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BIOGRAFIA DE VLADIMIR CARVALHO

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Quadro 8<br />

Enfim, um Cinema Possível<br />

Foi como uma epifania. As imagens de O Homem<br />

de Aran cintilaram na tela de um cinema de Recife<br />

e, em pouco mais de uma hora, eu passava a ver o<br />

cinema de maneira inteiramente nova. Aquela<br />

gente filmada por Robert Flaherty tinha o brilho<br />

inconfundível do real. A platéia que comparecia<br />

às sessões de filmes clássicos trazidos do Rio pelo<br />

crítico Jonald (Oswaldo Marques de Oliveira) ficou<br />

siderada pelo que havia ali de narratividade<br />

e espetáculo. Mas o que me tocava, nos meus 22<br />

ou 23 anos, era a diferença. O despojamento do<br />

filme provocava uma estranheza sedutora, um<br />

tipo de êxtase que eu não sabia identificar.<br />

Nada havia do aparato do filme de ficção: estrelas,<br />

glamour, luzes, cenografia, o clássico triângulo<br />

amoroso... O que se destacava era a relação forte<br />

e lírica do homem com a natureza. Aqueles<br />

pescadores enfrentavam o mar bravio atrás de<br />

um taludo tubarão, suas famílias arrancavam a<br />

sobrevivência da pedra, tudo era cru e árduo<br />

como de fato devia ser naquela ponta do mundo.<br />

Eu andava mesmo motivado pelas coisas do mar.<br />

Admirava os caçadores de baleia da praia do Cabedelo,<br />

em João Pessoa. Havia pouco pernoitara<br />

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