Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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18.08.2013 Views

e divinização. O horror à homossexualidade manifestado por muitos sistemas de sociedade e religiões deve ser visto como expressão de uma ordem simbólica em seu temor (metafísico-ideológico) de desaparecer enquanto ordem reversível, que tem na heterossexualidade sua base. Assim, se a sexualidade humana como um todo tem sido objeto de visões preconceituosas, a homossexualidade, dentre as suas expressões, é a que, histórica e incomparavelmente, vem sendo submetida a mais ataques em função dos preconceitos produzidos em religiões, moral, ciência e no direito em todas as partes. Preconceito que se tem constituído em fonte de opressão para milhares de homens e mulheres em todas as idades, classes sociais e nos diversos países. Desfazendo enganos Por fim, quando o preconceito crê como certo que a homossexualidade é um fenômeno a ser esclarecido em sua causa específica, devemos deslocar a questão sobre a sua pretendida causa para uma outra: assim, ao invés de se querer saber “qual a causa da homossexualidade?”, deve-se perguntar: por que e qual a origem do preconceito em torno da homossexualidade? Muito ainda resta a ser feito. É a própria compreensão da sexualidade humana que deve ser revista ou a própria idéia de uma substância chamada sexualidade que deve desaparecer. Após séculos de condenação pela religião, pelo Estado e pela ciência (ou pseudo-ciência?), um conhecimento livre de preconceito na compreensão da sexualidade, do desejo sexual, permanece uma construção a ser continuamente desenvolvida e um desafio a ser assumido por aqueles que tenham compromisso com a crítica do preconceito e com a emancipação e a felicidade humanas. A crítica ao preconceito tem sempre novas lutas a empreender. E uma delas é desfazer o engano de correntes entre os próprios homossexuais que, caídos também no determinismo biológico que criticamos antes, acreditam que encontraram nos favores da genética uma maneira de enfrentar o preconceito: admitindo a tese segunda a qual a homossexualidade é um fenômeno enzimático, endocrinológico, ou genético, teria se chegado assim ao patamar no qual se poderia impor a verdade de uma “homossexualidade natural”, seguindo o engano de uma “heterossexualidade natural”. Poder-se-ia, dessa forma, combater os preconceituosos, o discurso religioso, alegando a natureza natural da homossexualidade – espécie de apelo à sociedade para que aceite os homossexuais, pois tratar-se-ia de algo da ordem do nascimento (estaria, pois, nos planos do Criador) em re- 118

lação ao que “não se pode ir contra”. Mais uma vez o preconceito vencerá caso se caia nessa armadilha: ora, a aceitação da homossexualidade deve acontecer na sociedade por sua mudança de conceitos, paradigmas, valores e não por acomodação a uma pretendida “verdade” que estaria na “própria constituição genética” dos homossexuais. A invenção do “gene da homossexualidade” é outra vez o trabalho do preconceito e da ideologia na história. Uma outra batalha a se empreender é fazer com que se compreenda que as lutas dos homossexuais pela cidadania plena (direito ao reconhecimento pelo Estado e pela lei de suas uniões conjugais, direitos de herança, direito à adoção por casais gays, entre outros direitos que se têm conquistado em diversos países) não são um ingênuo “desejo de normalização”, uma queda na ideologia (burguesa ou outra), mas um nível de luta política em que se questionam as idéias de normalidade e de democracia, quando esta se limita a direitos que excluem significativos segmentos da população em diversos países – os homossexuais entre os mais excluídos (MOTT, s/d.). Por fim, poderíamos assinalar o fracasso, mais uma vez, de teses que pretendem aprisionar os homossexuais numa espécie à parte, pois as lutas pela cidadania plena desconstroem até mesmo aquelas teses que se apresentam com o charme libertário que destina aos homossexuais o papel de “sublimes perversos” da cultura, subversivos marginais da ordem. Esta tese, como assinalou Elisabeth Roudinesco, “está prestes a desaparecer” (ROUDINESCO, 00 : 4 ) com a atitude dos homossexuais que, sabendo que toda normalidade é uma construção social e histórica, procuram redefinir uma nova normalidade social em que a homossexualidade não seja estigmatizada como exceção, desvio, inversão, patologia, anormalidade, mas seja vista como uma expressão da sexualidade humana, uma orientação sexual, entre outras, em torno da qual se podem organizar afetos, laços, famílias. Aqui, quando os homossexuais questionam os próprios conceitos de normalidade social, democracia e cidadania nas sociedades nas quais vivemos. Amanhã, teremos superado todo o preconceito se não tivermos mais questões a colocar sobre a causa própria da homossexualidade. 119

lação ao que “não se pode ir contra”. Mais uma vez o preconceito vencerá caso<br />

se caia nessa armadilha: ora, a aceitação da homossexualidade deve acontecer <strong>na</strong><br />

sociedade por sua mudança de conceitos, paradigmas, valores e não por acomodação<br />

a uma pretendida “verdade” que estaria <strong>na</strong> “própria constituição genética”<br />

dos homossexuais. A invenção do “gene da homossexualidade” é outra vez o trabalho<br />

do preconceito e da ideologia <strong>na</strong> história.<br />

Uma outra batalha a se empreender é fazer com que se compreenda que<br />

as lutas dos homossexuais pela cidadania ple<strong>na</strong> (direito ao reconhecimento pelo<br />

Estado e pela lei de suas uniões conjugais, direitos de herança, direito à adoção<br />

por casais gays, entre outros direitos que se têm conquistado em diversos países)<br />

não são um ingênuo “desejo de normalização”, uma queda <strong>na</strong> ideologia (burguesa<br />

ou outra), mas um nível de luta política em que se questio<strong>na</strong>m as idéias de normalidade<br />

e de democracia, quando esta se limita a direitos que excluem significativos<br />

segmentos da população em diversos países – os homossexuais entre os mais<br />

excluídos (MOTT, s/d.).<br />

Por fim, poderíamos assi<strong>na</strong>lar o fracasso, mais uma vez, de teses que pretendem<br />

aprisio<strong>na</strong>r os homossexuais numa espécie à parte, pois as lutas pela cidadania<br />

ple<strong>na</strong> desconstroem até mesmo aquelas teses que se apresentam com o charme libertário<br />

que desti<strong>na</strong> aos homossexuais o papel de “sublimes perversos” da cultura,<br />

subversivos margi<strong>na</strong>is da ordem. Esta tese, como assi<strong>na</strong>lou Elisabeth Roudinesco,<br />

“está prestes a desaparecer” (ROUDINESCO, 00 : 4 ) com a atitude dos homossexuais<br />

que, sabendo que toda normalidade é uma construção social e histórica,<br />

procuram redefinir uma nova normalidade social em que a homossexualidade não<br />

seja estigmatizada como exceção, desvio, inversão, patologia, anormalidade, mas seja<br />

vista como uma expressão da sexualidade huma<strong>na</strong>, uma orientação sexual, entre<br />

outras, em torno da qual se podem organizar afetos, laços, famílias. Aqui, quando os<br />

homossexuais questio<strong>na</strong>m os próprios conceitos de normalidade social, democracia<br />

e cidadania <strong>na</strong>s sociedades <strong>na</strong>s quais vivemos.<br />

Amanhã, teremos superado todo o preconceito se não tivermos mais questões<br />

a colocar <strong>sobre</strong> a causa própria da homossexualidade.<br />

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