamento corporativo por alocação para o “autofinanciamento”<br />
pelas unidades de negócio.<br />
8. Assumir um foco global no desenvolvimento de soluções de aprendizagem.<br />
9. Criar um sistema de avaliação dos resultados e também dos investimentos.<br />
10. Utilizar a universidade corporativa para obter vantagem competitiva e entrar em<br />
novos mercados. (MEISTER, 1999, p. 30).<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
63
64<br />
Eboli (2004, p. 59) sintetizou o que considera como princípios, da seguinte forma:<br />
• Princípio nº 1 – Competitividade: Valorizar a educação como forma de desenvolver<br />
o capital intelectual dos colaboradores. Os trabalhadores passam a ser fator<br />
de diferenciação da empresa diante dos concorrentes, ampliando assim sua capacidade<br />
de competir.<br />
• Princípio nº 2 – Perpetuidade: Entender a educação não apenas como um processo<br />
de desenvolvimento e realização do potencial existente em cada colaborador,<br />
mas também como um processo de transmissão da herança cultural, a fim de<br />
perpetuar a existência da empresa.<br />
• Princípio nº 3 – Conectividade: Privilegiar a construção social do conhecimento,<br />
estabelecendo conexões e intensificando a comunicação e a interação.<br />
• Princípio nº 4 – Disponibilidade: Oferecer e disponibilizar atividades e recursos<br />
educacionais de fácil uso e acesso, propiciando condições favoráveis para que os<br />
colaboradores realizem a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar.<br />
• Princípio nº 5 – Cidadania: Estimular o exercício da cidadania individual e corporativa.<br />
• Princípio nº 6 – Parceria: Parcerias internas (com líderes e gestores) e externas<br />
(instituições de nível superior).<br />
• Princípio nº 7 – Sustentabilidade: Ser um centro gerador de resultados para a empresa,<br />
procurando sempre agregar valor ao negócio. Pode significar também buscar fontes<br />
alternativas de recursos que permitam um orçamento próprio e autossustentável.<br />
2.1 Universidade Corporativa (UC) e tradicional<br />
A finalidade da educação superior, estabelecida no artigo 43 da lei nº 9.394, de 20<br />
de dezembro de 1996, é:<br />
I. estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento<br />
reflexivo;<br />
II. formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção<br />
em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade<br />
brasileira, e colaborar na sua formação contínua;<br />
III. incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento<br />
da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,<br />
desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem<br />
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações<br />
ou de outras formas de comunicação;<br />
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar<br />
a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão<br />
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento<br />
de cada geração;<br />
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os<br />
nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer<br />
com esta uma relação de reciprocidade;<br />
VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das<br />
conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e<br />
tecnológica geradas na instituição (BRASIL, 1996).<br />
Pode-se, a partir desta lei, sintetizar as principais funções da educação superior, da<br />
seguinte forma:<br />
• criar, promover e divulgar conhecimentos culturais;<br />
• estimular o desenvolvimento do espirito científico e do pensamento reflexivo;<br />
• comunicar através do ensino, publicação ou outras formas;<br />
• incentivar o desejo permanente de aperfeiçoamento; e<br />
• estimular a cidadania.<br />
Neste instante, é oportuno relembrar a missão e objetivo da educação corporativa:<br />
A missão da UC consiste em formar e desenvolver os talentos na gestão dos negócios, promovendo<br />
a gestão do conhecimento organizacional (geração, assimilação, difusão e aplicação),<br />
por meio de um processo de aprendizagem ativa e contínua.<br />
O objetivo principal desse sistema é o desenvolvimento e a instalação das competências<br />
empresariais e humanas consideradas críticas para a viabilização das estratégias de negócios<br />
(EBOLI, 2004, p. 48).<br />
Assim, aos que analisavam a universidade corporativa com o mesmo rigor de critérios<br />
que o fazem para a tradicional, fica evidenciado que sua finalidade, embora seja<br />
educação, são diferentes, especialmente quanto à amplitude de sua proposta.<br />
3 A Educação Corporativa e a Gestão do Conhecimento<br />
Gestão do conhecimento incorporou-se ao vocabulário empresarial nos últimos<br />
anos e algumas publicações foram lançadas próximo ao final da década de 1990. São<br />
diversas as expressões que compõe esta área, mas algumas necessitam de esclarecimento<br />
imediato:<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
65
66<br />
Conhecimento é o conjunto total incluindo cognição e habilidades que os indivíduos<br />
utilizam para resolver problemas. Ele inclui tanto a teoria quanto a prática, as regras<br />
do dia a dia e as instruções sobre como agir. O conhecimento baseia-se em dados e<br />
informações, mas, ao contrário deles, está sempre ligado a pessoas. Ele é construído por<br />
indivíduos e representa suas crenças sobre relacionamentos causais (PROBST, RAUB E<br />
ROMHARDT, 2002, p. 29).<br />
Pode-se evoluir para a definição proposta por Sveiby (apud BARROSO e GOMES, 2004):<br />
Gestão do conhecimento é a arte de criar valor alavancando os ativos intangíveis. Para<br />
conseguir isto, é preciso ser capaz de visualizar a empresa apenas em termos de conhecimento<br />
e fluxos de conhecimento.<br />
Esta definição evidencia que “o conhecimento cresce ao ser compartilhado e ao<br />
ser utilizado” (Barroso e Gomes, 2004), bem como, a importância das pessoas para<br />
seu uso. Outra importante definição neste assunto é que<br />
A base de conhecimento organizacional consiste em ativos de conhecimentos individuais<br />
e coletivos que a organização pode utilizar para realizar suas tarefas. A base de<br />
conhecimento também inclui os dados e as informações sobre os quais se constroem<br />
o conhecimento individual e organizacional (PROBST, RAUB E ROMHARDT, 2002, p. 29).<br />
Os dados e as informações originam-se de diferentes fontes e podem provocar<br />
mudanças individuais e ou coletivas. Quando agem sobre o coletivo, interfere nas<br />
competências organizacionais e constitui a aprendizagem organizacional que<br />
[...] consiste em mudanças na base de conhecimento da organização, na criação de estruturas<br />
coletivas de referência e no crescimento da competência da organização para<br />
agir e resolver problemas (PROBST, RAUB E ROMHARDT, 2002, p. 30).<br />
Naturalmente nem sempre o conhecimento que a organização gera é de valor<br />
estratégico. “Para que o conhecimento exclusivo seja fonte de vantagem competitiva,<br />
é preciso que satisfaça a três outros critérios: ser valioso, de difícil imitação<br />
pelos concorrentes e de difícil substituição por sucedâneos” (BARNEY, 1991 apud<br />
KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p. 96). Ainda, segundo estes mesmos autores, “o<br />
conhecimento tácito, social ou individual é sempre mais difícil de imitar do que o<br />
conhecimento explícito, constante de documentos e manuais” (p. 97).<br />
Conhecimento explícito “ou codificado, refere-se ao conhecimento transmissível<br />
em linguagem formal, sistemática” (FLEURY et al., 2002, p. 139), já o conhecimento<br />
tácito “consiste em parte de habilidades técnicas, o tipo de destreza informal<br />
e de difícil especificação incorporado ao termo know-how” (NONAKA, 2001<br />
apud FLEURY et al., 2002, p. 139).<br />
Nonaka e Takeuchi (apud CHOO, 2003, p. 37), afirmam que “a construção do conhecimento<br />
é conseguida quando se reconhece o relacionamento sinérgico entre o co-<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
nhecimento tácito e o conhecimento explícito dentro de uma organização, e quando<br />
são elaborados processos sociais capazes de criar novos conhecimentos por meio da<br />
conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito”. Pode-se relacionar<br />
os grupos ou comitês de melhoria contínua que surgiram durante os movimentos de<br />
qualidade, ou ainda, aqueles destinados a inovação, como um excelente exemplo de<br />
processo organizacional que facilita e promove a socialização.<br />
“Socialização é o processo pelo qual se adquire conhecimento tácito partilhando experiências”<br />
(NONAKA; TAKEUCHI apud CHOO, 2003, p. 37). Ainda, segundo os mesmos<br />
autores, “há quatro maneiras de converter o conhecimento por meio de um processo de<br />
socialização, que converte conhecimento tácito em conhecimento tácito; por meio da<br />
exteriorização, que converte conhecimento tácito em conhecimento explícito; por meio<br />
da combinação, que converte conhecimento explícito em conhecimento explícito; e por<br />
meio da internalização, que converte conhecimento explícito em conhecimento tácito”.<br />
A utilização dinâmica destas quatro formas conduz a prática da espiral de conhecimento,<br />
uma vez que ao atingir o resultado desejado, o ciclo reinicia em um novo nível.<br />
Krogh, Ichijo e Nonaka (2001, p. 14), discorrem sobre algumas “ideias básicas que são<br />
parte integrante da capacitação para o conhecimento”. São elas: “Primeiro, o conhecimento<br />
é crença verdadeira e justificada. Segundo, o conhecimento é explícito e tácito.<br />
Terceiro, a eficácia da criação de conhecimento depende de um contexto capacitante”.<br />
Finalmente, a criação de conhecimento organizacional envolve cinco fases principais...<br />
(1) compartilhamento do conhecimento tácito, (2) criação de conceitos, (3) justificação<br />
de conceitos, (4) construção de propósitos, e (5) nivelação do conhecimento.<br />
Diante do exposto, pode-se afirmar a relevância do papel da universidade corporativa<br />
na conversão e socialização do conhecimento. Ao discutir a realidade a luz do<br />
conhecimento explícito, criando provocações para que o sujeito utilize seu conhecimento<br />
tácito para promover combinações, a educação corporativa participa ativamente<br />
da sedimentação da vantagem competitiva a partir da socialização, justamente a<br />
mais difícil de ser imitada. Desta forma, age objetivamente na espiral de conhecimento,<br />
contribuindo para o reinício do ciclo em um novo nível. Krogh, Ichijo e Nonaka (2001, p.<br />
16), explicam a expressão contexto capacitante como “um espaço compartilhado que<br />
fomente novos relacionamentos [...] . Pode ser físico, virtual, mental, ou – mais provavelmente<br />
– todos os três”. Sem dúvida alguma, trata-se de uma expressão análoga à<br />
educação corporativa.<br />
3.1 Trilhas do conhecimento e certificações<br />
Em um mundo globalizado e em constante mudança, o conhecimento tácito e explicito<br />
dentro das organizações requer, cada vez mais, uma forma estruturada para sua<br />
interpretação, utilização e formação das pessoas naquilo que faça diferença para agregar<br />
valor ao negócio. Aliado a isto, a evolução da gestão por competências trouxe para<br />
a educação corporativa a necessidade de dialogar com o sistema de forma estruturada<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
67
e integradora, ou seja, promover a integração do arcabouço do conhecimento com as<br />
competências identificadas nas diferentes posições existentes dentro das empresas.<br />
Esta ferramenta tem se mostrado de extrema validade para as organizações, à medida<br />
que permite estabelecer as competências e respectivos conteúdos tácitos e explícitos<br />
que devem ser de domínio do indivíduo 1 .<br />
Os acordos entre as universidades corporativas e as instituições de ensino também<br />
evoluíram nos últimos anos, pela realização de turmas fechadas, ou in company, para<br />
cursos de pós-graduação lato sensu ou turmas consorciadas. Estando as competências<br />
mapeadas, as necessidades de aperfeiçoamento se tornam muito mais evidentes e<br />
com isto o sujeito passa a ser coparticipe da solução, uma vez que o objeto da certificação<br />
é a competência.<br />
A trilha do conhecimento também contribuiu sobremaneira para a evolução das<br />
certificações, pois corrobora diretamente com os níveis propostos por Kirkpatrick (1998<br />
apud FLEURY et al., 2002), podendo se utilizar da certificação para avaliar a evolução do<br />
individuo dentro das competências relacionadas à função. Observa-se, nesta iniciativa,<br />
a busca constante em mensurar os resultados alcançados pela educação corporativa,<br />
tanto na perspectiva do sujeito como da instituição.<br />
4 A Académie (universidade corporativa da Accor)<br />
Organismo fundamentado no antigo conceito grego de academia, “Jardim de Academus”,<br />
era o local onde Platão reunia seus discípulos para ensinar através do método<br />
indutivo. A Académie Accor no Brasil é a primeira universidade corporativa da Accor<br />
fora da França.<br />
A Académie Accor no Brasil foi inaugurada em novembro de 1992 e desde então<br />
vem atuando com o objetivo estratégico de formação dos 9.000 colaboradores da Accor<br />
na América Latina, distribuídos em 182 empreendimentos hoteleiros, que congregando<br />
6 marcas, com valores culturais e empresariais comuns. É uma ferramenta de<br />
eficiência empresarial, possibilitando desenvolver pessoas no que tange não somente<br />
a natureza profissional, mas também, o crescimento pessoal com o alargamento das<br />
visões e das fronteiras.<br />
Atuando para obter maior capacidade em resolver problemas complexos, tomar<br />
decisões rápidas e precisas e impulsionar o desenvolvimento e progresso das empresas<br />
do grupo, a Académie Accor interfere positivamente na excelência, no crescimento, na<br />
cultura interna e na imagem da Accor Hotels na região.<br />
1 Um exemplo de utilização das trilhas do conhecimento pode ser visto no endereço eletrônico do Sebrae na<br />
página < http://www.uc.sebrae.com.br/>.<br />
68<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Sua missão é a educação continuada através do conceito “Ensinar a Ensinar” e<br />
“Aprender a Aprender”, promovendo a difusão dos valores e da cultura empresarial,<br />
o aperfeiçoamento gerencial e a multiplicação e sinergia dos conhecimentos<br />
adquiridos pelas unidades das diferentes regiões.<br />
Utilizou-se o modelo proposto por Kirkpatrick (1998 apud FLEURY et al., 2002)<br />
para avaliar os resultados alcançados pela Académie Accor em seus investimentos<br />
em educação corporativa. É importante destacar que todo investimento promove<br />
retorno que converge para o acionista em forma de resultado econômico, financeiro<br />
e imagem institucional.<br />
1º - Reação<br />
Quanto os participantes ficaram satisfeitos com o Programa? (conteúdo, instrutores,<br />
metodologia, instalações etc.).<br />
Esta avaliação é realizada pela Académie Accor em cada programa. Os resultados<br />
são consolidados e monitorados. Quando surge algum resultado fora dos<br />
padrões da Académie Accor, existe uma análise do curso e do facilitador buscando<br />
identificar a causa da situação e são empreendidas ações para as próximas turmas.<br />
2º - Aprendizado<br />
Aprenderam? Quanto os participantes aprenderam? Houve aumento de conhecimento,<br />
desenvolvimento de habilidades ou mudança de atitudes?<br />
A Académie Accor utiliza este dispositivo em situações cujo conteúdo é racional.<br />
Existe um objeto de aprendizagem que deve ser apreendido pelos participantes, não<br />
sendo atitudes. É valido para cursos exigindo certificação como “Revenue Management”,<br />
“Sales and Distribuition Pass”, “Trainer Pass” e todos os cursos online utilizam testes,<br />
como por exemplo: “Navegando no Mundo Accor”, Boas Práticas de Manipulação<br />
de Alimentos (BPMA) e “A Luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes”.<br />
A partir de abril de 2012 será implantada uma plataforma LMS em toda região. Através<br />
dela haverá controle de todos os cursos realizados, sejam presenciais ou a distância,<br />
bem como, o desempenho nos dois primeiros níveis propostos por Kirkpatrick (1998).<br />
3º - Aplicação<br />
O aprendizado está sendo aplicado no cotidiano do trabalho? Quais as mudanças<br />
percebidas?<br />
Este item é avaliado pelo líder do colaborador ao longo de sua rotina de trabalho<br />
e por meio da avaliação de desempenho. As lideranças são incentivadas a<br />
fornecer feedback aos colaboradores, na medida do possível, em tempo real, utilizando<br />
a avaliação de desempenho com um instrumento de consolidação e registro<br />
da evolução e necessidades de formação.<br />
Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
69
Além da avaliação pelo líder, em algumas circunstâncias, utilizam-se atividades “pós-<br />
-curso”, baseadas na realidade. Ou seja, um grupo de participantes deve desenvolver<br />
uma atividade baseada no que foi ensinado e que tenha necessidade dentro de sua<br />
área. Neste caso existe um tempo de intervalo para elaboração do trabalho (pode variar<br />
de 30 a 90 dias) e no próximo encontro os grupos apresentam o trabalho. Neste tipo de<br />
atividade a Académie Accor participa da avaliação de 3º nível. No treinamento “Trainer<br />
Pass”, cuja certificação é obtida após efetuar treinamento mínimo de duas horas, cujo<br />
desempenho é validado pela Academia, seja presencialmente ou por vídeo enviado e<br />
validado pela Académie Accor. Há também um programa de qualificação em três níveis<br />
(Itinéraires) em que além dos treinamentos, os gestores avaliam e validam as competências<br />
adquiridas para que os interessados possam candidatar-se ao nível acima.<br />
Assim, para alguns treinamentos este nível de avaliação está no ambiente de trabalho<br />
do colaborador, sendo complementado e enriquecido por sessões de educação. Sem<br />
dúvida, amplia o significado da aprendizagem e do “aprender a aprender”, bem como<br />
reforça a socialização do conhecimento.<br />
4º - Resultados<br />
Quais os resultados gerados em função do Programa? Qual o retorno do Programa<br />
para os resultados nos negócios? Implantaram novos projetos que geraram valor?<br />
Esta avaliação está dentro das diretorias das diferentes marcas, enquanto medição<br />
objetiva. Em subjetividade, pode-se extrapolar e afirmar que a existência da Académie<br />
Accor por todos estes anos é uma confirmação do reconhecimento da empresa.<br />
A avaliação de reação é rápida e objetiva. Em alguns casos, a de aprendizado (2º<br />
nível) também. Já os demais níveis requerem tempo para sedimentação, são resultados<br />
de longo prazo que interagem com outros elementos do sistema. Como mencionado<br />
anteriormente, existe interdependência entre o indivíduo e o sistema e todos os elementos<br />
que o compõem, fato que não deve ser desprezado ao se avaliar os resultados<br />
de intervenções de educação a distância ou presencial no curto prazo. Validando-se<br />
que a cultura organizacional é modificada pela reeducação do trabalhador e este por<br />
sua vez é afetado pela nova modificação ocorrida na cultura organizacional, encontrar<br />
o resultado promovido por cursos dentro da empresa implica, no primeiro momento,<br />
isolamento da “variável” indivíduo, atribuindo-lhe o poder de promover mudanças no<br />
meio, com redução do efeito da interdependência.<br />
Conclusão<br />
A formação do trabalhador dentro das organizações é um tema que desperta grande<br />
interesse por parte dos pesquisadores, uma vez que está diretamente relacionada à<br />
capacidade de perpetuação do negócio. Identifica-se que a universidade corporativa<br />
é uma expressão contemporânea amoedada para ser um possível indicador do estágio<br />
que uma empresa se encontra na preparação de suas equipes para a competição<br />
empresarial. Está diretamente associada à educação em permanência, envolvendo tra-<br />
70<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
alhadores nesta nova filosofia organizacional, caracterizada “pela intenção de ampliar<br />
incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade,<br />
quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras” (FERREIRA,<br />
1999) - uma realidade regida pelo caos. Com este escopo de atuação, portanto, carrega<br />
uma nova postura no trato da educação corporativa, que a afasta da proposta original<br />
das antigas áreas de desenvolvimento organizacional, treinamento e desenvolvimento.<br />
Pode-se inferir que seu papel é complementar ao de uma universidade formal, pois<br />
ao lidar com a velocidade da mudança na realidade, auxilia pesquisadores e cientistas<br />
por meio do questionamento desta realidade e das reações que ações empreendidas<br />
provocam neste ambiente. Nestas ações o empirismo é valorizado e as identificações<br />
de causa e efeito, realizadas de forma também empírica.<br />
Estas constatações alimentam a importância que as universidades corporativas têm<br />
nas culturas organizacionais, uma vez que elas são excelentes instrumentos para competitividade<br />
empresarial, por meio da ampliação das competências individuais, obtida<br />
pela socialização do conhecimento, processo fundamental dentro da gestão do conhecimento<br />
e requisito chave para a competitividade.<br />
Entende-se que algumas questões permanecem de forma cristalina. São elas:<br />
• Quais metodologias de ensino apoiarão as organizações no desenvolvimento<br />
dos trabalhadores do conhecimento?<br />
• Como as organizações com forte traço de oralidade superarão a fase de exteriorização<br />
do conhecimento convertendo-o em explícito por meio da documentação,<br />
permitindo o reinício do ciclo?<br />
• Interpretando-se o modelo como uma ferramenta que serve de suporte à<br />
construção do conhecimento, quais modelagens serão mais eficazes neste<br />
papel dentro das organizações, respeitando a respectiva cultura empresarial<br />
e setorial?<br />
Enfim, trata-se de uma área de pesquisa em que as construções estão em fase embrionária<br />
e muito pode ser feito para auxiliar as organizações na busca de caminhos<br />
que ajudarão na escalada da evolução empresarial.<br />
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Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />
73
74<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Minimizando Riscos na Implantação de<br />
BPM (Business Process Management)<br />
Resumo: Este trabalho investigou os<br />
critérios a serem considerados para mitigar<br />
riscos na implantação da solução<br />
BPM (Business Process Management) nas<br />
organizações que desejam a sobrevivência<br />
ou até conquistar maiores fatias<br />
do mercado em que atuam. Quanto à<br />
abordagem foi utilizada a pesquisa teórica<br />
por meio de livros, publicações periódicas,<br />
e Internet. Constatou-se que<br />
o BPM apresenta uma visão integrada<br />
dos processos, que nem sempre todas<br />
as equipes são envolvidas nas mudanças<br />
e que o BPM traz alguns benefícios<br />
como: transparência do processo, melhoria<br />
contínua, maior agilidade, padronização<br />
e definição clara.<br />
Palavras-chave: Gerenciamento de<br />
Processos de Negócio. Administração.<br />
Mudança Organizacional.<br />
Introdução<br />
Marcos Briaga *<br />
Abstract: This work investigated the<br />
criteria to be considered in order to<br />
mitigate risks in solution implementation<br />
of BPM (Business Process Management)<br />
in the organizations that desire<br />
their survival or until they achieve<br />
greater market share where they act.<br />
Theoretical methodology research was<br />
used through books, periodic publications<br />
and Internet. It was evidenced<br />
that the BPM offers an integrated vision<br />
of the processes and that not always<br />
teams are involved in the changes. BPM<br />
brings some benefits such as process<br />
transparency, continuous improvement,<br />
broader agility, standardization<br />
and clear definitions.<br />
Keywords: Business Process Management.<br />
Administration. Organizational<br />
Changes.<br />
O tema BPM (Business Process Management), vem ao longo dos anos ocupando espaço<br />
cada vez maior na pauta estratégica das empresas. Em pesquisa divulgada pela<br />
ELO Group (2010), as empresas respondentes revelam ter incorporado a cultura de processos<br />
em sua estrutura organizacional de tal forma a criar um departamento separado<br />
dos demais (geralmente nomeado como Escritório de Processos), com, inclusive, novos<br />
desafios, como por exemplo: difusão da cultura de BPM (Business Process Management),<br />
governança de processos, sinergias com os departamentos de tecnologia da informação,<br />
recursos humanos, estratégia, projetos, auditoria, financeiro, entre outros.<br />
* Este artigo tem por base a monografia apresentada à FAAP-MBA Executivo, como parte dos requisitos para a<br />
aprovação no Curso MBA Executivo, sob orientação do Prof. Especialista Luiz Eduardo de Abreu Cunha. E-mail do<br />
autor: mbriaga@hotmail.com.br.<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
75
1 Gestão por Processos e Gestão de Processo<br />
Toda organização tem vários processos que são executados, isto é: todo produto ou<br />
serviço oferecido por uma empresa tem um processo. Portanto, processo é o resultado<br />
do trabalho das pessoas e das instalações de equipamentos e outros recursos materiais,<br />
visando alcançar um objetivo. Neste sentido, este tópico tem por finalidade abordar o<br />
tema Gestão por Processo, Gestão de Processo e suas diferenças.<br />
1.1 Definição de processo<br />
Processo é a ordenação específica das atividades de trabalho no tempo, com um<br />
começo, um meio e entradas e saídas claramente identificados, ou seja, há: uma estrutura<br />
para a ação. Neste caso, o processo é repetido diversas vezes dentro da empresa.<br />
É um conjunto de atividades e recursos que, coordenados de forma adequada, levam<br />
às empresas a alcançarem seus objetivos. São ações que produzem um resultado que<br />
agregam valor ao produto, serviços e aos negócios em geral.<br />
Cruz (2002, p. 106), revela outra definição sobre processos: ”[...] processo é a forma<br />
pela qual um conjunto de atividades cria, trabalha ou transforma insumos (entradas),<br />
agregando-lhes valor, com a finalidade de produzir bens ou serviços com qualidade<br />
para serem entregues a clientes (saídas), sejam eles internos ou externos”. Porém, todas<br />
reservam algumas similaridades entre si e, por fim, pode-se chegar ao consenso de que<br />
o processo nada mais é do que um conjunto de atividades que, ordenadas de forma<br />
lógica, produzem um bem ou serviço, com valor ou não reconhecido por um ou mais<br />
clientes. A Figura 1 exemplifica e resume a definição de processo.<br />
Fonte: Autor deste artigo.<br />
76<br />
Figura1 - Definição de Processo<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Organizações cada vez mais orientadas por processos tendem a ter suas barreiras interdepartamentais<br />
cada vez mais permeáveis, tênues e, em alguns casos, quase que irreconhecíveis,<br />
afinal o objetivo de todos passa por agradar o cliente e não mais o chefe.<br />
A partir deste contato, os desejos dos clientes passam a ser conhecidos mais profundamente,<br />
levando as organizações a quererem agrada-los cada vez mais, nem que para<br />
isso seja necessária a redução do tempo empregado entre criação e comercialização<br />
do produto e/ou serviço. Essa lógica é cruel do ponto de vista do esforço aplicado neste<br />
ciclo, onde não se sabe qual é o término.<br />
1.2 Gestão por processos nas organizações<br />
Para Gonçalves (1997), a empresa organizada em torno de seus processos e com<br />
esforços concentrados em seus clientes é que terá melhores condições de sobreviver<br />
em um ambiente de competição cada vez mais global e em constante mutação. As<br />
empresas devem alterar o seu desenho organizacional para melhor enfrentar os novos<br />
desafios impostos pelo século XXI.<br />
Segundo Hammer (1998), um processo é um conjunto de atividades com uma ou<br />
mais espécies de entrada e que cria uma saída de valor para o cliente. Ou seja: para o<br />
cliente é dispensável esta informação (estrutura organizacional), mas realmente o que<br />
interessa são os produtos e serviços. Isto confirma outra teoria de Hammer (1998), ao<br />
colocar a estrutura por processo como a que pode proporcionar o melhor nível de satisfação<br />
para os clientes, bem como melhores resultados para a empresa e que, portanto,<br />
tende a gerar maior participação no mercado em que a organização atua.<br />
Mas nem sempre orientar a organização por processos é a melhor solução, afinal<br />
cada caso é um caso. Paim et al. (2009, p. 71) ”[...] alerta que apesar de todas as organizações<br />
possuírem processos, a visão processual não é a única existente e nem sempre é a<br />
melhor e a mais indicada, afinal pode-se orientar uma organização por produtos, clientes,<br />
segmentos de mercado etc.”. Entretanto, a visão processual é a que mais atende a<br />
demanda em ambientes com maior dinâmica em produtos e processos.<br />
1.3 Gestão de processos nas organizações<br />
“Gestão de Processos” possui um significado mais reducionista, oriundo do<br />
tempo em que se estudava a atividade executada pelo operário. Possui característica<br />
mais mecanicista e data da época em que Adam Smith tratara das benesses<br />
da divisão do trabalho.<br />
Entretanto, ainda é utilizada pelos profissionais da área de pesquisa operacional nos<br />
estudos de operações fabris e na automação de fluxos de trabalho.<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
77
1.4 Diferenças entre Gestão por Processos e Gestão de Processos<br />
Para De Sordi (2008), autores que se aventuram a escrever sobre o tema, geralmente<br />
se enganam na utilização das expressões “Gestão por Processos” e “Gestão de Processos”.<br />
Embora expressões semelhantes, possuem significados distintos. A “Gestão por<br />
Processos” é mais abrangente; aborda toda a organização: gestão, estratégia, planejamento<br />
etc. Possui característica muito mais “macro” se apenas comparada com “Gestão<br />
de Processos”. Envolve desenvolvimento de competências, negócios e mercados.<br />
As organizações, por sua vez, são coleções de diferentes tipos de processos, com<br />
suas respectivas funções que, enfim, buscam por determinados objetivos. Portanto, no<br />
presente artigo, será adotada “Gestão por Processos”, pois é o que mais se adéqua ao<br />
objetivo do trabalho.<br />
Segundo Valle e Oliveira (2009), para se compreender a predominância da Gestão<br />
por Processos em relação à gestão funcional, deve-se, antes, entender que as empresas<br />
se relacionam com fatores externos. Cada vez mais as empresas são afetadas por fatores<br />
externos: governo, concorrentes, clientes etc. Além disso, é necessário considerar as<br />
incertezas oriundas do ambiente externo. Elaborar planos de contingência para mitigar<br />
riscos, utilizando como base o conhecimento adquirido na relação com o ambiente externo,<br />
concede à organização condições favoráveis à promoção de ajustes permanentes.<br />
Paim et al. (2009), revelam que o histórico sobre processos é longo, mas com maior<br />
quantidade de publicações entre 1992 e 1998. Desde então o assunto acompanha as<br />
demais iniciativas nas organizações, impondo quebra de paradigmas. O Quadro 1 identifica<br />
a mudança de pensamento nas organizações orientadas por processos. O que<br />
mais chama a atenção é a mudança de atitude em relação ao consumidor, onde a organização<br />
funcional tende a encarar a queixa do cliente como problemática, ou seja, informações<br />
não relevantes para a melhoria da qualidade dos serviços prestados ou bens<br />
produzidos, fazendo com que a empresa mude seu foco de atuação para algo que não<br />
considera importante. Entretanto, as mesmas queixas tendem a serem tratadas como<br />
oportunidades de melhorias para as organizações orientadas por processos. Afinal, é na<br />
queixa do cliente que a empresa revisita e melhora seus processos, com o objetivo de<br />
mantê-lo satisfeito e fiel ao seu produto e/ou serviço.<br />
78<br />
Quadro 1 - Diferenças entre Organização Funcional e por Processos<br />
Atributo Organização funcional Organização por processos<br />
Consumidor Causa distúrbio Contribuem para melhoria<br />
Estruturas Rígidas Flexíveis<br />
Projeto Organizacional Comportamental<br />
Controle do processo<br />
Realizado por gerentes de<br />
coordenação<br />
Realizado por gerentes de<br />
fluxo de trabalho<br />
Fonte: Adaptado de Sentanin (2004, p. 55).<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Para Barbará (2006), cada vez mais Gestão por Processos está se tornando requisito<br />
fundamental na utilização de sistemas de gestão organizacional, como,<br />
por exemplo, as normas ISO 1 (9001 e 9004), já que é:<br />
a) Ferramenta eficaz na busca pela satisfação dos clientes e do aperfeiçoamento<br />
contínuo do sistema de gestão da qualidade;<br />
b) Auxilia e facilita o planejamento, organização, liderança e o controle de<br />
tudo o que é feito na organização;<br />
c) Facilitam a comunicação e o trabalho em todos os setores da organização.<br />
Para Gonçalves (2000), são 5 as etapas de transição para a organização por processos:<br />
a) A primeira etapa é aquela onde as empresas nem sequer se deram conta da<br />
existência dos processos de negócios.<br />
b) Na segunda nota-se que a empresa já reconhece a existência de processos,<br />
mas, entretanto, estes são enquadrados na estrutura ainda funcional.<br />
c) A terceira etapa demonstra que a empresa conhece bem seus processos,<br />
mas, ainda, raciocinam por funções.<br />
d) Na penúltima e quarta etapa a empresa reconhece seus processos essenciais<br />
e, sendo assim, definem gestores para estes processos.<br />
e) Na quinta etapa a organização colhe mais amplamente os benefícios da<br />
orientação por processos; o desempenho dos gestores de processos é atrelado<br />
às metas, sendo que estas contribuem para um todo.<br />
Para Caulliraux et al. (2007), orientar as empresas por processos permite um<br />
aumento significativo de produtividade e diminuição dos ciclos de tempo para<br />
criação e adaptação de um processo, embora sejam necessárias mudanças significativas<br />
nas práticas de gestão, principalmente na cultura das organizações.<br />
Na verdade ao se pesquisar grande parte do que foi escrito sobre o assunto,<br />
não seria indicado orientar totalmente as empresas por processos (horizontal) ou<br />
por funções (vertical), afinal as organizações estariam expostas mais intensamente<br />
as desvantagens apresentadas por cada modelo. Portanto, a saída mais utilizada<br />
atualmente é a utilização em conjunto de ambas as orientações, aproveitando o<br />
que de melhor há em ambas.<br />
1 As primeiras normas ISO foram criadas em 1987 pela International Organization for Standardization. No Brasil<br />
as normas ISO são representadas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
79
2 BPM – Business Process Management<br />
Face ao cenário competitivo as organizações são obrigadas a buscar novas ferramentas,<br />
novos modelos de gestão para acompanhar a velocidade e atingir os<br />
resultados esperados, bem como superar as expectativas dos seus clientes.<br />
Neste cenário, surge o Business Process Management (BPM) ou Gerenciamento<br />
de Processos de Negócios, cujo conceito de gestão de negócios, envolve também<br />
a tecnologia da informação, a qual visa melhoria dos processos organizacionais.<br />
Este tópico aborda a definição, origem, a solução, os riscos na implantação,<br />
bem como as tendências e desafios do BPM (Business Process Management – Gerenciamento<br />
de Processos de Negócios).<br />
80<br />
Cruz (2008, p. 90), fornece definição completa sobre BPM:<br />
BPM é um conjunto formado por tecnologias para possibilitar que processos de negócios<br />
integrem, lógica e cronologicamente, clientes, fornecedores, parceiros, influenciadores,<br />
empregados e todo e qualquer elemento que com eles possam, queiram ou<br />
tenham que interagir, dando ao ambiente interno e externo da organização uma visão<br />
completa e essencialmente integrada das operações e atuações de cada participante<br />
de todos os processos de negócio.<br />
Portanto, Business Process Management oferece as ferramentas necessárias ao<br />
gerenciamento dos processos de negócios.<br />
Para posicionar a solução BPM (Business Process Management), no contexto revoluções<br />
tecnológicas, lembra-se Toffler (1997), que, méritos a parte, condensou<br />
a civilização em apenas três partes; cada parte é denominada como “onda”. A primeira<br />
onda é a fase agrícola (8000 a. C. a 1650-1750), a segunda é a fase industrial<br />
(revolução industrial) e a terceira onda (a que vivemos hoje) é a fase que utiliza em<br />
larga escala o computador. Todas as ondas não são excludentes, mas sim complementares,<br />
haja vista que no ápice de uma onda, surge outra onda, até que ambas<br />
invertam suas posições, mas cada qual utilizando alguns elementos da outra.<br />
Não por acaso, De Sordi (2008) cita que os processos de negócio são ativos de<br />
uma organização que, se bem administrados, podem até gerar novos negócios. A<br />
melhoria contínua dos processos gera conhecimento aplicável não apenas na organização<br />
que promove tal programa, mas pode ser utilizada também em outras<br />
empresas, via serviços de consultoria.<br />
Isso explica o fato de empresas darem origem a outras empresas via melhoria<br />
contínua de processos. O conhecimento acumulado se transforma em produto<br />
comercializável que, lançado no mercado, pode encontrar ou não demanda. É o<br />
caso de algumas empresas automobilísticas norte-americanas que, recentemente,<br />
alcançaram competência nas vendas de veículos, via pacotes individuais de finan-<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
ciamento. Esse conhecimento foi lançado no mercado e tem como clientes empresas<br />
do setor imobiliário.<br />
No âmbito das organizações empresariais, o gerenciamento de processos de negócios,<br />
aqui tratado apenas como BPM, proporciona condições para que o conhecimento<br />
criado seja devidamente organizado, afinal, conforme Drücker (1993), o poder de uma<br />
organização se concentra muito mais em seus ativos intelectuais.<br />
Certamente a solução BPM não viabiliza apenas novos negócios. Baldam et al.<br />
(2007) afirmam que várias pesquisas apontam BPM como o principal recurso utilizado<br />
pelas empresas no enfrentamento de problemas organizacionais. Seria impreciso<br />
apontarmos apenas um motivo pelo qual se utiliza BPM diante de um cenário tão<br />
complexo como o atual.<br />
A solução BPM, contempla quatro etapas em seu ciclo, conforme mostra a Figura 2.<br />
Etapa 1 - Planejar o BPM<br />
Esta etapa, visa definir as atividades de BPM para realização das metas organizacionais:<br />
• Conhecer e entender os ambientes interno e externo, bem como a estratégia<br />
da empresa;<br />
• Definir estratégia, objetivos e abordagem para promover mudanças;<br />
• Determinar quais os planos de ação para implantação;<br />
• Formar as equipes de trabalho para implantação;<br />
• Planejar e controlar as atividades necessárias à implantação.<br />
Etapa 2 - Modelar e otimizar processos<br />
Esta etapa, contempla as atividades geram informações sobre o processo atual:<br />
• Ajustar os processos atuais;<br />
• Modelar os processos futuros;<br />
• Realimentar o planejamento do BPM.<br />
Etapa 3 - Apoiar a implantação dos processos<br />
Esta etapa visa garantir a implantação e execução dos processos.<br />
• Garantir os ajustes necessários dos equipamentos e softwares necessários para<br />
a implantação;<br />
• Gerar testes (homologação);<br />
• Implantar e apoiar os planos de transferência de tecnologia se necessário.<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
81
Melhores<br />
práticas e<br />
benchmarking<br />
82<br />
Diretrizes e<br />
Especicações<br />
Modelagem e Optimização dos Processos<br />
• Modelagem<br />
• Análise do Processo<br />
• Simulação<br />
• Melhoria Contínua<br />
• Redesenho e Reengenharia<br />
Conguração,<br />
Customização e<br />
Especicação<br />
Fonte: Badam et al. (2007, p. 56).<br />
Figura 2 - Ciclo de vida BPM<br />
Ambiente Externo, Planejamento Estratégico,<br />
Marcos Regulatórios, Responsabilidade<br />
Social, Ameaças e Oportunidades<br />
Planejamento BPM<br />
• Seleção de processos críticos<br />
• Alinhamento de processos<br />
à estratégia<br />
Realimentação<br />
Realimentação<br />
Execução de Processos<br />
• Implantação de novos processos<br />
• Execução de processos existentes<br />
• Monitoramento e controle de<br />
instâncias de processos<br />
Etapa 4 - Apoiar o controle e análise de processos<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />
Realimentação<br />
Controle e Análise de Dados<br />
• Estatísticas<br />
• Sistemas de Controle<br />
• Controle de instâncias de processos<br />
Relatórios<br />
gerenciais<br />
Dados para<br />
estratégia<br />
Esta etapa refere-se ao controle geral do processo, como:<br />
• Registrar o desempenho dos processos ao longo do tempo;<br />
• Fornecer dados de realimentação ao planejamento e à modelagem e otimização<br />
de processo;<br />
• Realizar auditorias do processo em uso.<br />
Paim et al. (2009), defendem que, por sua natureza sistêmica, processos se relacionam<br />
fortemente com estratégia, estrutura organizacional, desempenho, conhecimentos<br />
e informações, competências individuais, tecnologia e cultura organizacional que,<br />
neste caso, serviria como um pano de fundo entre estes elementos e processos. Este<br />
relacionamento está representado na Figura 3.<br />
Na Figura 3 percebe-se que todos os elementos estão estritamente ligados entre<br />
si, seja direta ou indiretamente. A cultura da organização aparece na figura como base<br />
para todos os demais elementos. Cabe lembrar que outros elementos poderiam ser<br />
citados, mas não foram, pois o foco da figura é em gestão de processos, embora outros<br />
temas, como gestão da cadeia de suprimentos e logística, planejamento e controle da<br />
produção etc, devem ser considerados quando da gestão de processos.
Fonte: Paim et al. (2009, p. 52).<br />
2.1 Riscos<br />
Figura 3 - Elementos Conceituais e Processos<br />
Segundo Ferreira (1998, p. 483), risco significa “possibilidade de perigo, incerto, mas<br />
previsível, que ameaça de dano à pessoa ou coisa”. Outras definições de risco apresentam<br />
sempre dois elementos comuns: incerteza e magnitude.<br />
Em resumo, um risco é tudo aquilo que possa deparar no caminho o qual é<br />
desconhecido, arriscado e duvidoso, cuja probabilidade seja de ocorrer um acontecimento<br />
desfavorável.<br />
Existem vários tipos de riscos e com vários propósitos, como: risco financeiro, risco<br />
de mercado, risco legal, risco de projeto, risco operacional etc. Além disso, os riscos<br />
podem ser classificados como direto (risco sobre o qual o projeto tem um alto grau de<br />
controle) e indireto (risco sobre o qual o projeto tem pouco ou nenhum controle).<br />
2.2 Minimizando Riscos na Implantação de BPM<br />
A busca pela mudança revela que a organização percebeu a sua falta de ajustamento<br />
com o meio no qual atua, expressado na razão entre custo versus benefício. Mas<br />
apenas perceber não basta, afinal é no processo de mudança que se concentra o ponto<br />
de maior atenção para todos os projetos, inclusive os que comandam mudanças organizacionais,<br />
que é o caso da orientação por processos. O processo de mudança requer<br />
atenção e cuidado, haja vista envolver uma variável de difícil controle: as pessoas.<br />
A mudança organizacional orientada a processos se concentra basicamente na<br />
cultura da organização, pois a estrutura de poder será partida, ou seja, os recursos,<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
83
neste caso pessoas, inicialmente alocados funcionalmente e com hierarquia muito<br />
bem definida, responderão a dois chefes, sendo que um é o tradicional e o outro é<br />
o “dono do processo”. Portanto, este ponto é o que pode gerar resistência tal que<br />
dificulte a mudança citada.<br />
Considerando que as organizações são formadas por pessoas, não seria de se<br />
espantar que o grande segredo do sucesso dos projetos de mudanças organizacionais<br />
seriam as mesmas, mas, entretanto, talvez isso não seja tão óbvio para a<br />
grande maioria dos gestores.<br />
Baldam et al. (2007, p. 52) fornecem uma breve lista dos fatores decisivos para<br />
o sucesso da implantação do BPM nas organizações:<br />
84<br />
a) Apoio da alta direção, incluindo a presidência e alto escalão;<br />
b) Alinhamento das iniciativas de BPM à estratégia da organização;<br />
c) Gerente de BPM com experiência e competências necessárias;<br />
d) Uma estrutura de orientação ao BPM que seja clara e objetiva, que inclui o Manual<br />
de Processos;<br />
e) Estratégias para tratar a gestão da mudança;<br />
f ) Capacitação de pessoas envolvidas;<br />
g) Conclusão de projetos de processos que devem ser iniciados e finalizados não<br />
deixando a percepção de que não adiantou o esforço aplicado;<br />
h) Percepção de que nenhum processo é estático. Uma companhia para continuar<br />
bem sucedida deve ter habilidade para montar, desmontar e remontar suas atividades,<br />
adaptando-se às diversas mudanças de mercados e ambientais;<br />
i) Ter um desempenho sustentável, com trabalho continuado e sem paradas que<br />
caracterizem o trabalho como sendo pontual e eventual;<br />
j) Montar, de preferência com dados concretos, os benefícios alcançados, a agregação<br />
do valor alcançada, o alinhamento à estratégia obtido etc.<br />
Para Brasington (2008), o sucesso na implantação da solução BPM se resume<br />
em cinco etapas não tão fáceis assim de serem superadas: não prometa o que não<br />
poderá ser realizado, não subestime a complexidade, tempo e os custos envolvidos;<br />
planeje as mudanças e crie o hábito constante de revisitar este plano, faça<br />
medições constantes com o objetivo de verificar se os objetivos serão cumpridos;<br />
garanta um patrocinador forte e/ou coligações estratégicas, caso contrário nem<br />
comece a planejar; identifique e gerencie devidamente os stakeholders à implan-<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
tação; compreenda como os processos atuais são executados (como a empresa<br />
se encontra), isso irá colaborar na escolha dos novos caminhos (onde a empresa<br />
desejar estar).<br />
É necessário alinhar expectativas de todos os envolvidos; neste contexto a comunicação<br />
se revela como um trunfo na condução das mudanças.<br />
Mas tão importante quanto implantar, sem dúvidas, manter a cultura de BPM<br />
nas organizações é o grande desafio. Conforme terceira pesquisa publicada pelo<br />
ELO Group (2010), parte das empresas tem a consciência de que podem conseguir<br />
diversos resultados significativos com iniciativas em BPM, apesar da existência de<br />
barreiras a serem superadas na concretização desses resultados.<br />
2.3 Tendências e desafios em BPM<br />
Para Paim et al. (2009), cada vez mais as organizações estarão considerando<br />
business processes como via inevitável à sobrevivência, haja vista a sua grande aderência<br />
ao cenário mercadológico atual. Portanto, existe a tendência pela intensificação<br />
de estudos acadêmicos nesta área, bem como organizações interessadas<br />
em gerir da melhor forma seus processos.<br />
Na coletânea de artigos publicada pelo ELO Group, é revelada a tendência de<br />
que uma quantidade maior de empresas adote iniciativas em BPM não apenas<br />
para proporcionar eficiência e qualidade, mas também para aumentar a visibilidade<br />
para a tomada de decisão, atendimento a regulamentações, desenvolvimento<br />
do clima organizacional, ganhos de flexibilidade e promoção da inovação.<br />
O aumento da complexidade das organizações, em resposta às exigências do<br />
mercado, fez com que os holofotes se voltassem em direção à gestão dos riscos,<br />
afinal não basta conhecerem os processos críticos que entregam valor ao cliente,<br />
a necessidade é saber quais os riscos envolvidos na execução desses processos.<br />
Iniciativas em BPM fornecem insumos importantes para a gestão de riscos, ou seja,<br />
conhecer riscos relacionados ao não atendimento de uma regulamentação, conhecer<br />
os riscos relacionados em não atender a expectativa do cliente.<br />
3 Discussão<br />
A abordagem BPM (Business Process Management), envolve gestão de negócios e<br />
tecnologia da informação, voltado para a melhoria dos processos, portanto, envolve<br />
toda a organização, ou seja: é necessário identificar, conhecer e documentar passo a<br />
passo as atividades, bem como os recursos utilizados nos processos. Este conceito vem<br />
ao encontro dos variados conceitos de administração. Por exemplo, segundo Kwasnicka<br />
(1990, p. 17):<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
85
86<br />
São muitas as razões pelas quais se inicia um negócio: a independência, a utilização<br />
de uma boa ideia, a projeção social, o poder, o desafio. Para que esses objetivos sejam<br />
atingidos há necessidade de uma inter-relação intensa entre os membros do grupo<br />
que esta no negócio e uma direção de trabalho oferecida pela forma como o negócio<br />
esta sendo conduzido.<br />
Isso significa que a administração e a abordagem BPM, caminham juntas, visando<br />
sempre o mesmo objetivo, o qual o grande desafio é a melhoria contínua. Ou seja: envolve<br />
processos aos quais contemplam:<br />
a) Planejamento, que consiste em tomar decisões sobre objetivos e recursos necessários<br />
para realizá-los;<br />
b) Organização, que consiste em tomar decisões sobre a divisão de autoridade e<br />
responsabilidade entre pessoas e sobre a divisão de recursos para realizar tarefas<br />
e objetivos;<br />
c) Direção que compreende as decisões que acionam recursos, especialmente pessoas,<br />
para realizar tarefas e alcançar objetivos;<br />
d) Controle, que consiste em tomar decisões e agir para assegurar a região dos objetivos.<br />
[...] (MAXIMIANO, 2000, p. 26).<br />
Neste sentido, o conceito de BPM, envolve também outro conceito, isto é: a administração<br />
é processo que consiste em tomar decisões sobre objetivos e recursos. Além<br />
disso, envolve diretamente o conceito de processo.<br />
Portanto, a abordagem BPM é uma forma organizada de administrar um determinado<br />
negócio, visando atingir seus objetivos. Contudo, para a implantação dessa abordagem<br />
nas empresas, é necessário seguir alguns passos que são fundamentais para o<br />
sucesso e eficácia da utilização cujas características são:<br />
a) Mapear os processos: Este item abrange a documentação das atividades que a<br />
empresa quer mapear.<br />
b) Modelagem de processos: Para modelar os processos, é necessário que as pessoas<br />
que executam as atividades sejam ouvidas e que o processo atual seja<br />
mostrado passo a passo, pois é esta descrição que irá gerar um processo dentro<br />
da abordagem BPM. Neste momento, é possível observar falhas no processo e<br />
corrigi-las antes da implantação do BPM, bem como discutir as oportunidades<br />
de melhorias;<br />
c) Simulação: É necessário simular as situações atuais e futuras, para facilitar<br />
a identificar as possíveis falhas e posteriormente corrigi-las, antes de entrar<br />
em produção.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
d) Automação: Este item é o que muito se espera na implantação de uma nova<br />
abordagem ou ferramenta de trabalho, contudo, é necessário que seja algo flexível,<br />
porque se precisar de alguma intervenção humana, não venha impactar<br />
após a implantação.<br />
e) Monitorar: Mesmo após a implantação é importante monitorar para que todos<br />
tenham certeza de que tudo está sendo feito, conforme planejado, executado,<br />
organizado e decidido.<br />
f) Governança: Garantir que os processos estejam alinhados com os objetivos<br />
de empresa.<br />
Paim et al. (2009), citam o resultado de entrevista realizada nas organizações para<br />
a identificação das dificuldades na implantação da gestão de processos. Em suma, os<br />
entrevistados apontam que: barreiras culturais, baixa prioridade para gestão de processos,<br />
alta complexidade para gerir os processos, práticas de gestão de processos de fora<br />
para dentro, barreiras para a implantação de novos processos, foco em resultados de<br />
curto prazo, e barreiras para a integração de processos entre organizações são os principais<br />
motivos para desestimular iniciativas na implantação da gestão de processos.<br />
Considerações Finais<br />
A Gestão de Processos de Negócio ou BPM (Business Process Management), como<br />
é possível verificar, apresenta uma visão integrada dos processos. Neste sentido, procura-se<br />
aumentar a eficiência e os resultados dos negócios das empresas, cuja solução<br />
aponta para o gerenciamento de processos.<br />
Dessa forma, foi possível conhecer e evidenciar o problema do referido trabalho que<br />
é: Quais os critérios a serem considerados para mitigar riscos na implantação da solução<br />
BPM, nas organizações que desejam a sobrevivência ou até conquistar maiores fatias<br />
do mercado em que atuam.<br />
Para mitigar os riscos na implantação da solução BPM, pode-se citar alguns critérios.<br />
São eles:<br />
a) O empenho da alta direção e a definição de um patrocinador para o projeto.<br />
b) Uma visão clara dos benefícios desejados.<br />
c) Mapear processos: incluindo toda a documentação das atividades que a empresa<br />
quer mapear.<br />
d) Simular processos: É necessário simular as situações, pois através desta ação é<br />
possível identificar possíveis falhas e corrigi-las antes de entrar, antes de entrar<br />
em produção.<br />
Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
87
88<br />
e) Monitorar: Mesmo após a implantação é importante monitorar para que todos<br />
tenham certeza de que tudo está sendo feito, conforme planejado, executado,<br />
organizado e decidido.<br />
f) Riscos: Análise de riscos, bem como o seu gerenciamento.<br />
g) Planejamento: Planejamento detalhado dos esforços e recursos necessários<br />
para implantação do projeto.<br />
h) Treinamento e conscientização: Treinar e conscientizar os funcionários em conceitos<br />
e técnicas de gestão de processos.<br />
i) Manutenção: Criação de estrutura para governança dos novos processos,<br />
visando garantir a manutenção alinhando os esforços de BPM com os objetivos<br />
da empresa.<br />
O artigo tratou apenas de um “alfinete” neste “celeiro” de desafios apresentados ao<br />
Escritório de Processos: reduzir riscos na implantação de BPM nas organizações. Espera-<br />
-se que esse trabalho sirva de inspiração para o surgimento de outros e que contribua<br />
para a construção de conhecimentos sólidos e eficazes nessa área de estudo.<br />
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Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />
89
90<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
Orientações para os autores e para a<br />
elaboração de artigos científicos<br />
1) Foco da <strong>Revista</strong><br />
A <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong> publica semestralmente artigos inéditos nas áreas de Estratégia,<br />
Administração, Gestão e temas afins, em português, espanhol e inglês, de<br />
autores brasileiros e do exterior e que foram devidamente aprovados pelo Conselho<br />
Editorial da <strong>Revista</strong>. Excepcionalmente, publica também artigos não inéditos,<br />
mas ainda não divulgados em português ou espanhol, e que a <strong>Revista</strong> considere<br />
importante para publicação nestas línguas, modificados ou não, conforme avaliação<br />
dos editores ou de membros do Conselho Editorial. Os artigos devem conter:<br />
resumo, abstract (e respectivas palavras-chave), introdução, desenvolvimento,<br />
considerações finais e referências. A escrita deve ser acessível ao público em geral.<br />
2) Formato dos Originais<br />
Os textos devem ser submetidos no formato de arquivo eletrônico, enviados<br />
por e-mail, no programa Word, em Fonte Arial, tamanho 10. Considerando os gráficos<br />
e tabelas, cada artigo deve conter de 8 a 25 páginas, tamanho A4, com espaço<br />
1,5 entre linhas. As tabelas e gráficos não preparados originalmente pelo autor<br />
e retirados de outras fontes não poderão ser colocados no artigo no formato de<br />
figuras, necessitando ser refeitos, e sempre escritos no mesmo idioma do texto em<br />
que estão inseridos.<br />
3) Remessa de Originais<br />
Para o e-mail estrategica@faap.br. Além do arquivo em Word deverão ser encaminhados<br />
os demais arquivos contendo gráficos e tabelas, a fim de facilitar a<br />
edição do artigo.<br />
4) Avaliação de Originais<br />
Os artigos serão submetidos aos pareceristas do Conselho Editorial, cujos nomes<br />
não serão informados aos autores.<br />
5) Exemplares para os autores<br />
Os autores recebem 3 (três) exemplares da revista.<br />
91
6) Assinaturas<br />
Informações sobre assinatura ou permuta da revista poderão ser obtidas pelo<br />
e-mail estrategica@faap.br<br />
7) Cabeçalho do Artigo<br />
92<br />
Título do artigo (fonte Arial, tamanho 20, negrito).<br />
Nome do autor (fonte Arial, tamanho 12, negrito).<br />
Indicar um breve currículo (até 6 linhas) indicando a titulação acadêmica, a<br />
ocupação atual e o e-mail para contato no rodapé da primeira página. Utilizar fonte<br />
Arial, tamanho 8.<br />
Cidade, UF, data completa (dia, mês e ano).<br />
8) Resumo<br />
Preferencialmente em uma única frase, apresentar o tema e o contexto em que<br />
o tema se encontra. Escrever sobre:<br />
• O que foi a pesquisa, o problema, as hipóteses, os objetivos.<br />
• Descrição do método adotado, ou seja, onde os dados foram coletados (local<br />
específico) e como (que instrumento foi utilizado para coletar os dados),<br />
quem são os dados (classe de pessoas) ou o que (classe de objetos, fenômenos<br />
naturais, conceitos extraídos de textos) e o tamanho da amostra<br />
em números ou percentuais, e informar o referencial teórico que norteou a<br />
análise dos dados.<br />
• Resultados encontrados.<br />
• Conclusão da pesquisa.<br />
Palavras-chave: apresentar de 3 a 5 palavras, separadas por “.” (ponto).<br />
Formatação: sem margem, com fonte Arial, tamanho 10 e espaçamento simples.<br />
9) Abstract<br />
Tradução do resumo para o inglês, inclusive com as palavras-chave.<br />
<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010
10) Introdução<br />
Apresentar a pesquisa, contemplando os seguintes aspectos:<br />
a) Explicar por que foi escolhido o tema e apresentá-lo em determinado contexto<br />
(época, lugar) onde está inserido.<br />
b) Descrever o problema da pesquisa.<br />
c) Apresentar o(s) objetivo(s) que se espera atingir por meio da realização da<br />
pesquisa.<br />
d) Apresentar a(s) hipótese(s) que será(ão) confrontada(s) com os dados colhidos<br />
pela pesquisa.<br />
e) Fazer citações de trabalhos realizados por outros autores (conceitos, dados<br />
estatísticos gerados por outros pesquisadores, teorias). Tais citações devem<br />
ter conexão com o tema da pesquisa.<br />
11) Desenvolvimento<br />
Criar subtítulos do tipo: método adotado (descrever o método que foi adotado<br />
par atingir o objetivo da pesquisa).<br />
Informar em que região geográfica foi realizada a pesquisa, no caso de pesquisa<br />
de campo. Para uma pesquisa puramente bibliográfica, deve ser informado<br />
o que foi feito, a fim de elucidar questões que diversos teóricos tenham pensado<br />
sobre o tema. Descrever o período de tempo dedicado à coleta de dados e apresentar<br />
a amostra (participantes) que selecionou.<br />
Apresentar os dados que coletou, lembrando que um conceito expresso por<br />
algum teórico ou um pensamento colhido durante uma entrevista, são dados. Informar<br />
qual foi “a referência teórica” adotada para realizar a análise dos dados.<br />
Elaborar um debate entre uma amostra de pensamentos produzidos por teóricos<br />
(revisão de literatura, de onde retirou citações e os dados que colheu em<br />
determinada realidade).<br />
Uma pesquisa puramente bibliográfica indica que os dados são “conceitos” colhidos<br />
na literatura que serão igualmente comparados, de acordo com “o problema”<br />
da investigação.<br />
93
12) Conclusão<br />
Apresentar as descobertas de maneira lógica (ou seja, isso é consequência daquilo;<br />
isso causou aquilo), com vocabulário claro e conciso.<br />
Deve estar fundamentada nos resultados e na discussão anteriormente abordadas.<br />
Oferecer respostas sobre o problema investigado; informar se cada objetivo<br />
foi alcançado; se elaborou hipóteses, informar quais foram confirmadas e quais<br />
foram infirmadas (negativadas).<br />
Convém informar sobre as limitações encontradas e com as quais não foi possível<br />
lidar, entretanto, poderiam ser exploradas por outros pesquisadores, por outros<br />
trabalhos. Nenhuma citação de outros autores deve ser feita na fase de conclusão.<br />
A conclusão é do autor da pesquisa.<br />
13) Referências<br />
Devem aparecer pelo sobrenome do autor em ordem alfabética, seguido do restante<br />
do nome e não devem ser numeradas. Devem obedecer as normas da ABNT.<br />
94<br />
Todas as Referências citadas no texto devem constar ao final, na seção Referências.<br />
O título das obras usadas como Referências (das quais foram extraídas as citações)<br />
devem estar destacadas em negrito.<br />
14) Apêndices / Anexos<br />
Devem vir ao final do trabalho. Vale salientar que os apêndices e os anexos, ao<br />
serem inseridos, não são contados como páginas.<br />
AVISO IMPORTANTE<br />
A responsabilidade dos artigos publicados é dos autores,<br />
não expressando qualquer opinião ou posicionamento da revista.<br />
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<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010