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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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conservadora, e a tendência é produzir ou revigorar disposições normativas, desestimular<br />

a formação de alianças, dificultar a concepção de projetos transformadores e<br />

desencadear novas exclusões.<br />

Com efeito, observa Rita Laura Segato ( 00 : 49), com freqüência, as lutas<br />

pelo reconhecimento de direitos à diferença a partir da perspectiva das “políticas de<br />

identidade” termi<strong>na</strong> por se reduzir a meros “recursos de admissão” dentro do sistema,<br />

perdendo-se de vista a necessidade de se questio<strong>na</strong>r e transformá-lo. No limite,<br />

não se trata de uma busca do reconhecimento da legitimidade da diferença, mas de<br />

esforços para obter “acesso aos instrumentos de (re)produção das classes médias e<br />

superiores [...], em um contexto de descompromisso maciço e multiforme do Estado”<br />

(BOURDIEU, 998a: 9).<br />

Ademais, não raro, no curso dessas lutas, o acirramento das tensões, a verticalização<br />

das agendas, o patrulhamento e o eventual fomento ao ódio e ao desejo<br />

de vingança dificultam (ou impossibilitam) a constituição de alianças (<strong>sobre</strong>tudo<br />

as não meramente oportunistas) e criam barreiras para a crítica das relações e dos<br />

efeitos de poder que a própria luta (supostamente por reconhecimento e emancipação)<br />

pode engendrar. 9<br />

Assim, quando aqui me referir à importância de reconhecermos a legitimidade<br />

da diversidade e da diferença ou respeitarmos a diferença, não tomo a diversidade<br />

ou a diferença como realidades <strong>na</strong>turais, congênitas, imutáveis, pré-discursivas e<br />

impossíveis de serem a<strong>na</strong>lisadas, questio<strong>na</strong>das e transformadas. 9 Procurar entender<br />

a diferença como construção social e histórica não comporta colocá-la sob<br />

ameaça e nem dizer que ela não exista e não seja percebida e vivenciada enquanto<br />

95 Seria necessário investigar mais a fundo os nexos entre políticas de identidade, seus acirramentos e a<br />

adoção de uma peculiar modalidade de reconhecimento: o “reconhecimento pós-moderno” (COHEN, 2002:<br />

326-328). Diferentemente da celebração da paz entre dois grupos, trata-se de uma estratégia por meio da<br />

qual atrocidades perpetradas “no passado”, em vez de simplesmente negadas, são admitidas de maneira<br />

racio<strong>na</strong>da e inócua, em cerimônias midiáticas, <strong>na</strong>s quais se demonstra certo arrependimento, pede-se perdão<br />

coletivo, promove-se um exorcismo instantâneo e virtual de um “passado irrepetível”. A partir desse reconhecimento,<br />

creio possível identificar duas distintas posturas da parte dos que o promoveram. A primeira<br />

é apresentar o passado como algo em relação ao qual o presente não possui vínculos. Tor<strong>na</strong>-se assim<br />

“ilegítimo” qualquer questio<strong>na</strong>mento acerca das condições atuais de opressão que tenha por base a história<br />

(afi<strong>na</strong>l, aquilo “ficou no passado”). A segunda é perceber tais condições unicamente como “herança”<br />

daqueles eventos “irrepetíveis”, de modo que atribuir responsabilidades às políticas mais recentes <strong>sobre</strong><br />

o agravamento do quadro de opressão é considerado equivocado e desonesto. Em tempo: por mais que<br />

tais celebrações estejam em voga, desconheço a ocorrência de semelhante pedido de desculpas dirigido<br />

a “homossexuais” da parte de instituições ou governos. Se vier, dificilmente valerá o tempo da espera.<br />

96 São muitas as possibilidades de promover reconhecimento e são tantas as formas de manifestá-lo. Em função<br />

dos limites deste artigo, ao longo dele, atenho-me a assi<strong>na</strong>lar determi<strong>na</strong>das insuficiências e equívocos<br />

de algumas modalidades de política de reconhecimento em voga. Para um estudo <strong>sobre</strong> distintas formas<br />

de manifestação de reconhecimento, vide COHEN (2002: 304-328). Vale ainda lembrar que o termo “reconhecer”<br />

é rico em significados: conhecer, conhecer de novo, identificar, discernir, aceitar, admitir, confessar,<br />

constatar, aprovar, respeitar, legitimar, autenticar, certificar, proclamar, mostrar-se agradecido, perfilhar,<br />

caracterizar, declarar-se, observar, inspecio<strong>na</strong>r, explorar um território de modo acurado etc.<br />

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