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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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samento inter-racial é a fonte mais observável do temor que os<br />

brancos têm dos negros – assim como as repetidas castrações de<br />

negros vítimas de linchamento demandam uma séria explicação<br />

psicocultural (WEST, 994: 04- ).<br />

Não por acaso, conforme reitera Britzman, nos Estados Unidos, os debates<br />

conduzidos pelas correntes conservadoras domi<strong>na</strong>ntes entre afro-americanos e entre<br />

judeus têm sido, em ambos os casos, debates entre, <strong>sobre</strong> e a partir de homens<br />

heterossexuais de classe média (BRITZMAN, 004: 9). West vai <strong>na</strong> mesma direção<br />

ao denunciar os equívocos de lideranças do movimento negro norte-americano<br />

que, ao insistirem em cerrar fileiras contra os “hostis norte-americanos brancos”,<br />

acabam por fortalecer o poder masculino e, assim, alimentar ulteriormente um conservadorismo<br />

sociocultural que conduz à manifestação sistemática do machismo e<br />

da homofobia (WEST, 994: 40-4 , 0 - 09).<br />

A visão homofóbica que negros e não-negros partilham acerca de homens<br />

negros homossexuais é uma visão racista. Os mitos sexuais que homens negros costumam<br />

cultivar de sua própria sexualidade não são ape<strong>na</strong>s resultado da eficiência<br />

da violência simbólica da visão racista anti-negra, mas também um dos ingredientes<br />

básicos de sua homofobia.<br />

Ao insistir nos vínculos entre racismo e homofobia, não pretendo fazer crer<br />

que eles sejam fenômenos forçosamente dependentes, embora me pareça importante<br />

sublinhar que a elaboração do anti-semitismo científico no século XIX foi<br />

fundamental <strong>na</strong> edificação de um pensamento nitidamente racista e <strong>na</strong> organização<br />

do olhar etnocêntrico e heteronormativo contemporâneo. É célebre a visão<br />

51 A censura a relacio<strong>na</strong>mentos afetivos inter-raciais não é apanágio de orde<strong>na</strong>mentos impostos por brancos<br />

(que encontraram suas versões mais acabadas no <strong>na</strong>zismo e no Apartheid). Podemos encontrar hoje pessoas<br />

pertencentes a grupos dos “historicamente subjugados” e particularmente afeitas a determi<strong>na</strong>da política<br />

de identidade que vêem essas relações ape<strong>na</strong>s como reedições de “estupros coloniais”, “estratégias<br />

de ascensão social”, “traição da raça” etc. Manter tal posição equivale a ignorar a multiplicidade da economia<br />

(e a imponderabilidade transgressiva) dos afetos e do desejo. Sem desconsiderar a relação histórica<br />

entre miscige<strong>na</strong>ção e racismo e o quadro de violência contra mulheres e homossexuais, não admitir que<br />

as pessoas possam manifestar interesses sexuais diversificados equivale, entre outras coisas, a deslocar<br />

o feminino e a negar o reconhecimento do direito à livre expressão sexual.<br />

52 Não foi necessário esperar a elaboração medieval do antijudaísmo teológico para que contra as práticas<br />

homoeróticas se expressassem duras conde<strong>na</strong>ções (as quais, aliás, tiveram no judaísmo uma de suas<br />

mais importantes fontes). No entanto, as alterações paradigmáticas que envolveram a elaboração do antisemitismo<br />

científico no século XIX associaram-se diretamente à edificação, à organização e à eficiência de<br />

enunciações e de tecnologias sociais e políticas de classificação, segregação e elimi<strong>na</strong>ção de todo aquele<br />

que viria a ser definido como o “outro” – especialmente no âmbito das políticas eugenistas, mas sem a elas<br />

se limitarem (BAUMAN, 1998a; FREDRICKSON, 2002). Mais tarde, o lugar da alteridade inferior, maléfica<br />

e invasiva do judeu (o “inimigo objetivo” por excelência) passou a ser ocupado pelo o “oriental”, <strong>sobre</strong>tudo<br />

o árabe islâmico (SAÏD, 1978 [1996]). E mais: Étienne Balibar e Immanuel Wallerstein (1997) sugerem<br />

que, a partir da II Guerra Mundial, se pense o racismo contra as populações imigrantes <strong>na</strong> Europa em<br />

termos de um modelo de “anti-semitismo generalizado”. Ainda outros falam da homofobia como um novo<br />

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