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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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Tais mudanças não são <strong>na</strong>da ba<strong>na</strong>is: elas são constituídas e constituintes de outras<br />

estratégias e relações de poder.<br />

Como os novos Estados <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is estarão agora, mais do que antes, preocupados<br />

em controlar suas populações e garantir sua produtividade, seus gover<strong>na</strong>ntes<br />

vão investir numa série de medidas voltadas para a vida: passam a discipli<strong>na</strong>r a família<br />

e a ter especial cuidado com a reprodução e as práticas sexuais. É importante<br />

prestar atenção em quem, neste contexto, tem autoridade para afirmar a verdade e<br />

quem será o alvo preferencial de ação dos governos.<br />

Ao fi<strong>na</strong>l do século XIX, serão homens, médicos e também filósofos, moralistas<br />

e pensadores (das grandes <strong>na</strong>ções da Europa) que vão fazer as mais importantes<br />

“descobertas” e definições <strong>sobre</strong> os corpos de homens e mulheres. Será o seu olhar<br />

“autorizado” que irá estabelecer as diferenças relevantes entre sujeitos e práticas sexuais,<br />

classificando uns e outros a partir do ponto de vista da saúde, da moral e da<br />

higiene. Não é de estranhar, pois, que a linguagem e a ótica empregadas em tais definições<br />

sejam marcadamente masculi<strong>na</strong>s; que as mulheres sejam concebidas como<br />

portadoras de uma sexualidade ambígua, escorregadia e potencialmente perigosa;<br />

que os comportamentos das classes média e alta dos grupos brancos das sociedades<br />

urba<strong>na</strong>s ocidentais tenham se constituído <strong>na</strong> referência para estabelecer o que era<br />

ou não apropriado, saudável ou bom. Nascia a sexologia. Inventavam-se tipos sexuais,<br />

decidia-se o que era normal ou patológico e esses tipos passavam a ser hierarquizados.<br />

Buscava-se te<strong>na</strong>zmente conhecer, explicar, identificar e também classificar,<br />

dividir, regrar e discipli<strong>na</strong>r a sexualidade. Tais discursos, carregados da autoridade da<br />

ciência, gozavam do estatuto de verdade e se confrontavam ou se combi<strong>na</strong>vam com<br />

os discursos da igreja, da moral e da lei.<br />

É nesse contexto que surge o homossexual e a homossexualidade. Práticas<br />

afetivas e sexuais exercidas entre pessoas de mesmo sexo (que sempre existiram em<br />

todas as sociedades) ganham agora uma nova conotação. Não serão mais compreendidas,<br />

como eram até então, como um acidente, um pecado eventual, um erro ou<br />

uma falta a que qualquer um poderia incorrer, pelo menos potencialmente. Por certo,<br />

em muitas sociedades, aqueles que incorriam nessa falha mereciam ser punidos,<br />

e o perdão lhes era concedido a duras pe<strong>na</strong>s (quando era!). No entanto, agora tais<br />

práticas passam a ser compreendidas de um modo bem distinto. Entende-se que<br />

elas revelam uma verdade oculta do sujeito. O homossexual não era simplesmente<br />

um sujeito qualquer que caiu em pecado, ele se constituía num sujeito de outra<br />

espécie. Para este tipo de sujeito, haveria que inventar e pôr em execução toda uma<br />

seqüência de ações: punitivas ou recuperadoras, de reclusão ou de regeneração, de<br />

ordem jurídica, religiosa ou educativa.<br />

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