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Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...

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O plano legal também não se mostrava viável como base <strong>de</strong><br />

reivindicação e as barganhas <strong>de</strong> promessas eleitoreiras, existentes antes <strong>de</strong><br />

64, <strong>de</strong>sapareceram com a instauração do regime militar. Assim estes grupos,<br />

<strong>de</strong>samparados legalmente e s<strong>em</strong> a força dos trabalhadores organizados,<br />

encontraram na Igreja um forte aliado. Através do discurso da justiça,<br />

solidarieda<strong>de</strong> e dignida<strong>de</strong> a Igreja foi um forte aliado <strong>de</strong>stes movimentos<br />

sociais. Em seu estudo, SADER (1988) analisa grupos <strong>de</strong> mães que, <strong>em</strong>bora<br />

já existiss<strong>em</strong> até mesmo antes <strong>de</strong> 64, passaram a se reconhecer como agentes<br />

e sujeitos <strong>de</strong> suas mudanças a partir da década <strong>de</strong> 70. Estes grupos <strong>de</strong> mães,<br />

assistidos inicialmente por entida<strong>de</strong>s filantrópicas e caritativas, passaram a ter<br />

maior autonomia e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong>cisão a partir do momento <strong>em</strong><br />

que se libertaram da influência benévola das senhoras <strong>de</strong> fora da comunida<strong>de</strong>.<br />

A Igreja teve papel importante na autonomia <strong>de</strong>stes e <strong>de</strong> outros grupos.<br />

Autonomia, esta, que se fez não s<strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong>s, mas que transformou os<br />

grupos <strong>de</strong> receptores passivos <strong>de</strong> donativos e atenção caridosa <strong>em</strong> grupos<br />

ativos <strong>de</strong> discussão e conscientização da realida<strong>de</strong> e promotores <strong>de</strong> mudanças<br />

nas suas respectivas comunida<strong>de</strong>s. Ao analisar estudos <strong>de</strong> ações coletivas <strong>de</strong><br />

grupos favelados urbanos, BOSCHI (1987:46) ressalta a importância <strong>de</strong><br />

mediadores, entre os quais a Igreja t<strong>em</strong> papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque: “Invariavelmente a<br />

Igreja exercia papel fundamental no fornecimento <strong>de</strong> recursos materiais ou na<br />

organização <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> resistência ou protesto” .<br />

Com o apoio da Igreja e através <strong>de</strong> reflexões sobre a vida cotidiana das<br />

pessoas, os grupos sociais foram ganhando força para realizar mudanças<br />

pessoais e na comunida<strong>de</strong>.<br />

“Padres, freiras e leigos usavam o método Paulo Freire para aulas <strong>de</strong><br />

alfabetização, promoviam reuniões <strong>de</strong> casais <strong>em</strong> que chamavam a atenção<br />

para um novo sentido da existência humana, organizavam cursos<br />

profissionalizantes on<strong>de</strong> também opunham a necessária dignida<strong>de</strong> do<br />

trabalhador ao individualismo amoral da sociabilida<strong>de</strong> capitalista. Vinculavam,<br />

assim, o cristianismo à idéia <strong>de</strong> uma existência comprometida com a justiça<br />

social, com a solidarieda<strong>de</strong>, com a participação consciente na vida coletiva.<br />

Nesse sentido, a expansão dos clubes <strong>de</strong> mães é inseparável da expansão das<br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> base no mesmo período” (SADER, 1988:203).<br />

Foi a partir da reflexão <strong>de</strong> situações s<strong>em</strong>elhantes vividas pelas donas<br />

<strong>de</strong> casa que começaram a ser discutidas soluções, ações <strong>de</strong> reivindicação a<br />

órgãos públicos e ações coletivas para solucionar probl<strong>em</strong>as da comunida<strong>de</strong>.<br />

As lutas do dia-a-dia eram o aprendizado da cidadania, o modo pelo qual<br />

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