Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...
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- Esta mesma perda <strong>de</strong> autonomia do IDACO frente aos financiadores acaba<br />
se reproduzindo <strong>em</strong> relação ao seu público que recebe os projetos<br />
aprovados e financiados. Embora haja participação na i<strong>de</strong>ntificação das<br />
necessida<strong>de</strong>s e interesses do público, não é a este que cab<strong>em</strong> as <strong>de</strong>cisões<br />
finais.<br />
- Como o IDACO foi organizado por m<strong>em</strong>bros fundadores que t<strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong><br />
ligada aos movimentos sociais que lutaram pela re<strong>de</strong>mocratização do país, a<br />
concepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>les está fundamentada, ainda, nas<br />
estratégias <strong>de</strong> mudanças estruturais, consolidação da <strong>de</strong>mocracia e<br />
cidadania. Estas mudanças exigiriam transformações no âmbito dos valores<br />
culturais <strong>de</strong> seu publico, <strong>de</strong> um mundo <strong>de</strong> relações personalizadas para<br />
relações individualizadas do mundo mo<strong>de</strong>rno.<br />
- Ao querer alcançar a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> através do progresso econômico e a<br />
educação para a cidadania, o IDACO procura mudar as relações<br />
hierarquizantes presentes na socieda<strong>de</strong> brasileira e que envolv<strong>em</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> valores que, se for<strong>em</strong> quebrados, po<strong>de</strong>rão eliminar aspectos<br />
positivos da cultura brasileira, como as relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, afetivida<strong>de</strong>,<br />
reciprocida<strong>de</strong>, e que caracterizam o jeito brasileiro <strong>de</strong> ser.<br />
- Estes valores hierarquizantes e <strong>de</strong> fortes relações pessoais estão presentes,<br />
inclusive, <strong>de</strong>ntro do IDACO, como pô<strong>de</strong> ser observado nas entrevistas e no<br />
contato direto com os m<strong>em</strong>bros e funcionários, e que, portanto, os<br />
caracterizaria muito mais como pessoas do que como sujeitos.<br />
- Pensando <strong>em</strong> meus próprios valores sobre <strong>de</strong>senvolvimento, no olhar do<br />
IDACO, consi<strong>de</strong>ro que durante minha atuação profissional <strong>em</strong> Moçambique,<br />
acabei me colocando numa posição paternalista <strong>em</strong> relação ao público com<br />
o qual trabalhei. A diferença cultural tão marcante entre mim e o público,<br />
não me possibilitou ignorar a presença <strong>de</strong>ssas diferenças, no entanto havia<br />
uma pressão, por parte do financiador internacional, para modificar alguns<br />
valores das comunida<strong>de</strong>s que, na opinião <strong>de</strong>les, atrasavam o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e a igualda<strong>de</strong>. Olhando agora para trás, consi<strong>de</strong>ro que<br />
atribuí ao publico com qu<strong>em</strong> trabalhei as características <strong>de</strong> pessoas e não<br />
<strong>de</strong> meros indivíduos, e que não concordando com as transformações<br />
subjetivas <strong>de</strong>sejadas pelo financiador trabalhei mais na perspectiva <strong>de</strong><br />
contribuir para o aumento da produção e da produtivida<strong>de</strong> das comunida<strong>de</strong>s<br />
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