Onde Pastar? O Gado Bovino No Brasil - Fundação Heinrich Böll
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ONDE PASTAR? O GADO BOVINO NO BRASIL<br />
Sacramento, hoje cidade uruguaia de Colônia, que durante século e meio seria<br />
a causa de vivas disputas entre portugueses e espanhóis, primeiro, brasileiros e<br />
argentinos, depois.<br />
Como não se tratava de regiões aptas para a produção de gêneros tropicais<br />
de grande valor comercial, como o açúcar ou outros, foi-se obrigado, para conseguir<br />
povoadores em territórios contestados pela Espanha, a recorrer às camadas<br />
pobres ou médias da população portuguesa, e conceder grandes vantagens aos<br />
colonos que aceitavam estabelecer-se lá.<br />
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“O custo do transporte será fornecido pelo Estado, a instalação dos colonos<br />
é cercada de toda sorte de providências destinadas a facilitar e garantir a<br />
subsistência dos povoadores: as terras a serem ocupadas são previamente<br />
demarcadas em pequenas parcelas – uma vez que não se destinavam às<br />
grandes lavouras tropicais – fornecem-se gratuitamente ou a longo prazo<br />
auxílios vários (instrumentos agrários, sementes, animais de trabalho etc.).”<br />
(Caio Prado Jr., 1945)<br />
O recrutamento dos colonos se fez sobretudo nas ilhas dos Açores, com<br />
preferência para camponeses que emigravam em grupos familiares, o que também<br />
é quase único na colonização do <strong>Brasil</strong>. Por todos estes motivos, constitui-se nos<br />
pontos assinalados um tipo de organização singular no país.<br />
A organização econômica definitiva e estável do Rio Grande do Sul foi<br />
protelada pelas guerras incessantes que vão até 1777. Mas apesar delas, e graças<br />
às excelentes condições naturais, o gado se foi multiplicando rapidamente.<br />
Em grande parte, ele tornou possíveis estas lutas prolongadas, pois alimentou<br />
com sua carne os exércitos em luta. Segue-se a 1777, quando se assina a paz<br />
entre os contendores, um longo período de tréguas que iria até as novas hostilidades<br />
dos primeiros anos do século 19.<br />
Estabelecem-se então as primeiras estâncias regulares, sobretudo na fronteira,<br />
onde se concentra a população constituída a principio quase exclusivamente<br />
de militares e guerrilheiros. Distribuem-se propriedades, para consolidar a posse<br />
portuguesa, formando-se grandes latifúndios. “Repetia-se a mesma coisa que no<br />
século anterior se praticara com tanto dano no sertão do <strong>No</strong>rdeste, e enquistava-se<br />
nas mãos de uns poucos privilegiados toda a riqueza fundiária da capitania.<br />
Mas embora eivada no seu nascedouro de todos estes abusos, a pecuária se firma<br />
e organiza solidamente, prosperando com rapidez.” (Caio Prado Jr., 1945)<br />
O principal negócio foi, a princípio, a produção de couros, exportados em<br />
grande quantidade. “A carne era desprezada, pois não havia quem a consumisse”.<br />
Somente no final do século 18, a criação da indústria do charque, em<br />
paralelo à decadência da pecuária nordestina, iria conferir importância à região<br />
Sul como produtora e fornecedora de carnes às demais regiões do país. <strong>No</strong> século<br />
19, a carne charqueada do Sul do <strong>Brasil</strong> alcançaria também o mercado externo.