Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...
Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...
Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
cada hom<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entar encarna a “humanida<strong>de</strong> inteira” , a socieda<strong>de</strong> é o meio<br />
e a vida individual é o fim. DUMONT (1992), chama atenção para o paradoxo<br />
<strong>de</strong> que a idéia individualista cresceu a partir do século XVIII, com a divisão<br />
social do trabalho, ou seja, justamente quando os homens começaram a<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r cada vez mais uns dos outros, crescia também o individualismo.<br />
Desse modo, enquanto nas socieda<strong>de</strong>s mais simples “no plano <strong>de</strong> fato , elas<br />
justapunham particularida<strong>de</strong>s idênticas (solidarieda<strong>de</strong> mecânica) e, no plano do<br />
pensamento viam a totalida<strong>de</strong> coletiva; a socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, ao contrário, age<br />
<strong>em</strong> conjunto e pensa a partir do indivíduo” (i<strong>de</strong>m, 1992:59).<br />
Para compreen<strong>de</strong>r melhor o conceito <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> para as socieda<strong>de</strong>s<br />
mo<strong>de</strong>rnas, DUMONT (1992) faz referência ao estudo <strong>de</strong> Tocqueville sobre a<br />
<strong>de</strong>mocracia e o valor da igualda<strong>de</strong> na América, na França e na Inglaterra.<br />
Dumont consi<strong>de</strong>ra que Tocqueville i<strong>de</strong>ntificou com muita proprieda<strong>de</strong> as<br />
diferenças entre a socieda<strong>de</strong> tradicional, aristocrática da França pré-revolução<br />
e a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, pós-revolução. O caráter individualista originado<br />
com a igualda<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>mocracia, rompeu os elos das ligações e relações<br />
sociais mais amplas e o comprometimento com as gerações passadas e<br />
futuras. Cada indivíduo, cada cidadão predispôs a isolar-se com sua família e<br />
amigos, afastando-se da socieda<strong>de</strong> como um todo, cumprindo seus <strong>de</strong>veres<br />
para com os seus s<strong>em</strong>elhantes <strong>de</strong> forma clara, <strong>de</strong>finida e restrita às leis<br />
oficiais abstratas. Tocqueville diferencia individualismo do egoísmo afirmando<br />
que,<br />
”o individualismo é uma expressão recente que uma idéia nova faz nascer.<br />
Nossos pais só conheciam o egoísmo. O egoísmo é um amor apaixonado e<br />
exagerado por si mesmo que leva o hom<strong>em</strong> a relacionar tudo apenas a si e a<br />
se preferir a tudo. O individualismo é um sentimento refletido, pacífico que<br />
dispõe cada cidadão a se isolar da massa <strong>de</strong> seus s<strong>em</strong>elhantes e a se retirar à<br />
parte com sua família e seus amigos; <strong>de</strong> tal sorte que, tendo assim sido criada<br />
uma pequena socieda<strong>de</strong> para seu uso, ele abandona <strong>de</strong> bom grado a gran<strong>de</strong><br />
socieda<strong>de</strong>” (Tocqueville citado por DUMONT, 2000:65).<br />
O individualismo mo<strong>de</strong>rno foi contrastado, por Tocqueville, com o<br />
sist<strong>em</strong>a aristocrático francês, on<strong>de</strong> todos os cidadãos estavam colocados <strong>em</strong><br />
postos fixos acima ou abaixo uns dos outros e <strong>de</strong>sse modo faziam parte <strong>de</strong><br />
elos que ligavam gerações e camadas sociais, e on<strong>de</strong> o hom<strong>em</strong> cumpria, <strong>de</strong><br />
boa vonta<strong>de</strong>, seus <strong>de</strong>veres para com os outros. Neste contraste entre a França<br />
pré e pós-revolução, realizado por Tocqueville, está representada a<br />
diferenciação entre um mundo hierárquico e holístico, e um mundo igualitário e<br />
53