Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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18.08.2013 Views

Das narrativas de suas memórias escolares na adolescência emergiu um quadro marcado por uma instituição escolar que, por suas imposições e proibições, não lhes possibilitou conhecimentos e vivências que lhes permitissem o afloramento de suas identidades sexuais de gays e lésbicas, levando-os a processos cuidadosos de autocontrole e ocultação de comportamentos, gestos e desejos a elas associados. Como coloca o Prof. Romeu: 200 A Professora Veridiana comenta: Na realidade, era complicado conviver com pessoas que não eram homossexuais e, por ser homossexual, eu me repreendia bastante, em função dos meus colegas e professores. Até o Ensino Médio, era um pouquinho conturbado, porque a gente sempre escuta alguma coisa. Embora não se devam atribuir à escola o poder e a responsabilidade de produzir sozinha as identidades sociais, é preciso considerar que ela, por suas determinações e proibições, produz efeitos de verdade, constituindo-se em uma instância importante nas histórias e nas formações das pessoas enquanto sujeitos. Não por acaso, Louro ( 00 : ) nota que [...] na escola, pela afirmação ou pelo silenciamento, nos espaços reconhecidos e públicos ou nos cantos escondidos e privados, é exercida uma pedagogia da sexualidade, legitimando determinadas identidades e práticas sexuais, reprimindo e marginalizando outras. As narrativas dos/as professores vão ao encontro da afirmação de Furlani ( 00 : ): [...] a escola tem se apresentado como um instrumento de grande importância na normalização e disciplinamento da heterossexualidade e dos rígidos padrões definidores dos gêneros masculino e feminino em nossa cultura. Determinada vivência não é apenas inferiorizada, mas autodisciplinada (eu me repreendia) e torna-se alvo de nomeações cotidianas de caráter persecutório e estigmatizante (a gente sempre escuta alguma coisa). Assim, além dos dispositivos postos

pela heteronormatividade e que a instituição escolar cultiva e propaga, a “anormalidade” homossexual é ali construída também por meio de ações pedagógicas pequeninas, ou melhor, não-institucionais – xingamentos dos colegas, piadas, fofocas, brincadeiras dos/as professores/as. Para usar a terminologia de Foucault, trata-se de um disciplinamento infinitesimal, responsável por reproduzir a homofobia na escola e constituir os sujeitos homossexuais como “transgressores da norma” e, não raro, “desmerecedores” do direito à educação. As narrativas deixam transparecer o permanente estado de vigilância exercido ao longo de todo o processo formativo. Os/as professores entrevistados/as destacaram que, quando seus corpos expressavam de forma mais evidente sua sexualidade e sua diferença, eles/as sofriam assédio, repressão, pois seus comportamentos ou a suas atitudes eram considerados em desconformidade com o esperado e o disposto pelo binarismo heterossexista. A partir da quinta série foi complicado, porque os outros guris, percebiam que eu era afeminado e tal. E tinha aquelas coisas da brincadeira do banheiro: ficavam me mostrando o pênis. Era complicado (Prof. Igor). A gente sempre escuta uma piadinha de alguém... Tipo: ah, porque ela gosta de mulher, e, ela tem que gostar de homem, coisas assim (Profª. Veridiana). Essas narrativas nos levam a refletir sobre o fato de cruzar a fronteira do masculino e feminino poder resultar no questionamento social das identidades e no processo de marginalização e exclusão escolar (especialmente no caso das estudantes travestis). Conforme observa Wiliam Peres ( 00 : 7), a escola [..] reifica os modelos sociais de exclusão, por intermédio de ações de violência (discriminação e expulsão) ou de descaso, fazendo de conta que nada está acontecendo (não escuta as denúncias da discriminação). O Ministério da Educação (BRASIL, 00 ) diagnostica a situação de violência a que são submetidos gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais e, entre as importantes questões que enfatiza em relação a esta temática na escola, destacamos: Sexismo e homofobia encontram na experiência escolar um dos seus mais decisivos momentos. A escola desempenha papel 201

Das <strong>na</strong>rrativas de suas memórias escolares <strong>na</strong> adolescência emergiu um quadro<br />

marcado por uma instituição escolar que, por suas imposições e proibições, não<br />

lhes possibilitou conhecimentos e vivências que lhes permitissem o afloramento<br />

de suas identidades sexuais de gays e lésbicas, levando-os a processos cuidadosos<br />

de autocontrole e ocultação de comportamentos, gestos e desejos a elas associados.<br />

Como coloca o Prof. Romeu:<br />

200<br />

A Professora Veridia<strong>na</strong> comenta:<br />

Na realidade, era complicado conviver com pessoas que não<br />

eram homossexuais e, por ser homossexual, eu me repreendia<br />

bastante, em função dos meus colegas e professores.<br />

Até o Ensino Médio, era um pouquinho conturbado, porque a<br />

gente sempre escuta alguma coisa.<br />

Embora não se devam atribuir à escola o poder e a responsabilidade de<br />

produzir sozinha as identidades sociais, é preciso considerar que ela, por suas<br />

determi<strong>na</strong>ções e proibições, produz efeitos de verdade, constituindo-se em uma<br />

instância importante <strong>na</strong>s histórias e <strong>na</strong>s formações das pessoas enquanto sujeitos.<br />

Não por acaso, Louro ( 00 : ) nota que<br />

[...] <strong>na</strong> escola, pela afirmação ou pelo silenciamento, nos espaços<br />

reconhecidos e públicos ou nos cantos escondidos e<br />

privados, é exercida uma pedagogia da sexualidade, legitimando<br />

determi<strong>na</strong>das identidades e práticas sexuais, reprimindo e<br />

margi<strong>na</strong>lizando outras.<br />

As <strong>na</strong>rrativas dos/as professores vão ao encontro da afirmação de Furlani<br />

( 00 : ):<br />

[...] a escola tem se apresentado como um instrumento de<br />

grande importância <strong>na</strong> normalização e discipli<strong>na</strong>mento da heterossexualidade<br />

e dos rígidos padrões definidores dos gêneros<br />

masculino e feminino em nossa cultura.<br />

Determi<strong>na</strong>da vivência não é ape<strong>na</strong>s inferiorizada, mas autodiscipli<strong>na</strong>da (eu<br />

me repreendia) e tor<strong>na</strong>-se alvo de nomeações cotidia<strong>na</strong>s de caráter persecutório e estigmatizante<br />

(a gente sempre escuta alguma coisa). Assim, além dos dispositivos postos

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