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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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Esse alinhamento (entre sexo-gênero-sexualidade) dá sustentação ao processo<br />

de heteronormatividade, ou seja, à produção e à reiteração compulsória da norma<br />

heterossexual. Supõe-se, segundo essa lógica, que todas as pessoas sejam (ou devam<br />

ser) heterossexuais – daí que os sistemas de saúde ou de educação, o jurídico ou<br />

o midiático sejam construídos à imagem e à semelhança desses sujeitos. São eles<br />

que estão ple<strong>na</strong>mente qualificados para usufruir desses sistemas ou de seus serviços<br />

e para receber os benefícios do Estado. Os outros, que fogem à norma, poderão<br />

<strong>na</strong> melhor das hipóteses ser reeducados, reformados (se for adotada uma ótica de<br />

tolerância e complacência); ou serão relegados a um segundo plano (tendo de se<br />

contentar com recursos alter<strong>na</strong>tivos, restritivos, inferiores); quando não forem simplesmente<br />

excluídos, ignorados ou mesmo punidos. Ainda que se reconheça tudo<br />

isso, a atitude mais freqüente é a desatenção ou a conformação. A heteronormatividade<br />

só vem a ser reconhecida como um processo social, ou seja, como algo que é<br />

fabricado, produzido, reiterado, e somente passa a ser problematizada a partir da ação<br />

de intelectuais ligados aos estudos de sexualidade, especialmente aos estudos gays e<br />

lésbicos e à teoria queer.<br />

Stevi Jackson ( 00 ) diz que a grande utilidade do conceito de heteronormatividade<br />

“consiste em poder nos alertar para as formas pelas quais a norma heterossexual<br />

é tramada no tecido social de nossas vidas numa série de níveis, do institucio<strong>na</strong>l<br />

ao cotidiano” e que isso se dá de forma consistente, ainda que, por vezes, seus<br />

efeitos sejam contraditórios. Ele sugere também que se pense <strong>na</strong>s intersecções entre<br />

“heterossexualidade” e gênero, afirmando que elas são complexas.<br />

O processo de reiteração da heterossexualidade adquire consistência (e também<br />

invisibilidade) exatamente porque é empreendido de forma continuada e constante<br />

(muitas vezes, sutil) pelas mais diversas instâncias sociais. Os discursos mais<br />

autorizados <strong>na</strong>s sociedades contemporâneas repetem a norma regulatória que supõe<br />

um alinhamento entre sexo-gênero-sexualidade. Por certo circulam ainda (e cada<br />

vez com mais força) discursos divergentes e práticas subversivas dessa norma, produzidos<br />

a partir das posições subordi<strong>na</strong>das. Movimentos organizados das chamadas<br />

“minorias sexuais” têm conseguido <strong>na</strong>s últimas décadas expressivos avanços no campo<br />

midiático ou mesmo jurídico, com alguns efeitos também no campo da educação.<br />

Há, contudo, sérios limites nesse processo, os quais pretendo indicar a seguir.<br />

Antes, me parece importante enfatizar dois pontos:<br />

90<br />

- Primeiro, que a norma precisa ser reiterada constantemente. Não há nenhuma<br />

garantia de que a heterossexualidade aconteça <strong>na</strong>turalmente (se isso<br />

fosse seguro, não seriam feitos tantos esforços para afirmar e reafirmar esta<br />

forma de sexualidade).

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