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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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ber o que fazer. Fui até o banheiro e me tranquei lá, chorando<br />

muito. Eu tomei um pânico e um pavor <strong>na</strong>quela referência que<br />

me traumatizou por muito tempo. Tanto que só vim a ter um<br />

contato sexual com outra pessoa quando já estava com 8 anos,<br />

quando ia começar um curso de italiano, <strong>na</strong> rua do Catete, em<br />

uma escola estadual que aceitava pessoas da comunidade. Fiz<br />

minha inscrição e comecei o curso de italiano. Estava muito<br />

feliz porque eu sou descendente de italianos e tinha a chance de<br />

ter cidadania italia<strong>na</strong>. E já pensou eu poder ir morar <strong>na</strong> Itália?<br />

Seria um luxo! Mas, como se diz, alegria de pobre dura pouco.<br />

Logo <strong>na</strong> segunda sema<strong>na</strong>, quando cheguei <strong>na</strong> escola, uma funcionária<br />

que estava <strong>na</strong> porta disse que eu deveria esperar ali <strong>na</strong><br />

entrada que a diretora queria falar comigo. Fiquei ali por meia<br />

hora e só depois a funcionária me levou até a diretora, que estava<br />

no computador e nem me olhou <strong>na</strong> cara, dizendo: “Então<br />

você resolveu se sentir gente? Com a vida que você leva, você<br />

acha que pode freqüentar lugares de gente de bem? Mas você é<br />

muito atrevido mesmo, você quer desmoralizar a minha escola?<br />

Você quer sujar o nome da escola? Saia imediatamente daqui ou<br />

terei que chamar a polícia!”<br />

Lara nos relata que ficou imobilizada, com dificuldades até mesmo para caminhar.<br />

Saiu e foi para a casa de uma amiga (também travesti) e lá teve uma crise<br />

de choro intensa, pensando obsti<strong>na</strong>damente em se suicidar. Caiu em uma tristeza<br />

profunda que a levou a uma crise de depressão. Foi hospitalizada e lá ficou durante<br />

alguns meses. A experiência da humilhação, proporcio<strong>na</strong>da por uma diretora de<br />

uma escola pública que agiu como se a instituição fosse um espaço privado dela, do<br />

qual poderiam fazer parte somente pessoas que ela própria, fincada no mais puro<br />

preconceito, definia como “gente de bem”, seria certamente marcante até mesmo<br />

para a mais centrada das pessoas. De fato, Lara informa que essa ce<strong>na</strong> e as palavras<br />

ditas pela diretora de vez em quando ainda voltam à sua mente e que de lá para<br />

cá sente dificuldade em estar entre pessoas desconhecidas, assim como de entrar<br />

em certos lugares e de voltar a estudar. Na análise de Lara: “Para mim, depois da<br />

experiência do colégio, a vida acabou e eu passei a não acreditar mais <strong>na</strong>s pessoas,<br />

eu fiquei arrasada!”. Essa experiência teria contribuído para o encaminhamento de<br />

Lara para a prostituição e as drogas, pois como ela mesma nos relata: “Se eu não<br />

ficar colocada, não tenho coragem para abordar os clientes”.

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