Onde Pastar? O Gado Bovino No Brasil - Fundação Heinrich Böll
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ONDE PASTAR? O GADO BOVINO NO BRASIL<br />
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rápida expansão da cultura cafeeira, cultura esta que, pela sua natureza<br />
especial, exigiria fartos braços e amplos meios de transportes. Não se houvessem<br />
acumulado no centro-sul brasileiro essas massas da gente e de<br />
gado e não teríamos os elementos suficientes ao desenvolvimento de<br />
outras atividades, à expansão da cultura cafeeira e ao reerguimento econômico<br />
do país...” (Simonsen, 1937)<br />
A REGIÃO NORDESTE<br />
Esta presença passa a ter importância ainda nos primórdios da colonização, a<br />
partir do desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar, a primeira monocultura<br />
de exportação em larga escala instalada em território brasileiro, marco de sua<br />
ocupação por Portugal. As primeiras áreas ocupadas pela cana em grandes proporções<br />
correspondem ao litoral dos atuais estados de Pernambuco e Bahia.<br />
O desenvolvimento inicial do rebanho bovino no <strong>Brasil</strong> não está voltado, diretamente,<br />
ao abastecimento do mercado externo, mas sim para subsidiar a atividade<br />
exportadora de açúcar. O boi não é utilizado apenas para alimentar o crescente<br />
contingente populacional estimulado pela nova atividade, mas também para as funções<br />
de movimentação dos moinhos de cana e transporte da produção. Seu couro<br />
era utilizado também na fabricação de calçados, roupas e outros utensílios.<br />
O gado, no entanto, não podia ser criado em áreas muito próximas às do<br />
plantio da cana. Na inexistência, até então, do arame, seriam estabelecidas regras<br />
de ocupação dos solos que evitassem maiores problemas. Segundo Roberto<br />
Simonsen, as terras mais férteis e mais favorecidas pelo clima, aquelas do litoral,<br />
seriam reservadas à cultura da cana-de-açúcar. Uma Carta Régia de 1701 proibia<br />
mesmo a criação a menos de 10 léguas da costa (Simonsen, 1937).<br />
Com isto, e em razão de situar-se em plano secundário relativamente à produção<br />
da cana-de-açúcar, a pecuária de corte se estabelece no <strong>Brasil</strong>, em escala<br />
considerável, no interior da região <strong>No</strong>rdeste do país.<br />
O sertão nordestino, justamente, apresentava “os maiores inconvenientes<br />
à vida humana e suas atividades (...) Alia-se aí uma baixa pluviosidade à<br />
grande irregularidade das precipitações. (...) São frequentes as secas prolongadas,<br />
de anos seguidos de falta completa de chuvas. Com a exceção de<br />
uns raríssimos rios, todos os cursos d’água desta vasta região que abrange<br />
mais 1.000.000 km 2 , são intermitentes, e neles se alterna a ausência prolongada<br />
e total de água, com cursos torrenciais, de pequena duração,<br />
mas arrasadores na sua violência momentânea. A vegetação compõe-se<br />
de uma pobre cobertura de plantas hidrófilas em que predominam as<br />
cactácias. Unicamente nos raros períodos de chuvas nelas se desenvolve<br />
uma vegetação mais aproveitável que logo depois das precipitações é<br />
crestada pela ardência do sol.