Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...
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quanto os discursos que procuram na “natureza” a sua base de legitimação, podem ser os posicionamentos caracterizados por uma miséria ética, por meio da qual o que é concebido como “cultural” é passível de ser recebido, aceito ou aclamado de forma linear e desatenta aos efeitos de poder que o próprio enfrentamento de um quadro de opressão pode gerar. Trata-se de investir em um processo de reconfiguração simbólica e política que, como tudo o que concerne à democratização das relações e à institucionalização de novas práticas pedagógicas, é contínuo, inacabado, sempre suscetível de ser revisto, ampliado e aperfeiçoado. E por também estar sujeito a ameaças e a retrocessos, esse processo requer sempre maior empenho, capacidade de articulação, criatividade, responsabilidade e ousadia, em diversos espaços, níveis, direções e sentidos. Se as identidades sexuais e de gênero, os corpos, a sexualidade, os sujeitos, as representações, os padrões culturais, as normas, os valores, as relações humanas, as configurações políticas e as pedagogias não constituem realidades imutáveis, mas construções dinâmicas, em contínua transformação, há espaço (ou brechas) para a crítica, a reflexividade e a reconsideração permanente do trabalho dos indivíduos e da sociedade sobre si mesmos. Reside aí uma das responsabilidades de quem povoa e anima o universo da educação, produz informações, conhecimentos e influencia mentes e corações. Munidos de ousadia, poderíamos, como propõe Daniel Lins ( 997 e 00 ), deixar de favorecer o discurso da intimação, da delação e do estigma, em favor da criação, da comunicação, do nomadismo e das trocas simbólicas. Neste sentido, poderíamos melhor resistir, infectar e revitalizar o instituído por meio de uma “pedagogia rizomática”. Pautada pela horizontalidade, pela ética e pela estética da existência, essa pedagogia valoriza relações, procura multiplicar intercâmbios, incentiva experimentações e prioriza o conversar com (e não se limita ao falar sobre). Empenha-se em fazer da escola um espaço de corpos vibráteis, devires desejantes, dotados de olhares que não vêem por antecipação. Como assinala o autor, um lugar para a eclosão do novo. De toda sorte, educere, lembra-nos Olgária Matos ( 00 : ), significa “conduzir para fora de”, evoca a idéia de itinerário – de um ponto a outro, de um ao “outro”. Considerando a epígrafe deste texto, temos que a ida ao encontro do “outro” pressupõe uma educação envolvida com o aprendizado permanente, o reconhecimento e o respeito mútuos, comprometida com o alargamento da democracia, a dissolução de ortodoxias, a revelação de dessemelhanças no que parece homogêneo, o encontro de semelhanças no aparentemente estranho. Confiante nas possibilida- 426
des da comunicação, investe na compreensão recíproca, procura fazer do mundo um espaço compartilhado. Algo que, como diz ela, se aprende e se ensina. Seu palco privilegiado é a escola, embora não seja o único. Referências ABRAMO, Laís. Desigualdades e discriminação de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro. Fórum Internacional Erradicação da Pobreza, Geração de Emprego e Igualdade de Gênero e Raça. Brasília, a de outubro de 00 . ALLPORT, Gordon W. The nature of prejudice. Reading: Addison-Wesley, 979 ( . ed.: 9 4). ALMEIDA, Miguel Vale. Senhores de si: uma representação antropológica da masculinidade. Lisboa: Fim de Século, 99 . ALTMAN, Dennis. Sexo global. México: Oceano, 00 (ed. or.: 00 ). ANNAÏM, Abdullahi. Toward an Islamic hermeneutics for Human rights. In: ______ et al. (Eds.). Human rights and religious values: an unseeming relationship? Michigan: Grand Rapids, 99 . APPADURAI, Arjun. Modernità in polvere. Roma: Meltemi, 00 (ed. or.: 99 ). ARONSON, Elliot. O animal social. São Paulo: Ibrasa, 979 (ed. or.: 9 ). ARIÈS, Philippe. Reflexões sobre a história da homossexualidade. In: ARIÈS, Philippe e BÉJIN, André (Orgs.). Sexualidades ocidentais. São Paulo: Brasiliense, 98 (ed. or.: 98 ). ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 98 (ed. or.: 9 8). ______. Eichmann em Jerusalém. São Paulo: Diagrama & Texto, 98 (ed. or.: 9 ). ______. Le origini del totalitarismo. Milano: Edizioni Comunità, 99 (ed. or.: 9 , 9 8, 9 ). 427
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quanto os discursos que procuram <strong>na</strong> “<strong>na</strong>tureza” a sua base de legitimação, podem<br />
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que é concebido como “cultural” é passível de ser recebido, aceito ou aclamado de<br />
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quadro de opressão pode gerar.<br />
Trata-se de investir em um processo de reconfiguração simbólica e política<br />
que, como tudo o que concerne à democratização das relações e à institucio<strong>na</strong>lização<br />
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ampliado e aperfeiçoado. E por também estar sujeito a ameaças e a retrocessos,<br />
esse processo requer sempre maior empenho, capacidade de articulação, criatividade,<br />
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Se as identidades sexuais e de gênero, os corpos, a sexualidade, os sujeitos, as<br />
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configurações políticas e as pedagogias não constituem realidades imutáveis, mas<br />
construções dinâmicas, em contínua transformação, há espaço (ou brechas) para a<br />
crítica, a reflexividade e a reconsideração permanente do trabalho dos indivíduos e<br />
da sociedade <strong>sobre</strong> si mesmos. Reside aí uma das responsabilidades de quem povoa<br />
e anima o universo da educação, produz informações, conhecimentos e influencia<br />
mentes e corações.<br />
Munidos de ousadia, poderíamos, como propõe Daniel Lins ( 997 e 00 ),<br />
deixar de favorecer o discurso da intimação, da delação e do estigma, em favor<br />
da criação, da comunicação, do nomadismo e das trocas simbólicas. Neste sentido,<br />
poderíamos melhor resistir, infectar e revitalizar o instituído por meio de uma<br />
“pedagogia rizomática”. Pautada pela horizontalidade, pela ética e pela estética da<br />
existência, essa pedagogia valoriza relações, procura multiplicar intercâmbios, incentiva<br />
experimentações e prioriza o conversar com (e não se limita ao falar <strong>sobre</strong>).<br />
Empenha-se em fazer da escola um espaço de corpos vibráteis, devires desejantes,<br />
dotados de olhares que não vêem por antecipação. Como assi<strong>na</strong>la o autor, um lugar<br />
para a eclosão do novo.<br />
De toda sorte, educere, lembra-nos Olgária Matos ( 00 : ), significa “conduzir<br />
para fora de”, evoca a idéia de itinerário – de um ponto a outro, de um ao<br />
“outro”. Considerando a epígrafe deste texto, temos que a ida ao encontro do “outro”<br />
pressupõe uma educação envolvida com o aprendizado permanente, o reconhecimento<br />
e o respeito mútuos, comprometida com o alargamento da democracia, a<br />
dissolução de ortodoxias, a revelação de dessemelhanças no que parece homogêneo,<br />
o encontro de semelhanças no aparentemente estranho. Confiante <strong>na</strong>s possibilida-<br />
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