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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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Tor<strong>na</strong>-se importante destacar ainda que <strong>na</strong> história de nossas sociedades, entre<br />

outras de suas expressões, o preconceito tomou a forma da opinião religiosa que,<br />

misturando às crenças uma visão também <strong>na</strong>turalista da sexualidade, se traduz <strong>na</strong><br />

versão segundo a qual a heterossexualidade é a forma sexual herdada da <strong>na</strong>tureza<br />

pelo homem e – sendo a <strong>na</strong>tureza uma criação de Deus... Javé, Allah, os termos<br />

variam conforme as crenças... – tudo que esta forma contraria não ape<strong>na</strong>s contraria<br />

a <strong>na</strong>tureza, contraria igualmente a vontade divi<strong>na</strong>. Explica-se assim porque a homossexualidade<br />

é banida <strong>na</strong>s religiões para o campo dos “pecados”, dos “atos impuros”,<br />

das “anomalias”, dos “vícios”, das “depravações” ou, <strong>na</strong> erudição de seus chefes,<br />

representa “quando menos, desordem da identidade de gênero” – os termos são de<br />

Joseph Ratzinger, logo após tor<strong>na</strong>r-se Bento XVI.<br />

Considerando a homossexualidade como um problema (ora congênito, ora<br />

adquirido), cuja gênese seria um “mistério” que se deve procurar desvendar, as teses<br />

patologizantes e moralistas domi<strong>na</strong>ram longamente sem que se lhes opusessem<br />

críticas. Ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong>s últimas décadas do século XX os estudos críticos – adotando<br />

uma perspectiva antropológica e histórica – iniciaram a desconstrução do discurso<br />

do preconceito, estudos que foram <strong>na</strong>scendo e se fortalecendo a partir da entrada<br />

em ce<strong>na</strong> dos movimentos feministas, da contracultura e do movimento gay. Em diferentes<br />

países, o movimento gay transformou o homossexual de (inventado) sujeito<br />

clínico, em sujeito de desejo e sujeito político – o que prevalece até hoje, como forma<br />

de luta contra o preconceito. Como fruto da ação daqueles que sempre resistiram à<br />

domi<strong>na</strong>ção em todas as épocas, uma outra concepção rivalizou sempre com o preconceito<br />

e com a ideologia <strong>na</strong>turalista que aprisio<strong>na</strong>m a sexualidade numa suposta<br />

realidade <strong>na</strong>tural da divisão e da atração sexuais. A ela chamamos de concepção<br />

histórico-antropológica (cultural, construtivista ou, como proporei chamar aqui,<br />

construcionista). Antes de serem constituídas as ciências huma<strong>na</strong>s moder<strong>na</strong>s, ela já<br />

dava si<strong>na</strong>is de sua existência de muitas maneiras: em filósofos, escritores, poetas e<br />

em solitários pesquisadores de pouca fama, podendo ser identificada <strong>na</strong>s entrelinhas<br />

das citações e nos diálogos (explícitos ou implícitos) <strong>na</strong> obra dos famosos.<br />

Édipo, ratos, hormônios e genes: da ideologia à<br />

fraude das causas<br />

Assim é que, situado como um produto histórico e cultural, o preconceito não<br />

deixou de fazer seus estragos. E não deixaremos de sugerir que as formulações <strong>sobre</strong><br />

a(s) pretendida(s) causa(s) da homossexualidade, que se dissimulam como “teorias”,<br />

pretendam ou não ser “científicas”, merecem ser chamadas de fraudes (de ordem<br />

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