Volume 3 Parte 1 - Portal do Professor - Ministério da Educação

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18 é, antes de mais nada, uma estratégia para continuar estudando e melhorar de vida. São jovens que vivem num tempo em que a adolescência é tardia e o preparo para trabalhar mais longo e que, contraditoriamente, por sua origem social, precisam trabalhar precocemente para melhorar de vida no longo prazo. O currículo precisa identificar e propor às escolas conhecimentos e competências que podem ser relevantes para o sucesso desse projeto complexo, envolvendo o trabalho precoce e a constituição da capacidade de continuar aprendendo para, no futuro, inserir-se nesse mesmo mercado com mais flexibilidade. Nesse projeto, o fortalecimento do domínio da própria língua é indispensável para organizar cognitivamente a realidade, exercer a cidadania e comunicar-se com os outros. Além disso, a competência de leitura e escrita é condição para o domínio de outras linguagens que precisam da língua materna como suporte – literatura, teatro, entre outras. O mundo contemporâneo disputa o universo simbólico de crianças e adolescentes, lançando mão de suportes os mais variados – imagens, infográficos, fotografia, sons, música, corpo –, veiculados de forma também variada – a internet, a TV, a comunicação visual de ambientes públicos, a publicidade, o celular. A escola precisa focalizar a competência para ler e produzir na própria língua e abrir oportunidades para que os alunos acessem outros tipos de suportes e veículos, com o objetivo de selecionar, organizar e analisar criticamente a informação aí presente. O currículo é um recorte da cultura científica, linguística e artística da sociedade, ou seja, o currículo é cultura. Os frequentes esforços de sair da escola, buscando a “verdadeira cultura”, têm efeitos devastadores: estiola e resseca o currículo, tira-lhe a vitalidade, torna-o aborrecido e desmotivador, um verdadeiro “zumbi” pedagógico. Em vez de perseguir a cultura é premente dar vida à cultura presente no currículo, situando os conteúdos escolares no contexto cultural significativo para seus alunos. Em nosso País, de diversidade cultural marcante, revitalizar a cultura recortada no currículo é condição para a construção de uma escola para a maioria. Onde se aprende a cultura universal sistematizada nas linguagens, nas ciências e nas artes sem perder a aderência à cultura local que dá sentido à universal. Finalmente, o grande desafio, diante da mudança curricular que o Brasil está promovendo, é a capacidade do professor para operar o currículo. Também aqui é importante desfazer-se de concepções passadas que orientaram a definição de cursos de capacitação sem uma proposta curricular, qualquer que fosse ela, para identificar as necessidades de aprendizagem do professor. Cursos de capacitação, geralmente contratados de agências externas à educação básica, seguiram os padrões e objetivos considerados valiosos para os gestores e formadores dessas agências. Independentemente da qualidade pedagógica desses cursos ou programas de capacitação, a verdade é que, sem que o sistema tivesse um currículo, cada professor teve acesso a conteúdos e atividades diferentes, muitas vezes descoladas da realidade da escola na qual esse professor trabalhava. Vencida quase uma década no novo século, a Secretaria de Educação do RS tem clareza de que a melhor capacitação em serviço para os professores é aquela que faz parte integrante do próprio currículo, organicamente articulada com o domínio, pelo professor, dos conteúdos curriculares a serem aprendidos por seus alunos e da organização de situações de aprendizagem compatíveis. Este documento, ao explicar os fundamentos dos Referenciais Curriculares, inaugura essa nova perspectiva da capacitação em serviço. MATEMATICA ENSINO FUNDAMENTAL V3.indd 18 24/8/2009 15:45:09

IV - Princípios e fundamentos dos Referenciais Curriculares Importância da aprendizagem de quem ensina Quem ensina é quem mais precisa aprender. Esse é o primeiro princípio destes Referenciais. Os resultados das avaliações externas realizadas na última década, entre as quais o SAEB, a PROVA BRASIL, o ENEM e agora o SAERS, indicam que os esforços e recursos aplicados na capacitação em serviço dos professores não têm impactado positivamente o desempenho dos alunos. Essa falta de relação entre educação continuada do professor e desempenho dos alunos explicase pelo fato de que os conteúdos e formatos da capacitação nem sempre têm referência naquilo que os alunos desses professores precisam aprender e na transposição didáticas desses conteúdos. Dessa forma, estes Referenciais têm como princípio demarcar não só o que o professor vai ensinar, mas também o que ele precisa saber para desincumbir-se a contento da implementação do currículo e, se não sabe, como vai aprender. É por esta razão que, diferentemente de muitos materiais didáticos que começam pelos livros, cadernos ou apostilas destinadas aos alunos, estes Referenciais começam com materiais destinados aos professores. Tratase não de repetir os acertos ou desacertos da formação inicial em nível superior, mas de promover a aderência da capacitação dos professores aos conteúdos e metodologias indicados nos Referenciais. E como devem aprender os que ensinam? A resposta está dada nos próprios Referenciais: em contexto, por áreas e com vinculação à prática. Se a importância da aprendizagem de quem ensina for observada no trabalho escolar, os Referenciais devem ser base para decidir ações de capacitação em serviço para a equipe como um todo e para os professores de distintas etapas e disciplinas da educação básica. E os princípios dos Referenciais devem orientar as estratégias de capacitação em nível escolar, regional ou central. Aprendizagem como processo coletivo Na escola, a aprendizagem de quem ensina não é um processo individual. Mesmo no mercado de trabalho corporativo, as instituições estão valorizando cada vez mais a capacidade de trabalhar em equipe. A vantagem da educação é que poucas atividades humanas submetem-se menos à lógica da competitividade quanto a educação escolar, particularmente a docência. O produto da escola é obrigatoriamente coletivo, mesmo quando o trabalho coletivo não é uma estratégia valorizada. Diante do fracasso do aluno, a responsabilidade recai em algum coletivo – o governo, a educação em geral ou a escola, dificilmente sobre um professor em particular. Na docência, o sucesso profissional depende menos do exercício individual do que em outras atividades, como, por exemplo, as artísticas, a medicina, sem falar em outras mais óbvias, como a publicidade, vendas ou gestão do setor produtivo privado. Os professores atuam em equipe mesmo que não reconheçam. Esse caráter coletivista (no bom sentido) da prática escolar quase nunca é aproveitado satisfatoriamente. Ao contrário, muitas vezes, serve de escudo para uma responsabilização anônima e diluída, porque, embora todos sejam responsabilizados pelo fracasso, poucos se empenham coletivamente para o sucesso. Espera-se que estes Referenciais ajudem a reverter essa situação, servindo como base comum sobre a qual estabelecer, coletivamente, metas a serem alcançadas e indicadores para julgar se o foram ou não e o porquê. Sua organização por áreas já é um primeiro passo nesse sentido. MATEMATICA ENSINO FUNDAMENTAL V3.indd 19 24/8/2009 15:45:09 1919

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é, antes de mais na<strong>da</strong>, uma estratégia para<br />

continuar estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e melhorar de vi<strong>da</strong>. São<br />

jovens que vivem num tempo em que a a<strong>do</strong>lescência<br />

é tardia e o preparo para trabalhar<br />

mais longo e que, contraditoriamente,<br />

por sua origem social, precisam trabalhar<br />

precocemente para melhorar de vi<strong>da</strong> no<br />

longo prazo. O currículo precisa identificar<br />

e propor às escolas conhecimentos e competências<br />

que podem ser relevantes para o<br />

sucesso desse projeto complexo, envolven<strong>do</strong><br />

o trabalho precoce e a constituição <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

de continuar aprenden<strong>do</strong> para, no<br />

futuro, inserir-se nesse mesmo merca<strong>do</strong> com<br />

mais flexibili<strong>da</strong>de.<br />

Nesse projeto, o fortalecimento <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

<strong>da</strong> própria língua é indispensável para<br />

organizar cognitivamente a reali<strong>da</strong>de, exercer<br />

a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e comunicar-se com os outros.<br />

Além disso, a competência de leitura e escrita<br />

é condição para o <strong>do</strong>mínio de outras linguagens<br />

que precisam <strong>da</strong> língua materna como<br />

suporte – literatura, teatro, entre outras.<br />

O mun<strong>do</strong> contemporâneo disputa o universo<br />

simbólico de crianças e a<strong>do</strong>lescentes,<br />

lançan<strong>do</strong> mão de suportes os mais varia<strong>do</strong>s<br />

– imagens, infográficos, fotografia, sons, música,<br />

corpo –, veicula<strong>do</strong>s de forma também<br />

varia<strong>da</strong> – a internet, a TV, a comunicação<br />

visual de ambientes públicos, a publici<strong>da</strong>de,<br />

o celular. A escola precisa focalizar a competência<br />

para ler e produzir na própria língua e<br />

abrir oportuni<strong>da</strong>des para que os alunos acessem<br />

outros tipos de suportes e veículos, com<br />

o objetivo de selecionar, organizar e analisar<br />

criticamente a informação aí presente.<br />

O currículo é um recorte <strong>da</strong> cultura científica,<br />

linguística e artística <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,<br />

ou seja, o currículo é cultura. Os frequentes<br />

esforços de sair <strong>da</strong> escola, buscan<strong>do</strong> a<br />

“ver<strong>da</strong>deira cultura”, têm efeitos devasta<strong>do</strong>res:<br />

estiola e resseca o currículo, tira-lhe<br />

a vitali<strong>da</strong>de, torna-o aborreci<strong>do</strong> e desmotiva<strong>do</strong>r,<br />

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Em vez de perseguir a cultura é premente<br />

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os conteú<strong>do</strong>s escolares no contexto<br />

cultural significativo para seus alunos. Em<br />

nosso País, de diversi<strong>da</strong>de cultural marcante,<br />

revitalizar a cultura recorta<strong>da</strong> no currículo<br />

é condição para a construção de uma<br />

escola para a maioria. Onde se aprende a<br />

cultura universal sistematiza<strong>da</strong> nas linguagens,<br />

nas ciências e nas artes sem perder<br />

a aderência à cultura local que dá senti<strong>do</strong><br />

à universal.<br />

Finalmente, o grande desafio, diante <strong>da</strong><br />

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é a capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> professor para<br />

operar o currículo. Também aqui é importante<br />

desfazer-se de concepções passa<strong>da</strong>s<br />

que orientaram a definição de cursos de<br />

capacitação sem uma proposta curricular,<br />

qualquer que fosse ela, para identificar as<br />

necessi<strong>da</strong>des de aprendizagem <strong>do</strong> professor.<br />

Cursos de capacitação, geralmente<br />

contrata<strong>do</strong>s de agências externas à educação<br />

básica, seguiram os padrões e objetivos<br />

considera<strong>do</strong>s valiosos para os gestores e<br />

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<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica desses<br />

cursos ou programas de capacitação, a ver<strong>da</strong>de<br />

é que, sem que o sistema tivesse um<br />

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e ativi<strong>da</strong>des diferentes, muitas vezes<br />

descola<strong>da</strong>s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola na qual<br />

esse professor trabalhava.<br />

Venci<strong>da</strong> quase uma déca<strong>da</strong> no novo século,<br />

a Secretaria de <strong>Educação</strong> <strong>do</strong> RS tem clareza<br />

de que a melhor capacitação em serviço<br />

para os professores é aquela que faz parte integrante<br />

<strong>do</strong> próprio currículo, organicamente<br />

articula<strong>da</strong> com o <strong>do</strong>mínio, pelo professor, <strong>do</strong>s<br />

conteú<strong>do</strong>s curriculares a serem aprendi<strong>do</strong>s<br />

por seus alunos e <strong>da</strong> organização de situações<br />

de aprendizagem compatíveis.<br />

Este <strong>do</strong>cumento, ao explicar os fun<strong>da</strong>mentos<br />

<strong>do</strong>s Referenciais Curriculares,<br />

inaugura essa nova perspectiva <strong>da</strong> capacitação<br />

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