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sensorial e, portanto, poderiam ser estudadas pela análise científica materialista. A ideologia assim considerada, era um subcapítulo da zoologia. Quando Napoleão, alguns anos mais tarde entrou em conflito com Destutt de Tracy e seus companheiros, utilizou o termo “ideólogos” para classificá-los como homens que estão fora da realidade, invertendo, desse modo, completamente o sentido inicial do termo. Desse modo, “ideologia” que inicialmente remetia a aspectos concretos da biologia, transformou-se num conceito que remetia à metafísica, ao mundo abstrato e especulativo. Segundo LOWY (1985), este foi o sentido que permaneceu ligado à palavra e passou a entrar no uso corrente da linguagem. Segundo LOWY (1985), Marx resgatou o termo na primeira metade do século XIX e, utilizando a interpretação napoleônica, que remetia ao mundo abstrato das idéias, deu-lhe uma conotação pejorativa, relacionando-o a falsas idéias, e ilusões. Marx, em seu livro “A Ideologia Alemã”, utilizou o termo com significado de “ilusão, falsa idéia, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as idéias aparecem como motor da vida real” (LOWY, 1985:12). Mais tarde, Marx ampliou o significado do termo afirmando que os indivíduos tomam consciência da realidade por meio de formas ideológicas como a religião, filosofia e a moral, que representam os interesses da classe dominante. Para MARX e ENGELS (1989), as idéias dominantes eram resultantes dos interesses e condições materiais das classes dominantes e, enquanto as classes dominadas não tivessem consciência própria, não teriam como mudar sua situação de classe. “Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também uma consciência e, conseqüentemente pensam (...) como seres pensantes, como produtores de idéias, que regulamentam a produção e distribuição dos pensamentos da sua época; suas idéias são portanto as idéias dominantes de sua época” (idem, 1989:47). A ideologia era, assim, a forma encontrada pelas classes dominantes para impor suas idéias como sendo as únicas universalmente válidas. Para Marx, a alteração das idéias e valores dominantes ocorre quando uma nova classe, com outros interesses, passa a impor suas idéias à sociedade. Foi assim com as idéias e valores da aristocracia que, posteriormente, foram substituídos pelas idéias e valores da burguesia. 7

Continuando seu resgate histórico, LOWY (1985:12) afirma que Lênin utilizou o termo para se referir a “qualquer concepção da realidade social e política, vinculada a certas classes sociais”. Para Lênin, a ideologia deixa de ter o significado pejorativo atribuído por Marx e passa a designar diferentes doutrinas sociais ligadas às diferentes classes sociais. Assim, passa a haver mais de uma ideologia, a ideologia burguesa e a ideologia proletária, cada uma ligada às condições sócio-econômicas específicas. Devido a diferentes interpretações do conceito, LOWY (1985:13), afirma que Karl Mannheim vem apresentar , em seu livro “Ideologia e Utopia”, uma “ tentativa sociológica de pôr um pouco de ordem nessa confusão”. Neste livro, apresenta o termo ideologia e o termo utopia como fazendo parte de um mesmo fenômeno: a ideologia total. Tanto utopia como ideologia estão ligados a interesses e posições de classes sociais mas, enquanto ideologia representa concepções, idéias e teorias que servem para manter o sistema e a ordem já estabelecidos, a utopia refere-se a idéias e doutrinas que tentam modificar o sistema no futuro. Segundo LOWY (1985:13), o termo “ideologia total” pode induzir a uma confusão conceitual e designa um novo termo: “visão social de mundo” que representaria “todos aqueles conjuntos estruturados de valores, representações, idéias e orientações cognitivas”. Portanto, a visão social do mundo poderia ser utópica ou ideológica mantendo a orientação dialética de Mannheim. Uma forma diversa de interpretação do termo ideologia, sem remetê-lo a conflitos entre classes sociais e sem compartimentar o saber em setores isolados como ciência, filosofia, ideologia, etc., encontra-se no pensamento de Dumont, o qual trata a ideologia como parte integrante da cultura das sociedades e que determina toda a forma de perceber e “estar no mundo”. Dumont deu novo significado ao termo ideologia ao estudar o sistema de castas da Índia. Este sistema de castas, segundo o autor, só se sustenta porque sua ideologia é compreendida e aceita por todos os membros da sociedade indiana. Para DUMONT (2000), a ideologia é a interação entre frações que compõem o ser e o saber das sociedades. Neste sentido, cultura e ideologia estão muito entrelaçadas e o termo ideologia afasta-se muito da sua inicial conotação política como referência a um sistema de poder e dominação. 8

Continuando seu resgate histórico, LOWY (1985:12) afirma que Lênin<br />

utilizou o termo para se referir a “qualquer concepção da realida<strong>de</strong> social e<br />

política, vinculada a certas classes sociais”. Para Lênin, a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter<br />

o significado pejorativo atribuído por Marx e passa a <strong>de</strong>signar diferentes<br />

doutrinas sociais ligadas às diferentes classes sociais. Assim, passa a haver<br />

mais <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ologia, a i<strong>de</strong>ologia burguesa e a i<strong>de</strong>ologia proletária, cada uma<br />

ligada às condições sócio-econômicas específicas.<br />

Devido a diferentes interpretações do conceito, LOWY (1985:13),<br />

afirma que Karl Mannheim v<strong>em</strong> apresentar , <strong>em</strong> seu livro “I<strong>de</strong>ologia e Utopia”,<br />

uma “ tentativa sociológica <strong>de</strong> pôr um pouco <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m nessa confusão”. Neste<br />

livro, apresenta o termo i<strong>de</strong>ologia e o termo utopia como fazendo parte <strong>de</strong> um<br />

mesmo fenômeno: a i<strong>de</strong>ologia total. Tanto utopia como i<strong>de</strong>ologia estão ligados<br />

a interesses e posições <strong>de</strong> classes sociais mas, enquanto i<strong>de</strong>ologia representa<br />

concepções, idéias e teorias que serv<strong>em</strong> para manter o sist<strong>em</strong>a e a or<strong>de</strong>m já<br />

estabelecidos, a utopia refere-se a idéias e doutrinas que tentam modificar o<br />

sist<strong>em</strong>a no futuro. Segundo LOWY (1985:13), o termo “i<strong>de</strong>ologia total” po<strong>de</strong><br />

induzir a uma confusão conceitual e <strong>de</strong>signa um novo termo: “visão social <strong>de</strong><br />

mundo” que representaria “todos aqueles conjuntos estruturados <strong>de</strong> valores,<br />

representações, idéias e orientações cognitivas”. Portanto, a visão social do<br />

mundo po<strong>de</strong>ria ser utópica ou i<strong>de</strong>ológica mantendo a orientação dialética <strong>de</strong><br />

Mannheim.<br />

Uma forma diversa <strong>de</strong> interpretação do termo i<strong>de</strong>ologia, s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>etê-lo<br />

a conflitos entre classes sociais e s<strong>em</strong> compartimentar o saber <strong>em</strong> setores<br />

isolados como ciência, filosofia, i<strong>de</strong>ologia, etc., encontra-se no pensamento <strong>de</strong><br />

Dumont, o qual trata a i<strong>de</strong>ologia como parte integrante da cultura das<br />

socieda<strong>de</strong>s e que <strong>de</strong>termina toda a forma <strong>de</strong> perceber e “estar no mundo”.<br />

Dumont <strong>de</strong>u novo significado ao termo i<strong>de</strong>ologia ao estudar o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

castas da Índia. Este sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> castas, segundo o autor, só se sustenta<br />

porque sua i<strong>de</strong>ologia é compreendida e aceita por todos os m<strong>em</strong>bros da<br />

socieda<strong>de</strong> indiana. Para DUMONT (2000), a i<strong>de</strong>ologia é a interação entre<br />

frações que compõ<strong>em</strong> o ser e o saber das socieda<strong>de</strong>s. Neste sentido, cultura e<br />

i<strong>de</strong>ologia estão muito entrelaçadas e o termo i<strong>de</strong>ologia afasta-se muito da sua<br />

inicial conotação política como referência a um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e<br />

dominação.<br />

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