Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...
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276 essa questão e não a um atributo inerente e imutável, próprio da deficiência (MAIA, 00 : 04). A despeito da existência de questões gerais, é importante não descartamos as especificidades relacionadas às deficiências mentais. Cito, por exemplo, a Síndrome de Down. Há particularidades que envolvem a saúde sexual e reprodutiva nesta síndrome. Comparados à população em geral, sabemos que os meninos que apresentam esta síndrome são, em tese, inférteis, porque não há ou há baixa produção de espermatozóides, o tamanho dos testículos é reduzido e a sua estatura é menor; há pouca presença das características sexuais secundárias e aumento de massa corporal. As meninas são, por outro lado, férteis, manifestam a menarca com uma alteração cronológica que não difere da média de variação típica e apresentam menor estatura e aumento de massa corporal (ASSUMPÇÃO JÚNIOR e SPROVIERI, 987; EDWARDS, 99 ; EVANS e McKINLAY, 988; GHERPELLI, 99 ; ZETLIN e TURNER, 98 ). De qualquer forma, essas variações físicas que envolvem o crescimento e o amadurecimento estão relacionadas à puberdade que, como sabemos, é fato universal e, guardadas as variações individuais, ocorre igualmente entre meninos e meninas com Síndrome de Down e não-sindrômicos. De forma diferente, a adolescência, compreendida como um fenômeno social e cultural, implica um aprendizado de papéis sociais que, em geral, é pouco estimulado pela sociedade quando se trata de pessoas identificadas como deficientes, o que reforça o estigma de incapaz e a faceta de infantilidade dessas pessoas. As vivências nesta fase têm implicações diretas no desenvolvimento emocional da pessoa com deficiência. Há um ideal dominante em nossa sociedade que acaba por ser imposto a uma grande parcela da população adolescente e jovem, que aspira ao estabelecimento de vínculos afetivos e sexuais satisfatórios e ao sucesso profissional; entretanto, já que as mesmas condições sociais que produzem esse ideal não propiciam sua concretização, e que para as pessoas consideradas deficientes os obstáculos sejam ainda maiores, essas aspirações e expectativas podem tornar-se desejos utópicos para essas pessoas. Considerando este cenário, autores como Assumpção Júnior e Strovieri ( 99 ); Blackburn ( 00 ), Glat ( 99 ), Glat e Freitas ( 99 ), Guerpelli ( 99 ) e Zetlin e Turner ( 98 ) lembram que a educação das pessoas com deficiência é caracterizada por se realizar em espaços segregados, com pouco ou nenhum convívio social, o que pode aumentar os sentimentos de baixa auto-estima, inadequação pessoal e frustração aliados a uma imaturidade emocional.
Maddie Blackburn ( 00 ) comenta sobre a vida social e sexual dessas pessoas: Pode ser difícil para um adolescente não-deficiente atingir uma plena e satisfatória vida social e sexual. Eles devem enfrentar muitos obstáculos, como a autoridade e a desaprovação dos pais, restrições financeiras, demandas da educação escolar etc. antes de encontrarem uma pessoa ou um grupo compatível. Para um jovem deficiente, esses problemas cotidianos são incrementados pelas dificuldades causadas pelas restrições de mobilidade, incontinência, poucas facilidades de acesso, doença, pressão dos pares e aceitabilidade. É provável que os adolescentes deficientes encarem um acréscimo de isolamento, num momento freqüentemente relatado como um período em que seu círculo social deveria estar aumentando [Tradução nossa] (BLACKBURN, 00 : ). No caso da deficiência física, a literatura aponta que as crenças sobre uma sexualidade atípica supõem uma generalização das incapacidades físicas para o campo da sexualidade e uma compreensão genitalizada da sexualidade, isto é, se há limitações no plano do sexo (Resposta Sexual 7 ), também haverá no plano das emoções e do erotismo, e vice-versa. Como afirma Arlete Camargo de Melo Salimene ( 99 ), prevalece nas instituições uma visão fragmentada do corpo imperfeito que generaliza uma determinada incapacidade física para o campo da vida afetivo-sexual. Nas instituições baseadas nos parâmetros ditados pelas práticas médicas, a preocupação maior está voltada para os cuidados com saúde, higiene, controle de infecções e reabilitação motora (MAIOR, 988; PUHLMANN, 000). Recentemente no Brasil, alguns profissionais têm se preocupado com a reabilitação sexual. No discurso médico há um desencontro de informações (até porque há pouca iniciativa para discutir e estudar o assunto) e um desinteresse acadêmico. No discurso dos familiares há certo descrédito sobre a possibilidade de ocorrer uma realização sexual na vida dos deficientes e de se estabelecerem vínculos amorosos prazerosos, o que reflete em demasia o preconceito geral da sociedade sobre a incapacidade física de homens e mulheres com deficiência. Sobre esta questão, mais uma vez, é preciso lembrar que sexo e sexualidade são manifestações complementares, mas não idênticas; que as dificuldades relacio- 7 A clássica caracterização da Resposta Sexual Humana refere-se a quatro fases: excitação, platô, orgasmo e resolução (MASTERS e JONHSON, 1979). Atualmente, no Ciclo da Resposta Sexual, consideram-se as fases de desejo, excitação, orgasmo e resolução (KAPLAN, 1974; SOUZA, 1990). 277
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Maddie Blackburn ( 00 ) comenta <strong>sobre</strong> a vida social e sexual dessas pessoas:<br />
Pode ser difícil para um adolescente não-deficiente atingir<br />
uma ple<strong>na</strong> e satisfatória vida social e sexual. Eles devem enfrentar<br />
muitos obstáculos, como a autoridade e a desaprovação<br />
dos pais, restrições fi<strong>na</strong>nceiras, demandas da educação escolar<br />
etc. antes de encontrarem uma pessoa ou um grupo compatível.<br />
Para um jovem deficiente, esses problemas cotidianos são<br />
incrementados pelas dificuldades causadas pelas restrições de<br />
mobilidade, incontinência, poucas facilidades de acesso, doença,<br />
pressão dos pares e aceitabilidade. É provável que os<br />
adolescentes deficientes encarem um acréscimo de isolamento,<br />
num momento freqüentemente relatado como um período<br />
em que seu círculo social deveria estar aumentando [Tradução<br />
nossa] (BLACKBURN, 00 : ).<br />
No caso da deficiência física, a literatura aponta que as crenças <strong>sobre</strong> uma sexualidade<br />
atípica supõem uma generalização das incapacidades físicas para o campo<br />
da sexualidade e uma compreensão genitalizada da sexualidade, isto é, se há limitações<br />
no plano do sexo (Resposta <strong>Sexual</strong> 7 ), também haverá no plano das emoções e<br />
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prevalece <strong>na</strong>s instituições uma visão fragmentada do corpo imperfeito que generaliza<br />
uma determi<strong>na</strong>da incapacidade física para o campo da vida afetivo-sexual.<br />
Nas instituições baseadas nos parâmetros ditados pelas práticas médicas, a<br />
preocupação maior está voltada para os cuidados com saúde, higiene, controle de<br />
infecções e reabilitação motora (MAIOR, 988; PUHLMANN, 000). Recentemente<br />
no Brasil, alguns profissio<strong>na</strong>is têm se preocupado com a reabilitação sexual.<br />
No discurso médico há um desencontro de informações (até porque há pouca iniciativa<br />
para discutir e estudar o assunto) e um desinteresse acadêmico. No discurso<br />
dos familiares há certo descrédito <strong>sobre</strong> a possibilidade de ocorrer uma realização<br />
sexual <strong>na</strong> vida dos deficientes e de se estabelecerem vínculos amorosos prazerosos, o<br />
que reflete em demasia o preconceito geral da sociedade <strong>sobre</strong> a incapacidade física<br />
de homens e mulheres com deficiência.<br />
Sobre esta questão, mais uma vez, é preciso lembrar que sexo e sexualidade<br />
são manifestações complementares, mas não idênticas; que as dificuldades relacio-<br />
7 A clássica caracterização da Resposta <strong>Sexual</strong> Huma<strong>na</strong> refere-se a quatro fases: excitação, platô, orgasmo<br />
e resolução (MASTERS e JONHSON, 1979). Atualmente, no Ciclo da Resposta <strong>Sexual</strong>, consideram-se as<br />
fases de desejo, excitação, orgasmo e resolução (KAPLAN, 1974; SOUZA, 1990).<br />
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