SUS: avanços e desafios, 2006. - BVS Ministério da Saúde
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<strong>SUS</strong>: AVANÇOS E DESAFIOS<br />
A segmentação dos sistemas de saúde é fator de “desacumulação”<br />
de capital social. O capital social tem sido definido como a capaci<strong>da</strong>de<br />
de uma socie<strong>da</strong>de estabelecer, coletivamente, objetivos de médio e<br />
longo prazo; de promover a coesão entre as pessoas, instituições e populações<br />
em torno desses objetivos; e de manter, ao longo do tempo,<br />
uma constância de propósitos (Coleman, 1990). A “desacumulação”<br />
do capital social, expressa no desgaste dos laços de coesão social e<br />
no enfraquecimento <strong>da</strong>s relações de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e confiança entre<br />
grupos sociais e instituições, produz impacto negativo na situação de<br />
saúde <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des. Isso tem sido constatado nos Estados Unidos<br />
por meio de estudos que demonstram uma associação negativa entre<br />
o capital social dos diferentes Estados e suas taxas de mortali<strong>da</strong>de<br />
geral (Comissão de Determinantes Sociais <strong>da</strong> <strong>Saúde</strong>, 2005).<br />
Os problemas <strong>da</strong> segmentação manifestam-se no sistema de saúde<br />
brasileiro, ampliando as iniqüi<strong>da</strong>des na <strong>Saúde</strong>.<br />
Há uma mobili<strong>da</strong>de unilateral <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>. Os beneficiários do Sistema<br />
de <strong>Saúde</strong> Suplementar utilizam, com freqüência, os serviços de<br />
maior densi<strong>da</strong>de tecnológica do <strong>SUS</strong>, mas os que não estão cobertos<br />
pelos planos de saúde não podem utilizar seus serviços privados. Isso<br />
configura uma seleção adversa no <strong>SUS</strong> (Médici, 2005). As tentativas<br />
de reembolso do <strong>SUS</strong> por essas despesas têm sido frustrantes e não<br />
parecem ser uma solução factível. As razões pelas quais os usuários<br />
de planos privados buscam os procedimentos de maior densi<strong>da</strong>de tecnológica<br />
no sistema público estão nos altos custos desses serviços, o<br />
que leva à falta de oferta pelos planos privados, e na percepção pela<br />
população de que esses serviços do <strong>SUS</strong> têm maior quali<strong>da</strong>de (CO-<br />
NASS, 2003). Em relação aos custos, um transplante de pulmão tinha,<br />
em 2002, um custo de aproxima<strong>da</strong>mente 50 mil reais; um tratamento<br />
de terapia renal substitutiva pode custar no mercado privado em torno<br />
de 5 mil reais por mês; e os custos de certos medicamentos de dispensação<br />
em caráter excepcional são altíssimos (Vianna et al., 2005). A<br />
natureza catastrófica desses custos em <strong>Saúde</strong> faz com que a pobreza<br />
sanitária se coloque num patamar muito mais alto que a pobreza socioeconômica,<br />
determina<strong>da</strong> por uma linha de pobreza.<br />
Da<strong>da</strong> a debili<strong>da</strong>de intrínseca do financiamento do sistema público<br />
como parte de um sistema segmentado, os usuários do <strong>SUS</strong> devem<br />
recorrer, freqüentemente, ao Sistema de Desembolso Direto. Como se<br />
viu, os estratos de ren<strong>da</strong>s mais baixas despendem 4,1% de suas ren<strong>da</strong>s<br />
familiares mensais com serviços de saúde, especialmente com