18.08.2013 Views

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A importância da desconstrução de tais dicotomias reside ainda no fato de<br />

que quanto mais um indivíduo ou grupo social distanciar-se do pólo-referência,<br />

mais desvalorizado estará em um determi<strong>na</strong>do “mercado social” (ou “campo”). Isto<br />

poderá ensejar uma espiral de ulteriores discrimi<strong>na</strong>ções entre diferentes indivíduos,<br />

grupos e subgrupos sociais também discrimi<strong>na</strong>dos. Poderá, aliás, se fazer acompanhar,<br />

com enorme freqüência, de mecanismos de autodiscrimi<strong>na</strong>ção.<br />

Mantendo-se intactas as normas de gênero e o padrão heteronormativo<br />

das dicotomias polarizadas, o risco é ver o “tabu da feminilização” e do “sacrilégio<br />

do masculino” (BOURDIEU, 999: 44) conduzir a ulteriores formas<br />

de discrimi<strong>na</strong>ção e violência. Com efeito, a hipermasculi<strong>na</strong>ção de determi<strong>na</strong>das<br />

configurações identitárias gays (por exemplo: as “barbies”) se constrói em contraposição<br />

a atitudes, gestos, comportamentos, performances, estilos e portes<br />

físicos considerados femininos ou afemi<strong>na</strong>dos (discrimi<strong>na</strong>ndo-se e investindo-se<br />

simbólica e socialmente contra travestis, camps, drag-queens e outros objetivados<br />

como “pintosas”, “passivo<strong>na</strong>s” etc.). Também em função desse tabu e dos<br />

esforços de exorcismo que desencadeia, derivam as “peque<strong>na</strong>s mentiras” nos sites<br />

de bate-papo e <strong>na</strong>moro <strong>na</strong> internet, nos quais um número expressivo de pessoas<br />

leva ao extremo a afirmação da virilidade, insistindo em auto-representar-se<br />

como “homem com jeito de homem”, “não afemi<strong>na</strong>do” (e alguns até completam:<br />

“<strong>na</strong>da contra”), “exclusivamente ativo”, “estranho [?] ao meio” etc. (Em caso de<br />

profunda negação, a angústia resultante do “retorno do recalcado”, agravada por<br />

uma eventual discrepância entre imagem pública e auto-imagem, poderá conduzir<br />

a situações de embaraço ou até mesmo de violência).<br />

Nesse sentido, sublinhando o afastamento de qualquer proposição essencialista,<br />

concordo com Britzman ( 99 : 74) quando observa que nenhuma identidade<br />

(nem mesmo a sexual) é automática, autêntica, facilmente “assumida” 4 ou existe<br />

sem negociação ou construção. Ela vai ainda mais longe: “a identidade não é<br />

uma soma de atos singulares e conscientes, mas uma relação social aprisio<strong>na</strong>da – ao<br />

152 Para uma reflexão <strong>sobre</strong> o camp, vide o clássico SONTAG (1987) e LOPES (2002: 89-120). Sobre transgêneros,<br />

travestis e transexuais, vide: BUTLER, 2003: 192-201; BENTO, 2003, 2004 e 2006; OLIVEIRA,<br />

1994; PERES, 2004; SILVA, 2007 e diversos artigos em LOPES, 2004: 107-151.<br />

153 Vale lembrar que existe também uma rejeição à lésbica masculi<strong>na</strong> (a butch).<br />

154 “Sair do armário”, “assumir a condição homossexual” ou a “identidade gay” representa uma afirmação<br />

politicamente estratégica e, em certas circunstâncias, indispensável, no quadro histórico da luta por direitos<br />

civis e do enfrentamento da homofobia. No entanto, a idéia de que se possa “assumir” uma identidade<br />

sexual costuma se revestir de um caráter essencialista, como se existisse, pronto para ser assumido, o<br />

“verdadeiro homossexual” (diametralmente oposto ao “verdadeiro heterossexual”).<br />

155 São efetuadas diversas operações sofisticadas (dotadas de mecanismos complexos, relativamente autônomos,<br />

eventualmente combi<strong>na</strong>dos e sempre multidimensio<strong>na</strong>is) quando alguém se define (ou é definido)<br />

identitariamente (SOARES, 2001). A perspectiva psica<strong>na</strong>lítica, por sua vez, reitera que não há “nenhuma<br />

sexualidade huma<strong>na</strong> estável, dada, <strong>na</strong>tural ou adequada a todos os sujeitos” (COSTA, 1992: 145; 1995).<br />

419

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!