1 Advocacy das Organizações da Sociedade Civil ... - Anpad
1 Advocacy das Organizações da Sociedade Civil ... - Anpad
1 Advocacy das Organizações da Sociedade Civil ... - Anpad
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Advocacy</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>Organizações</strong> <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de <strong>Civil</strong>: Principais Descobertas de um Estudo<br />
Comparativo entre Brasil e Estados Unidos<br />
Resumo<br />
Autoria: Gabriela de Brelàz<br />
As organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e suas formas de atuação têm ganhado importância<br />
tanto na socie<strong>da</strong>de como nos estudos acadêmicos. Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> suas formas de atuação que vem<br />
se destacando é o papel de influenciar políticas públicas, também conhecido por advocacy,<br />
advocacy em políticas públicas e lobbying, dependendo do contexto e país de análise. O<br />
significado de advocacy e como este fenômeno se manifesta constituem o foco deste estudo<br />
exploratório que busca, por meio de revisão <strong>da</strong> literatura, de entrevistas em profundi<strong>da</strong>de e<br />
estudos de casos, analisar e comparar a atuação de três organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil: o<br />
Independent Sector nos Estados Unidos, o Grupo de Institutos, Fun<strong>da</strong>ções e Empresas (GIFE)<br />
e a Associação Brasileira de <strong>Organizações</strong> não Governamentais (ABONG) no Brasil. Estas<br />
organizações se caracterizam por ser associações que representam outras organizações <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de civil e que fazem advocacy em políticas públicas como parte de sua estratégia.<br />
Analisa-se como se dá este advocacy e qual o papel desta forma de atuação dentro de um<br />
contexto de democracia deliberativa que pressupõe a discussão, a deliberação por parte dos<br />
ci<strong>da</strong>dãos na esfera pública de assuntos de seu interesse, como por exemplo, a elaboração, a<br />
execução e o monitoramento de políticas públicas.<br />
Introdução<br />
<strong>Organizações</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil (OSC), organizações sem fins lucrativos (OSFL),<br />
organizações não governamentais (ONG), entre outras, são diferentes terminologias<br />
utiliza<strong><strong>da</strong>s</strong> para denominar as organizações priva<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil que atuam na esfera<br />
pública e que não tem fins lucrativos. São também denomina<strong><strong>da</strong>s</strong> organizações do “Terceiro<br />
Setor” (TS), conceito utilizado a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 e que ain<strong>da</strong> está em formação<br />
(ALVES, 2002). O ponto de convergência entre as várias organizações que compõem o setor<br />
é o seu caráter privado e a sua orientação não econômica, ou seja, a ausência do lucro como<br />
finali<strong>da</strong>de central e o intuito de propiciar benefícios para to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de ou para grupos<br />
específicos <strong>da</strong> população. (TEODÓSIO, 2002).<br />
Estas organizações têm diversos papéis na socie<strong>da</strong>de como, por exemplo, a provisão<br />
de serviços, através de hospitais, escolas, organizações de assistência social entre outras. São<br />
também importantes como forma de manifestação do pluralismo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, funcionando<br />
assim como organizações de “expressão” <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de existente e contribuindo para a<br />
construção do conceito de comuni<strong>da</strong>de. Além destas funções, uma outra importante função é<br />
a de advocacy (SALAMON, 2002). O papel de advocacy é vital para as organizações do<br />
terceiro setor e é uma função muito tradicional nos Estados Unidos onde ci<strong>da</strong>dãos sempre se<br />
associaram através <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e contribuíram param mol<strong>da</strong>r as<br />
características políticas, econômicas e culturais do país (BORIS; KREHELY, 2002). No caso<br />
do Brasil o advocacy realizado por estas organizações ain<strong>da</strong> é um tema pouco debatido e há<br />
poucos estudos sobre este tipo de atuação.<br />
Mas o que exatamente significa advocacy? O conceito de advocacy é amplo e permite<br />
diversas interpretações. A maior parte dos estudos científicos nesta área são realizados nos<br />
Estados Unidos, país onde as organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil possuem grande tradição em<br />
advocacy e lobbying (ANDREWS; EDWARDS, 2004). Estes dois conceitos, advocacy e<br />
lobbying muitas vezes são empregados como sinônimos, mas possuem diferenças<br />
significativas. Por advocacy entendemos o ato de identificar, adotar e promover uma causa. É<br />
um esforço para mol<strong>da</strong>r a percepção pública ou conseguir alguma mu<strong>da</strong>nça seja através de<br />
1
mu<strong>da</strong>nças na lei, mas não necessariamente. Lobbying é uma forma especifica de fazer<br />
advocacy e é foca<strong>da</strong> em influenciar a legislação (AVNER, 2002). Sendo assim, lobbying<br />
pode ser entendido como parte <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de advocacy. No Brasil o significado destes<br />
conceitos está em fase de construção e possui diferenças em relação ao significado norte<br />
americano.<br />
Este estudo busca compreender o fenômeno <strong>da</strong> influência <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de civil no processo governamental, processo este também conhecido por advocacy,<br />
advocacy em políticas públicas, lobbying, articulação política, entre outros. Considerando a<br />
falta de estudos nesta esfera no Brasil, é necessário fazer, primeiramente, uma análise<br />
exploratória sobre o que significa o papel de advocacy destas organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />
e o que este papel significa para o processo democrático, mais especificamente, para a<br />
construção de uma democracia deliberativa. O modelo de democracia deliberativa pressupõe<br />
a discussão, a deliberação por parte dos ci<strong>da</strong>dãos de assuntos de seu interesse e acredita-se<br />
que este é o modelo mais adequado para a análise do advocacy realizado por estas<br />
organizações. Análises de casos envolvendo três organizações do terceiro setor, uma nos<br />
Estados Unidos (Independent Sector - IS) e duas no Brasil (Associação Brasileira de<br />
<strong>Organizações</strong> não Governamentais - ABONG e o Grupo de Institutos, Fun<strong>da</strong>ções e Empresas<br />
– GIFE) serão de relevância para entender este fenômeno.<br />
Metodologia de Pesquisa<br />
Este artigo engloba as principais conclusões de uma pesquisa exploratória que teve<br />
como principal objetivo analisar o papel de advocacy <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações que representam e<br />
defendem os direitos <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC no Brasil e nos Estados Unidos. Entende-se por pesquisa<br />
exploratória aquela que tem como objetivo entender como se dá uma determina<strong>da</strong> questão,<br />
qual o significado de determina<strong><strong>da</strong>s</strong> ações, ou seja, como se <strong>da</strong> um determinado fenômeno<br />
social sem fazer generalizações. Para Arthur e Nazroo (2003), um estudo exploratório busca<br />
entender valores conceitos e normas de um determinado assunto, os quais muitas vezes não<br />
são explícitos.<br />
A metodologia é basea<strong>da</strong> em revisão <strong>da</strong> literatura, análise de casos e entrevistas em<br />
profundi<strong>da</strong>de. A revisão <strong>da</strong> literatura buscou entender o significado de advocacy e lobbying<br />
no Brasil e nos Estados Unidos assim como o papel do advocacy em um contexto de<br />
democracia deliberativa. Considerando que os termos advocacy e lobbying são de origem<br />
anglo-saxã, os significados destas palavras nos Estados Unidos serviram como referência<br />
para a conceitualização do significado no Brasil. Em relação à literatura brasileira sobre este<br />
tema, observou-se a existência de escasso referencial teórico acadêmico apesar de o termo<br />
advocacy ser ca<strong>da</strong> vez mais utilizado.<br />
Através <strong>da</strong> metodologia de estudo de caso proposta por Einsenhardt (1989), buscou-se<br />
analisar de forma qualitativa o ato de fazer advocacy nos Estados Unidos e no Brasil. O<br />
estudo de casos foi a metodologia escolhi<strong>da</strong> por ser a mais adequa<strong>da</strong> já que, de acordo com<br />
Eisenhardt, este tipo de ferramenta de pesquisa é apropriado para o estudo de novos tópicos,<br />
como é o caso <strong>da</strong> atuação de organizações do terceiro setor no Brasil, e, mais especificamente<br />
o seu papel de advocacy. Salienta-se que esta análise de casos não tem como objetivo fazer<br />
generalizações, mas sim iniciar a discussão sobre este tipo de ativi<strong>da</strong>de no Brasil.<br />
O processo de entrevistas foi importante para entender os significados de advocacy e<br />
lobbying e na busca de informações sobre os estudos de caso. As entrevistas foram feitas<br />
pessoalmente e por telefone com representantes <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações estudo de caso,<br />
representantes de outras organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, pesquisadores e militantes <strong>da</strong> área.<br />
2
Democracia Deliberativa<br />
A democracia deliberativa baseia-se na idéia <strong>da</strong> discussão por parte dos ci<strong>da</strong>dãos de<br />
assuntos de seu interesse, como, por exemplo, leis e políticas públicas. Para Habermas (1996)<br />
a socie<strong>da</strong>de civil é parte <strong>da</strong> esfera pública e tem um papel importante na construção de uma<br />
democracia deliberativa. Em um processo democrático legítimo, membros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />
podem fazer argumentos, ouvir, e dialogar com o governo, influenciando na criação <strong><strong>da</strong>s</strong> leis,<br />
por exemplo. Entretanto, é importante ressaltar que não são os ci<strong>da</strong>dãos que tomam as<br />
decisões, estas são toma<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo processo político institucionalizado, mas os ci<strong>da</strong>dãos<br />
participam do processo de discussão que leva à toma<strong>da</strong> de decisão. A teoria crítica em sua<br />
essência está preocupa<strong>da</strong> em buscar a emancipação progressiva dos indivíduos e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
de forças opressivas o que pode ser alcançado através dos mecanismos de participação e<br />
deliberação (DRYZEK, 2000).<br />
A constituição desta esfera (pública) através de direitos básicos fornece<br />
alguns indicadores para sua estrutura social. Liber<strong>da</strong>de de se reunir e<br />
liber<strong>da</strong>de de se associar, quando liga<strong><strong>da</strong>s</strong> à liber<strong>da</strong>de de expressão define o<br />
escopo de vários tipos de associações e socie<strong>da</strong>de: associações voluntárias<br />
que intervém na formação <strong>da</strong> opinião pública, que levantam tópicos de<br />
interesse geral e agem como “advocates” para assuntos negligenciados e<br />
grupos sub-representados, grupos que são difíceis de organizar, ou que tem<br />
objetivos culturais, religiosos ou humanitários [...]. Garantias constitucionais<br />
básicas, é claro, não conseguem preservar a esfera pública e a socie<strong>da</strong>de<br />
civil de deformações. As estruturas de comunicação <strong>da</strong> esfera pública devem<br />
ser manti<strong><strong>da</strong>s</strong> intactas por uma enérgica socie<strong>da</strong>de civil. (HABERMAS,<br />
1996, p. 368-369, tradução nossa).<br />
Cohen e Arato (1992) reforçam a questão do espaço público e a participação de<br />
associações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil como a característica dos “novos” movimentos. Os autores<br />
afirmam que a visão clássica dos movimentos sociais, baseados nas teorias de ação de massas<br />
e do comportamento coletivo que focam nas características irracionais do comportamento<br />
humano, já não é adequa<strong>da</strong> para explicar os atuais movimentos sociais. As “novas” ações<br />
coletivas envolvem formas de associação e estratégias específicas em um contexto moderno<br />
de socie<strong>da</strong>de civil pluralista. Este contexto inclui “espaços públicos, instituições sociais<br />
(imprensa, comunicação de massa), direitos (de se associar, de falar, de reunir), instituições<br />
políticas representativas e um sistema legal autônomo, todos eles alvo de movimentos sociais<br />
buscando influenciar políticas ou iniciar mu<strong>da</strong>nças”.<br />
É importante destacar que o conceito de socie<strong>da</strong>de civil utilizado para fins deste<br />
estudo não é igualado ao de terceiro setor. Alves (2004) busca resgatar o conceito de<br />
socie<strong>da</strong>de civil a partir de suas origens e afirma: “Não raro, o conceito de “Socie<strong>da</strong>de <strong>Civil</strong>”<br />
está atrelado ao de “Terceiro Setor”, funcionando mesmo como seu sucedâneo. A confusão<br />
entre os dois conceitos retrata uma forma de representação despolitiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> “parte pelo<br />
todo””(ALVES, 2004, p.142). O autor critica a grande utilização de “Socie<strong>da</strong>de <strong>Civil</strong>” e<br />
“Terceiro Setor” como termos sinônimos. Cohen e Arato definiram a socie<strong>da</strong>de civil como<br />
“[...] a esfera de interação social entre a economia e o Estado, que inclui, acima de tudo, a<br />
esfera íntima (especialmente a família), a esfera de associação (especialmente as associações<br />
voluntárias), os movimentos sociais e as formas de comunicação pública”. (COHEN;<br />
ARATO, 1992, p. ix, tradução nossa). Sendo assim se entende que organizações do terceiro<br />
setor são organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil que, conforme afirmado por Habermas e Cohen e<br />
Arato, institucionalizam discursos sobre a solução de problemas e questões de interesse <strong>da</strong><br />
população dentro <strong>da</strong> esfera pública.<br />
3
Dentro deste contexto, Elster (1998) afirma que o processo de conversações<br />
“deliberativas” não é apenas o processo de discutir, argumentar a fim de convencer a outra<br />
parte de um determinado ponto de vista, mas envolve também a barganha: troca de ameaças e<br />
promessas. Gambeta (1998) chama a atenção para os pontos negativos do processo<br />
deliberativo como, por exemplo, a cooptação de partes mais fracas e a manipulação de<br />
informações por “lobbies”, mas acredita que o processo deliberativo traz mais pontos<br />
positivos do que negativos para a quali<strong>da</strong>de e legitimi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> decisões ao: (1) trazer novas e<br />
melhores soluções a diferentes problemas; (2) trazer resultados mais justos ao proteger<br />
grupos mais fracos; (3) trazer a discussão pública que propicia a “diluição”de interesses<br />
individuais, levando a um consenso maior em qualquer decisão; (4) poder gerar decisões que<br />
são mais legítimas, inclusive para as minorias.<br />
Por outro lado, há aqueles que afirmam que a deliberação é um mecanismo pouco<br />
estruturado e caótico e aqueles que “acreditam que a deliberação é exclusiva e restringi<strong>da</strong> ao<br />
tipo de vozes e pessoas que ela pode ouvir”, fazendo com que o processo de deliberação não<br />
dê acesso àqueles que têm dificul<strong>da</strong>de em se comunicar efetivamente e que por isso não<br />
conseguem participar de um fórum deliberativo (DRYZEK, 2000, p.4). Outra crítica ao<br />
processo é de que ao participar e deliberar os indivíduos passam por um processo de<br />
“educação e disciplinamento” que acaba restringindo a participação dos indivíduos que se<br />
inibem de expressar suas opiniões. Assim a democracia age como uma força que disciplina<br />
fazendo com que a participação dos indivíduos no final acabe prejudicando suas<br />
oportuni<strong>da</strong>des (HINDESS, 2000 apud DRYZEK, 2000). Dentro desta lógica, Gambeta<br />
afirma, influenciado por Hirschman (1986), que culturas onde as pessoas costumam ter<br />
opiniões forma<strong><strong>da</strong>s</strong> sobre “tudo” (ex: países <strong>da</strong> América Latina) acabam sendo negativas para<br />
o intercâmbio genuíno de opiniões. As opiniões fortes inibem outras pessoas de participar e<br />
<strong>da</strong>rem também o seu argumento. Neste tipo de cultura, também denomina<strong>da</strong> de “Claro!”,<br />
Elster afirma haverem riscos de interesses particularistas e per<strong><strong>da</strong>s</strong> coletivas engendra<strong><strong>da</strong>s</strong> pela<br />
própria cultura no processo de construção de instituições democráticas. Em socie<strong>da</strong>des mais<br />
analiticamente orienta<strong><strong>da</strong>s</strong>, onde as pessoas não temem assumir seu desconhecimento sobre<br />
um determinado assunto, a deliberação ocorre com mais facili<strong>da</strong>de.<br />
É importante ressaltar o papel <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações foco deste estudo no processo de<br />
deliberação, de discussão de políticas públicas de interesse dos ci<strong>da</strong>dãos, ou seja, na<br />
realização de sua função de advocacy. O IS, GIFE e ABONG atuam de forma participativa e<br />
deliberativa na esfera pública fortalecendo e legitimando o processo democrático, sendo<br />
assim o papel de advocacy torna-se uma função fun<strong>da</strong>mental. Entretanto, acreditamos<br />
também nos riscos inerentes ao processo como, por exemplo, na restrição <strong>da</strong> participação de<br />
alguns grupos mais fracos e predomínio <strong>da</strong>queles grupos mais organizados e “disciplinados”,<br />
na possibili<strong>da</strong>de de cooptação de partes mais frágeis, assim como nos riscos internos de<br />
definição de agen<strong>da</strong> e <strong><strong>da</strong>s</strong> práticas de governança <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações.<br />
Formas de atuação <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />
Delimitar as formas de atuação <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC gera controvérsias e por ser um assunto<br />
recente, abre-se espaço para diversas classificações. Mintzberg et al. (2005) analisa estas<br />
organizações pela ótica <strong><strong>da</strong>s</strong> formas de associação sugerindo a existência de quatro tipos de<br />
organizações associativas. Estas podem ser classifica<strong><strong>da</strong>s</strong> levando em conta a quem<br />
beneficiam (seus próprios associados ou outros indivíduos) e de acordo com seu propósito de<br />
existência (provisão de serviços ou advocacy por ou contra uma causa):<br />
4
Beneficiários<br />
Outros Membros <strong>da</strong> associação<br />
Associações Ativistas<br />
Associações de Proteção<br />
<strong>Advocacy</strong><br />
<strong>Advocacy</strong> por outros<br />
(como organizações ambientalistas e de<br />
<strong>Advocacy</strong> para si próprios<br />
(como organizações de lobbying e ligas anti-<br />
preservação <strong>da</strong> natureza)<br />
difamação)<br />
Propósito<br />
Associações de Benefício<br />
Associações Mutuais<br />
Serviços para outros<br />
Serviços para si próprios<br />
Serviços<br />
(direto ou indireto)<br />
(para o lazer ou ganho)<br />
(como festivais de arte, universi<strong>da</strong>des (como cooperativas, jornais estu<strong>da</strong>ntis, clubes<br />
"priva<strong><strong>da</strong>s</strong>", bancos de comi<strong>da</strong>)<br />
de literatura)<br />
Esquema 1: Matriz de Associação<br />
Fonte: Mintzberg, Henry et al., 2005, p.39.<br />
Korten (1990), ao fazer uma análise sobre a atuação <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
civil de forma evolutiva identifica quatro gerações de orientação. A primeira geração envolve<br />
o foco na provisão de serviços para suprir uma deficiência imediata como, por exemplo,<br />
provisão de comi<strong>da</strong>, água, abrigo, saúde, entre outros. Ain<strong>da</strong> existem muitas organizações<br />
atuando desta forma, entretanto, muitas mu<strong>da</strong>ram esta orientação de “alívio imediato” para<br />
um direcionamento de desenvolvimento local, sendo estas considera<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo autor a “segun<strong>da</strong><br />
geração de estratégias”. Esta geração é foca<strong>da</strong> em desenvolvimento comunitário local para<br />
que os indivíduos consigam suprir suas necessi<strong>da</strong>des. A terceira geração é a de organizações<br />
de desenvolvimento de sistemas sustentáveis e focam no desenvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em<br />
na mu<strong>da</strong>nça de políticas e instituições específicas em nível local, nacional e global. Este tipo<br />
de estratégia geralmente é decorrente, de acordo com o autor, do fracasso <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> geração<br />
de estratégias que são muito foca<strong><strong>da</strong>s</strong> no ambiente local e que requerem a presença constante<br />
<strong><strong>da</strong>s</strong> ONGs. Como estas ONGs não conseguem beneficiar muitas comuni<strong>da</strong>des agindo desta<br />
forma, a segun<strong>da</strong> geração de estratégia acaba sendo ineficiente. Sendo assim, a terceira<br />
geração tem uma estratégia de atuação muito mais ampla, focando nas políticas públicas e<br />
alcançando resultados que influenciam mais no desenvolvimento local sustentável. A quarta<br />
geração de orientação estratégica é volta<strong>da</strong> para os movimentos sociais que são movidos por<br />
ideologia e pela visão de “um mundo melhor”, buscando mobilizar uma massa crítica de<br />
iniciativas que apóiam uma mesma visão de mundo. De acordo com as definições de Korten,<br />
as OSC que realizam advocacy em políticas públicas por este estudo analisa<strong><strong>da</strong>s</strong> poderiam ser<br />
considera<strong><strong>da</strong>s</strong> como sendo parte <strong>da</strong> terceira geração de estratégias.<br />
Salamon (2002) traz uma definição de papéis para as organizações do terceiro setor na<br />
esfera pública mais ampla basea<strong>da</strong> em: 1) provisão de serviços; 2) advocacy; 3) função<br />
“expressiva”; 4) construção <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de; e 5) “guardião de valor”. Esta classificação vai<br />
além <strong>da</strong> visão econômica destas organizações, que apenas analisa os recursos que estas<br />
organizações movimentam e os empregos que geram. Van Tuijl (1999) afirma que as<br />
“organizações não governamentais” podem ser defini<strong><strong>da</strong>s</strong> como “operacionais” e de<br />
“advocacy”. As “operacionais” são as provedoras de serviços (ex: educação, saúde,<br />
assistência social) e as organizações de advocacy, são aquelas que trabalham nos corredores<br />
dos órgãos governamentais fazendo lobbying, e as organizações internacionais.<br />
Percebemos então que as formas de atuação <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC podem ser analisa<strong><strong>da</strong>s</strong> como um<br />
aspecto constitutivo <strong>da</strong> organização (MINTZBERG, 2005, SALAMON, 2002; VAN TUIJL,<br />
1999) ou como um aspecto evolutivo (KORTEN, 1990; SALAMON; ANHEIER, 2006).<br />
<strong>Advocacy</strong> e Lobbying<br />
<strong>Advocacy</strong> é um termo que envolve um conjunto de significados, que advém <strong>da</strong><br />
experiência de democracia norte americana, não possuindo tradução exata em português. É<br />
5
importante ressaltar que não há um consenso teórico na construção de um significado para<br />
advocacy. Em um estudo sobre o papel e a influência <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações de advocacy no<br />
processo político nos Estados Unidos, Andrews e Edwards (2004) afirmam que, apesar de o<br />
tema ter recebido bastante atenção do meio acadêmico nos Estados Unidos (mais que em<br />
outros paises), não há um único conceito definido sobre o que são organizações de advocacy.<br />
Para Avner (2002) advocacy envolve identificar, adotar e promover uma causa, um<br />
esforço para mol<strong>da</strong>r a percepção pública ou conseguir alguma mu<strong>da</strong>nça seja esta através de<br />
lei ou não. De acordo com Jenkins (1987), advocacy em políticas públicas é uma forma<br />
específica de advocacy que tem como intuito influenciar a decisão de qualquer elite<br />
institucional a favor de um interesse coletivo. <strong>Advocacy</strong> pode ser para indivíduos, para<br />
populações específicas ou causas, para o próprio interesse de uma organização ou setor ou<br />
para amplos benefícios de interesse público (BORIS; KREHELY, 2002). Dentro deste de<br />
contexto de advocacy está o “lobby”. Lobbying “é uma forma específica de advocacy com o<br />
intuito de influenciar políticas públicas” (AVNER, 2001; BERRY, 1977; BORIS;<br />
KREHELY, 2002).<br />
Uma revisão <strong>da</strong> literatura no Brasil pouco nos diz sobre o termo advocacy, havendo<br />
poucas pesquisas científicas que estudem a participação <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC sob a ótica do advocacy e<br />
do lobbying, mas é possível encontrar referências sobre “participação” <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil com<br />
mais freqüência, sobre temas de participação e deliberação, socie<strong>da</strong>de civil e espaços<br />
públicos, democracia participativa, entre outros que se aproximam do papel de advocacy em<br />
políticas públicas (definido também como lobbying nos Estados Unidos), mas que não o<br />
substituem plenamente. Por outro lado é possível encontrar outras definições desenvolvi<strong><strong>da</strong>s</strong>,<br />
principalmente, por organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil que atuam nessa esfera (Ex: Ágere e<br />
CFEMEA).<br />
<strong>Advocacy</strong> não faz parte do dicionário brasileiro e lobby, de acordo com o dicionário<br />
Houaiss de Língua Portuguesa, significa: “ativi<strong>da</strong>de de pressão de um grupo organizado (de<br />
interesse, de propagan<strong>da</strong> etc.) sobre políticos e poderes públicos, que visa exercer sobre estes<br />
qualquer influência ao seu alcance, mas sem buscar o controle formal do governo; campanha,<br />
lobismo” (DICIONÁRIO HOUAISS, 2006). A discussão de lobbying no Brasil é complexa,<br />
pois não há estudo aprofun<strong>da</strong>dos e o tema não tem despertado o interesse <strong>da</strong> academia<br />
(ARAGÃO, 1994; RODRIGUES, 1982; TOLEDO, 1985 apud OLIVEIRA, 2005). Existe um<br />
enorme desconhecimento sobre a ativi<strong>da</strong>de e um estigma de marginali<strong>da</strong>de, que aliado à falta<br />
de informações desencorajam pesquisadores e contribuem para manter o estudo de lobbying<br />
em uma “espécie de limbo teórico” (OLIVEIRA, 2005).<br />
Lobbying em muitos casos é utilizado como sinônimo de pressão, tráfico de influência<br />
ou corrupção sendo visto, geralmente, como prática exclusiva de grandes corporações que<br />
utilizam seu poder econômico para atingir determinados objetivos. Entretanto, esta visão é<br />
equivoca<strong>da</strong>, pois existem ativi<strong>da</strong>des de lobbying que são realiza<strong><strong>da</strong>s</strong> no país sem a violação<br />
<strong><strong>da</strong>s</strong> leis. (OLIVEIRA, 2005; PEREIRA RODRIGUES, 2000; MANCUSO, 2004). Para<br />
Pereira Rodrigues, nenhuma ativi<strong>da</strong>de de lobbying poderia ser mais legítima do que a<br />
exerci<strong>da</strong> por grupos organizados <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, pois se trata de uma “pressão feita de<br />
baixo para cima”, do ci<strong>da</strong>dão para o governante, em prol de uma causa comum ou bem<br />
público. (PEREIRA RODRIGUES, 2000)<br />
Através <strong><strong>da</strong>s</strong> entrevistas realiza<strong><strong>da</strong>s</strong> é possível observar as diferenças existentes na<br />
definição destes conceitos. Entretanto, vale a pena destacar que não é possível fazer<br />
generalizações do que significa um conceito em um ou outro país, sendo as entrevistas<br />
importantes no sentido de começar a compreender e delimitar os significados destas palavras,<br />
principalmente, no Brasil. Podemos observar uma homogenei<strong>da</strong>de nas definições dos norteamericanos<br />
entrevistados e isso pode ser observado como um exemplo do grande<br />
esclarecimento em relação a essas ativi<strong>da</strong>des no país que são considera<strong><strong>da</strong>s</strong> legítimas,<br />
6
egulamenta<strong><strong>da</strong>s</strong> e realiza<strong><strong>da</strong>s</strong> há muito tempo (ex: no caso do lobbying há o Lobbying<br />
Disclosure Act que regulamenta a prática).<br />
De acordo com as entrevistas feitas no Brasil podemos observar que não há o mesmo<br />
nível de assimilação e esclarecimento destas ativi<strong>da</strong>des, sendo possível encontrar dois tipos<br />
de resposta: 1) aqueles que vêm advocacy e lobbying de forma próxima à definição norte<br />
americana, como lobbying sendo uma ativi<strong>da</strong>de legítima, parte do advocacy, e 2) aqueles que<br />
vêm o lobbying como algo negativo, corporativista e que envolve interesses lucrativos. Estes<br />
grupos usam a palavra advocacy para definir as ativi<strong>da</strong>des de influenciar políticas públicas e<br />
em alguns casos fazem algumas a<strong>da</strong>ptações, como por exemplo, referem-se ao lobbying <strong><strong>da</strong>s</strong><br />
organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil como lobbying do bem. Percebe-se uma maior incidência de<br />
respostas de acordo com o grupo dois, que possui rejeição ao “lobbying”, do total de 11<br />
respostas sobre a definição de advocacy e lobbying, 7 se encontram neste grupo.<br />
Sendo assim, há indícios de que o conceito de advocacy no Brasil perde o significado<br />
mais amplo de identificar, adotar e promover uma causa, o que pode envolver a ferramenta de<br />
lobbying ou não e acaba se tornando uma palavra reduzi<strong>da</strong> e que serve de certa forma para<br />
<strong>da</strong>r um caráter mais “legítimo e legal” ao ato de influenciar políticas públicas, ou seja,<br />
organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil com interesses públicos fazem “advocacy” e empresas com<br />
interesses corporativos fazem “lobbying”.<br />
Estudos de caso<br />
As três organizações do estudo de caso têm como característica comum serem<br />
associações sem fins lucrativos que defendem os direitos de outras organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
civil e por fazerem advocacy em políticas públicas como parte <strong>da</strong> sua estratégia de atuação.<br />
Estas organizações possuem um relacionamento com órgãos governamentais, seja através <strong>da</strong><br />
influência direta na criação ou mu<strong>da</strong>nça de políticas públicas, no acompanhamento <strong><strong>da</strong>s</strong><br />
ativi<strong>da</strong>des do governo, na participação de conselhos, audiências públicas, reuniões com<br />
lideranças parlamentares, reuniões de secretarias municipais entre outros. Um breve<br />
descritivo <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações:<br />
Independent Sector (IS): Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1980 possui hoje cerca de 575 associados (fun<strong>da</strong>ções,<br />
associações, fun<strong>da</strong>ções empresarias e programas de doações empresariais). É considera<strong>da</strong><br />
referência na defesa dos direitos de advocacy do “setor independente”, buscando “fortalecer e<br />
mobilizar o setor independente <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de a fim de alcançar uma socie<strong>da</strong>de mais justa e<br />
inclusiva com ci<strong>da</strong>dãos e comuni<strong>da</strong>des ativas, instituições independentes e uma democracia<br />
saudável” (IS, 2007). O IS surgiu em um contexto onde as ativi<strong>da</strong>des <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC Norte<br />
Americanas estavam passando por um aumento progressivo de controle e regulação por parte<br />
do governo. Criou-se então o IS, uma organização “guar<strong>da</strong> chuva”, para fortalecer o setor<br />
através <strong>da</strong> fusão de duas organizações: Coalition of National Voluntary Organizations, uma<br />
coalizão de OSC que recebem recursos (grantseekers) e o National Council of Philanthropy,<br />
uma coalizão de organizações doadoras (grantmakers) (O’CONNELL, 1997). A organização<br />
nasce como uma organização de advocacy no sentido amplo do seu significado ao promover<br />
uma causa e buscar mu<strong>da</strong>r a opinião pública através de educação, comunicação e influência<br />
em políticas públicas.<br />
Grupo de Institutos, Fun<strong>da</strong>ções e Empresas (GIFE): Associação constituí<strong>da</strong> em 1995 por<br />
organizações que realizam investimento social privado (ISP) que é o “repasse voluntário de<br />
recursos privados para fins públicos por meio de projetos sociais, culturais e ambientais, de<br />
forma planeja<strong>da</strong>, monitora<strong>da</strong> e sistemática”. Em sua maioria são organizações de origem<br />
empresarial e, apesar do papel de advocacy em politicas publicas não ter sido intenso no<br />
início <strong>da</strong> sua atuação, hoje esta ativi<strong>da</strong>de é parte central <strong>da</strong> sua estratégia de atuação através<br />
7
do Projeto Marco Legal e Politicas Públicas que busca aprimorar a legislação que regula as<br />
OSC e participar no desenvolvimento de políticas públicas nas áreas social, cultural e<br />
ambiental.<br />
Associação Brasileira de <strong>Organizações</strong> não Governamentais (ABONG): Organização cria<strong>da</strong><br />
em 1991 por um conjunto de ONGs que tinham como objetivo a luta por justiça social e a<br />
expansão <strong>da</strong> democracia e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. A organização surge como forma de articular as<br />
organizações associa<strong><strong>da</strong>s</strong> e representá-las perante o Estado e demais sujeitos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />
(ABONG, 2006). PAZ afirma que as raízes <strong>da</strong> ABONG coincidem com as <strong><strong>da</strong>s</strong> ONGs <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> de 60 e 70 que se caracterizaram pela luta pró democracia junto aos movimentos<br />
sociais. A ABONG une estas organizações às nasci<strong><strong>da</strong>s</strong> nos anos 80 e 90, “possibilitando-lhes<br />
a troca de experiências, a representação coletiva e, mais do que isso, favorecendo a sua<br />
inserção em determinado campo político, crítico e de esquer<strong>da</strong>, que dá significado próprio ao<br />
termo “ONG”” (PAZ, 2005). Atualmente a organização é integra<strong>da</strong> por cerca de 270<br />
associa<strong><strong>da</strong>s</strong> que atuam em áreas como direitos humanos, questões agrárias, questões urbanas,<br />
desenvolvimento regional, promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de racial, meio ambiente, entre outros, sendo<br />
hoje reconheci<strong>da</strong> como um sujeito de intervenção política e de interlocução com o governo,<br />
defendendo a idéia de que as ONGs são fun<strong>da</strong>mentais na formulação, monitoramento de<br />
políticas públicas, exercendo um controle social sobre estas políticas.<br />
Conclusões sobre advocacy no Brasil<br />
Este estudo comparativo propiciou uma série de conclusões que serão resumi<strong><strong>da</strong>s</strong> para<br />
fins deste artigo. Primeiramente é importante destacar as diferenças históricas e,<br />
principalmente, a evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e do seu papel de advocacy<br />
nos países de análise. O associativismo nos Estados Unidos remete aos períodos <strong>da</strong><br />
colonização, sendo o advocacy uma função tradicional <strong><strong>da</strong>s</strong> suas organizações. No Brasil, país<br />
marcado pelo centralismo estatal, o associativismo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil tem histórico diferente.<br />
Como descrito por Landim (1993) esta livre associação não ocorre na época <strong>da</strong> colonização e<br />
nem na época <strong>da</strong> independência. Este toma um impulso na época <strong>da</strong> industrialização<br />
brasileira, no final do século XIX através <strong>da</strong> criação de sindicatos e associações de classe que<br />
eram fortemente controlados pelo Estado. É apenas por volta de 1970 que as organizações <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de civil se multiplicam com mais força, estimula<strong><strong>da</strong>s</strong> pela luta por democratização ao<br />
lado de movimentos sociais. Sendo assim, o papel de advocacy e lobbying são,<br />
historicamente, parte <strong>da</strong> atuação de organizações Norte Americanas devido ao fato do setor<br />
existir de forma mais estrutura<strong>da</strong> e madura há mais tempo e também ao caráter liberal <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de norte americana que através destas organizações efetivou a luta por diversos<br />
direitos e interesses no país.<br />
Nos Estados Unidos os conceitos de advocacy e lobbying são utilizados de forma<br />
diferente do Brasil, país que importou os conceitos e que, apesar de não terem significado<br />
claro e preciso, já trazem alguns “pré-conceitos” estabelecidos, como por exemplo, advocacy<br />
ser o lobbying do bem e lobbying ser do mal (interesses corporativos). De acordo com os<br />
entrevistados, a maioria tem uma visão menos ampla de advocacy, entendendo-o como um<br />
processo ligado a políticas públicas diretamente. Já nos Estados Unidos, advocacy é utilizado<br />
de forma mais ampla, no sentido de identificar, adotar e promover uma causa, buscando<br />
mu<strong>da</strong>r a opinião pública e lobbying é uma <strong><strong>da</strong>s</strong> suas ferramentas “técnicas”.<br />
Em termos de semelhanças entre as OSC de ambos os países, podemos observar a<br />
diversi<strong>da</strong>de de organizações existentes e como há uma tendência no crescimento <strong><strong>da</strong>s</strong><br />
organizações de advocacy. A pesquisa do IBGE (2004), As Fun<strong>da</strong>ções Priva<strong><strong>da</strong>s</strong> e<br />
Associações sem fins lucrativos no Brasil - 2002, evidencia como as organizações de “Defesa<br />
e Desenvolvimento de Direitos” crescem nos últimos anos e The<strong>da</strong> Skocpol (2003) evidencia<br />
8
este fenômeno nos Estados Unidos. A autora afirma que nos Estados Unidos há uma redução<br />
progressiva na participação de membros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil em associações, onde<br />
tradicionalmente participarem de forma cívica e engaja<strong>da</strong>. Estas pessoas passam a apoiar com<br />
grande nível de recursos, organizações de advocacy geri<strong><strong>da</strong>s</strong> por um pequeno grupo de<br />
profissionais que tomam decisões de grande influência sem ter legitimi<strong>da</strong>de e<br />
representativi<strong>da</strong>de. Adicionalmente, critica que estas organizações de advocacy servem às<br />
pessoas e grupos de “wealthy people” como forma de fazer valer seus objetivos políticos na<br />
socie<strong>da</strong>de de forma mais legítima.<br />
Uma comparação entre as organizações brasileiras (ABONG e GIFE) em relação à Norte<br />
Americana (IS)<br />
A atuação do IS desde 1980 significa um maior tempo de vi<strong>da</strong> e uma maior<br />
experiência à qual pode estar refleti<strong>da</strong> em sua forma de atuação e na sua trajetória. Além<br />
disso, o IS já nasce como uma organização de advocacy em políticas públicas, a ABONG<br />
também, mas com menos ênfase do que a organização Norte Americana. A ABONG já previa<br />
desde o início um maior interface junto ao governo, pela lógica de que aquilo que é público<br />
não deve ser administrado apenas pelo Estado. Sendo assim, podemos dizer que o advocacy<br />
em políticas públicas no caso do IS e <strong>da</strong> ABONG é constitutivo (MINTZBERG et al, 2005;<br />
SALAMON, 2002, VAN TUIJL, 1999), ou seja, faz parte de seu nascimento, <strong>da</strong> razão pela<br />
qual foi constituí<strong>da</strong>. No caso <strong>da</strong> ABONG também há indícios de ser constitutivo, porém com<br />
menos força e ênfase se comparado ao IS, em parte também pela vivência recente de uma<br />
democracia e de uma maior abertura <strong>da</strong><strong>da</strong> à participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil com a<br />
Constituição de 1988. No caso do GIFE há indícios de que esta forma de atuação é evolutiva<br />
(KORTEN, 1990, SALAMON; ANHEIER, 2006), ou seja, faz parte de uma lógica de<br />
aprendizado, evolução e amadurecimento <strong>da</strong> organização.<br />
Um terceiro ponto, é que o IS nasce de uma união de duas outras organizações, uma<br />
de grantmakers e outra de grantseekers. Relatos de O’Connell mencionam que havia grande<br />
incerteza se seria possível unir estes dois grupos mas que isto foi possível. Interessante<br />
observar que o GIFE é considerado uma organização de grantmakers, ou seja, seus<br />
associados são organizações realizam ISP e a ABONG alberga dentro do seu espectro de<br />
associa<strong><strong>da</strong>s</strong>, organizações com perfil de grantseekers. Entretanto, GIFE e ABONG são<br />
organizações que tem ideologias diferentes ou como definido por Szazi, “DNAs diferentes” o<br />
que em sua opinião dificulta e impossibilita uma união.<br />
Considerando esta semelhança e avaliando a atual situação de ambas as organizações,<br />
percebe-se que estas têm posicionamentos bem distintos, uma liga<strong>da</strong> ao movimento <strong>da</strong><br />
Responsabili<strong>da</strong>de Social e ISP, perfil mais empresarial, e outra mais liga<strong>da</strong> aos Movimentos<br />
Sociais e luta por direitos, perfil mais militante. Entretanto, dentro de uma lógica de coalizão<br />
mais ampla, que busque impactar ain<strong>da</strong> mais os direitos <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil,<br />
uma maior união entre estas duas organizações poderia trazer ganhos ao setor.<br />
As três organizações (IS, GIFE e ABONG) representam um conjunto de<br />
organizações, o que traz certa legitimi<strong>da</strong>de ao processo já que a organização fala em “nome<br />
de” diversos outros associados, mas onde também há riscos de superposição de vozes. Além<br />
disso, é interessante observar que as três organizações têm profissionais especializados<br />
realizando o advocacy em políticas públicas, pois acreditam que para realizar estas ativi<strong>da</strong>des<br />
é necessário conhecimento do processo legislativo e executivo. Em termos de recursos, as<br />
três optam por não receber recursos do governo, sendo o IS a organização que mais enfatiza a<br />
sua independência nesse aspecto e os riscos que o dinheiro do governo traz para a autonomia<br />
e independência do setor.<br />
9
No processo de deliberação interna, percebemos semelhanças, como por exemplo, a<br />
existência de grupos ou comitês onde se discutem diversos assuntos com os associados. A<br />
grande diferença está no caráter <strong>da</strong> divisão destes grupos. No caso do IS os grupos são<br />
divididos de acordo com a forma de atuação <strong>da</strong> organização (IS), no caso do GIFE de acordo,<br />
principalmente, com a área de atuação dos associados (grupos de afini<strong>da</strong>de) e no caso <strong>da</strong><br />
ABONG de acordo com a localização dos associados. Estas instâncias são importantes locais<br />
de deliberação entre a organização e os associados. No caso do IS as organizações têm que<br />
ser convi<strong>da</strong><strong><strong>da</strong>s</strong> para participar dos comitês e no caso <strong>da</strong> ABONG e GIFE esta participação é<br />
aberta, demonstrando um processo mais participativo. Outras formas comuns de deliberação<br />
são as reuniões de assembléia geral e o uso de e-mails e boletins eletrônicos são também<br />
mencionados pelas organizações como formas de comunicação junto aos associados. O uso<br />
de teleconferência junto às associa<strong><strong>da</strong>s</strong> foi apenas mencionado pelo IS que utiliza esta<br />
ferramenta com freqüência. O Nonprofit Panel (Painel <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>Organizações</strong> sem Fins<br />
Lucrativos) realizado também por esta organização deve ser mencionado como uma<br />
importante coalizão e processo de deliberação não apenas com as associa<strong><strong>da</strong>s</strong>, mas também<br />
com outras organizações e estudiosos do setor. Em relação à processos de consulta como<br />
enquetes, pesquisas e votações estes não são utiliza<strong><strong>da</strong>s</strong> de forma periódica pelo IS, GIFE e<br />
ABONG, sendo as decisões toma<strong><strong>da</strong>s</strong> pela diretoria <strong>da</strong> organização.<br />
Vale a pena ressaltar os riscos levantados por Gambeta (1998) no processo de<br />
democracia deliberativa, como, por exemplo, a manipulação de partes mais fracas e a<br />
existência <strong><strong>da</strong>s</strong> culturas “Claristas!” comum em países latino americanos onde as pessoas<br />
tendem a ter opiniões fortes, inibindo outros de participarem e, consequentemente, um<br />
intercâmbio legítimo de opiniões. Outro risco, de acordo com Hindess, é de que ao deliberar<br />
os indivíduos passam por um processo de “educação e disciplinamento”, que inibe indivíduos<br />
de expressarem suas opiniões, sendo assim, a deliberação acaba agindo como uma força que<br />
disciplina e não é democrática propriamente dita. Alem disso, é importante destacar que em<br />
alguns casos alguns argumentam melhor que outros e que por isso, têm mais chance de serem<br />
ouvidos (SANDERS, 1997 apud DRYZEK, 2000).<br />
Dentro deste contexto de deficiências, é importante analisar se estas questões ocorrem<br />
no ambiente <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações analisa<strong><strong>da</strong>s</strong>. Não foi possível fazer um estudo aprofun<strong>da</strong>do<br />
sobre o processo de deliberação <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações já que para fins desta pesquisa não foram<br />
realiza<strong><strong>da</strong>s</strong> ativi<strong>da</strong>des presenciais no dia a dia <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações e nem em suas assembléias.<br />
Entretanto, a participação <strong>da</strong> autora em uma reunião do Grupo de Afini<strong>da</strong>de Marco Legal a<br />
convite do GIFE, permite chamar a atenção para a maior participação de uma minoria dos<br />
associados em relação aos demais presentes. A participação no Seminário ONGs e Empresas<br />
realizado pela ABONG chamam a atenção para uma ausência de debate e deliberação<br />
propriamente dito devido à uma homogenei<strong>da</strong>de no posicionamento <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações<br />
participantes (7 dos 8 palestrantes eram ligados a movimentos sociais e ONGs). Entretanto,<br />
qualquer tipo de afirmativa quanto ao processo de deliberação interno <strong>da</strong> organização<br />
requerem maiores estudos e análises, sendo estes apenas indícios para pesquisas futuras.<br />
Mesmo com to<strong><strong>da</strong>s</strong> as suas deficiências, o processo também traz aspectos<br />
extremamente positivos como, por exemplo, novas soluções, “diluição” de interesses<br />
individuais e decisões mais legítimas (GAMBETA, 1998).<br />
Uma comparação entre as organizações brasileiras GIFE e ABONG<br />
Fazendo um comparativo entre a forma como ABONG e GIFE realizam advocacy em<br />
políticas públicas é possível identificar algumas semelhanças e diferenças. Uma importante<br />
diferença é a quem ca<strong>da</strong> uma representa. O GIFE representa um grupo que realiza<br />
10
investimento privado, em sua maioria de origem empresarial e a ABONG representa as<br />
ONGs mais volta<strong><strong>da</strong>s</strong> para a luta de direitos, de perfil mais politizado e militante e isto é<br />
constitutivo do seu posicionamento dentro de um contexto de esfera pública e em relação a<br />
um Marco Legal do Terceiro Setor em debate e construção. Estas organizações são<br />
representativas de uma parte do chamado terceiro setor, ou seja, não são representativas de<br />
“todo” o terceiro setor já que neste também se incluem organizações filantrópicas,<br />
organizações religiosas, entre outras.<br />
Outra diferença refere-se ao fato <strong>da</strong> ABONG ter um escritório e um profissional<br />
contratado realizando o papel de “Assessoria em Políticas Públicas e Participação social” , ou<br />
seja, advocacy em políticas públicas, em Brasília, em linha com o objetivo <strong>da</strong> organização de<br />
“fortalecimento dos espaços públicos deliberativos e paritários de compartilhamento de poder<br />
como forma de radicalizar a democracia” (CICONELLO, 2006). O GIFE, por outro lado,<br />
terceiriza este papel através <strong>da</strong> contratação <strong>da</strong> Ágere devido ao fato desta ter uma experiência<br />
“acumula<strong>da</strong> em advocacy de causas públicas/sociais” e também devido à uma questão de<br />
custos, já que esta opção é economicamente mais viável para a organização. Entretanto, a<br />
organização já avalia se instalar em Brasília e atuar diretamente (ROSSETTI, 2006).<br />
É importante salientar que na ativi<strong>da</strong>de de advocacy em políticas públicas, onde uma<br />
organização atua em defesa de uma causa, o ato de defender, pleitear, argumentar é<br />
importante no processo de deliberação e de posicionamento <strong>da</strong> organização. Surge então um<br />
questionamento: atuar diretamente no processo traz mais legitimi<strong>da</strong>de? Seriam necessárias<br />
pesquisas futuras para concluir que atuar diretamente é mais legítimo e eficaz do que a<br />
terceirização. Levando em consideração que o papel de advocacy no GIFE advém de um<br />
processo evolutivo <strong>da</strong> organização, delegar este tipo de função enquanto não se detém a<br />
habili<strong>da</strong>de pode também ser legítimo por um lado, ou seja, a organização busca incorporar<br />
esse aprendizado para ganhar legitimi<strong>da</strong>de antes de ela desenvolver diretamente essas<br />
ativi<strong>da</strong>des.<br />
Quando discutimos o relacionamento com o Estado, ambas as organizações o colocam<br />
como sendo de parceria e conflito, e criticam a ausência de políticas de Estado para as OSC<br />
Existem diversas negociações com ca<strong>da</strong> governo, mas não há uma política única, de Estado<br />
que resista a man<strong>da</strong>tos e interesses políticos o que prejudica o setor, seu crescimento e sua<br />
eficácia<br />
Ao analisar os projetos de lei / proposições que são acompanhados por ca<strong>da</strong><br />
organização através de documentos cedidos pelo GIFE e pela ABONG, percebemos que em<br />
termos de estrutura estes documentos, são semelhantes, falam qual o projeto de lei,<br />
propositor, descritivo, status e no caso do GIFE há uma priorização (1, 2 ou 3 de mais<br />
importante para menos importante), uma análise breve sobre o impacto (negativo ou positivo)<br />
do projeto e um maior espectro dos projetos acompanhados, ou seja, não apenas aqueles<br />
referentes ao “terceiro setor” mas também <strong><strong>da</strong>s</strong> áreas <strong>da</strong> cultura, educação e meio ambiente<br />
com impacto sobre as OSC.<br />
Outro ponto na comparação <strong><strong>da</strong>s</strong> duas organizações é o fato de ambas serem<br />
associações e ambas terem menciona<strong>da</strong> ter que li<strong>da</strong>r em alguns caso com a existência de<br />
interesses corporativistas por parte dos associados. Sendo que as organizacoes sempre<br />
buscam equacionar esses interesses a fim de atingir um interesse público.<br />
Em relação aos projetos de lei <strong><strong>da</strong>s</strong> áreas de educação, cultura e meio ambiente<br />
acompanhados pelo GIFE e à ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> pela ABONG a questões de gênero e igual<strong>da</strong>de<br />
racial, isto leva aos seguintes questionamentos: 1) Ao optar por fazer advocacy em prol de<br />
políticas públicas na área de meio ambiente, cultura e educação, o GIFE não estará<br />
segmentando e de certa forma, sendo corporativista em relação a determinados interesses?<br />
Deveria a organização (GIFE) focar-se em defender direitos que propiciem as organizações<br />
<strong>da</strong> área <strong>da</strong> cultura, meio ambiente, educação e outras, a fazerem advocacy elas mesmas em<br />
11
questões referentes às suas áreas? 2) Ao enfatizar as questões de igual<strong>da</strong>de racial e de gênero,<br />
de certa forma a ABONG não está privilegiando uma causa em detrimento de outras causas?;<br />
3) Deveriam ABONG e GIFE focar-se em defender os direitos de OSC de forma mais ampla?<br />
Dentro deste contexto, podemos observar que em alguns casos a literatura levanta a<br />
hipótese de que as organizações podem ser influencia<strong><strong>da</strong>s</strong> por quem controla os recursos, é a<br />
chama<strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> dependência de recursos. De acordo com esta teoria, o ambiente é uma<br />
fonte de recursos com a qual a organização interage e que exerce influência sobre a estrutura<br />
organizacional e o comportamento dos indivíduos dentro <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações (HUDOCK, 1995<br />
apud MENDONÇA, 2006). Uma possibili<strong>da</strong>de de pesquisa futura seria analisar as duas<br />
organizações à luz <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> dependência de recursos buscando observar se esta afeta a<br />
estrutura <strong>da</strong> organização.<br />
Finalmente, em relação à atuação em forma de coalizão por parte <strong><strong>da</strong>s</strong> duas<br />
organizações este estudo observa que, apesar de existirem vários posicionamentos comuns,<br />
vários projetos de lei sendo acompanhados por ambas as organizações não existe uma<br />
coalizão formal estabeleci<strong>da</strong> entre GIFE e ABONG. Alguns dos entrevistados afirmam existir<br />
a consciência de que juntas as duas organizações terão um poder de persuasão maior, mas que<br />
o processo de “afinar” o discurso entre as duas organizações é difícil devido às diferenças<br />
intrínsecas do perfil dos associados de ca<strong>da</strong> organização. Apesar do trabalho de advocacy ser<br />
muito parecido, assim como alguns posicionamentos em relação a determinados projetos de<br />
lei, à quem ca<strong>da</strong> organização representa gera diferenças significativas. Como observam<br />
Lavalle, Houtzager e Castello, entender o papel dos atores e organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />
“enquanto atores que realizam funções de representação política” é fun<strong>da</strong>mental em um<br />
contexto de democracia e participação.<br />
Desta forma vemos que a razão <strong>da</strong> não solidificação de uma coalizão propriamente<br />
dita esta liga<strong>da</strong> a diferenças ideológicas. Neste caso, as ideologias e a discordância resultante<br />
de a quem ca<strong>da</strong> organização representa são a essência <strong>da</strong> “não coalizão”, impossibilitando a<br />
atuação conjunta de forma mais sóli<strong>da</strong> e constante. Percebemos uma diferença em relação às<br />
coalizões norte americanas onde a lógica <strong>da</strong> razão instrumental parece prevalecer e são<br />
cria<strong><strong>da</strong>s</strong> varias coalizões ad-hoc apenas para a realização de certos objetivos, mesmo entre<br />
organizações com diferentes posicionamentos.<br />
Considerações finais<br />
Este estudo conclui que o papel de advocacy, mais especificamente, de advocacy em<br />
políticas públicas dentro de um contexto de democracia deliberativa fortalece o processo<br />
democrático ao trazer para o processo de deliberação organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil que<br />
representam diversos grupos na socie<strong>da</strong>de para que estes possam deliberar e expor seus<br />
pontos de vista sobre políticas públicas e assuntos de seu interesse, tornando o processo mais<br />
participativo Entretanto, este processo também possui riscos e desafios que devem ser<br />
levados em consideração. (DRYZEK, 2000; ELSTER, 1998; GAMBETA, 1998;<br />
HABERMAS, 1996).<br />
Alguns dos desafios para o estabelecimento <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil como<br />
agentes participativos no Brasil, de acordo com as entrevistas realiza<strong><strong>da</strong>s</strong> e <strong>da</strong> revisão <strong>da</strong><br />
literatura são os seguintes: 1) dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de financeira de ativi<strong>da</strong>des de<br />
advocacy cujos resultados são de longo prazo; 2) falta de conhecimento e tradição de<br />
advocacy e, principalmente, do funcionamento do processo legislativo e executivo; 3)<br />
ausência de políticas de “Estado” para a atuação <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil; 4)<br />
corrupção de algumas organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil que levam ao descrédito de todo o<br />
setor e cooptação de líderes de OSC pelo Governo; 5) espaços institucionalizados para a<br />
deliberação, como, por exemplo, os conselhos de polítcas públicas, não são sempre espaços<br />
12
democráticos; 6) problema <strong><strong>da</strong>s</strong> “vozes que falam mais alto” e <strong><strong>da</strong>s</strong> tendências “Claristas!”; 7)<br />
ausência de regras estabeleci<strong><strong>da</strong>s</strong> no processo de influenciar políticas públicas, como, por<br />
exemplo, o lobbying disclosure act que traria maior legitimi<strong>da</strong>de e transparência ao processo;<br />
8) a necessi<strong>da</strong>de de atuar em coalizões: ao atuar em forma de coalizão com outras<br />
organizaçoes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, órgãos governamentais e organizações do setor empresarial,<br />
estas organizações poderiam se fortalecer e legitimar a sua atuação; 9) representativi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong><br />
organizações de advocacy: a quem ca<strong>da</strong> organização representa e quais os interesses<br />
envolvidos? 10) importância <strong><strong>da</strong>s</strong> ferramentas de comunicação tanto no processo de<br />
deliberação como na definição de agen<strong>da</strong>.<br />
Para Habermas (1996), o processo de deliberação política consiste em uma rede de<br />
discursos e barganhas que supostamente facilitam a solução racional de questões pragmáticas,<br />
morais e éticas. Este tipo de processo requer que haja um espaço de deliberação e<br />
mobilização de ambas as partes, Estado e Socie<strong>da</strong>de <strong>Civil</strong>, para que possa ocorrer de fato e os<br />
altos custos são parte do processo de toma<strong>da</strong> de decisão pela deliberação. Surge neste<br />
contexto uma “comuni<strong>da</strong>de comunicativa ideal”, como tipo ideal a ser perseguido, mas que<br />
dificilmente é alcançado. Neste tipo ideal, a argumentação é feita por aqueles que fazem parte<br />
do processo perante um ideal expandido de audiência. Estas comuni<strong>da</strong>des ideais são<br />
forma<strong><strong>da</strong>s</strong> através de um processo de socialização e através de uma análise correta dos<br />
argumentos, baseados na ver<strong>da</strong>de (APEL, 1980 apud HABERMAS, 1996; HABERMAS,<br />
1996).<br />
Naturalmente este é um tipo ideal, uma “ficção metodológica” que permite destacar as<br />
complexi<strong>da</strong>des existentes, pois a reali<strong>da</strong>de é mais complexa e não modelável desta forma.<br />
Alcançar este caminho depende de um aprendizado cultural e pessoal por parte dos agentes<br />
participativos do processo e onde “opiniões dogmáticas sobre o mundo e padrões rígidos de<br />
socialização podem bloquear um modo deliberativo de societização” (HABERMAS, 1996, p.<br />
325, tradução nossa). Vale a pena reflertir se, devido às diferenças ideológicas presentes nas<br />
organizações estudo de caso, não ocorre um bloqueio no modo de deliberação, enfraquecendo<br />
a idéia de democracia deliberativa propriamente dita.<br />
A análise do Independent Sector e sua forma de deliberação dentro de um contexto<br />
específico <strong>da</strong> esfera pública dão indícios de que o país possui mecanismos institucionalizados<br />
de interação entre o Estado e a Socie<strong>da</strong>de <strong>Civil</strong>, em grande parte decorrente <strong>da</strong> própria<br />
história constitutiva (path dependence) do país. Por outro lado, o Brasil dá indícios de estar<br />
começando a trabalhar estas questões, mas ain<strong>da</strong> há um longo caminho a ser traçado a fim de<br />
alcançar práticas institucionaliza<strong><strong>da</strong>s</strong> e efetivas de deliberação, além dos conselhos de políticas<br />
publicas propriamente ditos. Poderíamos afirmar que estamos em fase de aprendizado?<br />
Percebemos que cabe a ambos, às organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e ao Estado, o<br />
papel de descobrir os caminhos de deliberação, ampliá-los e replicá-los e se mobilizar perante<br />
as dificul<strong>da</strong>des inerentes, buscando evidenciar as assimetrias existentes no processo, como<br />
por exemplo, vozes “mais fortes”, desigual<strong>da</strong>de de recursos e informações, desigual<strong>da</strong>de de<br />
habili<strong>da</strong>des, entre outros.<br />
Percebe-se que esta pesquisa abre portas para a geração de hipóteses sobre esta forma<br />
de atuação <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC que poderão ser verifica<strong><strong>da</strong>s</strong> por novas pesquisas como, por exemplo: 1)<br />
É possível verificar uma tendência maior <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC fazerem advocacy em políticas públicas,<br />
ou seja, as organizações estão atuando mais em questões liga<strong><strong>da</strong>s</strong> à formulação,<br />
monitoramento e execução de políticas públicas?; 2) Existe de fato uma profissionalização<br />
desta esfera, ou seja, para atuar na influência de políticas públicas é fun<strong>da</strong>mental que os<br />
atores estejam capacitados? 3) Qual o papel <strong><strong>da</strong>s</strong> coalizões dentro <strong>da</strong> influência em políticas<br />
públicas por parte <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC; 4) Quem financia este tipo de ativi<strong>da</strong>de e quão democrática é a<br />
disponibili<strong>da</strong>de deste tipo de recursos dentro de um amplo campo de OSC que atuam na<br />
influência de políticas públicas. Quais os riscos inerentes ao processo de financimanento?; 5)<br />
13
Qual é a percepção dos agentes governamentais sobre esta forma de atuação <strong><strong>da</strong>s</strong> OSC. Quão<br />
abertas são algumas instâncias governemantais em termos espaços deliberativos?; 6) Quais<br />
são as maiores dificul<strong>da</strong>des existentes por parte do governo para estimular e desenvolver esta<br />
forma de atuação? 7) Como estimular este tipo de atuação nas OSC em nível municipal,<br />
estadual e federal?; 8) Como li<strong>da</strong>r com questões de definição de agen<strong>da</strong> e agen<strong>da</strong> oculta neste<br />
tipo de atuação?<br />
As possibili<strong>da</strong>des de pesquisa que se abrem são inúmeras. Considerando a escassez<br />
deste tipo de estudos no país, procurou-se contribuir para o conhecimento e melhor<br />
entendimento do papel de advocacy <strong><strong>da</strong>s</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil. O advocacy em<br />
políticas públicas demonstra ser uma importante forma de atuação e de extrema importância<br />
dentro de um contexto deliberativo a fim de alcançar uma melhor discussão de políticas<br />
públicas que afetam os ci<strong>da</strong>dãos e socie<strong>da</strong>de como um todo. Alguns riscos, entretanto, são<br />
inerentes ao processo e devem ser levados em consideração.<br />
Bibliografia<br />
ABONG. Associação Brasileira de <strong>Organizações</strong> não Governamentais. Disponível em<br />
http://www.abong.org.br acesso em 15 dez 2006.<br />
ALVES, Mário A. O Conceito de Socie<strong>da</strong>de <strong>Civil</strong>: Em Busca de uma Repolitização.<br />
<strong>Organizações</strong> & Socie<strong>da</strong>de, v. 11, Edição Especial, p. 141-154, 2004.<br />
ALVES, Mário A. Terceiro Setor: as Origens do Conceito. In: ENCONTRO ANUAL DA<br />
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 2002.<br />
Salvador. Anais. Salvador: ENANPAD 2002.<br />
ANDREWS, Keneth; EDWARDS, Bob. <strong>Advocacy</strong> Organizations in the U.S. Political<br />
Process. Annual Review of Sociology. v. 30, p.479-506, 2004.<br />
APEL, Karl-Otto. The A Priori of the communication community and the foun<strong>da</strong>tion of<br />
ethics: The problem of a rational foun<strong>da</strong>tion of ethics in the scientific age. In: Apel, Karl-<br />
Otto. Towards a transformation of philosophy. London, 1980, p.225-300.<br />
ARAGÃO, Murillo. Grupos de Pressão no Congresso Nacional: como a socie<strong>da</strong>de pode<br />
defender licitamente seus direitos no poder legislativo. São Paulo: Maltese, 1994<br />
ARTHUR, Sue; NAZROO, James. Designing Fieldwork Strategies and Materials. In:<br />
RITCHIE, Jane; LEWIS, Jane. Qualitative Research Practice: a guide for social sciences<br />
students and researchers. Londres: Sage Publications, 2003.<br />
AVNER, Marcia. The Lobbying and <strong>Advocacy</strong> Handbook for Nonprofit Organizations:<br />
Shaping Public Policy at the State and Local Level. Minnesota: Amherst H. Wilder<br />
Foun<strong>da</strong>tion, 2002.<br />
BERRY, Jeffrey. Lobbying for the People: The Political Behavior of Public Interest Groups.<br />
Princeton: Princeton University Press, 1977.<br />
BORIS, Elizabeth T.; KREHELY, Jeff. Civic Participation and <strong>Advocacy</strong>. In: Lester. M.<br />
Salamon The State of Nonprofit America, ed. Washington DC: Brookings Institution Press,<br />
2002.<br />
CICONELLO, Alexandre. Novos Sujeitos na cena política: uma analise do perfil <strong><strong>da</strong>s</strong> ONGs<br />
de defesa de direitos e desenvolvimento associa<strong><strong>da</strong>s</strong> à ABONG. Em ABONG. ONGs no Brasil<br />
– Perfil <strong><strong>da</strong>s</strong> Associa<strong><strong>da</strong>s</strong> à ABONG. São Paulo: ABONG, 2006.<br />
COHEN, Jean e ARATO, Andrew. <strong>Civil</strong> Society and Political Theory. Cambridge: The MIT<br />
Press, 1992.<br />
DICIONÁRIO HOUAISS. Disponível em . Acesso<br />
em 20 jan 2007.<br />
14
DRYZEK, John S. Deliberative Democracy and Beyond. Liberals, Critics,<br />
Contestations.Oxford: Oxford University Press, 2000.<br />
EISENHARDT, Kathleen. Building Theories from Case Study Research. Academy of<br />
Management Review, v. 14, n. 4, p. 532-550, 1989.<br />
ELSTER, Jon. Deliberative Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.<br />
GAMBETA, Diego. “Claro!”: An essay on discursive machismo. In: ELSTER, Jon.<br />
Deliberative Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.<br />
GIFE. Relatório de Ativi<strong>da</strong>des 2005. Disponível em < http://www.gife.org.br/> Acesso em:<br />
05 jan. 2007.<br />
GOHN, Maria <strong>da</strong> G. Os sem terra, ONGs e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. São Paulo: Cortez, 1997.<br />
GROBMAN, Gary M. An Introduction to the Nonprofit Sector. A practical approach for the<br />
twenty-first century. United States: White Hat Communications, 2004.<br />
HABERMAS, Jürgen. Between Facts and Norms. Cambridge: MIT Press, 1996.<br />
HINDESS, Barry. Representation Ingrafted upon Democracy. Democratization, v.7, 2000.<br />
HIRSCHMAN, Albert O. On democracy in Latin America. New York Review of Books, April<br />
10, 1986<br />
HUDOCK, A. C. Sustaining southern NGOs in resource dependent environments. Journal of<br />
International Development, 7(4): 653-667.1995.<br />
IBGE. As Fun<strong>da</strong>ções Priva<strong><strong>da</strong>s</strong> e as Associações sem fins lucrativos no Brasil 2002. Rio de<br />
Janeiro: Instituto Brasileiro de Georgrafia e Estatística, 2004.<br />
INDEPENDENT SECTOR. Disponível em < http://www.independentsector.org/> em 07<br />
jan.2007.<br />
JENKINS, J. Craig. Nonprofit Organizations and Policy <strong>Advocacy</strong>. In: POWELL, Walter W.<br />
(ed.). The Nonprofit Sector: A Research Handbook. New Haven: Yale University Press,<br />
1987.<br />
JENKINS, J. Craig. Nonprofit Organizations and Policy <strong>Advocacy</strong>. In: POWELL, Walter W.;<br />
STEINBERG, Richard (ed.). The Nonprofit Sector: A Research Handbook. New Haven: Yale<br />
University Press, 2006.<br />
JENKINS, J. Craig. Social Movement Philanthropy and the Growth of Nonprofit Political<br />
<strong>Advocacy</strong>: Scope, Legitimacy and Impact. In: Nonprofit <strong>Advocacy</strong> and the Policy Process: II.<br />
Washington, D.C.: Urban Institute, 2001.<br />
KORTEN, David C. Getting to the 21 st Century. Voluntary Action and the Global Agen<strong>da</strong>.<br />
United States: Kumarian Press, 1990.<br />
LANDIM, Leilah. Para além do mercado e do Estado. Filantropia e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia no Brasil.<br />
Rio de Janeiro: ISER, 1993.<br />
LAVALLE, Adrián G.; HOUTZAGER, Peter P. CASTELLO, Graziela. Democracia,<br />
pluralização <strong>da</strong> representação e socie<strong>da</strong>de civil. Lua Nova. São Paulo, v. 67, p.49-103, 2006.<br />
MANCUSO, Wagner P. O lobby <strong>da</strong> indústria no Congresso Nacional: empresariado e<br />
política no Brasil contemporâneo. 2004. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Facul<strong>da</strong>de<br />
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, São Paulo.<br />
MENDONÇA, Patrícia. Dependência de recursos e performance organizacional: uma análise<br />
do relacionamento de ONGs Brasileiras e Internacionais. In: ENCONTRO DA<br />
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM<br />
ADMINISTRAÇÃO, 2005, Brasília. Anais. Brasília: EnANPAD, 2005.<br />
MINTZBERG, Henry; MOLZ, Rick; RAUFFLET, Emmanuel; SLOAN, Pamela;<br />
ABDALLAH, Chahrazed, BERCUVITZ, Rick; TZENG, C.H. The invisible world of<br />
association. Leader to Leader. Leader to Leader Institute: issue 36 , p. 37 – 45, Spring 2005.<br />
O’CONNELL, Brian. Powered by Coalition: The Story of Independent Sector. San Francisco:<br />
Jossey-Bass Inc Pub, 1997.<br />
15
OLIVEIRA, Andréa C. J. 2004. Lobby e representação de interesses: lobistas e seu impacto<br />
sobre a representação no Brasil. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Universi<strong>da</strong>de<br />
Estadual de Campinas, Campinas.<br />
PAZ, Rosangela D.O. Cadernos ABONG No 33. <strong>Organizações</strong> Não-Governamentais: Um<br />
debate sobre a Identi<strong>da</strong>de Política <strong><strong>da</strong>s</strong> Associa<strong><strong>da</strong>s</strong> à ABONG. São Paulo: ABONG, 2005.<br />
PEREIRA RODRIGUES. Ricardo J. Desenvolvimento nas ações políticas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />
dentro e fora do Congresso Nacional. Câmara dos Deputados, Brasília, 2000. Disponível em<br />
em 30 mai.2006.<br />
RODRIGUES, Le<strong>da</strong> B. Grupos de pressão e grupos de interesse. Curso de Introdução à<br />
Ciência Política, Uni<strong>da</strong>de VI. Brasília: Ed. UnB, 1982.<br />
SALAMON, Lester M. The Resilient Sector: The State of Nonprofit America. In: The State<br />
of Nonprofit America, ed. by L. M. Salamon. Washington DC: Brookings Institution Press,<br />
2002.<br />
SALAMON, Lester; ANHEIER, Helmut. The nonprofit sector in comparative perspective.<br />
In: POWELL, Walter W.; STEINBERG, Richard. The nonprofit sector: A research<br />
handbook. New Haven: Yale University Press, 2006.<br />
SANDERS, Lynn. Against deliberation. Political Theory, 25: 347-376, 1997.<br />
SKOCPOL, The<strong>da</strong>. Diminished Democracy. From membership to Management in American<br />
civic life. Oklahoma: University of Oklahoma Press, 2003.<br />
TEODÓSIO, Armindo S. O Terceiro Setor e a provisão de políticas sociais: desafios,<br />
perspectivas e armadilhas <strong>da</strong> relação entre organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e Estado em Minas<br />
Gerais. X SEMINÁRIO SOBRE A ECONOMIA MINEIRA, 2002, Diamantina. Anais, 2002.<br />
TOLEDO, Gastão A. Grupos de Pressão no Brasil. São Paulo: Instituto dos Advogados de<br />
São Paulo, 1985.<br />
VAN TUIJL, Peter. NGO’s and Human Rights: Sources of Justice and Democracy. Journal<br />
of International Affairs, v. 52, n. 2: p. 493-512, 1999.<br />
16