SUS: avanços e desafios, 2006. - BVS Ministério da Saúde
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<strong>SUS</strong>: AVANÇOS E DESAFIOS<br />
Uma singulari<strong>da</strong>de dos serviços de saúde é que há uma relação estreita<br />
entre escala e quali<strong>da</strong>de. Essa relação explica-se por uma crença<br />
generaliza<strong>da</strong> de que os serviços de saúde ofertados em maior volume<br />
são mais prováveis de apresentar melhor quali<strong>da</strong>de. Por isso, é comum,<br />
em países desenvolvidos, que os sistemas públicos analisem o tamanho<br />
dos serviços que compram como uma proxy de quali<strong>da</strong>de. Por exemplo,<br />
há uma associação negativa entre o volume de cirurgias cardíacas realiza<strong>da</strong>s<br />
e as taxas de mortali<strong>da</strong>de por essas cirurgias nos hospitais. Por<br />
isso, na Holan<strong>da</strong> as uni<strong>da</strong>des de cirurgia cardíaca só são credencia<strong>da</strong>s se<br />
apresentarem um volume de, no mínimo, 600 cirurgias por ano (Banta e<br />
Bos, 1991). Essa relação entre volume e quali<strong>da</strong>de dos serviços foi constata<strong>da</strong><br />
no <strong>SUS</strong> por Noronha et al. (2003) que demonstraram, em relação às<br />
cirurgias coronarianas, que os pacientes operados em hospitais de maior<br />
volume de cirurgias apresentaram menor risco de morrer que os operados<br />
em hospitais com menor volume de cirurgias.<br />
Essa busca por eficiência e quali<strong>da</strong>de tem levado ao incremento do<br />
tamanho <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de saúde, especialmente de hospitais. Esse<br />
movimento de concentração hospitalar envolve fusões, alianças estratégicas<br />
e fechamento de hospitais, o que tem diminuído o número de<br />
hospitais. No Reino Unido, 63,5% dos hospitais contratados pelo Serviço<br />
Nacional de <strong>Saúde</strong> têm mais de 300 leitos e 90,5% dos leitos contratados<br />
estão em hospitais de mais de 200 leitos (Posnett, 2002).<br />
No <strong>SUS</strong>, o desenvolvimento do parque hospitalar público vem se fazendo<br />
no sentido contrário ao <strong>da</strong> experiência internacional. Em parte,<br />
isso decorre <strong>da</strong> forma como o processo de municipalização vem sendo<br />
realizado no país. Em função <strong>da</strong>s características dos municípios brasileiros,<br />
em que 75% deles têm menos de 20 mil habitantes, a descentralização<br />
<strong>da</strong> gestão sanitária aos entes locais contribuiu para uma enorme<br />
fragmentação dos serviços que exigem, para operar com eficiência<br />
e quali<strong>da</strong>de, uma escala adequa<strong>da</strong>. É o caso dos hospitais do <strong>SUS</strong>.<br />
A atenção hospitalar do <strong>SUS</strong> vive uma crise crônica que se arrasta<br />
por anos. Essa crise manifesta-se em três dimensões principais:<br />
• o subfinanciamento;<br />
• a baixa capaci<strong>da</strong>de gerencial; e<br />
• a ineficiência de escala.<br />
É evidente que os recursos para a atenção hospitalar no <strong>SUS</strong> são insuficientes<br />
e isso se manifesta no pagamento de procedimentos, especialmente<br />
de média complexi<strong>da</strong>de, por valores muito abaixo dos seus<br />
custos. O sistema funciona com baixa capaci<strong>da</strong>de gerencial, seja no