Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...
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Essa flexibilização diz respeito a um longo processo de abertura e respeito para com as diferenças, de diálogo e aceitação dos modos de existir no mundo que não se coadunam com nossas crenças, valores e temores, assim como com o repertório adquirido sobre tudo aquilo que passamos um dia a acreditar como verdadeiro e absoluto. Se não conseguimos aceitar o diferente, precisamos criar dispositivos para que possamos vir a respeitá-lo. Uma chamada importante – e que serve de revisão de toda a discussão sobre essas temáticas – remete à problematização das novas identidades sexuais e de gêneros com que nos deparamos na atualidade e solicita uma cartografia das forças que engendram novos modos de relações. Estas forças forjam a produção de novas dúvidas que, por sua vez, enunciam novas questões. Assim, cada vez mais podemos perceber o grande arco-íris de sexualidades que se multiplica e se expressa na diversidade sexual, estabelecendo novas conexões e possibilidades de encontros afetivos, amorosos, sexuais, financeiros, marginais. Encontros que expressam modos de vida que ora nos fascinam ora nos amedrontam, porque, de certa forma, nos colocam em contato com dimensões em nós nunca percebidas até então. Nesse momento entramos em uma zona de indiferenciação em que nos tornamos confusos, inseguros e preconceituosos. Nem sempre sabemos o que fazer diante do outro que coloca em cheque os nossos valores e a nossas referências, deixando-nos inseguros acerca de nós mesmos e de nossas certezas. Um segundo apontamento diz respeito ao princípio de universalização, que homogeneíza travestis, transexuais e transgêneros como se fossem todas iguais, sem distinção, produzindo generalização estereotipante. Quando nos referirmos às travestilidades, às transexualidades e às transgereridades, deveremos sempre fazer referências no plural, ou seja, não podemos tomar um modo de ser e transformá-lo numa matriz reprodutiva, de modo fabril, em que todas as TTTs seriam vistas como cópias de uma única matriz. Por isso, a importância de falarmos no plural e, na medida do possível, mapear, cartografar as 258 posições o rizoma é feito somente de linhas: linhas de segmentaridade, de estratificação, como dimensões, mas também linha de fuga ou de desterritorialização como dimensão máxima segundo a qual, ao segui-la, a multiplicidade se metamorfoseia, mudando de natureza. Não se deve confundir tais linhas ou lineamentos com linhagens de tipo arborescente, que são somente ligações localizáveis entre pontos e posições. Oposto à árvore, o rizoma não é objeto de reprodução: nem reprodução externa árvore-imagem, nem reprodução interna como a estrutura-árvore. O rizoma é uma antigenealogia. É uma memória cura ou uma antimemória. O rizoma procede por variação, expansão, conquista, captura, picada. Oposto ao grafismo, ao desenho ou à fotografia, oposto aos decalques, o rizoma refere-se a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga. São os decalques que devem ser referidos aos mapas e não o inverso. Contra os sistemas centrados (e mesmo policentrados), de comunicação hierárquica e ligações preestabelecidas, o rizoma é um sistema a-centrado não-hierárquico e não-significante, sem General, sem memória organizada ou autômato central, unicamente definido por uma circulação de estados. O que está em questão no rizoma é uma relação com a sexualidade, mas também com o animal, com o vegetal, com o mundo, com a política, com o livro, com as coisas da natureza e do artifício, relação totalmente diferente da relação arborescente: todo tipo de devires” (DELEUZE e GUATTARI, 1995: 32-33).
diversas linhas e os traços que compõem modos específicos e singulares (ao mesmo tempo plurais) de ser. 4 O uso das identidades sexuais e de gêneros no plural propõe, entre outras coisas, que existem muitos modos de ser TTTs no mundo, e que ganham mais especificidades quando correlacionados com outras categorias de análise histórica: classe social, raça/etnia, gêneros, orientação sexual, relações intergeracionais, estética física etc. Dito isso, gostaria de pontuar um terceiro apontamento: o da violência estrutural sobre a comunidade TTTs. A inserção de uma pessoa em um contexto social pressupõe que ela deva incorporar ou lidar com modos de ser, agir e ver relativos a valores, representações, imagens, signos, significados etc. Logo, implica processos de subjetivação marcadamente organizados pela matriz heterossexual (processos de subjetivação heterossexista – heteronormativa), com modelos rígidos dos gêneros, organizados através de relações de saberes e poderes centrados no patriarcalismo e na heterossexualidade compulsória. A ordem está dada: todos deverão ter claro o que é ser homem e ser mulher, todos deverão ser heterossexuais, constituir família, ter filhos, netos... E se por esta razão estiver para morrer de tédio ou angústia, a ordem é a de buscar as razões disso naqueles que descumprem as normas. Os processos de normatização pretendem constituir identidades fixas e rígidas centradas nas premissas da heteronormatividade. Com isso, as pessoas que sentem desejo e amam pessoas do mesmo sexo passam a ter enormes dificuldades para conseguir tranqüilidade e clareza, indispensáveis para uma formação e uma socialização menos atormentadas e uma homossociabilidade mais serena e saudável. A partir do momento em que uma criança ou um/a adolescente percebe que tem desejos e vontades que diferem das de seus colegas de mesmo gênero, tende a retrair-se e a distanciar-se do mundo, dando início à interiorização de uma homofobia que poderá ter como má companheira durante toda a sua vida. A esse respeito, Marina Castañeda afirma: A homofobia interiorizada não tem fim: ela ressurge, sobre diferentes formas, ao longo do ciclo vital. Complica a percepção que o homossexual tem de si mesmo e dos outros; colore todas as suas relações interpessoais assim como o seu projeto de vida e sua visão de mundo. Constitui provavelmente a diferença subjetiva mais importante entre homossexuais e heterossexuais. 4 Ademais, aprendemos com Foucault que ninguém pode ser tomado como modelo para comparação com outra pessoa. É preciso problematizar a respeito dos componentes de subjetivação que constituem esse modo de ser, ou ainda, para continuar na cumplicidade com Foucault, que componentes contribuem para a construção de uma estilística da existência. 259
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diversas linhas e os traços que compõem modos específicos e singulares (ao mesmo<br />
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O uso das identidades sexuais e de gêneros no plural propõe, entre outras coisas,<br />
que existem muitos modos de ser TTTs no mundo, e que ganham mais especificidades<br />
quando correlacio<strong>na</strong>dos com outras categorias de análise histórica: classe social,<br />
raça/etnia, gêneros, orientação sexual, relações intergeracio<strong>na</strong>is, estética física etc.<br />
Dito isso, gostaria de pontuar um terceiro apontamento: o da violência estrutural<br />
<strong>sobre</strong> a comunidade TTTs.<br />
A inserção de uma pessoa em um contexto social pressupõe que ela deva<br />
incorporar ou lidar com modos de ser, agir e ver relativos a valores, representações,<br />
imagens, signos, significados etc. Logo, implica processos de subjetivação marcadamente<br />
organizados pela matriz heterossexual (processos de subjetivação heterossexista<br />
– heteronormativa), com modelos rígidos dos gêneros, organizados através de<br />
relações de saberes e poderes centrados no patriarcalismo e <strong>na</strong> heterossexualidade<br />
compulsória. A ordem está dada: todos deverão ter claro o que é ser homem e ser<br />
mulher, todos deverão ser heterossexuais, constituir família, ter filhos, netos... E se<br />
por esta razão estiver para morrer de tédio ou angústia, a ordem é a de buscar as<br />
razões disso <strong>na</strong>queles que descumprem as normas.<br />
Os processos de normatização pretendem constituir identidades fixas e rígidas<br />
centradas <strong>na</strong>s premissas da heteronormatividade. Com isso, as pessoas que sentem desejo<br />
e amam pessoas do mesmo sexo passam a ter enormes dificuldades para conseguir<br />
tranqüilidade e clareza, indispensáveis para uma formação e uma socialização menos<br />
atormentadas e uma homossociabilidade mais sere<strong>na</strong> e saudável. A partir do momento<br />
em que uma criança ou um/a adolescente percebe que tem desejos e vontades que<br />
diferem das de seus colegas de mesmo gênero, tende a retrair-se e a distanciar-se do<br />
mundo, dando início à interiorização de uma homofobia que poderá ter como má<br />
companheira durante toda a sua vida. A esse respeito, Mari<strong>na</strong> Castañeda afirma:<br />
A homofobia interiorizada não tem fim: ela ressurge, <strong>sobre</strong> diferentes<br />
formas, ao longo do ciclo vital. Complica a percepção<br />
que o homossexual tem de si mesmo e dos outros; colore todas<br />
as suas relações interpessoais assim como o seu projeto de<br />
vida e sua visão de mundo. Constitui provavelmente a diferença<br />
subjetiva mais importante entre homossexuais e heterossexuais.<br />
4 Ademais, aprendemos com Foucault que ninguém pode ser tomado como modelo para comparação com<br />
outra pessoa. É preciso problematizar a respeito dos componentes de subjetivação que constituem esse<br />
modo de ser, ou ainda, para continuar <strong>na</strong> cumplicidade com Foucault, que componentes contribuem para<br />
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