Relação entre esporte, saúde, doping e qualidade de vida ...
Relação entre esporte, saúde, doping e qualidade de vida ...
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EIXO TEMÁTICO: ESPORTE<br />
Tema: O corpo no <strong>esporte</strong><br />
Tópico 4 A: <strong>Relação</strong> <strong>entre</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong>, <strong>doping</strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>.<br />
Habilida<strong>de</strong>s: Explicar as relações <strong>entre</strong> o <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong>, <strong>doping</strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>.<br />
A mídia (televisão, internet, jornais, revistas) tem divulgado constantemente a idéia <strong>de</strong> que todas as práticas<br />
esportivas e corporais naturalmente produzem <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>. Entretanto, as recentes e trágicas mortes<br />
<strong>de</strong> jogadores <strong>de</strong> futebol profissional no Brasil (caso Serginho, em 2004) e no exterior; as mortes <strong>de</strong> praticantes <strong>de</strong><br />
fim-<strong>de</strong>-semana; as lesões constantes que amadores e profissionais sofrem; o <strong>doping</strong> esportivo; a violência nas<br />
quadras e campos: os processos <strong>de</strong> exclusão a que são submetidos praticantes menos habilidosos; o preconceito<br />
com a mulher esportista (que tem diminuído, mas ainda não <strong>de</strong>sapareceu), <strong>entre</strong> outros, nos levam a questionar essa<br />
suposta relação natural <strong>entre</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>.<br />
Não <strong>de</strong>sejamos com tal questionamento levantar a hipótese oposta <strong>de</strong> que o <strong>esporte</strong> é naturalmente prejudicial à<br />
<strong>saú<strong>de</strong></strong> e à <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>. Nossa intenção é pon<strong>de</strong>rar que a relação <strong>entre</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> é<br />
mediada por inúmeros fatores circunscritos na prática esportiva. Em outras palavras, o tipo <strong>de</strong> relação <strong>entre</strong> essas<br />
três variáveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, por exemplo, dos princípios e valores que sustentam a prática <strong>de</strong> <strong>esporte</strong>, que po<strong>de</strong> ser<br />
orientada pela cooperação ou pela competição, pela ludicida<strong>de</strong> ou pelo rendimento, pelo prazer ou pela obrigação.<br />
Além da relação <strong>entre</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r intrinsecamente dos condicionantes da prática<br />
esportiva, fatores externos a ela também são fundamentais na <strong>de</strong>terminação do nível <strong>de</strong> <strong>saú<strong>de</strong></strong> e da <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
<strong>vida</strong> das pessoas, como o acesso a condições dignas <strong>de</strong> educação, moradia, trabalho, alimentação, serviços públicos<br />
<strong>de</strong> <strong>saú<strong>de</strong></strong> e saneamento básico. Por melhor que seja o acesso ao <strong>esporte</strong>, na ausência <strong>de</strong>ssas outras variáveis, é<br />
ingênuo acreditar que alguém possa ter boa <strong>saú<strong>de</strong></strong> ou <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>. Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos concluir que a<br />
prática esportiva bem conduzida é apenas um d<strong>entre</strong> vários fatores <strong>de</strong>terminantes da <strong>saú<strong>de</strong></strong> e do bem estar dos<br />
sujeitos, e, por isso, não <strong>de</strong>ve ser negligenciada, nem super valorizada.<br />
O que po<strong>de</strong>mos ensinar sobre a relação <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>? Primeiramente, é essencial conceituar<br />
cada um <strong>de</strong>sses três termos antes <strong>de</strong> falar da relação <strong>entre</strong> eles. O que é <strong>esporte</strong>? O que é <strong>saú<strong>de</strong></strong>? O que é<br />
<strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>? Quando falamos <strong>de</strong> <strong>esporte</strong> nos referimos apenas ao mo<strong>de</strong>lo do alto rendimento ou nos referimos<br />
também às práticas <strong>de</strong> <strong>esporte</strong> educacional e <strong>de</strong> participação, orientadas pela ludicida<strong>de</strong>, pela gratuida<strong>de</strong>, pela<br />
inclusão e pela cooperação? Quando falamos <strong>de</strong> <strong>saú<strong>de</strong></strong> estamos restritos ao conceito <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> doença ou nos<br />
reportamos à <strong>saú<strong>de</strong></strong> orgânica, psicológica e social? Quando falamos <strong>de</strong> <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> queremos apenas<br />
contabilizar os bens adquiridos (carros, tênis, medalhas, etc.) ou pensamos nos processos qualificados <strong>de</strong><br />
socialização, na fruição <strong>de</strong> um lazer não regido pela lógica do consumo (seja esse lazer prático ou contemplativo), na<br />
construção <strong>de</strong> círculos <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> amplos, no acesso a tempos e espaços dignos para a prática e contemplação<br />
esportiva, na construção <strong>de</strong> valores ancorados na solidarieda<strong>de</strong>, na não-discriminação, na co-educação, na<br />
ludicida<strong>de</strong>? É preciso tomar consciência e assumir que <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> irão orientar<br />
nossas práticas e reflexões.<br />
Nesse sentido, é preciso pensar em que a prática esportiva efetivamente contribui para a <strong>saú<strong>de</strong></strong> e a <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
<strong>vida</strong>: a melhoria <strong>de</strong> algumas variáveis fisiológicas (condição cardio-respiratória, resistência muscular, etc); a melhoria<br />
na disposição para as ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s diárias; a ampliação dos círculos <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, conseqüência do envolvimento com<br />
grupos <strong>de</strong> esportistas e o maior contato com a <strong>vida</strong> ao ar livre, seja em clubes, comunida<strong>de</strong>s ou associações <strong>de</strong><br />
bairro; a maior consciência dos direitos não só ao <strong>esporte</strong>, mas ao lazer <strong>de</strong> <strong>qualida<strong>de</strong></strong>; a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção<br />
<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> respeito, autonomia, li<strong>de</strong>rança e solidarieda<strong>de</strong>.<br />
Ao ensinar tais relações, <strong>entre</strong>tanto, é fundamental que explicitemos as condições específicas em que elas po<strong>de</strong>m<br />
ser concretizadas, mostrando que conseqüências in<strong>de</strong>sejáveis e prejudiciais à <strong>saú<strong>de</strong></strong> e à <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> também<br />
são possíveis <strong>de</strong> se observar conforme a organização da prática <strong>de</strong> <strong>esporte</strong>s. Por fim, é interessante analisar como<br />
as políticas públicas têm contribuído (ou não) para potencializar a prática esportiva como um elemento promotor da<br />
<strong>saú<strong>de</strong></strong> e da <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> da população.<br />
Como ensinar as <strong>de</strong>finições e a relação <strong>entre</strong> essas três variáveis? Inicialmente, é pru<strong>de</strong>nte recorrer a diferentes<br />
fontes que apresentem <strong>de</strong>finições distintas do que seja <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>. O confronto <strong>entre</strong><br />
diferentes <strong>de</strong>finições permitirá ao aluno construir um conceito próprio do que venha a ser cada termo.<br />
Posteriormente, po<strong>de</strong>-se recorrer a livros <strong>de</strong> fisiologia do exercício, <strong>de</strong> sociologia do <strong>esporte</strong> ou a artigos <strong>de</strong> jornais e<br />
revistas, adaptando a linguagem à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura e interpretação dos alunos, buscando compreen<strong>de</strong>r as<br />
possíveis conseqüências (benéficas ou prejudiciais) da prática esportiva, bem como procurando enten<strong>de</strong>r como
organizar a prática esportiva <strong>de</strong> modo a potencializar os benefícios e reduzir os riscos. Entrevistas com políticos<br />
ligados ao <strong>esporte</strong> e ao lazer, buscando questioná-los sobre as possíveis contribuições das políticas públicas <strong>de</strong><br />
<strong>esporte</strong> e lazer, no sentido <strong>de</strong> promover a <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong> todos (e não <strong>de</strong> uma minoria <strong>de</strong> atletas <strong>de</strong><br />
alto rendimento), po<strong>de</strong>m ser extremamente educativas.<br />
Esse tópico é excelente para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos interdisciplinares na escola. Além disso, po<strong>de</strong>-se propor<br />
que os alunos planejem, em pequenos grupos, ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s para as aulas <strong>de</strong> forma que a prática esportiva possa<br />
promover a melhoria da <strong>saú<strong>de</strong></strong> e da <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>. Tal planejamento <strong>de</strong> ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve contemplar variáveis<br />
fisiológicas (duração das ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s, intensida<strong>de</strong>, tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, etc), sociais (o sentido e a forma <strong>de</strong><br />
organização das práticas, o tipo <strong>de</strong> relação <strong>entre</strong> os praticantes, o direito ao tempo e ao espaço das práticas, etc) e<br />
técnicas (regras adaptadas, espaço e número <strong>de</strong> jogadores, sanções, etc).<br />
A avaliação <strong>de</strong>sse tópico po<strong>de</strong> ser realizada <strong>de</strong> diferentes formas: apreciação do trabalho <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong><br />
ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s para as aulas; testes escritos sobre os conceitos <strong>de</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> ou sobre as<br />
possíveis relações <strong>entre</strong> as três variáveis; produção <strong>de</strong> um portfólio individual ou coletivo em que são reunidos<br />
imagens e registros críticos <strong>de</strong> ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s realizadas nas aulas (quais as possíveis conseqüências fisiológicas,<br />
sociais, técnicas das ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s realizadas?) e <strong>de</strong> reportagens na mídia que abor<strong>de</strong>m essa questão; relatos <strong>de</strong><br />
<strong>entre</strong>vistas com pessoas ligadas ao <strong>esporte</strong> <strong>de</strong> lazer, <strong>entre</strong> outras possibilida<strong>de</strong>s.<br />
Sugestões complementares<br />
CARVALHO, Yara Maria <strong>de</strong>. O mito da ati<strong>vida</strong><strong>de</strong> física e <strong>saú<strong>de</strong></strong>. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1998.<br />
MARCELLINO, Nelson Carvalho (org). Lazer e <strong>esporte</strong>. Campinas: Autores Associados, 2001.<br />
NAHAS, Markus V. Ati<strong>vida</strong><strong>de</strong> Física, <strong>saú<strong>de</strong></strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>. Conceitos e sugestões para um estilo <strong>de</strong> <strong>vida</strong> ativo. 2<br />
ed. Londrina: Midiograf, 2001.<br />
Orientação Pedagógica: <strong>Relação</strong> <strong>entre</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>saú<strong>de</strong></strong>, <strong>doping</strong> e <strong>qualida<strong>de</strong></strong> ...<br />
Currículo Básico Comum - Educação Física Ensino Médio<br />
Autor(a): Guilherme Carvalho Franco da Silveira<br />
Centro <strong>de</strong> Referência Virtual do Professor - SEE-MG/2005