18.08.2013 Views

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

posição dos antropólogos Peter Fry e Edward MacRae quando, em texto em que<br />

trataram do tema “o que é a homossexualidade”, referindo-se brevemente ao assunto<br />

das “causas”, escreveram: “nenhuma das teorias existentes <strong>sobre</strong> as causas da homossexualidade<br />

nos convence e a nossa tendência é de tratá-las todas, sem exceção,<br />

como produções ideológicas” (FRY e MACRAE, 98 : ).<br />

Neste trabalho, faremos a crítica a teorias que, de tão difundidas, tor<strong>na</strong>ram-se<br />

verdadeiro senso comum social: as teorias das psicologias – a psicanálise aí incluída<br />

– e as produzidas <strong>na</strong> onda contemporânea do determinismo biológico em suas versões<br />

mais atuantes: a sociobiologia e a psicologia evolucionista. Trata-se, necessariamente,<br />

da visão de um cientista social, mas igualmente subjetiva e que não se esconde<br />

como uma visão política do problema. No combate ao preconceito (<strong>na</strong> ciência ou<br />

fora dela) e à violência que ele implica, nenhum cientista pode reivindicar objetividade<br />

e neutralidade científicas.<br />

Poder-se-á objetar nossa crítica dizendo que nenhum preconceito há em se<br />

pensar uma gênese específica da homossexualidade – Freud já tratava do assunto,<br />

acreditando numa “gênese psíquica da homossexualidade” (FREUD, 9 0 [ 970: 9<br />

e segs.]) – assim como se admitiria uma gênese também particular para a heterossexualidade.<br />

Nos dois casos, tratar-se-ia sempre de escolha objetal e, igualmente, existiriam<br />

aí causas implicadas: para cada um dos casos, as escolhas estariam fundadas em<br />

determi<strong>na</strong>ções (inconscientes), ignoradas pelo próprio sujeito, que se diferenciariam<br />

quanto ape<strong>na</strong>s aos objetivos sexuais, julgamentos de valor não podendo ser aplicados<br />

a nenhum dos casos. Em outra ocasião (SOUSA FILHO, 00 b), já nos valemos<br />

deste argumento, mas ele é frágil. Ora, a questão que não aparece aí é que, como a<br />

priori o preconceito <strong>sobre</strong>atua em certas visões teóricas, as supostas determi<strong>na</strong>ções<br />

(inconscientes, sociais, culturais) da homossexualidade já são, de antemão, encaradas<br />

como determi<strong>na</strong>ções de um “problema”, de uma “inversão”, de um “desvio”, de uma<br />

“perversão”, isto é, de uma escolha não conforme à ideologia da “normalidade”.<br />

Simples é ver que o preconceito age em círculo: como a homossexualidade é<br />

a priori encarada como “inversão”, “desvio”, “anormalidade”, perversão” etc., suas supostas<br />

“determi<strong>na</strong>ções” não são compreendidas como determi<strong>na</strong>ções de uma escolha<br />

objetal normal e saudável (uma escolha entre outras, supostamente quando haveria<br />

uma compreensão sem juízo de valor), mas, diferentemente, como “causa” de um<br />

“problema”, de um “desvio” no âmbito da sexualidade dos indivíduos. Até aqui, de<br />

todo modo, é o que se pode depreender do discurso de muitos nos diversos modelos<br />

teóricos das psicologias, <strong>na</strong> pedagogia, e mesmo <strong>na</strong>s ciências sociais. Descontadas as<br />

dificuldades de sua época e não deixando de se reconhecer seus autênticos propósitos<br />

emancipatórios, os enredamentos de Freud em torno do tema da homossexua-<br />

97

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!