Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...
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patrão é bom, então, não há a relação <strong>de</strong> que este cumpriu suas obrigações<br />
legais e sim <strong>de</strong> que é uma pessoa boa e que t<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração pelos<br />
subordinados. Mesmo que a pessoa “superior” hierarquicamente não tenha a<br />
menor intenção <strong>de</strong> usar sua posição, muitas vezes as pessoas que se<br />
beneficiaram assim o faz<strong>em</strong>. Isto faz l<strong>em</strong>brar o papel que cumpriu o<br />
coor<strong>de</strong>nador do IDACO quando era diretor regional do INCRA, como po<strong>de</strong> ser<br />
analisado a partir <strong>de</strong> uma entrevista realizada com um dos técnicos do IDACO.<br />
“Ele é muito conhecido nessa região [referência a alguns assentamentos on<strong>de</strong><br />
o IDACO atua] justamente por isso, na cabeça dos agricultores foi ele que <strong>de</strong>u<br />
o título da terra para eles, então há uma relação muito forte nisso aí”<br />
(Entrevistas, 2001).<br />
Deste modo, a pessoa, mais do que a instituição ficou guardada e é<br />
valorizada na m<strong>em</strong>ória dos assentados beneficiados.<br />
A expressão “Você sabe com qu<strong>em</strong> está falando” é socialmente<br />
estabelecida e não é, portanto, um modismo passageiro. Utilizada <strong>em</strong><br />
diferentes esferas sociais, tanto entre pessoas <strong>de</strong> níveis sócio-econômicos<br />
diferentes, para realçar e <strong>de</strong>marcar esta diferença, como entre pessoas <strong>de</strong><br />
posição sócio-econômica iguais, para <strong>de</strong>limitar outros fatores que as<br />
diferenciam. Assim, a expressão é s<strong>em</strong>pre utilizada para <strong>de</strong>marcar diferenças<br />
pressupondo-se que possa haver um dominante e um dominado.<br />
Aquele que utiliza esta expressão possui s<strong>em</strong>pre uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social<br />
que, a seu ver, o faz superior ao outro. Esta i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> fica anônima enquanto<br />
o seu <strong>de</strong>tentor achar que ela não precisa ser utilizada mas, logo que este se<br />
sinta <strong>de</strong> alguma maneira afrontado por alguém que consi<strong>de</strong>re inferior, a<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> sai do anonimato e torna-se instrumento <strong>de</strong> dominação. A saída do<br />
anonimato com a apresentação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que possa trazer algum tipo<br />
<strong>de</strong> vantag<strong>em</strong>, é característica <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s que conviv<strong>em</strong> com o sist<strong>em</strong>a<br />
igualitário e hierarquizado ao mesmo t<strong>em</strong>po e on<strong>de</strong> as várias i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />
sociais, po<strong>de</strong>m ser utilizadas conforme a conveniência <strong>de</strong> cada situação. Isto<br />
não po<strong>de</strong>ria acontecer numa socieda<strong>de</strong> tribal, holística, on<strong>de</strong> a pessoa existe<br />
pelas suas relações sociais na totalida<strong>de</strong>, se for expulsa <strong>de</strong> sua tribo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />
ser pessoa pois apenas as relações sociais importam, e não o indivíduo.<br />
A saída do anonimato e utilização da(s) i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>(s) que po<strong>de</strong>m<br />
realmente pertencer a qu<strong>em</strong> as apresenta, ou tomadas <strong>de</strong> <strong>em</strong>préstimo <strong>de</strong><br />
alguém correlacionado, r<strong>em</strong>ete DAMATTA (1990) a uma outra observação; a<br />
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