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Mestres da Gravura - Fundação Biblioteca Nacional

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<strong>Mestres</strong> <strong>da</strong> <strong>Gravura</strong><br />

Coleção Fun<strong>da</strong>ção b i b l i o t e c a nacional


e a l i z a ç ã o a p o i o<br />

p r o j e t o p a t r o c í n i o<br />

<strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong><br />

<strong>Mestres</strong> <strong>da</strong> <strong>Gravura</strong><br />

Coleção Fun<strong>da</strong>ção b i b l i o t e c a nacional


<strong>Mestres</strong> <strong>da</strong> <strong>Gravura</strong><br />

Coleção Fun<strong>da</strong>ção b i b l i o t e c a nacional<br />

Centro Cultural Correios, 28 de julho a 18 de setembro de 2011<br />

c u r a d o r i a Fernan<strong>da</strong> Terra


De volta ao século xv e viajando até 1830, faremos um belo<br />

passeio, por mais de 400 anos, ao lado dos <strong>Mestres</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Gravura</strong>, como Dürer, na Alemanha; Rembrandt, na Holan<strong>da</strong>;<br />

Piranesi, na Itália; Callot, na França; Hogarth, na Inglaterra; Goya, na<br />

Espanha... entre outros artistas europeus, internacionalmente famosos.<br />

Um passado de arte, esculpido em madeira e metal, e eternizado para<br />

o olhar contemplativo e extasiado de geração a geração.<br />

Se nas épocas vivi<strong>da</strong>s por esses artistas as gravuras os<br />

popularizaram, hoje, paradoxalmente, são suas extraordinárias<br />

pinturas que os distinguem entre os grandes nomes <strong>da</strong> história <strong>da</strong> arte<br />

mundial de todos os tempos. Telas valiosas são mais frequentemente<br />

expostas, enquanto as exposições de gravuras acontecem com certa<br />

rari<strong>da</strong>de, embora grandiosos e riquissímos sejam os seus acervos,<br />

como a coleção de 30 mil obras que a <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong> do Rio de<br />

Janeiro abriga.<br />

Conjugando o verbo gravar em todos seus tempos e modos, a<br />

ação criativa dos <strong>Mestres</strong> <strong>da</strong> <strong>Gravura</strong> pode ser adjetiva<strong>da</strong> com to<strong>da</strong><br />

a sinonímia expressiva do belo, seja pela temática, a originali<strong>da</strong>de, a<br />

dramatici<strong>da</strong>de, a sátira, a polêmica, seja pelo detalhismo, o burlesco,<br />

o obsceno, o obscuro... Clássicos, renascentistas, neoclássicos, o fato é<br />

que os gravadores desse ciclo marcaram seus méritos em importantes<br />

obras. Marcas de um passado indelével a ser disseminado no presente<br />

e no futuro. Sempre!<br />

E os Correios, permanentemente comprometidos com a<br />

propagação <strong>da</strong> cultura, também se sensibilizam com essa relação<br />

de pereni<strong>da</strong>de e de conhecimento dessa arte. Assim, imprimem a<br />

sua marca como patrocinadores <strong>da</strong> exposição, abrindo o seu Centro<br />

Cultural para receber esses mestres ilustres e suas obras-primas. Ao<br />

público, fazem um convite especial para que se percorram mais de<br />

quatro séculos <strong>da</strong> história e evolução <strong>da</strong> gravura. Um passeio de<br />

absoluto encantamento!<br />

Muito bem-vindos a esse pretérito perfeito, pelo seu indestrutível<br />

vínculo com o futuro e pelo tempo presente que se conjuga aqui e<br />

agora.<br />

centro cultural correios<br />

Preservar e permitir o acesso aos registros <strong>da</strong> cultura brasileira é<br />

missão <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>, detentora de uma <strong>da</strong>s<br />

mais ricas coleções <strong>da</strong> América Latina, atualmente composta<br />

por mais de nove milhões de peças, entre as quais livros, manuscritos,<br />

mapas, gravuras e partituras.<br />

Hoje, a instituição bicentenária enfrenta os desafios que o futuro<br />

lhe impõe, sem <strong>da</strong>r as costas para o seu passado. É importante<br />

recor<strong>da</strong>r que, graças à estratégia <strong>da</strong> Coroa Portuguesa em enfrentar<br />

os mares para driblar a invasão napoleônica, trazendo na bagagem<br />

sua Real <strong>Biblioteca</strong>, a <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong> se tornou responsável pela<br />

preservação <strong>da</strong> memória cultural brasileira, bem como por parcela <strong>da</strong><br />

memória portuguesa.<br />

A cui<strong>da</strong>dosa seleção de gravuras do acervo <strong>da</strong> <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong><br />

ora apresenta<strong>da</strong> ao público compõe um conjunto precioso, grande<br />

parte oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> Real <strong>Biblioteca</strong> portuguesa. A partir desses<br />

documentos, será possível apreciar a arte <strong>da</strong> gravura e conhecer<br />

diversos artistas, bem como as técnicas por eles emprega<strong>da</strong>s.<br />

Em suma, a exposição <strong>Mestres</strong> <strong>da</strong> <strong>Gravura</strong>, uma parceria entre a<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong> e o Centro Cultural dos Correios,<br />

constitui-se numa oportuni<strong>da</strong>de ímpar de <strong>da</strong>r ao público acesso a<br />

esse valioso acervo.<br />

fun<strong>da</strong>ção biblioteca nacional


Sumário<br />

<strong>Mestres</strong> <strong>da</strong> gravura 7<br />

Fernan<strong>da</strong> Terra<br />

As técnicas de gravura<br />

Coleção Italiana 14<br />

Coleção Alemã 30<br />

Coleção Holandesa 40<br />

Coleção Flamenga 54<br />

Coleção Francesa 60<br />

Coleção Inglesa 68<br />

Coleção Espanhola 76<br />

Coleção Portuguesa 82<br />

Referências bibliográficas 86<br />

Obras expostas 87<br />

8<br />

<strong>Mestres</strong> <strong>da</strong> <strong>Gravura</strong>, homenagem aos 200 anos <strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong> (fbn), reúne 170<br />

obras representativas <strong>da</strong> história <strong>da</strong> gravura europeia.<br />

Esse conjunto, cuja origem remonta à<br />

Real <strong>Biblioteca</strong>, trazi<strong>da</strong> por ocasião <strong>da</strong> transferência <strong>da</strong> corte<br />

portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, integra o mais<br />

importante acervo de gravuras do país: a Coleção de <strong>Gravura</strong>s<br />

Avulsas <strong>da</strong> fbn, constituí<strong>da</strong> por 30 mil itens. Trata-se, pois, de<br />

rara oportuni<strong>da</strong>de de apreciar parte significativa desse valioso<br />

patrimônio cultural brasileiro.<br />

Encontram-se na mostra tanto xilogravuras quanto exemplares<br />

de diversas técnicas de gravação em metal surgi<strong>da</strong>s do<br />

Renascimento (século xv) ao Iluminismo (século xviii). São<br />

criações de 81 gravadores que traduzem, com sensibili<strong>da</strong>de e<br />

destreza de gestos, não só a construção do pensamento religioso<br />

e filosófico, como também ideias, ações, descobertas<br />

e costumes promovidos pela cultura europeia durante esses<br />

quatro séculos.<br />

As gravuras foram dispostas em núcleos regionais de produção,<br />

formados pelas coleções italiana, alemã, holandesa,<br />

flamenga, francesa, inglesa, espanhola e portuguesa, e por<br />

ordem cronológica de nascimento dos gravadores. Há nesses<br />

núcleos gravuras originais e gravuras de reprodução ou interpretação.<br />

Entre as gravuras originais, destacam-se autores como Piranese,<br />

Dürer, Rembrandt, Callot, Goya e Hogarth, cujas linguagens<br />

poéticas se caracterizam por seu ineditismo, sua inventivi<strong>da</strong>de<br />

e sua força expressiva. Por sua vez, as gravuras de reprodução<br />

ou interpretação, realiza<strong>da</strong>s por grandes gravadores com<br />

amplo domínio técnico, apresentam obras-primas <strong>da</strong> pintura,<br />

<strong>da</strong> escultura e do desenho, tendo constituído, durante muito<br />

tempo, uma <strong>da</strong>s mais importantes formas de difusão <strong>da</strong> arte<br />

e de divulgação dos artistas<br />

A arte <strong>da</strong> gravura<br />

Para o homem <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, é Deus que semeia a vis creativa.<br />

D’Ele provém a beleza <strong>da</strong> criação, testemunho de sua grandeza<br />

e de sua sabedoria infinita, pela qual o Belo se aproxima <strong>da</strong><br />

Ver<strong>da</strong>de. O tema religioso marca a construção do fazer artístico.<br />

Já ao longo do Quattrocento, o Belo e a natureza se fundem num<br />

só ideal. Temas documentais e mitológicos surgem no universo<br />

<strong>da</strong>s gravuras, inspirados pelo humanismo crescente que afirma<br />

a digni<strong>da</strong>de do homem e o torna um investigador <strong>da</strong> natureza,<br />

numa revalorização dos ideais clássicos gregos e romanos.<br />

O homem como centro do universo, autônomo, livre, criativo,<br />

se faz representar em proporções perfeitas e está inserido num<br />

espaço ilusório tridimensional <strong>da</strong> perspectiva linear.<br />

No século xvi, o pensamento renascentista se difunde pela Europa,<br />

ao mesmo tempo que a Reforma abala o equilíbrio político<br />

e a uni<strong>da</strong>de cultural e artística recém-conquistados no continente.<br />

As gravuras, sob inspiração protestante, se voltam para a natureza e<br />

personagens profanos. A iconoclastia toma o cenário <strong>da</strong> arte. Com<br />

o declínio <strong>da</strong> influência católica, elevam-se o pessimismo, a insegurança<br />

e o alheamento característicos do Maneirismo. A noção de<br />

espaço é altera<strong>da</strong> e a perspectiva se fragmenta em múltiplos pontos<br />

de vista. As proporções <strong>da</strong> figura humana se distorcem numa<br />

linguagem visual mais dinâmica, que se mostra dramática e sofistica<strong>da</strong>,<br />

refletindo os dilemas de fim do século. No século seguinte,<br />

a Contrarreforma abre caminho para o adensamento expressivo<br />

do Barroco, com a sensuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formas curvas e espirala<strong>da</strong>s, a<br />

monumentali<strong>da</strong>de cenográfica e a exaltação do movimento.<br />

Ao excesso do Barroco o Neoclassicismo responde, em<br />

meados do século xviii, com uma arte mais serena, equilibra<strong>da</strong><br />

e sombria, que retoma o interesse pela Antigui<strong>da</strong>de clássica,<br />

valendo-se <strong>da</strong>s escavações arqueológicas e <strong>da</strong>s bases científicas,<br />

sistemáticas e racionais em que se inspira.


A arte de gravar<br />

Gravar é <strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> às linhas do tempo. Das tramas delica<strong>da</strong>s do<br />

desenho sobre uma superfície bor<strong>da</strong>ram-se com linhas incisivas,<br />

ao longo <strong>da</strong> história, algumas <strong>da</strong>s mais sutis e notáveis obras de<br />

arte. No Ocidente, a prática <strong>da</strong> gravura em papel se inicia no<br />

final do século xiv, com as primeiras xilogravuras usa<strong>da</strong>s para<br />

reproduzir imagens de santos e cartas de baralho. Seu desenvolvimento<br />

é consequência do conhecimento <strong>da</strong> técnica de fabricação<br />

do papel, descoberta pelos chineses em 105 a.c., e que<br />

chega à Península Ibérica em meados do século xii. Apenas no<br />

século xv, no entanto, a prática <strong>da</strong> gravura em papel se desenvolve<br />

na Itália e, logo depois, nos demais países europeus, como<br />

expressão artística e meio de divulgação e democratização do<br />

conhecimento, substituindo o manuscrito e as iluminuras.<br />

As primeiras impressões a partir <strong>da</strong> matriz de madeira são chama<strong>da</strong>s<br />

de xilogravuras (gravura em relevo). Já o emprego de matrizes<br />

em metal, antes restrito à ourivesaria, possibilitou o surgimento<br />

<strong>da</strong> gravura em talho-doce (taille-douce ou intaglio), nome empregado<br />

em referência à gravura a buril. As matrizes são preferencialmente<br />

feitas de chapas de cobre, em que o entalho produzido é entintado,<br />

permitindo maior aprimoramento e refinamento <strong>da</strong>s impressões.<br />

A arte <strong>da</strong> gravura em metal é conheci<strong>da</strong> como calcografia.<br />

Até o século xviii, eram cinco os principais procedimentos <strong>da</strong><br />

gravura em metal: a buril, à ponta-seca e à água-forte, her<strong>da</strong>dos<br />

dos ourives e armeiros medievais; à água-tinta e à maneira-negra,<br />

procedimentos inventados para a construção de matrizes reticula<strong>da</strong>s<br />

por processos manuais e mecânicos. Somam-se a esses<br />

procedimentos, de meados para o fim do século xviii, as técnicas<br />

à maneira de crayon, do verniz mole e do pontilhado.<br />

Fernan<strong>da</strong> Terra<br />

curadora<br />

albrecht dürer [1471–1528]<br />

São João engolindo o livro que o anjo lhe apresenta, c. 1498<br />

[<strong>da</strong> série “O Apocalipse”]<br />

xilogravura, 39 x 27 cm<br />

As técnicas de gravura*<br />

A xilogravura<br />

Na xilogravura, realizam-se entalhes diretos na matriz de madeira<br />

com ferramentas como a goiva e o formão, deixando-se<br />

a imagem a ser impressa em relevo. Destaca<strong>da</strong> do fundo, a<br />

imagem recebe a tinta de impressão, que será transferi<strong>da</strong> para<br />

uma folha de papel, por meio de pressão feita pela mão diretamente<br />

sobre o papel posado na placa entinta<strong>da</strong> de madeira<br />

ou com o auxílio de uma espátula ou colher de madeira.<br />

<strong>Gravura</strong> a buril<br />

Também conheci<strong>da</strong> como talho-doce, a gravura a buril surgiu no<br />

século xv é a mais antiga técnica de gravura em metal que se conhece.<br />

O buril é um instrumento com cabo de madeira e ponta<br />

cortante de aço em formato quadrado, losângico ou redondo.<br />

O gravador pousa o buril sobre o metal, permitindo realizar encavos<br />

muito finos e profundos, que deixam marcas a serem preenchi<strong>da</strong>s<br />

pela tinta de impressão. A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> linha depende<br />

<strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> largura <strong>da</strong>s incisões, e <strong>da</strong> força emprega<strong>da</strong><br />

na gravação. A tinta é transferi<strong>da</strong> para o papel com uma prensa.<br />

Foi, por excelência, a ferramenta dos primeiros gravadores.<br />

<strong>Gravura</strong> à ponta-seca<br />

Conheci<strong>da</strong> desde o século xv e também de corte direto, mas<br />

diferente do buril, que retira metal ao produzir a linha incisa,<br />

a ponta-seca somente desloca material, quando pressiona<strong>da</strong><br />

contra a superfície. Essa diferença aparentemente sutil<br />

cria dois tipos de linhas peculiares e claramente discerníveis.<br />

* Ver na p. 86 observação acerca <strong>da</strong> bibliografia utiliza<strong>da</strong> nesta parte.<br />

10 11<br />

A ponta-seca é empunha<strong>da</strong> como um lápis e não exige conhecimentos<br />

de oficio tão elaborados quanto os do buril, sendo o<br />

tom <strong>da</strong> linha <strong>da</strong>do pela pressão produzi<strong>da</strong> ao desenhar e pela<br />

quanti<strong>da</strong>de de rebarbas produzi<strong>da</strong>s nesses deslocamentos. As rebarbas<br />

seguram tinta, que, soma<strong>da</strong> àquela conti<strong>da</strong> nos sulcos, dá<br />

a característica avelu<strong>da</strong><strong>da</strong> e o contorno difuso à linha construí<strong>da</strong><br />

por essa ferramenta. Utilizam-se pontas de formatos e materiais<br />

diferentes, que geram resultados distintos no corte e na impressão.<br />

Depois de algumas dezenas de provas, as rebarbas são destruí<strong>da</strong>s<br />

ou modifica<strong>da</strong>s, o que cria flutuações na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens e<br />

não permite um grande número de impressões.<br />

<strong>Gravura</strong> à água-forte<br />

A água-forte, ao contrário do buril e <strong>da</strong> ponta-seca, é um procedimento<br />

indireto. Técnica utiliza<strong>da</strong> desde o século xvi, a<br />

aqua-fortis era como a alquimia chamava os mordentes, produtos<br />

químicos que atacavam as áreas <strong>da</strong> matriz de cobre desenha<strong>da</strong>s<br />

e não isola<strong>da</strong>s pelos vernizes resistentes a eles, criando-se<br />

assim concavi<strong>da</strong>des. O desenho é feito com pontas de<br />

metal utiliza<strong>da</strong>s como lápis, de modo que o cobre seja exposto<br />

onde a ponta penetra o verniz. A chapa de cobre é imersa<br />

no ácido e as partes expostas a ele (mordente) que não estão<br />

protegi<strong>da</strong>s pelo verniz, corroí<strong>da</strong>s. A corrosão é determina<strong>da</strong><br />

pelo tipo de agente químico escolhido no qual a placa será<br />

imersa e pelo tempo de exposição do metal a essa situação.<br />

Em segui<strong>da</strong>, o verniz é removido <strong>da</strong> chapa, que, limpa, é coberta<br />

de tinta; novamente limpa, deixam-se apenas os sulcos<br />

cobertos de tinta. Cobre-se a chapa com um papel umedecido<br />

e os dois passam por uma prensa; o papel absorve a tinta deposita<strong>da</strong><br />

nos sulcos, produzindo uma impressão inverti<strong>da</strong> do<br />

desenho sobre a chapa. São muitos os mordentes e sistemas de<br />

aplicação empregados pelos artistas. Dessa forma, obtêm-se


embrandt hermenszoon van rijn [1606–1669]<br />

Autorretrato desenhando junto à janela, 1648<br />

água-forte, ponta-seca e buril<br />

16,5 x 13,1 cm<br />

página à direita<br />

giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le Antichità romane, 1750–3, tomo III, prancha XL<br />

água-forte, 40,4 x 60 cm<br />

gra<strong>da</strong>ções de tons, que vão do mais claro a uma infini<strong>da</strong>de de<br />

texturas visuais e ao mais profundo escuro. Quase todos os<br />

água-fortistas importantes inventaram processos próprios.<br />

<strong>Gravura</strong> à maneira-negra<br />

Também chama<strong>da</strong> de mezzotinta, meia-tinta, essa técnica,<br />

cria<strong>da</strong> no século xvii, consiste na construção de um tramado<br />

regular e rigoroso de pontos, por intermédio de um<br />

instrumento próprio, chamado berceau, cujo formato é parecido<br />

com o de um pente em meia-lua, com dentes sem espaçamento<br />

entre si e pontas muito afia<strong>da</strong>s, que ferem o<br />

metal levantando rebarbas por pressão exerci<strong>da</strong> diretamente<br />

sobre ele. A matriz é prepara<strong>da</strong>, dispensando-se o uso<br />

de ácidos, para que o gravador trabalhe a partir do negro.<br />

A retícula de pontos regulares impressos dá um negro profundo<br />

e avelu<strong>da</strong>do. Por meio de raspagens e bruniduras adequa<strong>da</strong>s,<br />

se vão obtendo os tons em meias-luzes, entre o negro <strong>da</strong><br />

malha construí<strong>da</strong> e o branco de um polimento total.<br />

<strong>Gravura</strong> à àgua-tinta<br />

À diferença dos processos lineares, a água-tinta, inventa<strong>da</strong> no<br />

século xviii, permite obter superfícies regulares em meiostons.<br />

Trata-se de um meio indireto que se vale de mordentes,<br />

como a água-forte. A matriz é pulveriza<strong>da</strong> com resinas, breu<br />

e betume, que aderem à superfície <strong>da</strong> placa pelo uso de calor.<br />

O mordente (ácido) ataca os pontos nus <strong>da</strong> matriz que não<br />

estão protegidos pela resina. Com diversos métodos de morsuras<br />

e diferentes tipos de verniz, conseguem-se valores à maneira<br />

de chapados, que podem traduzir agua<strong>da</strong>s. Traduz-se<br />

uma escala de tempo em escala de cinzas virtuais: quão mais<br />

raros os pontos corroídos, menor a reserva de tinta, e quão<br />

mais profundos, maior a reserva para a tinta na impressão.<br />

Em outras palavras, quanto menos tinta impressa, mais pontos<br />

brancos no papel, e vice-versa, fazendo com que tal relação<br />

de quanti<strong>da</strong>de entre pretos e brancos gere os cinzas óticos<br />

e a consequente escala tonal.<br />

De meados para o fim do século xviii, surgem as técnicas<br />

à maneira de crayon, do verniz mole e do pontilhado. Este,<br />

12 13<br />

presente na exposição, é um método que utiliza a água-forte,<br />

o buril curvo ou a ponta-seca. Primeiro, faz-se uma leve gravação<br />

do contorno do desenho em água-forte; em segui<strong>da</strong>,<br />

obtêm-se os tons do trabalho, pontilhando-se a chapa com a<br />

ponta do buril curvo ou com a ponta-seca sobre um segundo<br />

verniz, posteriormente banhado no ácido.


14 15


Coleção Italiana<br />

André Mantegna [1431–1506]<br />

Jacopo de Barbari [c.1450–c.1515]<br />

Benedetto Montagna [c.1480–1555/1558]<br />

Marco Antonio Raimondi [c.1480–c.1534]<br />

Agostino de Musi [1490–1540]<br />

Marco Dente [1493–1527]<br />

Giovanni Battista Guisi [c.1503–c.1575]<br />

Enea Vico [1520–1570]<br />

A<strong>da</strong>mo Ghisi [c.1530–c.1585]<br />

Mestre do Dado [ativo entre 1532–1550]<br />

Lodovico Carracci [1555–1619]<br />

Agostino Carracci [1557–1602]<br />

Annibale Carracci [1560–1609]<br />

Francesco Brizzi [1574–1623]<br />

Guido Reni [1575–1642]<br />

Giovanni Benedetto Castiglione [1609–1664]<br />

Stefano della Bella [1610–1664]<br />

Salvatore Rosa [1615–1673]<br />

Giovanni Battista Piranesi [1720–1778]<br />

Francesco Bartolozzi [1725–1815]<br />

Giovanni Volpato [1735–1803]<br />

André Mantegna<br />

Pintor e gravador a buril, nasceu na ilha de Cartura, perto de<br />

Vicenza, em 1431. Foi treinado na escola clássica de Francisco<br />

Squarcione em Pádua. Em 145 , passou a viver em Mantua, onde<br />

permaneceu até sua morte em 1506. Foi protegido por Luiz de<br />

Gonzaga, duque de Mantua, que o nomeou cavaleiro, e pelo papa<br />

Inocêncio viii. Existem sete gravuras de sua autoria confirma<strong>da</strong> e<br />

outras inacaba<strong>da</strong>s, que não sabemos ao certo se pertenceram ao<br />

artista. Trata-se de obras admira<strong>da</strong>s pelo gosto e a correção dos<br />

desenhos. “A noção plástica é trazi<strong>da</strong> para a gráfica e por consequência<br />

o gosto pela abstração liga<strong>da</strong> aos grafismos, ritmos e<br />

adensamentos luminosos” (Luis Cláudio Mubarac). Sua maneira<br />

de gravar característica se <strong>da</strong>va com sombras executa<strong>da</strong>s por traços<br />

paralelos abertos e linhas oblíquas mais claras entre esses traços.<br />

Jacopo de Barbari, dito Mestre do Caduceu<br />

Diversos nomes são atribuídos a esse artista: Francisco de Babilônia,<br />

Jacob Walch (Italiano) ou Jacob de Veneza, Jacometto, Jacob de<br />

Barberino, Jacob de Barbaris e Jacopo de Barbari. Foi pintor a óleo<br />

e em miniatura, nigelador, escultor e gravador a buril e em madeira.<br />

Nascido por volta de 1450, trabalhou como pintor em Veneza e<br />

em diversos lugares, como Nuremberg e os Países Baixos, durante<br />

a segun<strong>da</strong> metade do século. Não se sabe ao certo onde nasceu<br />

(Alemanha, Holan<strong>da</strong>, França ou Itália), nem a <strong>da</strong>ta de sua morte,<br />

que provavelmente se deu em 1515. As gravuras abertas em metal<br />

por ele revelam mão hábil em manejar o buril e espírito italiano,<br />

mas são desiguais. Jamais desenvolveu a regulari<strong>da</strong>de nas incisões<br />

que dá à gravura especial quali<strong>da</strong>de na execução dos valores tonais.<br />

Suas impressões possuem a aparência de desenhos à caneta, transferidos<br />

para o cobre. Notam-se nelas diversas influências, de Bellini e<br />

André Mantegna à dos alemães. Muitas se aproximam <strong>da</strong> maneira<br />

andrea mantegna [1431–1506]<br />

Jesus Cristo descendo ao limbo, s/d<br />

buril, 43 x 33,2 cm<br />

17<br />

marco antonio raimondi [c.1480–c.1534]<br />

Orfeu e Eurídice, c. 1510<br />

buril, 18,3 x 14 cm<br />

Em Orfeu e Eurídice, Orfeu está nu, vestindo apenas um manto preso ao<br />

ombro. Com a cabeça coroa<strong>da</strong> de louros, toca a lira. Eurídice atrás dele, quase<br />

totalmente nua, faz o gesto de cobrir-se, inspirado na Vênus Capitolina. A única<br />

inovação que traz o artista é o pano enrolado ao longo <strong>da</strong> ninfa. O corpo de Orfeu<br />

é retirado do famoso Apollo de Belvedere, descoberto em Roma no final do<br />

século xv. O casal está fora do inferno. A ninfa volta o seu olhar para a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

caverna, com o intuito de testemunhar o que pode acontecer, se Orfeu olhar para ela.


de Albrecht Dürer, principalmente <strong>da</strong>s primeiras obras deste mestre.<br />

Sua obra grava<strong>da</strong> compreende trinta gravuras abertas em metal.<br />

A Sagra<strong>da</strong> Família é uma raríssima gravura a buril, em que se vê a<br />

marca do gravador na parte superior, à esquer<strong>da</strong>.<br />

Benedetto Montagna<br />

Pintor e gravador a buril, nasceu em Vicenza por volta de 1480, filho<br />

do pintor Bartolomeu Montagna. Trabalhou quase to<strong>da</strong> a sua<br />

vi<strong>da</strong> em Veneza, tomando por modelos, na pintura, Bellini e, na<br />

gravura, Dürer. Suas gravuras são fortes, simples e muito raras.<br />

Marco Antonio Raimondi<br />

Também conhecido como Marcantonio, foi ourives, desenhista e<br />

gravador a buril. Nasceu em 1480 em Bolonha, onde faleceu em<br />

153 . Aprendeu a desenhar com Franscisco Raibolini (o Francia),<br />

ourives e pintor, para quem trabalhou obras de nigelo, em cujo<br />

exercício se familiarizou com o manejo do buril e os princípios<br />

e práticas de gravar a talho-doce. Iniciou a prática <strong>da</strong> chama<strong>da</strong><br />

gravura de interpretação ou reprodução. Foi grande intérprete<br />

de Raphael e admirador <strong>da</strong> obra de Dürer, tendo copiado<br />

em aço a Pequena Paixão, imitando a maneira <strong>da</strong>s xilogravuras do<br />

mestre alemão. Sua reputação foi tão grande que atraiu diversos<br />

gravadores à sua escola. Teve como discípulos: Agostinho<br />

de Musi, Marcos Desnte, Mestre do Dado, Enea Vico, os Ghisi,<br />

Bartholomeu Beham e Georg Pencz, entre outros.<br />

Agostino de Musi, dito O Veneziano<br />

Desenhista e gravador a buril. Nasceu em Veneza em cerca de<br />

14 0 e faleceu em Roma por volta de 1540. Não se sabe ao cer-<br />

to quais foram seus primeiros mestres. Sabe-se, no entanto, que,<br />

quando viveu em Roma, trabalhou sob a direção de Marco Antonio<br />

Raimondi. Em seus primeiros trabalhos copiava ao Mestre<br />

do Caduceu e a Giulio Campagnola, que foi sua maior influência.<br />

Foi na escola de Raimondi que Musi se associou a Marco Dente<br />

de Ravenna, com quem executou em conjunto diversas gravuras.<br />

Marco Dente<br />

Mais conhecido como Marco Dente <strong>da</strong> Ravenna, nasceu nessa<br />

ci<strong>da</strong>de em 14 3 e morreu provavelmente durante o saque de<br />

Roma, em 1527. Foi discípulo de Marco Antonio Raimondi e<br />

manteve parceria com Agostino Veneziano até 1520. Após essa<br />

<strong>da</strong>ta, começou a marcar seus trabalhos com seu nome ou suas<br />

iniciais. Em certa riqueza de texturas e tons, chegou muito<br />

próximo à técnica de gravar de seu mestre. Seu sombreado é,<br />

com largas superfícies planas de tons, simples e prazeroso.<br />

Giovanni Battista Guisi, dito O Mantuano<br />

Arquiteto, escultor, pintor, gravador a buril e chefe de uma<br />

família de artistas. Nasceu em 1503 e a <strong>da</strong>ta provável de sua<br />

morte é 1575. Foi responsável por uma escola de gravadores<br />

em Mantua, preservando forte individuali<strong>da</strong>de, num tempo<br />

em que praticamente todos os gravadores na Itália estavam<br />

sob a influência de Marco Antonio Raimondi. O grande<br />

mestre dessa escola foi Giorgio Ghisi, enquanto os filhos de<br />

Giovanni Battista, A<strong>da</strong>mo e Diana, foram grandes imitadores<br />

de ambos. A característica peculiar de seu estilo de gravar é<br />

nota<strong>da</strong> na riqueza dos pretos utilizados nas sombras, que são<br />

parcialmente obtidos pelo livre uso de pontos entre as linhas<br />

e, de certa forma, pela mistura de grossas linhas grava<strong>da</strong>s.<br />

marco dente [1493–1527]<br />

Vênus feri<strong>da</strong> por um espinho de roseira, s/d<br />

[segundo Raphael Sanzio]<br />

buril, 26,2 x 16,8 cm<br />

18 1<br />

Enea Vico<br />

Desenhista e gravador em metal, nasceu em Parma em 1520 e faleceu<br />

em Ferrara em 1570. Seu florescimento como gravador se<br />

deu entre 1541 e 1567. Mudou-se para Roma ain<strong>da</strong> jovem, tendo<br />

como mestre o gravador e comerciante de estampas não muito<br />

importante Thomaz Barlacchi. As gravuras de Enea Vico anteriores<br />

a 1550 são grava<strong>da</strong>s à maneira de diferentes mestres: Julio<br />

Bonasone, Agostinho de Musi, Jacob Caraglio e Marco Antonio<br />

Raimondi. Posteriormente, Vico adquiriu uma maneira de<br />

gravar própria e característica. Foi também cultor <strong>da</strong>s ciências,<br />

que estudou com particulari<strong>da</strong>de, e escreveu sobre numismática.<br />

Reina grandes incertezas sobre os fatos de sua vi<strong>da</strong>.<br />

A<strong>da</strong>mo Ghisi<br />

Desenhista e gravador a buril, filho de Giovanni Battista, nasceu<br />

em Mantua em 1530 e faleceu em 1574. Gravou segundo<br />

vários mestres italianos. Sua maneira de gravar se assemelha à<br />

de seu pai e à de seu irmão mais velho, Jorge Guisi.<br />

Mestre do Dado<br />

Pouco se sabe sobre a vi<strong>da</strong> de Mestre do Dado, pintor e gravador<br />

a buril. Acredita-se que tenha nascido no princípio do<br />

século xvi e que tenha trabalhado em Roma de 1532 a 1550.<br />

Ignora-se a <strong>da</strong>ta de sua morte. Pertenceu à escola de Marco<br />

Antonio Raimondi. Seus trabalhos mostram pouca originali<strong>da</strong>de<br />

na maneira de gravar e forte assimilação do estilo de<br />

Raimondi. Como desenhista, realizava figuras curtas, com cabeças<br />

bem grandes e braços e pernas reforçados. Assinava seus<br />

trabalhos com as iniciais b.v. ou, mais frequentemente, um<br />

<strong>da</strong>do com a letra b em seu centro.


jocopo de barbari [c.1450- c.1515]<br />

Sagra<strong>da</strong> Família, s/d<br />

buril, 15,3 cm x 19 cm<br />

annibale carracci [1560–1609]<br />

Pietà ou Cristo de Caprarola, 1597<br />

água-forte retoca<strong>da</strong> a buril, 12,3 cm x 16,1 cm<br />

Lodovico Carracci<br />

Pintor e gravador à água-forte e a buril, nascido em Bolonha em<br />

1555. Teve como primeiro mestre Prospero Fontana. Em Bolonha,<br />

fundou com seus primos e discípulos Agostino e Annibale<br />

Carracci a célebre escola de pintura Accademia degli Incamminati.<br />

Nessa academia, incentivava-se a revitalização <strong>da</strong> gravura de linha<br />

e desencorajava-se a produção de gravar à água-forte. Ain<strong>da</strong><br />

que inferiores às de seus primos, as gravuras de Lodovico são<br />

bastante estima<strong>da</strong>s. Faleceu em Bolonha em 161 .<br />

Agostino Carracci<br />

Pintor, gravador à água-forte e a buril, nascido em Bolonha<br />

em 1557. A princípio, exerceu a profissão de ourives. Logo após,<br />

dedicou-se ao desenho, à pintura e à gravura. Teve por mestres<br />

Prospero Fontana (pintura), Bartholomeu Passerotti (desenho)<br />

e Domingos Tibaldi, Cornélis Cort e Lodovico Carracci<br />

(gravura). Trabalhava suas gravuras com um sistema aberto<br />

de linhas. Recorreu aos fortes elementos <strong>da</strong> maneira tardia de<br />

Raimondi, acrescentando pouco, mais de maneira constante, o<br />

uso de linhas cruza<strong>da</strong>s no sombreamento e um método mais<br />

regular de riscas nas frestas <strong>da</strong>s linhas. Os melhores trabalhos<br />

de Agostino são originais, mas ele também reproduziu pintores<br />

como Correggio, Ticiano e Veronese. Como pintor, associou-se<br />

a seu primo Lodovico para fun<strong>da</strong>r a Academia degli Incamminati e<br />

colaborou com seu irmão Annibale na pintura <strong>da</strong> galeria do<br />

palácio Farnese, em Roma. Foi estudioso de diferentes ramos:<br />

de letras e ciências a filosofia, matemática, geografia, astrologia,<br />

historia, poesia, medicina e inclusive música, na qual se diz que<br />

foi hábil. Morreu em Parma em 1602.<br />

Annibale Carracci<br />

Irmão mais novo de Agostino, foi pintor e gravador à águaforte<br />

e a buril. Nasceu em Bolonha em 1560 e morreu em<br />

Roma em 160 . Aprendeu pintura com Lodovico Carracci, seu<br />

primo, tendo sido considerado o mais hábil pintor italiano<br />

depois de Raphael, Ticiano e Correggio. Realizou a pintura<br />

<strong>da</strong> galeria do Palácio Farnese com seu irmão Agostino. Diz-se<br />

que esse trabalho, que consumiu oito anos de sua vi<strong>da</strong>, foi a<br />

causa de sua morte: Annibale teria morrido de desgosto pela<br />

ingratidão do príncipe Farnese, que o recompensou mesquinhamente<br />

pela empreita<strong>da</strong>. Como gravador, sua obra, embora<br />

não numerosa, é muito bem desenha<strong>da</strong> e acaba<strong>da</strong>.<br />

Francesco Brizzi<br />

Pintor e gravador à água-forte e a buril, nascido em 1575 em<br />

Bolonha, onde morreu em 1623. Foi, inicialmente, sapateiro,<br />

largando esse ofício para aprender desenho e pintura com<br />

Bartolomeu Passarotti e se aperfeiçoar com Luiz Carracci e<br />

Agostinno Carracci. Colaborou em algumas gravuras do último,<br />

tendo dedicado-se também à perspectiva e à arquitetura,<br />

que ensinava em curso público.<br />

Guido Reni<br />

Pintor e gravador à água-forte. Nasceu em Bolonha em 1575<br />

e morreu na mesma ci<strong>da</strong>de em 1642. Após ter estu<strong>da</strong>do arte<br />

com Dionisio Calvaert, passou para a escola dos Carracci,<br />

tornando-se o seu mais famoso aluno. Na combinação de linhas<br />

luminosas e pontos, produziu muitas delica<strong>da</strong>s gravuras<br />

à água-forte. Foi imitado não apenas na Itália, mas também<br />

pelos franceses. Seu desenho é puro e correto; as cabeças de<br />

20 21<br />

enea vico [1520-1570]<br />

Os amores de Marte e Vênus, s/d<br />

[segundo Francesco Mazzuoli, dito o Parmegiano]<br />

buril, 30 x 20,3 cm<br />

À esquer<strong>da</strong>, Vênus nua, senta<strong>da</strong> em seu leito, amamentando<br />

Cupido no seio direito, passa o braço esquerdo sobre os ombros<br />

de Marte, que está sentado ao seu lado, vestido de armadura.<br />

Em cima, à esquer<strong>da</strong>, vê-se um Amor com o corpo coberto de<br />

plumagem, crista, cau<strong>da</strong> e pés de galo, dormindo sentado sobre<br />

uma janela, pela qual entram largos feixes de raios luminosos.<br />

No canto superior esquerdo, nota-se o monograma do gravador.


giovanni benedetto castiglioni [1609–1664]<br />

Grandes cabeças com touca<strong>da</strong>s a oriental, s/d<br />

água-forte, 17,8 x 14,8 cm<br />

giovanni benedetto castiglioni [1609–1664]<br />

Grandes cabeças com touca<strong>da</strong>s a oriental, s/d<br />

água-forte, 17,8 x 14,8 cm<br />

suas figuras, nobres e graciosas, e as roupagens, trata<strong>da</strong>s com<br />

muito gosto e mestria. Foi um apaixonado pelo jogo, que lhe<br />

acarretou a per<strong>da</strong> de posses e amigos, tendo passado os últimos<br />

anos de sua vi<strong>da</strong> no esquecimento e na miséria.<br />

Giovanni Benedetto Castiglione<br />

Artista do barroco italiano, Castiglione nasceu em Gênova<br />

em 160 . Era conhecido como Il Grechetto na Itália e como<br />

Le Benédette na França. Sua formação inicial não é clara. Pode<br />

ter estu<strong>da</strong>do com Sinibaldo Scorza, Antoon van Dyck e Peter<br />

Paul Rubens. Pintor e desenhista, pertenceu à escola genovesa,<br />

tendo vivido em Roma de 1634 a 1645. Morreu em Mântua,<br />

como artista <strong>da</strong> corte, em 1664. Suas gravuras são notáveis<br />

pelo jogo de luz e sombra, que o levou a ganhar o apelido de<br />

segundo Rembrandt. Em 1648, inventou a monotipia, técnica<br />

com a qual se consegue reproduzir um desenho ou mancha<br />

de cor numa prova única. Nos estudos <strong>da</strong>s cabeças orientais,<br />

mostra forte conhecimento <strong>da</strong> obra de Rembrandt.<br />

Stefano della Bella<br />

Desenhista e gravador à água-forte e a buril, nasceu em Florença<br />

em 1610. A princípio, dedicou-se à pintura, tendo como<br />

mestre Cesar Dandini. Seu mestre em gravura foi Remigio<br />

Cantagallina, cuja oficina teve também como discípulo Jacob<br />

Callot. Com o tempo, adquiriu uma maneira própria de gravar,<br />

que se distingue pelo bom gosto, a delicadeza e a ligeireza<br />

de sua ponta. Trabalhou em Roma, em Paris e em Florença,<br />

onde morreu em 1664. Gravou assuntos históricos, caça<strong>da</strong>s,<br />

paisagens, marinhas, animais e ornatos, constando de sua<br />

obra mais de 1.400 gravuras.<br />

22 23<br />

giovanni battista ghizi [c.1503–c.1575]<br />

Cupido tocando cravo, 1538<br />

buril, 12,2 x 8,9 cm<br />

Salvatore Rosa<br />

Pintor e gravador à água-forte. Nasceu em Renella, vila perto<br />

de Nápoles, em 1615 e faleceu em Roma em 1673. Cultivou<br />

a poesia e a música, estudou em Nápoles e foi influenciado<br />

pelo realismo de Ribera. Incentivado por Giovanni Lanfranco,<br />

viajou para Roma em 1635, mas teve de retornar a Nápoles em<br />

163 , após um caso de malária. Mudou-se para Florença, onde<br />

foi contratado pela família Médici e fundou a Accademia dei<br />

Percossi para escritores e artistas. Rosa retornaria a Roma em<br />

164 para trabalhar como pintor histórico.


Giovanni Battista Piranesi<br />

Nascido em Veneza em 1720, filho de um construtor, Piranesi<br />

recebeu formação em cenografia e perspectiva com o gravador<br />

Carlo Zucchi. Arquiteto e amante <strong>da</strong> arqueologia, dedicou-se<br />

à gravação dos grandes monumentos <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de romana,<br />

realizando um trabalho de grande magnitude e força expressiva<br />

num estilo livre, cenográfico e impetuoso. Suas gravuras<br />

são modela<strong>da</strong>s pela luz, em perspectiva manipula<strong>da</strong>, que trasbor<strong>da</strong><br />

por vezes a quadratura <strong>da</strong>s mesmas. As figuras humanas<br />

são atemporais, apenas esboços, ao estilo de Callot e de<br />

Della Bella.<br />

Piranesi produz suas primeiras vedute de Roma em pequeno<br />

formato para guias de turistas, e em 1743, publica as suas<br />

primeiras 12 águas-fortes, Prima parte di architettura e prospettive.<br />

Inicia uma carreira de cerca de quarenta anos, durante a qual<br />

produziu mais de mil pranchas publica<strong>da</strong>s em 1 obras pela<br />

sua própria casa impressora. Seu estilo é inconfundível e sua<br />

arte aponta para a estética do sublime, deixando transparecer<br />

a tensão entre razão e sensibili<strong>da</strong>de. Faleceu em Roma<br />

em 1778.<br />

A magnífica série Le carcere d’invenzione é um exemplo fascinante<br />

<strong>da</strong> inquietação e <strong>da</strong> geniali<strong>da</strong>de do artista. Nela,<br />

propõe estruturas espaciais fantásticas num espaço experimental<br />

labiríntico, no qual não existe um ponto de vista fixo<br />

e central, nem uma perspectiva linear a ser segui<strong>da</strong>. Com as<br />

emoções à flor <strong>da</strong> pele, nosso olhar, ao contemplar essa série<br />

à água-forte, flutua sem descanso, observando os arranjos<br />

espaciais na proliferação de perspectivas, nos desdobramentos<br />

espaciais, no vaivém de esca<strong>da</strong>s, pontes e passagens. Observamos,<br />

inquietos, a luz provocar e produzir escuridão, e<br />

as paredes absorverem-na sem refleti-la, assim como notamos<br />

os raios de luz que deixam seu percurso natural para<br />

se curvarem sobre os objetos. Nessas gravuras, a noções de<br />

proximi<strong>da</strong>de e de distância são aboli<strong>da</strong>s, e o tempo e o espaço<br />

se fundem. Passado, presente e futuro parecem não<br />

existir. Piranesi fala de um outro lugar e de um outro tempo,<br />

levando-nos a uma interiori<strong>da</strong>de pouco confortável, em que<br />

nos deparamos com nossos mais sutis temores, que não sabemos<br />

nominar.<br />

O termo veduta se aplica a pintura, desenho ou gravura<br />

que representa uma ci<strong>da</strong>de, um monumento ou um lugar com<br />

concepção acentua<strong>da</strong>mente topográfica. As vedute têm sua origem<br />

nas peregrinações a Roma no século xviii, no tempo de<br />

redescoberta <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de: Herculano, em 171 , e Pompeia,<br />

em 1748. Seus maiores inovadores foram Canaletto, Guardi<br />

e Piranesi, que transformou a vista grava<strong>da</strong> para souvenir de<br />

turistas intelectuais e aristocratas num sofisticado meio de comunicação<br />

erudita de grande carga expressiva. Assim, pratica<br />

a veduta direta, ou de reconstituição fidedigna, segundo fontes<br />

documentais, e a veduta ideata, em que a ruína serve de matéria<br />

para sua vertente apaixona<strong>da</strong> e trágica.<br />

giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le carcere d’invenzione, 1750–3, frontispício<br />

água-forte, 72,8 x 53 cm<br />

24 25<br />

giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le carcere d’invenzione, 1750–3, prancha vii<br />

água-forte, 72,8 x 53 cm


giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le carcere d’invenzione, 1750–3, prancha x<br />

água-forte, 53 x 72,8 cm<br />

giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le carcere d’invenzione, 1750–3 prancha xiv<br />

água-forte, 53 x 72,8 cm<br />

26 27


giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le Antichità romane, 1750–3<br />

tomo III, segundo frontispício<br />

água-forte, 39,9 x 59,2 cm<br />

giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le Antichità romane, 1750–3<br />

tomo III, prancha XVIII<br />

água-forte, 39,9 x 59,9 cm<br />

giovanni battista piranesi [1720–1778]<br />

Le Antichità romane, 1750–3, tomo III, prancha LI<br />

água-forte, 39,9 x 60,5 cm<br />

28 2


agostino carracci [1557–1602]<br />

Ecce Homo, 1587<br />

[segundo Antonio Correggio]<br />

buril, 37,5 x 26,6 cm<br />

Francesco Bartolozzi<br />

Gravador italiano cujo período mais produtivo foi passado em<br />

Londres. Nascido em Florença, estudou com os artistas florentinos<br />

Ignazio Hugford e Domenico Giovanni Ferretti, que o<br />

instruiu em pintura. Após dedicar três anos à pintura, passou a<br />

estu<strong>da</strong>r gravura com Joseph Wagner em Veneza. Suas primeiras<br />

produções foram no estilo de Marco Ricci e Zuccarelli, entre<br />

outros. Seguiu para Londres em 1764, onde viveu quase quarenta<br />

anos, tendo produzido enorme número de gravuras e contribuído<br />

com várias delas para The Shakespeare Gallery, de John Boydell.<br />

Também desenhou esboços de sua autoria em crayon vermelho.<br />

Pouco depois de chegar em Londres, foi nomeado “Gravador do<br />

Rei” e eleito um dos membros fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> Royal Academy, em<br />

1768. Em 1802, tornou-se presidente fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de de<br />

Gravadores. No mesmo ano, aceitou o cargo de diretor <strong>da</strong> Academia<br />

<strong>Nacional</strong> de Lisboa, ci<strong>da</strong>de onde morreu. Seu filho Stefano<br />

Gaetano Bartolozzi, nascido em 1757, também foi gravador.<br />

Giovanni Volpato<br />

Desenhista e gravador, Volpato nasceu em Bassano em 1733 e<br />

faleceu em Roma em 1803. Nos primeiros tempos de sua vi<strong>da</strong>,<br />

dedicou-se à arte de bor<strong>da</strong>r. Em segui<strong>da</strong>, aprendeu a gravar. Em<br />

Veneza, foi discípulo de Joseph Wagner, gravador e mercador de<br />

gravuras, e de Francisco Bartolozzi. Já em Roma, fundou uma escola<br />

de gravura e escreveu, em 1786, o livro Princípios do desenho, que<br />

contém 36 pranchas grava<strong>da</strong>s de antigas estátuas. Essas pranchas<br />

foram grava<strong>da</strong>s por ele e por Raphael Morghen, um de seus hábeis<br />

discípulos. Em Roma, gravou segundo os mais importantes<br />

artistas italianos, como Raphael, Michelangelo, Paulo Cagliari,<br />

dito o Veronense, Leonardo <strong>da</strong> Vinci, Guercino e Tintoretto, entre<br />

outros. Suas gravuras abertas em Roma são numerosas e podem<br />

se dividir em duas espécies: não colori<strong>da</strong>s e colori<strong>da</strong>s à aquarela.<br />

francesco bartolozzi [1725–1815]<br />

Harmony, 1795<br />

[segundo John Francis Rigaud]<br />

pontilhado e água-forte, 16,6 x 13,5 cm<br />

30 31<br />

francesco bartolozzi [1725–1815]<br />

Youth, 1795<br />

[segundo John Francis Rigaud]<br />

pontilhado e água-forte, 16,4 x 13,2 cm


Coleção Alemã<br />

Israel van Meckenem [c.1440/1445–1503]<br />

Martin Schongauer [c.1450–1491]<br />

Albrecht Dürer [1471–1528]<br />

Lucas Cranach, Sênior [1472–1553]<br />

Hans Sebald Beham [1500–1550]<br />

Martin Treu [ativo em 1540–1543]<br />

Georg Pencz [c.1500–1550]<br />

Heinrich Aldegrever [c.1501/1502–c.1556/1561]<br />

Virgil Sol [1514–1562]<br />

Israel van Meckenem<br />

Gravador e ourives, era filho de Israhel van Meckenem, o<br />

Velho, também ourives, que se estabeleceu em Bocholt. Nasceu<br />

aproxima<strong>da</strong>mente em 1440 e faleceu em 1503 em Bochott.<br />

Estudou com o Mestre e.s. no sul <strong>da</strong> Alemanha e produziu<br />

mais de seiscentas chapas, cuja maioria era constituí<strong>da</strong> de<br />

cópias de outros artistas, como Dürer e Martin Schongauer.<br />

Seus primeiros trabalhos foram bastante crus, mas na déca<strong>da</strong><br />

de 1480 desenvolveu um estilo pessoal eficaz e fez obras ca<strong>da</strong><br />

vez maiores e mais bem acaba<strong>da</strong>s.<br />

Martin Schongauer<br />

Ourives, pintor e gravador a buril, descendente de uma família<br />

de origem nobre de Augsburgo. Nasceu em Colmar por volta<br />

de 1450 e faleceu em 14 1, tendo sido o mais importante gravador<br />

alemão antes de Albrecht Dürer. Estabeleu em Colmar uma<br />

escola muito importante de gravura, na qual floresceram uma<br />

nova geração de “Pequenos <strong>Mestres</strong>” e um grande grupo de artistas<br />

de Nuremberg. Produziu grande número de gravuras, que<br />

foram amplamente vendi<strong>da</strong>s não só na Alemanha, mas também<br />

na Itália e mesmo na Inglaterra e na Espanha. Vasari afirmou<br />

que Michelangelo copiou uma de suas gravuras: o Julgamento de<br />

Santo António. Seu estilo demonstra, em vez de influência italiana,<br />

um estilo gótico muito claro e organizado. Estabeleceu um<br />

sistema de criar volume, por meio de linhas cruza<strong>da</strong>s em duas<br />

direções, que lhe foi ensinado pelo Mestre <strong>da</strong>s iniciais e.s. e que<br />

seria desenvolvi<strong>da</strong> ao máximo por Dürer. Foi o primeiro gravador<br />

a usar linhas curvas paralelas, provavelmente girando a placa<br />

contra um buril estável. Desenvolveu ain<strong>da</strong> uma técnica a buril<br />

que produzia linhas mais profun<strong>da</strong>s sobre a placa, permitindo<br />

que fossem feitas mais impressões antes de a placa se desgastar.<br />

israel van meckenem [c.1440/1445–1503]<br />

Santa Bárbara, s/d<br />

buril, 16,3 x 10,9 cm<br />

33<br />

martin schongauer [c.1450–1491]<br />

A morte <strong>da</strong> virgem, s/d<br />

buril, 25,7 x 17 cm


Albrecht Dürer<br />

Gravador, desenhista e pintor, nasceu em Nuremberg, maior centro<br />

de produção gráfica <strong>da</strong> Alemanha, em 21 de maio de 1471. Terceiro<br />

dos 18 filhos de um ourives, demonstrou desde cedo habili<strong>da</strong>de<br />

para o desenho e o manuseio do buril. Fez experiências com a<br />

água-forte e a ponta-seca, tornando-se aprendiz do pintor Michael<br />

Wolgemut com apenas 13 anos de i<strong>da</strong>de. Estudou gravura no ateliê<br />

do importante impressor alemão Anton Koberger. Já na adolescência,<br />

demonstrou grande interesse pelas gravuras de Martin Schongauer.<br />

Foi um artista erudito, apaixonado pelo Renascimento. Possuía<br />

profundo conhecimento <strong>da</strong> matemática e <strong>da</strong> literatura clássica<br />

greco-romana, tendo demonstrado interesse também pela filosofia<br />

e a arqueologia. Após completar sua formação, iniciou um período<br />

de viagens. Visitou Florença, Bolonha e Veneza (14 4), onde<br />

viveu durante um ano e meio (1505), entrando em contato com a<br />

rica produção de gravuras italianas. Também viajou para os Países<br />

Baixos (1520–1), quando estudou profun<strong>da</strong>mente teorias sobre a<br />

proporção humana, a geometria e as fortificações, e escreveu poesia<br />

e sobre teoria <strong>da</strong> arte. Grande humanista, foi empregado pelo<br />

imperador Maximiliano i. Tinha profundo interesse pela natureza<br />

e pelos animais, retratando-os em diversas gravuras. Numa de suas<br />

viagens, contraiu malária, falecendo em sua ci<strong>da</strong>de natal no dia 6 de<br />

abril de 1528, aos 57 anos.<br />

Sua obra inclui sessenta telas, mais de cem gravuras em metal,<br />

cerca de 250 xilogravuras e mil desenhos, além de três livros<br />

impressos. Dois deles foram publicados em vi<strong>da</strong>: Instrução para medições<br />

à régua e ao compasso, de 1525, e Tratado sobre fortificações, de 1527.<br />

O livro Sobre a proporção do corpo humano saiu logo após sua morte, em<br />

1528. Entre as mais célebres obras produzi<strong>da</strong>s pelo Dürer, destaca-se<br />

O apocalipse, série de 15 xilogravuras dramáticas, considera<strong>da</strong>s<br />

uma <strong>da</strong>s maiores criações <strong>da</strong> arte alemã. Tal obra trouxe ao artista<br />

de 27 anos de i<strong>da</strong>de riqueza e fama em to<strong>da</strong> a Europa, tendo sido<br />

publica<strong>da</strong> em latim e alemão em Nuremberg em 14 8.<br />

A publicação se mostrou inovadora, já que até então as gravuras<br />

em livros ilustrados eram pequenas e apareciam no meio dos<br />

textos. Dürer subverteu a ordem de importância <strong>da</strong>s informações,<br />

tendo o trabalho do artista passado a preponderar sobre o texto,<br />

impresso no verso <strong>da</strong>s gravuras. As imagens grava<strong>da</strong>s por Dürer<br />

para essa obra, identifica<strong>da</strong>s por seu monograma, baseiam-se em<br />

antigas representações do Apocalipse presentes nas versões então<br />

correntes nas bíblias impressas <strong>da</strong> época.<br />

Entre as mais completas gravuras realiza<strong>da</strong>s por Dürer a buril,<br />

encontra-se Adão e Eva (1504), obra em que ele, fazendo uso<br />

<strong>da</strong> medi<strong>da</strong> áurea e utilizando a régua e o compasso na constituição<br />

<strong>da</strong>s figuras segundo o estilo utilizado na Antigui<strong>da</strong>de clássica,<br />

traduz seu profundo interesse pelo estudo <strong>da</strong>s proporções<br />

humanas. Adão e Eva foram inspirados nas esculturas de Apolo<br />

de Belvedere e Vênus, tendo sido entalhados em seus contornos<br />

com linhas delica<strong>da</strong>s, para depois serem detalha<strong>da</strong>mente preenchidos.<br />

A gravura exibe varie<strong>da</strong>de de tons e texturas, além de<br />

sutis gra<strong>da</strong>ções de sombra e de luz.<br />

Embora seu foco esteja nas figuras, a autêntica arte para Dürer<br />

está conti<strong>da</strong> na natureza representa<strong>da</strong> com maestria em seus mínimos<br />

detalhes. A inclusão de símbolos adicionais cria interesse visual<br />

por to<strong>da</strong> a gravura, a exemplo <strong>da</strong> serpente, personificação <strong>da</strong> desobediência<br />

e <strong>da</strong> provocação a Deus; do galho na mão de Adão, que<br />

representa a árvore <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>; e de vários animais, como o papagaio, a<br />

cabra no topo do penhasco, o rato, o gato, o coelho etc., presentes<br />

nesta belíssima gravura, sugerindo forte carga simbólica.<br />

34 35<br />

albrecht dürer [1471–1528]<br />

Adão e Eva, 1504<br />

buril, 25 x 19,2 cm


albrecht dürer [1471–1528]<br />

Adoração do Cordeiro divino, c. 1496<br />

Babilônia, a grande meretriz, c. 1496–7<br />

O anjo que tem a chave do abismo, c. 1496–7<br />

Os quatro cavaleiros, c. 1497–8<br />

A mulher revesti<strong>da</strong> de sol, c. 1497<br />

[<strong>da</strong> série “O Apocalipse]<br />

buril, 39 x 27 cm<br />

albrecht dürer [1471–1528]<br />

Os quatro anjos vingadores, 1496<br />

[<strong>da</strong> série “O Apocalipse]<br />

buril, 39 x 27 cm<br />

36 37<br />

albrecht dürer [1471–1528]<br />

Combate de São Miguel contra o dragão, 1497<br />

[<strong>da</strong> série “O Apocalipse]<br />

buril, 39 x 27 cm


albrecht dürer [1471–1528]<br />

As quatro feiticeiras, 1497<br />

buril, 19,2 x 12,7 cm<br />

albrecht dürer [1471–1528]<br />

A virgem com o macaco, c. 1498<br />

buril, 17,6 x 11,6 cm<br />

Lucas Cranach, Sênior<br />

Pintor renascentista de retratos de príncipes alemães e dos líderes<br />

<strong>da</strong> Reforma protestante, cuja causa abraçou com entusiasmo,<br />

tornando-se amigo próximo de Lutero. Pintou também<br />

temas religiosos, em primeiro lugar na tradição católica e, depois,<br />

buscando encontrar novas maneiras de transmitir as preocupações<br />

religiosas luteranas. Nascido em 1472, serviu por mais<br />

de sessenta anos na quali<strong>da</strong>de de pintor <strong>da</strong> corte dos duques de<br />

Saxônia, tendo sido também gravador. Suas pinturas e xilogravuras<br />

são numerosas e contrastam com o número reduzido de<br />

gravuras em cobre. A cor, a luz e a sombra não eram especiali<strong>da</strong>des<br />

suas. Sempre contornava as formas em negro, em vez de<br />

utilizar o chiaroscuro. Suas xilogravuras eram abertas a partir de<br />

seu desenho por outros artistas. Dedicou-se ain<strong>da</strong> ao comércio,<br />

possuindo uma loja de livros e papéis, e uma farmácia. Faleceu<br />

em Weimar em 1553, aos 81 anos de i<strong>da</strong>de.<br />

Hans Sebald Beham<br />

Pintor e gravador a buril e em madeira, nasceu em Nuremberg<br />

em 1500 e morreu em 1550. Aprendeu gravura e pintura com<br />

Dürer, tendo integrado a plêiade dos famosos “Pequenos <strong>Mestres</strong>”<br />

<strong>da</strong> Alemanha. Suas gravuras são espirituosas e abertas com<br />

um buril cheio de expressão e nitidez. No fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, abandonou<br />

a profissão para estabelecer-se como comerciante de bebi<strong>da</strong>s.<br />

Martin Treu<br />

Gravador a buril, de cuja vi<strong>da</strong> na<strong>da</strong> se sabe, exceto ter trabalhado<br />

entre 1540 e 1543. Pertence ao grupo dos “Pequenos <strong>Mestres</strong>”<br />

<strong>da</strong> escola Alemã, tendo vivido provavelmente em Nuremberg.<br />

Ao que parece, estudou o estilo de Lucas van Leyden.<br />

38 3<br />

lucas cranach, sênior [1472–1553]<br />

Cristo na cruz (A crucificação). s/d<br />

[<strong>da</strong> série “A paixão de Jesus Cristo”)<br />

xilogravura, 25,9 x 18 cm


georg pencz [c.1500–1550]<br />

A soberba, s/d<br />

[<strong>da</strong> série “Os sete pecados mortais”]<br />

buril, 8,2 x 5,2 cm<br />

Georg Pencz<br />

Pintor e gravador nascido em Nuremberg por volta de 1500<br />

e falecido em Breslau em 1550. Depois de aprender pintura<br />

e gravura com Albrecht Dürer, seguiu para a Itália, a fim de<br />

estu<strong>da</strong>r a obra de Raphael. Gravou muitas estampas sob a<br />

direção de Raimondi, cuja maneira de trabalhar soube imitar<br />

com suma fideli<strong>da</strong>de.<br />

Heinrich Aldegrever<br />

Ourives, pintor e gravador nascido em Paderborn por volta<br />

de 1500. Não se sabe ao certo a <strong>da</strong>ta de seu falecimento, ocorrido<br />

entre 1556 e 1561. Estudou pintura e gravura <strong>da</strong> escola de<br />

Albrecht Dürer. Era outro dos “Pequenos <strong>Mestres</strong>” do grupo<br />

de artista alemães e se tornou luterano. Como pintor, imitou<br />

a maneira do mestre. Nos últimos anos de vi<strong>da</strong>, dedicouse<br />

inteiramente à gravura. Fez cerca de 2 0 gravuras, em sua<br />

maioria criações próprias. Aquelas diminutas, de desenho um<br />

tanto gótico, foram grava<strong>da</strong>s com um buril preciso e delicado.<br />

Realizou também diversas gravuras ornamentais, tendo seu<br />

estilo se aproximado tanto do de Albrecht Dürer, que algumas<br />

vezes era chamado de Albert de Westphalia.<br />

Virgil Solis<br />

Nascido em Nuremberg em 1514, foi desenhista, iluminador,<br />

pintor e gravador a buril e à água-forte. Fez parte do grupo<br />

dos “Pequenos <strong>Mestres</strong>” <strong>da</strong> Alemanha. Sua maneira correta<br />

e delica<strong>da</strong> se aproxima <strong>da</strong> maneira de Hans Sebald Beham, e<br />

tanto suas estampas segundo Raphael, Lucas van Leyden<br />

e Aldegrever quanto suas criações próprias são hoje muito<br />

raras. Faleceu em sua ci<strong>da</strong>de natal em 1562.<br />

heinrich aldegrever [c.1501/1502–c. 1556/1561]<br />

O mestre de cerimônias, 1538<br />

[<strong>da</strong> série “Os grandes festejadores em bo<strong>da</strong>s”]<br />

buril, 11,9 x 8,1 cm<br />

40 41<br />

heinrich aldegrever [c.1501/1502–c. 1556/1561]<br />

Um casal <strong>da</strong>nça, 1538<br />

[<strong>da</strong> série “Os grandes festejadores em bo<strong>da</strong>s”]<br />

buril, 11,9 x 8,1 cm


Coleção Holandesa<br />

Lucas van Leyden [1494–1533]<br />

Cornelis Cort [c.1533/1536–1578]<br />

Zacharias Dolendo [1561–c.1600]<br />

Jan Saenre<strong>da</strong>m [c.1565/1570–1607]<br />

Jan Muller [1570–1625]<br />

Jacob Matham [1571–1631]<br />

Willem Jacobsz Delff [1580–1638]<br />

Nicolas Ennes Visscher [ativo em 1580]<br />

Hendrik Goltzius [1558–1617]<br />

Rembrandt Harmenszoon van Rijn [1606–1669]<br />

Lucas van Leyden<br />

Nascido em Leiden em 14 4, foi pintor sobre vidro, a têmpera<br />

e a óleo, bem como gravador a buril e à água-forte. Aos<br />

nove anos, já gravava, tendo aprendido a manejar o buril com<br />

um ourives e a gravura à água-forte com um armeiro. Abria<br />

suas chapas com talho fino e delicado, que, portanto, não<br />

resistiam a muitas tiragens. Esmerado e perfeccionista, Lucas<br />

van Leyden inutilizava to<strong>da</strong>s as chapas que apresentassem o<br />

mínimo defeito ou mancha, razão pela qual suas estampas são<br />

raríssimas. Gozava de grande reputação e Giorgio Vasari o<br />

considerava acima de Albrecht Dürer. Hoje, é universalmente<br />

considerado uma <strong>da</strong>s maiores figuras <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s artes gráficas.<br />

Suas gravuras nos fornecem importantes registros dos<br />

hábitos e costumes dos Países Baixos, como se pode atestar<br />

nas gravuras O dentista e Os músicos. Ain<strong>da</strong> em vi<strong>da</strong>, suas obras<br />

alcançaram preços elevados, tornando-se, com o passar do<br />

tempo, ca<strong>da</strong> vez mais caras. Nas xilogravuras, as chapas de<br />

madeiras eram desenha<strong>da</strong>s pelo artista, mas abertas por um<br />

hábil gravador. Morreu em 1533, aos 33 anos, em sua ci<strong>da</strong>de<br />

natal.<br />

Cornelis Cort<br />

Desenhista e gravador a buril, nasceu em Horn, na Holan<strong>da</strong>,<br />

por volta de 1533. Já era tido como um grande gravador<br />

quando, em Veneza, conheceu Ticiano, do qual gravou as mais<br />

belas obras. Viveu em Roma, onde abriu uma escola de gravuras,<br />

<strong>da</strong> qual saiu o célebre Agostino Carracci. Suas gravuras<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s em Roma são muito aprecia<strong>da</strong>s pela correção<br />

do desenho, a maneira espirituosa e o bom gosto com que<br />

foram abertas. Faleceu em Roma em 1578.<br />

lucas van leyden [1494–1533]<br />

O dentista, 1523<br />

buril, 12,9 x 8,6 cm<br />

43<br />

lucas van leyden [1494–1533]<br />

Os músicos, 1524<br />

buril, 10,6 x 7,5 cm


lucas van leyden [1494–1533]<br />

Retrato de um moço, 1519<br />

buril, 18,4 x 12,2 cm<br />

Lucas van Leyden realizava constantemente experiências para diferenciar superfícies<br />

e materiais. Nesta gravura, as longas linhas paralelas destacam belamente as vestes<br />

e o chapéu do jovem. A uniformi<strong>da</strong>de do fundo aumenta a riqueza de seus trajes.<br />

Embora não haja nenhuma evidência direta, alguns comentaristas acreditam<br />

tratar-se de um autorretrato. Seu tema é, evidentemente, uma meditação sobre a<br />

morte. O jovem homem aponta para o crânio, um lembrete <strong>da</strong> natureza transitória<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Suas vestes elegantes e seu chapéu sublinham também o tema vanitas:<br />

a alusão à insignificância <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> terrena e à efemeri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vai<strong>da</strong>de.<br />

Zacharias Dolendo<br />

Desenhista e gravador a buril nascido em Leiden, em 1561. Foi<br />

discípulo de Jacob de Gheyn, cuja maneira imitou, burilando<br />

suas chapas com firmeza e proprie<strong>da</strong>de de execução.<br />

Jan Saenre<strong>da</strong>m<br />

Natural de Leiden, tornou-se desenhista, pintor e gravador<br />

a buril. Aprendeu pintura com Jacob de Gheyn e a arte de<br />

gravar com Hendrik Goltzius, a quem tomou como modelo<br />

e imitou com tal perfeição, que algumas de suas gravuras<br />

podem ser confundi<strong>da</strong>s com as de seu mestre. Gravou com<br />

buril firme, fácil e largo. Em suas composições, o desenho é<br />

mais correto e menos amaneirado do que naquelas que abriu<br />

segundo Goltzius e outros mestres.<br />

Jan Muller<br />

Gravador a buril, nasceu, segundo alguns, em Amsterdã. Pouco<br />

se sabe sobre a sua vi<strong>da</strong>. Foi discípulo de Goltzius. Para<br />

Levêque, foi o gravador dotado de maior destreza no manejo<br />

do buril e aquele que empregou o menor número de talhos<br />

para representar objetos. Com imensa habili<strong>da</strong>de, obriga o<br />

mesmo talho a servir-lhe de primeiro e de segundo para compor<br />

uma figura inteira. Raramente, faz um terceiro talho, e<br />

todos os seus planos, apesar <strong>da</strong> economia, são artisticamente<br />

variados no trabalho e no tom. Segundo Sprangers, era um<br />

exímio desenhista, porém amaneirado nas extremi<strong>da</strong>des. Realizou<br />

88 gravuras.<br />

willem jacobsz delff [1580–1638]<br />

Retrato de João Maurício, conde de Nassau, s/d<br />

buril, 43,5 x 30,5 cm<br />

44 45<br />

Jacob Matham<br />

Desenhista e gravador a buril, nasceu em Harlem em 1571.<br />

Hendrik Goltzius, seu padrasto, ensinou-lhe o desenho e a<br />

gravura, tornando-o um hábil artista. Passou alguns anos na<br />

Itália, abrindo muitas estampas de grandes pintores italianos.<br />

Manejava o buril com grande desembaraço. Faleceu em sua<br />

ci<strong>da</strong>de natal, em 1631.<br />

Willem Jacobsz Delff<br />

Pintor e gravador a buril nascido em 1580 em Delft, onde<br />

faleceu em 1638. Suas gravuras são desenha<strong>da</strong>s com correção e<br />

abertas com buril fácil, nítido e expressivo.<br />

Nicolas Ennes Visscher<br />

Desenhista, gravador à água-forte, editor e mercador de estampas,<br />

viveu em Amsterdã por volta de 1580. Produziu e<br />

executou, de forma magistral, várias águas-fortes de figuras,<br />

animais e vistas, bem como diversos retratos.<br />

Hendrik Goltzius<br />

Pintor, desenhista e gravador a buril, nasceu em Mulbrecht,<br />

no Ducado de Juliers, em 1558, falecendo em Harlem em 1617.<br />

Suas gravuras são corretamente desenha<strong>da</strong>s e grava<strong>da</strong>s a buril<br />

ora largo (em que os traços se recortam, formando ângulos),<br />

ora fino (em que o artista trabalha com traços finos e paralelos),<br />

à maneira de Dürer e de Lucas van Leyden. Levou a técnica<br />

do buril à perfeição, tendo formado discípulos notáveis,<br />

como Jacob Matham, Jan Muller, Jan Saenre<strong>da</strong>m e Swanevelt,<br />

que se inspiraram em sua maneira de gravar.


nicolas ennes visscher [ativo em c.1580)<br />

Um rapaz tirando passarinhos de um ninho, s/d<br />

buril, 20,1 x 14,4 cm<br />

jan muller [1570–1625]<br />

O repouso no Egito, 1593<br />

buril, 23 x 20,2 cm<br />

46 47<br />

hendrik goltzius [1558–1617]<br />

A Sagra<strong>da</strong> Família, 1580<br />

[segundo Bartolomeu Spranger]<br />

buril, 28,2 x 21 cm


Rembrandt Harmenszoon van Rijn<br />

Nasceu em 15 de julho de 1606 em Leiden. Filho de um moleiro,<br />

é considerado o maior artista holandês, distinguindose<br />

não apenas na pintura, como também no desenho e nas<br />

gravuras em água-forte. Foi como retratista que consolidou<br />

sua fama e enriqueceu. Quando menino, frequentou a Escola<br />

Latina, tendo sido matriculado na Universi<strong>da</strong>de de Leiden<br />

aos 14 anos de i<strong>da</strong>de. Tornou-se aprendiz do pintor Jacob van<br />

Swanenburgh, com quem passou três anos. Depois de breve,<br />

mas importante aprendizado de seis meses com Pieter Lastman,<br />

em Amesterdã, famoso pintor com quem Rembrandt<br />

aprendeu a técnica do claro-escuro, abriu, com o colega Jan<br />

Lievens, estúdio em Leiden em 1624 ou 1625. Em 1627, passou<br />

a aceitar alunos. Mudou-se para Amsterdã em 1631, casandose<br />

três anos depois com Saskia van Uylenburgh, prima de um<br />

próspero negociante de arte.<br />

Em contraste com sua bem-sucedi<strong>da</strong> carreira pública, a<br />

vi<strong>da</strong> familiar de Rembrandt foi marca<strong>da</strong> pelo infortúnio. Entre<br />

1635 e 1641, Saskia deu à luz a quatro filhos, mas apenas o<br />

último, Titus, sobreviveu. Saskia faleceu em 1642 aos trinta<br />

anos. Hendrickje Stoffels, contrata<strong>da</strong> como emprega<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

casa, se tornaria esposa do artista e modelo para muitos dos<br />

seus quadros. Apesar do sucesso financeiro como artista, professor<br />

e comerciante de arte, a propensão de Rembrandt para<br />

a vi<strong>da</strong> ostentatória forçou-o a declarar falência em 1656. Sua<br />

vi<strong>da</strong> pessoal continuou a ser marca<strong>da</strong> pela tristeza. Hendrickje<br />

morreu em 1663 e seu filho Tito em 1668, com apenas 27<br />

anos de i<strong>da</strong>de. Onze meses depois, no dia 4 de outubro de<br />

166 , Rembrandt morreu em Amsterdã, deixando uma tela<br />

inacaba<strong>da</strong> e o modesto quarto onde vivia, composto de uma<br />

cama simples, uma cadeira, um espelho e uma mesa.<br />

Rembrandt é considerado um dos grandes gênios <strong>da</strong> pintura<br />

do Barroco e um dos mais importantes gravadores de<br />

todos os tempos. Realizou aproxima<strong>da</strong>mente 2 0 gravuras,<br />

em que se destacam o domínio técnico <strong>da</strong> água-forte, a originali<strong>da</strong>de,<br />

o experimentalismo e a expressivi<strong>da</strong>de que lhe caracterizam.<br />

Nas gravuras, evidencia-se um estilo espontâneo e<br />

livre, no qual se observa a utilização de traços fluidos em seus<br />

motivos, que se assemelham a esboços. O artista é o grande<br />

mestre do chiaroscuro e criou em muitas de suas gravuras efeitos<br />

dramáticos de luz e sombra. Em seu experimentalismo, vê-se<br />

que modificou e retrabalhou as matrizes com a intenção de<br />

obter a riqueza de efeitos que desejava.<br />

rembrandt hermenszoon van rijn [1606–1669]<br />

O triunfo de Mardoqueu, c. 1641<br />

água-forte e ponta-seca, 17,5 x 21,5 cm<br />

48 4


51<br />

rembrandt hermenszoon<br />

van rijn [1606–1669]<br />

Homem velho com barba longa<br />

e manga <strong>da</strong> camisa branca,<br />

1628–1633<br />

água-forte, 7,5 x 6,4 cm<br />

Autorretrato com Saskia, 1636<br />

água-forte, 10,5 x 9 cm<br />

A leitora, 1634<br />

água-forte, 13,1 x 10,9 cm<br />

O camponês e sua família, c.1652<br />

água-forte, 10,8 x 9,2 cm<br />

página à esquer<strong>da</strong><br />

A anunciação aos pastores, 1634<br />

água-forte, buril e ponta-seca<br />

26,1 x 22 cm


embrandt hermenszoon<br />

van rijn [1606–1669]<br />

O ministro Jan Cornelis Sylvius, 1633<br />

água-forte, 15,5 x 14,2 cm<br />

rembrandt hermenszoon van rijn [1606–1669]<br />

Autorretrato com boina e cachecol, 1633<br />

água-forte, 13,7 x 10,7 cm<br />

52 53<br />

rembrandt hermenszoon van rijn [1606–1669]<br />

Três cabeças de mulheres, uma dormindo, 1637<br />

água-forte, 16 x 11 cm


54 55


Coleção Flamenga<br />

Jacob Bos [1549–1567]<br />

Ioan Sadeler [1550–1600]<br />

Raphael Sadeler, o Velho [1560/1561–1628/1632]<br />

Cornelius Galle, Sênior [1570/1576–1641/1650]<br />

Egidius Sadeler [1570–1629]<br />

Raphael Sadeler, o Jovem [1584–1632]<br />

Antoon Van Dyck [1599–1641]<br />

Paulus Pontius [1603–1658]<br />

Peter de Jode, Junior [1604–1674]<br />

Jacob Bos<br />

Desenhista e gravador a buril, pouco se conhece sobre a sua<br />

vi<strong>da</strong>. Sabe-se que trabalhou basicamente para Lafréri e outros<br />

editores em Roma, tendo provavelmente aprendido a gravar<br />

com algum aluno de Raimondi.<br />

Ioan Sadeler (ou Johann, ou Jean, Jans ou Hans)<br />

Nascido em Bruxelas numa célebre família de gravadores,<br />

morreu provavelmente em Veneza em 1600. Desenhista e gravador<br />

a buril desde os vinte anos de i<strong>da</strong>de, percorreu muitas<br />

ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Europa para aprimorar a sua arte. Sua maneira de<br />

gravar não foi sempre a mesma, tendo passado a usar um buril<br />

mais largo depois de viagem à Itália. Interessava-se por temas<br />

históricos, retratos e paisagens.<br />

Raphael Sadeler, o Velho ou Sênior<br />

Desenhista e gravador a buril, nasceu por volta de 1560 em<br />

Bruxelas e morreu entre 1628 e 1632. Teve como mestre e colaborador<br />

seu irmão Ioan Sadeler. Representava muito bem o<br />

corpo humano, cujas extremi<strong>da</strong>des figurava com muito cui<strong>da</strong>do<br />

e precisão. Suas boas gravuras são burila<strong>da</strong>s com nitidez<br />

e sem dureza. Gravou muito segundo pinturas dos mestres<br />

alemães.<br />

Cornelius Galle, Sênior ou Elder<br />

Desenhista, gravador a buril e mercador de estampas, nasceu<br />

na Antuérpia por volta de 1570, morrendo na mesma ci<strong>da</strong>de<br />

em aproxima<strong>da</strong>mente 1641. Após aprender a gravar com seu<br />

pai, Philippe Galle, aprimorou seus conhecimentos em Roma,<br />

jacob bos [1549–1567]<br />

A velha com pretensão à moci<strong>da</strong>de, s/d<br />

[segundo Sofonisba Anguissola]<br />

água-forte, 33,7 x 42,2 cm<br />

57


notando-se mu<strong>da</strong>nças em seu estilo. Até então, havia certa<br />

dureza em seu modo de gravar; depois, o desenho se tornou<br />

correto e o buril passou a ser manejado com liber<strong>da</strong>de e bom<br />

gosto.<br />

Egidius Sadeler ou Aegidius, Egidius e Gillis<br />

Pintor, desenhista e gravador a buril e à ponta-seca. Nasceu<br />

na Antuérpia em 1570 e morreu em Praga em 162 . Sobrinho<br />

de Ioan e Raphael Sadeler, Sênior, que foram seus mestres.<br />

Em geral, seu desenho é correto, tendo gravado segundo composições<br />

próprias e de outros mestres, com buril ora fino, à maneira<br />

de Dürer, ora largo, à maneira de Goltzius e Jan Muller.<br />

Seus retratos são muito afamados.<br />

Raphael Sadeler, o Jovem<br />

Nasceu na Antuérpia em 1584. Filho de Raphael Sadeler,<br />

Sênior, foi treinado como gravador por seu pai, tendo trabalhado<br />

com ele em Munique entre 1604 e 1632, quando veio a<br />

falecer.<br />

Antoon Van Dyck<br />

Pintor e gravador a buril e à água-forte, nascido na Antuérpia<br />

em 15 . Aos 11 anos de i<strong>da</strong>de, foi enviado para a escola do<br />

pintor Henrique van Balen. Em 1615, entrou para a oficina de<br />

Rubens, na qual trabalhou por três anos, aju<strong>da</strong>ndo o mestre a<br />

terminar suas obras e realizando cópias de seus quadros. Foi<br />

reconhecido mestre <strong>da</strong> confraria de S. Lucas. Em 1626, seguiu<br />

para a Itália, onde visitou Veneza, Gênova, Roma, Florença<br />

e Palermo. Estudou as obras de Giorgione, de Paulo Vero-<br />

peter de jode, junior [1603–1674]<br />

Henricvs Liberti: Groeningensis Cathed. Organista<br />

[Retrato de Henrique Liberti], 1640–1650<br />

[segundo Antoon Van Dyck]<br />

buril, 26,5 x 19,7 cm<br />

paulus pontius [1603–1658]<br />

Aubertus Miraeus Bruxellensis...<br />

[Retrato de Alberto Miraeus], 1630–1640<br />

[segundo Antoon Van Dyck]<br />

buril, 24,1 X 16,7 cm<br />

58 5<br />

nense e de Ticiano. Em to<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des onde esteve, pintou<br />

quadros e retratos. Viveu e trabalhou predominantemente na<br />

Antuérpia, onde concebeu o projeto de pintar retratos dos<br />

personagens ilustres de seu tempo. Doze chapas dessa coleção,<br />

dita Cem retratos, foram aberta pelo artista e as demais pelos<br />

mais célebres gravadores flamengos de então. Em 1632, mudou-se<br />

para a Inglaterra, onde pintou diversos retratos do rei,<br />

<strong>da</strong> Família Real e de membros <strong>da</strong> corte. Faleceu em Blackfrias<br />

em 1641. Nenhum artista o excedeu no gênero do retrato.<br />

Paulus Pontius<br />

Desenhista e gravador a buril, nasceu na Antuérpia em 1603.<br />

Rubens dedicava-lhe particular amizade e comprazia-se em<br />

dirigir-lhe o buril, fazendo-o gravar sob sua inspeção. Assim,<br />

o desenho e a expressão de suas figuras e caracteres é correto,<br />

sua execução do claro-escuro, bela, e seu buril, perfeito. Seus<br />

retratos são admirados pela expressão que soube empregar<br />

nas cabeças. Faleceu em 1658.<br />

Peter de Jode, Junior<br />

Nascido na Antuérpia em 1604, aprendeu a gravar com seu<br />

pai. Em muitas de suas estampas, igualou-se aos melhores gravadores<br />

de seu tempo. As gravuras que realizou para a coleção<br />

dos Cem retratos, de Antoon Van Dyck, são irrepreensíveis. Faleceu<br />

em 1674.


aphael sadeler, o velho<br />

[1560/1561–1628/1632]<br />

Honos, 1591<br />

[<strong>da</strong> série “As quatro i<strong>da</strong>des do homem”]<br />

buril, 22,2 x 25,5 cm<br />

ioan sadeler [1550-1600]<br />

O opulento guloso à mesa e<br />

o mendigo Lázaro, c. 1598<br />

[<strong>da</strong> série “As cenas de cozinha”, segundo<br />

Jacob <strong>da</strong> Ponte, dito Bassano, o Velho]<br />

buril, 23,3 x 30 cm<br />

60 61<br />

antoon van dyck<br />

[1599–1641]<br />

Ticiano e sua amante, s/d<br />

água-forte e buril, 30 x 22,6 cm


Coleção Francesa<br />

Nöel Garnier [c.1470/1475–post.1544]<br />

François Perrier [1590–1650]<br />

Jacques Callot [1592–1635]<br />

Claude Mellan [1598–1688]<br />

Egidio Rousselet [1614–1686]<br />

Gérard Audran [1630–1703]<br />

Etienne Picart, dito o Romano [1631–1721]<br />

Gérard Edelinck [1640–1707]<br />

Petrus Drevet [1663–1738]<br />

Charles Dupuis [1685–1742]<br />

Henri Simon Thomassin [1687–1741]<br />

françois perrier [1590–1650]<br />

Minerva: cena de batalha, 1645<br />

[In: Icones et segmenta illustrium e marmore tabularum quae Romae...]<br />

[segundo Sofonisba Anguissola]<br />

água-forte, 25,3 x 38 cm<br />

63


jacques callot [1592–1635]<br />

Les misères et les mal-heures<br />

de la guerre, 1633<br />

Frontispício<br />

O saque [pr. 5]<br />

página à direita,<br />

O alistamento <strong>da</strong> tropa [pr. 2]<br />

A batalha [pr. 3]<br />

O suplício <strong>da</strong> Polé [pr. 10]<br />

O suplício <strong>da</strong> forca [pr. 11]<br />

A fogueira [pr. 13]<br />

O suplício <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> [pr. 14]<br />

água-forte, 10 x 20 cm<br />

64 65


claude mellan [1598–1688]<br />

A Santa Verônica de Jesus Cristo, 1649<br />

buril, 43 x 31,4 cm<br />

A Santa Verônica é muito afama<strong>da</strong> pela maneira singular com que foi executa<strong>da</strong><br />

num só talho gigante e circular, que começa na ponta do nariz de Jesus Cristo.<br />

gérard audran (1630–1703)<br />

Aenée sauvant son pére de lémbrazement de Troye, s/d<br />

[segundo Domingos Zampieri, dito o Domenichino]<br />

buril, 53 x 39 cm<br />

66 67


petrus drevet (1663–1738)<br />

Hyacinthus Rigaud Eques in Regis..., 1701<br />

[segundo Hyacinthe Rigaud]<br />

água-forte, 62,1 x 45,5 cm<br />

gérard edelinck (1640–1707)<br />

Albert Dürer Gur, s/d<br />

buril, 31,2 x 20 cm<br />

68 6<br />

étienne picard [1631–1721]<br />

Santa Cecília cantando os louvores de Deus, s/d<br />

[segundo Domingos Zampieri, dito o Domenichino]<br />

água-forte e buril, 46,5 x 29 cm


Coleção Inglesa<br />

William Hogarth [1697–1764]<br />

Peter Simon [c.1750–1810]<br />

Samuel Middiman [1750–1831]<br />

Benjamin Smith [1754–1833]<br />

John Ogborne [1755–1837]<br />

Robert Thew [1758–1802]<br />

Charles Gauthier Playter [c.1786–1809]<br />

william hogarth [1697–1764]<br />

The Bench, 1758<br />

água-forte e buril, 30,3 x 20,9 cm<br />

William Hogarth<br />

Hogarth desenhista, pintor e gravador a buril e à água-forte,<br />

nasceu em Londres em 16 7. Aprendeu o ofício de ourives<br />

e logo entrou para a Academia de St. Martin’s Lane, a fim<br />

de estu<strong>da</strong>r desenho ao natural. No início de sua carreira,<br />

ganhava o estritamente necessário para viver, abrindo em<br />

metal brasões e endereços para as chapas <strong>da</strong>s portas dos<br />

negociantes, e desenhando e gravando cartuchos e rótulos.<br />

Depois, passou a gravar para livreiros, segundo os próprios<br />

desenhos. Frequentou a oficina de pintura de Jacob Thornill,<br />

pintor do Rei, a quem criticava pela maneira de pintar.<br />

Acabou por casar-se clandestinamente com a filha de seu<br />

mestre em 1730. A esse tempo, dedicava-se à pintura de retratos.<br />

Reproduzia na tela os seus modelos com absoluto<br />

rigor, sem omitir, nem corrigir nenhum detalhe do aspecto<br />

de seus retratados, o que o fez perder clientela. Em suas próprias<br />

palavras: “Estou resolvido a compor comédias na tela,<br />

a pintar não assuntos clássicos, mas retratos burgueses; não<br />

pintarei mais heróis imaginários. Serei útil”. Em nenhum<br />

outro país, a caricatura teve tanta liber<strong>da</strong>de, e Hogarth<br />

é tipicamente inglês na natureza didática de suas sátiras.<br />

70 71<br />

Dedicou-se a retratar os defeitos e vícios do seu tempo: tudo<br />

o que lhe parecia ridículo ou repreensível foi assunto de suas<br />

composições. Realizou 260 gravuras, algumas inteiramente<br />

grava<strong>da</strong>s por ele e outras trabalha<strong>da</strong>s em conjunto com outros<br />

artistas sob sua direção. Faleceu aos 67 anos na vila de<br />

Chiswick, perto de Londres.<br />

Mesmo Hogarth não tendo sido um exímio técnico<br />

na arte de gravar, permanece único e especial no que concerne<br />

ao grande espírito crítico em suas sátiras de cunho<br />

político-social e de crítica aos costumes, como podemos<br />

observar na gravura à água-forte e a buril The Brench: quatro<br />

figuras caricatura<strong>da</strong>s e burlescas, a meio-corpo, senta<strong>da</strong>s,<br />

com as clássicas cabeleiras dos juízes ingleses, vesti<strong>da</strong>s de<br />

toga de magistrado e presidindo a sessão do tribunal, à<br />

qual, como se vê, não prestam a menor atenção. São eles:<br />

Sir John Willes, Lord Chief Justice; Hon. Wn. Noel; Hon.<br />

Mr. Bathurst; e Sir Edward Clive. Já na gravura a buril<br />

Southwark Fair, Hogarth nos mostra os tipos de entretenimento<br />

que eram oferecidos para “pessoas de to<strong>da</strong>s as distinções<br />

e ambos os sexos”.


william hogarth [1697–1764]<br />

Southwark Fair, 1733<br />

buril, 44 x 54,5 cm<br />

Peter Simon<br />

Nasceu em Londres por volta de 1750 e faleceu na mesma ci<strong>da</strong>de<br />

em 1810. Estudou a técnica de pontilhado com Francesco Bartolozzi.<br />

Em 17 0, foi considerado um dos maiores gravadores<br />

<strong>da</strong> Inglaterra. Gravou segundo Gainsborough, Reynolds, Fuseli<br />

e Wheatley, tendo tido grande capaci<strong>da</strong>de de capturar fortes<br />

valores tonais e contrastes. John Boydell, uma <strong>da</strong>s mais notáveis<br />

personali<strong>da</strong>des do século xviii na Inglaterra, encarregou-o de<br />

produzir gravuras para The Shakespeare Gallery e para a série de<br />

poemas de John Milton conheci<strong>da</strong> como The Milton Set.<br />

Samuel Middiman<br />

Nasceu em Londres em 1750 e faleceu na mesma ci<strong>da</strong>de em 1831.<br />

Gravador altamente considerado, estudou técnica de gravura com<br />

William Byrne, finalizando seus estudos com Bartolozzi e William<br />

Wollett. Gravou segundo Joseph Wright, Gainsborough, Hearne,<br />

Berchem e Smirke, entre outros. Foi muito admirado também por<br />

suas gravuras com temas topográficos, publica<strong>da</strong>s em Select Views in<br />

Great Britain (1784–17 2) e em Picturesque Views and Antiquities of Great<br />

Britain (1807–1811). Suas obras foram expostas com frequência no<br />

Spring Gardens e na Free Society and the Royal Academy.<br />

Benjamin Smith<br />

Nascido em 1754, foi um grande gravador do século xviii e do<br />

início do século xix. Estudou a técnica do pontilhado, que permite<br />

a gra<strong>da</strong>ção de tons pelo adensamento de pontos, com Francesco<br />

Bartolozzi em Londres. Durante sua carreira, gravou muitas<br />

estampas segundo Hogarth, Beechey e Rommey. John Boydell<br />

convidou-o para realizar diversas gravuras para a The Shakespeare<br />

Gallery e para The Milton Set. Faleceu em Londres em 1833.<br />

72 73<br />

John Ogborne<br />

Nasceu em Chelmsford 1755 e faleceu em Londres 1837, sendo<br />

considerado um dos maiores gravadores a pontilhado do<br />

século xviii na Inglaterra. Foi aluno de Bartolozzi e gravou<br />

principalmente segundo desenhos de Richard Westall, Kauffmann<br />

Angelica, Smirke Robert e Stothard Thomas. Participou<br />

<strong>da</strong> The Shakespeare Gallery e do The Milton Set. No início do<br />

século xix, voltou-se com sucesso para a gravura à água-forte<br />

de pontos de vista topográficos. Em algumas de suas gravuras,<br />

era aju<strong>da</strong>do por sua esposa Mary Ogborne.<br />

Robert Thew<br />

Nascido em Partington em 1758 e falecido em Stevenage, 1802,<br />

foi um dos melhores gravadores a pontilhado do final do século<br />

xviii. Sol<strong>da</strong>do, serviu ao exército até 1783. Quase completamente<br />

autodi<strong>da</strong>ta, gravou retratos de muitos estadistas<br />

importantes, incluindo o rei George iii e a rainha Charlotte.<br />

Também ocupou o importante cargo de gravador do príncipe<br />

de Gales. Gravou 17 imagens para a The Shakespeare Gallery, de<br />

Boydell, incluindo a famosa cena <strong>da</strong>s bruxas de Macbeth e a<br />

cena do fantasma de Hamlet.<br />

Charles Gauthier Playter<br />

Gravador a buril e pontilhado, nasceu por volta de 1786 na Inglaterra,<br />

falecendo em Lewisham em aproxima<strong>da</strong>mente 180 .<br />

Foi contratado para realizar vários projetos segundo artistas<br />

contemporâneos, como Rigaud e Hamilton. Trabalhou em<br />

diversas pranchas para The Shakespeare Gallery, de John Boydell.


enjamin smith [1754–1833]<br />

The Infant Shakespeare Attended by Nature and the Passions, 1799<br />

[segundo George Romney], The Shakespeare Gallery [J. Boydell]<br />

pontilhado, 50,7 x 64,6 cm<br />

Convi<strong>da</strong>do para conceber a gravura introdutória do conjunto The Shakespeare<br />

Gallery, Smith realizou esta impressionante alegoria, em que vemos o rosto<br />

<strong>da</strong> natureza desven<strong>da</strong>do acima <strong>da</strong> cabeça do pequeno Shakespeare. De ambos os<br />

lados, há figuras <strong>da</strong> alegria e <strong>da</strong> tristeza, ao passo que no agrupamento central se<br />

veem o ódio, o amor e o ciúme à esquer<strong>da</strong>, e a raiva, a inveja e o medo à direita.<br />

samuel middiman [1750–1831]<br />

First Part of King Henry the Fourth, act II, scene II, 1797<br />

[segundo Joseph Farington], The Shakespeare Gallery [J. Boydell]<br />

água-forte e buril, 44,1 x 60 cm<br />

74 75<br />

Nesta gravura, Middiman é muitas vezes comparado ao grande gravador William<br />

Wollett. Na primeira parte de Rei Henrique iv, Middiman emprega a técnica de<br />

gravar conheci<strong>da</strong> como “worm line”, introduzi<strong>da</strong> por Wollett, na qual, basicamente,<br />

constroem-se fortes contrastes tonais pelo emprego de uma infini<strong>da</strong>de de linhas curvas.<br />

Nota-se o alto nível técnico do artista nas variações dramáticas de luz e escuridão.


peter simon [c.1750–1810]<br />

Tempest, act I, scene II, 1797 [segundo Henry Fuseli]<br />

The Shakespeare Gallery [J. Boydell]<br />

pontilhado, 50,7 x 63 cm<br />

robert thew [1758–1802]<br />

King Henry the Eighth, act IV, scene II, 1798<br />

[segundo Richard Westall], The Shakespeare Gallery [J. Boydell]<br />

pontilhado, 44,2 x 59,5 cm<br />

76 77<br />

Em O Rei Henrique viii, Thew utilizou a técnica do pontilhado para criar uma<br />

luz brilhante sobre as figuras centrais do cardeal Wolsey e do abade de Leicester. Trata-se,<br />

com to<strong>da</strong>s as suas finas figuras e gestos, de uma gravura magnificamente realiza<strong>da</strong>.


Coleção Espanhola<br />

José de Ribera [1591–1652]<br />

Manoel Salvador Carmona [1734–1820]<br />

Francisco José Goya y Lucientes [1746–1828]<br />

Joaquín Ballester [1740–1808]<br />

Francisco Muntaner [1743–1805]<br />

Joaquim Frabregat [1748–1807]<br />

Fernando Selma [c.1752–1810]<br />

josé de ribera [1591–1652]<br />

São jerônimo, s/d<br />

água-forte, 31 x 23,2 cm<br />

7<br />

manoel salvador carmona [1734–1820]<br />

Sancta Virgo, 1757<br />

água-forte, 47,1 x 31,3 cm


francisco josé goya y lucientes [1746–1828]<br />

Disparate feminino [<strong>da</strong> série “Os provérbios”], 1815 e 1823<br />

água-tinta e água-forte com retoques<br />

de ponta-seca e brunidor, 32,2 x 49,9 cm<br />

80 81


francisco josé goya y lucientes [1746–1828]<br />

Disparate de miedo, Disparate ridículo, Disparate matrimonial e Modo de voar<br />

[<strong>da</strong> série “Os provérbios”], 1815 e 1823<br />

água-tinta e água-forte com retoques<br />

de ponta-seca e brunidor, 32,2 x 49,9 cm<br />

82 83<br />

fernando selma [c.1752–1810]<br />

Herodias, 1774<br />

[segundo Guido Reni]<br />

buril, 30 x 21,6 cm


Coleção Portuguesa<br />

Francisco Vieira de Matos [1699–1783]<br />

Joaquim Manuel <strong>da</strong> Rocha [1727–1786]<br />

Antonio Joaquim Padrão [1731–1771]<br />

Manuel <strong>da</strong> Silva Godinho [c.1751–c.1809]<br />

Gregório Francisco de Queiroz [1769–1845]<br />

João Caetano Rivara [c.1770–1824]<br />

Francisco Vieira de Matos, dito Vieira Lusitano<br />

Nasceu em Lisboa em 16 . Pintor e gravador, foi discípulo de<br />

Lutti e Trevisani em Roma, bem como membro <strong>da</strong> Academia de<br />

S. Lucas em Roma, cavaleiro professor <strong>da</strong> Ordem de Santiago <strong>da</strong><br />

Espa<strong>da</strong>, pintor histórico <strong>da</strong> Casa Real Portuguesa e ilustrador de<br />

múltiplas obras. Depois de ter estu<strong>da</strong>do em Roma e de complexa<br />

história amorosa, acabou por falecer no Convento do Beato Antônio,<br />

em Lisboa, em 1783. Joaquim Manuel <strong>da</strong> Rocha e Antonio<br />

Joaquim Padrão, entre outros, foram seus discípulos.<br />

Joaquim Manuel <strong>da</strong> Rocha<br />

Pintor e gravador à água-forte, nasceu em Lisboa em 1730,<br />

falecendo na mesma ci<strong>da</strong>de em 1786. Foi aluno de Vieira Lusitano,<br />

de quem copiou vários desenhos. Entrou para irman<strong>da</strong>de<br />

de São Lucas em 1752. Na arte de gravar, seu forte era o<br />

claro-escuro.<br />

Antonio Joaquim Padrão<br />

Pintor e gravador à agua-forte, nascido em Lisboa em 1731.<br />

Fez os esboços que, após seguirem para França, serviram de<br />

base para o grande retrato do marquês de Pombal expulsando<br />

os jesuítas. Abria muito bem à água-forte. Faleceu em Lisboa<br />

em 1771.<br />

Manuel <strong>da</strong> Silva Godinho<br />

Gravador à água-forte, nasceu em Lisboa por volta de 1751.<br />

Foi um prolífero gravador do final do século xviii estimado<br />

por seus temas religiosos. A maioria de suas gravuras possui<br />

bom desenho. Faleceu em aproxima<strong>da</strong>mente 180 .<br />

francisco vieira de matos [1699–1793]<br />

Alegoria ao escudo português, 1728<br />

água-forte e buril, 28,2 x 19,6 cm<br />

85<br />

gregório francisco de queiroz [1768–1845]<br />

Estampa representando N. Senhora, tendo ao colo<br />

o menino Jesus, com três anjos à volta e, ao lado, S. José , 1800<br />

buril, 27,9 x 22,6 cm


joão caetano rivara [c.1770–1824]<br />

Iohannes Brasiliae Princeps Port. Regens, 1800<br />

buril e pontilhado, 23,5 x 16 cm<br />

joão caetano rivara [c.1770–1824]<br />

Maria I Port. & Alg. Regina Fidelissima, 1800<br />

buril e pontilhado, 23,5 x 15,5 cm<br />

Gregório Francisco de Queiroz<br />

Nascido em Lisboa em 1768, foi enviado pelo governo português<br />

para Londres, onde estudou com Francesco Bartolozzi,<br />

de quem se tornaria aju<strong>da</strong>nte após a reativação <strong>da</strong> Aula de<br />

<strong>Gravura</strong> em Lisboa. Sua obra grava<strong>da</strong> é vasta e diversifica<strong>da</strong>,<br />

e nela se destacam as notáveis gravuras que abriu a partir dos<br />

quadros de Domingos Sequeira. Faleceu em Lisboa em 1845.<br />

João Caetano Rivara<br />

Gravador a buril e a pontilhado. Nasceu por volta de 1770<br />

em Portugal. Mudou-se para Roma em 1788, pensionado pela<br />

Intendência, onde foi aluno de Labruzzi e, depois, de Volpato<br />

na escola de Pedro Vitali. Em Londres, estudou com Bartolozzi.<br />

Regressou a Lisboa em 1803, tornando-se professor de<br />

gravura do Jardim Botânico. Diz-se que trabalhou no Rio de<br />

Janeiro, na Imprensa Régia. Morreu em 1824.<br />

86 87<br />

joão caetano rivara [c.1770–1824]<br />

A Sereníssima Senhora D. Carlota Joaquina Princesa do Brasil, s/d<br />

[segundo Andre Del Sarto]<br />

buril, 46,2 x 34,5 cm


Referências bibliográficas<br />

fun<strong>da</strong>ção biblioteca nacional. Anais <strong>da</strong> <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>. Volume x,<br />

Rio de Janeiro, 1882–84.<br />

___. Anais <strong>da</strong> <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>. Volume 104, Rio de Janeiro, 1 87.<br />

fun<strong>da</strong>ção biblioteca nacional & museu de belas artes. Albrecht<br />

Dürer, o apogeu do Renascimento alemão. Mostra Rio <strong>Gravura</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Prefeitura <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro, 1 .<br />

bartsch, A<strong>da</strong>m. Le peintre-graveur. Viena: Imp. V. Degen, 1803. 20 vols.<br />

benezit, Emmanuel. Dictionnaire critique et documentaire des peintres, sculpteurs,<br />

dessinateurs et graveurs de tous les temps et de tous les pays, par un groupe d’ecrivains<br />

specialistes francais et etrangers. Paris: Librairie Grund, 1 76, 10 vols.<br />

bryan, Michael. A biographical and critical dictionary of painters and engravers,<br />

from the revival of the art under Cimabue, and the alleged discovery of engraving<br />

by Finiguerra, to the present times with the ciphers, monograms, and marks, used by<br />

each engraveur. A new edition, revised, enlarged, and continued to the present time,<br />

comprising above one thousand additional memoires, and large accessions to the lists<br />

of pictures and engravings, also new plates of ciphers and monograms, by George<br />

Stanley; Londres: H. G. Bohn, York Street, Convent Garden, 1865.<br />

centro cultural banco do brasil. Rembrandt e a arte <strong>da</strong> gravura. Eva<br />

Ornstein-Van Slooten, Marijke Holtrop, Peter Schatborn. Rio de<br />

Janeiro, 2002.<br />

___. Impressões Originais: a gravura desde o século xv. Pieter Tjabbes, Valeria<br />

Piccoli, Carlos Martins. Rio de Janeiro: 2005<br />

chaves, Luís. Subsídios para a história <strong>da</strong> gravura em Portugal. Coimbra:<br />

[s. n.], 1 27.<br />

hind, Arthur. A History of Engraving and Etching: from the 15 th Century to<br />

the year 1 14. New York: Dover, 1 63.<br />

jeffares, Neil. The Dictionary of Pastellists before 1800. London: Unicorpress,<br />

2006.<br />

le blanc, Charles. Manuel de l’amateur destampes, contenant un dictionnaire<br />

des graveurs de toutes les nations… Un répertoire des estampes don’t les noms<br />

ne sont connus que par des marques figurées…Ouvrage destiné a faire suite au<br />

Manuel du Líbraire el de l’Amateur de Livres par M. J. Ch. Brunet. Paris: F.<br />

Viewweg [1854], 188 . 4 tomes en 7 vols.<br />

bibliothèque nationale de paris. Departament de Estampes. Catalogue<br />

sommaire des gravures et lithographies composant la réserve, rédigé par<br />

François Courboin. Paris: G. Rapilly, 1 00. 2 vols.<br />

soares, Ernesto. História <strong>da</strong> gravura artística em Portugal: os artistas e suas<br />

obras. Lisboa: Livraria Sam-Carlos, 1 71. 2 vols..<br />

viterbo, F. M. de Sousa. A gravura em Portugal. Breves apontamentos para<br />

a sua história. Lisboa: Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos<br />

Portugueses / Tip. <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong> e Papel Selado, 1 0 .<br />

Database e catálogos online<br />

British Library<br />

Bibliothèque Nationale de France<br />

<strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong> de Lisboa<br />

Fun<strong>da</strong>ção <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong> do Rio de Janeiro<br />

Fun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian, <strong>Biblioteca</strong> de Arte<br />

British Museum<br />

Museu do Louvre<br />

Museu do Prado<br />

Rijksmuseum<br />

Observação: As informações do resumo sobre as técnicas de gravura<br />

foram obti<strong>da</strong>s de Notas sobre incisão, de Luiz Cláudio Mubarac [São<br />

Paulo, 1 8], e do catálogo Albrecht Dürer: o apogeu do Renascimento alemão<br />

[Rio de Janeiro: MNBA/Fun<strong>da</strong>ção <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>, 1 ]<br />

Obras expostas<br />

88 8


0 1


2 3


4 5


6 7


presidenta <strong>da</strong> república<br />

Dilma Rousseff<br />

ministra de estado <strong>da</strong> cultura<br />

Ana de Hollan<strong>da</strong><br />

fun<strong>da</strong>ção biblioteca nacional<br />

Presidente – Galeno Amorim<br />

Diretora Executiva – Loana Maia<br />

centro de referência e difusão<br />

Diretora – Mônica Rizzo<br />

coordenadoria de acervo especial<br />

Coordenadora – Rose Mary Amorim<br />

Divisão de Iconografia<br />

Chefe – Léia Pereira <strong>da</strong> Cruz<br />

Equipe – Celso Antônio Monteiro,<br />

Deivid Grassini, Diana dos Santos Ramos,<br />

Eliana Bispo de Santana, Francisca Helena M. Araujo,<br />

Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, Juliana Uenojo,<br />

Késiah Pinheiro Viana, Luciana Muniz,<br />

Mônica Carneiro Alves, Mônica Velloso,<br />

Sonia Alice Monteiro, Tatiane Paiva Cova<br />

centro de processos técnicos<br />

Diretora – Liana Gomes Amadeo<br />

coordenadoria de preservação<br />

Coordenador – Jayme Spinelli<br />

Centro de Conservação e Encadernação – CCE<br />

Chefe – Gilvânia Lima (courrier)<br />

Equipe – Jandira Flaeschen (courrier)<br />

Bianca Man<strong>da</strong>rino, Daniel Caldeira,<br />

Guilherme Pimenta, Heloísa Maria,<br />

Isabella São Martinho, Ísis dos Santos Gonzalez,<br />

Leandro Veiga, Luiz Marcelo Silva,<br />

Rebeca Rodrigues, Rosimeri Rocha <strong>da</strong> Silva.<br />

Laboratório de Restauração – LR<br />

Chefe – Tatiana Ribeiro Christo<br />

Equipe – Adriana Ferreira <strong>da</strong> Silva Amaro,<br />

Thaís Helena de Almei<strong>da</strong> Slaibi,<br />

centro cultural correios<br />

Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro<br />

20010-976, Rio de Janeiro – rj<br />

28 de julho a 18 de setembro de 2011<br />

terça-feira a domingo, <strong>da</strong>s 12h às 19h<br />

exposição<br />

Curadoria<br />

Fernan<strong>da</strong> Terra<br />

Coordenação Geral e Produção Executiva<br />

Roberto Padilla<br />

Projeto Expositivo<br />

Cristiane João<br />

Projeto Gráfico<br />

Contra Capa<br />

Preparação do Espaço e Montagem<br />

LCR Produções<br />

Iluminação<br />

Milton Giglio | Atelier <strong>da</strong> Luz<br />

Assistentes de Produção<br />

Antonio Roberto Vilete de Oliveira<br />

Mariana Cardoso Oscar<br />

Patrick de Oliveira Correa<br />

Assistente de Pesquisa<br />

Priscila Serejo Martins<br />

Fotografia<br />

Photo Síntese<br />

Vinil sobre Parede<br />

Profisinal<br />

Plotagem<br />

B&C Digital<br />

Montagem e Molduras<br />

Metara<br />

r e a l i z a ç ã o a p o i o<br />

p r o j e t o p a t r o c í n i o<br />

<strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong><br />

Trilha Sonora<br />

José Eduardo Sampaio<br />

Assessoria de Imprensa<br />

Meise Halabi<br />

Monitoria e Programa Educacional<br />

Maria do Carmo Azevedo<br />

Transporte<br />

Atlantis Art<br />

Seguro<br />

Corretora Pro-Affinité | ACE Seguradora<br />

Agradecimentos<br />

Equipe <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong><br />

Equipe do Centro Cultural Correios<br />

catálogo<br />

Texto<br />

Fernan<strong>da</strong> Terra<br />

Coordenação Geral<br />

Roberto Padilla<br />

Projeto Gráfico<br />

Contra Capa<br />

Fotografia<br />

Photo Síntese<br />

Impressão<br />

Gráfica Santa Marta

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