18.08.2013 Views

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Estes exemplos são particularmente importantes quando admitimos que a<br />

linguagem, em sentido lato, é o meio privilegiado pelo qual atribuímos sentidos<br />

ao mundo e a nós mesmos e, por isso, está fortemente ligada à organização do<br />

social e da cultura. Isto nos leva a admitir em primeiro lugar, a contingência e<br />

a historicidade daquilo que se define como violência; em segundo lugar, a multiplicidade<br />

de outros sentidos que também se agregam ou derivam do termo e<br />

dos atos que ele nomeia; em terceiro lugar, que o que se define como violência é<br />

intrinsecamente dependente daquilo que, no mesmo tempo e contexto, se define<br />

como não-violência e, por último, que é preciso reconhecer a luta política, travada<br />

dentro e entre diferentes grupos sociais, quando se trata desta significação (e<br />

de outras significações). Como se pode ver com o exemplo do excerto do Código<br />

Pe<strong>na</strong>l, faz uma diferença enorme, para mulheres e homens, heterossexuais e homossexuais,<br />

envolvidos em casos de estupro e de atentados violentos ao pudor,<br />

como julgadores/as, agressores/as e, <strong>sobre</strong>tudo, como vítimas, se tais atos são<br />

definidos ou não como violência e como crimes passíveis de punição; e faz ainda<br />

mais diferença o que resulta da seleção social e legal dos elementos lingüísticos<br />

que passam a compor cada uma dessas definições.<br />

Associadas, pois, à citação de Elias, estas questões nos fazem perguntar mais<br />

enfaticamente: do que é mesmo que se fala quando se usa o termo violência? Como<br />

ela se desdobra e se visibiliza <strong>na</strong>s relações sociais? Com que efeitos? Para quem?<br />

E o que temos, como educadores e educadoras interessados/as em abordagens de<br />

gênero, a ver com isso?<br />

É importante frisar que não tenho a pretensão de responder a perguntas<br />

desta complexidade, <strong>sobre</strong>tudo porque não sou especialista estrito senso do<br />

tema em pauta. Como sugere Clarice Lispector ( 990: ) em um de seus belos<br />

livros, dou-me conta de que esta complexidade “está muito acima de mim”.<br />

Assim, é com a humildade intelectual que a escritora invoca que me dispus a<br />

fazer esta reflexão, relendo e articulando de outros modos algumas investigações<br />

realizadas no âmbito de um grupo de pesquisas <strong>sobre</strong> educação e relações<br />

de gênero, do qual faço parte, o que me permite desenvolver um exercício de<br />

2 Grupo de Estudos de <strong>Educação</strong> e Relações de Gênero, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em<br />

<strong>Educação</strong> da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É importante enfatizar que tais investigações<br />

não tiveram o propósito de fazer a discussão que proponho aqui. Elas se propuseram a discutir diferentes<br />

“pedagogias de gênero e de sexualidade” que estão em ação em nossa cultura; exatamente por isso, é<br />

possível estabelecer nexos entre algumas das questões que elas levantam para pensar como a <strong>na</strong>turalização<br />

de determi<strong>na</strong>das relações de poder de gênero pode vir a contribuir para, ou traduzir-se como,<br />

violência em situações de “acirramento” de desigualdades, de disputas, de enquadramentos e de ameaças<br />

de diversas ordens. E os nexos aqui realizados e explorados são de minha inteira responsabilidade.<br />

216

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!