Cordélia Inês Kiener - Programa de Pós-Graduação em Extensão ...

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também não entendem qual é o papel de uma diretoria e dizem: nós elegemos um presidente, agora ele que cuide de nossos problemas (...). É muito fácil descarregar a responsabilidade nas costas dos outros. Muitas lideranças até interessantes no meio rural estão evitando se candidatar, mas são lideranças, são reconhecidas e a gente trabalha com essas pessoas também” (Entrevistas, 2001). Também os produtores multiplicadores 21 têm papel de liderança e são fundamentais ao trabalho do IDACO pois “servem de exemplo, muita gente fica indecisa e espera para ver qual é a atitude do líder, então se seu líder adotar alguma coisa essas pessoas adotam também” (grifo meu) (Entrevistas, 2001). Estes multiplicadores geralmente são valorizados em função de possuírem determinadas características. “O IDACO valoriza os agricultores que sejam aceitos e reconhecidos como membros das comunidades, que tenham participação na vida social e comunitária, que desempenhem papéis na estrutura formal das organizações comunitárias ou em colaboração informal com as mesmas, que residam com suas famílias nas comunidades rurais, que tenham grande numero de filhos, que sejam receptivos às inovações propostas pelos técnicos e possuam liderança junto à população“ (IDACO, 2000b:12). Para o IDACO estes critérios “apontam para a consolidação da cidadania, da autogestão e da autossustentabilidade do processo” (IDACO, 2000b:12), sem, no entanto, especificar melhor esta interpretação. Analisando o discurso e os documentos do IDACO verifica-se que na busca da cidadania plena, o IDACO valoriza não apenas a liderança eleita democraticamente, o que só é possível através do voto individual e do exercício da moderna cidadania, mas também os líderes informais e que, possuindo prestígio e respeito na comunidade, estão inseridos no mundo relacional da tradição. Ao interpretar DAMATTA (1990:193), verifica-se que a honra e o respeito servem entre outras coisas para estabelecer “prestígio e autoridade entre pessoas e famílias, fazendo desaparecer a igualdade”, daí essas pessoas, os líderes informais, se destacarem sem serem eleitas, sem dirigirem nenhuma associação formal e serem seguidas por parte da comunidade, voluntariamente, como exemplo. As relações pessoais, a amizade e a confiança presentes e necessárias nas relações tradicionais são, na verdade, utilizados como porta de entrada para o trabalho do IDACO. Assim, para efetuar um trabalho que 21 Produtores que são escolhidos pelo IDACO para serem disseminadores de novas técnicas agropecuárias, e em cujas propriedades são montadas unidades demonstrativas dessas técnicas. 93

emete à igualdade e ao individualismo moderno o IDACO utiliza, primeiramente, valores presentes no mundo relacional. Não há, no entanto, nenhuma reflexão explícita por parte dos técnicos do IDACO de que essas relações pessoais possam constituir obstáculo ao trabalho de educação para a cidadania. Segundo os técnicos do IDACO as comunidades não facilitam uma aproximação se não houver algum tipo de relação pessoal e de confiança, de preferência amizade, entre alguém conhecido na comunidade e os técnicos, consultores ou qualquer pessoa que venha em nome do IDACO, “Acima de tudo a amizade dos técnicos com a comunidade, a gente tem que conquistar a confiança do agricultor para que ele possa mesmo se abrir, falar dos problemas (...). No momento em que você leva uma pessoa de fora numa reunião eles dizem que a comunidade está indo bem, não tem problemas, não se abrem” (Entrevistas, 2001). “Toda a relação de parceria começa com uma relação de confiança, antes de mais nada, e uma relação de confiança é uma relação pessoal. Mesmo que venha uma pessoa que eu não conheço mas se ela vem recomendada por outro em quem eu confio, então sempre há uma relação de confiança” (Entrevistas, 2001). Mas não é só no trabalho com o público que as relações pessoais são importantes. Também na relação com os parceiros, por vezes, as relações pessoais podem influenciar o trabalho. “A prefeitura de Angra dos Reis é um dos parceiros importantíssimos do IDACO em vista da Prefeitura ter sido administrada pelo PT já há três sucessões municipais, pelo fato do Agostinho ser um quadro do PT, então houve uma certa facilidade” (Entrevistas, 2001). Juntamente com a valorização e naturalização da necessidade das relações pessoais para o sucesso das atividades, o IDACO considera que a solidariedade, nesse sentido, é fundamental para o desenvolvimento das comunidades. A solidariedade estimulada pelo IDACO apesar de ter variações na sua interpretação, é, na opinião de seu diretor coordenador, uma solidariedade “pragmática”, que proporcione resultados e benefícios individuais e coletivos, quer material, econômico ou organizativo: “Nossa vocação não é estimular a solidariedade religiosa ou fraternal” (Entrevistas, 2001). O “mutirão”, como atividade coletiva, é utilizada pelo IDACO para beneficiar a comunidade como um todo e despertar o espírito de solidariedade, pois segundo alguns técnicos do IDACO, “aqui na região o espírito de 94

<strong>em</strong>ete à igualda<strong>de</strong> e ao individualismo mo<strong>de</strong>rno o IDACO utiliza,<br />

primeiramente, valores presentes no mundo relacional. Não há, no entanto,<br />

nenhuma reflexão explícita por parte dos técnicos do IDACO <strong>de</strong> que essas<br />

relações pessoais possam constituir obstáculo ao trabalho <strong>de</strong> educação para a<br />

cidadania.<br />

Segundo os técnicos do IDACO as comunida<strong>de</strong>s não facilitam uma<br />

aproximação se não houver algum tipo <strong>de</strong> relação pessoal e <strong>de</strong> confiança, <strong>de</strong><br />

preferência amiza<strong>de</strong>, entre alguém conhecido na comunida<strong>de</strong> e os técnicos,<br />

consultores ou qualquer pessoa que venha <strong>em</strong> nome do IDACO,<br />

“Acima <strong>de</strong> tudo a amiza<strong>de</strong> dos técnicos com a comunida<strong>de</strong>, a gente t<strong>em</strong> que<br />

conquistar a confiança do agricultor para que ele possa mesmo se abrir, falar<br />

dos probl<strong>em</strong>as (...). No momento <strong>em</strong> que você leva uma pessoa <strong>de</strong> fora numa<br />

reunião eles diz<strong>em</strong> que a comunida<strong>de</strong> está indo b<strong>em</strong>, não t<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as, não<br />

se abr<strong>em</strong>” (Entrevistas, 2001).<br />

“Toda a relação <strong>de</strong> parceria começa com uma relação <strong>de</strong> confiança, antes <strong>de</strong><br />

mais nada, e uma relação <strong>de</strong> confiança é uma relação pessoal. Mesmo que<br />

venha uma pessoa que eu não conheço mas se ela v<strong>em</strong> recomendada por<br />

outro <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> eu confio, então s<strong>em</strong>pre há uma relação <strong>de</strong> confiança”<br />

(Entrevistas, 2001).<br />

Mas não é só no trabalho com o público que as relações pessoais são<br />

importantes. Também na relação com os parceiros, por vezes, as relações<br />

pessoais po<strong>de</strong>m influenciar o trabalho.<br />

“A prefeitura <strong>de</strong> Angra dos Reis é um dos parceiros importantíssimos do<br />

IDACO <strong>em</strong> vista da Prefeitura ter sido administrada pelo PT já há três<br />

sucessões municipais, pelo fato do Agostinho ser um quadro do PT, então<br />

houve uma certa facilida<strong>de</strong>” (Entrevistas, 2001).<br />

Juntamente com a valorização e naturalização da necessida<strong>de</strong> das<br />

relações pessoais para o sucesso das ativida<strong>de</strong>s, o IDACO consi<strong>de</strong>ra que a<br />

solidarieda<strong>de</strong>, nesse sentido, é fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

comunida<strong>de</strong>s.<br />

A solidarieda<strong>de</strong> estimulada pelo IDACO apesar <strong>de</strong> ter variações na sua<br />

interpretação, é, na opinião <strong>de</strong> seu diretor coor<strong>de</strong>nador, uma solidarieda<strong>de</strong><br />

“pragmática”, que proporcione resultados e benefícios individuais e coletivos,<br />

quer material, econômico ou organizativo: “Nossa vocação não é estimular a<br />

solidarieda<strong>de</strong> religiosa ou fraternal” (Entrevistas, 2001).<br />

O “mutirão”, como ativida<strong>de</strong> coletiva, é utilizada pelo IDACO para<br />

beneficiar a comunida<strong>de</strong> como um todo e <strong>de</strong>spertar o espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>,<br />

pois segundo alguns técnicos do IDACO, “aqui na região o espírito <strong>de</strong><br />

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