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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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Apontamentos <strong>sobre</strong> a produção da subjetividade<br />

de travestis, transexuais e transgêneros<br />

Creio que, com base no que vim até aqui considerando, em vez de propor<br />

uma conclusão, será mais oportuno fazer alguns apontamentos relativos às inúmeras<br />

questões que atravessam o universo existencial da população de travestis, transexuais<br />

e transgêneros (TTTs) para reflexão e debate.<br />

Um primeiro apontamento possível diz respeito aos obstáculos ainda encontrados<br />

nos modos de produção do pensar e do sentir contemporâneos, marcados<br />

intensamente pela filosofia platônica, que impõe um modelo único de verdade, a<br />

partir do qual poderia ser reproduzida a “boa cópia”. Deriva daí o estabelecimento<br />

de bi<strong>na</strong>ridades que ape<strong>na</strong>s contribuem para a cristalização de identidades que se<br />

fecham em si mesmas e não permitem questio<strong>na</strong>mentos e/ou abertura para outras<br />

possibilidades de existência. Encontramos aqui as oposições binárias (fixas e polarizadas)<br />

entre o masculino e o feminino, a heterossexualidade e a homossexualidade,<br />

o certo e o errado, o normal e o patológico, o pecado e a virtude. Bi<strong>na</strong>rismos estes<br />

que enfraquecem a vida e fazem dela uma normatização opaca e cristalizada.<br />

A rigidez e a intensidade com que as bi<strong>na</strong>ridades atuam fazem com que as<br />

pessoas se fixem em padrões inquestionáveis de verdade e se viciem em identidades<br />

reificadas. Diante da expressão de desejos e de realização de práticas que não se<br />

adequam às normas rigidamente estabelecidas, essas pessoas podem entrar em uma<br />

zo<strong>na</strong> de turbulência e de nonsense. Trata-se do estabelecimento de confusão mental<br />

em que os modelos dados não correspondem às necessidades pessoais e singulares<br />

de seus atores, forjando vidas (freqüentemente dentro do armário), contraditórias<br />

diante das aspirações, sujeitas a sofrimento e promotoras de infelicidade. Um processo<br />

particularmente cruel, <strong>sobre</strong>tudo em relação às pessoas consideradas diferentes,<br />

mas que não poupa ninguém.<br />

Talvez, uma saída possível esteja <strong>na</strong> flexibilização dos saberes e dos poderes<br />

que nos atravessam o tempo todo, de modo a dirigir nossa atenção para o diferente,<br />

o efêmero, o infame e a produzir mais inclusão e solidariedade. Para além da sexologia,<br />

é preciso que tomemos as sexualidades diferentemente de estruturas, perso<strong>na</strong>lismos<br />

e energias, para tomá-las como fluxos de desejos e de prazeres, sempre<br />

intempestivos e singulares. Como diz Gilles Deleuze ( 998) em seu livro Diálogos,<br />

a sexualidade só pode ser pensada como um fluxo entre outros, que entra em conexão<br />

com outros fluxos, metamorfoseando-se de acordo com as conexões possíveis a<br />

partir de uma perspectiva rizomática infinita.<br />

3 Deleuze e Guattari (1995) afirmam que o rizoma se mostra “oposto a uma estrutura, que se define por<br />

um conjunto de pontos e posições, por correlações binárias entre pontos e relações unívocas entre estas<br />

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