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Revista Estratégica vol.10 - Faap

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VOLUME<br />

ISSN 1519-4426<br />

10<br />

<strong>Estratégica</strong><br />

Comportamento do consumidor livre de<br />

energia elétrica<br />

Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral<br />

de Almeida Prado Jr.<br />

Innovation applied to the recovery of<br />

degraded areas by clay extraction through<br />

the installation of fish culture activity in the<br />

region of the sub basin of the upper region<br />

of the Machado River, Rondônia, Brazil<br />

Marcelo Rodrigo dos Anjos, Francisco Alves de<br />

Andrade e Pamela Monalisa Rodrigues Monte<br />

<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração<br />

Número 2<br />

volume 10 • número 2 • dezembro 2010<br />

E-learning e aprendizagem significativa<br />

Celi Langhi<br />

Universidade corporativa: uma metáfora<br />

contemporânea<br />

Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira<br />

dos Santos<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM<br />

(Business Process Management)<br />

Marcos Briaga


CONSELHO DE CURADORES<br />

Presidente<br />

Sra. Celita Procopio de Carvalho<br />

Integrantes<br />

Dr. Benjamin Augusto Baracchini Bueno<br />

Dr. Octávio Plínio Botelho do Amaral<br />

Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto<br />

Sra. Maria Christina Farah Nassif Fioravanti<br />

Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima<br />

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO<br />

Diretor<br />

Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />

DIRETORIA EXECUTIVA<br />

Diretor Presidente<br />

Dr. Antonio Bias Bueno Guillon<br />

Diretor Tesoureiro<br />

Dr. Américo Fialdini Jr.<br />

Diretor Cultural<br />

Prof. Victor Mirshawka<br />

ASSESSORES DA DIRETORIA<br />

Área Administrativa e Financeira<br />

Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese<br />

Área Acadêmica<br />

Prof. Raul Edison Martinez<br />

ESTRATÉGICA<br />

<strong>Revista</strong> da Faculdade de Administração FAAP e do FAAP-MBA<br />

Editor<br />

Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />

Editores Associados<br />

Armando Terribili Filho e Celi Langhi<br />

Conselho Editorial<br />

Alexandre Massote, Armando Terribili Filho, Celi<br />

Langhi, Emerson Piovezan, Jorge Marinho de<br />

Araújo, Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva,<br />

Marco Aurélio Xavier Soares de Mello, Marina<br />

Lindenberg Lima, Tharcisio Bierrenbach de Souza<br />

Santos e Walter Gomes da Cunha Filho.<br />

Arte / Editoração Eletrônica<br />

Agência FAAP<br />

Periocidade<br />

Semestral<br />

Publicação<br />

As correspondências, inclusive originais de<br />

artigos, devem ser endereçadas à<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />

Rua Alagoas, 903 – Prédio 4 – 2º andar<br />

Higienópolis – São Paulo/SP<br />

CEP: 01242-902<br />

ou pelo e-mail: estrategica@faap.br<br />

www.faap.br


volume 10 / número 2/ dezembro de 2010<br />

ISSN 1519-4426<br />

Rua Alagoas, 903 - Higienópolis<br />

São Paulo, SP - Brasil


<strong>Estratégica</strong>/ Faculdade de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado.<br />

Vol. 10, n. 2 (2010) - São Paulo: FA-FAAP, 2010<br />

Semestral<br />

1. Administração – Periódicos. I. Fundação Armando Alvares Penteado. Faculdade de Administração.<br />

ISSN 1519-4426


Editorial<br />

volume 10 / número 2/ dezembro de 2010<br />

Sumário<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica<br />

Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr.<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas by clay extraction<br />

through the installation of fish culture activity in the region of the sub<br />

basin of the upper region of the Machado River, Rondônia, Brazil<br />

Marcelo Rodrigo dos Anjos, Francisco Alves de Andrade e Pamela Monalisa<br />

Rodrigues Monte<br />

E-learning e aprendizagem significativa<br />

Celi Langhi<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea<br />

Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM<br />

(Business Process Management)<br />

Marcos Briaga<br />

Orientações para os autores e para a elaboração de artigos científicos 91<br />

7<br />

9<br />

23<br />

37<br />

51<br />

75


6<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Nesta edição apresentamos cinco artigos que permeiam áreas importantes da<br />

administração, englobando o comportamento de consumidor, treinamento e gestão<br />

por processos.<br />

No primeiro artigo, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida<br />

Prado Jr. apresentam a evolução do comportamento do consumidor livre de energia<br />

elétrica verificado nos anos de 2007 e 2010, quando foram pesquisados clientes dos<br />

mais diferentes ramos de atividade e localização geográfica. O título do artigo é “Comportamento<br />

do consumidor livre de energia elétrica”.<br />

O segundo artigo de autoria de Marcelo Rodrigo dos Anjos, Francisco Alves de Andrade<br />

e Pamela Monalisa Rodrigues Monte, publicado em língua inglesa, apresenta a<br />

atividade piscícola como alternativa para a recuperação de áreas degradadas em sistema<br />

intensivo de extração de argila (matéria prima utilizada na confecção de artefatos<br />

como telhas, tijolos, elementos vazados entre outros) de bacias hidrográficas na região<br />

de Pimenta Bueno localizada no cone sul do estado de Rondônia para a indústria cerâmica.<br />

Os autores apresentam como alternativa a geração de renda, segurança alimentar,<br />

além do reaproveitamento de áreas anteriormente deixadas como passivo ambiental.<br />

O terceiro artigo, desenvolvido por Celi Langhi foi apresentado no Congresso da<br />

Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD). No artigo intitulado<br />

“E-learning e aprendizagem significativa”, a autora propõe uma metodologia para a elaboração<br />

de materiais instrucionais para e-learning, baseada na teoria da aprendizagem<br />

significativa do psicólogo David Ausubel.<br />

“Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea” é o quarto artigo. De<br />

autoria de Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, as autoras apresentam<br />

a universidade corporativa como uma metáfora imbuída do valor da educação<br />

permanente, destacando que o “aprender a aprender” passou a significar a transformação<br />

da própria experiência em conhecimento.<br />

Finalmente, o quinto artigo, subproduto de um ex-aluno do MBA da FAAP - Marcos<br />

Briaga, intitulado “Minimizando riscos na implantação de BPM - Business Process Management”,<br />

que por meio de investigação realizada para o desenvolvimento de sua monografia,<br />

o autor constata que o BPM apresenta uma visão integrada dos processos e que<br />

traz como benefícios: transparência do processo, melhoria contínua, maior agilidade e<br />

padronização nas organizações.<br />

Boa leitura!<br />

Editorial<br />

Prof. Dr. Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos<br />

Diretor da Faculdade de Administração da FAAP<br />

Editor da <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong><br />

7


8<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Comportamento do consumidor livre<br />

de energia elétrica: pesquisas ano<br />

2007 e ano 2010<br />

Ana Lúcia Rodrigues da Silva *<br />

Fernando Amaral de Almeida Prado Jr. **<br />

Resumo: O trabalho apresenta a evolução<br />

do comportamento do consumidor<br />

livre de energia elétrica verificado nos<br />

anos de 2007 e 2010. Para identificação<br />

desse comportamento a metodologia<br />

empregada foi a de pesquisas primárias<br />

qualitativa e quantitativa, utilizando respectivamente<br />

a técnica de grupo de foco<br />

e questionários estruturados. Foram pesquisados<br />

os clientes dos mais diferentes<br />

ramos de atividade e localização geográfica.<br />

Os aspectos selecionados e contemplados<br />

na pesquisa são características<br />

referentes à compra de energia; gestão<br />

dos contratos; valor declarado da energia<br />

elétrica; ciclo de vida do cliente no mercado<br />

livre; sensibilidade comparativa de<br />

preços; imagem percebida do fornecedor<br />

de energia; pontos fortes e fracos dos diferentes<br />

players, além de aspectos associados<br />

à energia e mudanças climáticas.<br />

Palavras-chave: Mercado Livre. Mercado<br />

Regulado. Energia Elétrica. Pesquisa de<br />

Comportamento do Consumidor.<br />

Abstract: This work discusses the evolution<br />

of the behavior of the electric energy<br />

free consumer verified in the years<br />

of 2007 and 2010. In order to identify<br />

this behavior, the methodology applied<br />

were primary qualitative and quantitative<br />

researches, using respectively the<br />

technique of focus group and structured<br />

questionnaires. Customers from<br />

the most different industries and geographic<br />

locations were surveyed. The<br />

selected and featured aspects of the<br />

research are characteristics referring<br />

to purchase of energy, management of<br />

contracts, declared value of the electricity,<br />

client life cycle in the free market,<br />

comparative price sensitivity, perceived<br />

image of the energy suppliers;<br />

strengths and weaknesses identified<br />

on different players, as well as aspects<br />

related to energy and climate change.<br />

Keywords: Free Market. Regulated<br />

Market. Electric Energy. Consumer Behavior<br />

Research.<br />

* Física, mestre, doutora e pós doutora em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP, autora dos<br />

livros “Monografia Fácil: ferramentas e exercícios”; “Marketing Energético” e “Comportamento do Grande Consumidor<br />

de Energia Elétrica”. Sócia da Sinerconsult Consultoria e Treinamento, Professora da Fundação Armando<br />

Alvares Penteado. E-mail: ana@sinerconsult.com.br.<br />

** Engenheiro civil, mestre e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP. Professor Doutor<br />

da Escola Politécnica da USP, onde realizou seu pós-doutorado. Sócio da Sinerconsult Consultoria e Treinamento.<br />

E-mail: fernando@sinerconsult.com.br.<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />

9


Introdução<br />

O mercado livre de energia elétrica no Brasil, institucionalizado na Lei 9074/95 propiciou<br />

que em 1999, a Carbocloro se tornasse a primeira empresa a adquirir eletricidade<br />

a partir da livre negociação. Em 2007, após oito anos de vigência do Ambiente de Contratação<br />

Livre (ACL), poucas informações estruturadas existiam sobre os agentes que<br />

nele participavam e suas necessidades.<br />

Neste período de vigência do ACL o mercado de energia elétrica vivenciou períodos<br />

de desequilíbrio entre oferta e demanda, onde a escassez e a oferta abundante de<br />

eletricidade ocasionaram variações bruscas no preço desse insumo, especialmente o<br />

preço no mercado spot.<br />

Após o período de racionamento (01.06.2001 à 28.02.2002), a normalização do suprimento<br />

de energia elétrica foi acompanhada por um novo desequilíbrio entre oferta<br />

e demanda, onde as sobras de energia provocaram uma acentuada redução nos preços<br />

praticados no mercado livre.<br />

A atratividade decorrente dos preços reduzidos no ACL provocou um período de<br />

grande adesão de clientes nesse ambiente, o que vem se alterando ao longo dos anos.<br />

A busca pela maior compreensão das necessidades dos clientes livres e de sua satisfação<br />

frente às experiências vivenciadas no ACL é uma necessidade dos agentes que<br />

participam desse mercado, o que representa um desafio frente à falta de informações<br />

sistematizadas sobre esse tema, muitas vezes justificada pelos critérios de confidencialidade<br />

dos contratos.<br />

Diante desse contexto, no ano de 2007 foi realizada uma pesquisa de mercado para<br />

levantar informações primárias sobre esses clientes, informações estas que ajudam no<br />

entendimento do comportamento do consumidor livre de energia, bem como suas<br />

necessidades no mercado livre. Essa pesquisa foi atualizada em 2010 e a análise comparativa<br />

de ambas constitui o presente trabalho.<br />

1 Metodologia de Pesquisa<br />

O conhecimento do comportamento do consumidor livre de energia elétrica foi<br />

verificado em dois diferentes momentos, em 2007 e 2010. Para tanto, foram utilizadas<br />

pesquisas qualitativas (duas reuniões de grupo de foco) e quantitativas com questionários<br />

estruturados. A amostra de clientes foi identificada no universo dos agentes cadastrados<br />

na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).<br />

Complementando o conhecimento identificado em 2007, nova pesquisa foi realizada<br />

junto aos clientes livres de energia. Essa nova pesquisa realizada em 2010 utilizou o<br />

mesmo questionário de pesquisa, de tal forma que uma evolução comparativa pudesse<br />

ser estabelecida, acrescentando apenas novos questionamentos que naquela pri-<br />

10<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


meira versão não se apresentaram como necessários. As duas pesquisas envolveram os<br />

mais diferenciados ramos de atuação, bem como diferentes localizações geográficas.<br />

Em 2007, foram realizadas 53 entrevistas que representaram um erro amostral inferior<br />

a 5% e um intervalo de confiança superior a 95%. A técnica empregada foi entrevista<br />

telefônica e o questionário foi composto por 20 questões de diferentes características.<br />

Na segunda pesquisa realizada no ano de 2010 foi utilizado o mesmo questionário<br />

empregado em 2007, porém foram acrescidas mais três novas perguntas, sobre a alteração<br />

das regras de responsabilidade sobre os equipamentos de medição; o interesse<br />

em negociar sobras ou faltas de energia com outros clientes livres, os impactos das<br />

mudanças climáticas nas empresas e a propensão destas em investir mais recursos na<br />

aquisição de energias ambientalmente mais sustentáveis. A aplicação do questionário<br />

em 2010 foi feita on-line e auto-respondente.<br />

A realização da pesquisa ocorreu no período de 1º de maio a 15 de junho de 2010.<br />

Nesse período foram realizadas 38 pesquisas, sendo quinze pesquisas a menos do que<br />

a amostra utilizada na pesquisa de 2007. Esse resultado implica um erro amostral de<br />

15,6%, o que pode ser atenuado na medida em que o número de agentes na CCEE não<br />

representa igual número de clientes, pois em vários casos, existe um mesmo cliente<br />

representando vários agentes, como bem exemplifica os casos da Nestlé do Brasil e do<br />

Grupo Pão de Açúcar. Ambos participantes da pesquisa e que contabilizam, cada um<br />

deles, seis agentes na relação da CCEE, ou seja, apenas nesses dois exemplos totaliza-se<br />

12 agentes e não apenas 2, conforme computado para cálculo do erro amostral.<br />

Os principais resultados estão aqui apresentados com suas respectivas análises e<br />

pontos de atenção.<br />

2 Gestão do Contrato de Energia Elétrica<br />

As atividades internamente realizadas com maior intensidade são acompanhamento<br />

do consumo de energia e das curvas de carga contratada e realizada e o<br />

acompanhamento dos preços no curto, médio e longos prazos. As atividades mais<br />

realizadas por parceiros externos foram à análise das quantidades de energia elétrica<br />

contabilizadas na CCEE e dos valores econômicos resultantes, acompanhamento<br />

do contexto de curto prazo visando otimizar a produção, além do acompanhamento<br />

dos preços da energia elétrica.<br />

A principal atividade mencionada como não realizada foi o acompanhamento das<br />

operações de curto prazo no mercado de energia elétrica, visando identificar oportunidades<br />

de otimização.<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />

11


3 Perfil de Contratação e Práticas Adotadas<br />

As principais práticas das empresas pesquisadas são a busca por maior eficiência,<br />

pela contratação integral da energia necessária e também foram identificados casos de<br />

contratação de quantidades declaradas de energia inferiores ao consumido com eventuais<br />

riscos assumidos pelo cliente.<br />

Comparando os resultados de 2007 e os de 2010, verifica-se uma redução no interesse<br />

por ações de eficiência energética, porém apesar desta redução, o tema permaneceu<br />

nesta última pesquisa como o segundo tema de importância totalizando 18,1%<br />

dos casos, enquanto que os demais perfis de contratação identificados foram:<br />

12<br />

• Contratar integralmente a energia necessária aumentou para 21%;<br />

• Contratar a energia por quantidade declarada, quando estiver sujeito a riscos assumidos<br />

pelos clientes, reduziu-se de 16% para 8%.<br />

Verifica-se também o aumento do acompanhamento dos custos de outras alternativas<br />

energéticas, bem como da legislação setorial, o que indica elevação da curva de<br />

aprendizagem desses clientes.<br />

4 Responsáveis pela Compra de Energia<br />

A responsabilidade interna pela compra de energia sofreu várias alterações quando<br />

se compara as duas pesquisas. Anteriormente a opção “outros” era a mais citada, o que<br />

indicava uma grande diversidade de responsabilidade pela compra, o que pode ser<br />

explicado pelo aspecto inovador da atividade, cuja responsabilidade ficava diluída na<br />

estrutura empresarial existente na época.<br />

Após três anos, a pesquisa aponta uma valorização da área de suprimento e compras,<br />

que antes representava 17%, e agora 38%, como também da área específica de<br />

energia antes responsável por 15%, e em 2010, alterou-se para 31%. A participação da<br />

gerência de manutenção diminuiu de 17% para 13%, enquanto que na engenharia a<br />

redução foi de 19% para 9%.<br />

Os responsáveis no âmbito externo para a compra de energia também sofreram<br />

alteração nas duas pesquisas. Em 2007, a comercializadora independente, a consultoria<br />

independente e a comercializadora vinculada à distribuidora foram os três agentes<br />

mais mencionados como responsáveis no processo de aquisição de energia.<br />

Em 2010 esse quadro também se alterou: a consultoria aumentou sua participação<br />

para 34,4% (antes 28,3%), enquanto as comercializadoras de toda natureza (independente,<br />

vinculada à geradora e à distribuidora) diminuíram a sua participação de 49,1%<br />

para 40,7%. As geradoras aumentaram a sua participação de 3,8% para 9,4% na responsabilidade<br />

externa pela compra de energia.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


5 Responsáveis pela Administração do Contrato de Energia<br />

Os responsáveis pela administração do contrato no âmbito interno no ano de 2007<br />

eram: engenharia (24,5%), participação conjunta de várias áreas – denominada “outros”<br />

(22,6%) e manutenção (15,1%). Em 2010, aparece como principal responsável interno a<br />

área específica de energia (antes com 15,1% e agora com 31,3%), na segunda posição<br />

está a manutenção com 21,9% (antes 15,1%).<br />

Verifica-se na responsabilidade pela administração de contrato, o mesmo que ocorreu<br />

com a responsabilidade interna pela aquisição de energia, ou seja, o fortalecimento<br />

da área específica de energia nas organizações participantes do mercado livre.<br />

No âmbito externo, os principais responsáveis pela administração do contrato em<br />

2007 foram: comercializadora independente ou consultoria independente. Em 2010<br />

verifica-se um aumento da participação da consultoria independente de 26,4% para<br />

37,9%, uma redução da participação geral das comercializadoras (independente, ligada<br />

a geradora ou distribuidora), que antes totalizava 49,1% e em 2010 totalizou 41,9%.<br />

6 Responsáveis pela Representação do Cliente junto à CCEE<br />

Em 2007, a comercializadora independente teve a maior participação, seguida pela<br />

comercializadora vinculada à distribuidora de energia elétrica e pela própria empresa. Em<br />

2010 se verifica uma diminuição da participação das comercializadoras, antes totalizavam<br />

64% e em 2010 representam 50% da representação do cliente junto à CCEE. A representação<br />

pelo próprio cliente aumentou em 2010, passando de 15% para 19%. Outro agente<br />

que aumentou sua participação foi a consultoria independente, antes com 13% e em<br />

2010 foi para 22% na participação da representação do cliente junto a CCEE.<br />

Um aspecto explorado foi a percepção do cliente frente à situação na qual a representação<br />

junto à CCEE está sob responsabilidade do mesmo fornecedor de energia.<br />

Essa pergunta foi respondida não apenas pelos clientes que estavam nessa situação<br />

como também pelos demais clientes participantes da pesquisa. Em 2007, uma quantidade<br />

expressiva dos clientes (29,6%) entendia que isso facilita a gestão devido à centralização<br />

das informações, enquanto que 23,9% percebem que podia haver conflito de<br />

interesse enquanto a mesma quantidade de clientes se posicionava pelo entendimento<br />

que isso facilitava a gestão no fechamento do mês junto à CCEE.<br />

Na pesquisa de 2010, as três respostas continuaram como mais citadas, porém ocorreu<br />

uma inversão na ordem relativa entre elas. A resposta mais citada identifica conflito<br />

de interesse quando a representação é feita por quem vende energia (28,3% dos respondentes<br />

em 2010, antes era 23,9%). Observa-se também uma redução na percepção<br />

dos benefícios da centralização pela facilidade de ser o mesmo fornecedor, pois antes<br />

essa resposta foi mencionada por 29,6% dos respondentes, sendo em 2010, um total<br />

de 20%. A percepção de facilidade junto a CCEE apresentou pequena redução, antes de<br />

23,9% para 21,7% em 2010.<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />

13


7 Participação da Energia Elétrica no Custo de Produção<br />

Verifica-se que 39,6% dos respondentes em 2007 identificavam a participação de<br />

energia elétrica entre 5 a 15%. Em 2010 esse valor aumentou para 45,9% dos respondentes.<br />

Em 2007, 22,6% declaram que essa participação era superior a 25%, e em 2010<br />

essa faixa de respondentes diminuiu para 10,8%. Em 2010, 24,3% dos clientes que responderam<br />

a pesquisa consideram a energia elétrica menor que 5% no custo de produção,<br />

em 2007 esse valor era de 17%.<br />

Essas alterações permitem verificar que o perfil das amostras utilizadas nas duas<br />

pesquisas é diferente quanto à participação da energia elétrica no custo de produção.<br />

Em 2010, o perfil dos respondentes da pesquisa não eram eletrointensivo, pelo contrário,<br />

a energia elétrica representava no máximo 15% dos seus custos de produção, o que<br />

totalizou 70,2% das respostas.<br />

8 Importância Declarada da Energia Elétrica<br />

A pesquisa classifica a importância da energia elétrica na empresa pesquisada quando,<br />

em 2007, 92,5% consideravam a mesma de elevada importância, em 2010, um percentual<br />

menor dos respondentes atribuiu elevada importância a energia (86,5%). Vale<br />

destacar que em ambas as pesquisas, 100% dos respondentes classificaram a energia<br />

com elevada ou média importância para a organização.<br />

9 Principal Valor Representado pela Energia Elétrica<br />

O principal atributo representado pela energia elétrica para o cliente entrevistado<br />

foi apurado, onde se verificou em 2007 que o preço (46% dos respondentes) e a continuidade<br />

de fornecimento (42% dos respondentes) são os dois principais valores declarados<br />

e desejados.<br />

Como essa questão só permite uma única alternativa de resposta e como o preço<br />

era um dos atributos avaliados, os demais itens representaram baixa incidência de resposta,<br />

ou seja, 4% em cada uma das demais alternativas.<br />

Em 2010, observa-se que os dois valores principais associados à energia refere-se<br />

a sua qualidade técnica, respectivamente sem interrupções (46%) e sem oscilação de<br />

tensão (22%), já o preço foi escolhido por 22% dos respondentes, valor este inferior aos<br />

46% auferidos em 2007.<br />

Esse resultado demonstra uma valorização maior da qualidade da energia em relação<br />

ao seu próprio preço. Porém, vale ressaltar que a escolha entre o ambiente livre e<br />

regulado de contratação de energia não altera sua qualidade técnica, visto que esses<br />

parâmetros dependem dos sistemas elétricos da distribuidora.<br />

14<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


10 Análises dos Diferentes Serviços Associados à Energia Elétrica<br />

Uma questão específica verificou entre diferentes tipos de serviços, qual o cliente<br />

possui, e sua importância sempre na percepção do cliente. Complementando essa pergunta,<br />

o entrevistado declarava o interesse pelos serviços mencionados, separando-<br />

-os na modalidade grátis e pago. Finalizando os objetivos da pergunta, o cliente ainda<br />

identifica, para os mesmos serviços, se não há interesse em recebê-lo do seu fornecedor<br />

de energia.<br />

A Tabela 1 consolida as quatro análises onde se evidenciou os serviços mais elencados<br />

pelos clientes pesquisados nos anos de 2007 e 2010. É possível verificar uma<br />

consistência e permanência no enquadramento da maioria dos serviços avaliados na<br />

pesquisa. Ressalta-se uma mudança mais significativa na importância percebida da representação<br />

da CCEE (que diminuiu em 2010) e no interesse por auditoria energética<br />

(que aumentou em 2010).<br />

Tabela 1 - Serviços selecionados pelos clientes - Quadrantes de interesse – 2007/2010<br />

Interessa Grátis<br />

Tem e não é<br />

Importante<br />

• Eventos Técnicos 2007/2010.<br />

• Acesso à Especialista 2007/2010.<br />

• Reuniões Clientes Livres 2007/2010.<br />

• Treinamento do Cliente 2007/2010.<br />

• Modelo de Fatura 2007/2010.<br />

• Data de Pagamento 2007/2010.<br />

• Flexibilidade para Games 2007.<br />

Fonte: Autores do artigo.<br />

11 Renovações de Contratos no ACL<br />

• Treinamento do Cliente 2007.<br />

• Manutenção de equipamentos 2007.<br />

• Acesso ao Grupo de Especialistas<br />

2007/2010.<br />

• Compartilhamento de sobras e<br />

Déficits de Energia 2007/2010.<br />

• Eventos Técnicos 2007/2010.<br />

• Auditoria Energética 2010.<br />

• Manutenção de equipamentos<br />

2007/2010.<br />

• Representação na CCEE 2007.<br />

• Informações On-line 2007/2010.<br />

• Flexibilidade para Games 2010.<br />

A experiência com renovação de contratos, no ano de 2007, já havia ocorrido<br />

para 53% dos entrevistados, enquanto que 47% ainda não tinham realizado nenhuma<br />

renovação contratual. Na pesquisa realizada em 2010 essa realidade foi<br />

alterada, visto que 76% dos clientes entrevistados já vivenciaram a renovação de<br />

contrato no ACL, o que caracteriza a amostra como mais experiente na análise dos<br />

questionamentos realizados.<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />

Interessa Pago<br />

Tem e é<br />

Importante<br />

15


12 Interesse de Retorno ao Ambiente de Contratação Regulada – ACR<br />

Em 2007, apenas 19% responderam de forma afirmativa que haviam pensado em<br />

retornar para o Ambiente de Contratação Regulada (ACR), a maioria (81%) não tinha<br />

interesse em retornar ao ACR naquela ocasião. No ano de 2010 ocorreu um aumento<br />

significativo nessa intenção de retorno, visto que 60,5% responderam afirmativamente<br />

a essa questão.<br />

13 Motivos do Interesse de Retorno ao ACR<br />

No caso das respostas afirmativas para a intenção de retornar ao ACR, o cliente destacou<br />

em 2007 os seguintes motivos: o preço com baixa atratividade, a possibilidade de<br />

ficar descontratado e a maior segurança no mercado cativo. Na pesquisa realizada em<br />

2010, as três alternativas igualmente citadas (22%) foram: preço com baixa atratividade,<br />

possibilidade de ficar descontratado e descontentamento com o fornecedor.<br />

Comparando os dois resultados verifica-se que a maior segurança no mercado cativo<br />

perdeu posição, antes representava 20% e em 2010 apenas 6% das respostas, desmistificando<br />

alguns medos existentes na fase inicial do ACL. O descontentamento com<br />

o fornecedor aumentou de 7% em 2007 para 22% em 2010, o que possivelmente foi<br />

intensificado com a maior convivência e relacionamento entre os agentes no ACL.<br />

14 Motivos do Interesse em Permanecer no Ambiente de<br />

Contratação Livre – ACL<br />

No caso das respostas negativas quanto ao interesse de retorno ao ACR, o cliente<br />

destacou em 2007 os seguintes motivos: a previsibilidade e o controle sobre os preços<br />

de energia (29,2%) e os índices negociáveis de reajustes (15,3%). A terceira posição foi a<br />

alternativa “outros” que reúnem explicações também associadas à redução do custo e<br />

controle sobre os preços.<br />

Em 2010, os dois primeiros motivos já apontados permaneceram entre as três alternativas<br />

mais citadas, inclusive a previsibilidade de preço permaneceu em primeiro<br />

lugar e aumentou para 35,3% das respostas, enquanto a alternativa “flexibilidade de<br />

negociação das quantidades de energia” foi a segunda mais citada, com 20,6% das respostas.<br />

O índice de reajustes negociáveis ficou em 3º lugar com 14,7% das respostas<br />

em 2010.<br />

15 Diferença Atrativa de Preços de Energia<br />

A diferença mínima de preço que justifica a permanência no mercado livre, na comparação<br />

com o mercado cativo foi avaliada, onde em 2007 se identificava ainda a necessidade<br />

de diferenças significativas, como acima de 13% (32,7% das respostas) e até 12%<br />

16<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


(21,2% das respostas) para a permanência no ACL, embora alguns clientes declararam<br />

interesse mesmo com diferenças menores. Em 2010, verifica-se um maior percentual<br />

de respostas para diferenças menores de preço entre os dois mercados, como até 9%,<br />

com 22,2% das respostas e até 6%, com 16,7% das respostas. Isso permite identificar<br />

uma alteração de sensibilidade comparativa de preço, ou seja, mesmo para diferenças<br />

menores entre os mercados ACL e ACR a atratividade do mercado livre se mantém para<br />

muitos clientes pesquisados em 2010, o que não ocorria na mesma proporção em 2007.<br />

Isso se deve, principalmente, à maturidade do mercado, onde situações de preços<br />

de elevada atratividade não são realidades constantes no mercado livre, como era na<br />

ocasião da primeira pesquisa.<br />

16 Estratégias para a Permanência no ACL<br />

As estratégias que serão adotadas pelo cliente no caso de permanência no mercado<br />

livre foram em 2007: a realização de um leilão de compra (26,8%) e a manutenção do<br />

fornecedor atual (22,7%). Isso demonstrava, em 2007, a resistência de alguns clientes<br />

em experimentar novos fornecedores.<br />

Na pesquisa realizada em 2010, a manutenção do fornecedor foi reduzida de 22,7%<br />

para 11,7%, sendo as duas alternativas de estratégias mais citadas: realização de um leilão<br />

de compra com o máximo possível de fornecedores e a solicitação de cotação para<br />

alguns fornecedores, ambas com 25% de respostas.<br />

Acredita-se que a maior maturidade dos participantes no ACL permita arriscar mais,<br />

o que diminuiu a fidelização ao fornecedor frente a uma melhor oferta de solução para<br />

o suprimento de energia.<br />

17 Parceiros para a Permanência no ACL<br />

Os parceiros preferidos para a fase de identificação das alternativas para renovação<br />

de contrato eram em 2007: a comercializadora (30,8%) e o consultor/especialista<br />

(29,5%) independentes. Observa-se que os parceiros mais citados nas duas pesquisas<br />

permanecem os mesmos, porém a comercializadora independente diminui sua participação<br />

para 24,6% dos respondentes. O primeiro lugar, em 2010, ficou com a escolha<br />

de uma especialista/consultor independente, que manteve nas duas pesquisas o percentual<br />

em torno de 29%.<br />

18 Ausência de Proposta para Renovação de Contrato<br />

Uma pergunta específica foi feita para identificar como o cliente vê a situação na<br />

qual um fornecedor de energia atuante no mercado não apresente uma proposta no<br />

momento de renovação do contrato de seu cliente.<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />

17


Em 2007, 24,1% dos clientes preferiam que o fornecedor apresentasse uma proposta,<br />

mesmo que ela não fosse competitiva, enquanto que 20,3% entendiam que são<br />

regras do mercado e 19% declarou que o fornecedor não teve consideração, o que representava,<br />

para esses clientes, restrições para a contratação desse fornecedor.<br />

Em 2010, 41,2% respondeu que o fornecedor deveria ter apresentado uma proposta<br />

mesmo que não competitiva. Isso representou um aumento significativo, quando<br />

comparada a primeira pesquisa. Em compensação, diminuiu o número de respostas de<br />

19% para 11,8% de que o cliente não teve consideração e, portanto, sofreria restrições<br />

em novas contratações.<br />

19 Referência Comparativa de Preço para Renovação Contratual<br />

Em 2007, 43% dos clientes consideravam como referência comparativa para a análise<br />

de atratividade a tarifa do mercado cativo e 30% os preços praticados no mercado<br />

livre. O preço praticado no contrato atual foi mencionado por 19%, enquanto que as<br />

demais alternativas não demonstram representatividade.<br />

Em 2010, a comparação com os preços praticados pelo mercado livre foi escolhida<br />

por 54% dos respondentes, enquanto que a comparação com a tarifa do mercado cativo<br />

foi mencionada por apenas 22%, valor inferior aos 43% apontados em 2007.<br />

Essa alteração reflete a tendência do cliente em comparar as novas propostas de<br />

preços do mercado livre, com os já praticados nele. A comparação com o ACR, embora<br />

exista, é menos natural em horizontes maiores de tempo. Isso decorre do próprio ciclo<br />

de vida do cliente no ACL e do seu decorrente aculturamento, pois a decisão não se<br />

trata mais de escolher entre sair ou não do ACR.<br />

20 Aporte de Garantias Financeiras e sua Importância para o Cliente<br />

Considerando a garantia financeira exigida no contrato de compra de energia, o<br />

que não inclui as garantias exigidas pela CCEE, foi verificado se o cliente apresentou<br />

garantias ao seu fornecedor de energia elétrica, bem como, se ele tem dificuldades em<br />

apresentar garantias, e a sua disposição em pagar um valor adicional para não ter que<br />

fornecer essas garantias.<br />

Comparando os resultados auferidos em 2007 e 2010, verifica-se um aumento do<br />

número de clientes que fizeram aporte de garantias (de 50,9% em 2007 para 78,4% em<br />

2010); uma diminuição no percentual de clientes que declararam dificuldades para realizar<br />

o aporte de garantias junto ao fornecedor de energia antes de 17%, em 2007, para 11% em<br />

2010. Ocorreu um aumento de 2% para 16% no número de respondentes que manifestaram<br />

interesse em pagar um valor adicional por MWh para não apresentar garantias.<br />

18<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


21 Perfil Desejado do Fornecedor de Energia<br />

O perfil desejado para o fornecedor de energia no ACL foi investigado e verificou-se<br />

que 27,7% dos clientes preferiam os grandes geradores, 15,7% eram indiferentes, seguidos<br />

igualmente pelas comercializadoras independente ou vinculada ao gerador, que<br />

representavam cada uma, 14,5% da preferência dos entrevistados em 2007. Em 2010<br />

se percebe uma menor diferença entre as quatro primeiras opções de fornecedores de<br />

energia, sendo: grande gerador e comercializadora independente (ambos com 21,6%)<br />

e pequeno gerador e comercializadora vinculada ao gerador (ambos com 18,9%).<br />

Destaca-se que a comercializadora vinculada à distribuidora, em ambas as pesquisas,<br />

ficou na última posição, com 12% e 8,1% respectivamente nos anos de 2007 e 2010.<br />

22 Atributos Desejados do Fornecedor de Energia<br />

Os atributos preferidos em 2007 para um bom fornecedor de energia foram: flexibilidade,<br />

preço menor e ser uma empresa responsável de modo socioambiental. Em 2010<br />

não houve alteração nos três primeiros classificados, porém identifica-se um aumento<br />

da escolha do requisito “empresa com certificação de qualidade”, de 3,9% dos respondentes<br />

em 2007 para 12,9% dos respondentes em 2010.<br />

23 Pontos Fortes e Fracos da Distribuidora e do Fornecedor de<br />

Energia e do Agente Representante junto a CCEE<br />

Essa questão teve como característica a pergunta aberta, onde os respondentes<br />

identificaram até dois pontos fortes e dois pontos fracos dos parceiros (distribuidora de<br />

energia, fornecedor de energia no ACL e representante da empresa junto à CCEE). Nem<br />

todos os clientes identificaram todos os pontos solicitados, nem abordaram todos os<br />

parceiros, porém as respostas possibilitam conhecer os principais atributos positivos e<br />

negativos de cada um deles.<br />

A pesquisa de 2010 teve um número menor de pontos fortes e fracos, e isso se deve<br />

principalmente pela metodologia do questionário auto-respondente, enquanto que,<br />

em 2007, a pesquisa utilizou a técnica de entrevista telefônica, sendo mais favorável<br />

para insistir na alocação dos pontos fortes e fracos dos agentes setoriais analisados.<br />

Para o agente distribuidor os resultados obtidos foram:<br />

• Principais pontos fortes em 2007: atendimento, qualidade da energia e flexibilidade.<br />

Em 2010: atendimento, grupo sólido e estrutura adequada;<br />

• Principais pontos fracos em 2007: inflexibilidade, baixa qualidade da energia e preço<br />

alto. Em 2010: inflexibilidade, baixa qualidade da energia e atendimento inadequado/pós-venda.<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />

19


20<br />

Para o agente fornecedor de energia os resultados obtidos foram:<br />

• Principais pontos fortes em 2007: flexibilidade, cumprimento do contrato e preço<br />

atrativo. Em 2010: flexibilidade e preço atrativo;<br />

• Principais pontos fracos em 2007: inflexibilidade, relacionamento ruim ou ineficiente,<br />

burocracia e morosidade. Em 2010: inflexibilidade, relacionamento ruim ou<br />

ineficiente, preço e falta de transparência.<br />

Para o agente representante junto à CCEE os resultados obtidos foram:<br />

• Principais pontos fortes em 2007: atendimento e estrutura adequada, segurança,<br />

confiança e agilidade. Em 2010: atendimento, estrutura adequada e comodidade;<br />

• Principais pontos fracos em 2007: assessoria ruim, insatisfações técnicas, atendimento<br />

e relacionamento inadequados, conflito de interesses. Em 2010: atendimento<br />

e relacionamento inadequados, conflito de interesses, morosidade e falha<br />

no envio das faturas.<br />

Na análise dos pontos fortes e fracos dos agentes, não raramente se percebe um<br />

mesmo item classificado com destaque tanto como ponto positivo, como negativo.<br />

Pelo fato de essa pergunta ser aberta, os respondentes, tanto em 2007, como em 2010,<br />

destacaram os itens de maior percepção e lembrança para eles. A incidência de atributos<br />

iguais nos pontos fracos e fortes ilustra a elevada atenção provocada por estes na<br />

percepção dos clientes, tanto quando ele é bem provido, como quando não o é.<br />

24 Novas questões – Pesquisa 2010: Alteração das Regras de<br />

Responsabilidade pela Medição, Negociação de Eventuais<br />

Excedentes ou Faltas de Energia e Mudanças Climáticas<br />

Na realização da segunda pesquisa que tinha como objetivo atualizar os resultados<br />

apurados no ano de 2007 se verificou que três importantes pontos precisavam ser incluídos<br />

nela, sendo: análise da percepção do cliente frente às alterações das regras de responsabilidade<br />

pela medição, possibilidade de negociação de eventuais excedentes ou faltas<br />

de energia e, por fim, a influência das mudanças climáticas nas decisões energéticas.<br />

As alterações das regras de responsabilidade pela medição foram indiferentes<br />

para 34% dos respondentes, enquanto que 18% alegaram não terem informações<br />

sobre o tema ou acharam injusta essa alteração com os clientes que migraram<br />

antes. Os clientes que manifestaram o ingresso ao mercado livre em decorrência<br />

dessa mudança totalizaram 16%, enquanto que 14% mencionaram que novas unidades<br />

aderiram ao mercado livre em função dessa alteração na responsabilidade<br />

sobre a medição. Pelo resultado da amostra, essa alteração beneficiou 30% dos<br />

entrevistados na pesquisa realizada em 2010.<br />

A possibilidade de negociação de eventuais excedentes ou faltas de energia interessa<br />

a 43,3% dos entrevistados, embora, 21,4% se declaram não aptos para negociar<br />

essas diferenças. A intenção de terceirizar essas atividades ocorre em 21,4%<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


dos respondentes, enquanto 16,7% declaram não ter a necessidade de negociar<br />

com outros clientes eventuais sobras ou excedentes.<br />

Aspectos referentes à energia e às mudanças climáticas também foram identificados<br />

na pesquisa de 2010. Utilizando a técnica de “verdadeiro” ou “falso”, verificou-se o<br />

conhecimento sobre o tema, bem como se o respondente acredita ou não nas mudanças<br />

climáticas. A questão também teve o objetivo de avaliar a predisposição dos<br />

clientes livres em buscar alternativas ambientalmente mais atrativas, incluindo o pagamento<br />

de um preço premium maior por essas alternativas.<br />

Entre os resultados obtidos se destacam: 94% acreditam nos impactos das mudanças<br />

climáticas, 77% percebem que as escolhas energéticas têm contribuições significativas<br />

nas mudanças climáticas.<br />

Em relação à disposição em pagar mais caro para uma energia ambientalmente<br />

mais correta se verifica uma adesão de 43%, embora 61% dos respondentes concordem<br />

que a busca pela competitividade impede a empresa de priorizar fontes de energia<br />

mais caras, ainda que melhores do ponto de vista ambiental.<br />

Conclusão<br />

A importância do mercado existente, dos consumidores que compõem esse mercado<br />

e de suas propensões a consumir é inegável, o que atrai interesse, cada vez maior,<br />

pelo pleno entendimento sobre o processo pelo qual se dá o consumo e o comportamento<br />

dos consumidores.<br />

Apesar da necessidade quase que universal da energia, poucos avanços existem no<br />

conhecimento do comportamento de seus consumidores. Isso reflete a atenção insuficiente<br />

despendida pelo setor a estudos que permitam conhecer mais e melhor seus diferentes<br />

clientes. Com o objetivo de contribuir para a diminuição dessa lacuna, este trabalho<br />

procurou coletar, analisar e consolidar informações sobre o comportamento de um<br />

importante grupo de clientes, os clientes inseridos no ambiente livre de contratação.<br />

Essa escolha foi priorizada em decorrência da existência de competição, ou seja, a<br />

maioria desses clientes pode escolher em qual ambiente de contratação deseja permanecer,<br />

o que torna a análise mais complexa e desafiadora.<br />

De modo geral, os clientes pesquisados são empresas que utilizam energia elétrica<br />

e que atribuem a ela uma importância significativa. Clientes de vários Estados da<br />

Federação foram pesquisados, bem como elevada diversidade de ramos de atuação e<br />

modelos de gestão.<br />

As pesquisas quantitativas realizadas em 2007 e 2010 permitem o aprimoramento do<br />

conhecimento sobre o mercado livre de energia, identificando o comportamento dos<br />

clientes livres frente aos principais aspectos desse ambiente de contratação de energia.<br />

Comportamento do consumidor livre de energia elétrica, Ana Lúcia Rodrigues da Silva e Fernando Amaral de Almeida Prado Jr., p. 9-22<br />

21


Os aspectos selecionados e contemplados na pesquisa são características referentes<br />

à compra de energia; gestão do contrato; representação na CCEE; valor declarado da<br />

energia elétrica; ciclo de vida do cliente no mercado livre; sensibilidade comparativa<br />

de preço; metodologias adotadas e pretendidas; reação frente a situações preestabelecidas;<br />

percepção decorrente da necessidade de garantias exigidas nos contratos de<br />

energia; imagem percebida do fornecedor de energia; pontos fortes e fracos identificados<br />

na distribuidora, no fornecedor de energia no mercado livre e no representante nas<br />

atividades regulamentadas pela CCEE.<br />

Especificamente na pesquisa realizada em 2010, acrescentou-se ainda a verificação<br />

da percepção do cliente frente à alteração da responsabilidade sobre a medição, a atratividade<br />

de permutar sobras ou faltas de energia com outros clientes, além de aspectos<br />

associados à energia e mudanças climáticas.<br />

As informações coletadas permitem aos diferentes agentes do setor energético<br />

explorar a possibilidade de novas segmentações do mercado livre, com base nas experiências<br />

dos clientes que atuam nesse mercado, formatando produtos, serviços e<br />

soluções que representem vantagens competitivas para as empresas e que possam<br />

contribuir de forma virtuosa na melhoria contínua desse ambiente de contratação.<br />

As pesquisas apresentadas possuem limitações como quaisquer pesquisas, pois trabalham<br />

com uma amostra, que apesar de representar estatisticamente o universo, estão<br />

sujeitas à margem de erros; os resultados refletem o momento no qual estas ocorreram,<br />

ou seja, não necessariamente são mantidos ao longo do tempo, entre outros<br />

pontos de atenção.<br />

Essas limitações não invalidam os objetivos deste trabalho, que são: apresentar a<br />

importância do estudo do comportamento do consumidor de energia na formatação<br />

de estratégias empresariais e no aumento da satisfação dos clientes.<br />

Finalizando, é importante ressaltar que conhecimento sem ação tem quase nenhuma,<br />

ou nenhuma utilidade, ou seja, a busca contínua pelo conhecimento do cliente<br />

de energia não é um objetivo final, mas sim uma importante ferramenta que poderá<br />

contribuir na revisão de processos, produtos, serviços e posturas, tornando cada vez<br />

melhor a relação cliente-fornecedor, o que permite um ciclo virtuoso de melhoria contínua<br />

e encantamento dos envolvidos.<br />

22<br />

Referências<br />

SILVA. Ana Lúcia Rodrigues da. Comportamento do Grande Consumidor de Energia Elétrica. São<br />

Paulo: Geodireito, 2011.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Innovation applied to the recovery of<br />

degraded areas by clay extraction through<br />

the installation of fish culture activity in the<br />

region of the sub basin of the upper region<br />

of the Machado River, Rondônia, Brazil<br />

Marcelo Rodrigues dos Anjos *<br />

Francisco Alves de Andrade **<br />

Pamela Monalisa Rodrigues Monte ***<br />

Abstract: The ceramics industry is one of<br />

the main impacting activities regarding the<br />

conservation and watershed management<br />

with the extraction of clay, the raw material<br />

for manufactured goods such as tiles,<br />

bricks, hollow elements among others.<br />

The Pimenta Bueno region located in the<br />

southern cone of Rondônia state is characterized<br />

by a geology named intercalated<br />

shale of the Cacoal Formation, displaying<br />

layered deposits related to this activity. The<br />

existing environmental liabilities, although<br />

being the responsibility of mining companies,<br />

causes conflicts with environmental<br />

managers, generating pressures from society<br />

to restore and establish the compatibility<br />

of the mineral extraction activity and<br />

the environment. Generally, pits originated<br />

from clay extraction are abandoned and<br />

end up being flooded by rainwater or<br />

groundwater, result in small ponds with<br />

depths ranging from 1.5 to 5.0 meters.<br />

The objective of this study is to determine<br />

the feasibility of fish culture as an<br />

alternative activity for the recovery of the<br />

degraded areas in intensive system, as<br />

well as an alternative for income generation,<br />

food safety, in addition to the reuse<br />

of areas previously left as environmental<br />

liabilities. It was used as method the descriptive<br />

research with periodic observation<br />

visits, interviews with questionnaires<br />

prepared with managers and officials of<br />

the studied ceramics industry. As a result<br />

it was observed that the fish culture consists<br />

of an alternative that allows areas to<br />

mitigate environmental liabilities generated<br />

by the extraction of clay. And yet, it<br />

offers a competitive advantage for companies<br />

in this sector since it becomes a<br />

profitable alternative.<br />

Keywords: Technology. Recovery of degraded<br />

areas. Mining activity. Pisciculture.<br />

* Fundação Universidade Federal do Amazonas. Rua 29 de agosto, 786 - CEP: 69.800-000 - Humaitá (AM). Instituto<br />

de Educação Agricultura e Ambiente/Humaitá – Amazonas – Brasil. Phone +55 (97) 3373-1180. E-mail: anjos@<br />

ufam.edu.br.<br />

** Faculdade de Pimenta Bueno. Av. Castelo Branco, 780 - CEP: 76.970-000 - Pimenta Bueno (RO) - Brasil. Phone<br />

+55 (69) 3451-4100.<br />

*** Fundação Universidade Federal de Rondônia – Campus - BR 364, Km 9,5 CEP 76.808-695 - Porto Velho (RO) -<br />

Brasil Phone. +55 (69) 2182-2100.<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />

23


Introduction<br />

The region of the sub-basin of the upper region of the Machado River, sitting in a geology<br />

named intercaleted shales of the Cacoal Formation, is characterized by sedimentary<br />

deposits related to the mineral extraction, with deposits of clay, sand and gravel<br />

that are close to the consumer market. For Souza et al. (2001) the mineral extraction is<br />

one of the human activities with the largest impact, promoting changes in landscape<br />

and ecosystem dynamics.<br />

Despite that, the state of Rondônia has a department responsible for the environmental<br />

licensing for this activity, State Department for Environmental Development<br />

(SEDAM), which grants this license only to enterprises that meet the legal standards,<br />

legislation and submit environmental restoration projects of the areas upon completion<br />

of mining activities. In the region there are approximately about 70 hectares of<br />

already degraded areas, resulting from mineral exploitation, due to the informal sector,<br />

which eventually facilitates the irregularity of this activity.<br />

The existing environmental liabilities, even though being responsibility of the mining<br />

companies, cause conflicts with environmental managers, generating pressures<br />

from society to restore and establish the compatibility between the mineral extraction<br />

activity and the environment. In this sense, the cultivation of fish in intensive and semiintensive<br />

system has proven to be a good strategy for the recovery of degraded areas<br />

from clay mining in the region and has attracted the interest of mining companies,<br />

since the initial investment is low, given the possibility of the construction of tanks at<br />

the moment of the extraction.<br />

Clay mining process in the production of ceramics<br />

According to DNPM apud Radambrasil (1978) there are registered eight producers,<br />

among suppliers and ceramicists, which, according to data provided, extract 1,545m3<br />

per month. This is an average estimate and the extraction of material occurs mainly during<br />

the dry season, between May and October, when the conditions of access and the<br />

actual exploitation work are facilitated.<br />

The mining method employed in the extraction of clay is usually an open-pit, because<br />

the sedimentary deposits are located very near the surface and are covered by<br />

soil layers of small thickness. The method consists of mechanical dismantling of clay<br />

layers or strips by semicircular arches, using equipment such as wheel loader, excavator<br />

or backhoe, and the choice of the proper equipment depends on the shape and depth<br />

of the clay package. The raw material, after extraction, is temporarily stored in a warehouse<br />

near the mine. After the seasoning process, the clay is transported by truck to the<br />

internal tank of the industry.<br />

In general, mining causes a number of unwanted effects that can be named externalities.<br />

Some of these externalities are: environmental change, land use conflicts,<br />

24<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


depreciation of surrounding properties, generation of degraded areas and urban traffic<br />

disturbances. These same externalities generate conflicts in the community, which<br />

usually originate on the implementation of the project because the developer does not<br />

seek information about the expectations, desires and concerns of residents living near<br />

the mining company (BITAR, 1997).<br />

The distortion of the landscape caused by the opening of the mine front sets up a<br />

substantial impact, almost always being the first one to be noticed in the clay mining<br />

enterprises. It is not just a visual impact but also a geomorphological change expressed<br />

by changes in morphology and in flows of matter and energy existing in the system.<br />

The pit resulting from the extraction of clay and deposits of sterile material alter the<br />

local topographic forms, which can result in a number of other indirect changes, causing<br />

modifications in current morphological processes, such as changing directions of<br />

flows of water runoff, determining that areas under the control of the erosive effects<br />

become environments of deposition and vice versa (COLTURATO, 2002).<br />

According to Brushi and Peixoto (1997), materials released in the extraction process<br />

tend to move around the strands until they reach the river channel, causing siltation.<br />

The increased bed load, in general, echoes in increased bank erosion, once the drainage<br />

tends to seek its equilibrium profile by extending the thalweg in a geometric pattern<br />

more appropriate in order to transport the imputed mass into the system, sometimes<br />

incompatible with its capability.<br />

The sediments are also released by waste dumps without stability arranged in<br />

plots, where the retaining walls are absent or inadequate. In addition, it also degrades<br />

the soil on which it is laid, as well as the existing vegetation that is buried<br />

by the overlying tailings.<br />

Another pressing problem to be considered in mine planning refers to the aeolian<br />

transportation of small size materials ; this property is intrinsic to the sterile clay, when<br />

uncompressed. The particles can sometimes be transported to considerable distances,<br />

beyond the area of the mining influence , thus expanding the spatial extent of impacts.<br />

Fish culture activity as a strategic tool for the recovery of<br />

degraded areas<br />

Mining is a degrading activity and one of the largest contributors to the process of<br />

environmental change, affecting not only the local landscape, but the entire ecosystem<br />

dynamics. Nevertheless, mineral resources are essential inputs and are part of virtually<br />

all human activities.<br />

There are many studies that aim at the recovery of areas degraded by mining. But<br />

when it refers to a line of innovative research, such as the use of armholes for fish production,<br />

it tends to draw the attention of companies. Several study centers have been<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />

25


esearching this new kind of usage of the degraded areas and have been extremely<br />

supportive of this practice.<br />

Besides being an efficient tool for recovery of these areas, it is also an important<br />

source of production of food, very rich in protein, low production cost and high degree<br />

of environmental response. (PIEDRAS et al., 2005).<br />

Materials and Methods<br />

Location of Area<br />

The area lies between the segments of the parallel of 11 ° to 12 ° S and meridians<br />

61 º 00 ‘to 62 º 00’ WGr (RADAMBRASIL, 1978).<br />

Description of the Area<br />

The study aims at the recovery of an area of 17.65 ha based on the extraction of a<br />

clay - deposit, located in Lot 01, Sector 09 Gleba Baron Melgaço, Pimenta Bueno, the<br />

municipality belonging to Santa Maria Ceramics.<br />

According to Socio-Economic Zoning (ZSE), the area of the mine is located in the<br />

Sub-Area 1.1, has great potential and is already endowed with social infrastructure for<br />

the development of industrial and agricultural activities.<br />

Regarding the morph structure units, the region is classified as the degraded highlands<br />

of the Western Amazonia. The largest area of this morphostructural unit is extended<br />

from the left margin of the Madeira River and the area between the right margin<br />

of the Machado River and the Serra do Machado. These areas are usually made up of<br />

savannah vegetation that covers hydromorphic litters and recent sedimentary lithologies,<br />

from the quaternary (RADAMBRASIL, 1978).<br />

According to the study of Radambrasil (1978), the morph climatic unit that makes<br />

up the area is characterized by interfluvial tabular reliefs and areas where the pediplane<br />

eutrophic Cambisol and red yellow podzolic dominate. The climate of this area is attenuated<br />

termoxeroquimenic. The red-yellow podzolic Alic soils, hydromorphic Alic<br />

laterite, all with clay texture in flat terrain and under vegetation in contact with the Savannah/Open<br />

Forest, give the region the possibility of developing the ceramic industry<br />

because of the great potential of raw material available for this activity.<br />

The drainage of the area is intense, of fine texture and dendritic type. Ji-Parana<br />

River or Machado River rises from the junction of the Melgaço Baron River, also<br />

named Comemoração de Floriano, and Apidiá River, named Pimenta Bueno, in the<br />

Chapada dos Parecis. Its course has a length of 800 kilometers, crossing the cen-<br />

26<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


tral region of the state before debouching into the Madeira River, Calama region,<br />

municipality of Porto Velho. Its tributaries along the right margin are Riozinho,<br />

Lourdes, São João and Tarumã Rivers. The left margin tributaries are the Luiz de<br />

Albuquerque, Rolim de Moura, Ricardo Franco, Black, Jaru, Boa Vista and Urupá<br />

Machadinho Rivers. Its main hydrographic accident, among the various existing<br />

which hinder navigation, is the waterfall 02 de Novembro, located in the Machadinho<br />

do Oeste municipality; all occur in valleys well inserted, except for a segment<br />

of the Roosevelt River, in which a fluvial plain appears (RADAMBRASIL, 1978).<br />

The sub basin of the Upper region of the Machado River is the second in area,<br />

with 10696.8029 km2, behind the sub-basin of the Black River with a total of<br />

11,037.1047 km2, but it is the first in perimeter with a total 809.00 km.<br />

Regarding the stratigraphy of the area it was noted the presence of pebbles<br />

and blocks of various rocks, joined by a mass of brown clay lithostratigraphic; this<br />

region is still composed of chocolate color to green shales, fissile, micaceous, tiny<br />

crystals of pyrite disseminated, interbedded arkoses, brown massive fine to medium<br />

flakes of muscovite and clay minerals.<br />

According to Radambrasil (1978), the physiography of this area is quite diversified<br />

with hills and mountains that continue across the northern border. The coating<br />

surfaces of the crystalline basement are dense forest with cluster of open forest<br />

formations. The gently undulating areas in southwestern and northern portion<br />

sport the Open Forest. To the southeast, a tabular surface stands to reach higher<br />

altitudes, all in its mid-eastern half. It is, however, sometimes quite eroded in crests<br />

as in hills, except in its most northern portion where its table tops, with more than<br />

300 meters in altitude, include the mountain Quatorze de Abril. There is practically<br />

an intercalation from south to north, between the coverage areas of the platform<br />

and the Precambrian crystalline basement. As a consequence, there is a great diversification<br />

on their forest cover (RADAMBRASIL, 1978).<br />

Also, according to Radambrasil (1978), among the reliefs described, a surface<br />

appears flattened due, perhaps, to the accumulation provoked by the Comemoração<br />

River, which cuts it in half. They are areas of eutrophic Cambisol soil covered<br />

by savanna areas and contact of Savannah / Forest areas. In a small segment of<br />

the Roosevelt River, to the south, there is a narrow bent of alluvium that interpenetrates<br />

in two tributaries of the right margin.<br />

Procedures<br />

Resources and procedures used for this study included surveys of databases<br />

from the library of the Brazilian Association of Ceramics at the Library of the Society<br />

of Mining Rondônia (CMR) also, monthly visits on site monthly during the<br />

period of one year in 2006 were performed to identify the nuances of using fish<br />

culture as a strategy for recovery of the degraded areas.<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />

27


Although there are other companies that perform extraction of clay for the manufacture<br />

of ceramic artifacts in the region, Santa Maria Ceramics in Pimenta Bueno, Rondônia<br />

was chosen as a strategy to restrict the scope of this study since it is a representative<br />

sample of the industry and is subject of a forefront process of complaints because<br />

the use of fish culture in the region. In this regard, data was collected on the production<br />

process involving different items of investment in infrastructure and/or operational.<br />

Data Analysis<br />

The data was analyzed qualitative and quantitatively, as it is an exploratory-descriptive<br />

research. The ordering of the concepts and fundamentals that came from the related<br />

literature sources made it possible to identify processes and methods that are more<br />

convenient to carry out the recovery of the degraded areas for the extraction of clay<br />

through fish culture. The measurements carried out in the field provided a quantitative<br />

assessment of production, thereby constituting a measure of its efficiency, according to<br />

the function for which it was deployed.<br />

Results and Discussion<br />

Considering the various aspects involved in the recovery of degraded areas due to<br />

the extraction of clay, the basic steps and procedures that should guide the work in the<br />

case of ceramic enterprises can be listed (Figure 1).<br />

It was included, among the planning activities involving the entrepreneur, a proper<br />

and careful assessment of the installed degradation. Furthermore, there was the necessary<br />

participation of environmental agencies (IBAMA and SEDAM) legally responsible<br />

for the review, approval and control of the recovery.<br />

The central element in the sequence of steps and procedures tends to be the recovery<br />

plan. The plan fulfills both the role of an instrument of planning and negotiation,<br />

and is potentially capable of integrating and harmonizing during the procedures<br />

of preparation and analysis, solutions that meet the intentions of the entrepreneur and<br />

the duties of public agencies involved.<br />

The approval of the plan promotes the implementation of planned measures, including<br />

those for the installation of the future use of the area.<br />

28<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


No<br />

Figure 1 - Steps and basic procedures in recovering the area of clay extraction<br />

Source: Made by the authors.<br />

STEPS BASIC PROCEDURES<br />

Identication and<br />

characterization of the<br />

degraded area<br />

Recovery Planning<br />

Approval<br />

of recovery<br />

plan?<br />

Yes<br />

Implementation of<br />

recovery plan<br />

Monitoring and<br />

maintenance of recovery<br />

Closure of the mining and<br />

consolidation of land use<br />

Preliminary assessment<br />

of the degradation or<br />

expedient<br />

Implementation of<br />

emergency measures<br />

Commitment of miner<br />

Evaluation of the<br />

degraded areas<br />

Denition of the goals<br />

of the recovery<br />

Elaboration of the<br />

recovery plan<br />

Analysis of the recovery<br />

plan by the Environmental<br />

Implementation of<br />

emergency measures<br />

Inspection of the<br />

measures implemented<br />

Verication of<br />

environmental<br />

Implementation of<br />

additional measures<br />

Stabilization<br />

measures<br />

and future<br />

land use<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />

29


Topographic remodeling in fish culture aims to systematize the area by providing<br />

the conformation of tanks with varying dimensions. In Santa Maria Ceramics, 11 tanks<br />

were built and the walls were modeled with a maximum tilt of 45 degrees, with grassy<br />

borders to prevent landslides (Figure 2).<br />

The depths of the tanks vary on average from 1.5 m to 2.0 m and its floor and walls<br />

are properly compacted to prevent water loss through seepage. For topographic remodeling<br />

of the study area a track type tractor was used.<br />

Source: Made by the authors.<br />

30<br />

Figure 2 - Diagram of a fish tank<br />

The liming in the tanks was the first thing to be done and it was based on soil analysis<br />

of the tank. The objective was to bring the pH to 7.0 and get a base saturation around 70%.<br />

The amount of limestone used to correct acidity was 80 tons. Liming was carried out three<br />

months prior to the settlement. For fertilization, chicken manure was used (fully tanned) in<br />

the amount of 50 kg / ha and 160 kg / ha of bone flour. All the fertilizer was applied broadcast.<br />

The species used in the process of settlement were native species from the Amazon,<br />

prioritizing the use of those, thereby avoiding the cultivation of exotic species.<br />

Tambaqui (Colossoma macropomum)<br />

The choice of this species was made based mainly on biological qualities and adaptability<br />

to the regional culture, with decisive factors such as: fast growth, hardiness, resist-<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


ance to low levels of dissolved oxygen, high temperatures, handling, disease resistance,<br />

preferably in the consumer market and excellent price. Proven adaptability, once they<br />

are in the rivers of the Amazon, their natural habitat, tambaqui reaches, on average 2.0<br />

kg in a 12-month period, in semi-intensive system which makes the species, together<br />

with other factors, greatly appreciated by the local inhabitants and even adding appeal<br />

to other international markets.<br />

Pirarucu (Arapaima gigas)<br />

The choice of this species is justified because this is one of the main representatives<br />

of the Amazon fish fauna. The red fish, as is known by the Indians, has been considered<br />

the ox of the water, and entitled as the cod of Brazil. The commercial value of this<br />

species relies on its large size and excellent flavor of its meat, especially, marketed as<br />

drought-and salt “in nature”.<br />

With high hardiness, considering the air breathing and high growth rate, these characteristics<br />

were decisive factors for the success of this fish, reaching 10 kg in the period<br />

shape of 12 months and 20 kg on average, with 24 months in semi-intensive system<br />

(SAMPAIO, 2003).<br />

Source: Made by the authors.<br />

Table 1 - Cost of Implementation<br />

Components Unit Quantity<br />

Prices Mar/2007<br />

Unit price Total price<br />

2 – Initial Expenditures<br />

Permit (environmental permit) One 1 510.00 510.00<br />

Project Design One 1 905.00 905.00<br />

Surveying<br />

3 - Equipment<br />

Hectare 5.5 497.00 2,733.50<br />

Trawl net One 1 1,025.00 1,025.00<br />

Kit for Water Analysis<br />

4 – Infrastructure Support<br />

One 1 302.00 302.00<br />

Pipe PN60 150mm (capture) Un 22 37.00 814.00<br />

Knee PVC - 150mm Un 22 69.00 1,518.00<br />

PN80 150mm tube (flow)<br />

5 – Services for Implementation of Nurseries<br />

M 22 30.00 660.00<br />

Service redesign pits h/maq 15 121.00 1,815.00<br />

Supply channel h/maq 5 121.00 605.00<br />

Installation of plumbing Day 4 16.00 64.00<br />

Planting grass and native plants Day 14 25.00 224.00<br />

Total Cost – U$ U$ 11,175.50<br />

Cost per Hectare – U$ U$ 2,031.90<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />

31


The tanks were randomly populated with specimens of tambaqui (Colossoma macropomum)<br />

and pirarucu (Arapaima gigas). The tambaqui fingerlings had an average<br />

length of 5 cm and an average weight of 100 grams, while the fingerlings of pirarucu<br />

had an average length of 15 cm and an average weight of 300 grams. During the 12<br />

months of experiment, the animals were fed with commercial extruded type food. The<br />

amount of food provided was adjusted by means of biometry performed in 10% of<br />

the population of each tank. Maintenance, transparency, and adjustment of fertilization<br />

were performed using the Secchi disk to 35 cm.<br />

Every 30 days a Biometry was performed to monitor the development of the fish<br />

and to check the weight gain. The program of biometrics and food supply is shown in<br />

Appendix (Table 5).<br />

In relation to food, practically all organisms in the pond contribute with the feeding<br />

of the fish. The greater or lesser number of these organisms influences the production<br />

of fish increasing or decreasing the productive capacity respectively.<br />

Because it is a semi-intensive system, artificial food was administered periodically<br />

and the food used was extruded or floating types. After a year of settlement and with<br />

the weight of 2.0 kg for tambaqui and two years for pirarucu with 20 kg in average, the<br />

removal of the fish was performed with the usage of trawl net, with 25 mm mesh, wire<br />

multifilament nylon No. 18. The Table 1 sets out the costs of deployment for the recovery<br />

of 5.5 ha of degraded area by clay mining by Santa Maria Ceramics.<br />

In Table 2, it is represented the cost of producing a 12-month cycle for the Tambaqui<br />

species and 24 months for Pirarucu species in an area of 5.5 ha of clay extraction.<br />

Results achieved in production<br />

As Table 3 shows, it can be seen that the final biomass gain for the tambaqui species<br />

was 22,400 kg, and for the pirarucu species it was 24,600 kilograms on average. Regarding<br />

the mortality rate, it was 11% for tambaqui species and 18% for the pirarucu species,<br />

thus resulting in a survival of 89% and 82% for Tambaqui and Pirarucu respectively.<br />

32<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Source: Made by the authors.<br />

Source: Made by the authors.<br />

Production and gross revenue reached<br />

The production and gross revenue achieved by fish culture in clay mining pits are<br />

better represented in the Table 4.<br />

Source: Made by the authors.<br />

Table 2 - Cost of production the Tambaqui and Pirarucu species<br />

Components Unit Quantity<br />

Prices Mar/2007<br />

Unit price Total price<br />

A – VARIABLE COSTS<br />

1 – Inputs<br />

Tambaqui fingerlings thousand 14 37.00 518.00<br />

Pirarucu fingerlings thousand 1,5 4,519.00 6,778.50<br />

Limestone T 80 31.00 2.480,00<br />

Extruded Food kg 48.542 0.45 21,843.90<br />

Cow dung<br />

2 – Manpower<br />

Distribution of limestone, people with finger-<br />

kg 275 1.20 330.00<br />

lings, food, control, inspection, daily sampling<br />

of fish and removal of fish (monthly salary<br />

plus 13th salary)<br />

Months 26 325.30 8,458.00<br />

C – TOTAL COST U$ 40,408.40<br />

Species<br />

Table 3 - Representation of the results achieved by the biomass of<br />

tambaqui and pirarucu in clay mining pits in the ceramic Santa Maria<br />

Average Weight<br />

(kg)<br />

initial final<br />

consumption<br />

of food<br />

(food / kg)<br />

food<br />

conversion<br />

(e = food:<br />

fish)<br />

mortality<br />

total<br />

survival<br />

initial<br />

biomass<br />

(kg)<br />

final<br />

biomass<br />

(kg)<br />

Table 4 - Gross revenue reached in the activity of fish culture<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />

improvement<br />

of biomass<br />

(kg)<br />

Tambaqui 0.2 2 36,512 2:1 2,800 11,200 2,800.00 22,400 19,600<br />

Pirarucu 0.1 20 12,000 3:1 270 1,230 150.00 24,600 24,450<br />

Total 0.3 22 48,542 3,070 12,430 2,950.00 47,000 44,050<br />

Species Production (kg) Selling Price (U$/kg) Gross Revenue (U$)<br />

Tambaqui 22,400 2.40 53,760.00<br />

Pirarucu 24,600 3.91 96,186.00<br />

Total 47,000 6.31 149,946.00<br />

33


Final Considerations<br />

The implementation of this study pointed out the issue of environmental liabilities<br />

arising from the extraction of clay, an important mineral resource for the building industry<br />

in which Brazil is among the largest exporters. As a result of this activity, there<br />

are environmental aspects which end when the exploitation finishes. In this regard different<br />

modes of socioenvironmental impacts take place, according to the nature of the<br />

extracted material and the conditions in which exploitation operations are conducted.<br />

When the mining operations are processed in urban areas, the negative outcomes<br />

are summed up in the physical impacts of a social nature. As the exploratory mode,<br />

mining can trigger air pollution, noise, visual, water resources, affecting the society at<br />

different levels.<br />

The environmental damage takes shape at the close of exploratory practice, which<br />

can occur due to the exhaustion of the deposit, the impossibility of economic exploitation<br />

or the effect of intervention of the government. In this regard, the study searched<br />

to point out the possibility of recovering a specific type of environmental liabilities,<br />

especially the abandoned pits of clay extraction. The outlook takes into account the<br />

predicted stability of the ground and it is simple to carry out and it can be extended to<br />

other similar situations where conditions of physical and chemical stability, layout and<br />

size of the pit are permissible.<br />

Finally, the mining should be assessed in its entirety from the stage of research and<br />

implementation to the recovery phase after exhaustion of the deposit, always taking<br />

into account the externalities that are installed with the production process. The need<br />

to consider the most likely balance possible between mineral exploration and environmental<br />

deterioration constitutes a challenge of prime importance for mining.<br />

The lakes resulting from clay extraction pits by Santa Maria Ceramics have environmental<br />

conditions that allow the cultivation of fish in semi-intensive system. The<br />

tambaqui and pirarucu exhibited satisfactory performance when cultivated in tanks<br />

installed in clay mining pits.<br />

With the recovery of degraded areas by the extraction of clay for the fish culture, the<br />

pressure on fish stocks will be reduced and thus it will contribute to the preservation of<br />

pirarucu and tambaqui species today, threatened of extinction, in the main rivers and<br />

tributaries of the river the Amazon basin.<br />

Other fish species should be evaluated for their productivity when grown in semiintensive<br />

pond in clay mining pit.<br />

After completing the calculations for implantation and production using this model,<br />

it can be seen that this branch of activity has a relatively low initial cost, because it uses<br />

only areas already dug to extract clay. So when it is compared the cost of production<br />

with the sale price of the fish, it is clear that the costs are offset by a good margin.<br />

34<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Considering the hypothesis, it appears that with the implementation of aquaculture<br />

activity it can mitigate areas of environmental liabilities generated by the extraction of<br />

clay. And yet, it presents a competitive advantage for the company as it becomes a profitable<br />

alternative. For the data presented in the activity of fish culture it was achieved<br />

U$ 149,946.00 as gross revenue, U$ 40,408.40 for the total costs and U$ 109,537.60 for<br />

the net earnings.<br />

References<br />

BITAR, Omar Yazber. Avaliação da recuperação de áreas degradadas por mineração na<br />

região metropolitana de São Paulo. 1997. 184p. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da<br />

Universidade de São Paulo, São Paulo.<br />

BRUSCHI, Denise Marilia; PEIXOTO, Mônica Campolina Diniz. Extração de areia, cascalho e<br />

argila: técnicas e controle ambiental. Fundação Estadual do Meio Ambiente, Belo Horizonte,<br />

n.4, 90 p., 1997.<br />

COLTURATO, Silvio César Oliveira. Aspectos e impactos ambientais da mineração de argila<br />

na região de Rio Claro e Santa Gertrudes, SP: Proposta Metodológica para ponderação dos<br />

impactos negativos. 2002. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – IGCE. UNESP. Rio Claro. 2002.<br />

PIEDRAS, Sergio. POUEY, Juvêncio. MORAES, Paulo Roberto. Uso de áreas degradas pela extração<br />

de areia no cultivo intensivo de pescado em tanque-rede. Brasileira Agrociência, Pelotas,<br />

n.4. v.11, out./dez. 2005. p. 467-470.<br />

RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais, Vol. 16. Folha SC.20 – Porto Velho. Rio de Janeiro:<br />

Ministério das Minas e Energia, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), 1978.<br />

SAMPAIO, Airton Rebouças. Piscicultura continental: métodos e práticas. Fortaleza: Expressão, 2003.<br />

SOUZA, Patrícia Aparecida; VENTURIN, Nelson; MACEDO, Renato Luiz Grisi et al. Estabelecimento<br />

de espécies arbóreas em recuperação de área degradada pela extração de areia. <strong>Revista</strong><br />

Cerne, Lavras, v.7, n.2, p. 43-52, 2001.<br />

Innovation applied to the recovery of degraded areas..., Marcelo R. dos Anjos, Francisco A. de Andrade e Pamela M. R. Monte, p. 23-36<br />

35


36<br />

PROD-<br />

UCT<br />

SIZE<br />

(mm)<br />

Phase<br />

Cultivation<br />

AL 55 Ground Nursery<br />

AL 45 1 e 2 Nursery<br />

TR 36 3 e 4<br />

TR 32 4 e 5<br />

S 128<br />

Growth<br />

S 128<br />

Fattening<br />

S 128<br />

Termination<br />

8 e 9<br />

8 e 9<br />

8 e 9<br />

Rebuilds<br />

Home<br />

Recreates<br />

Final<br />

Fattening<br />

Fattening<br />

and<br />

Termination<br />

Fattening<br />

and<br />

Termination<br />

Source: Made by the authors.<br />

APPENDIX - Table 5 - Program of fish feeding<br />

Weight of Fish (g)<br />

from until<br />

Week of<br />

Cultivation<br />

Daily<br />

meal (%<br />

biomass)<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />

Number<br />

of treatments<br />

per day<br />

Daily<br />

amount<br />

of food<br />

per 1000<br />

fish<br />

Amount<br />

of fish<br />

food to<br />

treat<br />

1,000<br />

fish<br />

0,5 2 1 18 12 225 g 20 g<br />

2 5 2 15 9 525 g 70 g<br />

5 10 3 11,5 9 863 g 75 g<br />

10 20 4 8 8 1200 g 90 g<br />

20 30 5 7 7 1800 kg 250 g<br />

30 45 6 6 5 2.3 kg 450 g<br />

45 70 7 5 5 2.9 kg 575 g<br />

70 10 8 5 5 4.3 kg 850 g<br />

100 130 9 4,5 4 5.2 kg 1.3 kg<br />

130 165 10 4,3 4 6.3 kg 1.6 kg<br />

165 200 11 4,2 4 7.7 kg 1.9 kg<br />

200 240 12 4 3 8.8 kg 2.9 kg<br />

240 285 13 3,7 3 9.6 kg 3.2 kg<br />

285 335 14 3,5 3 10.9 kg 3.6 kg<br />

335 385 15 3 3 10.8 kg 3.6 kg<br />

385 440 16 3 3 12.4 kg 4.1 kg<br />

440 500 17 2,6 3 12.2 kg 4.1 kg<br />

500 560 18 2,3 3 12.3 kg 4.1 kg<br />

560 620 19 2,2 3 12.7 kg 4.2 kg<br />

620 680 20 2,2 3 14 kg 4.7 kg<br />

680 745 21 2,2 3 15.3 kg 5.1 kg<br />

745 810 22 2,2 3 16.7 kg 5.6 kg<br />

810 875 23 2,2 3 18.1 kg 6 kg<br />

875 945 24 2,2 3 19.6 kg 6.5 kg<br />

945 1015 25 2,2 3 21.1 kg 7 kg<br />

1015 1090 26 2,2 3 22.6 kg 7.5 kg<br />

1090 1165 27 2 3 22.6 kg 7.5 kg<br />

1165 1245 28 1,7 3 21.0 kg 7 kg<br />

1245 1330 29 1,7 3 21.2 kg 7.1 kg<br />

1330 1420 30 1,6 3 22.0 kg 7.3 kg<br />

3420 1515 31 1,6 3 22.7 kg 7.6 kg<br />

1515 1610 32 1,4 3 22.5 kg 7.5 kg<br />

1610 1710 33 1,3 3 21.9 kg 7.3 kg<br />

1710 1810 34 1,2 3 21.5 kg 7.2 kg<br />

1810 1915 35 1,1 3 21.2 kg 7.1 kg<br />

1915 2020 36 1 3 19.7 kg 6.6 kg<br />

2020 2125 37 1 3 20.7 kg 6.9 kg<br />

Food intake<br />

per<br />

phase<br />

for 1,000<br />

fish<br />

6.1 kg<br />

22 kg<br />

66 kg<br />

134 kg<br />

452 kg<br />

1,224 kg<br />

1,356 kg


E-learning e aprendizagem significativa<br />

Resumo: Com a globalização as empresas<br />

buscam, cada vez mais, alinhar suas<br />

estratégias às competências e habilidades<br />

de seus profissionais. Para isso elaboram<br />

programas de educação corporativa<br />

e o e-learning pode ser uma das soluções<br />

viáveis para essa finalidade. Mas, para<br />

que seja realmente efetivo, a elaboração<br />

de cursos via e-learning deverá respeitar<br />

vários requisitos na elaboração dos materiais<br />

instrucionais que serão aplicados.<br />

Esse artigo propõe uma metodologia<br />

para a elaboração de materiais instrucionais<br />

para e-learning, baseada na teoria da<br />

aprendizagem significativa de Ausubel.<br />

Palavras-chave: Educação corporativa.<br />

E-learning. Aprendizagem significativa.<br />

Materiais instrucionais.<br />

Introdução<br />

Celi Langhi *<br />

* Doutora e mestre em psicologia da aprendizagem pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.<br />

Mestre em comunicação social pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em didática e pedagoga.<br />

Professora da Faculdade de Administração e do MBA da FAAP. Diretora da Infolearning Projetos Educacionais.<br />

Exerceu cargos de direção em diversas instituições de ensino e também na área corporativa. Trabalho apresentado<br />

no Congresso da ABTD em 07 de dezembro de 2011. E-mail: clanghi@faap.br.<br />

E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />

Abstract: In globalized scenario companies<br />

increasingly seek to align their strategies<br />

to the competencies and skills of<br />

their professionals. To address this need,<br />

they design corporate education programs<br />

in which e-learning can be one of<br />

the feasible solutions for this purpose. But<br />

to be truly effective, the development of<br />

e-learning courses must meet several requirements<br />

in the preparation of instructional<br />

materials that will be applied. This<br />

article proposes a methodology for the<br />

development of instructional materials<br />

for e-learning, based on Ausubel theory<br />

of meaningful learning.<br />

Keywords: Corporate education. Elearning.<br />

Meaningful learning. Instructional<br />

materials.<br />

A expansão de novas tecnologias da informação e da comunicação, e a velocidade<br />

dos fluxos de transações globais intensificou a necessidade de educação continuada<br />

do trabalhador, com ênfase: na formação de competências múltiplas, na solução de<br />

problemas, no trabalho em equipe de modo cooperativo e pouco hierarquizado, na<br />

flexibilidade para adaptar-se a novas funções, na capacidade de aprender a aprender<br />

para gerir e processar informações e atualizar conhecimentos e tecnologias.<br />

O e-learning, ou seja, ensino a distância via Internet, pode ser uma das possibilidades<br />

de se atender a essas novas exigências, principalmente diante da necessidade de<br />

formação de conhecimentos, habilidades e atitudes que compõem as competências<br />

necessárias para organizações e indivíduos que queiram atuar de forma adequada nessa<br />

nova realidade.<br />

37


Atualmente é possível adquirir, de forma fácil e rápida, diversos cursos via Internet,<br />

com os mais variados conteúdos. Muitos desses cursos são gratuitos (por<br />

exemplo: www.sebrae.com.br; www.unicamp.br). Outros cobram taxas que diferem<br />

de acordo com a especialização e profundidade do assunto. É possível fazer<br />

cursos de graduação, mestrado e doutorado totalmente a distância, cursos esses<br />

oferecidos por renomadas instituições de ensino tanto no Brasil (conforme site do<br />

Ministério da Educação) como no exterior (PETERSON’S EDUCATION CENTER, 2010).<br />

Também é possível customizar cursos conforme as necessidades apresentadas<br />

nos planejamentos estratégicos das organizações. Nos últimos anos milhares de empresas,<br />

principalmente as multinacionais, tomaram para si a responsabilidade de formar<br />

seus profissionais, para atuarem em filiais espalhadas em diversos continentes.<br />

O questionamento que se pretende fazer nesse artigo diz respeito à qualidade com<br />

que os materiais instrucionais chegam até os participantes dos cursos. A literatura nacional<br />

e internacional não apresenta muitos estudos sobre o emprego de teorias de<br />

ensino e de aprendizagem na produção desses materiais (LANGHI, 2005), ou seja, a área<br />

científica não tem fornecido muitos subsídios a respeito de como esses materiais devem<br />

ser elaborados para que realmente promovam aprendizagem significativa.<br />

Esse fato foi decisivo para que fosse realizado um estudo sobre quais teorias<br />

de ensino e de aprendizagem podem ser utilizadas na produção de materiais instrucionais<br />

para cursos a distância de forma que realmente se possa garantir que o<br />

participante irá aprender. Após estudar mais de 46 teorias diferentes, foi percebido<br />

que a teoria da aprendizagem significativa proposta por Ausubel et al. (1980) pode<br />

oferecer os subsídios desejados. O texto a seguir é parte dos resultados encontrados<br />

tendo por base as pesquisas que a autora vem desenvolvendo nos últimos dez anos.<br />

1 Algumas considerações sobre o ensino a distância<br />

As diferentes tecnologias incorporadas ao ensino a distância praticamente determinaram<br />

os suportes fundamentais por ela usados ao longo de sua história.<br />

Na primeira geração do ensino a distância prevaleceu o correio físico como o<br />

principal tipo de recurso disponível. Os contatos dos alunos com os professores<br />

eram lentos, tornando inviável qualquer tentativa de propostas dialógicas.<br />

Em sua segunda geração o ensino a distância contou com a integração dos<br />

meios de comunicação audiovisuais com os materiais impressos. Na década de<br />

1980, mais especificamente, houve intensificação dos recursos multimídia, com<br />

várias experiências com tendências homogeneizadoras, ou seja, propostas de cursos<br />

baseados no modelo fordista, com pouca valorização de propostas socioculturais<br />

baseadas nas demandas dos alunos e dos grupos sociais.<br />

38<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Na década de 1990 surge a terceira geração do ensino a distância, principalmente<br />

com o uso da Internet. A incorporação de redes de satélites, o correio eletrônico<br />

e os recursos associados a mídias diversas possibilitou uma maior interação entre<br />

os participantes do processo de ensino e aprendizagem. Nesse momento surge o<br />

termo e-learning.<br />

Atualmente o e-learning está em sua quarta geração, uma vez que o uso das<br />

novas tecnologias de comunicação social (blogs, tablets, aparelhos celulares sofisticados<br />

etc.) acoplados à Internet, favorece desde a construção do conhecimento<br />

em conjunto até a troca de experiências simultâneas por meio de vivências com<br />

softwares de realidade virtual.<br />

É possível perceber que com toda evolução das tecnologias de comunicação,<br />

que as barreiras relacionadas a softwares, meios de comunicação ou conexões já<br />

podem ser resolvidas com certa facilidade. Mas, mesmo assim, há um componente<br />

que ainda precisa ser mais explorado, ou seja, a qualidade do material instrucional<br />

utilizados nos cursos.<br />

2 Modelos de design instrucionais aplicados nos cursos a<br />

distância no Brasil<br />

Nas pesquisas realizadas sobre a qualidade de cursos a distância observou-se<br />

que para a produção de materiais instrucionais geralmente se leva em consideração:<br />

conceitos, tipo de design ou requisitos técnicos.<br />

No Quadro 1 observa-se que quanto aos conceitos, os cursos podem receber<br />

os nomes de e-learning, web-based learning, web-based courses, online learning e<br />

distance learning.<br />

Do ponto de vista do design instrucional surgem denominações como: Web/<br />

CBT (computer based training; Web/ EPSS (eletronic performance support systems);<br />

Web/ VAC (virtual asynchronous classroom) e Web/VSC (virtual synchronous classroom),<br />

conforme pode-se observar no Quadro 2.<br />

A classificação dos cursos também poderá ser realizada por características técnicas<br />

como: learner-led-learning (autoaprendizagem); facilitated e-learning (ensino<br />

a distância facilitado); instructor-led-e-learning (condução do ensino pelo instrutor)<br />

e embedded e-learning (ensino a distância integrado). A definição de cada um<br />

desses tipos de curso consta no Quadro 3.<br />

As classificações propostas nos quadros de um a três apenas exemplificam que<br />

muitas vezes o principal foco na produção de um curso está na apresentação e não<br />

na qualidade da produção dos materiais instrucionais oferecidos.<br />

E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />

39


40<br />

Quadro 1 - Classificação de cursos a distância por conceitos<br />

E-Learning Web-based learning Web-based courses Online learning Distance learning<br />

Atividades que envolvem<br />

computadores<br />

e redes interativas<br />

simultaneamente.<br />

O computador<br />

não é o elemento<br />

central da atividade<br />

ou o provedor do<br />

conteúdo.<br />

O computador e a<br />

Internet devem ter<br />

um envolvimento<br />

significativo capaz<br />

de promover ações<br />

que promovam<br />

aprendizagem.<br />

Fonte: Tsai e Machado (2003).<br />

Materiais distribuídos<br />

por um web<br />

browser, incluindo<br />

aqui os materiais<br />

“empacotados” num<br />

CD-ROM ou em outra<br />

mídia.<br />

Não representa,<br />

necessariamente,<br />

distance learning.<br />

A preocupação gira<br />

apenas em torno do<br />

material produzido<br />

para Internet como<br />

vídeos, áudios e telas.<br />

Não há envolvimento<br />

do instrutor na<br />

ação de ensinoaprendizagem.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />

Está associado<br />

com conteúdos<br />

prontamente<br />

acessíveis a partir de<br />

um computador.<br />

O conteúdo pode<br />

estar na Internet<br />

ou simplesmente<br />

instalado num CD-<br />

ROM ou no disco<br />

rígido do próprio<br />

computador.<br />

Envolve interações<br />

a distância entre<br />

professores e alunos<br />

e permite a comunicação<br />

imediata entre<br />

ambos.<br />

Há processos de<br />

feedback entre<br />

instrutores e<br />

aprendizes.<br />

Não requer, necessariamente,<br />

o uso de<br />

computadores ou<br />

redes.<br />

A forma pela qual o material instrucional é desenvolvido é fundamental para<br />

que o participante de um curso a distância se mantenha motivado para continuar<br />

e finalizar seu curso, bem como para que perceba que aprendeu e que houve valor<br />

agregado à sua formação. Serão analisados a seguir alguns pressupostos que poderão<br />

servir como subsídios para a produção de materiais instrucionais mais significativos<br />

para os participantes desses cursos.<br />

3 Produção de materiais instrucionais para e-learning<br />

Promover a interação do estudante com o material instrucional é imprescindível<br />

num programa de e-learning. Por isso esses materiais requerem um design instrucional<br />

próprio para os objetivos que o curso pretende atingir. Esse design instrucional<br />

pode ser considerado o modelo ou a forma de apresentação de um determinado<br />

material instrucional (virtual ou não), capaz de garantir o desenvolvimento de<br />

competências e habilidades que promovam a construção do conhecimento.<br />

Na literatura científica (LANGHI, 2005) e nas práticas de mercado verifica-se que<br />

na produção de um curso a distância devem estar presentes os seguintes elementos:<br />

estrutura do curso, navegabilidade e forma de escrita do discurso.<br />

A estrutura do curso prevê aspectos como: a) componentes que farão parte de cada<br />

módulo do curso: objetivo, conteúdo, desenvolvimento e avaliação; b) sequência em<br />

que as informações serão apresentadas; c) forma como poderão ser selecionadas as<br />

informações que se pretende buscar, que são os mecanismos de busca do curso; d)<br />

relação prática-teoria, possibilitar a prática dos alunos por meio de exercícios; e) autoavaliação,<br />

questões que levem o aluno a procurar reescrever, com suas próprias palavras,<br />

o conteúdo tratado, de forma a garantir a retenção; f) glossário, para esclarecer<br />

os diversos conceitos discutidos nos textos; g) exemplificação, procurando aproximar a


teoria e a prática; h) animações e vídeos, que associadas a textos em formato de hipertexto,<br />

poderão auxiliar na motivação para realizar o curso; i) resumos, apresentados no<br />

final dos conteúdos, que têm por função destacar as ideias centrais dos textos.<br />

A navegabilidade é a possibilidade de estudo em cada uma das telas propostas<br />

para um curso. Essas telas deverão ter fácil acesso, por meio de links, botões ou<br />

outros recursos, que demonstrem a sequência das informações a serem aprendidas.<br />

Deve-se procurar utilizar hipertexto, vídeo, animação, áudio, produção gráfica<br />

e demais recursos que permitam a participação.<br />

Objetivo<br />

Tipos de<br />

aprendizagem<br />

Facilitador ou<br />

Designer<br />

Aluno<br />

Métodos<br />

Interações<br />

Fonte: Driscoll (2000).<br />

Quadro 2 - Classificação de cursos a distância por design instrucional<br />

Web/ CBT<br />

Computer based<br />

training<br />

Treinamento baseado<br />

em desempenho<br />

com mensuração de<br />

objetivos e metas<br />

Problemas bem<br />

estruturados que<br />

requerem transferência<br />

de conhecimento,<br />

compreensão e aplicação<br />

de habilidades<br />

Gerenciador da<br />

instrução: controles,<br />

previsões, direcionamentos,<br />

acesso a<br />

resultados da aprendizagem,<br />

comunicação<br />

com o aluno<br />

Tem papel ativo na<br />

prática de novos comportamentos,<br />

recebe<br />

feedback, se comunica<br />

com o instrutor<br />

Exercícios e práticas,<br />

simulações, leituras,<br />

questionamentos e<br />

respostas<br />

Multimídia, hipertexto,<br />

hipermídia,<br />

simulações, exercícios,<br />

e-mail, lista de<br />

discussão, quadros<br />

de informações,<br />

comunicação com o<br />

instrutor<br />

Web/ EPSS<br />

Eletronic<br />

performance support<br />

systems<br />

Conhecimento prático<br />

e habilidade para<br />

solução de problemas<br />

num formato justin-time<br />

Problemas bem<br />

estruturados que<br />

requerem análise e<br />

síntese de elementos,<br />

relações e princípios<br />

organizacionais para<br />

produzem soluções<br />

Organizador de<br />

conteúdo: localização,<br />

análise, resumo, índice<br />

e informações classificadas<br />

em módulos<br />

de aprendizagem<br />

Tem iniciativa e dirige<br />

sua própria aprendizagem,<br />

determina o<br />

nível de detalhamento<br />

e avalia o sucesso<br />

da instrução<br />

Solução de problemas,<br />

método<br />

científico, método<br />

experimental, método<br />

de projetos<br />

Multimídia, hipertexto,<br />

hipermídia, quadros<br />

de informações,<br />

notas, módulos de<br />

Web/ CBT, e e-mail<br />

com o facilitador e<br />

demais participantes<br />

Web/ VAC<br />

Virtual Asynchronous<br />

Classroom<br />

Grupos de aprendizagem<br />

remotos<br />

Problemas menos estruturados<br />

que requerem<br />

aplicação, análise,<br />

síntese e avaliação<br />

para a produção de<br />

novas ideias, planos<br />

ou produtos<br />

Facilitador de grupos<br />

de aprendizagem:<br />

guias de instrução,<br />

fornecimento de<br />

recursos, avaliação de<br />

resultados e comunicação<br />

com os alunos<br />

É guiado de forma individual<br />

ou em grupo<br />

por um facilitador,<br />

participa de atividades<br />

instrucionais e<br />

recebe feedback<br />

Tarefas experimentais,<br />

grupos de discussão,<br />

projetos em equipes,<br />

aprendizagem autodirigida,<br />

método da<br />

descoberta<br />

Multimídia, hipertexto,<br />

hipermídia, quadros<br />

de informações,<br />

notas, módulos de<br />

Web/ CBT, e e-mail<br />

com o facilitador e<br />

demais participantes<br />

E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />

Web/ VSC<br />

Virtual Synchronous<br />

Classroom<br />

Grupos de aprendizagem<br />

em tempo real<br />

Problemas bem estruturados<br />

que requerem<br />

sínteses e avaliações<br />

de informações e<br />

experiência para<br />

produzir novas ideias,<br />

planos ou produtos<br />

Coordenador de<br />

experiências de<br />

aprendizagem:<br />

participação como coaprendiz,<br />

recomenda<br />

o direcionamento<br />

da aprendizagem,<br />

mas não determina<br />

direções ou avalia<br />

resultados<br />

Tem participação<br />

ativa em processos<br />

de aprendizagem<br />

colaborativa com o<br />

facilitador e com seus<br />

pares, participa de<br />

diálogos e reflexões<br />

sobre experiências<br />

Diálogo e discussão,<br />

solução de problemas,<br />

interação máxima<br />

Áudio e vídeo conferência<br />

síncronos,<br />

compartilhamento<br />

de informação,<br />

compartilhamento de<br />

aplicações<br />

41


O discurso deve apresentar duas características básicas: a) dialogicidade, ou seja, os<br />

textos devem ser escritos de forma a reproduzir ou simular a possibilidade de diálogo<br />

entre o autor do curso e o leitor; b) interatividade, garantindo ao aluno o desenvolvimento<br />

de uma ação interativa, por meio de atividades e exercícios que promovam a<br />

troca de experiências.<br />

42<br />

Quadro 3 - Classificação dos cursos a distância por características técnicas<br />

Learner-led-learning<br />

(auto-aprendizagem)<br />

O aluno interage<br />

diretamente com o<br />

material instrucional<br />

Não há nenhum tipo<br />

de comunicação<br />

com um instrutor<br />

ou com os outros<br />

participantes do curso<br />

Facilitated e-learning<br />

(ensino a distância<br />

facilitado)<br />

Combina recursos de<br />

auto-aprendizagem<br />

com a comunicação,<br />

mediada por um<br />

facilitador ou instrutor<br />

e também entre os<br />

alunos do curso<br />

Fonte: Horton e Horton (2003).<br />

Instructor-lede-learning<br />

(condução do ensino<br />

pelo instrutor)<br />

Condução de<br />

aulas do tipo<br />

“convencional” com<br />

o uso de tecnologia<br />

de comunicação<br />

síncrona:<br />

Apresentar conteúdos<br />

Transmitir imagens<br />

(instrutor)<br />

Fazer perguntas e ter<br />

respostas imediatas<br />

Diversos materiais elaborados para e-learning tanto no Brasil como no exterior<br />

apresentam esses três elementos (estrutura, navegabilidade e discurso) organizados<br />

conforme as regras do ensino programado, com embasamento na psicologia<br />

comportamental. Muitos desses cursos são avaliados a partir da quantidade de<br />

“cliques” possíveis em uma tela do curso ou então em elementos básicos como:<br />

objetivo, conteúdo, atividades e avaliação. Não há preocupação com a forma pela<br />

qual a informação chega até o aluno.<br />

A presença de elementos como: estrutura, navegabilidade e discurso pode ser<br />

útil para orientar a elaboração da interface dos materiais instrucionais com os alunos,<br />

ou seja, na aparência que um determinado material instrucional terá quando<br />

veiculado pela Internet. Mas essas sugestões não são suficientes para orientar<br />

como os materiais instrucionais deverão ser produzidos para que promovam índices<br />

satisfatórios de aprendizagem.<br />

Para que realmente ocorra aprendizagem, os materiais instrucionais para o e-<br />

-learning deverão estar fundamentados numa concepção de ensino e de aprendizagem,<br />

capazes de sustentar os princípios teóricos e metodológicos que nortearam<br />

sua produção.<br />

Dentre as várias teorias que se propõem a estudar aprendizagem, encontrou-se na<br />

teoria da aprendizagem significativa de Ausubel et al. (1980) uma abordagem capaz<br />

de dar embasamento para o planejamento e o desenvolvimento de materiais instrucionais<br />

para e-learning porque ela propõe uma teoria sobre aprendizagem receptiva<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />

Embedded<br />

e-learning<br />

(ensino a distância<br />

integrado)<br />

Permite que o<br />

treinamento ocorra<br />

no momento em<br />

que o aprendiz<br />

necessita de alguma<br />

informação imediata<br />

Atua como um tutor<br />

eletrônico dando<br />

explicações passo a<br />

passo<br />

Telementoring and<br />

e-coaching<br />

(ensino<br />

personalizado)<br />

Utiliza-se tecnologia<br />

de ponta para<br />

a capacitação<br />

personalizada,<br />

direcionada, com<br />

metas específicas<br />

para determinados<br />

profissionais


que contém dados sobre os dispositivos instrucionais que podem torná-la significativa.<br />

Entende-se por aprendizagem significativa aquela que faz sentido para o aprendiz porque<br />

se relaciona a algo que ele já sabe.<br />

3.1 Aprendizagem significativa<br />

Ao se preocupar com a forma pela qual o ensino ocorre em sala de aula, Ausubel et<br />

al. (1980) propõem que o conhecimento se organiza em estruturas cognitivas, que são<br />

conjuntos de conhecimentos que o indivíduo possui sobre um determinado assunto e<br />

a maneira como esses conhecimentos estão relacionados. O conhecimento se distribui<br />

na mente do indivíduo sob a forma de ideias mais gerais e amplas, para depois integrarem<br />

ideias mais específicas.<br />

Os conceitos e as demais proposições são aprendidos a partir de outros conceitos<br />

preexistentes. A nova aprendizagem precisa ser ancorada a uma outra já existente na<br />

estrutura cognitiva do sujeito para que possa ser assimilada. Um conceito mais geral é<br />

capaz de abrigar um conceito mais específico. É assim que surge a aprendizagem significativa,<br />

ou seja, para aprender de modo significativo, o indivíduo tem que ter dentro<br />

de si um conceito ou uma proposição mais geral que possa ancorar o conhecimento<br />

mais específico.<br />

A esse conceito ou proposição mais amplo, ou mais geral, e que é capaz de incorporar<br />

um novo conceito mais específico, atribui-se o nome de subsunçor. Cada vez que o<br />

subsunçor assimila uma nova informação, pode se tornar mais completo.<br />

Mas, para que haja aprendizagem significativa, são necessários três fatores:<br />

predisposição do indivíduo para a aprendizagem de modo significativo, material<br />

potencialmente significativo e estrutura cognitiva capaz de assimilar a nova<br />

informação.<br />

a) Predisposição para aprendizagem significativa<br />

A predisposição para a aprendizagem significativa indica que o indivíduo precisa<br />

estar disposto a querer aprender. Esse tipo de aprendizagem exige mais esforço por<br />

parte do aprendiz, principalmente porque requer a busca de conceitos já existentes em<br />

sua estrutura cognitiva. Como exemplo, pode-se citar que ao ler um texto desconhecido,<br />

cabe ao indivíduo questionar como é que os conceitos apresentados podem se<br />

relacionar com o que ele já sabe.<br />

b) Material significativo<br />

Um material pode ser considerado potencialmente significativo quando está devidamente<br />

organizado e apresenta conceitos gerais antes dos mais específicos, relacionando-se<br />

a outros conceitos ou proposições que, provavelmente, já são do conhecimento<br />

do indivíduo.<br />

E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />

43


c) Estrutura cognitiva<br />

Quanto à estrutura cognitiva do aprendiz, nela devem estar disponíveis os conceitos<br />

subsunçores específicos com o qual o novo material é relacionável. Ausubel<br />

et al. (1980) indicam que se o indivíduo não possuir um conjunto de conhecimentos<br />

prévios (subsunçores) sobre o novo conceito ou proposição a ser aprendida, a<br />

aprendizagem significativa não ocorrerá. Mas o instrutor pode provê-los, por meio<br />

de organizadores prévios.<br />

O contrário da aprendizagem significativa é a aprendizagem mecânica, mnemônica,<br />

decorativa. Refere-se à aprendizagem de novas informações com pouca ou<br />

nenhuma associação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva.<br />

Nesse caso, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária. O conhecimento<br />

assim adquirido fica arbitrariamente distribuído na estrutura cognitiva, sem ancorar-se<br />

a outros conceitos subsunçores específicos. Seu destino é o esquecimento.<br />

3.1.1 Produção de materiais instrucionais significativos<br />

De acordo com a teoria da aprendizagem significativa, os alunos adquirem grande<br />

parte dos conhecimentos primariamente por meio da aprendizagem receptiva<br />

significativa, que é facilitada por um ensino expositivo, apropriadamente elaborado,<br />

e por materiais instrucionais adequados. O corpo básico de conhecimentos de<br />

qualquer disciplina acadêmica, e por que não dizer de qualquer pessoa que já passou<br />

pelo ensino formal, é adquirido dessa forma. É graças a ela que a humanidade<br />

construiu, armazenou e acumulou seu conhecimento e cultura.<br />

A tarefa inicial de qualquer profissional que se proponha a produzir materiais<br />

instrucionais consiste em programar, organizar e sequenciar os conteúdos. Isso facilitará<br />

a ancoragem dos novos conhecimentos na estrutura cognitiva, evitando a<br />

aprendizagem mnemônica ou repetitiva. Quando não existem conceitos relevantes<br />

na estrutura cognitiva do sujeito, as novas informações são aprendidas de forma<br />

mecânica, uma vez que as novas informações não se relacionam com as já existentes.<br />

Assim, não ocorre a aprendizagem significativa.<br />

Em situações de ensino deve-se utilizar recursos que facilitem a passagem da<br />

estrutura conceitual da disciplina para a estrutura cognitiva do aluno, de forma a tornar<br />

o material significativo. Um dos maiores trabalhos do professor consiste em auxiliar<br />

o aluno a assimilar a estrutura da disciplina e a reorganizar sua própria estrutura<br />

cognitiva, mediante a aquisição de novos significados que podem gerar conceitos e<br />

princípios. Cabe ao professor, portanto, facilitar a aprendizagem significativa.<br />

Os materiais instrucionais devem ser elaborados de modo que possibilitem que<br />

os novos conhecimentos sejam relacionados de forma substancial, e não arbitrária,<br />

com aquilo que o sujeito já conhece, e que este adote uma atitude ativa para estabelecer<br />

as mencionadas relações.<br />

44<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


No processo de aprendizagem significativa os materiais instrucionais devem<br />

possuir significado lógico ou potencial, e isso só ocorre se seus elementos estiverem<br />

organizados e não somente sobrepostos. Esse material deve ser composto<br />

por elementos “organizados” em uma estrutura, de tal forma que as diferentes partes<br />

dessa estrutura se relacionem entre si de maneira não arbitrária (POZO, 2002).<br />

Essa organização deverá permitir com que os conceitos e proposições mais<br />

gerais sejam introduzidos primeiro, servindo assim para facilitar a aprendizagem<br />

significativa de uma vasta gama de informação e, também, para facilitar o aprendizado<br />

de conceitos subordinados.<br />

A elaboração de materiais instrucionais específicos para a aprendizagem significativa<br />

envolve pelo menos quatro tarefas fundamentais. Inicialmente, deve-se<br />

determinar a estrutura conceitual e proposicional da matéria de ensino, identificando<br />

os conceitos e princípios unificadores, inclusivos, com maior poder explanatório<br />

e propriedades integradoras, e organizá-los hierarquicamente de modo<br />

que, progressivamente, abranjam os menos inclusivos até chegar aos exemplos e<br />

dados específicos. Em seguida, é importante identificar os subsunçores (conceitos,<br />

proposições e ideias claras, precisas, estáveis) relevantes à aprendizagem do<br />

conteúdo a ser ensinado, os quais o aluno deveria ter em sua estrutura cognitiva<br />

para poder aprender significativamente o conteúdo. A terceira etapa consiste<br />

em diagnosticar aquilo que o aluno já sabe; determinar, dentre os subsunçores<br />

especificamente relevantes (previamente identificados ao “mapear” e organizar<br />

a matéria de ensino), quais os que estão disponíveis na estrutura cognitiva do<br />

aluno. Finalmente, deve-se utilizar recursos e princípios que facilitem a passagem<br />

da estrutura conceitual da matéria de ensino para a estrutura cognitiva do aluno<br />

de uma maneira significativa. A tarefa do professor, aqui, é auxiliar o aluno a assimilar<br />

a estrutura da matéria de ensino e organizar sua própria estrutura cognitiva<br />

nessa área de conhecimento, por meio da aquisição de significados claros, estáveis<br />

e transferíveis.<br />

Ausubel et al. (1980) enfatizam a importância da estrutura cognitiva preexistente<br />

e a organização significativa da matéria de ensino como preocupações principais<br />

no planejamento da instrução. São esses dois princípios que irão auxiliar na<br />

elaboração de materiais instrucionais e nas técnicas de avaliação. Os materiais instrucionais,<br />

portanto, devem contemplar os processos de diferenciação progressiva<br />

e reconciliação integrativa, os organizadores prévios, a prática e o treino.<br />

a) Processos de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa<br />

A diferenciação progressiva é o princípio pelo qual o assunto deve ser programado<br />

de forma que as ideias mais gerais e inclusivas da disciplina sejam apresentadas<br />

antes e, progressivamente diferenciadas, introduzindo os detalhes específicos<br />

necessários. A reconciliação integrativa é o princípio pelo qual a programação do<br />

material instrucional deve ser feita para explorar relações entre ideias, apontar similaridades<br />

e diferenças significativas, reconciliando discrepâncias reais ou aparentes.<br />

E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />

45


) Organizadores prévios<br />

O uso de organizadores prévios é uma estratégia proposta para manipular a estrutura<br />

cognitiva a fim de facilitar a aprendizagem significativa. São materiais introdutórios<br />

apresentados antes do próprio material a ser aprendido.<br />

Eles consistem em um material introdutório de maior nível de abstração, generalização<br />

e inclusividade do que o novo material que se vai aprender. Diferenciam-se, portanto,<br />

dos resumos ou sumários, que são os conceitos de nível mais alto, ou macroestrutura dos<br />

próprios conteúdos em que se omitiu a informação de detalhes, mas não são conceitos<br />

de maior nível que o novo material, como ocorre no caso dos organizadores prévios.<br />

A apresentação de um organizador prévio, antes de uma lição ou de um texto, proporciona<br />

uma “ponte” entre o que o sujeito já conhece e aquilo que necessita conhecer,<br />

para assimilar significativamente os novos conhecimentos. Sua função é proporcionar<br />

uma “andaimaria ideativa” (scaffolding) para a retenção e incorporação estável do material<br />

mais detalhado e diferenciado que se vai aprender. Por isso, devem ser expressos<br />

na forma mais familiar e simples possível, sendo facilmente compreensíveis pelo aluno.<br />

c) Prática e treino<br />

A prática e o treino não devem ser vistos como uma simples atividade de memorização,<br />

mas sim como a ação direta e ativa do aprendiz sobre o material instrucional a<br />

ser utilizado. É uma das principais atividades (junto a variáveis do material instrucional)<br />

que influencia a estrutura cognitiva.<br />

Pozo (2002) indica que uma instrução expositiva, dirigida à compreensão, deve<br />

constar de três fases principais: o cabeçalho ou introdução; a apresentação propriamente<br />

dita do material e a consolidação da estrutura conceitual.<br />

O cabeçalho ou introdução atua como um organizador prévio e tem por função<br />

ativar o conhecimento prévio do aprendiz. Isso permitirá que o novo conteúdo seja<br />

mais facilmente assimilado e integrado à estrutura cognitiva preexistente. Essa parte<br />

introdutória oferece o contexto de interpretação da atividade de aprendizagem, que<br />

serve como “ancoragem” para as ideias que se apresentam a seguir.<br />

A apresentação do material de aprendizagem pode adotar formatos os mais diversos<br />

(desde leituras ou exposições do professor ou dos próprios alunos até discussões,<br />

realização de experiências, elaboração de materiais etc.). É importante que<br />

os materiais estejam bem estruturados e que tenham uma organização conceitual<br />

explícita e captem o interesse dos alunos (que são duas condições da aprendizagem<br />

construtiva). É importante que as ideias estejam ligadas entre si e não simplesmente<br />

justapostas, ou seja, as informações devem se remeter umas às outras<br />

e não serem apresentadas uma de cada vez, sem nenhum tipo de ligação entre si.<br />

Como acontece com um bom filme, o “roteiro” de uma exposição condiciona, em<br />

boa parte, seu sucesso. Deve-se considerar, nesse caso, que uma exposição é me-<br />

46<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


lhor compreendida quando as ideias principais são apresentadas no começo, isto<br />

é, quando a exposição parte das ideias gerais para depois ir entrando nos detalhes.<br />

A consolidação da estrutura conceitual ocorre mediante a relação explícita entre os<br />

conhecimentos prévios do aluno, que foram ativados, e a organização conceitual dos<br />

materiais instrucionais. Aqui está a importância das tarefas de aprendizagem e de fixação.<br />

É preciso induzir os alunos a uma reflexão sobre seus próprios conhecimentos, o<br />

que os ajudará a tomar consciência do que já sabem e a construir novos conhecimentos.<br />

Tal reflexão pode ser feita habituando-os a utilizar estratégias de organização com<br />

os materiais de aprendizagem, o que consiste em que os próprios alunos estabeleçam,<br />

de modo explícito, relações internas entre os elementos que compõem os materiais<br />

de aprendizagem e entre estes e seus conhecimentos prévios. Há diversas estratégias<br />

que podem ser empregadas, ou seja, pode se utilizar desde a classificação simples até<br />

uma organização hierárquica, mediante esquemas, diagramas, redes de conhecimento<br />

e mapas conceituais.<br />

3.1.2 Processos de Avaliação<br />

No processo educacional, a observação da transferência de conhecimentos ocorre<br />

por meio do resultado de avaliações desenvolvidas pelos alunos. As avaliações, mais<br />

do que informar se os estudantes estão sendo realmente ensinados, devem oferecer<br />

dados que possibilitem o controle da qualidade sobre o empreendimento educacional.<br />

Elas devem permitir o conhecimento da eficiência do programa educacional, dos métodos<br />

de ensino empregados, dos materiais instrucionais e das maneiras de organizar o<br />

conteúdo da disciplina e as sequências curriculares.<br />

Ao se elaborar materiais instrucionais é importante reconhecer que os exercícios ou<br />

questões de estudo, ao propiciarem uma prática repetitiva, ou seja, a reiteração continuada<br />

de uma mesma atividade de aprendizagem produzem aprendizagens mais pobres<br />

ou limitadas que uma prática por solução de problemas, que envolve a realização<br />

de diversas atividades com o fim de promover a reflexão sobre o que se está aprendendo.<br />

Em outras palavras, uma prática repetitiva auxilia na aprendizagem reprodutiva,<br />

associativa, e uma prática reflexiva promoverá a aprendizagem mais construtiva ou<br />

significativa, uma vez que o aprendiz deverá compreender o que está fazendo.<br />

No contexto do e-learning, embora se admita que os estudantes devam assumir a<br />

responsabilidade por sua própria aprendizagem, os coordenadores dos cursos não podem<br />

abdicar da responsabilidade de orientar a aprendizagem para que esta seja realmente<br />

significativa e atenda aos objetivos a que se propõe. Não se pode esquecer que<br />

se estará planejando cursos para um público adulto, com vivências em várias áreas, que<br />

já participou de muitos cursos no sistema de ensino formal. Não se pode deixar de lado<br />

os históricos pessoal, profissional e acadêmicos dos participantes.<br />

A utilização de tarefas, visando a solução de problemas, pode ser indicada como<br />

um excelente recurso para a transferência de conhecimentos no contexto do ensino a<br />

E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />

47


distância. Mas isso requer muita reflexão e planejamento quanto ao tipo de problema<br />

a ser desenvolvido, aos critérios de avaliação para as soluções e ao uso, ou não, de materiais<br />

de apoio.<br />

4 Propostas de cursos a distância baseadas na aprendizagem<br />

significativa<br />

Na produção de materiais instrucionais para e-learning deve-se considerar, de forma<br />

clara e precisa três elementos básicos:<br />

a) Cabeçalho ou introdução: é uma espécie de organizador prévio, que tem por<br />

função ativar o conhecimento prévio do aprendiz. Ele oferece o contexto de interpretação<br />

da atividade de aprendizagem, que serve como “ancoragem” para as ideias que se<br />

apresentam a seguir.<br />

b) Apresentação do material de aprendizagem: pode adotar vários formatos (leituras<br />

ou exposições do professor ou dos próprios alunos; discussões, realização de<br />

experiências ou elaboração de trabalhos e exercícios). Esses materiais devem ser bem<br />

estruturados, ter uma organização conceitual explícita, captar o interesse dos alunos e<br />

ter as ideias ligadas entre si e não simplesmente justapostas. Eles devem ser elaborados<br />

de acordo com um planejamento de ensino, isto é, conforme a seleção de atividades de<br />

aprendizagem que melhor se liguem à estrutura cognitiva existente do aluno (conhecimentos<br />

prévios) e incorporem os conceitos e habilidades identificados no plano de<br />

currículo (o qual define as disciplinas de um curso).<br />

Na formulação dos conteúdos, os conceitos e proposições mais importantes devem<br />

ser introduzidos em primeiro lugar, servindo assim para facilitar a aprendizagem<br />

significativa de uma vasta gama de informação e também para facilitar o aprendizado<br />

de conceitos subordinados. Na sequência devem vir as informações específicas sobre<br />

esses conceitos e proposições e, na sequência reapresentar, novamente, esses conceitos<br />

e proposições. Em outras palavras pode-se dizer que o conteúdo deverá sempre<br />

ser apresentado em seu todo para depois aprofundar o significado de cada uma das<br />

partes. Terminada essa etapa volta-se novamente para o todo e assim sucessivamente.<br />

É nesse momento que estarão presentes os conceitos de diferenciação progressiva e<br />

reconciliação integrativa.<br />

c) Consolidação da estrutura conceitual: deve haver relação explícita entre os conhecimentos<br />

prévios do aluno que foram ativados e a organização conceitual dos materiais<br />

instrucionais, exercícios de aprendizagem e fixação, indução de reflexão sobre os<br />

conhecimentos adquiridos, estabelecimento de relações internas entre os elementos<br />

que compõem os materiais de aprendizagem e entre estes e os conhecimentos prévios.<br />

As principais estratégias para a classificação conceitual são: classificação simples,<br />

organização hierárquica mediante esquemas, diagramas, redes de conhecimento, mapas<br />

conceituais. É nesse momento que se apresenta a prática e o treino para que ocorra<br />

a aprendizagem significativa.<br />

48<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Conclusão<br />

Os cursos a distância crescem consideravelmente em todas as áreas do conhecimento.<br />

O tipo de curso que será desenvolvido e os conhecimentos, habilidades e atitudes<br />

que se propõe formar são os mais diversos. O layout e as ferramentas para distribuição<br />

das informações são decisões menos complexas, tendo-se em vista a quantidade<br />

de oferta que se tem no mercado. Fica então a problemática da qualidade do material<br />

instrucional que será veiculado nesses cursos.<br />

Para que os materiais instrucionais desses cursos sejam significativos deverão apresentar<br />

um organizador prévio dos conteúdos a serem estudados. A escrita dos conteúdos<br />

deverá respeitar os princípios da diferenciação progressiva e da reconciliação<br />

integrativa e nessa mesma sequência deverá vir a prática e o treino para que as novas<br />

informações tenham significado para os aprendizes.<br />

Referências<br />

AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H.. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana,<br />

1980.<br />

DRISCOLL, M.. Web-based training: Using technology to design adult learning experiences.<br />

San Francisco: Jossey-Bass Pfeiffer, 2000.<br />

HORTON, W.; HORTON, K.. E-learning tools and technologies. Indianápolis: Wiley Publishing,<br />

Inc, 2003.<br />

LANGHI, C.. Materiais instrucionais para o ensino a distância. Estudo sobre a aplicação<br />

da teoria significativa de Ausubel na produção de conteúdos para cursos via Internet.<br />

Tese (doutorado) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Departamento de<br />

Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. São Paulo, s.n., 2005.<br />

PETERSON’S Education Center. MBA distance learning programs. Princeton, N. J.: Peterson’s, 2010.<br />

POZO, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />

TSAI, S.; MACHADO, P.. E-learning, online learning, web-based learning, or distance learning:<br />

Inveiling the ambiguity in current terminology. 2003. E-Learn magazine. [online]. Disponível<br />

em: . Acesso em: 23 jan. 2004.<br />

E-learning e aprendizagem significativa, Celi Langhi, p. 37-49<br />

49


50<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Universidade Corporativa: uma metáfora<br />

contemporânea<br />

Cristina Valiukenas *<br />

Elisabete Adami Pereira dos Santos **<br />

Resumo: Este trabalho discorre sobre<br />

a história de treinamento e desenvolvimento,<br />

chegando até a universidade<br />

corporativa. Os meios disponibilizados<br />

para formação dos trabalhadores, neste<br />

cenário de competição, exigem a<br />

construção de alternativas duradouras<br />

e eficazes, não cabendo apenas soluções<br />

imediatistas com foco na realidade<br />

atual e passada. Neste contexto,<br />

surgiu a expressão “universidade corporativa”,<br />

representando uma metáfora<br />

imbuída do valor da educação permanente,<br />

onde o “aprender a aprender”<br />

passou a significar, além de estudar em<br />

permanência, transformar a própria<br />

experiência em conhecimento que, de<br />

preferência, possa ser compartilhado<br />

entre os membros de uma organização,<br />

facilitando a reconstrução de um<br />

ambiente onde as únicas certezas são:<br />

a mudança e a competição.<br />

Palavras-chave: Universidade Corporativa.<br />

Treinamento. Desenvolvimento.<br />

Abstract: This paper addresses the history<br />

of training and development until<br />

its advance as corporate university. The<br />

availability of resources intended for<br />

worker´s capabilities building demand<br />

lasting effective alternatives since they<br />

have become an essential requisite,<br />

especially in this competitive environment.<br />

Immediate solutions focused on<br />

current and past situations no longer<br />

apply. Within this context, the term<br />

“corporate university” was invented,<br />

representing a metaphor ingrained in<br />

permanent education values in which<br />

“learning to learn” means continuous<br />

studying, transformation of one’s own<br />

experience into knowledge which<br />

should preferably be shared among<br />

members within an organization, facilitating<br />

the reconstruction of an environment<br />

in which the only certainties are:<br />

change and competition.<br />

Keywords: Corporate University. Training.<br />

Development.<br />

* Graduada em Administração de Empresas, pós-graduada em Orientação Pedagógica em Educação a Distância<br />

(UFMS), Administração de Empresas com ênfase em Recursos Humanos (PUC-SP) e Comunicação Social (Cásper<br />

Líbero). Gerente de educação a distância na ESPM. E-mail: crisvaliukenas@terra.com.br<br />

** Graduada em Administração de Empresas (EAESP-FGV), bacharel em Filosofia (USP), especialista em Administração<br />

(EAESP-FGV), mestre em Administração (PUC-SP), doutoranda em Ciências Sociais (PUC-SP). Professora de<br />

graduação e pós-graduação da PUC-SP, do MBA-FAAP e pós-Graduação da UNIFEI. Consultora da ABTG-Associação<br />

Brasileira de Tecnologia Gráfica. E-mail: betadami@uol.com.br<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

51


Introdução<br />

O processo de globalização trouxe para as organizações profundas transformações,<br />

gerando a permanente necessidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento do conjunto<br />

de colaboradores. O acelerado desenvolvimento tecnológico aliado a “redução<br />

gradativa do prazo de validade do conhecimento e a emergência da organização não<br />

hierárquica, enxuta e flexível” (SOARES, 2002) impuseram às organizações a necessidade<br />

de estruturar o tratamento da educação corporativa.<br />

A atividade de treinamento e desenvolvimento de pessoal é antiga na estrutura das<br />

organizações. Treinamento, significando a “obtenção de técnicas e habilidades específicas,<br />

detalhadas e rotineiras do trabalho” (MEGGINSON et al., 1998, p. 299); enquanto<br />

desenvolvimento, amplia este escopo para “a melhoria e crescimento, dentro de um<br />

objetivo mais amplo, das habilidades, atitudes e traços de personalidade” (MEGGINSON<br />

et al., 1998, p. 299). Segundo Meister (1999, p. 129), “à medida que os trabalhos vão ficando<br />

mais complexos e as qualificações que eles exigem, mais extensas, os executivos<br />

estão começando a questionar os pressupostos tradicionais que fundamentam<br />

os programas corporativos de treinamento e desenvolvimento”. Meister (1999, p. 130)<br />

afirma “é imperativo desenvolver um currículo que reflita os objetivos estratégicos da<br />

organização. [...] em consequência desses avanços tecnológicos, as empresas com universidades<br />

corporativas estão desafiando os pressupostos do treinamento tradicional”.<br />

Esta frenética busca contribuiu para a ascensão das universidades corporativas que,<br />

segundo Soares (2002) em 1988 existiam 400 universidades corporativas nos Estados<br />

Unidos e 2002 já eram cerca de 2 mil. A autora ainda estimava que em 2010 elas superariam<br />

o número de universidades tradicionais nos Estados Unidos – cerca de 3 mil. No<br />

Brasil também há expressivo crescimento das universidades corporativas nos últimos<br />

dez anos. No início da década de 1990 eram conhecidas a Académie Universidade de<br />

Serviços (Accor) e a Universidade Corporativa Motorola. Atualmente, muitas delas são<br />

conhecidas, como, Algar, Unimed, Sebrae e outras.<br />

1 Evolução da organização de recursos humanos: desenvolvimento<br />

organizacional, treinamento e desenvolvimento<br />

A organização de recursos humanos, como parte integrante de uma empresa, está<br />

subordinada a razão de ser e aos objetivos deste empreendimento. Segundo Lakatos<br />

(1997, p. 32), “o objetivo de uma organização consiste naquilo que ela pretende atingir,<br />

uma situação desejada”, podendo ser real ou estabelecido. O primeiro tipo é onde a<br />

direção da empresa empreende seus recursos e orienta seus esforços, focando, em caso<br />

de conflito, as ações de seus membros. Já o estabelecido, representa a intenção, mas<br />

que não necessariamente ela irá atingir.<br />

Utilizando-se a definição genérica para recurso, verifica-se que é meio empregado<br />

para vencer uma dificuldade ou embaraço, por isso, não se pode eliminar o<br />

fato que as pessoas são, dentre outros, um meio para a organização atingir seus<br />

52<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


objetivos. Neste instante é possível identificar o quão difícil deve ser a gestão de<br />

algo intermediário, que não responde com a mesma precisão de uma máquina e<br />

ainda carece de alimentação constante.<br />

Considerando que as atividades de desenvolvimento organizacional, treinamento<br />

e desenvolvimento, além de traduzirem a capacidade de administração da aprendizagem<br />

de uma organização, estão incluídas no escopo da gestão de pessoas, é prudente<br />

uma rápida visita na evolução desta área.<br />

Segundo Nóbrega (2003), a origem da função administração de recursos humanos<br />

pode ser atribuída aos métodos de organização do trabalho introduzidos com a revolução<br />

industrial na Inglaterra e Estados Unidos. Porém, não foi senão nos anos 1920 que a<br />

função começou a adquirir uma face mais estruturada, sistêmica e científica.<br />

Dutra (2002, p. 31), sintetizando outros autores nacionais, apresenta o processo evolutivo<br />

da gestão de pessoas a partir das fases históricas brasileiras. Sendo:<br />

• Até 1930 (Primeira República): princípio da atividade industrial com o deslocamento<br />

de parte dos trabalhadores do setor agrícola para a indústria. Os setores<br />

em destaque são o ferroviário, portuário e têxtil.<br />

• De 1930 a 1945 (Estado Novo): caracterizado pelo surgimento da legislação<br />

trabalhista, a formação dos sindicatos dos trabalhadores e de empresas e a<br />

formação de uma estrutura jurídica para mediar estas relações. Em função da<br />

guerra, o país tinha dificuldade em importar, o que favoreceu a instalação das<br />

indústrias. As empresas se estruturaram para atender os preceitos legais.<br />

• De 1945 a 1964 (Segunda República): redemocratização do país, intensificação<br />

da substituição das importações e investimentos na indústria de base, com o<br />

estímulo para empresas estrangeiras se instalarem no país. As multinacionais<br />

traziam práticas de gestão de pessoas baseadas no paradigma taylorista / fordista.<br />

Este é um marco na formação dos dirigentes empresariais brasileiros e da<br />

profissionalização da gestão de pessoas.<br />

• Após 1964: até o final dos anos 1990 reforçou-se os paradigmas tayloristas /<br />

fordistas no Brasil, embora neste período já houvesse na Europa e Estados Unidos<br />

novas propostas para gestão de pessoas nas organizações. No final deste<br />

período acontece a valorização das novas competências individuais como consequência<br />

da evolução no contexto econômico, social e político.<br />

Resumindo, o processo de gestão de pessoas no Brasil é marcado por características<br />

legais e pelo taylorismo. Já a formação dos trabalhadores, por meio de dois caminhos diferenciados:<br />

dirigentes de dois níveis, médio e superior; e trabalhadores para o processo<br />

produtivo, por meio da transferência de responsabilidade do Estado para os empresários,<br />

cujo principal ícone é o Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI), organizado pela<br />

Confederação Nacional das Indústrias (CNI), conforme Garcia (2004) tão bem discorre.<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

53


1.1 Evolução da Gestão de Pessoas<br />

Ao se pensar sobre a gestão de pessoas no contexto empresarial deve-se, primeiramente,<br />

rever a razão de ser das empresas: o lucro sobre o investimento. Em face disto,<br />

o início dos estudos em administração buscava aperfeiçoar os processos que eram<br />

entendidos como diretamente relacionados ao lucro, ou seja, o que Machline (1994, p.<br />

92), sintetizou como “fatores de sucesso: melhoria da qualidade; aumento de produtividade;<br />

redução do custo; diminuição do prazo de entrega.”.<br />

Observa-se que em 1930, quando surgiu a Escola de Relações Humanas, a Escola<br />

Clássica, já havia obtido resultados em seus estudos, especialmente por meio da iniciativa<br />

de Henry Ford. Logo, o olhar sobre as pessoas emergiu como contraponto daquilo<br />

que vinha sendo praticado. Nóbrega (2003) resume esta evolução como sendo gradual<br />

ao ambiente externo e, em seguida a divide por períodos. Esta divisão realizada por<br />

Nóbrega (2003) será utilizada nos subitens a seguir.<br />

1.1.1 A revolução industrial<br />

Este período foi marcado pela substituição da mão de obra humana pelas máquinas.<br />

Como decorrência surge a divisão e especialização do trabalho, produção em massa,<br />

automação, eliminação do trabalho físico pesado, surgimento de engenheiros e<br />

cientistas e sistemas de controle.<br />

As fábricas pequenas eram conduzidas pelo proprietário e as plantas maiores, já<br />

departamentalizadas, pelo capataz que tinha entre outras responsabilidades, a de<br />

treinar os novos trabalhadores. As condições de trabalho eram abusivas, com jornadas<br />

de trabalho em torno de 13 horas, emprego de crianças e inexistência de proteção,<br />

no caso de doença.<br />

Na Inglaterra, em 1795, na contramão desta história, a empresa Boulton & Watt, utilizava<br />

um sistema de seleção e treinamento e se preocupava com salários justos, programas<br />

de bonificação e possuía um benefício para afastamento por saúde. Surgiram<br />

algumas publicações propondo reflexões para a forma como os trabalhadores eram<br />

tratados, mas sempre contra movimentos associativos. Apesar disto, a resistência dos<br />

trabalhadores crescia e se manifestava de diferentes formas, tais como, greve branca,<br />

protestos, boicotes etc.<br />

1.1.2 O crescimento do sindicalismo<br />

O movimento ganhou força por meio das associações de profissionais que congregavam<br />

trabalhadores de uma mesma especialidade (trade unions), pois estes<br />

passaram a exercer influência política, chegando, em 1885, ao parlamento inglês<br />

com onze membros eleitos.<br />

54<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Durante a década de 1920, surge nos Estados Unidos as associações de empregados<br />

patrocinadas pelas empresas e outras políticas relacionadas à educação, treinamento<br />

e programas de bem-estar, como parte de uma campanha da indústria<br />

americana contra os sindicatos. Ao longo do período da depressão estas ações atingiram<br />

seus objetivos e após o fim desta fase, diante da necessidade de lidar com os<br />

sindicatos, as empresas americanas criaram o cargo de vice-presidente ou diretor de<br />

relações trabalhistas ou industriais.<br />

1.1.3 A administração científica<br />

Este movimento atingiu seu pico em 1930, tornando bem clara a divisão entre o<br />

trabalho intelectual e o trabalho manual. Planejar e executar ações que dividiam claramente<br />

as categorias de gerência e trabalhadores, simultaneamente interferindo nos<br />

sistemas de remuneração e recompensas e utilizando sistemas de controle para garantir<br />

os resultados.<br />

O relacionamento entre os gerentes e os trabalhadores poderia ser otimizado pela<br />

especificação do método, seleção e alocação do melhor trabalhador para a tarefa e uma<br />

recompensa justa. Isto ampliaria a produtividade tendo como consequência maiores<br />

lucros e salários, resultando em harmonia entre patrões, gerentes e trabalhadores, reduzindo<br />

a importância do papel sindical nas relações.<br />

Paralelo ao sistema taylorista, surgia a burocracia, desenvolvida pelo sociólogo<br />

alemão Max Weber. Esta caracterizava-se pela pirâmide hierárquica desenvolvida,<br />

divisão do trabalho, regulamentação escrita onipresente, controles sofisticados,<br />

grande importância dos especialistas e técnicos, todos os itens significando práticas<br />

que garantiam a impessoalidade.<br />

Naturalmente os resultados preconizados pela adoção da administração científica<br />

não foram alcançados, em função da natureza humana, abrindo, assim, espaço para<br />

outros trabalhos focados nas relações humanas.<br />

1.1.4 A era paternalista<br />

John Commons, Richard Ely e Thorstein Veblen são citados por Nóbrega (2003),<br />

como economistas institucionalistas que discordavam da visão clássica de regulação<br />

do trabalho pelas forças de mercado. Esta visão forneceu o fundamento teórico para a<br />

legislação trabalhista americana, criada até os anos 1930. Desta época também são os<br />

primeiros estudos que correlacionam carga horária e condições de trabalho com produtividade<br />

e saúde do trabalhador.<br />

Os institucionalistas acreditavam que o conflito entre trabalhadores e empregadores<br />

era inerente às organizações independentemente do contexto ambiental, defendendo<br />

a negociação e o compromisso periódico entre os interesses divergentes<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

55


de trabalhadores, executivos e a sociedade. Ainda segundo Nóbrega (2003), foi nessa<br />

época que o pacote total de remuneração dos trabalhadores passou a incluir serviços<br />

e benefícios indiretos.<br />

1.1.5 O departamento de pessoal<br />

Nóbrega (2003, p. 34), cita a NCR como sendo a primeira empresa nos Estados<br />

Unidos, em 1890, a possuir um Departamento de Pessoal, cujo objetivo era ”estabelecer<br />

um método pelo qual pudessem discernir melhor, entre a extensa e diversificada<br />

massa de candidatos a emprego, que indivíduos poderiam tornar-se empregados<br />

eficientes ao melhor custo possível”. Este papel atribuído ao departamento<br />

pessoal já demonstra a preocupação com os custos para preparação do empregado<br />

e a busca por maior produtividade.<br />

As empresas que passaram a adotar esta área, também lhes atribuíam: recrutamento,<br />

seleção, alocação de pessoal e manutenção de registros e documentos. Ainda<br />

segundo o autor, “em menor escala, podiam estar envolvidos com treinamento, administração<br />

de conflitos, programas de bem-estar e decisões sobre demissões. Essas unidades<br />

foram embriões dos departamentos de pessoal, precursores dos departamentos<br />

de relações industriais (que lidavam exclusivamente com os trabalhadores sindicalizados)<br />

e das atuais áreas de recursos humanos”.<br />

1.1.6 Psicologia industrial<br />

Segundo Nóbrega (2003) a diferença mais importante entre a administração científica<br />

e a psicologia industrial é que a primeira, enfatiza o papel do engenheiro na otimização<br />

dos processos de produção e a segunda, se ocupa com o papel do psicólogo e os<br />

aspectos humanos das práticas de gestão.<br />

As contribuições mais significativas são aquelas relacionadas a testes e aferições,<br />

técnicas de entrevista, teoria da aprendizagem, orientação profissional, treinamento,<br />

estudos sobre os efeitos da fadiga e da monotonia, segurança, análise de cargos e fatores<br />

humanos.<br />

1.1.7 A Escola das Relações Humanas<br />

56<br />

Três razões são decisivas para o fortalecimento desta escola:<br />

• o crescimento do movimento trabalhista fez com que as empresas buscassem<br />

uma alternativa para minimizar seu efeito;<br />

• o aumento do nível de escolaridade dos trabalhadores; e<br />

• a mudança do mix ocupacional, ou seja, a redução das posições do “chão da<br />

fábrica” e o aumento dos profissionais administrativos.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Estas razões levaram ao surgimento de programas de pessoal com maior consistência,<br />

lideranças mais competentes e inspiradoras, abertas aos problemas e<br />

necessidades dos trabalhadores.<br />

Para esta escola, as pessoas são motivadas majoritariamente pela necessidade<br />

de reconhecimento, aprovação social e de participação nas atividades dos grupos<br />

sociais a que pertencem. Ela logo passou a ser vista como um conjunto de técnicas<br />

manipulativas de persuasão psicológica.<br />

1.1.8 A Escola Comportamentalista<br />

Nomes expressivos de autores vinculados a esta corrente são: Maslow, Herzberg,<br />

Argyris e McGregor. Nesta abordagem entende-se a motivação como resultado<br />

de um conjunto complexo de diferentes necessidades, relacionadas com o<br />

trabalho que as pessoas realizam e não estão sujeitas a sistemas externos de controle.<br />

O fator motivador de maior importância seria a auto-realização. Diferenciaram<br />

a motivação extrínseca e a intrínseca.<br />

Outro autor, Rensis Likert, um psicólogo norte-americano, advogava os benefícios<br />

da gerência participativa e denunciava a incoerência da busca de esforços<br />

colaborativos por meio da rígida especialização do trabalho. Defendia uma cultura<br />

organizacional de colaboração através da utilização de grupos de trabalho com os<br />

trabalhadores participando de diversos grupos e assim evitando a rivalidade.<br />

Duas importantes contribuições foram deixadas pela Escola Comportamentalista:<br />

• realçou a importância da integração de objetivos individuais e corporativos e<br />

do envolvimento; e<br />

• envolveu os dirigentes para a necessidade de aprimoramento contínuo da qualidade<br />

de vida no trabalho como fator motivacional.<br />

A abordagem sociotécnica tem suas raízes na Inglaterra e mais tarde na Noruega<br />

e Suécia. Segundo Fleury e Fleury (1997, p. 41), esta proposta “implica a busca<br />

de uma solução ótima numa visão de sistema integrado, na qual as demandas e<br />

as capacitações do sistema social sejam adequadamente articuladas às demandas<br />

e aos requisitos do sistema técnico, tendo em vista a consecução das metas da<br />

produção e os objetivos da organização e das pessoas”.<br />

Pode-se citar, ainda, outras teorias de motivação: Teoria da Avaliação Cognitiva,<br />

Teoria da Determinação de Metas, Teoria da Equidade e Teoria da Expectativa. Todas<br />

elas buscam compreender melhor como o homem envolve-se com o trabalho<br />

e como poderá apresentar maiores e duradouros resultados.<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

57


1.1.9 A Administração <strong>Estratégica</strong> de Recursos Humanos<br />

Segundo Nóbrega (2003), até os anos 1980 a disciplina recursos humanos evoluiu<br />

de forma reativa, e este avanço ocorreu como resposta a transformações ambientais<br />

ou movimentos sociais, incorporando técnicas e teorias desenvolvidas em outros campos<br />

do conhecimento como a engenharia. A partir dos anos 1980, o foco evoluiu para<br />

o alinhamento dos objetivos individuais e organizacionais de forma sistêmica. A função<br />

passou a ser compartilhada pelos gerentes de linha sendo orientados pelos profissionais<br />

de Recursos Humanos (RH) sobre as técnicas, sistemas e práticas de gestão<br />

de pessoas. A discussão sobre o papel das pessoas como vantagem competitiva das<br />

organizações, a autodeterminação e o autogerenciamento, passou a ser fundamental<br />

em recursos humanos. Uma síntese poderá ser observada no Quadro 1.<br />

58<br />

Quadro 1 - Administração de Recursos Humanos – Período entre 1945 e 1990<br />

Condições socioeconômicas Configuração organizacional Recursos Humanos<br />

• Crescimento econômico<br />

• Estado de bem-estar social<br />

• Internacionalização da<br />

economia<br />

• Consumo em massa<br />

• Entrada das mulheres no<br />

mercado de trabalho<br />

• Desenvolvimento de novas<br />

tecnologias<br />

• Fortalecimento dos sindicatos<br />

no início do período com<br />

posterior perda gradual ao<br />

longo dos anos seguintes<br />

• Pleno emprego no início do<br />

período e reestruturações<br />

durante a década de 1980<br />

Fonte: Adaptado de Nóbrega (2003).<br />

• Produção em massa<br />

• Expansão das multinacionais<br />

• Estruturas divisionais<br />

• Início da difusão de modelos<br />

“flexíveis” e “orgânicos”<br />

1.1.10 Gestão de Pessoas Para a Competitividade<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />

• Transformação do<br />

departamento de pessoal em<br />

departamento de recursos<br />

humanos<br />

• Preocupação com motivação,<br />

liderança e retenção de<br />

empregados<br />

• Surgimento de modelos de<br />

gestão de RH orientados para a<br />

“organização flexível”<br />

• Remuneração por<br />

desempenho<br />

• Empowerment<br />

O surgimento de diversos estudos e publicações sobre estratégia nas décadas de<br />

1980 e 1990 cria espaço para a introdução deste modelo para gestão de pessoas. Mintzberg,<br />

Lampel e Ahlstrand (1999), no artigo “Todas as partes do elefante”, elaboraram<br />

um quadro síntese das principais linhas de pensamento estratégico, dividindo-as em<br />

três grupos, conforme sua natureza. Quando se observa a ênfase aos “autores-chave” e<br />

as “palavras-chave” de cada linha, pode-se abstrair para os efeitos na gestão de pessoas<br />

e educação corporativa (Quadro 2).


Este quadro, além de facilitar a compreensão dos atores-chave em cada linha de<br />

pensamento, também deixa transparente a ênfase no “sujeito” ou restrito grupo de pessoas<br />

que ocupava aquela posição, favorecendo que o poder da definição da estratégia<br />

estivesse centrado em poucos, com questionável utilização do saber coletivo acumulado<br />

ao longo da organização.<br />

Quadro 2 - Palavras e atores-chave no pensamento sobre estratégia<br />

Autores Palavras-chave Atores-chave<br />

Selznick, 1957;<br />

Andrews, 1965.<br />

Ansoff, 1965.<br />

Schendel, Cooper, Hatten,<br />

meados de 1970; Porter, 1980<br />

e 1985.<br />

Schumpeter, 1954; Cole, 1959;<br />

vários economistas.<br />

Simon, 1945; March e Simon,<br />

1958.<br />

Lindblom, 1959; Cyert e March,<br />

1963; Weick, 1969; Quinn, 1980;<br />

Prahalad e Hamel, 1990.<br />

Allison (micro), 1971; Pfeffe e<br />

Salanick, 1978; Asley (macro),<br />

1984.<br />

Rhenman e Normann, fim dos<br />

anos 1960 na Suécia.<br />

Hannan e Freeman, 1977; os<br />

teóricos da contingência (Pugh<br />

etc.), fim dos anos 1960.<br />

Chandler, 1962; grupo Mcgill<br />

(Mintzberg, Miller etc.), fim dos<br />

anos 1970; Miles e Snow, 1978.<br />

Congruência/correspondência,<br />

competência distintiva,<br />

vantagem competitiva,<br />

realização.<br />

Programa, orçamento, esquema,<br />

cenário.<br />

Estratégia genérica, grupo<br />

estratégico, análise da<br />

concorrência, curva de<br />

experiência.<br />

Golpe de audácia, visão,<br />

perspicácia.<br />

Staff, ambiente, conceito,<br />

percepção, interpretação,<br />

capacidade de raciocínio<br />

limitada, estilo cognitivo.<br />

Por incrementos, estratégia<br />

emergente, criação de sentido,<br />

espírito empreendedor,<br />

competência básica.<br />

Discussão sobre preços, conflito,<br />

coalizão, jogo político, estratégia<br />

coletiva, rede, aliança.<br />

Valores, crenças, mitos, cultura,<br />

ideologia, simbolismo.<br />

Adaptação, contingência,<br />

seleção, complexidade, nicho.<br />

Configuração, arquétipo, etapa,<br />

ciclo de vida, transformação,<br />

revolução, reviravolta,<br />

revitalização.<br />

Fonte: Adaptado de Mintzberg, Lampel e Ahlstrand (1999).<br />

O presidente da empresa (como<br />

arquiteto).<br />

Os planejadores.<br />

Os analistas.<br />

O chefe.<br />

O espírito.<br />

Os que aprendem (que sabem<br />

fazer as coisas).<br />

Qualquer pessoa que detenha<br />

o poder (micro), a organização<br />

inteira (macro).<br />

A coletividade.<br />

O ambiente.<br />

Dependendo do contexto.<br />

Um grande marco na década de 1980 foi Michael Porter, com a introdução de competitividade<br />

e agregação de valor. A reengenharia, introduzida por Michael Hammer e<br />

James Champy, na década de 1990 também contribui neste modelo, pois ela propagava<br />

a “mudança radical de todos os princípios que orientam a administração de empresas nos<br />

últimos dois séculos” (FISCHER in FLEURY et al., 2002, p. 26). Esta mudança radical era a<br />

receita recomendada para lidar com as três forças que pressionavam as organizações:<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

59


60<br />

• O acirramento inusitado da concorrência;<br />

• O controle da relação com a empresa, assumido pelo cliente;<br />

• A mudança transformada em paradigma básico da gestão empresarial.<br />

A seguir uma síntese apresentada por Fischer in Fleury et al. (2002, p. 31), resume o<br />

modelo de gestão de pessoas para a competitividade:<br />

• Seu núcleo está no comportamento;<br />

• Alinha o comportamento às estratégias da organização;<br />

• Lida com ambiente em permanente transformação;<br />

• Dispõe de maior capacidade de gerar, por meio das pessoas, maior competitividade<br />

para a empresa.<br />

Visto no limite, pode-se dizer que a gestão de pessoas para a competitividade,<br />

está alicerçada na busca de um modelo para obter vantagens em função de um ambiente<br />

competitivo e está articulada em torno de competências, ou seja, instrumentos<br />

e ferramentas que são meios para determinado fim, independente da escola a<br />

que estejam subordinados.<br />

Fleury et al. (2002, p. 55) definem competência como um “saber agir responsável<br />

e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos,<br />

habilidades, que agregue valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”.<br />

Esta definição imprime o tom que as áreas de treinamento e desenvolvimento passaram<br />

a utilizar a partir da década de 1990, cujo principal objetivo é, segundo Reich<br />

(1999), ex-secretário do trabalho dos Estados Unidos da América, descobrir, atrair e<br />

reter as pessoas talentosas, reunindo as três qualidades fundamentais das empresas<br />

do século XXI: flexibilidade, velocidade e criatividade.<br />

Pode-se sintetizar a evolução, discorrida por meio de tópicos até o momento, conforme<br />

o Quadro 3.<br />

Quadro 3 - Evolução do foco da administração de recursos humanos<br />

Departamento de Pessoal<br />

(antes de 1960)<br />

• Recrutamento<br />

• Seleção<br />

• Alocação de pessoal<br />

• Manutenção de registros<br />

(controle de frequência) e<br />

documentos<br />

• Cumprimento da legislação<br />

• Em menor escala,<br />

envolvimento com<br />

treinamento, administração<br />

de conflitos, programas de<br />

bem-estar e decisões sobre<br />

demissões<br />

Fonte: Adaptado de Nóbrega (2003).<br />

Relações Humanas ou<br />

Relações Industriais<br />

(entre 1960 e 1980)<br />

• Motivação<br />

• Liderança<br />

• Qualidade de Vida no Trabalho<br />

• Treinamento<br />

• Desenvolvimento (surgem<br />

o coaching, mentoring e job<br />

rotation)<br />

• Foco no autodesenvolvimento<br />

• Cargos e salários<br />

• Benefícios<br />

• Negociações trabalhistas<br />

• Medicina do trabalho<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />

Gestão de Recursos Humanos<br />

(depois de 1980)<br />

• Retenção<br />

• Desenvolvimento de<br />

competências organizacionais<br />

• Aprendizagem<br />

• Conhecimento<br />

• Avaliação de Desempenho<br />

• Desenvolvimento gerencial<br />

• Compartilhamento da função<br />

do RH com as gerências<br />

• Inovação<br />

• Criatividade


1.2 Impacto das fases da gestão de recursos humanos em<br />

desenvolvimento organizacional, treinamento e desenvolvimento<br />

Por meio da análise e interpretação destas fases, pode-se extrair a ênfase dada no<br />

desenvolvimento organizacional, treinamento e desenvolvimento, cujo resultado pode<br />

ser observado no Quadro 4.<br />

Assim, ao longo da história pode-se dizer que a educação para o trabalho, ou seja,<br />

aquela que prepara o indivíduo para e ou na vida profissional, compreende:<br />

• aquela que é provida para preparar ou adaptar o sujeito para desempenhar uma<br />

tarefa ou exercer uma função, ou seja, é aplicada tendo em vista um curto espaço<br />

de tempo e abrangência restrita ou específica. Neste caso, aplica-se treinamento;<br />

• aquela que desenvolve a pessoa para melhorar seu desempenho em médio<br />

prazo, considerando necessidades atuais e futuras do cargo atual ou potencial,<br />

tomando decisões de maior complexidade, ou seja, desenvolvendo pessoas;<br />

• aquela que forma o indivíduo em uma profissão em longo prazo, com a abrangência<br />

requerida ao exercício da atividade. Pode ser institucionalizada ou não,<br />

mas será a formação profissional do indivíduo.<br />

Quadro 4 - Abordagem da gestão de pessoas e o impacto na formação<br />

Fases Impacto na formação das pessoas<br />

Enfatiza a existência de dois grupos de trabalhadores:<br />

• Engenheiros e cientistas; e<br />

• Operários.<br />

Revolução industrial As pessoas do primeiro grupo são aquelas que puderam usufruir a educação<br />

formal disponibilizada aos que estavam na classe social de maior poder<br />

aquisitivo. O segundo é treinado pelo capataz ou alguém com conhecimento<br />

na tarefa, para fazer melhor e no menor tempo possível.<br />

Crescimento do<br />

sindicalismo<br />

Administração<br />

científica<br />

Os grupos continuam existindo adicionando-se ao grupo de operários o<br />

acesso a programas de educação, já com uma perspectiva da melhoria do<br />

bem-estar geral e possibilidade de ampliar o desempenho profissional.<br />

Além dos especializados (engenheiros e cientistas), surge um terceiro grupo,<br />

o de gerentes, embora pudessem ter saído de uma das especializações<br />

do primeiro grupo. Considerando que a âncora desta fase foi a padronização<br />

e a produtividade, habilitar o trabalhador para fazer certo da primeira<br />

vez, o mais rápido possível e na maior quantidade, foi imperativo.<br />

Paternalismo Embora tenha alterado a relação entre empregado e empregador, pode-se<br />

Departamento de<br />

pessoal<br />

inferir que não interfere na forma de preparo do trabalhador, mas impacta<br />

em desenvolvimento organizacional, uma vez que há preocupação com a<br />

saúde do trabalhador.<br />

Psicologia industrial A humanização das práticas de gestão pela inclusão do psicólogo no ambien-<br />

Escola de relações<br />

humanas<br />

Escola<br />

comportamentalista<br />

te organizacional, permite inferir que a introdução de teorias de aprendizagem,<br />

além de serem utilizadas para agilizar a sedimentação da informação<br />

pelo operário, também abre espaço para desenvolvimento de características<br />

de liderança que poderiam auxiliar na ampliação da produtividade.<br />

A integração dos objetivos individuais e organizacionais e a busca contínua<br />

da qualidade de vida no trabalho ampliam as oportunidades para além do<br />

treinamento, auxiliando o indivíduo para seu autodesenvolvimento.<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

Continua...<br />

61


62<br />

Quadro 4 - Abordagem da gestão de pessoas e o impacto na formação<br />

Fases Impacto na formação das pessoas<br />

Administração<br />

estratégica de recursos<br />

humanos<br />

Gestão de pessoas<br />

para a competitividade<br />

Fonte: Elaborado pelas autoras.<br />

A busca do alinhamento entre objetivos individuais e organizacionais, de<br />

forma sistêmica, carrega intrinsecamente a necessidade da organização escolher<br />

indivíduos com este alinhamento e vice-versa. Desenvolver pessoas<br />

e empresas que sejam capazes de sobreviver neste ambiente caótico levou<br />

a administração a se inspirar na teoria do caos, uma vez que se está diante<br />

de relacionamentos dentro de sistemas complexos.<br />

Desta forma, pode-se entender que nas diferentes fases da história da gestão de<br />

pessoas, treinamento sempre esteve presente, considerando seu resultado imediato na<br />

continuidade das atividades de qualquer negócio, garantindo a adaptação do sujeito no<br />

exercício de determinado cargo e sua produtividade. A formação profissional institucionalizada<br />

sempre foi acessível aos que tinham condições econômicas de possuí-la, já a não<br />

institucionalizada, que também é muito antiga, especialmente considerando-se o empenho<br />

dos artesãos em preparar seus sucessores. Desenvolvimento de pessoas já é uma<br />

ação que requer maior compromisso da organização com seus recursos humanos, uma<br />

vez que seus resultados não aparecem em curto prazo, bem como não afeta a produtividade<br />

de imediato. Estas etapas da educação para o trabalho constituem importante<br />

núcleo da educação corporativa da atualidade, conforme se verá mais adiante.<br />

As fases da administração estratégica de recursos humanos e gestão de pessoas<br />

para a competitividade possuem linha divisória muito sensível, uma vez que na atualidade<br />

encontram-se empresas que se distribuem nas últimas três fases, ou seja, escola<br />

comportamentalista, administração estratégica de recursos humanos e gestão de<br />

pessoas para a competitividade. Alinhar o comportamento humano às estratégias da<br />

organização significa preparar pessoas e empresas para um ambiente em permanente<br />

competição, em que fazer certo da primeira vez hoje pode não ser válido amanhã. Assim,<br />

as organizações, buscando maximizar sua capacidade de competir, validaram o ser<br />

humano como elo entre o passado, onde estão as experiências de sucesso ou não, e o<br />

presente, onde está sendo germinado um futuro imaginado, mas que não se tem certeza<br />

quando começa. Assim, a gestão do conhecimento ganha espaço na atualidade<br />

como área onde há muito a ser pesquisado e conquistado.<br />

De qualquer forma, Darwin seria de grande auxílio na atualidade, tendo em vista<br />

que a origem e a adaptação dos trabalhadores ao meio ambiente organizacional é<br />

construída diariamente por sonhos, resultados alcançados, alegrias e frustrações.<br />

2 Universidade Corporativa<br />

A autora responsável pela disseminação comercial deste tema define universidade<br />

corporativa como: “um guarda-chuva estratégico para desenvolver e educar funcionários,<br />

clientes, fornecedores e comunidade, a fim de cumprir as estratégias empresariais<br />

da organização” (MEISTER, 1999, p. 29).<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Meister (1999, p. 30) apresentou os dez princípios e objetivos que “constituem<br />

a base do poder que as universidades corporativas têm no sentido de mobilizar<br />

os funcionários para que eles formem uma força de trabalho de altíssima qualidade,<br />

necessária para que a organização tenha sucesso no mercado global”. Embora<br />

o termo não esteja inserido na definição de universidade corporativa apresentada<br />

por esta autora, ela também reforça que “o modelo de universidade é baseado em<br />

competências e vincula a aprendizagem às necessidades estratégicas da empresa”<br />

(p. 31). Neste sentido, é importante a compreensão do significado de competência<br />

para a autora: “são definidas como a soma de qualificações, conhecimento e ‘conhecimento<br />

implícito’ necessária para superar o desempenho da concorrência” (p. 13).<br />

Como exposto anteriormente na definição de competências de Fleury et al.<br />

(2002), os princípios e objetivos foram estabelecidos para nortear o trabalho que<br />

deve ser desenvolvido para assegurar o resultado sobre as competências. Os termos<br />

princípios, objetivos e metas são utilizados sem a preocupação do rigor conceitual<br />

que possuem na administração, sendo tratados de forma substitutiva ao se<br />

apresentar as dez afirmações a seguir.<br />

1. Oferecer oportunidades de aprendizagem que deem sustentação às questões empresariais<br />

mais importantes da organização.<br />

2. Considerar o modelo da universidade corporativa um processo e não um espaço<br />

físico destinado à aprendizagem.<br />

3. Elaborar um currículo que incorpore os três Cs: Cidadania Corporativa, Estrutura<br />

Contextual e Competências Básicas.<br />

4. Treinar a cadeia de valor e parceiros, inclusive clientes, distribuidores, fornecedores<br />

de produtos terceirizados, assim como universidades que possam fornecer os trabalhos<br />

de amanhã.<br />

5. Passar do treinamento conduzido pelo instrutor para vários formatos de apresentação<br />

da aprendizagem.<br />

6. Encorajar e facilitar o envolvimento dos líderes com o aprendizado.<br />

7. Passar do modelo de financiamento corporativo por alocação para o “autofinanciamento”<br />

pelas unidades de negócio.<br />

8. Assumir um foco global no desenvolvimento de soluções de aprendizagem.<br />

9. Criar um sistema de avaliação dos resultados e também dos investimentos.<br />

10. Utilizar a universidade corporativa para obter vantagem competitiva e entrar em<br />

novos mercados. (MEISTER, 1999, p. 30).<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

63


64<br />

Eboli (2004, p. 59) sintetizou o que considera como princípios, da seguinte forma:<br />

• Princípio nº 1 – Competitividade: Valorizar a educação como forma de desenvolver<br />

o capital intelectual dos colaboradores. Os trabalhadores passam a ser fator<br />

de diferenciação da empresa diante dos concorrentes, ampliando assim sua capacidade<br />

de competir.<br />

• Princípio nº 2 – Perpetuidade: Entender a educação não apenas como um processo<br />

de desenvolvimento e realização do potencial existente em cada colaborador,<br />

mas também como um processo de transmissão da herança cultural, a fim de<br />

perpetuar a existência da empresa.<br />

• Princípio nº 3 – Conectividade: Privilegiar a construção social do conhecimento,<br />

estabelecendo conexões e intensificando a comunicação e a interação.<br />

• Princípio nº 4 – Disponibilidade: Oferecer e disponibilizar atividades e recursos<br />

educacionais de fácil uso e acesso, propiciando condições favoráveis para que os<br />

colaboradores realizem a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar.<br />

• Princípio nº 5 – Cidadania: Estimular o exercício da cidadania individual e corporativa.<br />

• Princípio nº 6 – Parceria: Parcerias internas (com líderes e gestores) e externas<br />

(instituições de nível superior).<br />

• Princípio nº 7 – Sustentabilidade: Ser um centro gerador de resultados para a empresa,<br />

procurando sempre agregar valor ao negócio. Pode significar também buscar fontes<br />

alternativas de recursos que permitam um orçamento próprio e autossustentável.<br />

2.1 Universidade Corporativa (UC) e tradicional<br />

A finalidade da educação superior, estabelecida no artigo 43 da lei nº 9.394, de 20<br />

de dezembro de 1996, é:<br />

I. estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento<br />

reflexivo;<br />

II. formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção<br />

em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade<br />

brasileira, e colaborar na sua formação contínua;<br />

III. incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento<br />

da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,<br />

desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem<br />

patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações<br />

ou de outras formas de comunicação;<br />

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar<br />

a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão<br />

sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento<br />

de cada geração;<br />

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os<br />

nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer<br />

com esta uma relação de reciprocidade;<br />

VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das<br />

conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e<br />

tecnológica geradas na instituição (BRASIL, 1996).<br />

Pode-se, a partir desta lei, sintetizar as principais funções da educação superior, da<br />

seguinte forma:<br />

• criar, promover e divulgar conhecimentos culturais;<br />

• estimular o desenvolvimento do espirito científico e do pensamento reflexivo;<br />

• comunicar através do ensino, publicação ou outras formas;<br />

• incentivar o desejo permanente de aperfeiçoamento; e<br />

• estimular a cidadania.<br />

Neste instante, é oportuno relembrar a missão e objetivo da educação corporativa:<br />

A missão da UC consiste em formar e desenvolver os talentos na gestão dos negócios, promovendo<br />

a gestão do conhecimento organizacional (geração, assimilação, difusão e aplicação),<br />

por meio de um processo de aprendizagem ativa e contínua.<br />

O objetivo principal desse sistema é o desenvolvimento e a instalação das competências<br />

empresariais e humanas consideradas críticas para a viabilização das estratégias de negócios<br />

(EBOLI, 2004, p. 48).<br />

Assim, aos que analisavam a universidade corporativa com o mesmo rigor de critérios<br />

que o fazem para a tradicional, fica evidenciado que sua finalidade, embora seja<br />

educação, são diferentes, especialmente quanto à amplitude de sua proposta.<br />

3 A Educação Corporativa e a Gestão do Conhecimento<br />

Gestão do conhecimento incorporou-se ao vocabulário empresarial nos últimos<br />

anos e algumas publicações foram lançadas próximo ao final da década de 1990. São<br />

diversas as expressões que compõe esta área, mas algumas necessitam de esclarecimento<br />

imediato:<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

65


66<br />

Conhecimento é o conjunto total incluindo cognição e habilidades que os indivíduos<br />

utilizam para resolver problemas. Ele inclui tanto a teoria quanto a prática, as regras<br />

do dia a dia e as instruções sobre como agir. O conhecimento baseia-se em dados e<br />

informações, mas, ao contrário deles, está sempre ligado a pessoas. Ele é construído por<br />

indivíduos e representa suas crenças sobre relacionamentos causais (PROBST, RAUB E<br />

ROMHARDT, 2002, p. 29).<br />

Pode-se evoluir para a definição proposta por Sveiby (apud BARROSO e GOMES, 2004):<br />

Gestão do conhecimento é a arte de criar valor alavancando os ativos intangíveis. Para<br />

conseguir isto, é preciso ser capaz de visualizar a empresa apenas em termos de conhecimento<br />

e fluxos de conhecimento.<br />

Esta definição evidencia que “o conhecimento cresce ao ser compartilhado e ao<br />

ser utilizado” (Barroso e Gomes, 2004), bem como, a importância das pessoas para<br />

seu uso. Outra importante definição neste assunto é que<br />

A base de conhecimento organizacional consiste em ativos de conhecimentos individuais<br />

e coletivos que a organização pode utilizar para realizar suas tarefas. A base de<br />

conhecimento também inclui os dados e as informações sobre os quais se constroem<br />

o conhecimento individual e organizacional (PROBST, RAUB E ROMHARDT, 2002, p. 29).<br />

Os dados e as informações originam-se de diferentes fontes e podem provocar<br />

mudanças individuais e ou coletivas. Quando agem sobre o coletivo, interfere nas<br />

competências organizacionais e constitui a aprendizagem organizacional que<br />

[...] consiste em mudanças na base de conhecimento da organização, na criação de estruturas<br />

coletivas de referência e no crescimento da competência da organização para<br />

agir e resolver problemas (PROBST, RAUB E ROMHARDT, 2002, p. 30).<br />

Naturalmente nem sempre o conhecimento que a organização gera é de valor<br />

estratégico. “Para que o conhecimento exclusivo seja fonte de vantagem competitiva,<br />

é preciso que satisfaça a três outros critérios: ser valioso, de difícil imitação<br />

pelos concorrentes e de difícil substituição por sucedâneos” (BARNEY, 1991 apud<br />

KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p. 96). Ainda, segundo estes mesmos autores, “o<br />

conhecimento tácito, social ou individual é sempre mais difícil de imitar do que o<br />

conhecimento explícito, constante de documentos e manuais” (p. 97).<br />

Conhecimento explícito “ou codificado, refere-se ao conhecimento transmissível<br />

em linguagem formal, sistemática” (FLEURY et al., 2002, p. 139), já o conhecimento<br />

tácito “consiste em parte de habilidades técnicas, o tipo de destreza informal<br />

e de difícil especificação incorporado ao termo know-how” (NONAKA, 2001<br />

apud FLEURY et al., 2002, p. 139).<br />

Nonaka e Takeuchi (apud CHOO, 2003, p. 37), afirmam que “a construção do conhecimento<br />

é conseguida quando se reconhece o relacionamento sinérgico entre o co-<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


nhecimento tácito e o conhecimento explícito dentro de uma organização, e quando<br />

são elaborados processos sociais capazes de criar novos conhecimentos por meio da<br />

conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito”. Pode-se relacionar<br />

os grupos ou comitês de melhoria contínua que surgiram durante os movimentos de<br />

qualidade, ou ainda, aqueles destinados a inovação, como um excelente exemplo de<br />

processo organizacional que facilita e promove a socialização.<br />

“Socialização é o processo pelo qual se adquire conhecimento tácito partilhando experiências”<br />

(NONAKA; TAKEUCHI apud CHOO, 2003, p. 37). Ainda, segundo os mesmos<br />

autores, “há quatro maneiras de converter o conhecimento por meio de um processo de<br />

socialização, que converte conhecimento tácito em conhecimento tácito; por meio da<br />

exteriorização, que converte conhecimento tácito em conhecimento explícito; por meio<br />

da combinação, que converte conhecimento explícito em conhecimento explícito; e por<br />

meio da internalização, que converte conhecimento explícito em conhecimento tácito”.<br />

A utilização dinâmica destas quatro formas conduz a prática da espiral de conhecimento,<br />

uma vez que ao atingir o resultado desejado, o ciclo reinicia em um novo nível.<br />

Krogh, Ichijo e Nonaka (2001, p. 14), discorrem sobre algumas “ideias básicas que são<br />

parte integrante da capacitação para o conhecimento”. São elas: “Primeiro, o conhecimento<br />

é crença verdadeira e justificada. Segundo, o conhecimento é explícito e tácito.<br />

Terceiro, a eficácia da criação de conhecimento depende de um contexto capacitante”.<br />

Finalmente, a criação de conhecimento organizacional envolve cinco fases principais...<br />

(1) compartilhamento do conhecimento tácito, (2) criação de conceitos, (3) justificação<br />

de conceitos, (4) construção de propósitos, e (5) nivelação do conhecimento.<br />

Diante do exposto, pode-se afirmar a relevância do papel da universidade corporativa<br />

na conversão e socialização do conhecimento. Ao discutir a realidade a luz do<br />

conhecimento explícito, criando provocações para que o sujeito utilize seu conhecimento<br />

tácito para promover combinações, a educação corporativa participa ativamente<br />

da sedimentação da vantagem competitiva a partir da socialização, justamente a<br />

mais difícil de ser imitada. Desta forma, age objetivamente na espiral de conhecimento,<br />

contribuindo para o reinício do ciclo em um novo nível. Krogh, Ichijo e Nonaka (2001, p.<br />

16), explicam a expressão contexto capacitante como “um espaço compartilhado que<br />

fomente novos relacionamentos [...] . Pode ser físico, virtual, mental, ou – mais provavelmente<br />

– todos os três”. Sem dúvida alguma, trata-se de uma expressão análoga à<br />

educação corporativa.<br />

3.1 Trilhas do conhecimento e certificações<br />

Em um mundo globalizado e em constante mudança, o conhecimento tácito e explicito<br />

dentro das organizações requer, cada vez mais, uma forma estruturada para sua<br />

interpretação, utilização e formação das pessoas naquilo que faça diferença para agregar<br />

valor ao negócio. Aliado a isto, a evolução da gestão por competências trouxe para<br />

a educação corporativa a necessidade de dialogar com o sistema de forma estruturada<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

67


e integradora, ou seja, promover a integração do arcabouço do conhecimento com as<br />

competências identificadas nas diferentes posições existentes dentro das empresas.<br />

Esta ferramenta tem se mostrado de extrema validade para as organizações, à medida<br />

que permite estabelecer as competências e respectivos conteúdos tácitos e explícitos<br />

que devem ser de domínio do indivíduo 1 .<br />

Os acordos entre as universidades corporativas e as instituições de ensino também<br />

evoluíram nos últimos anos, pela realização de turmas fechadas, ou in company, para<br />

cursos de pós-graduação lato sensu ou turmas consorciadas. Estando as competências<br />

mapeadas, as necessidades de aperfeiçoamento se tornam muito mais evidentes e<br />

com isto o sujeito passa a ser coparticipe da solução, uma vez que o objeto da certificação<br />

é a competência.<br />

A trilha do conhecimento também contribuiu sobremaneira para a evolução das<br />

certificações, pois corrobora diretamente com os níveis propostos por Kirkpatrick (1998<br />

apud FLEURY et al., 2002), podendo se utilizar da certificação para avaliar a evolução do<br />

individuo dentro das competências relacionadas à função. Observa-se, nesta iniciativa,<br />

a busca constante em mensurar os resultados alcançados pela educação corporativa,<br />

tanto na perspectiva do sujeito como da instituição.<br />

4 A Académie (universidade corporativa da Accor)<br />

Organismo fundamentado no antigo conceito grego de academia, “Jardim de Academus”,<br />

era o local onde Platão reunia seus discípulos para ensinar através do método<br />

indutivo. A Académie Accor no Brasil é a primeira universidade corporativa da Accor<br />

fora da França.<br />

A Académie Accor no Brasil foi inaugurada em novembro de 1992 e desde então<br />

vem atuando com o objetivo estratégico de formação dos 9.000 colaboradores da Accor<br />

na América Latina, distribuídos em 182 empreendimentos hoteleiros, que congregando<br />

6 marcas, com valores culturais e empresariais comuns. É uma ferramenta de<br />

eficiência empresarial, possibilitando desenvolver pessoas no que tange não somente<br />

a natureza profissional, mas também, o crescimento pessoal com o alargamento das<br />

visões e das fronteiras.<br />

Atuando para obter maior capacidade em resolver problemas complexos, tomar<br />

decisões rápidas e precisas e impulsionar o desenvolvimento e progresso das empresas<br />

do grupo, a Académie Accor interfere positivamente na excelência, no crescimento, na<br />

cultura interna e na imagem da Accor Hotels na região.<br />

1 Um exemplo de utilização das trilhas do conhecimento pode ser visto no endereço eletrônico do Sebrae na<br />

página < http://www.uc.sebrae.com.br/>.<br />

68<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Sua missão é a educação continuada através do conceito “Ensinar a Ensinar” e<br />

“Aprender a Aprender”, promovendo a difusão dos valores e da cultura empresarial,<br />

o aperfeiçoamento gerencial e a multiplicação e sinergia dos conhecimentos<br />

adquiridos pelas unidades das diferentes regiões.<br />

Utilizou-se o modelo proposto por Kirkpatrick (1998 apud FLEURY et al., 2002)<br />

para avaliar os resultados alcançados pela Académie Accor em seus investimentos<br />

em educação corporativa. É importante destacar que todo investimento promove<br />

retorno que converge para o acionista em forma de resultado econômico, financeiro<br />

e imagem institucional.<br />

1º - Reação<br />

Quanto os participantes ficaram satisfeitos com o Programa? (conteúdo, instrutores,<br />

metodologia, instalações etc.).<br />

Esta avaliação é realizada pela Académie Accor em cada programa. Os resultados<br />

são consolidados e monitorados. Quando surge algum resultado fora dos<br />

padrões da Académie Accor, existe uma análise do curso e do facilitador buscando<br />

identificar a causa da situação e são empreendidas ações para as próximas turmas.<br />

2º - Aprendizado<br />

Aprenderam? Quanto os participantes aprenderam? Houve aumento de conhecimento,<br />

desenvolvimento de habilidades ou mudança de atitudes?<br />

A Académie Accor utiliza este dispositivo em situações cujo conteúdo é racional.<br />

Existe um objeto de aprendizagem que deve ser apreendido pelos participantes, não<br />

sendo atitudes. É valido para cursos exigindo certificação como “Revenue Management”,<br />

“Sales and Distribuition Pass”, “Trainer Pass” e todos os cursos online utilizam testes,<br />

como por exemplo: “Navegando no Mundo Accor”, Boas Práticas de Manipulação<br />

de Alimentos (BPMA) e “A Luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes”.<br />

A partir de abril de 2012 será implantada uma plataforma LMS em toda região. Através<br />

dela haverá controle de todos os cursos realizados, sejam presenciais ou a distância,<br />

bem como, o desempenho nos dois primeiros níveis propostos por Kirkpatrick (1998).<br />

3º - Aplicação<br />

O aprendizado está sendo aplicado no cotidiano do trabalho? Quais as mudanças<br />

percebidas?<br />

Este item é avaliado pelo líder do colaborador ao longo de sua rotina de trabalho<br />

e por meio da avaliação de desempenho. As lideranças são incentivadas a<br />

fornecer feedback aos colaboradores, na medida do possível, em tempo real, utilizando<br />

a avaliação de desempenho com um instrumento de consolidação e registro<br />

da evolução e necessidades de formação.<br />

Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

69


Além da avaliação pelo líder, em algumas circunstâncias, utilizam-se atividades “pós-<br />

-curso”, baseadas na realidade. Ou seja, um grupo de participantes deve desenvolver<br />

uma atividade baseada no que foi ensinado e que tenha necessidade dentro de sua<br />

área. Neste caso existe um tempo de intervalo para elaboração do trabalho (pode variar<br />

de 30 a 90 dias) e no próximo encontro os grupos apresentam o trabalho. Neste tipo de<br />

atividade a Académie Accor participa da avaliação de 3º nível. No treinamento “Trainer<br />

Pass”, cuja certificação é obtida após efetuar treinamento mínimo de duas horas, cujo<br />

desempenho é validado pela Academia, seja presencialmente ou por vídeo enviado e<br />

validado pela Académie Accor. Há também um programa de qualificação em três níveis<br />

(Itinéraires) em que além dos treinamentos, os gestores avaliam e validam as competências<br />

adquiridas para que os interessados possam candidatar-se ao nível acima.<br />

Assim, para alguns treinamentos este nível de avaliação está no ambiente de trabalho<br />

do colaborador, sendo complementado e enriquecido por sessões de educação. Sem<br />

dúvida, amplia o significado da aprendizagem e do “aprender a aprender”, bem como<br />

reforça a socialização do conhecimento.<br />

4º - Resultados<br />

Quais os resultados gerados em função do Programa? Qual o retorno do Programa<br />

para os resultados nos negócios? Implantaram novos projetos que geraram valor?<br />

Esta avaliação está dentro das diretorias das diferentes marcas, enquanto medição<br />

objetiva. Em subjetividade, pode-se extrapolar e afirmar que a existência da Académie<br />

Accor por todos estes anos é uma confirmação do reconhecimento da empresa.<br />

A avaliação de reação é rápida e objetiva. Em alguns casos, a de aprendizado (2º<br />

nível) também. Já os demais níveis requerem tempo para sedimentação, são resultados<br />

de longo prazo que interagem com outros elementos do sistema. Como mencionado<br />

anteriormente, existe interdependência entre o indivíduo e o sistema e todos os elementos<br />

que o compõem, fato que não deve ser desprezado ao se avaliar os resultados<br />

de intervenções de educação a distância ou presencial no curto prazo. Validando-se<br />

que a cultura organizacional é modificada pela reeducação do trabalhador e este por<br />

sua vez é afetado pela nova modificação ocorrida na cultura organizacional, encontrar<br />

o resultado promovido por cursos dentro da empresa implica, no primeiro momento,<br />

isolamento da “variável” indivíduo, atribuindo-lhe o poder de promover mudanças no<br />

meio, com redução do efeito da interdependência.<br />

Conclusão<br />

A formação do trabalhador dentro das organizações é um tema que desperta grande<br />

interesse por parte dos pesquisadores, uma vez que está diretamente relacionada à<br />

capacidade de perpetuação do negócio. Identifica-se que a universidade corporativa<br />

é uma expressão contemporânea amoedada para ser um possível indicador do estágio<br />

que uma empresa se encontra na preparação de suas equipes para a competição<br />

empresarial. Está diretamente associada à educação em permanência, envolvendo tra-<br />

70<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


alhadores nesta nova filosofia organizacional, caracterizada “pela intenção de ampliar<br />

incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade,<br />

quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras” (FERREIRA,<br />

1999) - uma realidade regida pelo caos. Com este escopo de atuação, portanto, carrega<br />

uma nova postura no trato da educação corporativa, que a afasta da proposta original<br />

das antigas áreas de desenvolvimento organizacional, treinamento e desenvolvimento.<br />

Pode-se inferir que seu papel é complementar ao de uma universidade formal, pois<br />

ao lidar com a velocidade da mudança na realidade, auxilia pesquisadores e cientistas<br />

por meio do questionamento desta realidade e das reações que ações empreendidas<br />

provocam neste ambiente. Nestas ações o empirismo é valorizado e as identificações<br />

de causa e efeito, realizadas de forma também empírica.<br />

Estas constatações alimentam a importância que as universidades corporativas têm<br />

nas culturas organizacionais, uma vez que elas são excelentes instrumentos para competitividade<br />

empresarial, por meio da ampliação das competências individuais, obtida<br />

pela socialização do conhecimento, processo fundamental dentro da gestão do conhecimento<br />

e requisito chave para a competitividade.<br />

Entende-se que algumas questões permanecem de forma cristalina. São elas:<br />

• Quais metodologias de ensino apoiarão as organizações no desenvolvimento<br />

dos trabalhadores do conhecimento?<br />

• Como as organizações com forte traço de oralidade superarão a fase de exteriorização<br />

do conhecimento convertendo-o em explícito por meio da documentação,<br />

permitindo o reinício do ciclo?<br />

• Interpretando-se o modelo como uma ferramenta que serve de suporte à<br />

construção do conhecimento, quais modelagens serão mais eficazes neste<br />

papel dentro das organizações, respeitando a respectiva cultura empresarial<br />

e setorial?<br />

Enfim, trata-se de uma área de pesquisa em que as construções estão em fase embrionária<br />

e muito pode ser feito para auxiliar as organizações na busca de caminhos<br />

que ajudarão na escalada da evolução empresarial.<br />

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Universidade corporativa: uma metáfora contemporânea, Cristina Vallukenas e Elisabete Adami Pereira dos Santos, p. 51-73<br />

73


74<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Minimizando Riscos na Implantação de<br />

BPM (Business Process Management)<br />

Resumo: Este trabalho investigou os<br />

critérios a serem considerados para mitigar<br />

riscos na implantação da solução<br />

BPM (Business Process Management) nas<br />

organizações que desejam a sobrevivência<br />

ou até conquistar maiores fatias<br />

do mercado em que atuam. Quanto à<br />

abordagem foi utilizada a pesquisa teórica<br />

por meio de livros, publicações periódicas,<br />

e Internet. Constatou-se que<br />

o BPM apresenta uma visão integrada<br />

dos processos, que nem sempre todas<br />

as equipes são envolvidas nas mudanças<br />

e que o BPM traz alguns benefícios<br />

como: transparência do processo, melhoria<br />

contínua, maior agilidade, padronização<br />

e definição clara.<br />

Palavras-chave: Gerenciamento de<br />

Processos de Negócio. Administração.<br />

Mudança Organizacional.<br />

Introdução<br />

Marcos Briaga *<br />

Abstract: This work investigated the<br />

criteria to be considered in order to<br />

mitigate risks in solution implementation<br />

of BPM (Business Process Management)<br />

in the organizations that desire<br />

their survival or until they achieve<br />

greater market share where they act.<br />

Theoretical methodology research was<br />

used through books, periodic publications<br />

and Internet. It was evidenced<br />

that the BPM offers an integrated vision<br />

of the processes and that not always<br />

teams are involved in the changes. BPM<br />

brings some benefits such as process<br />

transparency, continuous improvement,<br />

broader agility, standardization<br />

and clear definitions.<br />

Keywords: Business Process Management.<br />

Administration. Organizational<br />

Changes.<br />

O tema BPM (Business Process Management), vem ao longo dos anos ocupando espaço<br />

cada vez maior na pauta estratégica das empresas. Em pesquisa divulgada pela<br />

ELO Group (2010), as empresas respondentes revelam ter incorporado a cultura de processos<br />

em sua estrutura organizacional de tal forma a criar um departamento separado<br />

dos demais (geralmente nomeado como Escritório de Processos), com, inclusive, novos<br />

desafios, como por exemplo: difusão da cultura de BPM (Business Process Management),<br />

governança de processos, sinergias com os departamentos de tecnologia da informação,<br />

recursos humanos, estratégia, projetos, auditoria, financeiro, entre outros.<br />

* Este artigo tem por base a monografia apresentada à FAAP-MBA Executivo, como parte dos requisitos para a<br />

aprovação no Curso MBA Executivo, sob orientação do Prof. Especialista Luiz Eduardo de Abreu Cunha. E-mail do<br />

autor: mbriaga@hotmail.com.br.<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

75


1 Gestão por Processos e Gestão de Processo<br />

Toda organização tem vários processos que são executados, isto é: todo produto ou<br />

serviço oferecido por uma empresa tem um processo. Portanto, processo é o resultado<br />

do trabalho das pessoas e das instalações de equipamentos e outros recursos materiais,<br />

visando alcançar um objetivo. Neste sentido, este tópico tem por finalidade abordar o<br />

tema Gestão por Processo, Gestão de Processo e suas diferenças.<br />

1.1 Definição de processo<br />

Processo é a ordenação específica das atividades de trabalho no tempo, com um<br />

começo, um meio e entradas e saídas claramente identificados, ou seja, há: uma estrutura<br />

para a ação. Neste caso, o processo é repetido diversas vezes dentro da empresa.<br />

É um conjunto de atividades e recursos que, coordenados de forma adequada, levam<br />

às empresas a alcançarem seus objetivos. São ações que produzem um resultado que<br />

agregam valor ao produto, serviços e aos negócios em geral.<br />

Cruz (2002, p. 106), revela outra definição sobre processos: ”[...] processo é a forma<br />

pela qual um conjunto de atividades cria, trabalha ou transforma insumos (entradas),<br />

agregando-lhes valor, com a finalidade de produzir bens ou serviços com qualidade<br />

para serem entregues a clientes (saídas), sejam eles internos ou externos”. Porém, todas<br />

reservam algumas similaridades entre si e, por fim, pode-se chegar ao consenso de que<br />

o processo nada mais é do que um conjunto de atividades que, ordenadas de forma<br />

lógica, produzem um bem ou serviço, com valor ou não reconhecido por um ou mais<br />

clientes. A Figura 1 exemplifica e resume a definição de processo.<br />

Fonte: Autor deste artigo.<br />

76<br />

Figura1 - Definição de Processo<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Organizações cada vez mais orientadas por processos tendem a ter suas barreiras interdepartamentais<br />

cada vez mais permeáveis, tênues e, em alguns casos, quase que irreconhecíveis,<br />

afinal o objetivo de todos passa por agradar o cliente e não mais o chefe.<br />

A partir deste contato, os desejos dos clientes passam a ser conhecidos mais profundamente,<br />

levando as organizações a quererem agrada-los cada vez mais, nem que para<br />

isso seja necessária a redução do tempo empregado entre criação e comercialização<br />

do produto e/ou serviço. Essa lógica é cruel do ponto de vista do esforço aplicado neste<br />

ciclo, onde não se sabe qual é o término.<br />

1.2 Gestão por processos nas organizações<br />

Para Gonçalves (1997), a empresa organizada em torno de seus processos e com<br />

esforços concentrados em seus clientes é que terá melhores condições de sobreviver<br />

em um ambiente de competição cada vez mais global e em constante mutação. As<br />

empresas devem alterar o seu desenho organizacional para melhor enfrentar os novos<br />

desafios impostos pelo século XXI.<br />

Segundo Hammer (1998), um processo é um conjunto de atividades com uma ou<br />

mais espécies de entrada e que cria uma saída de valor para o cliente. Ou seja: para o<br />

cliente é dispensável esta informação (estrutura organizacional), mas realmente o que<br />

interessa são os produtos e serviços. Isto confirma outra teoria de Hammer (1998), ao<br />

colocar a estrutura por processo como a que pode proporcionar o melhor nível de satisfação<br />

para os clientes, bem como melhores resultados para a empresa e que, portanto,<br />

tende a gerar maior participação no mercado em que a organização atua.<br />

Mas nem sempre orientar a organização por processos é a melhor solução, afinal<br />

cada caso é um caso. Paim et al. (2009, p. 71) ”[...] alerta que apesar de todas as organizações<br />

possuírem processos, a visão processual não é a única existente e nem sempre é a<br />

melhor e a mais indicada, afinal pode-se orientar uma organização por produtos, clientes,<br />

segmentos de mercado etc.”. Entretanto, a visão processual é a que mais atende a<br />

demanda em ambientes com maior dinâmica em produtos e processos.<br />

1.3 Gestão de processos nas organizações<br />

“Gestão de Processos” possui um significado mais reducionista, oriundo do<br />

tempo em que se estudava a atividade executada pelo operário. Possui característica<br />

mais mecanicista e data da época em que Adam Smith tratara das benesses<br />

da divisão do trabalho.<br />

Entretanto, ainda é utilizada pelos profissionais da área de pesquisa operacional nos<br />

estudos de operações fabris e na automação de fluxos de trabalho.<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

77


1.4 Diferenças entre Gestão por Processos e Gestão de Processos<br />

Para De Sordi (2008), autores que se aventuram a escrever sobre o tema, geralmente<br />

se enganam na utilização das expressões “Gestão por Processos” e “Gestão de Processos”.<br />

Embora expressões semelhantes, possuem significados distintos. A “Gestão por<br />

Processos” é mais abrangente; aborda toda a organização: gestão, estratégia, planejamento<br />

etc. Possui característica muito mais “macro” se apenas comparada com “Gestão<br />

de Processos”. Envolve desenvolvimento de competências, negócios e mercados.<br />

As organizações, por sua vez, são coleções de diferentes tipos de processos, com<br />

suas respectivas funções que, enfim, buscam por determinados objetivos. Portanto, no<br />

presente artigo, será adotada “Gestão por Processos”, pois é o que mais se adéqua ao<br />

objetivo do trabalho.<br />

Segundo Valle e Oliveira (2009), para se compreender a predominância da Gestão<br />

por Processos em relação à gestão funcional, deve-se, antes, entender que as empresas<br />

se relacionam com fatores externos. Cada vez mais as empresas são afetadas por fatores<br />

externos: governo, concorrentes, clientes etc. Além disso, é necessário considerar as<br />

incertezas oriundas do ambiente externo. Elaborar planos de contingência para mitigar<br />

riscos, utilizando como base o conhecimento adquirido na relação com o ambiente externo,<br />

concede à organização condições favoráveis à promoção de ajustes permanentes.<br />

Paim et al. (2009), revelam que o histórico sobre processos é longo, mas com maior<br />

quantidade de publicações entre 1992 e 1998. Desde então o assunto acompanha as<br />

demais iniciativas nas organizações, impondo quebra de paradigmas. O Quadro 1 identifica<br />

a mudança de pensamento nas organizações orientadas por processos. O que<br />

mais chama a atenção é a mudança de atitude em relação ao consumidor, onde a organização<br />

funcional tende a encarar a queixa do cliente como problemática, ou seja, informações<br />

não relevantes para a melhoria da qualidade dos serviços prestados ou bens<br />

produzidos, fazendo com que a empresa mude seu foco de atuação para algo que não<br />

considera importante. Entretanto, as mesmas queixas tendem a serem tratadas como<br />

oportunidades de melhorias para as organizações orientadas por processos. Afinal, é na<br />

queixa do cliente que a empresa revisita e melhora seus processos, com o objetivo de<br />

mantê-lo satisfeito e fiel ao seu produto e/ou serviço.<br />

78<br />

Quadro 1 - Diferenças entre Organização Funcional e por Processos<br />

Atributo Organização funcional Organização por processos<br />

Consumidor Causa distúrbio Contribuem para melhoria<br />

Estruturas Rígidas Flexíveis<br />

Projeto Organizacional Comportamental<br />

Controle do processo<br />

Realizado por gerentes de<br />

coordenação<br />

Realizado por gerentes de<br />

fluxo de trabalho<br />

Fonte: Adaptado de Sentanin (2004, p. 55).<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Para Barbará (2006), cada vez mais Gestão por Processos está se tornando requisito<br />

fundamental na utilização de sistemas de gestão organizacional, como,<br />

por exemplo, as normas ISO 1 (9001 e 9004), já que é:<br />

a) Ferramenta eficaz na busca pela satisfação dos clientes e do aperfeiçoamento<br />

contínuo do sistema de gestão da qualidade;<br />

b) Auxilia e facilita o planejamento, organização, liderança e o controle de<br />

tudo o que é feito na organização;<br />

c) Facilitam a comunicação e o trabalho em todos os setores da organização.<br />

Para Gonçalves (2000), são 5 as etapas de transição para a organização por processos:<br />

a) A primeira etapa é aquela onde as empresas nem sequer se deram conta da<br />

existência dos processos de negócios.<br />

b) Na segunda nota-se que a empresa já reconhece a existência de processos,<br />

mas, entretanto, estes são enquadrados na estrutura ainda funcional.<br />

c) A terceira etapa demonstra que a empresa conhece bem seus processos,<br />

mas, ainda, raciocinam por funções.<br />

d) Na penúltima e quarta etapa a empresa reconhece seus processos essenciais<br />

e, sendo assim, definem gestores para estes processos.<br />

e) Na quinta etapa a organização colhe mais amplamente os benefícios da<br />

orientação por processos; o desempenho dos gestores de processos é atrelado<br />

às metas, sendo que estas contribuem para um todo.<br />

Para Caulliraux et al. (2007), orientar as empresas por processos permite um<br />

aumento significativo de produtividade e diminuição dos ciclos de tempo para<br />

criação e adaptação de um processo, embora sejam necessárias mudanças significativas<br />

nas práticas de gestão, principalmente na cultura das organizações.<br />

Na verdade ao se pesquisar grande parte do que foi escrito sobre o assunto,<br />

não seria indicado orientar totalmente as empresas por processos (horizontal) ou<br />

por funções (vertical), afinal as organizações estariam expostas mais intensamente<br />

as desvantagens apresentadas por cada modelo. Portanto, a saída mais utilizada<br />

atualmente é a utilização em conjunto de ambas as orientações, aproveitando o<br />

que de melhor há em ambas.<br />

1 As primeiras normas ISO foram criadas em 1987 pela International Organization for Standardization. No Brasil<br />

as normas ISO são representadas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

79


2 BPM – Business Process Management<br />

Face ao cenário competitivo as organizações são obrigadas a buscar novas ferramentas,<br />

novos modelos de gestão para acompanhar a velocidade e atingir os<br />

resultados esperados, bem como superar as expectativas dos seus clientes.<br />

Neste cenário, surge o Business Process Management (BPM) ou Gerenciamento<br />

de Processos de Negócios, cujo conceito de gestão de negócios, envolve também<br />

a tecnologia da informação, a qual visa melhoria dos processos organizacionais.<br />

Este tópico aborda a definição, origem, a solução, os riscos na implantação,<br />

bem como as tendências e desafios do BPM (Business Process Management – Gerenciamento<br />

de Processos de Negócios).<br />

80<br />

Cruz (2008, p. 90), fornece definição completa sobre BPM:<br />

BPM é um conjunto formado por tecnologias para possibilitar que processos de negócios<br />

integrem, lógica e cronologicamente, clientes, fornecedores, parceiros, influenciadores,<br />

empregados e todo e qualquer elemento que com eles possam, queiram ou<br />

tenham que interagir, dando ao ambiente interno e externo da organização uma visão<br />

completa e essencialmente integrada das operações e atuações de cada participante<br />

de todos os processos de negócio.<br />

Portanto, Business Process Management oferece as ferramentas necessárias ao<br />

gerenciamento dos processos de negócios.<br />

Para posicionar a solução BPM (Business Process Management), no contexto revoluções<br />

tecnológicas, lembra-se Toffler (1997), que, méritos a parte, condensou<br />

a civilização em apenas três partes; cada parte é denominada como “onda”. A primeira<br />

onda é a fase agrícola (8000 a. C. a 1650-1750), a segunda é a fase industrial<br />

(revolução industrial) e a terceira onda (a que vivemos hoje) é a fase que utiliza em<br />

larga escala o computador. Todas as ondas não são excludentes, mas sim complementares,<br />

haja vista que no ápice de uma onda, surge outra onda, até que ambas<br />

invertam suas posições, mas cada qual utilizando alguns elementos da outra.<br />

Não por acaso, De Sordi (2008) cita que os processos de negócio são ativos de<br />

uma organização que, se bem administrados, podem até gerar novos negócios. A<br />

melhoria contínua dos processos gera conhecimento aplicável não apenas na organização<br />

que promove tal programa, mas pode ser utilizada também em outras<br />

empresas, via serviços de consultoria.<br />

Isso explica o fato de empresas darem origem a outras empresas via melhoria<br />

contínua de processos. O conhecimento acumulado se transforma em produto<br />

comercializável que, lançado no mercado, pode encontrar ou não demanda. É o<br />

caso de algumas empresas automobilísticas norte-americanas que, recentemente,<br />

alcançaram competência nas vendas de veículos, via pacotes individuais de finan-<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


ciamento. Esse conhecimento foi lançado no mercado e tem como clientes empresas<br />

do setor imobiliário.<br />

No âmbito das organizações empresariais, o gerenciamento de processos de negócios,<br />

aqui tratado apenas como BPM, proporciona condições para que o conhecimento<br />

criado seja devidamente organizado, afinal, conforme Drücker (1993), o poder de uma<br />

organização se concentra muito mais em seus ativos intelectuais.<br />

Certamente a solução BPM não viabiliza apenas novos negócios. Baldam et al.<br />

(2007) afirmam que várias pesquisas apontam BPM como o principal recurso utilizado<br />

pelas empresas no enfrentamento de problemas organizacionais. Seria impreciso<br />

apontarmos apenas um motivo pelo qual se utiliza BPM diante de um cenário tão<br />

complexo como o atual.<br />

A solução BPM, contempla quatro etapas em seu ciclo, conforme mostra a Figura 2.<br />

Etapa 1 - Planejar o BPM<br />

Esta etapa, visa definir as atividades de BPM para realização das metas organizacionais:<br />

• Conhecer e entender os ambientes interno e externo, bem como a estratégia<br />

da empresa;<br />

• Definir estratégia, objetivos e abordagem para promover mudanças;<br />

• Determinar quais os planos de ação para implantação;<br />

• Formar as equipes de trabalho para implantação;<br />

• Planejar e controlar as atividades necessárias à implantação.<br />

Etapa 2 - Modelar e otimizar processos<br />

Esta etapa, contempla as atividades geram informações sobre o processo atual:<br />

• Ajustar os processos atuais;<br />

• Modelar os processos futuros;<br />

• Realimentar o planejamento do BPM.<br />

Etapa 3 - Apoiar a implantação dos processos<br />

Esta etapa visa garantir a implantação e execução dos processos.<br />

• Garantir os ajustes necessários dos equipamentos e softwares necessários para<br />

a implantação;<br />

• Gerar testes (homologação);<br />

• Implantar e apoiar os planos de transferência de tecnologia se necessário.<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

81


Melhores<br />

práticas e<br />

benchmarking<br />

82<br />

Diretrizes e<br />

Especicações<br />

Modelagem e Optimização dos Processos<br />

• Modelagem<br />

• Análise do Processo<br />

• Simulação<br />

• Melhoria Contínua<br />

• Redesenho e Reengenharia<br />

Conguração,<br />

Customização e<br />

Especicação<br />

Fonte: Badam et al. (2007, p. 56).<br />

Figura 2 - Ciclo de vida BPM<br />

Ambiente Externo, Planejamento Estratégico,<br />

Marcos Regulatórios, Responsabilidade<br />

Social, Ameaças e Oportunidades<br />

Planejamento BPM<br />

• Seleção de processos críticos<br />

• Alinhamento de processos<br />

à estratégia<br />

Realimentação<br />

Realimentação<br />

Execução de Processos<br />

• Implantação de novos processos<br />

• Execução de processos existentes<br />

• Monitoramento e controle de<br />

instâncias de processos<br />

Etapa 4 - Apoiar o controle e análise de processos<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010<br />

Realimentação<br />

Controle e Análise de Dados<br />

• Estatísticas<br />

• Sistemas de Controle<br />

• Controle de instâncias de processos<br />

Relatórios<br />

gerenciais<br />

Dados para<br />

estratégia<br />

Esta etapa refere-se ao controle geral do processo, como:<br />

• Registrar o desempenho dos processos ao longo do tempo;<br />

• Fornecer dados de realimentação ao planejamento e à modelagem e otimização<br />

de processo;<br />

• Realizar auditorias do processo em uso.<br />

Paim et al. (2009), defendem que, por sua natureza sistêmica, processos se relacionam<br />

fortemente com estratégia, estrutura organizacional, desempenho, conhecimentos<br />

e informações, competências individuais, tecnologia e cultura organizacional que,<br />

neste caso, serviria como um pano de fundo entre estes elementos e processos. Este<br />

relacionamento está representado na Figura 3.<br />

Na Figura 3 percebe-se que todos os elementos estão estritamente ligados entre<br />

si, seja direta ou indiretamente. A cultura da organização aparece na figura como base<br />

para todos os demais elementos. Cabe lembrar que outros elementos poderiam ser<br />

citados, mas não foram, pois o foco da figura é em gestão de processos, embora outros<br />

temas, como gestão da cadeia de suprimentos e logística, planejamento e controle da<br />

produção etc, devem ser considerados quando da gestão de processos.


Fonte: Paim et al. (2009, p. 52).<br />

2.1 Riscos<br />

Figura 3 - Elementos Conceituais e Processos<br />

Segundo Ferreira (1998, p. 483), risco significa “possibilidade de perigo, incerto, mas<br />

previsível, que ameaça de dano à pessoa ou coisa”. Outras definições de risco apresentam<br />

sempre dois elementos comuns: incerteza e magnitude.<br />

Em resumo, um risco é tudo aquilo que possa deparar no caminho o qual é<br />

desconhecido, arriscado e duvidoso, cuja probabilidade seja de ocorrer um acontecimento<br />

desfavorável.<br />

Existem vários tipos de riscos e com vários propósitos, como: risco financeiro, risco<br />

de mercado, risco legal, risco de projeto, risco operacional etc. Além disso, os riscos<br />

podem ser classificados como direto (risco sobre o qual o projeto tem um alto grau de<br />

controle) e indireto (risco sobre o qual o projeto tem pouco ou nenhum controle).<br />

2.2 Minimizando Riscos na Implantação de BPM<br />

A busca pela mudança revela que a organização percebeu a sua falta de ajustamento<br />

com o meio no qual atua, expressado na razão entre custo versus benefício. Mas<br />

apenas perceber não basta, afinal é no processo de mudança que se concentra o ponto<br />

de maior atenção para todos os projetos, inclusive os que comandam mudanças organizacionais,<br />

que é o caso da orientação por processos. O processo de mudança requer<br />

atenção e cuidado, haja vista envolver uma variável de difícil controle: as pessoas.<br />

A mudança organizacional orientada a processos se concentra basicamente na<br />

cultura da organização, pois a estrutura de poder será partida, ou seja, os recursos,<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

83


neste caso pessoas, inicialmente alocados funcionalmente e com hierarquia muito<br />

bem definida, responderão a dois chefes, sendo que um é o tradicional e o outro é<br />

o “dono do processo”. Portanto, este ponto é o que pode gerar resistência tal que<br />

dificulte a mudança citada.<br />

Considerando que as organizações são formadas por pessoas, não seria de se<br />

espantar que o grande segredo do sucesso dos projetos de mudanças organizacionais<br />

seriam as mesmas, mas, entretanto, talvez isso não seja tão óbvio para a<br />

grande maioria dos gestores.<br />

Baldam et al. (2007, p. 52) fornecem uma breve lista dos fatores decisivos para<br />

o sucesso da implantação do BPM nas organizações:<br />

84<br />

a) Apoio da alta direção, incluindo a presidência e alto escalão;<br />

b) Alinhamento das iniciativas de BPM à estratégia da organização;<br />

c) Gerente de BPM com experiência e competências necessárias;<br />

d) Uma estrutura de orientação ao BPM que seja clara e objetiva, que inclui o Manual<br />

de Processos;<br />

e) Estratégias para tratar a gestão da mudança;<br />

f ) Capacitação de pessoas envolvidas;<br />

g) Conclusão de projetos de processos que devem ser iniciados e finalizados não<br />

deixando a percepção de que não adiantou o esforço aplicado;<br />

h) Percepção de que nenhum processo é estático. Uma companhia para continuar<br />

bem sucedida deve ter habilidade para montar, desmontar e remontar suas atividades,<br />

adaptando-se às diversas mudanças de mercados e ambientais;<br />

i) Ter um desempenho sustentável, com trabalho continuado e sem paradas que<br />

caracterizem o trabalho como sendo pontual e eventual;<br />

j) Montar, de preferência com dados concretos, os benefícios alcançados, a agregação<br />

do valor alcançada, o alinhamento à estratégia obtido etc.<br />

Para Brasington (2008), o sucesso na implantação da solução BPM se resume<br />

em cinco etapas não tão fáceis assim de serem superadas: não prometa o que não<br />

poderá ser realizado, não subestime a complexidade, tempo e os custos envolvidos;<br />

planeje as mudanças e crie o hábito constante de revisitar este plano, faça<br />

medições constantes com o objetivo de verificar se os objetivos serão cumpridos;<br />

garanta um patrocinador forte e/ou coligações estratégicas, caso contrário nem<br />

comece a planejar; identifique e gerencie devidamente os stakeholders à implan-<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


tação; compreenda como os processos atuais são executados (como a empresa<br />

se encontra), isso irá colaborar na escolha dos novos caminhos (onde a empresa<br />

desejar estar).<br />

É necessário alinhar expectativas de todos os envolvidos; neste contexto a comunicação<br />

se revela como um trunfo na condução das mudanças.<br />

Mas tão importante quanto implantar, sem dúvidas, manter a cultura de BPM<br />

nas organizações é o grande desafio. Conforme terceira pesquisa publicada pelo<br />

ELO Group (2010), parte das empresas tem a consciência de que podem conseguir<br />

diversos resultados significativos com iniciativas em BPM, apesar da existência de<br />

barreiras a serem superadas na concretização desses resultados.<br />

2.3 Tendências e desafios em BPM<br />

Para Paim et al. (2009), cada vez mais as organizações estarão considerando<br />

business processes como via inevitável à sobrevivência, haja vista a sua grande aderência<br />

ao cenário mercadológico atual. Portanto, existe a tendência pela intensificação<br />

de estudos acadêmicos nesta área, bem como organizações interessadas<br />

em gerir da melhor forma seus processos.<br />

Na coletânea de artigos publicada pelo ELO Group, é revelada a tendência de<br />

que uma quantidade maior de empresas adote iniciativas em BPM não apenas<br />

para proporcionar eficiência e qualidade, mas também para aumentar a visibilidade<br />

para a tomada de decisão, atendimento a regulamentações, desenvolvimento<br />

do clima organizacional, ganhos de flexibilidade e promoção da inovação.<br />

O aumento da complexidade das organizações, em resposta às exigências do<br />

mercado, fez com que os holofotes se voltassem em direção à gestão dos riscos,<br />

afinal não basta conhecerem os processos críticos que entregam valor ao cliente,<br />

a necessidade é saber quais os riscos envolvidos na execução desses processos.<br />

Iniciativas em BPM fornecem insumos importantes para a gestão de riscos, ou seja,<br />

conhecer riscos relacionados ao não atendimento de uma regulamentação, conhecer<br />

os riscos relacionados em não atender a expectativa do cliente.<br />

3 Discussão<br />

A abordagem BPM (Business Process Management), envolve gestão de negócios e<br />

tecnologia da informação, voltado para a melhoria dos processos, portanto, envolve<br />

toda a organização, ou seja: é necessário identificar, conhecer e documentar passo a<br />

passo as atividades, bem como os recursos utilizados nos processos. Este conceito vem<br />

ao encontro dos variados conceitos de administração. Por exemplo, segundo Kwasnicka<br />

(1990, p. 17):<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

85


86<br />

São muitas as razões pelas quais se inicia um negócio: a independência, a utilização<br />

de uma boa ideia, a projeção social, o poder, o desafio. Para que esses objetivos sejam<br />

atingidos há necessidade de uma inter-relação intensa entre os membros do grupo<br />

que esta no negócio e uma direção de trabalho oferecida pela forma como o negócio<br />

esta sendo conduzido.<br />

Isso significa que a administração e a abordagem BPM, caminham juntas, visando<br />

sempre o mesmo objetivo, o qual o grande desafio é a melhoria contínua. Ou seja: envolve<br />

processos aos quais contemplam:<br />

a) Planejamento, que consiste em tomar decisões sobre objetivos e recursos necessários<br />

para realizá-los;<br />

b) Organização, que consiste em tomar decisões sobre a divisão de autoridade e<br />

responsabilidade entre pessoas e sobre a divisão de recursos para realizar tarefas<br />

e objetivos;<br />

c) Direção que compreende as decisões que acionam recursos, especialmente pessoas,<br />

para realizar tarefas e alcançar objetivos;<br />

d) Controle, que consiste em tomar decisões e agir para assegurar a região dos objetivos.<br />

[...] (MAXIMIANO, 2000, p. 26).<br />

Neste sentido, o conceito de BPM, envolve também outro conceito, isto é: a administração<br />

é processo que consiste em tomar decisões sobre objetivos e recursos. Além<br />

disso, envolve diretamente o conceito de processo.<br />

Portanto, a abordagem BPM é uma forma organizada de administrar um determinado<br />

negócio, visando atingir seus objetivos. Contudo, para a implantação dessa abordagem<br />

nas empresas, é necessário seguir alguns passos que são fundamentais para o<br />

sucesso e eficácia da utilização cujas características são:<br />

a) Mapear os processos: Este item abrange a documentação das atividades que a<br />

empresa quer mapear.<br />

b) Modelagem de processos: Para modelar os processos, é necessário que as pessoas<br />

que executam as atividades sejam ouvidas e que o processo atual seja<br />

mostrado passo a passo, pois é esta descrição que irá gerar um processo dentro<br />

da abordagem BPM. Neste momento, é possível observar falhas no processo e<br />

corrigi-las antes da implantação do BPM, bem como discutir as oportunidades<br />

de melhorias;<br />

c) Simulação: É necessário simular as situações atuais e futuras, para facilitar<br />

a identificar as possíveis falhas e posteriormente corrigi-las, antes de entrar<br />

em produção.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


d) Automação: Este item é o que muito se espera na implantação de uma nova<br />

abordagem ou ferramenta de trabalho, contudo, é necessário que seja algo flexível,<br />

porque se precisar de alguma intervenção humana, não venha impactar<br />

após a implantação.<br />

e) Monitorar: Mesmo após a implantação é importante monitorar para que todos<br />

tenham certeza de que tudo está sendo feito, conforme planejado, executado,<br />

organizado e decidido.<br />

f) Governança: Garantir que os processos estejam alinhados com os objetivos<br />

de empresa.<br />

Paim et al. (2009), citam o resultado de entrevista realizada nas organizações para<br />

a identificação das dificuldades na implantação da gestão de processos. Em suma, os<br />

entrevistados apontam que: barreiras culturais, baixa prioridade para gestão de processos,<br />

alta complexidade para gerir os processos, práticas de gestão de processos de fora<br />

para dentro, barreiras para a implantação de novos processos, foco em resultados de<br />

curto prazo, e barreiras para a integração de processos entre organizações são os principais<br />

motivos para desestimular iniciativas na implantação da gestão de processos.<br />

Considerações Finais<br />

A Gestão de Processos de Negócio ou BPM (Business Process Management), como<br />

é possível verificar, apresenta uma visão integrada dos processos. Neste sentido, procura-se<br />

aumentar a eficiência e os resultados dos negócios das empresas, cuja solução<br />

aponta para o gerenciamento de processos.<br />

Dessa forma, foi possível conhecer e evidenciar o problema do referido trabalho que<br />

é: Quais os critérios a serem considerados para mitigar riscos na implantação da solução<br />

BPM, nas organizações que desejam a sobrevivência ou até conquistar maiores fatias<br />

do mercado em que atuam.<br />

Para mitigar os riscos na implantação da solução BPM, pode-se citar alguns critérios.<br />

São eles:<br />

a) O empenho da alta direção e a definição de um patrocinador para o projeto.<br />

b) Uma visão clara dos benefícios desejados.<br />

c) Mapear processos: incluindo toda a documentação das atividades que a empresa<br />

quer mapear.<br />

d) Simular processos: É necessário simular as situações, pois através desta ação é<br />

possível identificar possíveis falhas e corrigi-las antes de entrar, antes de entrar<br />

em produção.<br />

Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

87


88<br />

e) Monitorar: Mesmo após a implantação é importante monitorar para que todos<br />

tenham certeza de que tudo está sendo feito, conforme planejado, executado,<br />

organizado e decidido.<br />

f) Riscos: Análise de riscos, bem como o seu gerenciamento.<br />

g) Planejamento: Planejamento detalhado dos esforços e recursos necessários<br />

para implantação do projeto.<br />

h) Treinamento e conscientização: Treinar e conscientizar os funcionários em conceitos<br />

e técnicas de gestão de processos.<br />

i) Manutenção: Criação de estrutura para governança dos novos processos,<br />

visando garantir a manutenção alinhando os esforços de BPM com os objetivos<br />

da empresa.<br />

O artigo tratou apenas de um “alfinete” neste “celeiro” de desafios apresentados ao<br />

Escritório de Processos: reduzir riscos na implantação de BPM nas organizações. Espera-<br />

-se que esse trabalho sirva de inspiração para o surgimento de outros e que contribua<br />

para a construção de conhecimentos sólidos e eficazes nessa área de estudo.<br />

Referências<br />

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São Paulo: Érica, 2007.<br />

BARBARÁ, Saulo. Gestão por Processos: Fundamentos, Técnicas e Modelos de Implementação.<br />

Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.<br />

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BRASINGTON, Bill. Implementing Business Process Management: Five Not-So-Easy Pieces.<br />

Infonomics: Nov-Dec, 2008.<br />

CAULLIRAUX, Heitor M. et al. A importância das tarefas para a gestão de processos. XXVII<br />

ENEGEP. Paraná: 2007.<br />

CRUZ, Tadeu. BPM & BPMS: Business Process Management & Business Process Management<br />

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de informação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.<br />

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DE SORDI, José Osvaldo. Gestão por processos uma abordagem da moderna administração.<br />

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DRÜCKER, P. F. Sociedade pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 1993.<br />

ELO Group. Coletânea ELO Group de ideias e tendências em BPM 2009. Rio de Janeiro: ELO<br />

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FERREIRA, Antonio Ademir – Gestão empresarial de Taylor aos nossos dias. São Paulo: Pioneira,<br />

1998.<br />

GONÇALVES, José Ernesto Lima. As empresas são grandes coleções de processos. RAE –<br />

<strong>Revista</strong> de Administração de Empresas. São Paulo, v. 40, n.1, 2000.<br />

__________. Os novos desafios da empresa do futuro. RAE – <strong>Revista</strong> de Administração de<br />

Empresas. São Paulo, v. 37, n.3, 1997.<br />

HAMMER, Michel. A empresa voltada para processos. Entrevista concedida à <strong>Revista</strong> HSM<br />

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KWASNICKA, Eunice L. Teoria Geral da Administração. 2. ed. São Paulo: Atlas 1990.<br />

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Minimizando riscos na implantação de BPM (Business Process Management), Marcos Briaga, p. 75-89<br />

89


90<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


Orientações para os autores e para a<br />

elaboração de artigos científicos<br />

1) Foco da <strong>Revista</strong><br />

A <strong>Revista</strong> <strong>Estratégica</strong> publica semestralmente artigos inéditos nas áreas de Estratégia,<br />

Administração, Gestão e temas afins, em português, espanhol e inglês, de<br />

autores brasileiros e do exterior e que foram devidamente aprovados pelo Conselho<br />

Editorial da <strong>Revista</strong>. Excepcionalmente, publica também artigos não inéditos,<br />

mas ainda não divulgados em português ou espanhol, e que a <strong>Revista</strong> considere<br />

importante para publicação nestas línguas, modificados ou não, conforme avaliação<br />

dos editores ou de membros do Conselho Editorial. Os artigos devem conter:<br />

resumo, abstract (e respectivas palavras-chave), introdução, desenvolvimento,<br />

considerações finais e referências. A escrita deve ser acessível ao público em geral.<br />

2) Formato dos Originais<br />

Os textos devem ser submetidos no formato de arquivo eletrônico, enviados<br />

por e-mail, no programa Word, em Fonte Arial, tamanho 10. Considerando os gráficos<br />

e tabelas, cada artigo deve conter de 8 a 25 páginas, tamanho A4, com espaço<br />

1,5 entre linhas. As tabelas e gráficos não preparados originalmente pelo autor<br />

e retirados de outras fontes não poderão ser colocados no artigo no formato de<br />

figuras, necessitando ser refeitos, e sempre escritos no mesmo idioma do texto em<br />

que estão inseridos.<br />

3) Remessa de Originais<br />

Para o e-mail estrategica@faap.br. Além do arquivo em Word deverão ser encaminhados<br />

os demais arquivos contendo gráficos e tabelas, a fim de facilitar a<br />

edição do artigo.<br />

4) Avaliação de Originais<br />

Os artigos serão submetidos aos pareceristas do Conselho Editorial, cujos nomes<br />

não serão informados aos autores.<br />

5) Exemplares para os autores<br />

Os autores recebem 3 (três) exemplares da revista.<br />

91


6) Assinaturas<br />

Informações sobre assinatura ou permuta da revista poderão ser obtidas pelo<br />

e-mail estrategica@faap.br<br />

7) Cabeçalho do Artigo<br />

92<br />

Título do artigo (fonte Arial, tamanho 20, negrito).<br />

Nome do autor (fonte Arial, tamanho 12, negrito).<br />

Indicar um breve currículo (até 6 linhas) indicando a titulação acadêmica, a<br />

ocupação atual e o e-mail para contato no rodapé da primeira página. Utilizar fonte<br />

Arial, tamanho 8.<br />

Cidade, UF, data completa (dia, mês e ano).<br />

8) Resumo<br />

Preferencialmente em uma única frase, apresentar o tema e o contexto em que<br />

o tema se encontra. Escrever sobre:<br />

• O que foi a pesquisa, o problema, as hipóteses, os objetivos.<br />

• Descrição do método adotado, ou seja, onde os dados foram coletados (local<br />

específico) e como (que instrumento foi utilizado para coletar os dados),<br />

quem são os dados (classe de pessoas) ou o que (classe de objetos, fenômenos<br />

naturais, conceitos extraídos de textos) e o tamanho da amostra<br />

em números ou percentuais, e informar o referencial teórico que norteou a<br />

análise dos dados.<br />

• Resultados encontrados.<br />

• Conclusão da pesquisa.<br />

Palavras-chave: apresentar de 3 a 5 palavras, separadas por “.” (ponto).<br />

Formatação: sem margem, com fonte Arial, tamanho 10 e espaçamento simples.<br />

9) Abstract<br />

Tradução do resumo para o inglês, inclusive com as palavras-chave.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


10) Introdução<br />

Apresentar a pesquisa, contemplando os seguintes aspectos:<br />

a) Explicar por que foi escolhido o tema e apresentá-lo em determinado contexto<br />

(época, lugar) onde está inserido.<br />

b) Descrever o problema da pesquisa.<br />

c) Apresentar o(s) objetivo(s) que se espera atingir por meio da realização da<br />

pesquisa.<br />

d) Apresentar a(s) hipótese(s) que será(ão) confrontada(s) com os dados colhidos<br />

pela pesquisa.<br />

e) Fazer citações de trabalhos realizados por outros autores (conceitos, dados<br />

estatísticos gerados por outros pesquisadores, teorias). Tais citações devem<br />

ter conexão com o tema da pesquisa.<br />

11) Desenvolvimento<br />

Criar subtítulos do tipo: método adotado (descrever o método que foi adotado<br />

par atingir o objetivo da pesquisa).<br />

Informar em que região geográfica foi realizada a pesquisa, no caso de pesquisa<br />

de campo. Para uma pesquisa puramente bibliográfica, deve ser informado<br />

o que foi feito, a fim de elucidar questões que diversos teóricos tenham pensado<br />

sobre o tema. Descrever o período de tempo dedicado à coleta de dados e apresentar<br />

a amostra (participantes) que selecionou.<br />

Apresentar os dados que coletou, lembrando que um conceito expresso por<br />

algum teórico ou um pensamento colhido durante uma entrevista, são dados. Informar<br />

qual foi “a referência teórica” adotada para realizar a análise dos dados.<br />

Elaborar um debate entre uma amostra de pensamentos produzidos por teóricos<br />

(revisão de literatura, de onde retirou citações e os dados que colheu em<br />

determinada realidade).<br />

Uma pesquisa puramente bibliográfica indica que os dados são “conceitos” colhidos<br />

na literatura que serão igualmente comparados, de acordo com “o problema”<br />

da investigação.<br />

93


12) Conclusão<br />

Apresentar as descobertas de maneira lógica (ou seja, isso é consequência daquilo;<br />

isso causou aquilo), com vocabulário claro e conciso.<br />

Deve estar fundamentada nos resultados e na discussão anteriormente abordadas.<br />

Oferecer respostas sobre o problema investigado; informar se cada objetivo<br />

foi alcançado; se elaborou hipóteses, informar quais foram confirmadas e quais<br />

foram infirmadas (negativadas).<br />

Convém informar sobre as limitações encontradas e com as quais não foi possível<br />

lidar, entretanto, poderiam ser exploradas por outros pesquisadores, por outros<br />

trabalhos. Nenhuma citação de outros autores deve ser feita na fase de conclusão.<br />

A conclusão é do autor da pesquisa.<br />

13) Referências<br />

Devem aparecer pelo sobrenome do autor em ordem alfabética, seguido do restante<br />

do nome e não devem ser numeradas. Devem obedecer as normas da ABNT.<br />

94<br />

Todas as Referências citadas no texto devem constar ao final, na seção Referências.<br />

O título das obras usadas como Referências (das quais foram extraídas as citações)<br />

devem estar destacadas em negrito.<br />

14) Apêndices / Anexos<br />

Devem vir ao final do trabalho. Vale salientar que os apêndices e os anexos, ao<br />

serem inseridos, não são contados como páginas.<br />

AVISO IMPORTANTE<br />

A responsabilidade dos artigos publicados é dos autores,<br />

não expressando qualquer opinião ou posicionamento da revista.<br />

<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010


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<strong>Estratégica</strong>, <strong>vol.10</strong>(02), dezembro.2010

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