Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...
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“Vínculos <strong>de</strong> conciliação entre oligarquias urbanas e rurais, entre segmentos<br />
conservadores e progressistas da burguesia brasileira têm sido, por vezes,<br />
colocados <strong>em</strong> risco, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1930,nunca rompidos” (i<strong>de</strong>m, 1999:226).<br />
Este autor concorda com outros estudos que consi<strong>de</strong>ram que o pano<br />
<strong>de</strong> fundo cultural brasileiro foi “profundamente marcado e fort<strong>em</strong>ente moldado<br />
por valores hierárquicos” (i<strong>de</strong>m, 1999:226). Tais valores são compreendidos<br />
como aqueles que moldam,<br />
“expectativas e os comportamentos <strong>de</strong> que a humanida<strong>de</strong> não é naturalmente<br />
igual e composta <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mas, ao contrário, as<br />
pessoas são diferentes e ocupam, naturalmente, níveis diferentes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e<br />
relevância social” (i<strong>de</strong>m, 1999:227).<br />
O Brasil seria, portanto, uma socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o valor tradicional <strong>de</strong><br />
hierarquia e o valor mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> estariam presentes, mas <strong>em</strong> doses<br />
diferentes, prevalecendo a dimensão hierárquica.<br />
Para SOARES (1999), a abertura para o mercado capitalista exige a<br />
presença <strong>de</strong> valores culturais individualistas e estes estão se ampliando para<br />
além do aspecto do <strong>em</strong>preendimento econômico. As relações sociais e <strong>de</strong><br />
trabalho que antes eram regidas pela hierarquia estão tomando um caminho<br />
que n<strong>em</strong> é o do individualismo e igualda<strong>de</strong> da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> (como tipo i<strong>de</strong>al),<br />
n<strong>em</strong> é mais o da hierarquia (que, na sua forma pura, exige responsabilida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>veres <strong>de</strong> ambas as partes), caracterizando, assim, especificida<strong>de</strong>s do<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro.<br />
“A complexida<strong>de</strong> mostra seus múltiplos e integrantes lados, interfaces e<br />
dinâmicas quando observamos o entrosamento entre hierarquia e<br />
individualismo num contexto <strong>de</strong> tendências híbridas e <strong>de</strong> um arcabouço<br />
sociológico ambivalente” (i<strong>de</strong>m, 1999:229) .<br />
Para Soares, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> não está eliminando as relações <strong>de</strong><br />
hierarquia, mas está permitindo que a hierarquia seja vista apenas como uma<br />
relação <strong>de</strong> dominação.<br />
“O que falta hoje, graças à erosão imposta à hierarquia pela mesclag<strong>em</strong> com o<br />
igualitarismo, é o <strong>de</strong>ver da responsabilida<strong>de</strong>, da proteção e do cuidado. (...) A<br />
hierarquia, dadas as condições atuais <strong>de</strong> sua reprodução cultural, está<br />
reduzida a uma relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r unilateral e a um conjunto <strong>de</strong> símbolos,<br />
valores e práticas que se tornam simples instrumento i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> dominação<br />
social” (SOARES, 1999:231).<br />
Este autor consi<strong>de</strong>ra que o individualismo e a hierarquia, na sua forma<br />
híbrida estão sendo utilizados <strong>de</strong> forma instrumental pelas classes dominantes<br />
que <strong>de</strong>la se serv<strong>em</strong> para manter as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, enquanto que as massas<br />
perceb<strong>em</strong>, na duplicida<strong>de</strong>, uma forma <strong>de</strong> fracasso pessoal por não<br />
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