Ana Tânia Santos Gonçalves Estilos Parentais e o seu Impacto no ...

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associado a maior iniciativa e pensamento independente, onde o foco visa os estados internos da criança. Assim, deste modo, o autor concluiu que o local de trabalho dos pais funciona como um agente socializador, influenciando o tipo de interação e estabelecimento de relações, inclusive na forma de criação dos mais novos (Hoff et al., 2002). Em Portugal, quando nos debruçamos sobre a classe social em particular e dos membros da família enquanto casal, é percetível a existência de dois grandes grupos, através do projeto Famílias no Portugal Contemporâneo, desenvolvido pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitario de Lisboa (CIES-IUL), que decorreu entre 1997 e 2005. Desde logo, um caracterizado pelo peso do operário industrial, do trabalho no setor terciário e do pequeno negócio, associado a poucas qualificações em termos escolares, assim como os trabalhos relacionados com a agricultura, profissionais técnicos e de enquadramento intermédio e, por outro lado, as classes mais altas da sociedade, onde estão abrangidos os empresários, os grandes patrões, dirigentes e profissionais liberais associados a uma maior escolaridade, bem como os profissionais intelectuais e científicos. Este segundo grupo abrange uma população em número reduzido quando comparado ao primeiro grupo sendo uma população caraterizada por escassos capitais escolares e económicos, quer em termos individuais quer em termos de casal enquanto unidade de classe, constituindo-se num retrato de ameaça para as gerações do presente como para as gerações futuras da população portuguesa (Wall, 2005). Alguns estudos (Cia et al., 2008; Robila & Krishnakumar, 2006; Ferreira & Barrera, 2010) demonstram também uma associação entre alunos de classes sociais mais desfavorecidas e o desempenho académico, acompanhado de problemas de comportamento, ambientes familiares caracterizados por menos recursos disponíveis, falta de brinquedos e outros materiais promotores de desenvolvimento, eventos adversos na vida escolar/familiar e ainda problemas ao nível do estabelecimento das relações interpessoais. Em contrapartida, 32

um maior NSE está associado a um maior desempenho académico, revelando maior capacidades intelectuais, visto que os ambientes familiares cujas classes sociais se mostram mais elevadas, apresentam melhores oportunidades de desenvolvimento em todos os sentidos, em termos físicos, emocionais e intelectuais, proporcionados por melhores condições físicas e sociais e no acesso privilegiado aos bens culturais do qual grande parte da população por vezes se encontra interdita (Feitosa, Matos, Del Prette & Del Prette, 2005). Hoff (2003) mostra-nos que um menor NSE está associado a maiores dificuldades em termos de desenvolvimento da linguagem e de riqueza de conteúdo por parte da criança. Segundo o autor, alunos de mães com maior NSE revelam maiores resultados positivos associados ao desenvolvimento da linguagem do que os alunos de mães com menor NSE, visualizando-se experiências positivas tanto em termos da velocidade de desenvolvimento como o tipo de aprendizagens daí extraídas. Para além da influência exercida sobre as crianças, um baixo nível socioeconómico também parece contribuir para o aumento de uma afetividade negativa entre o casal, diminuindo a sua qualidade de relação e levando ao surgimento de sintomas depressivos, de raiva, frustração e perda de controlo, gerando problemas no relacionamento entre cônjugues, diminuindo a satisfação conjugal e aumentando o conflito (Robila & Krishnakumar, 2006). No que respeita aos progenitores face à educação dos filhos, estes são caraterizados pelo uso inadequado de práticas educativas parentais e problemas ao nível do relacionamento com os seus filhos. Consequentemente, os filhos resultam em alunos com uma atitude mais negativa face à escola, pouca motivação e maiores dificuldades na realização das tarefas propostas (Saavedra, 2001; Cia et al., 2008). Robila e Krishnakumar (2006) referem que os conflitos conjugais por sua vez, criam um ambiente incerto e não estruturado para as crianças, em que raramente se usa a indução ou o raciocínio como estratégias disciplinares, transbordando para a relação entre pais-filhos. 33

associado a maior iniciativa e pensamento independente, onde o foco visa os estados inter<strong>no</strong>s<br />

da criança. Assim, deste modo, o autor concluiu que o local de trabalho dos pais funciona<br />

como um agente socializador, influenciando o tipo de interação e estabelecimento de<br />

relações, inclusive na forma de criação dos mais <strong>no</strong>vos (Hoff et al., 2002).<br />

Em Portugal, quando <strong>no</strong>s debruçamos sobre a classe social em particular e dos membros<br />

da família enquanto casal, é percetível a existência de dois grandes grupos, através do projeto<br />

Famílias <strong>no</strong> Portugal Contemporâneo, desenvolvido pelo Centro de Investigação e Estudos<br />

de Sociologia do Instituto Universitario de Lisboa (CIES-IUL), que decorreu entre 1997 e<br />

2005. Desde logo, um caracterizado pelo peso do operário industrial, do trabalho <strong>no</strong> setor<br />

terciário e do peque<strong>no</strong> negócio, associado a poucas qualificações em termos escolares, assim<br />

como os trabalhos relacionados com a agricultura, profissionais técnicos e de enquadramento<br />

intermédio e, por outro lado, as classes mais altas da sociedade, onde estão abrangidos os<br />

empresários, os grandes patrões, dirigentes e profissionais liberais associados a uma maior<br />

escolaridade, bem como os profissionais intelectuais e científicos. Este segundo grupo<br />

abrange uma população em número reduzido quando comparado ao primeiro grupo sendo<br />

uma população caraterizada por escassos capitais escolares e económicos, quer em termos<br />

individuais quer em termos de casal enquanto unidade de classe, constituindo-se num retrato<br />

de ameaça para as gerações do presente como para as gerações futuras da população<br />

portuguesa (Wall, 2005).<br />

Alguns estudos (Cia et al., 2008; Robila & Krishnakumar, 2006; Ferreira & Barrera,<br />

2010) demonstram também uma associação entre alu<strong>no</strong>s de classes sociais mais<br />

desfavorecidas e o desempenho académico, acompanhado de problemas de comportamento,<br />

ambientes familiares caracterizados por me<strong>no</strong>s recursos disponíveis, falta de brinquedos e<br />

outros materiais promotores de desenvolvimento, eventos adversos na vida escolar/familiar e<br />

ainda problemas ao nível do estabelecimento das relações interpessoais. Em contrapartida,<br />

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