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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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O mesmo se deu com a valorização da heterossexualidade em detrimento<br />

da homossexualidade: um puro fato da história huma<strong>na</strong>, que não possui nenhuma<br />

razão imanente (de qualquer ordem), mas que não foi sem conseqüência para o<br />

pensamento humano, como tem sido o caso também da questão da desigualdade<br />

entre homens e mulheres. Vale lembrar: o que toda uma perspectiva crítica – que<br />

volto a chamar construcionista 4 – tem procurado demonstrar é que a sexualidade é<br />

um construto social como outro e que sua existência se deve a um processo de construção<br />

que em <strong>na</strong>da difere de todo o processo de institucio<strong>na</strong>lização da realidade.<br />

Não havendo sexualidade <strong>na</strong>tural, mas social, o que ocorre com o sexual é o mesmo<br />

que ocorre com todas as demais esferas da vida social: algo que é uma construção<br />

arbitrária, uma instituição de caráter convencio<strong>na</strong>l e histórico, ganha, no curso<br />

histórico, a aparência de uma realidade <strong>na</strong>tural, universal, necessária e irreversível,<br />

tor<strong>na</strong>ndo inválidas todas as demais formas que ficaram foracluídas no processo da<br />

institucio<strong>na</strong>lização. A homossexualidade é uma das formas foracluídas do sexual <strong>na</strong>s<br />

nossas sociedades, estigmatizada pelo discurso da instituição social da sexualidade.<br />

Do ponto de vista de uma constante antropológica e psíquica, ninguém está<br />

afastado da possibilidade de práticas eróticas com pessoas do mesmo sexo, de relações<br />

homossexuais. Conforme o Relatório Kinsey, já em 948 um quarto dos jovens<br />

americanos tinha tido relações homoeróticas. Não há o que se possa chamar de<br />

predisposição (i<strong>na</strong>ta ou adquirida) à homossexualidade em alguns e sua inexistência<br />

absoluta em outros, como algo determi<strong>na</strong>do por movimentos internos do psiquismo<br />

ou como fenômeno enzimático-endocrinológico. De novo aqui, Freud, por mais que<br />

tenha fechado algumas vezes a via crítica aberta por ele próprio, deve ser lembrado<br />

entre os autores que indicaram a existência de uma “bissexualidade psíquica originária”<br />

no ser humano (FREUD, 97 , 974; cf. também ROUDINESCO, 00 :<br />

4 ), o que tor<strong>na</strong> possível pensar que é somente à custa de prolongada domesticação<br />

cultural que essa disposição psíquica desaparece para dar lugar à heterossexualidade<br />

ratificada como “normal” e “em conformidade com a <strong>na</strong>tureza”. O preconceito inverteu<br />

as razões e apresentou a homossexualidade como um desvio de um suposto<br />

desenvolvimento normal, quando se trata de uma variante da sexualidade existindo<br />

em todos, mas inibida pela sujeição cultural – através da ideologia da heteronormatividade.<br />

A própria normalidade não sendo mais do que uma construção simbólica<br />

reversível, mas que, para se perpetuar, procura todos os meios de sua <strong>na</strong>turalização<br />

4 Situaremos como construcionistas, por agora sem maiores distinções, os estudos configuracionistas em<br />

antropologia (Ruth Benedict, Margareth Mead, Melville Herskovits), a antropologia do simbólico (Lévi-<br />

Strauss, Geertz), a abordagem da aprendizagem social (Georg Herbert Mead, Peter Berger) e os estudos<br />

socio-históricos e socioantropológicos (Norbert Elias, Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Maurice Godelier,<br />

Françoise Héritier, Elisabeth Badinter, Judith Butler, Michel Maffesoli, entre outros).<br />

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