Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...
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atrativo principal da narrativa como método é sua capacidade de reproduzir as experiências da vida, tanto pessoais como sociais, de formas relevantes e cheias de sentido” (ibid.: 4 ). Os autores defendem o uso da narrativa na investigação em educação por serem os humanos “organismos contadores de histórias, organismos que, individual e socialmente, vivem vidas relatadas. O estudo da narrativa, portanto, é o estudo da forma como os seres humanos experienciam o mundo” (ibid.: ). Esse é um processo complexo que requer um outro olhar para a pesquisa, pois quando recontamos as histórias de experiências passadas, elas são narradas tal como se refletem em experiências presentes. Assim, tanto as histórias como seus sentidos vão sendo (re)elaborados ao longo do tempo, a partir de formas distintas de interpretá-las. Para Jorge Larrosa ( 99 ), a narrativa é uma modalidade discursiva, na qual as histórias que contamos e as histórias que ouvimos, produzidas e mediadas no interior de determinadas práticas sociais, passam a construir a nossa história, a dar sentido a quem somos e a quem são os outros, constituindo assim as identidades – de gênero, sexual, racial, religiosa, profissional, de classe social, de mãe/pai, filha/o, esposa/o, entre outras. Desse modo, construímos e expressamos a nossa subjetividade a partir das formas lingüísticas e discursivas que empregamos nas nossas narrativas. De acordo com o autor, 196 [...] cada um de nós se encontra já imerso em estruturas narrativas que nos preexistem e que organizam de um modo particular a experiência, que impõem um significado à experiência. Por isso, a história de nossas vidas depende do conjunto de histórias que temos ouvido, em relação às quais temos aprendido a construir a nossa. A narrativa não é lugar de irrupção da subjetividade, senão a modalidade discursiva que estabelece a posição do sujeito e das regras de sua construção em uma trama. Nesse mesmo sentido, o desenvolvimento da nossa autocompreensão dependerá de nossa participação em redes de comunicação onde se produzem, se interpretam e se medeiam histórias. A construção do sentido da história de nossas vidas e de nós mesmos nessa história é, fundamentalmente, um processo interminável de ouvir e ler histórias, de mesclar histórias, de contrapor umas histórias a outras, de viver como seres que interpretam e se interpretam em tanto que estão se constituindo nesse gigantesco e agitado conjunto de histórias que é a cultura (ibid.: 47 -47 ).
A história de nossas vidas é constituída por muitas histórias, “nossa história é sempre uma história polifônica” (ibid.: 47 ). E nesse complexo jogo narrativo, aprendemos a construir a nossa identidade, a dar sentido a quem somos, a quem vamos nos tornando. Dessa forma, a identidade (quem sou) não é algo que encontro ou descubro, como se fizesse parte da minha essência, mas é algo que fabrico, que invento, construo e modifico, não de modo solitário, mas nessa gigantesca e polifônica conversação de narrativas que é a vida, a vida em sociedade. Uma conversação que inclui as pessoas com quem, direta e indiretamente, me relaciono e com cujas histórias me relaciono (LARROSA, 99 ). Uma trama polifônica na qual se enredam também crenças, mentalidades, instituições. Ao optar por esse tipo de investigação, é preciso considerar que as narrativas são construídas e reconstruídas em relação a textos – da família, da igreja, da escola, da mídia, da medicina, da psicologia, entre outros. A narrativa da experiência de si é produzida a partir das vivências e suas relações: “não é algo que se produza em um solilóquio, em um diálogo íntimo do eu consigo mesmo, mas em um diálogo entre narrativas, entre textos” (id., 994: 70). Nesse campo metodológico, conforme lembram Connelly e Clandinin ( 99 ), os métodos de coleta dos dados são variados. Para esta pesquisa, decidimos utilizar entrevistas individuais abertas com professores/as homossexuais que trabalham em escolas do município do Rio Grande. Entrevistamos três professores gays e uma professora lésbica. 9 Os três professores trabalham, em média, há seis anos, atuando em escolas públicas de Ensino Fundamental ( ª a 8ª séries) e Ensino Médio, nas áreas de Química, Biologia e Português, como também em cursinhos pré-vestibulares. Suas idades variavam de a 8 anos. A professora lésbica tinha anos e trabalhava em uma instituição privada – um cursinho pré-vestibular – nas áreas de Português e Literatura Brasileira. Tecendo narrativas de professores homossexuais Os sujeitos, desde a mais tenra idade, encontram-se inseridos em práticas de significação – família, escola, mídia, saúde, entre outras – que, conforme o sexo/gênero, ensinam tipos de comportamentos, brincadeiras, desejos, valores, pensamentos, vestuários, inscrevendo a sexualidade nos corpos. Essas práticas de significação vão constituindo os sujeitos ao longo de toda a vida, funcionando como um amplo domínio simbólico, no qual e por meio do qual dão sentido às suas vidas e suas subjetividades são produzidas e transformadas. 9 A fim de preservar os/as docentes cujas narrativas são aqui analisadas, seus nomes são apresentados na forma de codinomes. 197
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atrativo principal da <strong>na</strong>rrativa como método é sua capacidade de reproduzir as<br />
experiências da vida, tanto pessoais como sociais, de formas relevantes e cheias<br />
de sentido” (ibid.: 4 ). Os autores defendem o uso da <strong>na</strong>rrativa <strong>na</strong> investigação<br />
em educação por serem os humanos “organismos contadores de histórias,<br />
organismos que, individual e socialmente, vivem vidas relatadas. O estudo da<br />
<strong>na</strong>rrativa, portanto, é o estudo da forma como os seres humanos experienciam<br />
o mundo” (ibid.: ). Esse é um processo complexo que requer um outro olhar<br />
para a pesquisa, pois quando recontamos as histórias de experiências passadas,<br />
elas são <strong>na</strong>rradas tal como se refletem em experiências presentes. Assim, tanto<br />
as histórias como seus sentidos vão sendo (re)elaborados ao longo do tempo, a<br />
partir de formas distintas de interpretá-las.<br />
Para Jorge Larrosa ( 99 ), a <strong>na</strong>rrativa é uma modalidade discursiva, <strong>na</strong> qual<br />
as histórias que contamos e as histórias que ouvimos, produzidas e mediadas no<br />
interior de determi<strong>na</strong>das práticas sociais, passam a construir a nossa história, a dar<br />
sentido a quem somos e a quem são os outros, constituindo assim as identidades<br />
– de gênero, sexual, racial, religiosa, profissio<strong>na</strong>l, de classe social, de mãe/pai,<br />
filha/o, esposa/o, entre outras. Desse modo, construímos e expressamos a nossa<br />
subjetividade a partir das formas lingüísticas e discursivas que empregamos <strong>na</strong>s<br />
nossas <strong>na</strong>rrativas. De acordo com o autor,<br />
196<br />
[...] cada um de nós se encontra já imerso em estruturas <strong>na</strong>rrativas<br />
que nos preexistem e que organizam de um modo particular<br />
a experiência, que impõem um significado à experiência.<br />
Por isso, a história de nossas vidas depende do conjunto de<br />
histórias que temos ouvido, em relação às quais temos aprendido<br />
a construir a nossa. A <strong>na</strong>rrativa não é lugar de irrupção<br />
da subjetividade, senão a modalidade discursiva que estabelece<br />
a posição do sujeito e das regras de sua construção em<br />
uma trama. Nesse mesmo sentido, o desenvolvimento da nossa<br />
autocompreensão dependerá de nossa participação em redes<br />
de comunicação onde se produzem, se interpretam e se medeiam<br />
histórias. A construção do sentido da história de nossas<br />
vidas e de nós mesmos nessa história é, fundamentalmente,<br />
um processo interminável de ouvir e ler histórias, de mesclar<br />
histórias, de contrapor umas histórias a outras, de viver como<br />
seres que interpretam e se interpretam em tanto que estão se<br />
constituindo nesse gigantesco e agitado conjunto de histórias<br />
que é a cultura (ibid.: 47 -47 ).